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Acidentes de Trabalho e Riscos Ocupacionais no dia-a-dia do

trabalhador hospitalar: desafio para a Saúde do Trabalhador

Accidents at Work and Occupational Risks in the Daily Routine of a


Hospital Employee: Challenge for the Worker’s Health.

Iara Aparecida de Oliveira Sêcco1


Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi2
Paulo Roberto Gutierrez3
Tiemi Matsuo4

RESUMO

A Saúde do Trabalhador constitui um campo na área da Saúde Coletiva em plena


construção, cujo objeto está centrado no processo saúde-doença dos trabalhadores
dos diversos grupos populacionais em sua relação com o trabalho. No que diz
respeito aos acidentes de trabalho (AT) que atingem os trabalhadores das unidades
hospitalares, vale destacar que estes são ambientes complexos que apresentam
elevado número de riscos ocupacionais para os seus profissionais, tanto da área de
atendimento aos pacientes/clientes como de todas aquelas de apoio destes serviços
de atenção à saúde, que predispondo-os à ocorrência de acidentes de variadas
naturezas. É importante ressaltar que estas ocorrências derivam de complexas inter-
relações e não devem ser analisados de forma isolada, como evento particular, mas,
através do estudo do contexto dos processos de trabalho e produção, das formas
como o trabalho é organizado e realizado, das condições de vida dos profissionais
expostos, das cargas de trabalho presentes no dia-a-dia dos trabalhadores. Este
estudo apresenta revisão de literatura a respeito dos acidentes de trabalho que
acometem os trabalhadores de unidades hospitalares. Estratégias preventivas
apresentam-se como desafio para administradores e trabalhadores, onde o maior
ganho está na promoção da saúde destes profissionais.

Palavras-chave: Acidentes de Trabalho, profissionais de saúde, hospitais, riscos


ocupacionais.

1
Docente de Enfermagem da Universidade Norte do Paraná, Mestre em Saúde Coletiva e Enfermeira da
Assessoria de Enfermagem no Planejamento e Controle do Hospital Universitário Regional do Norte do
Paraná Avenida Arthur Thomas, 1355, Casa 2 – CEP 86065-000 – Jardim Bandeirantes – Londrina PR –
Fone: (43) 328 4005 – E-mail: nhsecco@uol.com.br
2
Docente Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Doutora em
Enfermagem.
3
Docente do Departamento de Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de
Londrina, Doutor em Ciências da Saúde.
4
Docente do Departamento de Matemática Aplicada do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual
de Londrina, Doutora em Estatística.
ABSTRACT

The worker’s health represents a field in the area of Collective Health which is in full
construction and whose object is centered in the health and disease process of
workers from different populational groups in terms of work. Within this context,
accidents at work constitute a highlighted object, specially in view of the search for all
forms of prevention. As for hospital units, we must say that these are complex
environments and account for a high number of occupational risks for those
professionals both in the area of patient/client assistance and in the sector for
services in health care, who are exposed to the occurrence of accidents of the most
varied types. It is important to highlight that these misfortunes originate from complex
inter-relations and should not be considered individually and as a particular event,
but should be analyzed through the study of the context of the work and production
processes, of the ways in which the work is arranged and accomplished, of the life
conditions the workers have, of their load of work in their daily routine. This study
presents a literature review on accidents at work involving hospital employees, and it
is made under the perspective that preventive strategies are a challenge for
administrators and workers in search of a higher promotion in the health of those
professionals.

Key words: Accidents at work, health professionals, hospitals, occupational risks.

Acidentes de Trabalho e Riscos ocupacionais no dia-a-dia do


trabalhador hospitalar: desafio para a Saúde do Trabalhador

No que se refere à saúde em seu contexto global, a Constituição Federal


Brasileira de 1988 expressa no seu artigo 196 que:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL, 1988).

Já a Lei 8080/90, por sua vez, afirma em seu artigo 2º. Parágrafo 3º.

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre


outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o
acesso a bens e serviços essenciais: os níveis de saúde da
população expressam a organização social e econômica do País
(BRASIL, 1999 – grifos nossos)
A nova orientação das políticas de saúde trouxe em seu bojo a discussão a
respeito da Saúde do Trabalhador, exigindo a introdução de novas práticas.

Há que se considerar que o trabalho apresenta-se como fator fundamental


para que os princípios constitucionais sejam devidamente respeitados, por tratar-se
de fonte de mudanças na sociedade em direção a melhores condições de vida para
toda a população.

