Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3.1 - Cristina - Almeida o Elogio Da Forma
3.1 - Cristina - Almeida o Elogio Da Forma
O ELOGIO DA FORMA
Cristina Almeida
(Doutoranda)
Resumo:
A recepção de Paul Valéry no Brasil foi rotulada pelo isolacionismo social e
pelo seu senso positivo de rigor matemático na composição do poema. Através
do estudo de citações de textos desse poeta francês em Guerra sem
Testemunhas, veremos que a recepção de Osman Lins à poética valeriana é
inovadora e abre novos caminhos para verificarmos a importância do elogio da
forma na literatura contemporânea.
Palavras-chave: Processo de criação; Osman Lins; Paul Valéry
A hipótese norteadora é que a referência a Paul Valéry feita por Osman Lins
em Guerra sem Testemunhas, primeiro livro de ensaios desse escritor, não é
reverência nem influenza (a gripe formalista). As citações de Osman ao poeta se
configuram como documento comprobatório, prova e degustação, de que é possível
resguardar na reconstituição da biblioteca imaginária osmaniana, (tendo sido
dispersa a concreta) o método desse francês.
alemão ataca “a antítese obtusa entre arte engajada e arte pura” mostrando que
pelo distanciamento da sociedade, máxima simbolista, o poeta pôde ver melhor o
mundo e atuar nele de modo menos imediatista e efêmero (como é o caso de
algumas intervenções públicas) e mais permanente e eficaz, a luta com a linguagem,
escolha de temas e formas revolucionárias. Teoria e prática endossadas por Osman
Lins no livro que inicialmente foi dissertação de mestrado e representa o misto de
atuação estética e social. Osman através desse ensaio aponta todos seus frontes de
guerra, no campo da batalha político e literário.
“sonhar com uma obra singular, que seria difícil de fazer, mas não
impossível, que alguém algum dia fará, e que teria lugar, no tesouro de
nossas Letras, junto à ‘Comédia Humana’, de que seria um desejável
desenvolvimento, consagrada às aventuras e às paixões da inteligência.
Seria uma Comédia do Intelecto, o drama das existências dedicadas a
compreender e a criar".
“Poe dá a Baudelaire o que tem e recebe o que não tem. Poe entrega a
Baudelaire um sistema completo de pensamentos novos e profundo.
Esclarece-o, fecunda-o, determina suas opiniões sobre muitos assuntos:
filosofia da composição, teoria do artificial, compreensão e condenação do
moderno, importância do excepcional e de uma certa estranheza, atitude
aristocrática, misticismo, gosto pela elegância e pela precisão até
política...Mas em troca desses bens Baudelaire dá ao pensamento de Poe
uma extensão infinita. Ele o propõe para o futuro.” (p.27).
trecho valeriano, epígrafe de abertura na obra completa de Cabral, para fazer todas
as suas deduções comparativas.
Não pretendo fazer a caracterização das citações que Osman faz de Valéry.
Com Compagnon quero mostrar as imagens da representação simbólica do citar: é
um verdadeiro trabalho de escritura e leitura, um elogio ao autor, às suas teorias,
mesmo que seja para negá-las. Citação é intertextualidade, é sinal da circulação do
texto. Ao referenciar o Cemitério Marinho de Paul Valéry em seu livro, Osman chama
para sua poética tanto o poema como o ensaio explicativo sobre o poema.
ato, o processo da escrita, Osman faz referência “ao postulado gideano segundo o
qual o escritor, longe de evitar ou ignorar suas dificuldades, nelas deve apoiar-
se”(p.13). Esse postulado foi tema presente na correspondência Gide/ Valéry, cartas
nas quais encontramos várias referências à concepção dos cadernos de reflexão
dos escritores sobre os obstáculos da literatura transformados em literatura. Eles
debatiam muito sobre a tensão entre o escrito privado e o público. Daí já deduz-se
uma primeira conexão com as idéias do poeta do rigor.
Mais valeriano ainda na página 17, Osman afirma que “Imaginar um livro,
planejá-lo, é incitar o espírito a entrar em ação, a expressar-se em torno de um
núcleo, um foco imantado”. A concepção valeriana de Espírito é o conflito existente
entre corpo e mundo –CEM - superação da dicotomia sujeito/objeto. O Espírito é de
força motriz, a disposição para o fazer, nesse caso, a escrita literária. As
contingências que transformam e modificam o plano são submetidas a avaliação do
autor, “um processo de recusa e inclusão pelo qual continuo responsável”. Osman
afirma contundentemente:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS