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Introdução ................................................................................................5
Capítulo 1 ................................................................................................7
A Continuidade da Modernização Agropecuária ......................................... 7
Capítulo 2 ................................................................................................ 13
A Novidade na Modernização: A Terceirização .......................................... 13
Capítulo 3 ..............................................................................................21
Novas Atividades....................................................................................... 21
Não Agrícola
Agrícola
Urbano Rural
Agribusiness
Neorural Sem
Familiar Sem
Sem-Terra
6 Novo Rural
Capítulo 1
A Continuidade da Modernização
Agropecuária
A partir dos anos 60, o Brasil começou a experimentar uma profunda mo-
dernização em sua agricultura, baseada no modelo então denominado "revolu-
ção verde": sementes melhoradas que respondiam rapidamente ao uso de adu-
bos químicos necessitavam de aplicação de agrotóxicos, e com operações geral-
mente mecanizadas.
Na verdade, as bases para essa revolução em nossa agricultura foram lançadas
nos anos 50, quando se instalaram no Brasil a maioria das indústrias produtoras
de insumos para a agricultura, como as de adubos químicos, de tratores e má-
quinas ou de agrotóxicos. Para incentivar o uso dessas tecnologias, o Governo
montou um impressionante aparato, notadamente o sistema de crédito rural.
Inúmeros autores trataram dos aspectos negativos e positivos dessa moder-
nização, sob os mais variados aspectos, que não são objetivo deste trabalho. Mas
cabe destacar o êxodo rural sem antecedentes que ocorreu no País nesse período.
Com o avanço da mecanização de nossas lavouras, as tarefas antes executadas
por "turmas" de trabalho passavam a ser realizadas por apenas poucas pessoas,
deixando desempregadas no campo milhões de pessoas, que não tinham outra
opção senão as cidades.
Nos anos 80, o modelo de apoio estatal começa a perder fôlego, sufocado
pelas políticas mais gerais de combate à inflação. Mas, ao contrário do que se
poderia se pensar, o progresso tecnológico persistiu graças aos investimentos das
décadas anteriores. Nessa década tivemos o início da incorporação dos cerrados
do Brasil à produção de grãos, numa base tecnológica avançada e competitiva ao
nível do mercado internacional.
350,00
300,00
250,00
Renda Média (R$)
200,00
Agrícola
Não-agrícola
150,00
100,00
50,00
0,00
1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999
8. Os estabelecimentos
Mas esse processo não atinge da mesma forma familiares são os que se
todos os produtores. Analisando o mesmo problema enquadram nos critérios do
com outras fontes de informações (gráfico 2), a par- PRONAF, podendo ainda ser
subdivididos em: familiar
tir do Censo Agropecuário, os dados do Paraná mos- (contratam apenas mão-de-obra
tram que os estabelecimentos não-familiares7, apesar temporária nos picos de
de representarem apenas 2% dos estabelecimentos, demanda de trabalho) e os
familiares empregadores
produzem pouco mais de 30% do valor bruto da pro- (contratam até dois empregados
dução. Já os estabelecimentos familiares8, apesar de permanentes).
70
60
Participação (%)
50 Número
40 Área (1.000ha)
30 E.H.
20 VBPV
10
0
Familiar Familiar Não Familiar Outros
menor menor empregador maior maior
menor menor
Fonte: CD-Rom/IAPAR9, reprocessamento do Censo Agropecuário. 9. Doretto, M.; Laurenti, A. e Del
Grossi, M.E. Tipos de estabeleci-
mentos agropecuários do Estado
do Paraná, 1995-96. CD-Rom.
Ao longo dos anos 90 ampliou-se a distância IAPAR, 2001. No CD-Rom são
entre o segmento familiar e o patronal da nossa agri- explicados os conceitos “menor
menor” e “maior maior” utilizados
cultura10. Ou seja, a distância entre os proprietários no gráfico 2. De forma
familiares e os grandes empregadores da nossa simplificada “menor menor” sig-
agropecuária é cada vez maior; e, no meio deles, um nifica que os estabelecimentos se
enquadram nos critérios de defi-
contingente de pequenas e médias empresas familia- nição de agricultura familiar.”
res que empregam poucos trabalhadores permanen- 10. Para maiores detalhes veja
tes, mas muitos temporários, que vinham se fortale- Graziano da Silva, J. e Del Grossi,
cendo nas décadas anteriores, vêm perdendo espaço, M.E. "A evolução da agricultura
familiar e do agribusiness nos anos
especialmente após o Plano Real. 90". IN: RATTNER, H. Brasil no
A queda da rentabilidade se deve, em nossa opi- limiar do século XXI. São Paulo:
nião, a três elementos fundamentais: a queda dos pre- Editora da Universidade de São
Paulo. 2000. p.139-157.
