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A ARTE DE
ESCREVER CONTOS
DE IMPACTO
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SEJA MUITO BEM-VINDO!


Prazer, meu nome é Helena. Sou a fundadora da Casa do
Contista e a responsável pela criação deste e-book que
você começará a ler.

Quero dizer que este material contém tudo o que há de


mais relevante para que você consiga compreender de fato
o que é o conto e outros recursos imprescindíveis para
você começar a escrever verdadeiros contos de impacto.

Pegue um caderno, uma caneta e bora anotar os insights


das próximas páginas, porque acredite: vem muito
conteúdo bom por aí.

Vem comigo?
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O QUE É O CONTO?
Veja bem: o conto é uma narrativa curta, mas nem toda narrativa
curta é um conto.

Diferentemente do que muitos pensam, o conto não é uma forma


abreviada do romance ou da novela. Ele possui características
próprias.

Perceba bem as diferenças entre o conto e o romance:

ROMANCE CONTO
Clímax antes do desfecho Clímax junto com o desfecho
Ênfase em contar história Ênfase em produzir efeito estético
Exploração da cadeia dramática Exploração da situação
"Ganha por pontos" "Ganha por nocaute"
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O QUE É O CONTO?
Explicando:

CLÍMAX JUNTO COM O DESFECHO


No conto, a narrativa termina em seu ponto máximo de tensão. Ou
seja, isso significa que não há um desfecho para a história depois do
clímax. A narrativa é finalizada no próprio clímax.

ÊNFASE EM PRODUZIR EFEITO ESTÉTICO


O principal objetivo do conto é despertar uma emoção-chave no
leitor, causando sensações e despertando reflexões.

EXPLORAÇÃO DA SITUAÇÃO
O conto deve explorar um recorte de tempo e espaço bastante
restrito. Ou seja, algo que se reduza a uma única situação, como é o
caso, por exemplo, de "Colinas como elefantes brancos", de
Hemingway, que se passa em uma mesa de bar.

“GANHA POR NOCAUTE”


Segundo Julio Cortázar, fazendo uma analogia a uma luta de boxe, ele
diz que o conto deve vencer o leitor por nocaute. Isso significa que o
conto é uma narrativa na qual você precisa trabalhar o poder de
concisão e a escolha das melhores palavras para obter um efeito de
impacto sobre o leitor.
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O QUE É O CONTO?
Já o romance...

CLÍMAX ANTES DO DESFECHO


Diferentemente do conto, que tem seu final marcado pelo clímax, o
romance possui um desfecho depois do ponto máximo de tensão da
história. Essa finalização tem um caráter mais conclusivo.

ÊNFASE EM CONTAR HISTÓRIA


Ao contrário do conto, que possui como foco o despertar de uma
emoção-chave no leitor, a grande proposta das narrativas longas é
contar a história propriamente dita, sem se preocupar tanto com a
forma da escrita, mas sim com o que é contado.

EXPLORAÇÃO DA CADEIA DRAMÁTICA


Se o conto explora uma única situação, o romance explora toda uma
cadeia: desde a apresentação do personagem em seu mundo comum,
até ele passar pelo conflito e resolvê-lo mais adiante.

“GANHA POR PONTOS”


Se Julio Cortázar diz que o boxe deve vencer por nocaute, ele
também diz que o romance deve vencer por pontos. Isso significa que
o autor vai ganhando o leitor aos poucos ao longo da leitura. Seja
com uma descrição bem feita, com um diálogo bem elaborado ou uma
reflexão bem pensada.
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O QUE É O CONTO?
Edgar Allan Poe vai nos dizer, ainda, que: “O autor de conto deve
conseguir, com o mínimo de meios, o máximo de efeitos.”

Isso significa que o bom contista deve evitar a todo custo:

Descrições em excesso e despropositadas;


Digressões e ensaios poéticos e;
Reflexões acerca do tema e do personagem.

Guarde isto: o foco do conto é sempre a AÇÃO, a NARRAÇÃO, por


isso descrições em excesso, digressões e reflexões são prejudiciais a
um bom conto.

Em seu ensaio "Valise de Cronópio", Julio Cortázar fala sobre uma


técnica que ele chamou de C.R.I.: Coesão, Ritmo e Impacto.

Essa técnica fala basicamente o seguinte:


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O QUE É O CONTO?
COESÃO
Para haver coesão em um conto, é preciso haver síntese dramática.

O que seria síntese dramática?


