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AO DOUTO JUÍZO DA 15ª VARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Nº da GRERJ: xxxxxxxxxx

Ref. ao Processo nº: xxxxxxxxx (distribuição por dependência)

Katia, casada, brasileira, profissão xxx, inscrita sob o CPF nº xxx, portadora do RG nº
xxx, e-mail: xxx, residente e domiciliada na Rua xxx, nº xxx, Bairro xxx, Cidade/UF,
CEP: xxx, vem, mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por intermédio
de seu patrono que esta subscreve, com endereço profissional à Rua xxx, nº xxx,
Bairro xxx, Cidade/UF, CEP: xxx, e-mail: xxx, onde deverá receber notificações e
intimações sob pena de nulidade, com fulcro nos artigos 674 a 681 do CPC, opor os
presentes

EMBARGOS DE TERCEIROS

em face de Glauco, menor impúbere, inscrito sob o CPF nº xxx, portador do RG nº


xxx, representado por sua genitora Beatriz, divorciada, brasileira, profissão xxx,
ambos residentes e domiciliados à Rua xxx, nº xxx, Bairro xxx, Rio de Janeiro/RJ,
CEP: xxx, pelas razões de fato e direito que passa a expor.

DA TEMPESTIVIDADE

A presente ação foi interposta em momento posterior à penhora e anterior à emissão


de carta de adjudicação ou alienação em hasta particular, ou por arrematação em
hasta pública, cumprindo, assim, o requisito legal da tempestividade, motivo pelo
qual o feito deverá prosseguir.

DOS FATOS

Paulo e Beatriz, foram casados por xxx anos, e desta relação sobreveio o, então menor
impúbere, Glauco, de um ano, do qual ambos são genitores.

Paulo e Kátia, ora Embargante, se conheceram em meados de 2010 e mantiveram


relação de amizade até que Paulo e Beatriz se divorciaram. Tempos depois, em 2015,
Paulo e Kátia se casaram no regime da comunhão universal de bens e adquiriram um
imóvel que viria a servir de moradia ao casal, com os valores dos bens que Paulo
havia alienado em 2017.

Em 2018, em razão da crise que assolou o país, Paulo perdeu o vínculo trabalhista e
se viu com dificuldades em manter o pagamento da prestação alimentícia da qual é
devedor em relação à seu filho Glauco, fruto de seu primeiro casamento, que reside
com a genitora.

Diante dos atrasos no pagamento das prestações alimentícias, Glauco, representado


em juízo por sua genitora Beatriz, ajuizou em face de Paulo, Ação de Execução de
Alimentos a fim de garantir os seus direitos.

Ocorre que, no bojo do processo de execução, o imóvel, onde residem Paulo e Kátia,
foi penhorado para fins de pagamento dos valores devidos por Paulo, ressalta-se, o
único imóvel que o casal possui.

Em face do exposto, fez-se necessário a distribuição da presente demanda, com vistas


a proteção dos direitos relativos ao único bem de família do casal, do qual a
Embargante é coproprietária.

DOS FUNDAMENTOS LEGAIS

I - DA LEGITIMIDADE ATIVA

Os Embargos de Terceiro, previsto no art. 674 do Código de Processo Civil, se


constitui como a defesa cabível àquele cuja possua direitos sobre bens que tenham
sofrido ameaça ou constrição no bojo de um processo judicial, ainda que não seja
parte no processo, podendo em razão disso, requerer o desfazimento do ato
constritivo, por ser este incompatível com seus direitos.

Katia se inclui no conceito jurídico de terceiro, previsto no art. 674, §2º, incis I do
CPC uma vez que não é parte do processo nem da demanda de Execução de
Alimentos, mas guarda interesse legítimo na mesma, uma vez que é coproprietária do
bem objeto da apreensão judicial para a satisfação da dívida arguida.
Portanto, a Embargante cumpre com o preceito normativo da legitimidade ativa, uma
vez que só pode ajuizar Embargos de Terceiro aquele que é terceiro nos termos da
legislação processual civil.

Por ser casada com Paulo pelo regime da comunhão universal de bens, a Embargante
é proprietária de 50% de todos os bens do seu cônjuge, ainda que havidos antes da
constância da sociedade conjugal. Neste caso, por ser meeira nos termos da lei, é
proprietária de metade do bem constrito no bojo no referido processo, e portanto faz
jus à proteção do seu patrimônio de uma dívida da qual não é devedora.

Neste sentido, cabe-nos ressaltar o entendimento sumulado do Superior Tribunal de


Justiça:

Súmula 134: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do


executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação”.

Sendo assim, resta comprovada a legitimidade ativa da Embargante para opor os


presentes Embargos de Terceiro.

II - DA LEGITIMIDADE DA EMBARGANTE EM RAZÃO DA


PROPRIEDADE

A propriedade da Embargante está devidamente comprovada por meio de escritura


pública anexada ao presente, na qual consta como proprietária ao lado de seu cônjuge
Paulo. Portanto, cumprida a determinação de que trata o art. 677 do CPC.

