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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Processo Civil
Sabrina Dourado

NOÇÕES GERAIS DA TEORIA GERAL DO processo civil, direito judiciário e direito


PROCESSO jurisdicional. Entretanto, a nomenclatura mais
acertada e mais usual para esta ciência é a de
Afim de obter a tão sonhada pacificação social, direito processual, o que é gênero das
o Estado criou regras para a solução dos espécies: direito processual civil, direito
conflitos , as quais, em seu conjunto processual penal e direito processual do
denominam-se “Direito Processual”, que sem trabalho.
dúvida é uma das formas mais importantes e
dos tempos modernos para a superação das AUTONOMIA DO DIREITO PROCESSUAL
antinomias, das tensões e dos conflitos que lhe
são próprios. Há autonomia do direito processual civil, ou
Assim, o processo é um instrumento a serviço direito instrumental, em face do direito civil, ou
da paz social. direito substancial, e perante outros ramos do
direito, em razão da evidente diversidade da
As normas de direito processual disciplinam o natureza e de objetivos.
exercício da jurisdição e, conforme a natureza
da lide pode ser direito processual penal – Contudo, esta autonomia não significa
ramo que regulamenta a atuação da pretensão isolamento, uma vez que o direito processual
punitiva do Estado, por intermédio da perda da civil faz parte do sistema maior, a ciência do
liberdade imposta à pessoa que praticou direito, da qual apenas é um dos seus vários
conduta violadora de norma considerada ramos.
relevante para todo o corpo social; o direito No direito constitucional - o direito processual
processual do trabalho – regula a atuação do vai encontrar as diretrizes jurídicas-políticas da
Estado na apreciação de conflitos relativos à sua estrutura e da sua função na Constituição
relação de emprego, e, após a Emenda Federal se esboçam os princípios
Constitucional n. 45/2004, também às relações fundamentais do processo.
de trabalho, caso das pessoas físicas
prestadoras de serviço autônomo dentre Estreitas as relações do direito processual civil
outros; e o direito processual civil que regulam com o direito administrativo, máxime no que
o exercício da jurisdição quanto às lides de concerne à organização dos serviços da
natureza civil. justiça, como serviços públicos
Quando se fala em regulamentação do regulamentados, segundo princípios e normas
exercício da jurisdição, está-se a referir, entre abrangentes dos demais serviços do estado.
outras coisas, à disciplina das atividades dos
órgãos jurisdicionais (juizes), das partes (autor FONTES
e réu), dos auxiliares dos órgãos jurisdicionais
(escreventes, escrivães, oficiais de justiça, Podem ser materiais ou formais.
peritos etc.) e do Ministério Público.
Destarte, o Direito Processual Civil pode ser Formais – Constituição, leis ordinárias federal
conceituado como o conjunto de princípios e (CPC), regimentos internos dos tribunais,
normas que regulam a função jurisdicional do LOJ’s. Devem ser obrigatoriamente seguidos.
Estado, responsável pela solução de conflitos.
Possui natureza de direito público, pois sua Materiais – A jurisprudência, os costumes e a
função imediata é a aplicação da lei ao caso doutrina. Servem para consulta.
concreto para restabelecer a ordem jurídica
ditada pelo Estado de Direito. A função mediata DIFERNÇA ENTRE O DIREITO MATERIAL E
é a pacificação social. PROCESSUAL

O direito material cria regras para distribuir os


NOMENCLATURA bens da vida, materiais e imateriais, como os
direitos da personalidade, regras para o
A ciência processual recebeu ao longo da casamento e a separação, contratos etc., que
história diversas nomenclaturas, dentre elas servem de parâmetro para o estado, no