Elementos da narrativa usados de forma minimalista. Enredos com
poucos eventos, poucos personagens, poucas descrições, exploração
de apenas uma situação que, em geral, é levada ao limite.

RITMO
Cortázar diz que no conto deve-se evitar digressões, reflexões e
flashbacks – o instante presente é vital.

Além disso, o ritmo do romance intercala momentos de alta e baixa


intensidade, mas no conto, a carga dramática deve ser alta o tempo
todo.

IMPACTO
Para Cortázar, o conto deve terminar como um nocaute.

O final deve ser imprevisível ou instigante.

Deve gerar um efeito de desnorteamento ou conclusividade no leitor.


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O QUE É O CONTO?
O QUE NÃO CONDIZ COM UM CONTO
•Narrativa com inúmeros conflitos.
•Muitos ambientes.
•Saltos temporais muito grandes.

ARCO DO PERSONAGEM
O arco do personagem, ou seja, a transformação interna pela qual o
personagem passa, só existe em narrativas longas, como no romance.

Ou seja, no conto NÃO EXISTE ARCO DO PERSONAGEM.

Os personagens podem até passar por pequenas mudanças, mas a


grande transformação à qual se refere o arco, não acontece, afinal, o
conto se passa em um período de tempo muito curto.

MORAL DA HISTÓRIA
O único gênero de conto que possui moral, é o infantil.

Ao final dos contos infantis, é passado algum tipo de moral que


justifique o enredo da história.

Os outros contos NÃO possuem moral. Ao menos não de forma


explícita. Os contos podem passar algum tipo de lição, mas sempre
nas entrelinhas.
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O QUE É O CONTO?
TEORIA DO ICEBERG - ERNEST HEMINGWAY
Ernest Hemingway foi um escritor e jornalista americano que criou
uma teoria que dizia o seguinte: o bom conto é como um iceberg.

Aquilo que você efetivamente escreve é a ponta de gelo que fica na


superfície do mar, e a história que você deve criar nas entrelinhas é a
parte do iceberg que fica submersa.

Com isso, Hemingway queria dizer que na superfície do texto


deveriam ficar os elementos mais superficiais da história. Aquilo que
é imprescindível para o leitor compreender a narrativa. Mas na parte
"submersa" do texto deveria ficar aquilo que tem significado mais
profundo.

FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO - EDGAR ALLAN POE


Nesse ensaio, Edgar Allan Poe dizia que era preciso seguir
determinadas linhas mestras para se alcançar a unidade de efeito.

Unidade de efeito nada mais é do que a relação entre tamanho do


conto e o efeito que sua leitura é capaz de causar no leitor.

As sete linhas mestras são as seguintes:


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O QUE É O CONTO?
1 - SAIBA ANTES O FINAL DA SUA HISTÓRIA
Embora muitos autores prefiram descobrir o final que vão dar para
sua história conforme vão escrevendo, Poe dizia que era preciso
estabelecer isso antes mesmo de começar a escrever para saber como
direcionar a história.

2 - SEJA BREVE
Para Poe, um bom conto é aquele que é lido "em uma sentada só". Se
por um acaso o leitor para no meio da história por algum motivo, é
porque algo deve ser revisto.

3 - SAIBA A EMOÇÃO-CHAVE DESDE O INÍCIO


Você deve escolher a emoção a ser despertada no leitor desde o
início da escrita do conto. Dessa forma, você saberá como conduzir o
texto a fim de fazer o leitor sentir essa emoção.

4 - ESTABELEÇA UM TOM PARA SUA OBRA


Poe dizia que é preciso estabelecer um tom que vai predominar em
toda sua obra. No caso do mestre do terror, o tom que predomina em
suas obras é a melancolia.
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O QUE É O CONTO?
5 - ESCOLHA UM TEMA PARA SUA OBRA
Tudo o que você escrever estará marcado pelo tema que você
escolheu. Poe falava da morte e tudo girava em torno disso.

6 - PENSE EM UM CLÍMAX PARA A HISTÓRIA


Poe diz que é preciso pensar no clímax antes de iniciar a história,
porque tudo o que o autor escreve anteriormente deve ser feito com
o intuito de levar a esse momento. Mas lembre-se: no conto, o final
coincide com o clímax.