Nesta perspectiva, a Saúde do Trabalhador constitui um campo na área da


Saúde Coletiva em plena construção, cujo objeto está centrado no processo saúde-
doença dos trabalhadores dos diversos grupos populacionais em sua relação com o
trabalho. Traz consigo a expectativa da compreensão desta dinâmica, bem como do
desenvolvimento de alternativas de intervenção com vistas à apropriação da
“dimensão humana do trabalho” pelos próprios trabalhadores. Busca, portanto,
estabelecer causas de agravos à sua saúde, reconhecer seus determinantes,
estimar riscos, dar a conhecer os modos de prevenção, promover saúde (MENDES
e DIAS, 1999).

Rigotto (1993) relata que a o estudo da Saúde dos Trabalhadores é tema


complexo, e multifacetário, devendo ser estudado através de diversos olhares, na
tentativa de auxiliar os profissionais de saúde em seu contato com o tema. Estimula
estes profissionais a ter atitude de quem escuta, questiona, sente, perscruta, "estuda
e busca a construção de um saber, juntamente com os trabalhadores", embora
reconheça as dificuldades de operacionalização destas iniciativas.

Notadamente, o trabalho caracteriza-se pela atividade humana


desempenhada na transformação de um determinado objeto denominado de
processo de trabalho, desenvolvido sob determinadas relações sociais de produção
denominado processo de produção (HARNECKER, 1983).

Sendo assim, o processo de trabalho e o processo de produção,


estabelecidos no contexto do trabalho e nos quais o homem participa como agente,
podem compor-se em fatores determinantes para o desgaste da saúde deste
trabalhador. Conseqüentemente, os padrões de morbi-mortalidade dos
trabalhadores se apresentam de acordo com a maneira como estes estão inseridos
nas formas de produção capitalista.
Neste contexto, os Acidentes de Trabalho (AT) ocupam destaque, uma vez
que se apresentam como a concretização dos agravos à sua saúde em decorrência
da atividade produtiva, recebendo interferências de variáveis inerentes à própria
pessoa, do ponto de vista físico ou psíquico, bem como do contexto social,
econômico, político e da própria existência (BARBOSA, 1989; SILVA, 1996).

Decorrem da ruptura na relação entre o trabalhador e os processos de


trabalho e produção, que interferem no seu processo saúde-doença, algumas vezes
de maneira abrupta e outras de forma insidiosa, no modo de viver ou morrer dos
trabalhadores, no “modo de andar a vida”.

Laurell e Noriega (1989) discutiram amplamente o processo de produção e


saúde, trabalho e desgaste operário. Referem que é necessário compreender que a
doença e os AT não são acontecimentos aleatórios individuais, mas sim, uma
condição da coletividade com influências sociais marcantes. Enfatizam ainda, a
necessidade do estudo da relação trabalho-saúde para a compreensão de como se
“articula e expressa a saúde-doença enquanto um processo social”, com vistas a
intervenções que promovam a saúde dos trabalhadores.

Notadamente, segundo a Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991, alterada


pelo Decreto nº. 611, de 21 de julho de 1992, no artigo 19º:

Acidente do Trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do


trabalho, a serviço da empresa ou ainda, pelo serviço de trabalho de
segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação
funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade
para o trabalho, permanente ou temporária.

São considerados, ainda, como AT os acidentes de trajeto, as doenças


profissionais e as doenças do trabalho.

As estatísticas oficiais de AT e de doenças profissionais no Brasil são


passíveis de críticas. Mendes e Dias (1999) ressaltam a importância destes
indicadores com vistas a analisar o processo saúde-doença dos trabalhadores;
entretanto, lembram que esses dados dizem respeito apenas a uma “subpopulação
de trabalhadores contribuintes da Previdência Social”, somando menos de 50% da
população economicamente ativa (PEA), e que, conseqüentemente, podem contar
com a cobertura do Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT).
Contudo, Cohn et al. (1985), discorrendo a respeito, reforçam a necessidade
de considerar que estes dados possibilitam levantar perspectivas para análise do
problema, uma vez que eles “não dizem, mas significam”.

Os números de AT expedidos pela Empresa de Processamento de Dados da


Previdência Social (DATAPREV), cuja fonte são as Comunicações de Acidentes de
Trabalho (CAT) e Sistema Único de Benefícios (SUB), apresentaram, para o ano de
2000, um total de 343.996 acidentes de trabalho. Destes, 83,6% (287.500) foram
classificados como típicos, 10,9% (37.362) como acidentes de trajeto e 5,6%
(19.134) como doenças do trabalho (ÍNDICES, 2002).