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exercício da jurisdição, solucionar os conflitos, submetidos a julgamento, mesmo em se


a exemplo, do Direito Civil. tratando de negócios jurídicos concluídos no
Enquanto, O direito processual trata da forma exterior, mas cuja execução ocorra no Brasil,
como as situações conflituosas serão ou que as partes elejam a Justiça brasileira
apreciadas pelo Judiciário, dispondo sobre a para dirimir eventual conflito. A territorialidade
distribuição do exercício jurisdicional da tutela da aplicação da lei processual é expressa pelo
pleiteada (processo de conhecimento, art. 1º do C.
execução e cautelar).
O processo não é um fim em si mesmo, mas BREVE HISTÓRICO DA CIÊNCIA
técnica desenvolvida para a tutela do direito PROCESSUAL
material. O processo é realidade formal –
conjunto de formas preestabelecidas. A Até a edição do regulamento nº. 737 no ano de
separação entre direito e processo não pode 1850, que regulou o procedimento das causas
implicar um processo neutro em relação ao comerciais, vigoravam no Brasil as Ordenações
direito material que está sob tutela. A visão Filipinas, que datavam de 1603.
instrumentalista do processo estabelece a Posteriormente, o Regulamento nº 763, de
ponte entre o direito processual e o direito 1890, já na era republicana estendeu o
material. Regulamento nº 737 aos feitos civis. Pouco
Dessa forma, o direito processual é depois, em 1891, a primeira Constituição
eminentemente formal, pois estabelece Republicana dividiu a Justiça em Federal e
requisitos relativos ao modo, ao lugar e ao Estadual, autorizando os Estados Federados a
tempo em que se realizam os atos jurídicos e legislar sobre processo.
que constituem sua forma de expressão. Não A iniciativa não deu certo e a Constituição de
se engloba na forma a discussão sobre a 1934 atribuiu exclusivamente à União a
substância do ato praticado. competência para legislar sobre o processo.
A prevalência das formas, entretanto, não é Em 1º de março de 1940 entrou em vigor o
absoluta, uma vez que o direito processual Código Nacional de Processo Civil, Decreto-lei
moderno repudia o apego ao formalismo. Se o nº 1.608/39, que vigorou até 1973, quando
ato processual não ocorre na forma que foi entrou em vigor o atual Código de Processo
estabelecida, muito embora atinja seu objetivo, Civil, lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973,
é considerado válido se não causar prejuízo que reformou o Código de 1939, baseando-se
aos litigantes, ou ao exercício da jurisdição em anteprojeto redigido pelo Ministro Alfredo
(CPC, arts. 244 e 249, §§ 1º e 2º). Buzaid. Desde então, o Código já foi alterado
dezenas de vezes, mas manteve sua estrutura
A LEI PROCESSUAL CIVIL E A EVOLUÇÃO básica, que se compõe de cinco livros, assim
HISTÓRICA DA CIÊNCIA PROCESSUAL intitulados: I – Do Processo de Conhecimento;
CIVIL II – Do Processo de Execução; III – Do
processo Cautelar; IV – Dos Procedimentos
Como é cediço, toda norma jurídica tem Especiais: V – Das Disposições Gerais e
eficácia limitada no espaço e no tempo, isto é, Transitórias.
aplica-se somente dentro de dado território e
por um determinado período de tempo. Tais FORMAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
limitações aplicam-se, inclusive, à norma
processual. As resoluções de conflitos não jurisdicionais
Assim, a lei processual aplica-se,desde logo, – Autotutela
aos processos pendentes (art. 1.211, CPC), – Autocomposição
respeitando-se, pórem, os atos já praticados, – Renúncia (conciliação)
bem como o direito adquirido, o ato jurídico – Submissão
perfeito e a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF). – Transação (conciliação)
Sendo a jurisdição o exercício do poder de – Arbitragem
soberania do Estado, vigora o principio da A resolução de conflito jurisdicional
territorialidade, segundo o qual se aplica a lei – A jurisdição
processual brasileira aos casos que aqui forem

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A ciência processual se estrutura em três greve, a legítima defesa e a retenção de