7 - DETERMINE O CONTEXTO
Os detalhes, o contexto, o espaço em que se desenvolverá as ações.
tem que ser pensado para apontar o que o leitor vai encontrar
quando chegar ao momento determinante.
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O QUE É O CONTO?
UNIDADE DE EFEITO E CONTENÇÃO - ANTON TCHEKHOV
Tchekhov também considera necessário ao conto causar o efeito ou o
que chama de impressão total no leitor, que “deve seve sempre ser
mantido em suspense”.

Além disso, Tchekhov também exige força, clareza e compactação.

Dessa forma, o texto deve ser claro - o leitor deve entender, de


imediato, o que o autor quer dizer. Deve ser forte – ter capacidade
de marcar o leitor, prender-lhe a atenção, não deixando que nada lhe
distraia. O excesso de detalhes desorienta o leitor, lançando-o em
múltiplas direções. E deve ser compacto – os elementos devem ser
condensados. Tudo isto, com objetividade: “Quanto mais objetivo,
mais forte será o efeito” (p. 92), afirma em carta à escritora L. A.
Avílova.
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O QUE É O CONTO?
INVERSÃO KAFKIANA - FRANZ KAFKA
De acordo com Güther Anders, "se Kafka deseja afirmar que o
‘natural’ e ‘não-espantoso’ de nosso mundo é pavoroso, então ele faz
uma inversão: o pavor não é espantoso".

O que ele quer dizer com isso?

Anders aponta para o fato de que a normalização que é apresentada


diante de situações pavorosas é justamente o que gera a sensação de
assombro.​

Por exemplo:
Em "A metamorfose", Gregor Samsa se transforma em um inseto
monstruoso e passa a ser parasita de uma família que antes o
parasitava (pois o personagem é caixeiro viajante e sustentava
financeiramente a família).

Na obra, tão chocante quanto o fato de os familiares não esboçarem


reação por ele ter virado inseto, é a normalidade com que Kafka
narra o asco que a família sente de Gregor.​

Podemos dizer, então, que a literatura kafkiana é, de certa forma,


capaz de denunciar a realidade, de expor a alienação e a falta de
sentido do nosso mundo "coisificado".
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O QUE É O CONTO?
DICAS PARA ESCREVER BONS CONTOS
1 - Tenha uma premissa (e se...).
Ex.: E se dois jovens de famílias inimigas se apaixonassem? (Romeu e
Julieta)

2 - Foque na narração. Foque sempre na ação.

3 - Só descreva se a descrição contribuir para o efeito estético que


você deseja produzir no leitor.

4 - Conte uma história oculta. Uma história que fique nas entrelinhas.

5 - Só comece depois de saber a emoção-chave que deseja causar no


leitor.

6 - Não passe conselhos ou lições de moral/não julgue seus


personagem.

7 - Termine o conto no momento de maior tensão/clímax.


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DESCRIÇÕES
DESCRIÇÕES NA MEDIDA CERTA
As descrições, quando bem usadas, são muito bem-vindas nos contos.

Mas afinal, qual a medida ideal para se trabalhar esse recurso?

Ao contrário do romance, gênero no qual você tem espaço suficiente


para se alongar em pequenos e grandes detalhes nas descrições, no
conto, o foco na ação deve sempre predominar.

Isso significa que não deve haver descrições? Não! Isso significa que
no conto, elas devem contribuir para manter o fluxo da ação.
Devem ser descrições que façam a narrativa “andar”, e não que
sirvam meramente de acessório.

Vou dar um exemplo. Se você estiver narrando sobre uma família


pobre, descrever que a geladeira da casa está um tanto enferrujada é
importante para demonstrar essa condição socioeconômica, mas
dizer que o fogão é amarelo não interessa. Entende?

Não se alongue muito nos detalhes descritivos. Como diz Stephen


King, “a descrição começa na imaginação do escritor, mas deve
terminar na do leitor”.
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DESCRIÇÕES
DESCRIÇÕES POR STEPHEN KING
Sim, eu trouxe esse mestre da literatura do terror para te ensinar um
pouco (muito, na verdade) sobre a descrição literária.

Mas afinal, o que Stephen King tem a dizer a respeito da arte de


descrever?

1. Em primeiro lugar, King diz que essa é uma habilidade que só se


aprende lendo e escrevendo muito. E quando ele diz muito, é muito
MESMO. O escritor sugere que aqueles que desejam levar a carreira a
sério, devem dedicar de quatro a seis horas por dia entre leituras e
escritas.