A busca do conhecimento a respeito do processo saúde-doença que se


sobrepõe aos trabalhadores e que culminam na ocorrência dos AT leva ao estudo do
perfil epidemiológico destas ocorrências, sob o referencial teórico da Epidemiologia.

Pereira (1995) afirma que a Epidemiologia Social é a parte da epidemiologia


que investiga o “processo saúde–doença como produto resultante dos diferentes
modos de vida das pessoas em sociedade”. Destaca que, na pesquisa
epidemiológica, a quantificação de eventos é realizada através da coleta de dados
possibilitando o levantamento de características da população e a presença de
fatores de risco, bem como as possíveis associações com as doenças ou agravos à
saúde encontrados.

Aponta, ainda, que o “fator de risco” acompanha um aumento de


probabilidade de ocorrência do agravo à saúde, sem que o referido fator tenha que
interferir, necessariamente, em sua causalidade (PEREIRA, 1995).

Define-se risco como o grau de probabilidade de ocorrência de um


determinado evento. O cálculo do Coeficiente de Risco (CR) pode estimar a
probabilidade do dano vir a ocorrer em futuro imediato ou remoto, bem como
levantar um fator de risco isolado ou vários fatores simultâneos. São formas
possíveis de apresentação dos resultados, com grande utilidade e facilidade de
interpretação, fornecendo dados para o diagnóstico da situação de saúde da
população, bem como quantificar a probabilidade de que estes eventos ocorram,
também denominados de “fatores prognósticos” (PEREIRA, 1995; ROUQUAYROL,
1999).
Sendo assim, a abordagem do risco para AT, ou, fatores de risco, também se
aplicam como fundamentos para avaliação dos AT.

Destacando-se a evolução histórica da concepção de riscos ocupacionais, a


Organização Mundial da Saúde (1973) classificou-os em biológicos, físicos,
químicos, ergonômicos, psicossociais. Também, reforçou a necessidade de maior
atenção ao problema da saúde dos trabalhadores, com destaque para os programas
de higiene no trabalho, de promoção e manutenção de sua saúde.

Entretanto, estudiosos têm relatado que o foco de análise do acidente deve


ainda incluir o devido estudo dos processos de trabalho em que os trabalhadores
estão inseridos, bem como o seu contexto de vida, uma vez que interferem
diretamente no desencadeamento destes agravos.

Enquanto o conceito de risco diz respeito à identificação dos possíveis


agentes capazes de interferir na saúde da população, numa abordagem
probabilística, o conceito de carga de trabalho estrutura-se para estudar os impactos
dos elementos que constituem o processo de trabalho, sob a ótica do objeto, da
tecnologia, da sua organização e divisão, consumindo a força de trabalho e as
capacidades vitais do trabalhador (FACCHINI, 1994b),

Laurell e Noriega (1989), discorrem que “as cargas são mediações entre o
processo de trabalho e o desgaste operário”, e podem ser classificadas em: físicas,
químicas, orgânicas, mecânicas, fisiológicas, psíquicas

Notadamente, seja qual for a abordagem metodológica relativa ao


conhecimento dos agravos sofridos pelos profissionais de saúde e demais atuantes
nas unidades hospitalares, foco central do presente estudo, estas querem traduzir a
realidade da situação do trabalho e das relações existentes entre este e a saúde dos
trabalhadores. Trata-se, portanto, de ferramenta indispensável para a concretização
do objetivo maior que é a promoção da saúde, sendo merecedoras de atenção dos
profissionais, dos administradores e do Estado, no objetivo maior da concretização
da saúde como direito constitucional de todos.

No que diz respeito aos AT que atingem os trabalhadores das unidades


hospitalares, vale destacar que estes são ambientes complexos que apresentam
elevado número de riscos ocupacionais para os seus profissionais, tanto da área de
atendimento aos pacientes/clientes como de todas aquelas de apoio destes serviços
de atenção à saúde, que predispõem à ocorrência de AT de variadas naturezas
(SÊCCO e GUTIERREZ, 2001a, b, c).

Oliveira, Makaron e Morrone (1982) consideram o ambiente hospitalar como


risco não só de acidentes decorrentes do contato com pacientes portadores de
doenças infecciosas, mas também daqueles decorrentes do caráter industrial que
têm essas Instituições, como o caso dos serviços que envolvem centrais de
processamento e esterilização de materiais, cozinha, manutenção de equipamentos,
zeladoria, laboratórios, lavanderia, entre outros.