pilares básicos, os quais sejam: a jurisdição, a bagagens.
qual pode ser concebida como o poder que tem
o Estado de resolver os conflitos existentes na Logo, a autotutela pode ser compreendida
sociedade. Ao passo que a ação, num dos como a solução de conflitos de interesses que
seus diversos sentidos, é compreendida como se dá pela imposição da vontade de uma das
direito fundamental constitucional que tem o partes, com o sacrifício do interesse da outra.
cidadão de buscar na proteção jurídica frente a Caracteriza-se pela ausência de juiz distinto
uma lesão ou ameaça dela. das partes; e imposição por uma das partes à
Por fim, esta estrutura primária do processo ou outra;
da ciência processual ainda tem como pilar o
processo, que nada mais é que um instrumento AUTOCOMPOSIÇÃO
que tem por finalidade a garantia do exercício
da ação por maio da jurisdição. Autocomposição pode ser compreendida como
Os conflitos, também conhecidos como lides, a forma de resolução de conflitos que pode ser
podem ser resolvidos por meios jurisdicionais e dada entre dois sujeitos quando estes
não-jurisdicionais. Estes últimos formam a procedem ao ajuste de vontade sem a
regra da vida em sociedade por longo período, utilização da força. Ela pode ser dividida em
já que o Estado não interferia neles. submissão (nesta uma das partes abre mão da
Com a passagem ao Estado intervencionista, sua vontade, submetendo-se à vontade da
passa-se a consagrar um modelo de resolução outra).
de conflitos jurisdicional, uma vez que o Estado Obs.- A submissão é um instituto que está
passa a ser o detentor da jurisdição. Com o vinculado à aquele que tem contra si a
passar do tempo, o volume de processos postulação do direito, sendo à renúncia a
levados aos órgãos jurisdicionais nos trás a abdicação do direito postulado pelo sujeito.
chamada crise da justiça, a qual é responsável Já a transação, também compreendida como
pelo “renascimento” da resolução dos conflitos conciliação, é concebida como ajuste recíproco
não-jurisdicionais que hoje, nas modalidades de vontade entre as partes, sendo ela a mais
de autocomposição e arbitragem, crescem de comum das autocomposição. Vale ressaltar
forma relevante. que na autocomposição poderá surgir ainda a
Entende-se por forma de resolução de conflitos figura do mediador o qual, regra geral, será um
não-jurisdicionais, modalidades de soluções, bacharel em direito que se colocará entre as
isto é, meios alternativos de pacificação social. partes para aconselhá-las a resolver um
A conscientização de que o importante é conflito sem ter, no entanto, poder decisório.
pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação
venha por obra do Estado ou por outros meios, MEDIAÇÃO
desde que eficientes. As principais espécies
são: Objetiva trabalhar o conflito; surgindo o acordo
como mera conseqüência. As partes em
AUTOTUTELA conflito nomeiam um terceiro que irá oferecer
uma solução para a controvérsia.
A autotutela, ou seja, a autoproteção, pode ser
compreendida como a primeira das formas de Conciliação – é a tentativa de conciliar, ou seja,
resolução de conflitos. No passado surgindo acordar as partes conflitantes. O código de
um desacordo entre dois sujeitos, este seria processo civil atribui ao juiz o dever de “tentar a
resolvido através do uso da força, sem a qualquer tempo conciliar as partes” (art. 125,
influência do Estado ou de terceiros. IV) e em seu procedimento ordinário inclui-se
Vale ressaltar que hoje a autotutela é proibida uma audiência preliminar (ou audiência de
na grande maioria dos ordenamentos jurídicos, conciliação), na qual o juiz, tratando-se de
sendo excepcionalmente permitida, já que ela cláusulas, versando direitos disponíveis,
configura inclusive um ilícito penal. Exemplos tentará solução conciliatória antes de definir os
da excepcional autotutela permitida: direito de pontos controvertidos a serem provados.

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Em matéria Criminal a conciliação vinha sendo 1ª – Podem se submeter à arbitragem qualquer