2. Você com certeza já ouviu alguém dizer que vivenciou uma cena
tão extraordinária que não conseguiu descrever. Se quiser ser um
escritor de sucesso, você terá que conseguir descrevê-la. E de forma
que faça o leitor sentir um “comichão de reconhecimento”.

3. King alerta, entretanto, que as descrições não precisam ser nos


mínimos detalhes. Tudo é questão de equilíbrio. “A descrição começa
na imaginação do escritor, mas deve terminar na do leitor”.

4. Uma boa maneira de fazer com que a descrição surpreenda o leitor


é através do uso de metáforas e outras figuras de linguagem. Porém,
usar metáforas clichês pode ser uma armadilha.
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DIÁLOGOS
QUANDO USAR OS DIÁLOGOS
Muita gente evita escrever diálogos em seus contos simplesmente
porque têm pavor de utilizá-los. Acham que eles não ficam
verossímeis o suficiente e acabam não convencendo o leitor.

Acredito que a primeira coisa que precisa ficar muito clara na cabeça
do contista, é QUANDO utilizar o diálogo. Ele pode ser muito bem
aplicado quando você quiser:

Acelerar um pouco o ritmo da sua narrativa.


Revelar informações sobre seu personagem.
Aproximar seu personagem do leitor.
Oferecer pistas da narrativa.
Complementar uma ação.
Entre outros motivos.
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DIÁLOGOS
FUNÇÕES DO DIÁLOGO - ROBERT MCKEE
Segundo o escritor e roteirista norte-americano Robert McKee, o
diálogo possui basicamente QUATRO funções.

São elas:

1. SHOW, DON'T TELL


Cada expressão verbal realiza uma ação interna.
Isso significa que é possível utilizar o diálogo para mostrar os
sentimentos e os pensamentos dos personagens.P

Porém, não faça assim:


"João, pode me ajudar? Me sinto tão assustada!"

Mas assim:
"João, pode me ajudar? Acho que o Antônio não volta mais pra casa
hoje."

Viu? Eu MOSTREI como ela está assustada em vez de DIZER que ela
está assustada.
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DIÁLOGOS
FUNÇÕES DO DIÁLOGO - ROBERT MCKEE

2. RITMO
Os diálogos devem ser moldados de forma a intensificarem as cenas,
crescendo em direção e ao redor do clímax (do final).

3. CARACTERIZAÇÃO
Os diálogos servem para distinguir os personagens. Cada estilo verbal
serve para caracterizar um papel único.

4. VEROSSIMILHANÇA
A linguagem do diálogo precisa soar autêntica dentro da ambientação
da história e verdadeira para o personagem. Ou seja, é preciso fazer o
leitor imergir, de modo a fazê-lo pensar estar diante dos
personagens, e não de um texto.
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DIÁLOGOS
O QUE MAIS NOS DIZ MCKEE SOBRE DIÁLOGOS?
Um bom diálogo traz subtextos;
Bons diálogos trazem falas características, que nos ajudam a
identificar os personagens;
Bons diálogos são econômicos: extraem o máximo de
expressividade do mínimo de palavras.

EVITE:​
Conversa vazia;
Ex.: "Oi, tudo bem? Tudo, e você? Tudo, também."

Conversa exageradamente emotiva;


Dica: se uma situação já é emotiva por si só, faça o oposto com o
diálogo. Deixe as falas o menos emotivas possível.

Conversa exageradamente consciente e perceptiva;


Ex.: um líder de estado que tem plena consciência de suas
motivações e as expõe aos seus liderados;

Conversa com motivações explícitas.


Raramente as pessoas expõe seus motivos assim.
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RECURSOS NARRATIVOS
SHOW, DON'T TELL!
O famoso “mostre, não diga!” também conhecido por “show, don’t
tell!” é um conceito muito utilizado na literatura para fazer um alerta
a um escritor.

“Mas como assim?” Talvez você me pergunte.

E eu lhe respondo: MOSTRE! Não DIGA! Isso significa que você


precisa parar de dizer O QUE está ocorrendo em uma cena e mostrar
COMO isso está ocorrendo.

Vou explicar melhor. Não diga: “Ricardo estava nervoso para fazer a
prova”.

Diga: “Sua face ruborizou. O suor escorria pelas têmporas sem


cessar. As pernas permaneciam inquietas embaixo da mesa e ele mal
conseguia assinar o próprio nome na prova”.