Muitos pesquisadores têm enfatizado o sofrimento psíquico advindo do


trabalho hospitalar. Entre estes está Pitta (1999), destacando que os hospitais têm
sido espaços de concentração de trabalhadores de diversas áreas, desde médicos,
enfermeiros, auxiliares de enfermagem, operadores de máquinas, entre muitos
outros, que se inter-relacionam com os usuários dos serviços, num ambiente
permeado de dor e sofrimento

No Brasil, o Ministério da Saúde (BRASIL, 1995), através da publicação


“Segurança no Ambiente Hospitalar”, considera um arsenal de variáveis que podem
interferir na saúde dos trabalhadores destas Instituições, classificando os riscos
ocupacionais em: físicos, químicos, biológicos e mecânicos. A referida publicação
aponta, também, conceitos gerais para o desenvolvimento de uma nova política
peculiar na área de segurança em instituições hospitalares, contemplando
orientações aos trabalhadores que culminam em ações protetoras a eles mesmos,
aos usuários dos serviços e aos visitantes.

Digno de nota é que os riscos nas unidades hospitalares são decorrentes, de


maneira especial, da assistência direta prestada pelos profissionais de saúde a
pacientes em diversos graus de gravidade, assistência esta que implica no
manuseio de equipamentos pesados e materiais perfurantes e/ou cortantes muitas
vezes contaminados por sangue e outros fluidos corporais, na responsabilidade pelo
preparo e administração de medicamentos e quimioterápicos, no descarte de
materiais contaminados no lixo hospitalar, nas relações interpessoais de trabalho e
produção, no trabalho em turnos, no trabalho predominantemente feminino, nos
baixos salários, na tensão emocional advinda do convívio com a dor, o sofrimento e,
muitas vezes, da perda da vida, entre outros (BULHÕES 1994; BARBOSA, 1989).
Conforme já apontado, há que se considerar ainda, os acidentes que
envolvem os trabalhadores indiretos desta assistência como os profissionais de
lavanderia, encarregados do recolhimento e transporte do lixo hospitalar, aqueles
encarregados da higiene hospitalar, ente outros, que se encarregam do manuseio
dos fômitos contaminados de variadas naturezas.

Bulhões (1994) discorrendo a respeito de riscos ocupacionais nos hospitais


afirma que estes “são democraticamente compartilhados por todos”.

É importante ressaltar que os acidentes de trabalho decorrentes da exposição


a materiais biológicos, tão corriqueiros no dia-a-dia das unidades hospitalares,
constituem-se preocupação de todos os profissionais expostos aos fatores de riscos
decorrentes do contato direto ou indireto com sangue e outros fluidos corporais,
especialmente no que se refere à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
à hepatite B ou C, doenças cujos agravos trazem conseqüências bastante nocivas à
saúde dos trabalhadores (ROWE e GIUFFRE, 1991; McCORMICK et al.,1991;
SYSTCHENKO, VOLKMANN e SAURY, 1996; CARDO e BELL, 1997).

Notadamente, o risco de transmissão do HIV para os trabalhadores da área


da saúde, em conseqüência da exposição aos acidentes com agulhas, tem sido
estimado em 0,3% em vários estudos, enquanto que a probabilidade de infecção
pelo vírus da hepatite B pode atingir até 40% em situações em que o paciente fonte
de contaminação apresente sorologia positiva ao antígeno da hepatite B. O risco da
hepatite C é de 1,8%, ou, de 1% a 10%. Já a exposição a mucosas íntegras ao
fluido contaminado traz o risco médio de 0,1% e a exposição de pele íntegra
apresenta um risco menor de 0,1% (CARDO e BELL, 1997; BRASIL, 1999).

Os CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION – CDC -


(CENTERS, 2001), confirmaram 56 (cinqüenta e seis) casos de trabalhadores da
assistência médica nos EUA que apresentaram soroconversão para o vírus da AIDS
depois de se haverem expostos acidentalmente a ele no trabalho. No Brasil há um
caso de AIDS ocupacional notificado (BRASIL, 2000).

Contudo, o Ministério da Saúde (MS) reitera que as medidas preventivas


permanentes através da adoção das Precauções Universais (PU), para a redução do
risco de infecção pelo HIV ou hepatite em ambiente ocupacional trata-se da melhor
alternativa no que se refere à preservação da saúde dos trabalhadores expostos a
estas riscos ocupacionais (CARDO e BELL, 1997; BRASIL, 1996).

