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SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................5

Capítulo 1 ................................................................................................7
A Continuidade da Modernização Agropecuária ......................................... 7

Capítulo 2 ................................................................................................ 13
A Novidade na Modernização: A Terceirização .......................................... 13

Capítulo 3 ..............................................................................................21
Novas Atividades....................................................................................... 21

Glossário dos termos utilizados ................................................................. 51

Uma Abordagem Ilustrada 3


4 Novo Rural
Intr odução

A partir de meados dos anos 80, assistimos ao


surgimento de uma nova conformação do meio rural
brasileiro, a exemplo do que já ocorre há tempos nos
países desenvolvidos1.
Esse "Novo Rural" como vem sendo denomina-
do, compõe-se basicamente de três grandes grupos
de atividades:
1. Uma agropecuária moderna, baseada em
commodities e intimamente ligada às
agroindústrias;
2. Um conjunto de atividades não-agrícolas, liga-
das à moradia, ao lazer e a várias atividades in-
dustriais e de prestação de serviços;
3. Um conjunto de "novas" atividades
agropecuárias, localizadas em nichos especiais de
mercados.
O termo "novas" foi colocado entre aspas por-
que muitas dessas atividades, na verdade, são secula-
res no País, mas não tinham, até recentemente, im-
portância econômica. Eram atividades de "fundo de
quintal", hobbies pessoais ou pequenos negócios
agropecuários intensivos (piscicultura, horticultura,
floricultura, fruticultura de mesa, criação de peque- 1. Texto baseado na palestra
nos animais etc.), que foram transformados em im- eletrônica "O Novo Rural
portantes alternativas de emprego e renda no meio Brasileiro", Graziano da Silva, J.
e Del Grossi, M.E. Fundação
rural nos anos mais recentes. Muitas dessas ativida- Lyndolpho Silva/BNAF
des, antes pouco valorizadas e dispersas, passaram a (www.bnaf.org.br; palestra 11)

Uma Abordagem Ilustrada 5


integrar verdadeiras cadeias produtivas, envolvendo, na maioria dos casos, não
apenas transformações agro-industriais, mas também serviços pessoais e produ-
tivos relativamente complexos e sofisticados nos ramos da distribuição, comu-
nicações e embalagens.
Tal valorização também ocorre com as atividades rurais não-agrícolas deri-
vadas da crescente urbanização do meio rural (moradia, turismo, lazer e presta-
ção de serviços) e com as atividades decorrentes da preservação do meio ambi-
ente, além de um amplo conjunto de atividades de "nichos de mercado".
A figura 1 que apresentamos a seguir procura ilustrar essa situação que
acabamos de descrever: um espaço rural penetrado pelo mundo urbano com
velhos e novos personagens, como os neo-rurais (profissionais liberais e outros
ex-habitantes da cidade que passaram a residir no campo) ao lado dos assenta-
dos (ex-sem-terra) e daqueles que temos denominado sem-sem (sem terra e sem
emprego e quase sempre também sem casa, sem saúde, sem educação e, princi-
palmente, sem organização).
É desse conjunto de transformações que estão ocorrendo no meio rural
que trata este livro, o qual procura ilustrar essas transformações. Para isso,
dividimo-lo em 7 capítulos. Os capítulos 1 e 2 mostram a continuidade da
modernização tecnológica e seus impactos sobre a nova ruralidade. O capítulo
3 apresenta as novas atividades que estão dinamizando o espaço rural. O volu-
me 2 desta coleção tratará das atividades não-agrícolas geradas nesse processo, e
as principais conseqüências em torno das políticas de desenvolvimento rural.

Não Agrícola
Agrícola

Urbano Rural

Agribusiness
Neorural Sem
Familiar Sem
Sem-Terra

Figura 1: Novas relações e atividades no mundo rural.

6 Novo Rural
Capítulo 1
A Continuidade da Modernização
Agropecuária

A partir dos anos 60, o Brasil começou a experimentar uma profunda mo-
dernização em sua agricultura, baseada no modelo então denominado "revolu-
ção verde": sementes melhoradas que respondiam rapidamente ao uso de adu-
bos químicos necessitavam de aplicação de agrotóxicos, e com operações geral-
mente mecanizadas.
Na verdade, as bases para essa revolução em nossa agricultura foram lançadas
nos anos 50, quando se instalaram no Brasil a maioria das indústrias produtoras
de insumos para a agricultura, como as de adubos químicos, de tratores e má-
quinas ou de agrotóxicos. Para incentivar o uso dessas tecnologias, o Governo
montou um impressionante aparato, notadamente o sistema de crédito rural.
Inúmeros autores trataram dos aspectos negativos e positivos dessa moder-
nização, sob os mais variados aspectos, que não são objetivo deste trabalho. Mas
cabe destacar o êxodo rural sem antecedentes que ocorreu no País nesse período.
Com o avanço da mecanização de nossas lavouras, as tarefas antes executadas
por "turmas" de trabalho passavam a ser realizadas por apenas poucas pessoas,
deixando desempregadas no campo milhões de pessoas, que não tinham outra
opção senão as cidades.
Nos anos 80, o modelo de apoio estatal começa a perder fôlego, sufocado
pelas políticas mais gerais de combate à inflação. Mas, ao contrário do que se
poderia se pensar, o progresso tecnológico persistiu graças aos investimentos das
décadas anteriores. Nessa década tivemos o início da incorporação dos cerrados
do Brasil à produção de grãos, numa base tecnológica avançada e competitiva ao
nível do mercado internacional.

Uma Abordagem Ilustrada 7


Nos anos 90, esse processo não foi diferente. A
modernização brasileira seguiu seu curso, incorporando
tecnologias cada vez mais sofisticadas: a prática de
inseminação artificial ou mesmo a manipulação de em-
briões, máquinas equipadas com GPS2 e monitoradas
via satélite, produtos transgênicos etc; foram sendo in-
corporados ao processo produtivo e se tornando peças
rotineiras da nossa agricultura mais moderna.
É importante observar que essas tecnologias con-
taram com apoio considerável dos investimentos pú-
blicos em pesquisa agropecuária no Brasil, com os
investimentos semeados nos anos 70 e cujos frutos
tiveram seu período de maturação nos anos 90. Não
é demasiado recordar que também nesse período os
investimentos públicos na pesquisa agropecuária bra-
sileira foram sistematicamente reduzidos, e os resul-
tados dessa defasagem tecnológica já começam hoje a
se fazer sentir, principalmente entre os produtores
menos favorecidos, que não conseguem se adaptar à
velocidade das inovações internacionais.
Essa escalada tecnológica do segmento agrícola mais
2. Equipamento que fornece,
moderno que ainda ocorreu nos anos 90 se refletiu no via satélite, as referências para
grau de competitividade internacional de nossas cultu- localização e mapeamento
detalhado (metro a metro) das
ras. A despeito das barreiras tarifárias e não-tarifárias, propriedades.
mantidas nas negociações do GATT3 e depois na sua
3. Acordo Geral sobre Tarifas e
sucessora, a OMC4, as exportações brasileiras têm con- Comércio - GATT
seguido manter um nível de competitividade invejável, 4. Organização Mundial do
a exemplo do suco de laranja ou da carne de frango. Não Comércio - OMC
é por menos que ano após ano o governo brasileiro vem 5. Takagi,M.; Graziano da
anunciando novas safras recordes de grãos no Brasil. Silva,J. e Del Grossi, M.E.
Esse viés exportador de nossa agricultura comer- Pobreza e fome: em busca de
uma metodologia para
cial tem sido a saída para as restrições de demanda do quantificação do problema no
mercado nacional. Estudos5 apontam para uma po- Brasil. UNICAMP. Texto para
Discussão 101
pulação de 44 milhões de pessoas pobres no Brasil no (www.eco.unicamp.br).
ano de 1.999, ou seja, pessoas que vivem com menos
6. Linha de pobreza adotada
de um dólar per capita/dia6 . Com esse grau de po- pelo Banco Mundial nos
breza no País, reduzindo o consumo de alimentos, a estudos comparativos entre
vários países.
saída mais fácil tem sido a busca do mercado exterior.
8 Novo Rural
Porém, as restrições no mercado interno, associ- 7. São os critérios adotados pelo
PRONAF para financiamento
adas aos baixos níveis de preços das commodities no da agricultura familiar:
mercado internacional nos últimos anos, a redução contratam até 2 empregados
dos investimentos em pesquisa e também a elevação permanentes nas tarefas
agrícolas, área inferior a quatro
do salário mínimo no Plano Real, elevando os custos módulos fiscais e valor bruto da
de produção, têm resultado numa baixa remunera- produção menor que R$
ção dos principais produtos agrícolas comerciais. O 27.500,00 em 1995/96. Os
estabelecimentos com mais de 2
Gráfico 1 ilustra essa situação de baixa remuneração empregados permanentes ou
dos produtos agrícolas a partir do rendimento do tra- com área e renda maiores do
que o padrão, são considerados
balho principal das pessoas: o rendimento médio das não-familiares. Para detalhes
pessoas que trabalhavam na agricultura era pelo me- sobre a tipologia veja "Tipos de
nos a metade do rendimento dos que viviam de ativi- Estabelecimentos do Estado do
Paraná", CD-Room/IAPAR.
dades não-agrícolas.
Gráfico 1: evolução do rendimento médio do trabalho principal das pessoas
com domicílio rural, durante os meses de setembro, segundo o ramo de ativida-
de. Brasil, 1992-99.