10 Novo Rural
ços dos produtos agropecuários; a elevação dos custos
do trabalho e do crédito rural e a redução do ritmo de
inovação no setor agropecuário. Vejamos rapidamente
o papel de cada um desses elementos no processo de
diferenciação social dos produtores agropecuários.
Como sabemos, o Governo Collor promoveu,
em 1990, uma abertura indiscriminada das impor-
tações com o objetivo de auxiliar no combate à in-
flação vigente. Ocorre que os preços das commodities
agrícolas estão em queda há 30 anos11. O resultado
foi uma internalização dos baixos preços vigentes
nos mercados internacionais, os quais refletem fun-
damentalmente as políticas agrícolas protecionistas
dos países desenvolvidos e especialmente os subsí-
dios às exportações de produtos agrícolas praticadas
pelos EUA, Canadá e CEE12. Acrescente-se ao des-
monte do aparato institucional do Ministério da
Agricultura e do Ministério da Indústria e Comér-
cio que se refletiu na perda de eficácia dos princi-
pais instrumentos de política agrícola ainda vigen-
tes no final dos anos 80, como a política de preços
mínimos e dos mecanismos de regulação estatal de
nossos principais produtos, como o do açúcar e ál-
cool, do trigo e da soja, do café etc.
O segundo elemento – a elevação dos custos de
produção, – se deve em parte à recuperação do valor 11. Monteiro, M. J. C. Trinta
anos de queda. Agroanalysis,
real do salário mínimo promovida a partir do Gover- v.18, no 2, pp. 26-31, fev. 1998.
no Itamar Franco (1992-94) que se refletiu no siste-
12. É importante que se
ma de produção, não apenas dos grandes emprega- esclareça que esses subsídios às
dores, mas também daquelas empresas familiares que exportações foram o tema
empregam poucos trabalhadores permanentes, mas central da Rodada Uruguaia do
GATT, que se arrastou pelos
muitos temporários. Vale lembrar que o salário míni- anos 90 e que embora esses
mo funciona como uma espécie de farol para os salá- subsídios sejam amplamente
condenados por todos, seguem
rios rurais, especialmente no caso dos trabalhadores sendo uma das políticas mais
temporários. Também contribuem para o aumento importantes, particularmente
dos custos de produção as elevadas taxas de juros vi- dos Estados Unidos, que
dependem dos mercados
gentes para o crédito em geral e, de forma específica, externos para realizar quase 40%
para o crédito rural de custeio, o qual já não embutia de sua produção agrícola.
12 Novo Rural
Capítulo 2
A Novidade na Modernização:
A Terceirização
Barion Transportes
– contratada para
serviços de colheita
mecânica em
vários estados
14 Novo Rural
Tabela 01. Distribuição dos estabelecimentos agropecuários, área total,
eqüivalente-homem (EH) e valor bruto da produção vendida (VBPV), segundo
a composição do pessoal ocupado, grupo de eqüivalente-homem, uso da força
de tração e empreita de máquinas e equipamentos. Estado do Paraná, 1995.
TOTAL
ITEM Estabele- Área EH (f ) VBPV (g)
cimentos 1.000 (ha) 1.000 R$
Norte do país (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, 18. Essa questão e a maioria das
outras perguntas sobre trabalho
Rondônia e Roraima), pergunta às pessoas qual o ramo nas PNADs são referentes ao
da economia em que elas estavam ocupadas18. As pes- mês de setembro.
soas ocupadas na agricultura podem ser observadas no 19. Para maiores detalhes veja
Gráfico 3. A população ocupada na agricultura cres- em Del Grossi: Evolução das
ceu até 1985/86, período do Plano Cruzado, e depois ocupações rurais não-agrícolas
no meio rural brasileiro.
vem se reduzindo gradativamente. A diferença entre UNICAMP, 1999. (Tese de
os anos de 1990 e 1992 se deve a uma mudança Doutorado)
16 Novo Rural
conceitual, não corrigida plenamente19, e em 1999 tem-se uma suave recuperação
do número de pessoas ocupadas na agricultura.