Está vendo? O leitor chega à conclusão de que o garoto ficou nervoso


para fazer a prova sem você dizer uma vez sequer que ele estava
nervoso. Você apenas MOSTROU que ele estava nessa condição.
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RECURSOS NARRATIVOS
SHOW, DON'T TELL!
Você pode fazer isso ainda de algumas outras maneiras. Dá só uma
olhada:
Por meio de diálogos – em vez de dizer, por exemplo: “Tiago
zangou-se com Cristina e foi tirar satisfação com ela”, crie um
diálogo MOSTRANDO o desentendimento entre Tiago e Cristina.

Não sendo genérico – em vez de dizer: “eu nunca vi nada parecido


em toda a minha vida”, gaste algum tempo tentando buscar
especificidades que caracterizem esse sentimento, pessoa ou
objeto. Por exemplo: “Este anel é a coisa mais significativa que
você poderia me dar. E nem estou falando pelo valor ou pela
beleza, mas pelo fato de representar perfeitamente um amor que
nasceu de forma tão genuína”.
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RECURSOS NARRATIVOS
ARMA DE TCHEKHOV
Você já ouviu falar dessa tal de Arma de Tchekhov?

Criado por Anton Tchekhov, a Arma nada mais é do que uma regra
para ajudar escritores a focar no que realmente importa ao criar uma
narrativa. Segundo ele:

“Se no primeiro capítulo você diz que há uma arma pendurada na


parede, no segundo ou terceiro capítulo ela deve ser disparada. Se ela
não for, não deveria nem ter sido mostrada”.

Essa regra é aplicável a qualquer narrativa em prosa, mas aos contos,


ela particularmente faz muito sentido.

Por ser uma narrativa curta, em que o escritor deve apelar para a
precisão vocabular, evitar personagens e outros elementos que não
contribuem em nada para a obra é essencial para dar a cadência e o
ritmo necessários que os contos exigem.

Então, lembre-se: ao colocar um personagem, uma cena ou um objeto


na narrativa, pergunte-se: eu irei retomá-lo mais à frente? Se a
resposta for “não”, não coloque.
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RECURSOS NARRATIVOS
SUMÁRIO
Você já conhecia esse recurso? Já aprendeu a usá-lo no conto?

Nós sabemos que a criação de cenas, com descrições e narrações


bem executadas são essenciais para o desenvolvimento de qualquer
conto.

Mas perceba que existem casos de narrativas que necessitam de um


recurso que, em determinado momento, acelere o tempo para outro
instante já mais adiante da história.

A esse recurso, chamamos de SUMÁRIO. Mas cabe dizer que


sumarizar um trecho de um conto precisa ser feito de forma criativa.

Não se deve confundir um sumário com um resumo. E veja bem, não


estou falando de resumir uma narrativa toda. Estou dizendo que, em
certo ponto de uma narrativa, ocorre a passagem rápida do tempo, e
nesse trecho deve ser feito um sumário.

Vamos a um exemplo:
“[...] Naquele ano, debulhou-se em lágrimas pelas próximas duas
estações. O ano seguinte, também passou entre lenços e sessões de
terapia. Dois anos depois, já não sentia seu coração doer com tamanha
intensidade. Os raios de sol voltaram a entrar pela janela. [...]”
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RECURSOS NARRATIVOS
SUMÁRIO
Percebe como um sumário conseguiu sintetizar a passagem de três
anos doloridos da personagem em poucas linhas? Depois desse
sumário, o conto deve continuar se desenrolando normalmente.

FLUXO DE CONSCIÊNCIA
A ideia do fluxo de consciência é reproduzir o fluxo contínuo de
pensamentos.

Um pensamento vem atrás do outro, de modo a seguir uma linha


lógica ou a debandar para ideias totalmente desconexas. É como o
fluxo de uma correnteza que não para.

Na literatura, o fluxo contínuo de consciência, muitas vezes, ignora


totalmente estruturas como parágrafos ou capítulos.

Quando o conceito é aplicado em primeira pessoa, a narração reflete


justamente os pensamentos do protagonista.

Já na terceira pessoa, o narrador onisciente transita pelos


pensamentos do protagonista, por vezes oferecendo suas próprias
reflexões sobre a personagem no processo de narrativa.