350,00

300,00

250,00
Renda Média (R$)

200,00
Agrícola
Não-agrícola
150,00

100,00

50,00

0,00
1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

8. Os estabelecimentos
Mas esse processo não atinge da mesma forma familiares são os que se
todos os produtores. Analisando o mesmo problema enquadram nos critérios do
com outras fontes de informações (gráfico 2), a par- PRONAF, podendo ainda ser
subdivididos em: familiar
tir do Censo Agropecuário, os dados do Paraná mos- (contratam apenas mão-de-obra
tram que os estabelecimentos não-familiares7, apesar temporária nos picos de
de representarem apenas 2% dos estabelecimentos, demanda de trabalho) e os
familiares empregadores
produzem pouco mais de 30% do valor bruto da pro- (contratam até dois empregados
dução. Já os estabelecimentos familiares8, apesar de permanentes).

Uma Abordagem Ilustrada 9


representarem 63% dos estabelecimentos do Paraná em
1995/96, respondiam por apenas 18% do valor bruto
da produção. Em outras palavras, esses dados mostram
que os estabelecimentos de empregadores (não familia-
res), possuindo maior quantidade de área e grau de
tecnologia, conseguem uma margem de renda bem
maior. Já os estabelecimentos familiares, produzindo para
o mercado interno, com pouca área e baixa tecnologia,
são os que recebem as menores remunerações.
Gráfico 2: Principais tipos de estabelecimentos agropecuários do Estado do
Paraná, 1995/96.

70
60
Participação (%)

50 Número
40 Área (1.000ha)
30 E.H.
20 VBPV
10
0
Familiar Familiar Não Familiar Outros
menor menor empregador maior maior
menor menor
Fonte: CD-Rom/IAPAR9, reprocessamento do Censo Agropecuário. 9. Doretto, M.; Laurenti, A. e Del
Grossi, M.E. Tipos de estabeleci-
mentos agropecuários do Estado
do Paraná, 1995-96. CD-Rom.
Ao longo dos anos 90 ampliou-se a distância IAPAR, 2001. No CD-Rom são
entre o segmento familiar e o patronal da nossa agri- explicados os conceitos “menor
menor” e “maior maior” utilizados
cultura10. Ou seja, a distância entre os proprietários no gráfico 2. De forma
familiares e os grandes empregadores da nossa simplificada “menor menor” sig-
agropecuária é cada vez maior; e, no meio deles, um nifica que os estabelecimentos se
enquadram nos critérios de defi-
contingente de pequenas e médias empresas familia- nição de agricultura familiar.”
res que empregam poucos trabalhadores permanen- 10. Para maiores detalhes veja
tes, mas muitos temporários, que vinham se fortale- Graziano da Silva, J. e Del Grossi,
cendo nas décadas anteriores, vêm perdendo espaço, M.E. "A evolução da agricultura
familiar e do agribusiness nos anos
especialmente após o Plano Real. 90". IN: RATTNER, H. Brasil no
A queda da rentabilidade se deve, em nossa opi- limiar do século XXI. São Paulo:
nião, a três elementos fundamentais: a queda dos pre- Editora da Universidade de São
Paulo. 2000. p.139-157.

10 Novo Rural
ços dos produtos agropecuários; a elevação dos custos
do trabalho e do crédito rural e a redução do ritmo de
inovação no setor agropecuário. Vejamos rapidamente
o papel de cada um desses elementos no processo de
diferenciação social dos produtores agropecuários.
Como sabemos, o Governo Collor promoveu,
em 1990, uma abertura indiscriminada das impor-
tações com o objetivo de auxiliar no combate à in-
flação vigente. Ocorre que os preços das commodities
agrícolas estão em queda há 30 anos11. O resultado
foi uma internalização dos baixos preços vigentes
nos mercados internacionais, os quais refletem fun-
damentalmente as políticas agrícolas protecionistas
dos países desenvolvidos e especialmente os subsí-
dios às exportações de produtos agrícolas praticadas
pelos EUA, Canadá e CEE12. Acrescente-se ao des-
monte do aparato institucional do Ministério da
Agricultura e do Ministério da Indústria e Comér-
cio que se refletiu na perda de eficácia dos princi-
pais instrumentos de política agrícola ainda vigen-
tes no final dos anos 80, como a política de preços
mínimos e dos mecanismos de regulação estatal de
nossos principais produtos, como o do açúcar e ál-
cool, do trigo e da soja, do café etc.
O segundo elemento – a elevação dos custos de
produção, – se deve em parte à recuperação do valor 11. Monteiro, M. J. C. Trinta
anos de queda. Agroanalysis,
real do salário mínimo promovida a partir do Gover- v.18, no 2, pp. 26-31, fev. 1998.
no Itamar Franco (1992-94) que se refletiu no siste-
12. É importante que se
ma de produção, não apenas dos grandes emprega- esclareça que esses subsídios às
dores, mas também daquelas empresas familiares que exportações foram o tema
empregam poucos trabalhadores permanentes, mas central da Rodada Uruguaia do
GATT, que se arrastou pelos
muitos temporários. Vale lembrar que o salário míni- anos 90 e que embora esses
mo funciona como uma espécie de farol para os salá- subsídios sejam amplamente
condenados por todos, seguem
rios rurais, especialmente no caso dos trabalhadores sendo uma das políticas mais
temporários. Também contribuem para o aumento importantes, particularmente
dos custos de produção as elevadas taxas de juros vi- dos Estados Unidos, que
dependem dos mercados
gentes para o crédito em geral e, de forma específica, externos para realizar quase 40%
para o crédito rural de custeio, o qual já não embutia de sua produção agrícola.

Uma Abordagem Ilustrada 11


mais qualquer subsídio na medida em que se tornou pós-fixado com correção
monetária integral, desde meados dos anos 80. Ressalte-se que o aumento dos
custos de produção só não foi maior pela defasagem cambial vigente até a desva-
lorização do real no início de 1999, que barateava os insumos químicos, grande
parte dos quais passaram a ser novamente importados com a abertura da econo-
mia em 1990, especialmente fertilizantes e defensivos.
O terceiro elemento que responde pela queda da rentabilidade da produ-
ção agrícola é o arrefecimento do ritmo de inovação da nossa agropecuária no
final do século. Alguns querem ver aí um certo esgotamento do padrão de mo-
dernização da agricultura, baseado no cultivo intensivo apoiado na mecanização
e no uso de insumos químicos. Mas todos concordam que a queda dos recursos
públicos para a pesquisa agropecuária, o desmantelamento das agências estatais
de assistência técnica e extensão rural foram fundamentais para a redução do
ritmo de inovação, especialmente dos pequenos produtores que não consegui-
ram ter acesso a novas tecnologias por mecanismos privados.
Resumindo, a conjugação desses três elementos – a queda dos preços dos
produtos agropecuários; a elevação dos custos do trabalho e do crédito; e a redu-
ção do ritmo de inovação no setor agropecuário – resultaram numa sensível
queda da renda proveniente das atividades agropecuárias. E isso vem se refletin-
do de maneira muito diferente entre os vários tipos de produtores, familiares e
patronais, grandes e pequenos.

12 Novo Rural
Capítulo 2
A Novidade na Modernização:
A Terceirização

Nos países mais desenvolvidos é visível o cresci-


mento de um novo paradigma13 técnico-produtivo,
também chamado pós-industrial, demarcado pela ele-
vação do conteúdo tecnológico e pela redução no ta-
manho das plantas industriais, e conseqüente queda
relativa dos empregos no setor industrial da econo- 13. Corresponde ao novo
mia. Assiste-se ainda à proliferação de empresas modelo de produção, baseado
fortemente em tecnologias de
prestadoras de serviços técnico-produtivos informação.
especializados por toda a economia14. 14. Tais mudanças já são sentidas
Transformações semelhantes vêm ocorrendo em no Brasil, particularmente com a
nossa agropecuária nas últimas décadas. Com a esca- queda do emprego industrial e o
crescimento do setor terciário.
lada tecnológica das máquinas e equipamentos, com- Porém, apesar de as empresas
prar a tecnologia de ponta pode ser um investimento prestadoras de serviços
muito alto para os produtores. A opção do aluguel de tecnológicos e produtivos
também crescerem, o grande
máquinas e equipamentos, ou a contratação tempo- contingente dos trabalhadores do
rária de serviços especializados, como a manipulação setor terciário está ocupado em
serviços pessoais.
de embriões, tratos culturais nas lavouras, etc., pode
ser mais interessante para o produtor15. 15. Baseado em Laurenti:
Terceirização na produção
Os ônus do equipamento parado após a execu- agrícola – a dissociação entre a
ção da tarefa, da manutenção, da atualização propriedade e o uso dos
instrumentos de trabalho na
tecnológica da máquina e da sua utilização ficam por
moderna produção agrícola
conta da firma contratada. Mais que isso, a possibili- paranaense. IAPAR-IICA/
dade de terceirização dos serviços agropecuários abre PROCODER, 2000, 201p.

Uma Abordagem Ilustrada 13


a oportunidade de uso de tecnologias modernas para
milhares de produtores que não poderiam adquirir
um equipamento mais sofisticado.
A terceirização dos trabalhos e serviços agrários
também vem dar maior flexibilidade à produção anu-
al, pois o produtor não fica "preso" ao equipamento
de sua propriedade, optando pela lavoura que lhe for
mais interessante em cada safra.
E esse fenômeno já ocorre em nossa agropecuária?
Os dados do Censo Agropecuário do Paraná re-
alizado pelo IBGE16 em 1995/96 (Tabela 1), mos-
tram que dos 294.765 estabelecimentos classificados
como familiares, 126.180 utilizam força de tração me-
cânica e/ou equipamentos (FTME) de terceiros.
No Brasil o número de estabelecimentos que utili-
zaram algum serviço de terceiros chega à casa dos 891
mil, especialmente nos estabelecimentos com até 10 ha.
A tarefa de terceiros mais contratada é a colheita
mecânica das lavouras, justamente porque a colheita
exige um equipamento específico para essa atividade.
Já os tratores, arados, pulverizadores etc., podem ser
16. Instituto Brasileiro de
adaptados a várias culturas. Essa combinação de má- Geografia e Estatística
quinas próprias com máquinas de terceiros configura (www.ibge.gov.br)
a situação de "terceirização parcial" como designou
Laurenti (2000).