A expansão da modernização, e principalmente da terceirização das tarefas
agrícolas, conduz a uma individualização da atividade agrícola, com reflexos
importantes na organização do trabalho familiar. O que era atividade de toda a
família, hoje pode ser feita por apenas uma pessoa. A Tabela 2 mostra as pessoas
que se ocupam da agricultura segundo a sua condição na família e gênero. É
possível observar que os homens adultos referência da pesquisa, estão estáveis
em torno de 6,4 milhões de pessoas. Em menor número, mas também estáveis,
estão a mulher cônjuge, em torno de 1,9 milhões.
Gráfico 3: Evolução da população ocupada na agricultura no Brasil.
16
15
14
13
12
11
Pessoas (milhões)
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0 | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
18 Novo Rural
gem então os estabelecimentos part-time farmer, que pode ser traduzido como
agricultores em tempo parcial.
Essa combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas, se observada pela
ótica da família, ficou conhecida por pluriatividade. A diferença do conceito
anterior, é que o conceito de part-time está ligado aos estabelecimentos
agropecuários, ou seja, com uma unidade econômica, enquanto que a
pluriatividade está ligada às famílias, ou seja, com uma unidade social e
demográfica.
Em síntese, a modernização da base técnica da agricultura brasileira con-
tinuou avançando nos anos 90, simplificando o número de tarefas
agropecuárias. A terceirização das tarefas agrícolas potencializou esse proces-
so. De certa forma ocorre um "desmonte" das tarefas produtivas do interior
do estabelecimento em favor de terceiros, liberando as pessoas das famílias
para outras atividades, agrícolas ou não-agrícolas, no interior do estabeleci-
mento agropecuário ou fora de seus limites.
Pesqueiro Ishikawa em
Londrina: opção de
lazer rural
22 Novo Rural
inverno – entre outros). O maior estímulo dos pesqueiros é a possibilidade de
gerar uma receita para os proprietários, às vezes, bem superior a muitas commodities.
É interessante observar que muitas áreas destinadas aos pesqueiros inicial-
mente eram marginais à produção de grãos. Com os pesqueiros tornaram-se as
áreas mais valorizadas da propriedade.
24 Novo Rural
Produção de minhocas para pescaria
Agroindústrias Rurais
Uma série de agroindústrias processadoras estão se desenvolvendo por todo
o País, explorando pequenos nichos de mercado. Muitas são atividades artesanais,
ou quase, explorando os mais variados mercados: doces, bebidas, vinhos, salga-
dos, carnes e derivados, lácteos e derivados etc. A cultura brasileira tem uma
culinária muito rica e as possibilidades de explorar comercialmente esses dife-
rentes "sabores" regionais, principalmente se tiver alguma origem étnica, tem
potencial crescente em todo o mundo.
Frigoríficos rurais estão proliferando por todo meio rural, atendendo os mais vari-
ados mercados. Em Rolândia, por exemplo, um frigorífico, além de produzir apresuntado,
bacon, salames e lingüiças, iniciou também a produção de kits para feijoada, aprovei-
tando melhor partes dos suínos como orelhas, pés, caudas, couro etc.
Inúmeras outras atividades agroindustriais estão se disseminando pelo cam-
po: fábricas de balas, doces, embutidos, lácteos, salgados, refeições industriais, etc.
Aperitivos e balas
Agroindústria de queijos
Embutidos e defumados
28 Novo Rural
criadouros. As aves de corte são comercializadas em
supermercados e restaurantes, além da agroindústria
– como a Perdigão, que desde 1989 comercializa essa
linha de aves raras23.
A avestruz é uma das aves típicas desses negó-
cios. Importado da África, já tem seus criadouros dis-
seminados pelo País, visando à produção de carne 23. Folha de S. Paulo,
(com baixo teor de gordura), couro ou para fins or- 24/04/96
namentais. Em três anos o plantel brasileiro saltou de 24. Dados da Associação de
50 mil aves para 150 mil aves em 2001, movimen- Criadores de Avestruzes do
tando aproximadamente U$300 milhões24. O grau Brasil. Gazeta Mercantil,
06/11/01.
de sofisticação chega a ser tão elevado que a identifi-
25. Globo Rural, Maio/2001.
cação dos animais é feita pela introdução de "chip"
para leitura eletrônica, logo após a eclosão dos 26. Globo Rural: "Ganso: nas
águas da tradição". Jan/1996;
ovos.Também nesse caso o público alvo é o consumi- "Pato com sotaque francês",
dor urbano, quer em restaurantes típicos que servem Ago/1996; "Javali: o porco de
sangue azul", Out/1996; "Jataí:
carnes exóticas, quer para redes de supermercados que doce selvagem", Mar/1997.
ensaiam entrar nesse segmento de mercado.