No Brasil, quem melhor caracteriza o fluxo da consciência em suas


obras são Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
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RECURSOS NARRATIVOS
FLUXO DE CONSCIÊNCIA
Exemplo:

“Mas quem sou eu, recostada neste porão a observar meu setter que
fareja em torno? Às vezes penso (ainda não tenho vinte anos) que não
sou uma mulher, mas a luz que cai neste portão, no solo. Sou as
estações, penso às vezes, janeiro, maio, novembro, a lama, a neblina, a
madrugada. Não posso agitar-me nem esvoaçar docemente, nem
misturar-me com outras pessoas. Mas agora, recostada neste portão
até o ferro deixar marcas nos meus braços, sinto o peso que se formou
dentro de mim. Algo foi-se formando na escola, na Suíça, algo duro.
Nem suspiros nem risos; nem volteios nem frases engenhosas; nem as
estranhas comunicações de Rhoda, quando olhos além de nós, sobre
nossos ombros; nem as piruetas de Jinny, membros e corpo uma coisa
só. O que sou é peso.”

(p. 100 – As ondas, tradução de Lya Luft)


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RECURSOS NARRATIVOS
MONÓLOGO INTERIOR
​E mbora muitos escritores tratem o monólogo interior como sinônimo
do fluxo de consciência, existe uma diferença primordial entre esses
recursos.

No monólogo interior, as ideias e pensamentos são expostos dentro


de um esquema mais organizado, como se passassem por uma espécie
de filtro antes de irem para o papel.

LEITMOTIV
Originário nas óperas do alemão Richard Wagner, posteriormente
esse recurso passou a ser utilizado na literatura e no cinema.

Mas o que significa, afinal, “Leitmotiv”?

O termo pode ser traduzido como “motivo condutor”. Consiste no uso


de motivos recorrentes associados a determinados personagens,
objetos ou ideias.

Por exemplo:

No cinema, sons que sempre antecedem a entrada de personagens em


cena são exemplos de Leitmotiv.
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RECURSOS NARRATIVOS
LEITMOTIV
Na literatura, em “Casa tomada”, conto de Julio Cortázar, em diversas
ocasiões que o narrador faz referência à sua irmã, ela está
tricotando. Isso também é um exemplo de Leitmotiv.

“Irene era uma moça nascida para não fazer mal a ninguém. Fora sua
atividade matinal, passava o resto do dia tricotando no sofá de seu
quarto. Não sei por que tricotava tanto. Acho que as mulheres tricotam
quando encontram nesse trabalho o grande pretexto para não fazer
nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias,
camisolas para o inverno, meias para mim, cachenês e coletes para ela.
Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia rapidamente, porque
alguma coisa não lhe agradava; era engraçado ver, na cestinha, o
montão de lã encrespada, recusando-se a perder a forma de algumas
horas antes. Aos sábados, eu ia ao centro lhe comprar lã; Irene tinha
confiança no meu gosto, aprovava as cores e nunca precisei devolver
uma só meada.” (Casa tomada – Julio Cortázar)

“Recordarei sempre nitidamente porque foi simples e sem


circunstâncias inúteis. Ireneestava tricotando em seu quarto, eram
oito da noite e, de repente, eu me lembrei de levar achaleira do mate ao
fogo.”(Casa tomada – Julio Cortázar)
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10 CONTOS PARA LER SEM FALTA


1 - TENTAÇÃO - Clarice Lispector

2 - CASA TOMADA - Julio Cortázar

3 - COLINAS COMO ELEFANTES BRANCOS - Ernest Hemingway

4 - O CORAÇÃO DELATOR - Edgar Allan Poe

5 - NATAL NA BARCA - Lygia Fagundes Telles

6 - O TRAVESSEIRO DE PENAS - Horacio Quiroga

7 - ANGÚSTIA - Anton Tchekhov

8 - A PONTE - Franz Kafka

9 - MISSA DO GALO - Machado de Assis

10 - A CIDADE INTEIRA DORME - Ray Bradbury


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CHEGAMOS AO FIM
Caro contista, chegamos ao fim dessa jornada de aprendizado sobre
um gênero literário tão fabuloso que é o conto.

Agora você tem em mãos um material excelente que pode consultar


sempre que tiver dúvidas sobre algum conceito ou técnica que vá te
auxiliar a escrever um verdadeiro conto de impacto.

Mas se você quer se aprofundar no conteúdo deste e-book e


aprender MUITO mais sobre as técnicas narrativas, sugiro a você
fazer o curso completo de contos da Casa do Contista.

Segue o perfil da Casa no Instagram para saber mais a respeito:


@casadocontista

Obrigada por ter me acompanhado até aqui.

Um grande abraço e até mais!

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