Barion Transportes
– contratada para
serviços de colheita
mecânica em
vários estados

14 Novo Rural
Tabela 01. Distribuição dos estabelecimentos agropecuários, área total,
eqüivalente-homem (EH) e valor bruto da produção vendida (VBPV), segundo
a composição do pessoal ocupado, grupo de eqüivalente-homem, uso da força
de tração e empreita de máquinas e equipamentos. Estado do Paraná, 1995.
TOTAL
ITEM Estabele- Área EH (f ) VBPV (g)
cimentos 1.000 (ha) 1.000 R$

TOTAL 369.875 15.947 1.126.118 5.066.095


Com declaração de receita 354.037 15.207 1.094.681 5.066.095
Sem declaração (a) 12 3 42 454
Coletiva (b) 26.393 2.834 110.725 1.006.650
Individual 327.632 12.370 983.914 4.058.990
Sem declaração de área total 21 0 31 167
TOTAL FAMILIAR (C) 294.765 6.892 816.978 2.346.375
Com uso de FTME (d) próprios 113.446 3.341 344.631 1.066.699
Com uso de FTME de terceiros 126.180 2.535 344.528 1.090.837
Sem uso de FTME 55.139 1.016 127.819 188.839
Familiar com até 1 EH 44.254 745 44.253 235.562
Com uso de FTME (d) próprios 11.641 257 11.641 86.310
Com uso de FTME de terceiros 18.231 267 18.231 115.906
Sem uso de FTME 14.382 221 14.382 33.345
Familiar com EH entre 1 e 2 89.915 1.909 162.888 583.597
Com uso de FTME (d) próprios 32.248 842 59.538 246.151
Com uso de FTME de terceiros 37.985 677 67.450 270.653
Sem uso de FTME 19.682 390 35.900 66.793
Familiar com 3 ou mais EH 160.596 4.238 609.837 1.527.216
Com uso de FTME (d) próprios 69.557 2.241 273.452 734.238
Com uso de FTME de terceiros 69.964 1.592 258.848 704.278
Sem uso de FTME 21.075 405 77.537 88.700

Total não familiar (e) 32.846 5.478 166.906 1.712.448

Fonte: Tipos de Estabelecimentos Agropecuários do Estado do Paraná de 1995-96, IAPAR/ASE, cd-rom.


a) Estabelecimento sem informação da condição de propriedade da terra ou posição ignorada do pessoal
ocupado.
b) Condomínio ou sociedade de pessoas; cooperativas; sociedade anônima ou por cotas; instituição pia ou
religiosa; governo etc.
c) Estabelecimento dirigido por produtor e sendo a mão-de-obra familiar igual ou superior à metade do
total de pessoal ocupado.
d) FTME = Força de Tração animal e ou mecânica e Máquina e ou Equipamento.
e) Estabelecimento dirigido por administrador ou com mão-de-obra familiar menor que a metade do total
de pessoal ocupado.
f ) E.H. = Eqüivalente Homem – Corresponde a uma jornada anual de 300 dias de trabalho de um homem
adulto.
g) VBPV =Valor Bruto da Produção Vendida menos a receita oriunda da venda de máquinas.

Uma Abordagem Ilustrada 15


Com o progresso técnico têm-se ampliado os
intervalos de tempo entre as operações agrícolas, ou
os períodos de inatividade entre uma tarefa e outra
na produção agropecuária. Porém, isso significa que
os sistemas de produção tendem para um menor nú-
mero de tratos culturais, reduzindo assim a necessi-
dade de mão-de-obra na agricultura.
A colheitadeira automotriz, por exemplo, tornou
contínua a seqüência dos trabalhos ceifa - amontoa -
trilha - transporte, isto é, eliminou os intervalos de não-
trabalho entre essas operações. Da mesma forma, o sis-
tema de cultivo baseado na semeadura direta, não rea-
lizando assim o preparo do solo e as capinas mecâni-
cas, também diminui o tempo de trabalho nas lavou-
ras e reduz o número de tarefas a serem executadas.
Em resumo, no plano estritamente técnico ou
agronômico, o uso das inovações tecnológicas tem
promovido o aumento da produtividade física do tra-
balho e o desengajamento de pessoas do processo de
produção agrícola, tanto pelo uso de maquinaria, re-
duzindo o número de operações agrícolas, quanto pela
17. Termo originalmente
simplificação17 das tarefas agrícolas. utilizado por Green, R. e
E essa redução de pessoas em nossa agropecuária Santos, R.R. Uma reflexão
teórico-metodológica sobre o
já acontece? processo de reestruturação do
A resposta a essa pergunta é afirmativa e pode ser setor agro-alimentar na
comprovada. Uma das formas é utilizando os dados América Latina. Seminário
"Inovações tecnológicas e
das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios - reestruturação do sistema
PNADs, do IBGE. Essa pesquisa de abrangência alimentar". UFPR - Curitiba,
nacional, com exceção das áreas rurais da antiga região 26 a 28/6/1991.

Norte do país (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, 18. Essa questão e a maioria das
outras perguntas sobre trabalho
Rondônia e Roraima), pergunta às pessoas qual o ramo nas PNADs são referentes ao
da economia em que elas estavam ocupadas18. As pes- mês de setembro.
soas ocupadas na agricultura podem ser observadas no 19. Para maiores detalhes veja
Gráfico 3. A população ocupada na agricultura cres- em Del Grossi: Evolução das
ceu até 1985/86, período do Plano Cruzado, e depois ocupações rurais não-agrícolas
no meio rural brasileiro.
vem se reduzindo gradativamente. A diferença entre UNICAMP, 1999. (Tese de
os anos de 1990 e 1992 se deve a uma mudança Doutorado)

16 Novo Rural
conceitual, não corrigida plenamente19, e em 1999 tem-se uma suave recuperação
do número de pessoas ocupadas na agricultura.
A expansão da modernização, e principalmente da terceirização das tarefas
agrícolas, conduz a uma individualização da atividade agrícola, com reflexos
importantes na organização do trabalho familiar. O que era atividade de toda a
família, hoje pode ser feita por apenas uma pessoa. A Tabela 2 mostra as pessoas
que se ocupam da agricultura segundo a sua condição na família e gênero. É
possível observar que os homens adultos referência da pesquisa, estão estáveis
em torno de 6,4 milhões de pessoas. Em menor número, mas também estáveis,
estão a mulher cônjuge, em torno de 1,9 milhões.
Gráfico 3: Evolução da população ocupada na agricultura no Brasil.
16
15
14
13
12
11
Pessoas (milhões)

10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0 | | | | | | | | | | | | | | | | | | |
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Tabela 2: Evolução Condição na Família 1992 1999 taxa 92/99


(1.000) (1.000) %ªa
das pessoas ocupadas na
Pessoa de referência
agricultura, segundo a Masculino 6.456 6.330 -0,5
condição na família e gê- Feminino 336 327 -0,9
nero. Brasil, 1992-99 Cônjuge
Masculino 14 30 17,6 ***
Feminino 1.939 1.918 -1,0
*** indica 5% de confiança, Filhos
estimado pelo coeficiente de Masculino 4.274 3.531 -3,2 ***
regressão log-linear contra o Feminino 1.085 871 -4,7 ***
tempo. Outros
Fonte: ASE/IAPAR, projeto Masculino 581 519 -2,6 ***
RURBANO Feminino 168 133 -4,3 ***

Uma Abordagem Ilustrada 17


Mas quanto aos filhos, esse contigente vem so-
frendo uma forte redução: quase 700 mil filhos e 200
mil filhas de agricultores deixaram as atividades agrí-
colas ao longo dos anos 90. O número de mulheres
cônjuges bem inferior ao de homens de referência da
pesquisa, mostra que as cônjuges mulheres se dedi-
cam parcialmente à atividade agrícola.
Em outras palavras, quem cuida da agricultura
no Brasil são os pais homens, contando com a ajuda
parcial e decrescente dos filhos homens e da esposa.
É nesse sentido a tendência de individualização,
masculinização e envelhecimento dos trabalhadores
que se dedicam às atividades agrícolas.
Para um futuro próximo já é possível vislumbrar20
a possibilidade da "agricultura de gestão", na qual o
produtor exerce principalmente a função de gerência
das atividades agrícolas, contratando os serviços ne-
cessários para sua atividade via telefone. Esse tipo de
agricultura poderá não representar a maioria no fu-
turo, mas poderá ser uma possibilidade viável para
muitos produtores.
Os serviços que poderão ser contratados são os
mais diversos como: implantação de lavoura; produ-
ção e aplicação de inimigos naturais dos agentes cau-
sais de pragas e doenças na produção agropecuária;
planificação e aplicação de fertilizantes e outros
insumos; colheita; inseminação artificial; empresas co-
letoras de detritos agropecuários (caminhão pipa para
esgotamento de fossa coletora de dejetos oriundos da
pecuária de galpão e transporte para centrais de
beneficiamento); gestão econômico-financeira etc.
Essa contínua simplificação de tarefas agrícolas,
tendendo a individualizar o trabalho agrícola, libera 20. Baseado em Laurenti, A.C.
os membros da família para outras atividades, agríco- Terceirização dos trabalhos
las ou não-agrícolas, dentro ou fora do estabelecimen- agrários e o "novo rural". IN:
Anais da Oficina de Atualização
to agropecuário. Mesmo as pessoas que ficam incum- Temática sobre Ocupações
bidas diretamente das atividades agrícolas não têm o Rurais Não-Agrícolas. IAPAR,
tempo todo tomado pelas atividades agrícolas: sur- 2000.