Criação de avestruzes
Rãs
Entre 1988 e 1996, a produção brasileira de car-
ne de rã cresceu mais de 150%, atingindo 200 tone-
ladas nesse último ano. Como a tendência de criação
em cativeiro tem sido forte, dentro de um processo
de produção industrial e de profissionalização da ati-
vidade27, nesse período houve uma substancial redu-
ção do número de ranários, principalmente daqueles
que se baseavam na caça. Apesar dessa redução, o
Brasil é o líder mundial na produção em cativeiro.
Para se ter algumas noções das transformações que
estão ocorrendo nessa atividade, é interessante citar 27. Globo Rural, Maio/2001
30 Novo Rural
que as principais empresas envolvidas já estão partin-
do para a produção integrada (ou semi-integrada),
nos mesmos moldes da criação de aves e suínos no
sul do País. Também há investimentos na construção
de laboratórios de melhoramento genético de rãs28.
Criação de outros
animais para corte
Embora seja muito difícil a quantificação dessas
atividades no Brasil, também devem ser citadas as
criações de camarão de água doce, capivaras, jacaré-
de-papo-amarelo, javalis e scargot. Elas se destinam à
produção de carnes para restaurantes de luxo dos gran-
des centros urbanos do País e do exterior, além de
vários outros produtos de origem animal. Uma ativi-
dade relacionada a esse ramo é a fazenda de caça que,
no entanto, ainda é incipiente no País, mas que já 28. Gazeta Mercantil,
10/10/96
integra o roteiro de turismo rural no Paraná.
Criação de javalis
Carne de coelho
pronta para consumo
Criação de coelhos
32 Novo Rural
Produção de ervas aromáticas e medicinais
36 Novo Rural
Fruticultura de mesa e
produção de sucos naturais e
polpa de fruta congelada
A fruticultura no Brasil ainda tem grande po-
tencial a ser explorado, não somente para exporta-
ção, mas também para o mercado interno. A produ-
ção de polpas congeladas de frutas regionais, como
graviola, fruta-do-conde32, umbu, cajá e cupuaçu (na-
tivas do Norte e Nordeste), tem impulsionado o con-
sumo de sucos naturais e de sorvetes produzidos
artesanalmente. Também merece registro a importân-
cia que tem o suco de laranja natural nesse segmento.
Em 1996, segundo a Associação Brasileira de Expor-
tadores de Citrus (Abecitrus), o consumo de suco de
32. Globo Rural: "A hora da
laranja caseiro no País foi de 2,4 bilhões de litros, estrela". Abril/2001.
com um faturamento de R$1,9 bilhão, enquanto os 33. Ferrero, A. "Cresce a
industrializados (concentrado, fresco, integral e concorrência ao suco de laranja".
reconstituído) responderam por apenas 170 milhões Gazeta Mercantil, 20/06/1997.
Cultivo de cogumelos
O aumento do consumo de cogumelos nos gran- 34. Globo Rural: "Palmito: do
jardim ao campo". Nº.138, Abr/
des centros urbanos tem estimulado o cultivo de no- 1997, p.46-48.
vas espécies, além do tradicional champignon, como é
35. Branco, A. "A pupunha
o caso do Shiitake. Uma fazenda do Vale do Paraíba, toma o lugar do palmito".
região altamente industrializada do Estado de São Gazeta Mercantil, 18/06/1997.
38 Novo Rural
Paulo, que produzia madeira tratada de eucaliptus,
encontrou na produção de sementes de cogumelos
(os esporos são inoculados em moirões de eucaliptus)
a saída para a crise decorrente da redução das enco-
mendas36.
Shitake
Complexos hípicos
Os negócios ligados ao hipismo movimentaram
R$ 2,8 bilhões no período 1993-97 no Brasil37. Um
deles está sendo construído em Boituva, interior de
São Paulo, com investimentos da ordem de R$ 5,5
milhões. Além de todas as instalações e atividades re-
lacionadas ao hipismo (centro hípico com arena co-
berta, provas, rodeios, shows), o empreendimento
conta com toda a infra-estrutura de um grande hotel
(piscinas, quadras de futebol, tênis, etc.), onde o car- 36. Gazeta Mercantil: "Fazenda
dápio deverá incluir cabrito, javali, perdiz e outros Guirra produz alternativa ao
animais exóticos, o que indica a sua inter-relação com champignon", 18/06/1997.
a atividade de criação desses animais que foi mostra- 37. Nascimento, S. "Os
empresários investem na área
da anteriormente. country". Folha de São Paulo,
01/071997.