DO BEM DE FAMÍLIA

Merece especial atenção a atual redação dos artigos da lei 8.009/90, relativos ao caso
em tela.

Via de regra, o único bem residencial do devedor não pode responder por suas
obrigações, por constituir bem de família, resguardado, em especial, pela lei
8.009/90, em seu art. 1º.

Contudo, nos informa o art. 3º, inciso III da referida lei, que quando a dívida
pleiteada decorrer de obrigação alimentícia, a impenhorabilidade do bem de família
deverá ser excetuada, em virtude do caráter de subsistência que se confere à
prestação a título alimentício devidos entre ascendentes e descendentes.

Data máxima vênia, embora a impenhorabilidade não possa ser arguida contra ao
devedor na hipótese prevista no art. 3º, inciso II da referida lei, o seu cônjuge ou
companheiro tem resguardado o direito à proteção patrimonial, ainda que a penhora
tenha sido realizada por credor em razão de pensão alimentícia, nos exatos termos do
art. 3º, inciso III da mesma lei.

De certo que a meação do Executado, no que tange ao bem penhorado, não pode ser
considerada impenhorável em relação ao Exequente, credor de alimentos. Contudo, a
penhora deverá recair tão somente sobre tal percentual que este guarda sobre o bem,
como assertivamente prevê o art. 843 do CPC.

Assim vem sendo o entendimento firmado pelo Tribunal deste Estado:

REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO OPOSTOS


POR CÔNJUGE. PRETENSÃO DE DESCONSTITUIÇÃO DE GRAVAME EM
IMÓVEL COMUM. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. AUTORA QUE COMPROVOU
O FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO. DECLARAÇÕES PRESTADAS À RECEITA
FEDERAL E CERTIDÕES DE SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS APONTAM QUE SE
TRATA DE BEM DE FAMÍLIA. EMBARGANTE QUE É MEEIRA DO EXECUTADO E
AMBOS RESIDEM NO ÚNICO IMÓVEL DO CASAL. INCIDÊNCIA DA
IMPENHORABILIDADE PREVISTA NA LEI N.º 8.009/90. PRECEDENTES.
CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA EM TODOS OS SEUS TERMOS.

(TJ-RJ - REMESSA NECESSARIA: 02325361420198190001, Relator: Des(a).


FRANCISCO DE ASSIS PESSANHA FILHO, Data de Julgamento: 10/02/2021,
DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 11/02/2021)

(Disponível em:
<https://tj-rj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1169936371/remessa-necessaria-2325
361420198190001> Acesso em: 23/04/2021)

Desse modo, como a Embargante não figura como devedora de alimentos na


demanda e, em razão do regime de bens que rege a sociedade conjugal entre ela e o
Executado, devem ser resguardados os seus direitos em relação ao bem objeto de
penhora, eis que a Embargante é coproprietária do imóvel em razão de casamento
que esta mantém com o Executado.

DA SUSPENSÃO DAS MEDIDAS CONSTRITIVAS

Nos termos da lei, em regra, os Embargos de Terceiro não possuem efeito suspensivo
automático, isto é, não paralisam a execução de alimentos, o que justificaria o bem
ser levado a hasta pública ou privada, podendo ser alienado ou adjudicado.

Contudo, o efeito suspensivo poderá ser atribuído pelo juiz quando a constrição
importar em grave prejuízo de difícil reparação, com vistas a impedir que o bem seja
levado a hasta enquanto não julgados os Embargos de Terceiro, o que encontra
justificativa no art. 678 do CPC.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer:

a) a citação do Embargado, na pessoa do seu representante legal já constituído nos


autos da Ação de Execução de Alimentos;

b) a distribuição da presente ação por dependência aos autos do Processo nº


xxxxxxxxx, conforme determina o art. 676 do CPC;

c) seja o presente pedido JULGADO PROCEDENTE PARA DESCONSTITUIR O ATO


DE PENHORA, ou subsidiariamente, caso o Ínclito Julgador não entenda cabível, que
sejam protegidos os direitos patrimoniais do Cônjuge Embargante em relação ao bem
penhorado, nos termos dos artigos 674 e ss e 843 do CPC.

d) seja o Embargado CONDENADO ao pagamento da custas processuais,


compreendidas nas taxas judiciais e ônus sucumbenciais advocatícios na proporção
de 20% do valor da causa;

Requer-se a juntada do correto recolhimento das custas, com a cópia da GRERJ


devidamente paga, já que os Embargos constituirão autos apartados, nos termos do
art. 676 do CPC.
Pugna-se provar o alegado por todas os meios de prova em Direito admitidas, em
especial documental suplementar e testemunhal.

Dá-se à causa o valor de R$ xxxx (o valor da dívida alimentar)

Termos em que,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2021.

Advogado xxx/OAB nº xxx.

Rol de testemunhas:

Fulana, qualificação e endereço completo.

Fulano, qualificação e endereço completo.

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