18 Novo Rural
gem então os estabelecimentos part-time farmer, que pode ser traduzido como
agricultores em tempo parcial.
Essa combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas, se observada pela
ótica da família, ficou conhecida por pluriatividade. A diferença do conceito
anterior, é que o conceito de part-time está ligado aos estabelecimentos
agropecuários, ou seja, com uma unidade econômica, enquanto que a
pluriatividade está ligada às famílias, ou seja, com uma unidade social e
demográfica.
Em síntese, a modernização da base técnica da agricultura brasileira con-
tinuou avançando nos anos 90, simplificando o número de tarefas
agropecuárias. A terceirização das tarefas agrícolas potencializou esse proces-
so. De certa forma ocorre um "desmonte" das tarefas produtivas do interior
do estabelecimento em favor de terceiros, liberando as pessoas das famílias
para outras atividades, agrícolas ou não-agrícolas, no interior do estabeleci-
mento agropecuário ou fora de seus limites.

Uma Abordagem Ilustrada 19


20 Novo Rural
Capítulo 3
Novas Atividades

A modernização não avançou somente no senti-


do de simplificar a base técnica na produção de
commodities, mas também na exploração de "novas"
oportunidades de negócios.
O termo "novas" foi colocado entre aspas por-
que muitas dessas atividades, na verdade, são secula-
res no País, mas não tinham até recentemente impor-
tância como atividades econômicas. Eram atividades
"de fundo de quintal" ou hobbies pessoais que foram
transformados em importantes alternativas de empre-
go e renda no meio rural nos anos mais recentes.
Um aspecto que deve ser destacado refere-se ao
fato de que várias dessas atividades, antes pouco va-
lorizadas e dispersas, passaram a integrar verdadeiras
cadeias produtivas, envolvendo, na maioria dos ca-
sos, não apenas transformações agroindustriais, mas
também serviços pessoais e produtivos relativamente
complexos e sofisticados nos ramos da distribuição,
comunicações e embalagens.
Em outras palavras, muitos desses novos negócios
nascem com a cadeia praticamente completa, desde os
fornecedores, a própria atividade, a agroindustrialização
e distribuição ou os serviços derivados dessas ativida-
des. Nos exemplos a seguir a complexidade dessas no-
vas atividades ficará mais clara.

Uma Abordagem Ilustrada 21


Piscicultura
Essa atividade talvez seja o melhor exemplo da nova ruralidade no Brasil.
Assistimos na última década a uma explosão do número de pesque-pagues por
todo o País, notadamente nos estados das regiões Sudeste e Sul. O crescimento
do número de pesqueiros, mais a demanda para o processamento industrial,
foram as bases da expansão da piscicultura.

Pesqueiro Ishikawa em
Londrina: opção de
lazer rural

Os pesque-pagues, destinados ao lazer da classe média urbana, normal-


mente localizados em chácaras e sítios de fácil acesso pelas principais rodovias,
oferecem aos clientes bons e diversificados serviços – estacionamento, lancho-
nete, material para pesca etc. Muitas dessas chácaras trocaram a agricultura por
esta atividade, que responde por mais de 90% do destino dos peixes criados em
cativeiro (tilápia, pacu, piaucú, matrinxã, pintado, cat fish, truta – durante o

22 Novo Rural
inverno – entre outros). O maior estímulo dos pesqueiros é a possibilidade de
gerar uma receita para os proprietários, às vezes, bem superior a muitas commodities.
É interessante observar que muitas áreas destinadas aos pesqueiros inicial-
mente eram marginais à produção de grãos. Com os pesqueiros tornaram-se as
áreas mais valorizadas da propriedade.

Tanques de engorda de peixes para fornecimento aos Pesque-Pagues.

Essas novas atividades chamam a atenção para a quantidade de fornecedores


e serviços que surgem, derivados da expansão de pesqueiros. O primeiro deles,
evidentemente, é a engorda de peixes para fornecer aos pesqueiros. Seria perda de
espaço e tempo se os pesque-pagues também utilizassem seus tanques para cresci-
mento e engorda de seus peixes, já que sua remuneração está baseada na circula-
ção rápida do capital investido, além de criar um mal-estar entre os seus
freqüentadores se em alguns tanques for proibida a pesca.

Tanques de reprodução de alevinos para piscicultura.

Uma Abordagem Ilustrada 23


Não somente os piscicultores de crescimento e engorda de peixes são esti-
mulados. Os produtores de alevinos para os piscicultores também o são, criando
um mercado importante de reprodução não somente de nossas espécies nativas
(como os pintados, dourados, piaparas, entre tantos outros), mas também de
peixes exóticos (como o bagre africano ou americano, entre outros).
Na região Norte do Paraná, por exemplo, a Aquabel é considerada a maior
produtora de alevinos de tilápia do Brasil, chegando a entregar até 4 milhões de
alevinos/mês.
O encadeamento não termina por aí. As indústrias de rações especializadas
também são estimuladas, com a produção de rações específicas para alevinos,
rações de crescimento, engorda e manutenção. Isso sem falar na indústria vete-
rinária na fabricação de hormônios de crescimento, reprodução ou reversão se-
xual, controle de doenças, entre tantos outros produtos que são utilizados ao
longo da cadeia produtiva dos pesque-pagues.

Indústria de produção de ração para peixes

E as minhocas para fisgar os peixes? Também a criação de minhocas em


geral é desenvolvida por outros produtores, que se especializam nessa técnica.
Como as demais, quase todas essas "novas" atividades são complexas e exigem
estudo e dedicação por parte dos produtores. A produção de minhocas no pró-
prio pesqueiro dificilmente seria eficiente, pois seria mais uma tarefa relativa-
mente complexa para cuidar, criando o risco de não se dar a devida atenção aos
clientes do pesqueiro.
O produtor de minhocas, por outro lado, tem a possibilidade de utilizar os
dejetos da pecuária como fonte de matéria orgânica compostada, para a criação
de minhocas, além de ter a opção da venda de adubo orgânico.

24 Novo Rural
Produção de minhocas para pescaria

No mesma linha está a produção de varas para pescar. Ao chegar ao pes-


queiro, o cliente menos equipado precisará de varas preparadas, com linha e
anzol adequados, para o lazer nos tanques. Também aqui há um estímulo aos
produtores de varas para pescar que, com freqüência, farão a reposição das varas
danificadas nas pescarias.
Não podemos esquecer do encadeamento em torno de um pesqueiro, da
enorme quantidade de lojas especializadas ou não, que vendem os mais variados
artigos de pesca aos "pirangueiros" de final de semana.

Loja de artigos de pesca

Uma Abordagem Ilustrada 25


Se os encadeamentos ligados à pesca já impressio-
nam, os relativos ao setor de serviços também não ficam
atrás. Refrigerantes, cervejas ou sucos, servidos à beira dos
tanques ou na sede do pesqueiro, geram uma importante
fonte de receita, às vezes tão importante quanto o peixe
fisgado nos tanques.
Há ainda outro grande atrativo nos pesqueiros: o res-
taurante ou lanchonete. Depois de horas na pesca, é natural
que as pessoas queiram apreciar o peixe fresco, nos mais
variados cardápios de nossa culinária. Também pode ser a
opção de lazer daqueles que não gostam de pescar, mas gos-
tam de saborear a culinária rural.
Mais uma vez o encadeamento: os restaurantes nos
pesqueiros não precisam se limitar aos peixes fisgados em
seus tanques, mas também podem oferecer ao cliente pra-
tos com peixes exóticos ou nativos, comprados de outros
piscicultores.
Uma nova possibilidade de encadeamento é o aproveita-
mento das carcaças. Após a pesca, dificilmente os clientes le-
varão os peixes sem limpá-los e cortá-los adequadamente, exis-
tindo vários cortes de acordo com a opção do cliente na hora
da limpeza. Talvez a filetagem do peixe seja a atividade que
gera maior resíduo no pesque-pague, já que além das vísceras,
cabeça e nadadeiras, também o couro do peixe é retirado.
Como já existe tecnologia disponível para tratamento do resí-
duo dos peixes para fabricação de adubos, e também para
aproveitamento do couro para fabricação de peças de vestuá-
rio, essas duas atividades irão gerar importantes encadeamen-
tos para frente no negócio da piscicultura.
Ainda sobre a piscicultura, não somente a pesca em tan-
ques tem crescido. Há uma outra oportunidade relacionada à
pesca esportiva: muitos turistas, nacionais e estrangeiros, são
atraídos para esta modalidade de turismo nas principais baci-
as hidrográficas brasileiras – Pantanal, Amazonas e Paraná –,
além da pesca litorânea na Bahia, Espírito Santo, Santa Catarina
e outros estados. Essas regiões possuem boa infra-estrutura e 21. Paul, G. Pesca
oferecem uma rede de serviços de qualidade, fatos que tor- milagrosa. Revista Veja. São
Paulo, 29/11/95. p.76-78.
nam esta atividade uma importante fonte de divisas21.
26 Novo Rural
Também pelo lado do processamento industrial, a piscicultura pode con-
verter-se em importante atividade rural e fonte de renda para os agricultores.
Cooperativas já adentram nesse ramo, instalando frigoríficos com grande capa-
cidade diária para processar peixe. Em geral a criação dá-se pelo sistema de semi-
integração, em que a cooperativa fornece os alevinos, a assistência técnica e a
ração. Dessa forma, o abastecimento da indústria fica garantido, uma vez que
ela compete com os pesque-pagues pelo fornecimento da matéria-prima e estes,
geralmente, pagam um preço melhor pelo quilo do peixe.
Todas essas novas atividades giram em torno da piscicultura e cresceram ori-
entadas para atender novos segmentos de mercado. A partir da procura urbana
pelo consumo ou lazer na forma de pesca, surge uma série de novos produtores
dos mais diferentes itens da piscicultura, formando assim uma cadeia completa e
complexa. Muitas dessas atividades geraram ocupações tradicionais do ramo da
agricultura, como a engorda de peixes ou criação de minhocas, mas também gera-
ram várias ocupações que têm pouco a ver com a atividade agrícola propriamente
dita, como os garçons, caixas, cozinheiros, faxineiros, entre outras, nos pesqueiros.
Além da piscicultura, já existe uma grande quantidade de novas atividades
com encadeamentos produtivos importantes. Listamos algumas abaixo.

