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COMEÇANDO DO ZERO

Processo Civil
Sabrina Dourado

SENTENÇA E COISA JULGADA processo sem resolução de mérito, o juiz


COMEÇANDO DO ZERO 2014 decidirá de forma concisa.

Sentença Dispositivo: elemento da sentença onde o


magistrado decidirá as questões que lhe foram
Uma alteração bastante relevante foi dada pela apresentadas, de modo a apontar a quem cabe
lei 11.232/2005 que trouxe um novo conceito o bem da vida.
de sentença, fazendo surgir inúmeras
discussões acerca da aplicação dos recursos. O legislador efetuou algumas EXIGÊNCIAS de
Antes mesmo de sua edição, a sentença era validade das sentenças.
conceituada equivocadamente como o Uma delas, importante para a prova da OAB,
mecanismo processual que colocava fim ao diz respeito ao princípio da correlação da
processo. sentença ao pedido (também chamado de
No entanto, a vasta possibilidade recursal princípio da adstrição ou congruência), no
consagrada na própria CF/88 fez cair por terra sentido de que é vedado ao julgador proferir
este antigo conceito, pois interposto recurso decisão extra, ultra ou citra petita.
que tente impugnar uma sentença, não
teremos o fim do processo, mas sim o seu Ocorrerá julgamento Ultra petita quando for
prolongamento. emitido provimento de conteúdo superior ao
Assim, muito mais coerente afirmar que a postulado. (ex: postulado indenização por
sentença é ato processual que resolve as danos materiais, o magistrado concede
matérias elencadas nos arts. 267 e 269 do indenização em montante superior ao almejado
CPC, e por meio da alteração dada pela citada na inicial).
lei, temos hoje a sentença como ato que põe
fim ao procedimento, e não mais ao processo. Por outro lado, extra petita é o provimento que
Será a mesma proferida no prazo impróprio de defere conteúdo diverso do pedido (ex:
dez dias, após o encerramento dos debates e postulado certo valor a título de aluguel, o juiz
entrega dos memoriais. também declara a rescisão contratual, em que
pese não ter sido pleiteada). Ressalte-se que
Possui os seguintes COMPARTIMENTOS OU não constitui sentença extra petita a
ELEMENTOS: condenação ao pagamento de juros, correção
e honorários advocatícios, visto que são
 Relatório: Consiste no registro dos principais pedidos implícitos.
fatos ocorridos no transcorrer da instrução
processual, desde a propositura da inicial até o Finalmente, citra petita é o decisório de cunho
momento de prolação da sentença. A lacunoso, no sentido de não haver se
importância do relatório reside no fato de que é pronunciado acerca do total objeto da lide. (ex:
no mesmo que vislumbramos se foram pleito de dano moral e material, limitando-se o
obedecidas todas as regras do devido julgador a apreciar o primeiro e omitindo-se
processo legal (citação, apresentação de acerca do segundo). O defeito em questão
defesa, produção de provas, etc.). poderá ser sanado por intermédio dos
embargos de declaração (arts. 535 e seguintes
 Fundamentação: Parte intermediária, na do CPC).
qual o magistrado expõe, de maneira lógica e
articulada, as razões de seu convencimento. Vale ressaltar, entretanto, que se, depois da
De fato, é o compartimento mais importante do propositura da ação, algum fato constitutivo,
ato judicial em questão, tendo em vista que o modificativo ou extintivo do direito influir no
mesmo torna público o raciocínio utilizado pelo julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em
magistrado para chegar ao convencimento e, consideração, de ofício ou a requerimento da
por conseguinte, acaba por fornecer elementos parte, no momento de proferir a sentença, sem
para que a parte perdedora questione a sua que isso represente lesão ao princípio da
permanência perante o mundo jurídico. Cabe correlação. Ex: autor propõe demanda para
salientar que, nos casos de extinção do postular indenização em virtude da perda de