inadmissível, dada à absoluta indisponibilidade pessoa maior que tenha capacidade.
da liberdade corporal e a regra nulla poena 2ª – Os dois sujeitos envolvidos num conflito
sine judicio, de tradicional prevalência na deverão escolher um terceiro de comum
ordem constitucional brasileira (intra, n.7). Com acordo.
a CF/88, abriu-se nova perspectiva, que previu 3ª – O árbitro ao carecerá da graduação em
a instituição de “juizados especiais, providos direito, podendo ele ser qualquer do povo que
por juizes togados ou togados e leigos, conte com 18 anos.
competentes para conciliação, o julgamento e a 4ª – Poderão as partes escolher as regras do
execução de infrações penais de menor direito que serão utilizadas, e conforme o art.
potencial ofensivo”. 2º da Lei, podem ainda se valer da eqüidade.
A mediação assemelha-se à conciliação. Na 5ª – A arbitragem pode ser convencionada por
primeira objetiva-se trabalhar o conflito, dois meios específicos, a cláusula arbitral ou
surgindo o acordo como mera conseqüência. compromissória ou por uma convenção arbitral.
Na segunda, busca-se, sobretudo, um acordo A primeira delas é sempre prévia à existência
entre as partes. do conflito e ajustada pelas partes
antecipadamente. Normalmente, ela vem posta
Arbitragem – técnica de solução de conflitos numa cláusula contratual, ao passo que a
mediante a qual os conflitantes buscam uma convenção surge após o conflito para
terceira pessoa, de sua confiança, a solução regulamentar.
amigável e imparcial do litígio. No Brasil, a 6ª – O árbitro deverá obrigatoriamente proferir
arbitragem é regulamentada pela Lei n. sentença arbitral, a qual está prevista nos arts.
9.307/96. Só podem recorrer à arbitragem as 23 a 33 da Lei 9.307/96.
pessoas maiores e capazes. 7ª – Esta sentença é em regra irrecorrível no
Assim, constitui vantagens de utilização da judiciário, o qual poderá apenas ajustas
arbitragem: rapidez, em face da ausência de pequenos equívocos formais cometidos nesta
acumulo de serviço dos árbitros, tão comum no sentença.
Poder Judiciário; a especialização dos árbitros; 8ª – Uma vez descumprida pelas partes, ela só
irrecorribilidade das decisões; e a constituição será executada no judiciário, já que o árbitro
de um título executivo, que legitima a não possui força executiva.
propositura da de processo de execução. O 9ª – Se quaisquer dos requisitos da arbitragem
arbitro é uma terceira pessoa de confiança forem infringidos, ela poderá ser controlada
das partes que vai impor uma decisão, e agir pelo judiciário, eis o que ocorre com os
com imparcialidade. O mediador também é contratos de adesão.
escolha de terceiro pelas partes, porém, não
pode impor sua decisão. Obs. – Somente os direitos disponíveis podem
O árbitro não possui força executiva. A ser resolvidos pela arbitragem.
arbitragem foi instituída pela Lei 9.307/96 e
consiste no procedimento para soluções de O TEMPO X O CUSTO DO PROCESSO
conflitos que tratem de direitos disponíveis, e
são resolvidos por terceiros particulares Muito se discute sobre o problema do acesso à
escolhidos de comum acordo pelos justiça, já que com o passar do tempo
contratantes. Também de acordo com o art. 31 percebeu-se que o processo não era acessível
da Lei da Arbitragem, a sentença arbitral será à todos, seja pelo seu custo ou pelo tempo que
título executivo quando contiver eficácia era gasto na obtenção da tutela jurisdicional
condenatória. Entretanto, o conteúdo da (proteção ofertada pelo Estado)
sentença arbitral é vulnerável à analise do Em relação ao custo do processo, foram
Poder Judiciário, apenas, sobre os aspectos da criados mecanismos que facilitassem à todos o
sua regularidade. início de um processo, daí surgiram os
Logo, podemos indicar como características da benefícios da gratuidade judiciária e da
arbitragem: assistência judiciária integral. Ambas foram
regulamentadas pela Lei 1.060/50.

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No mesmo intuito, foram criados os juizados


especiais cíveis, os quais estão
regulamentados, por determinação
constitucional, pela Lei 9.099/95. Estes órgãos
têm como principal finalidade o atendimento à
população carente, sendo eles isentos de
custas.
Ressalte-se ainda à população que as partes
poderão pleitear seus direitos sem a
necessária presença do advogado quando as
suas causas tiverem como valor até 20 salários
mínimos.

Em relação ao tempo do processo, passou-se


a questionar a morosidade da prestação
jurisdicional, já que o processo não tem um
tempo pré-estabelecido mas, passou-se a ser
concebido como procedimento ineficaz.
Diante destes problemas, alguns
doutrinadores, a exemplo da Ada Pellegrini,
passou a afirmar que estaríamos vivenciando a
crise da justiça, já que para se falar de acesso
à justiça é preciso tratar de um acesso a uma
ordem jurídica justa.

Destas problemáticas, a EC 45/2044


implementa a chamada reforma do judiciário, a
qual é responsável pela edição de diversas
Leis que alteram o CPC, é pela implementação
do princípio da duração razoável do processo
(art. 5º, LXXVIII).

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