Agroindústrias Rurais
Uma série de agroindústrias processadoras estão se desenvolvendo por todo
o País, explorando pequenos nichos de mercado. Muitas são atividades artesanais,
ou quase, explorando os mais variados mercados: doces, bebidas, vinhos, salga-
dos, carnes e derivados, lácteos e derivados etc. A cultura brasileira tem uma
culinária muito rica e as possibilidades de explorar comercialmente esses dife-
rentes "sabores" regionais, principalmente se tiver alguma origem étnica, tem
potencial crescente em todo o mundo.
Frigoríficos rurais estão proliferando por todo meio rural, atendendo os mais vari-
ados mercados. Em Rolândia, por exemplo, um frigorífico, além de produzir apresuntado,
bacon, salames e lingüiças, iniciou também a produção de kits para feijoada, aprovei-
tando melhor partes dos suínos como orelhas, pés, caudas, couro etc.
Inúmeras outras atividades agroindustriais estão se disseminando pelo cam-
po: fábricas de balas, doces, embutidos, lácteos, salgados, refeições industriais, etc.

Uma Abordagem Ilustrada 27


Vários governos municipais e estaduais, e o pró-
prio governo federal, têm lançado programas especí-
ficos de agroindustrialização, com os mais diferentes
nomes. O programa Fábrica do Agricultor do
Paraná22, por exemplo, já oficializou e incentivou
quase 1000 fábricas pelo interior do estado, melho-
rando os aspectos de sanidade e de apresentação
mercadológica dos produtos.

Aperitivos e balas

Agroindústria de queijos

Embutidos e defumados

Criação de "Aves Nobres"


O Brasil tem uma fauna riquíssima, com enor-
me potencial para vários tipos de cadeias produtivas.
Uma delas é a criação de aves nobres, e mesmo exóti-
cas ao nosso território.
São comuns notícias de fazendas acrescentando
à produção nova atividade, ou mesmo trocando a
produção agrícola tradicional pela criação de aves
nobres e exóticas (matrizes importadas da Europa,
África e Ásia). Faisões, perdizes e codornas gigantes 22. Para maiores informações
francesas para corte já são comuns em nossos veja em www.pr.gov.br/seab.

28 Novo Rural
criadouros. As aves de corte são comercializadas em
supermercados e restaurantes, além da agroindústria
– como a Perdigão, que desde 1989 comercializa essa
linha de aves raras23.
A avestruz é uma das aves típicas desses negó-
cios. Importado da África, já tem seus criadouros dis-
seminados pelo País, visando à produção de carne 23. Folha de S. Paulo,
(com baixo teor de gordura), couro ou para fins or- 24/04/96
namentais. Em três anos o plantel brasileiro saltou de 24. Dados da Associação de
50 mil aves para 150 mil aves em 2001, movimen- Criadores de Avestruzes do
tando aproximadamente U$300 milhões24. O grau Brasil. Gazeta Mercantil,
06/11/01.
de sofisticação chega a ser tão elevado que a identifi-
25. Globo Rural, Maio/2001.
cação dos animais é feita pela introdução de "chip"
para leitura eletrônica, logo após a eclosão dos 26. Globo Rural: "Ganso: nas
águas da tradição". Jan/1996;
ovos.Também nesse caso o público alvo é o consumi- "Pato com sotaque francês",
dor urbano, quer em restaurantes típicos que servem Ago/1996; "Javali: o porco de
sangue azul", Out/1996; "Jataí:
carnes exóticas, quer para redes de supermercados que doce selvagem", Mar/1997.
ensaiam entrar nesse segmento de mercado.

Criação de avestruzes

Situações similares repetem-se com a criação de


gansos, patos, galinhas de angola, pavões, marrecos25,
pássaros de canto e de porte, que, de simples hobbies
de seus criadores, passaram a representar negócios Casaco de couro
lucrativos26. Vejam-se por exemplo as feiras de cria- de avestruz

Uma Abordagem Ilustrada 29


dores dos mais variados tipos de canários que aconte-
cem por todo o País, nas quais alguns exemplares che-
gam a valer muito mais que várias cabeças de boi.
Até mesmo a nossa galinha caipira voltou à moda.
Os criatórios de galinhas soltas no terreiro têm prolife-
rado em todo País, buscando servir o consumidor ur-
bano sedento de alimentos naturais. Mesmo grandes
frigoríficos têm adicionado à pauta a produção de ga-
linhas caipiras, de olho nesse mercado ascendente.

Frango caipira preparado


para consumo.

Criação de frangos caipiras

Rãs
Entre 1988 e 1996, a produção brasileira de car-
ne de rã cresceu mais de 150%, atingindo 200 tone-
ladas nesse último ano. Como a tendência de criação
em cativeiro tem sido forte, dentro de um processo
de produção industrial e de profissionalização da ati-
vidade27, nesse período houve uma substancial redu-
ção do número de ranários, principalmente daqueles
que se baseavam na caça. Apesar dessa redução, o
Brasil é o líder mundial na produção em cativeiro.
Para se ter algumas noções das transformações que
estão ocorrendo nessa atividade, é interessante citar 27. Globo Rural, Maio/2001

30 Novo Rural
que as principais empresas envolvidas já estão partin-
do para a produção integrada (ou semi-integrada),
nos mesmos moldes da criação de aves e suínos no
sul do País. Também há investimentos na construção
de laboratórios de melhoramento genético de rãs28.

Criação de outros
animais para corte
Embora seja muito difícil a quantificação dessas
atividades no Brasil, também devem ser citadas as
criações de camarão de água doce, capivaras, jacaré-
de-papo-amarelo, javalis e scargot. Elas se destinam à
produção de carnes para restaurantes de luxo dos gran-
des centros urbanos do País e do exterior, além de
vários outros produtos de origem animal. Uma ativi-
dade relacionada a esse ramo é a fazenda de caça que,
no entanto, ainda é incipiente no País, mas que já 28. Gazeta Mercantil,
10/10/96
integra o roteiro de turismo rural no Paraná.

Criação de javalis

Uma Abordagem Ilustrada 31


Ainda no Paraná, a carne de coelhos já ocupa espaço importante nas gôndolas
de grandes redes de supermercados. O encadeamento gerado por essa atividade
envolve a produção de matrizes, gaiolas, rações, produtores, frigorífico, distri-
buição e comercialização.

Carne de coelho
pronta para consumo

Criação de coelhos

Produção orgânica de ervas aromáticas e


medicinais
Essa atividade é impulsionada por grandes grupos da indústria farmacêuti-
ca (como Rhodia Farm, Merck e Weleda), mas também pela produção de espé-
cies destinadas à fabricação de temperos e condimentos dos mais diversos sabo-
res. Geralmente produzidos em pequenas propriedades, ligadas tanto a grandes
quanto a pequenas agroindústrias, muitas dessas pertencentes aos próprios agri-
cultores, o setor de ervas medicinais e condimentos (naturais ou desidratados e
embalados) está em franca expansão no Brasil. Na região amazônica, por exem-
plo, o conhecimento das ervas medicinais dos pajés já está sendo catalogado.

32 Novo Rural
Produção de ervas aromáticas e medicinais

Produção orgânica para mercado


internacional diferenciado
Procurando conquistar mercados nacionais e in-
ternacionais diferenciados, com um valor mais ele-
vado para o produto, a produção de orgânicos em
grande escala tem compensando o maior custo de
produção. A produção de óleo de dendê no Pará é
um exemplo. Outro é o café ecológico dos cerrados
mineiro e paulista, exportado para o Japão a um pre-
ço 30% superior à média do mercado interno, que
já está sendo industrializado com uma marca especí-
fica29. Também podem ser citadas as produções de
óleo de babaçu, no Rio Grande do Norte, do açúcar
no Estado de São Paulo e da soja, no Estado do
Paraná, cujos produtos, isentos de agrotóxicos, são
destinados ao mercado externo.
Nesse sentido a presença de "selos" certificando
29. Soares, P. "Os lucros do
a origem orgânica dos produtos, tem-se tornado co- café ecologicamente correto".
mum em nossos mercados, fornecendo um enorme Gazeta Mercantil, 20/10/1995.

Uma Abordagem Ilustrada 33


diferencial de competitividade desses produtos.
Uma curiosidade é que a certificação de produtos abriu um amplo leque de
atuação de garantia de qualidade, tanto para instituições governamentais como
não governamentais, seguindo normas nacionais e até internacionais. Os certi-
ficados vão desde os orgânicos, naturais, não transgênicos, de origem regional,
ou mesmo com maior apelo social, como a ausência de trabalho infantil.