Barbosa (1989) discorrendo a respeito de riscos advindos do trabalho e que


atingem os profissionais que atuam em unidades hospitalares, aborda os riscos
físicos tais como aqueles provenientes da eletricidade, dos pisos escorregadios,
ruídos, umidade, calor má iluminação radiações, ventilação inadequada.

Quanto aos riscos ergonômicos a autora destaca os riscos de fadiga psíquica,


física e o trabalho noturno. Associa, ainda, estes fatores como causa ou
conseqüência de outros como gastrites, úlceras, dores variadas, palpitações,
agravamento da hipertensão arterial, transtornos de personalidade, entre muitos
outros.

Com respeito aos riscos químicos, a mesma levanta que tanto podem causar
efeitos à saúde dos trabalhadores como também provocar efeitos teratogênicos e
abortogênicos nas mulheres expostas. Relata a ainda a importância da exposição
crônica à baixas doses, que pode constituir um risco para câncer, relatada por vários
autores.

Faz-se importante ressaltar que os AT que acometem os profissionais que


atuam em unidades hospitalares derivam de complexas inter-relações e não devem
ser analisados de forma isolada, como evento particular, mas, através da análise do
contexto dos processos de trabalho e produção, das formas como o trabalho é
organizado e realizado, das condições de vida dos profissionais expostos, enfim, das
cargas de trabalho presentes no dia-a-dia dos trabalhadores.

Sabidamente, a ocorrência dos AT é atribuída muitas vezes ao não


seguimento das normas PU, Equipamentos de Proteção Individual, entre outros. No
entanto, aventa-se que muitas outras variáveis também devem contribuir para as
ocorrências: falta de treinamento, inexperiência, indisponibilidade de equipamentos
de segurança, cansaço, repetitividade de tarefas, dupla jornada de trabalho,
distúrbios emocionais, excesso de autoconfiança, qualificação profissional
inadequada, falta de organização do serviço, trabalho em turnos, desequilíbrio
emocional na vigência de situações de emergência, negligência de outros, “carga”
de trabalho, características próprias do trabalho realizado nas unidades hospitalares,
que possui caráter altamente industrial, com concentração de tecnologia crescente
de alta complexidade.

Nesta mesma busca do estudo da multicausalidade que envolve os AT,


Benatti (1997) assevera que a verdadeira causa dos acidentes deve ser buscada
nas condições de trabalho e existência da classe trabalhadora. Enfatiza a
necessidade de estudos que investiguem associações entre a ocorrência de AT
acometendo trabalhadores de enfermagem e os fatores de risco decorrentes destas
mesmas condições de trabalho e vida.

Diante desta problemática, há que se buscar todas as estratégias preventivas


possíveis que possam contribuir para a prevenção dos AT e promoção à saúde do
trabalhador de unidades hospitalares. Estratégias estas que devem ser
institucionalizadas, e trabalhadas com o fortalecimento das Comissões Internas de
Prevenção de Acidentes (CIPA), assim como todas as demais estruturas
organizacionais que se encarregam de educação e vigilância em saúde nas
Instituições como as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, Departamentos
de Educação Continuada, entre outros, existentes nas estruturas dos Hospitais.

A prevenção e educação permanente no sentido de evitar novas ocorrências


são desafio para todos os envolvidos e demanda esforços intensos de formação e
informação aos profissionais e alunos dos cursos da área visando a prevenção dos
acidentes de trabalho que culminam, sempre, em desgaste emocional do
profissional, riscos à saúde, problemas de ordem econômica e social, necessidade
de investimentos financeiros, problemas éticos e legais envolvendo os profissionais,
pacientes e a instituição, entre outros.

Especial atenção, reitera-se, deve ser dada aos currículos escolares na


formação dos profissionais de saúde, embasando os seus alunos, para que possam
pensar a realidade dos trabalhadores e atuar de maneira compatível com a
promoção á saúde.

Outrossim, destaca-se a importância da participação do trabalhador na busca


de alternativas de prevenção que venham a minimizar os problemas decorrentes da
exposição ocupacional e dos AT. Deve ser-lhe assegurada a “participação com
responsabilidade no processo de decisão sobre sua própria saúde e vida”
(CHAMMÉ, 1997), na construção do seu direito constitucional.
Afinal,

A complexidade da área de Saúde do Trabalhador, traz a


necessidade de estudos, compromisso com capacitação, pesquisas,
estudos na área, e sobretudo ações através de políticas de saúde
que busquem a atenção à saúde. Atenção que não se sujeita
meramente a socorros fracionados destinados ao trabalhador
doente. (MENDES e DIAS, 1999).

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