Festas de rodeio
Essas atividades movimentaram cerca de US$
500 milhões em 1996. Para se ter uma idéia da sua
popularidade hoje no País, basta dizer que o seu pú-
blico ultrapassou o total de torcedores presentes nos
campeonatos de futebol: estima-se que 26 milhões
de pessoas assistiram aos 1.238 rodeios em 1997. É
uma atividade de muito dinamismo, que dá suporte
para o crescimento econômico de muitas cidades pe-
38. Franco, L. Leilões e rodeios
quenas e médias do interior. A Festa de Peão de giram US$ 3,3 bi. Gazeta
Boiadeiro de Barretos, considerado o maior dos even- Mercantil, 20/06/1997.
40 Novo Rural
tos de rodeio do mundo, movimenta anualmente cer-
ca de US$ 120 milhões, mais do que os US$ 45 mi-
lhões movimentados pelo carnaval carioca. Durante
a festa, que dura uma semana, a população da cida-
de, de 110 mil habitantes, salta para 1,2 milhão. Na
cidade de Americana, no interior de São Paulo, a fes-
ta do Peão de Boiadeiro faz a população saltar de 220
mil para 470 mil pessoas. Com um movimento de
US$15 milhões numa semana, essa atividade já re-
presenta cerca de 10% da receita da cidade e vem
sendo uma das saídas para a crise do comércio local,
causada pela decadência da indústria têxtil, responsá-
vel por cerca de 60% da economia do município39.
Essas atividades do "negócio country" têm esti-
mulado, também, a proliferação de outros negócios
associados, como as grandes casas de espetáculo no
interior do País. Um exemplo é a Red Eventos,
construída em Jaguariúna – região de Campinas, a
um custo de US$ 2 milhões, onde ocorrem promo- 39. Cordeiro, E. "Americana
ções de shows musicais, exposições, leilões, etc., ten- investe na festa de peão". Gazeta
Mercantil, 03/06/1997.
do reflexos importantes na economia local.
Restaurante rural
42 Novo Rural
Turismo Rural
O turismo é uma das atividades que mais cres-
cem no mundo, e o segmento do turismo rural está
entre elas, com uma gama enorme de opções. Além
dos já conhecidos pesque-pagues e hotéis-fazenda, co-
muns em nossos municípios do interior, um novo e
bem-sucedido serviço começa a ganhar força: a fa-
zenda-hotel. A diferença básica é que, na fazenda-
hotel, a fazenda continua com suas atividades e roti-
nas originais. Como explicam Silva e Baldan40, "a fa-
zenda hotel está voltada para uma clientela urbana
cada vez mais carente de contato com o cotidiano da
terra, com a rotina de um modo de vida que, pelo
menos no imaginário urbano, remete a uma reconci-
liação com a natureza. (...) aqui as atrações não são
ornamentais e isso é decisivo para o seu sucesso junto
a um público saturado de simulações e banalizações 40. Silva, G. e Baldan, J.C.
"Férias no campo". Globo
impostas pelo mercado de consumo". Além de andar Rural, Fev/1997.
a cavalo, contemplar paisagens e praticar esportes, os
hóspedes podem vivenciar rotinas que vão desde a
ordenha até a alimentação do gado, o trato dos suí-
44 Novo Rural
gião do segundo planalto paranaense era caminho das tropas que saíam do Rio
Grande do Sul em direção principalmente a São Paulo ou Minas Gerais. Hoje,
percorrer o mesmo caminho dos tropeiros, comer a mesma comida, preparada na
fogueira no chão, acordar no mesmo horário das tropas, observar a natureza en-
quanto se caminha, são atividades que atraem um número crescente de turistas.
Mas aqui entra um detalhe importante no turismo: a preparação e treina-
mento do pessoal destinado a atender os turistas. Conhecer a cultura dos tropeiros,
as histórias, a culinária, e prestar o melhor atendimento aos turistas exigem
muita preparação e treinamento do pessoal ocupado.
Capela de Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá: no caminho dos tropeiros em São Luiz do Purunã - PR
52 Novo Rural
garantir a representatividade de toda a população. A única limitação importante
da PNAD é que ela não realiza sua pesquisa nas áreas rurais da antiga região
Norte do País (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), sob a ale-
gação de custo de deslocamento na imensa região amazônica.
População ocupada: parcela da População Economicamente Ativa que efe-
tivamente trabalhou no mês de setembro.
RURBANO: nome utilizado pelo projeto de pesquisa coordenado pelo Ins-
tituto de Economia da UNICAMP, inspirado em Gilberto Freire, que procura
explorar os novos usos e atividades no meio rural brasileiro.