Produção orgânica de hortaliças

Produção de verduras e legumes


Tem-se tornado comum o cultivo de verduras e legumes em estufas
(plasticultura) e ou pelo método de hidroponia, sendo essas atividades altamente
intensivas em mão-de-obra. No Estado de São Paulo por exemplo, apesar de te-
rem participação de apenas 1% na área total cultivada com as principais culturas,
as olerícolas respondem por cerca de 9% do total da demanda da força de trabalho
agrícola. Seu expressivo crescimento é resposta à grande expansão e diferencia-
ção do mercado consumidor, puxado, em grande medida, pelas redes de fast-
food e por alguns grandes supermercados que, embora possam se auto-abastecer
por meio de produção integrada, geralmente estabelecem parcerias com os agri-
cultores. É importante lembrar que, além do estímulo à produção agrícola, a
34 Novo Rural
grande expansão das redes de fast-food tem um im-
pacto significativo no consumo de produtos da
agroindústria alimentícia (pão, carnes, queijo, sucos,
temperos, etc.), o que torna esse setor um importan-
te dinamizador do mercado.
Essa relação dos agricultores com as redes de su-
permercado e de fast-food, além do fornecimento para
sofisticados hotéis e restaurantes, acaba por determi-
nar mudanças na forma de produzir e comercializar
esses produtos. Primeiramente, há uma maior diversi-
ficação da produção de olerícolas para garantir um
melhor abastecimento e uma maior receita. Também
ocorrem mudanças nos sistemas de produção, com a
introdução da hidroponia e do cultivo orgânico, por
exemplo. Outra mudança importante diz respeito ao
processamento das olerícolas e sua comercialização na
forma de saladas ou produtos individuais prontos para
o consumo, cujos preços chegam a ser 30% maiores
que o produto in natura, constituindo-se num meio
de agregação de valor para os agricultores, bem como Produção de verduras em estufa
de criação de empregos. Não somente olerícolas estão
sendo processadas, mas também a mandioca já está
sendo vendida descascada e embalada (a vácuo em al-
guns casos para maior longevidade do produto).

Alimentos embalados e prontos para venda

Produção de tomates em estufa

Uma Abordagem Ilustrada 35


Floricultura e mudas
de plantas ornamentais
Com mercado consumidor em expansão, a flo-
ricultura, além de propiciar melhor rendimento
para os agricultores e seus familiares, por ser uma
atividade intensiva, exige o emprego de muita mão-
de-obra – familiar e contratada. Cada hectare cul-
tivado pode ocupar até 50 pessoas, o que dá a esta
atividade um importante potencial de geração de
empregos. Segundo a Holambra, 170 dos seus co-
operados respondem por 40% a 45% do mercado
brasileiro de flores e plantas ornamentais. A busca
de maior produtividade e de outras espécies para a
floricultura comercial tem contribuído para a ex-
pansão do cultivo para regiões mais distantes da
cooperativa. Isto tem sido feito tanto pelos coope-
rados da Holambra quanto por novos grupos que
estão se dedicando à floricultura em outros esta-
dos brasileiros. Especificamente com relação à pro-
dução da Holambra, esta vem crescendo com a in-
corporação dos filhos de agricultores já filiados à
cooperativa. Esses "filhos de pequenos sitiantes da
região de Holambra, no interior paulista, descon-
tentes com os resultados do cultivo de grãos e cri-
ação de gado, estão arrendando terras ou fazendo
parcerias com seus pais para iniciar produções de
flores e plantas ornamentais 30". Também como de-
corrência do crescimento dessa atividade, deve-se
destacar o aumento das criações de minhocas para
a produção de húmus31.
Deve-se destacar ainda que a floricultura tem gran-
de possibilidade de expansão, tendo em vista a riqueza
30. Gazeta Mercantil,
da flora brasileira, com muitas espécies com potencial 10/06/97
para ingressar em novos cultivos comerciais. 31. Globo Rural:
"Minhocultura: jogo limpo",
Out/1996.

36 Novo Rural
Fruticultura de mesa e
produção de sucos naturais e
polpa de fruta congelada
A fruticultura no Brasil ainda tem grande po-
tencial a ser explorado, não somente para exporta-
ção, mas também para o mercado interno. A produ-
ção de polpas congeladas de frutas regionais, como
graviola, fruta-do-conde32, umbu, cajá e cupuaçu (na-
tivas do Norte e Nordeste), tem impulsionado o con-
sumo de sucos naturais e de sorvetes produzidos
artesanalmente. Também merece registro a importân-
cia que tem o suco de laranja natural nesse segmento.
Em 1996, segundo a Associação Brasileira de Expor-
tadores de Citrus (Abecitrus), o consumo de suco de
32. Globo Rural: "A hora da
laranja caseiro no País foi de 2,4 bilhões de litros, estrela". Abril/2001.
com um faturamento de R$1,9 bilhão, enquanto os 33. Ferrero, A. "Cresce a
industrializados (concentrado, fresco, integral e concorrência ao suco de laranja".
reconstituído) responderam por apenas 170 milhões Gazeta Mercantil, 20/06/1997.

de litros e por um faturamento de R$ 250 milhões33.

Frutas: mercado com


potencial de expansão

Merecem também destaque o crescimento da


fruticultura na região Centro-Oeste, em especial no
cultivo da banana-maçã; o processo de reconversão

Uma Abordagem Ilustrada 37


produtiva, estimulado pela empresa M. Chandon,
no cultivo da uva em algumas regiões produtoras
no sul do País, com o uso de variedades destinadas à
produção de espumantes finos; e o desenvolvimen-
to da fruticultura irrigada na região Nordeste, prin-
cipalmente nos estados da Bahia, Pernambuco,
Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Reprodução de Plantas Extrativas


O palmito, o melhor exemplo desse tipo de pro-
dução, está sendo obtido a partir de palmeiras que an-
tes eram consideradas apenas plantas ornamentais,
como é o caso da palmeira real34. A pupunha, uma
palmeira amazônica mais produtiva e resistente que o
Palmito Jussara da Serra do Mar, já está sendo cultiva-
da por grandes grupos empresariais, como o Grupo
Capixaba Coser, a construtora Grafisa, a Frunorte (se-
gunda maior exportadora de melões do país), além de
cooperativas e produtores independentes. Segundo a
Associação Brasileira dos Produtores de Palmito Culti-
vado, os investimentos já realizados para a produção
de pupunha no País somam cerca de US$ 18 milhões
num mercado que movimenta em torno de US$ 500
milhões anuais com os diversos tipos de palmito35.

Cultivo de cogumelos
O aumento do consumo de cogumelos nos gran- 34. Globo Rural: "Palmito: do
jardim ao campo". Nº.138, Abr/
des centros urbanos tem estimulado o cultivo de no- 1997, p.46-48.
vas espécies, além do tradicional champignon, como é
35. Branco, A. "A pupunha
o caso do Shiitake. Uma fazenda do Vale do Paraíba, toma o lugar do palmito".
região altamente industrializada do Estado de São Gazeta Mercantil, 18/06/1997.

38 Novo Rural
Paulo, que produzia madeira tratada de eucaliptus,
encontrou na produção de sementes de cogumelos
(os esporos são inoculados em moirões de eucaliptus)
a saída para a crise decorrente da redução das enco-
mendas36.

Shitake

Complexos hípicos
Os negócios ligados ao hipismo movimentaram
R$ 2,8 bilhões no período 1993-97 no Brasil37. Um
deles está sendo construído em Boituva, interior de
São Paulo, com investimentos da ordem de R$ 5,5
milhões. Além de todas as instalações e atividades re-
lacionadas ao hipismo (centro hípico com arena co-
berta, provas, rodeios, shows), o empreendimento
conta com toda a infra-estrutura de um grande hotel
(piscinas, quadras de futebol, tênis, etc.), onde o car- 36. Gazeta Mercantil: "Fazenda
dápio deverá incluir cabrito, javali, perdiz e outros Guirra produz alternativa ao
animais exóticos, o que indica a sua inter-relação com champignon", 18/06/1997.

a atividade de criação desses animais que foi mostra- 37. Nascimento, S. "Os
empresários investem na área
da anteriormente. country". Folha de São Paulo,
01/071997.

Uma Abordagem Ilustrada 39


Leilões e exposições
agropecuárias
As entidades ligadas ao setor estimam que os lei-
lões – especialmente de cavalos e de gado de corte e
leite – movimentaram cerca de US$ 700 milhões em
1996. Apesar de os leilões terem crescido em número
de pregões, observa-se uma redução na oferta de ani-
mais devido aos altos custos envolvidos. Há empre-
sas especializadas que se encarregam da realização dos
eventos, atuando desde a seleção e pré-avaliação dos
animais até a contratação de financiamentos para dar
suporte aos negócios realizados. As exposições
agropecuárias são as que mais têm crescido: movi-
mentam cerca de US$ 2,1 bilhões em aproximada-
mente 2 mil eventos por ano no País38. Embora não
existam mais linhas de financiamento específicas para
as exposições agropecuárias, há um aumento do pra-
zo de recolhimento do ICMS sobre os produtos ven-
didos nas feiras de modo geral, além de financiamen-
tos diretos feitos pelos bancos, geralmente presentes
nos eventos mais importantes.

Festas de rodeio
Essas atividades movimentaram cerca de US$
500 milhões em 1996. Para se ter uma idéia da sua
popularidade hoje no País, basta dizer que o seu pú-
blico ultrapassou o total de torcedores presentes nos
campeonatos de futebol: estima-se que 26 milhões
de pessoas assistiram aos 1.238 rodeios em 1997. É
uma atividade de muito dinamismo, que dá suporte
para o crescimento econômico de muitas cidades pe-
38. Franco, L. Leilões e rodeios
quenas e médias do interior. A Festa de Peão de giram US$ 3,3 bi. Gazeta
Boiadeiro de Barretos, considerado o maior dos even- Mercantil, 20/06/1997.