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uma mão e, no transcorrer da lide, vem a julgada meramente formal é incapaz de impedir
perder todo o braço. que tal discussão ressurja em outro processo.
EM Síntese: eficácia que torna imutável a
No que tange à ALTERAÇÃO, publicada a sentença no processo em que foi proferida.
sentença, o juiz só poderá alterá-la: I - para Ihe A coisa julgada material consiste na
corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, imutabilidade e indiscutibilidade do conteúdo
inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros de (declaratório, constitutivo, condenatório) da
cálculo; II - por meio de embargos de sentença de mérito, e produz efeitos para fora
declaração. do processo.
Formada esta, não poderá a mesma matéria
Finalmente, considerando que a sentença ser novamente discutida, em nenhum outro
consiste em ato jurídico processual, irá a processo. Note-se que de acordo com nosso
mesma produzir efeitos no mundo jurídico, o sistema processual, a coisa julgada material
legislador especificou: funciona como impedimento processual,
devendo o juiz, que com ela se deparar,
“Art. 466. A sentença que condenar o réu no extinguir o feito sem julgamento de mérito, com
pagamento de uma prestação, consistente em base no artigo 267.
dinheiro ou em coisa, valerá como título EM Síntese: indiscutibilidade da decisão no
constitutivo de hipoteca judiciária, cuja processo em que foi proferida, projetando seus
inscrição será ordenada pelo juiz na forma efeitos para qualquer outro processo que vier a
prescrita na Lei de Registros Públicos. ser instaurado com as mesmas partes, mesmo
Parágrafo único. A sentença condenatória objeto e causa de pedir.
produz a hipoteca judiciária:I - embora a Em virtude da coisa julgada, nenhum juiz
condenação seja genérica; II - pendente poderá novamente apreciar as questões já
arresto de bens do devedor; III - ainda quando decididas, relativas à mesma lide (Art. 471,
o credor possa promover a execução provisória CPC). O legislador excepciona a regra da
da sentença.” imutabilidade nas hipóteses previstas em lei (a
exemplo da ação rescisória- arts. 485 e
5.2.10 Coisa julgada seguintes, CPC), bem como nas relações
jurídicas continuativas.
a) Definição Quanto às relações jurídicas continuativas, a
exemplo do que ocorre com a sentença que
É a eficácia que torna imutável a decisão não julga o pedido de alimentos, cabe ressaltar que
mais sujeita a recurso, ordinário ou na via a coisa julgada não deixou de existir. A
extraordinária. observação se faz necessária em virtude da
celeuma criada pela edição do artigo 15 da lei
b) Espécies de alimentos: “A decisão judicial sobre os
alimentos não transita em julgado...”
Pode ser formal ou material. Ora, a sentença que disciplina acerca dos
A coisa julgada formal corresponde à alimentos não tem qualquer particularidade
imutabilidade da sentença, ou seja, não quanto à existência de coisa julgada material
estando esta mais pendente de recurso ou de (veja-se que a mesma, além de julgar o mérito,
qualquer outra condição de eficácia, tendo ela é insuscetível de ataque na via recursal).
resolvido ou não o mérito da causa, tornar-se-á É que, como essas sentenças, na linguagem
imutável e indiscutível. Sua eficácia é de Maria Berenice Dias, possuem implícita a
transitória, sendo sua observância obrigatória, cláusula “rebus sic stantibus”, havendo a
apenas, em relação ao processo em que foi modificação da situação de fato (financeira)
proferida e ao estado de coisas que se que torne injusta a permanência da situação
considerou no momento de decidir. consagrada na sentença, haveria a
Em processo posterior não obsta que, mudada possibilidade de ajuizamento de nova ação (de
a situação fática, a coisa julgada possa ser revisão, ou mesmo exoneração), com causa de
modificada. Desta forma, a existência da coisa pedir e pedido próprios.

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c) Objeto em contestação, tivesse argüido a nulidade


contratual.
Considerando que o objeto da coisa julgada é o
objeto da ação, o qual está contido na parte Pois bem, acaso Maria desejasse tornar a
dispositiva da sentença, não fazem coisa temática da questão prejudicial indiscutível
julgada (por estarem situados no fundamento e (pondo-lhe um “ponto final”), poderia a mesma
não no dispositivo): apresentar ação declaratória incidental,
solicitando ao magistrado que se pronunciasse
 os motivos, ainda que importantes para sobre a validade ou não do contrato. Veja que
alcançar a parte dispositiva; o tema que, até então, seria analisado na
fundamentação passou a constituir objeto do
 a verdade dos fatos, estabelecida como processo, sendo que essa questão não mais
fundamento da sentença; poderá ser discutida em outro feito, haja vista
que será atingida pela coisa julgada.
 a questão prejudicial: por estar localizada no
fundamento, também não faz coisa julgada.
Por exemplo: numa ação em que Maria,
apoiada num contrato, solicita o pagamento de
quantia que lhe é devida por João, a análise da
validade do instrumento contratual (questão
prejudicial) se dará apenas “de passagem”,
como mero fundamento da decisão (pois o juiz
somente deferirá o pagamento da quantia se
válido o contrato, logicamente). Isto quer dizer
que, se em outra ação Maria for cobrar novas
parcelas que não foram adimplidas por João
(apoiadas no mesmo contrato), o magistrado
deste segundo processo poderá julgar a
demanda improcedente por considerar nulo o
instrumento, haja vista que a validade
contratual fora analisada apenas “de
passagem” na primeira ação, não consistindo o
seu objeto e, portanto, não fazendo coisa
julgada.

Atenção!!!: observação importante para o


exame da OAB:

É mister salientar, entretanto, que faz coisa


julgada a resolução da questão prejudicial, se a
parte o requerer, o juiz for competente em
razão da matéria e constituir pressuposto
necessário para o julgamento da lide.

Verifique que, pedindo a parte que o juiz se


pronuncie sobre questão prejudicial, acaba a
mesma por deslocar-se do fundamento,
passando a constituir, também, o objeto da
ação, alargando-se, portanto, o objeto inicial.
Suponhamos que, no mesmo exemplo acima
citado, Maria tivesse ingressado com a
demanda de cobrança em face de João e este,

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