40 Novo Rural
tos de rodeio do mundo, movimenta anualmente cer-
ca de US$ 120 milhões, mais do que os US$ 45 mi-
lhões movimentados pelo carnaval carioca. Durante
a festa, que dura uma semana, a população da cida-
de, de 110 mil habitantes, salta para 1,2 milhão. Na
cidade de Americana, no interior de São Paulo, a fes-
ta do Peão de Boiadeiro faz a população saltar de 220
mil para 470 mil pessoas. Com um movimento de
US$15 milhões numa semana, essa atividade já re-
presenta cerca de 10% da receita da cidade e vem
sendo uma das saídas para a crise do comércio local,
causada pela decadência da indústria têxtil, responsá-
vel por cerca de 60% da economia do município39.
Essas atividades do "negócio country" têm esti-
mulado, também, a proliferação de outros negócios
associados, como as grandes casas de espetáculo no
interior do País. Um exemplo é a Red Eventos,
construída em Jaguariúna – região de Campinas, a
um custo de US$ 2 milhões, onde ocorrem promo- 39. Cordeiro, E. "Americana
ções de shows musicais, exposições, leilões, etc., ten- investe na festa de peão". Gazeta
Mercantil, 03/06/1997.
do reflexos importantes na economia local.

Festas de Peão de Rodeio

Uma Abordagem Ilustrada 41


É difícil ainda estimar o peso econômico dessas "novas" atividades agríco-
las e não-agrícolas. Mas apenas para dar uma idéia da sua importância, basta
dizer que os novos "mercados internos emergentes" constituídos pelas festas de
rodeio, leilões e exposições agropecuárias movimentaram juntos cerca de US$
3,3 bilhões em 1996, o que significa metade do valor das exportações brasileiras
de soja (farelo e grão), café (cru em grão) e suco de laranja (congelado e concen-
trado) no mesmo ano.

Educação e lazer rural


O espaço rural tem sido procurado também como local de estudo e conhe-
cimento da Natureza, ou simplesmente para passar algumas horas no campo. O
uso do espaço rural para aulas sobre ecologia, conhecimento e observação da
fauna e da flora, não somente dos parques nacionais, mas também de reservas
particulares, ou de espaços preparados para atividades pedagógicas, tem grande
potencial de exploração comercial em todo o País.

Restaurante rural

42 Novo Rural
Turismo Rural
O turismo é uma das atividades que mais cres-
cem no mundo, e o segmento do turismo rural está
entre elas, com uma gama enorme de opções. Além
dos já conhecidos pesque-pagues e hotéis-fazenda, co-
muns em nossos municípios do interior, um novo e
bem-sucedido serviço começa a ganhar força: a fa-
zenda-hotel. A diferença básica é que, na fazenda-
hotel, a fazenda continua com suas atividades e roti-
nas originais. Como explicam Silva e Baldan40, "a fa-
zenda hotel está voltada para uma clientela urbana
cada vez mais carente de contato com o cotidiano da
terra, com a rotina de um modo de vida que, pelo
menos no imaginário urbano, remete a uma reconci-
liação com a natureza. (...) aqui as atrações não são
ornamentais e isso é decisivo para o seu sucesso junto
a um público saturado de simulações e banalizações 40. Silva, G. e Baldan, J.C.
"Férias no campo". Globo
impostas pelo mercado de consumo". Além de andar Rural, Fev/1997.
a cavalo, contemplar paisagens e praticar esportes, os
hóspedes podem vivenciar rotinas que vão desde a
ordenha até a alimentação do gado, o trato dos suí-

Circuito Italiano de Turismo


Rural em Curitiba-PR

Uma Abordagem Ilustrada 43


nos e as colheitas. As pessoas que procuram esse tipo
de hotel não fazem tanta questão do conforto, mas a
autenticidade de uma velha sede colonial é muitas
vezes decisiva. E abrir o hotel é, muitas vezes, a forma
de preservar a própria sede. É comum com o passar
do tempo que a renda gerada pelos hóspedes acabe se
tornando mais importante que aquela proveniente da
atividade agropecuária.
Outra proposta semelhante é a de agriturismo
praticada por pequenos agricultores familiares da
AGRECO41, que além da produção orgânica acolhem
visitantes em sua propriedade. A recepção aos turis-
tas é parte integrante de suas atividades, porém sem
abandonar as atividades agrícolas.

Hotel Lagoa das Pedras –


Apucarana – PR

O potencial do turismo rural pode crescer com a


conjugação de lazer, história e cultura. Já há alguns
41. Associação dos Agricultores
anos, o turismo rural vem sendo explorado na região Ecológicos das Encostas da Serra
de Ponta Grossa, no Paraná, aproveitando o ciclo his- Geral. Para maiores detalhes veja
tórico do tropeirismo vivido pela região. Toda a re- www.cepagro.org.br.

44 Novo Rural
gião do segundo planalto paranaense era caminho das tropas que saíam do Rio
Grande do Sul em direção principalmente a São Paulo ou Minas Gerais. Hoje,
percorrer o mesmo caminho dos tropeiros, comer a mesma comida, preparada na
fogueira no chão, acordar no mesmo horário das tropas, observar a natureza en-
quanto se caminha, são atividades que atraem um número crescente de turistas.
Mas aqui entra um detalhe importante no turismo: a preparação e treina-
mento do pessoal destinado a atender os turistas. Conhecer a cultura dos tropeiros,
as histórias, a culinária, e prestar o melhor atendimento aos turistas exigem
muita preparação e treinamento do pessoal ocupado.

Capela de Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá: no caminho dos tropeiros em São Luiz do Purunã - PR

Outro importante fator de indução do crescimento de atividades não-


agrícolas no meio rural tem sido o aproveitamento para lazer das represas
formadas para geração de energia elétrica. Para fins de ilustração, pode-se
destacar a hidrovia Tietê-Paraná: nos seus atuais 1,1 mil quilômetros nave-
gáveis entre o porto de Anhembi (SP) e o município de São Simão (GO),
que movimentou, em 1996, cerca de US$ 300 milhões no transporte de
grãos (1,2 milhão de toneladas dentre os 5 milhões transportados, princi-
palmente de milho e soja), de cinco estados envolvidos: São Paulo, Paraná,
Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul. Isso abre a possibilidade de
grande desenvolvimento nos 206 municípios abrangidos pela hidrovia, de-
vido à perspectiva de geração de novos empregos nesses municípios, ligados
ao turismo rural e ecológico, com a construção de pólos turísticos,
objetivando aproveitar os recursos naturais do rio Tietê, além de outras mo-
Uma Abordagem Ilustrada 45
dalidades, como os já conhecidos passeios de barco
nas cidades de Barra Bonita e Pederneiras42.

Estação de Lazer Salto Bandeirantes


- Santa Fé - PR

A lista seria quase infindável se fôssemos enu-


merar aqui todas essas novas atividades, tal a diversi-
dade brasileira. Mas vale a pena lembrar a crescente
importância que vem assumindo a revitalização de
atividades tradicionais, como o artesanato (produção
de tapetes, redes, chapéus, flores secas, rapaduras e
outros doces típicos, etc.), as feiras e as festas popula-
res. Tais atividades, primordialmente apenas de cará-
42. Isto É: Rota das Águas. São
ter religioso, de lazer e geradoras de valores de uso, Paulo, 10/09/1996.
tendem a ser cada vez mais organizadas comer-
43. Cerri, C. "O baú do Brasil",
cialmente e estão se tornando importantes fontes de Globo Rural, Out/1995; e
trabalho e de renda nos pequenos municípios do "Nordeste: sertão fabril", Globo
Rural, Mar/1997.
interior do País43.
46 Novo Rural
Utilizou-se o termo "novas" entre aspas porque
nem todas estas atividades são tão novas assim. Na
verdade, sempre existiu a produção de flores e plan-
tas ornamentais, de hortaliças, de cogumelos, etc. En-
tretanto, essas atividades foram praticamente recria-
das a partir de demandas diferenciadas de nichos ou
de uma diferenciação dos mercados tradicionais des-
sas mesmas atividades. E foram recriadas não apenas
com uma roupagem nova, mas também com um con-
teúdo novo: são, no fundo, serviços pessoais e auxili-
ares da produção que foram agregados às tradicionais
cadeias produtivas agroindustriais, criando um novo
espaço para a emergência de pequenos e grandes em-
preendimentos nesse longo caminho que hoje vai do
produtor rural ao consumidor final.
A produção de hortaliças é um caso exemplar dessa
mudança de forma e de conteúdo. Primeiro surgem no-
vas formas de produzir que decorrem de mudanças na
base técnica (estufas, hidroponia, produção orgânica) e
de novas formas de integração ao circuito das mercado-
rias (produção sob encomenda, integração vertical com
supermercados). Segundo, uma redivisão do trabalho que
implica o aparecimento de novos ramos de produção,
como é o caso dos produtores de mudas de hortaliças.
Terceiro, o surgimento de novos produtos, o que signifi-
ca não apenas novas variedades de legumes e verduras,
mas também a agregação de valor aos produtos existen-
tes, por meio da embalagem, do pré-processamento, da
entrega em domicílio, entre outros.
É como se houvesse uma busca incessante dos
capitais no sentido de converter em mercadorias to-
das as atividades com valores de uso, o que leva à
criação de novos mercados e de novas necessidades,
explica Marsden44. Ao analisar transformações seme-
lhantes que estão ocorrendo na Inglaterra, esse autor 44. Marsden, T. Towards the
afirma que muitas famílias optaram por diversificar a political economy of
pluriactivity. Journal of Peasents
sua prestação de serviços, e não a produção agrícola, studies. Great Britains, v.6, n.4,
como parte de uma estratégia de resistência a ingres- 1990, p.319.

Uma Abordagem Ilustrada 47


sar no treadmill45 tecnológico da Revolução Verde. A
pluriatividade daí resultante é conseqüência desse es-
forço de diversificação dos pequenos produtores para
se inserirem nos novos mercados locais que se abrem.
Não se pode considerar a pluriatividade como
parte de um processo de proletarização que resulta da
decadência da propriedade familiar, mas sim como
uma etapa da diferenciação social e econômica das
famílias agrícolas. Os produtores estão encontrando
novas oportunidades a partir da valorização de bens
não tangíveis antes ignorados, como a paisagem, o
lazer e os ritos dos cotidianos agrícola e pecuário.
A explicação mais geral para essas mudanças pode
ser buscada no que Van der Ploeg46 denominou de
mercantilização das atividades agrícolas, tanto no que diz
respeito às relações de produção como às relações de tra-
balho. Essa abordagem permite considerar as famílias ru-
rais crescentemente dependentes dos capitais associados
não apenas aos mercados agrícolas, mas a uma matriz de
múltiplas atividades (pluriatividade) de seus membros.
Esse processo de geração de "novas" atividades
no meio rural brasileiro mostra pelo menos duas ca-
racterísticas comuns. A primeira refere-se ao fato de
que elas se originaram ou de "importações" de outros 45. Significa esteira rolante, o
países ou de atividades que antes não eram comerci- que nesse caso, quer dizer que o
produtor tem que incorporar
ais, isto é, tinham apenas valores de uso e não valores cada vez mais tecnologias na
de troca. É o caso, por exemplo, do produtor rural sua produção para conseguir
que procura "cobrir as despesas" através do hobby de manter a mesma margem de
lucro; na alegoria da esteira,
criar canários ou plantar cactus, para depois perceber como as inovações técnicas
que daí pode surgir uma nova atividade rentável. Em estão mais rápidas, equivale a
uma esteira também cada vez
ambos os casos, o importante é que se criam novos mais rápida sem sair do lugar.
espaços de reprodução do capital no meio rural bra-
46. Van der Ploeg, J. The
sileiro, muitas vezes revigorando regiões e ou ativida- agricultural labour process and
des tradicionais que se mostravam decadentes. A se- commoditization. In: Long, N.
gunda característica comum é que essas "novas" ati- The commoditization debate:
labour process, strategy and
vidades, quando se transformam em atividades co- social network. Netherlands,
merciais, já nascem como parte de uma cadeia pro- Agricultural University
Wageningen, 1986.
dutiva altamente especializada e integradas a um com-
48 Novo Rural
plexo sistema de serviços que delimitam nichos específicos. Na maioria das ve-
zes, além das costumeiras transformações agroindustriais do produto
agropecuário, soma-se uma rede de serviços pessoais e produtivos, que estrei-
tam o caminho entre as preferências (socialmente condicionadas) do consu-
midor e do produtor rural.
A grande diferença em relação ao tradicional processo de agregar valor por
meio da industrialização reside no fato de que as "novas" atividades geradas nos
anos 90 não decorrem somente de demandas intermediárias no interior das
cadeias produtivas. Nos anos 70, as principais atividades agropecuárias brasilei-
ras transformaram-se em insumos da indústria de alimentos. Muitas saíram da
produção rural de subsistência para virarem commodities indiferenciadas para
atenderem a uma dieta relativamente padronizada de milhões de pessoas no País
e no exterior. Agora, as "novas" atividades ganham impulso a partir de uma
dinâmica que tem a ver mais com as demandas específicas de grupos de consu-
midores de média e alta renda dos grandes centros urbanos do País.

Uma Abordagem Ilustrada 49


50 Novo Rural
Glossário dos termos utilizados neste volume
Cadeia Produtiva: conjunto das atividades econômicas ligadas a um deter-
minado produto. No caso das atividades agrícolas, a cadeia representa o conjun-
to das indústrias produtoras de insumos (adubos, sementes, agrotóxicos, má-
quinas, etc), dos produtores agrícolas e da distribuição e comércio (atacadista e
varejista) dos produtos agropecuários ou florestais.
Commodities: nome dado aos produtos padronizados comercializados em
grande escala no mercado internacional, tais como soja, milho, suco de laranja,
açúcar, entre outros.
Domicílio: local destinado à habitação de uma ou mais pessoas. No caso
das PNADs é a unidade básica da pesquisa.
Domicílio particular: é a moradia onde o relacionamento entre os mem-
bros é ditado por laços de parentesco, de dependência doméstica ou ainda por
normas de convivência. O oposto é o domicílio coletivo onde prevalecem nor-
mas administrativas, tais como asilos, orfanatos, casas de detenção etc.
Domicílio particular permanente: é o domicílio particular localizado em
unidade que se destina a servir de moradia fixa. O oposto é o domicílio particu-
lar improvisado, localizado em unidade que não seja destinada exclusivamente à
moradia, como lojas, grutas, tendas etc.
GATT: Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio que trata das regras do co-
mércio internacional, e inclusive dos produtos agrícolas a partir de 1986. Em
1994 esse acordo foi incorporado à OMC.
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (www.ibge.gov.br)
Individualização do trabalho agrícola: tendência observada nos trabalhos
agrários de permanecer somente uma pessoa encarregada na execução ou gerên-
cia das várias atividades. No caso brasileiro, tendem a prevalecer os homens nas
atividades agropecuárias, daí o termo "masculinização" do trabalho agrícola.
Nichos de mercado: pequeno comércio de produtos diferenciados, aten-
dendo as preferências individuais ou de grupos de consumidores, em geral a um
custo mais elevado.

Uma Abordagem Ilustrada 51


Novo Rural: conjunto das atividades agrícolas, ligadas tanto à produção
em grande escala para a agroindústria como para pequenos mercados diferenci-
ados, e não-agrícolas no espaço rural (indústrias rurais, prestação de serviços,
lazer ou moradia).
Ocupação: é o trabalho efetivamente exercido por uma pessoa. As ocupa-
ções brasileiras são muito variadas, envolvendo desde o agricultor braçal até o
executivo de grandes empresas.
Ocupação agrícola: ocupação exercida diretamente na produção agrícola,
na criação de animais, no cultivo de florestas ou no extrativismo vegetal.
Ocupação não-agrícola: ocupação exercida nos ramos da prestação de ser-
viços, indústria de transformação, construção civil, comércio, administração pú-
blica etc, derivados ou não das atividades agrícolas.
OMC: Organização Mundial do Comércio: sucessora do GATT, que trata
das regras do comércio internacional, inclusive dos produtos agrícolas. É na
OMC que atualmente são resolvidas as divergências comerciais entre países.
Part-time farming: conceito relativo ao estabelecimento agropecuário, quan-
do os responsáveis pelo estabelecimento desenvolvem atividades apenas em tempo
parcial nesse estabelecimento.
PEA: População Economicamente Ativa, constituída pelo conjunto de pes-
soas de dez anos ou mais de idade que efetivamente trabalharam ou procuraram
emprego no mês de setembro.
PEA restrita: conjunto da população economicamente ativa menos os
que trabalharam na produção para o próprio consumo, ou construção para o
próprio uso, ou ainda, em atividades não remuneradas por menos de 15 horas
na semana.
Pluriatividade: combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas no interi-
or da mesma família extensa. Pode ainda ser pluriatividade a combinação de ativi-
dade agrícola no próprio negócio com outra atividade agrícola como assalariado
em outros locais.
PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. Como já
diz o nome, é uma pesquisa feita por amostra, isto é, somente algumas famílias
são entrevistadas, mas essa amostra é feita com um rigor estatístico de forma a

52 Novo Rural
garantir a representatividade de toda a população. A única limitação importante
da PNAD é que ela não realiza sua pesquisa nas áreas rurais da antiga região
Norte do País (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima), sob a ale-
gação de custo de deslocamento na imensa região amazônica.
População ocupada: parcela da População Economicamente Ativa que efe-
tivamente trabalhou no mês de setembro.
RURBANO: nome utilizado pelo projeto de pesquisa coordenado pelo Ins-
tituto de Economia da UNICAMP, inspirado em Gilberto Freire, que procura
explorar os novos usos e atividades no meio rural brasileiro.

Situação do Domicílio: localização geográfica do domicílio. Esta localiza-


ção pode ser:
Rural: seguindo a mesma orientação do IBGE, são as áreas localiza-
das fora do perímetro urbano dos municípios brasileiros.

Urbana: são as áreas localizadas dentro dos perímetros urbanos de


cada município. Dependendo da classificação adotada, elas ainda po-
dem representar apenas o núcleo urbano, sem a periferia das cidades.
Periferia: área em transição entre a zona urbana e a rural, com den-
sidade demográfica mas com carência de serviços públicos, tais como
rede de água canalizada, esgoto, ruas, energia elétrica, postos de saúde,
telefonia, etc.
Povoado: concentração de residências no interior dos municípios,
podendo ser ou não considerado urbano pela legislação municipal.
Rural agropecuário: são as áreas rurais propriamente ditas, perten-
centes a um único proprietário, nas quais se processa a produção
agropecuária propriamente ou áreas de preservação ambiental. Nessas
áreas aceita-se no máximo concentração de núcleo de moradores de fa-
zendas e sítios.

Terceirização: contratação de terceiros para a execução de uma tarefa pro-


dutiva. Na agropecuária têm proliferado as firmas que prestam os mais variados
serviços, como implantação de lavouras, controle de pragas e doenças, colheita,
inseminação, gestão financeira etc.

Uma Abordagem Ilustrada 53

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