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Crítica da Razão Tupiniquim 

Roberto Gomes nasceu em 08 de outubro 1944, em Blumenau, Santa Catarina. Formado em Filosofia
pela Universidade Católica do Paraná, em 1969, trabalhou como escritor, romancista, contista, professor
universitário, editor colaborador do jornal Gazeta do Povo de Curitiba, Paraná. Estreou no jornalismo e na
literatura, em 1961, com uma crônica publicada no extinto semanário O Combate, de Blumenau, dirigido
pelo pai, João Gomes. Em 1964, transferiu-se para Curitiba. No mesmo período, escrevia para A Nação,
dos Diários Associados. Desde então, Gomes circulou por vários gêneros literários: romance, conto,
literatura infantil, ensaios, e um livro de filosofia. Iniciou a carreira de escritor com uma obra de filosofia
Crítica da Razão Tupiniquim, 1977.
Em Crítica da Razão Tupiniquim, o filósofo Roberto Gomes ataca ostensivamente a falta de
personalidade e originalidade da Filosofia brasileira, que se mantêm ao longo dos tempos atrelada a
modelos de seriedade estrangeiros, fato que reflete não mais que a dependência cultural que há muito nos
acompanha e nos coloca diante daquele complexo de vira-lata do brasileiro, já antes mencionado por
Nelson Rodrigues que, entre outras coisas, percebia o brasileiro como um Narciso às avessas.
A obra de Roberto Gomes a critica da razão tupiniquim é dividida em onze capítulos que irá tratar da
realidade que se encontra a filosofia no Brasil. No primeiro capitulo que se chama “um titulo”, vai buscar
o motivo e a interpretação do nome da obra critica da razão tupiniquim; no segundo capitulo “A sério: A
seriedade” vai explicitar os vários sentidos para a seriedade; no terceiro capitulo “Uma razão que se
expressa” vai trabalhar a razão que se descobre em sua originalidade; no quarto capitulo “Filosofia e
negação” afirma que a filosofia é dizer o contrario; no quinto capitulo “O mito da imparcialidade: O
ecletismo” que vai retratar o pluralismo cultural do Brasil; no sexto capitulo “O mito da concórdia: O
jeito” vai retratar o jeitinho brasileiro; no sétimo capitulo trata da “Originalidade e o jeito”; no oitavo
capitulo “A filosofia entre nós”, envolve uma revisão critica de nossas importâncias e urgências; o nono
capitulo “ A razão ornamental” conduz a fuga nos modismos e o  esquecimento de quem somos; no
décimo capitulo “A razão afirmativa” sacralizar o passado e destruir a positividade do dado; no décimo
primeiro capitulo e ultimo “Razão independente e negação” vai explanar a colonização cultural de
imposição que era feita no Brasil.
   O primeiro capítulo que se chama “um titulo” vai tratar do tema do livro, afirmando que é
impossível não escrever este livro, e é absurda pretensão de inventar, aqui seu tema, porém uma razão
brasileira, não existindo atualmente precisaria ser providenciada. No bolor de nosso pensamento oficial
não se encontra qualquer sinal de uma atitude que assuma o Brasil e pretenda pensá-lo em nossos termos.
 Além do palavrório aridamente técnico e estéril, das idéias gerais, das teses que antecipadamente
sabemos como vão concluir, das idéias bem pensantes nada encontramos que possa denunciar a presença
de um pensamento brasileiro entre nossos filósofos atuais, vitimas de um discurso que não pensa, delira.
Este livro inviável começa, pois, com uma serie de advertências, afirmando que a questão de um
pensamento brasileiro deverá brotar de uma realidade brasileira e não da realidade e do pensamento
formulado pelos paises dominantes. Não se trata de inventar uma razão tupiniquim, mas de propor um
projeto, um certo tipo de pretensão.
Já no segundo capitulo Roberto Gomes irá tratar do titulo “A serio: Seriedade”, em que no primeiro
caso ele vai tratar da palavra sério, afirmando ao dizer que fulano de tal é um homem que zela pela
seriedade das aparências, que respeita as normas e convenções sociais, e seja incapaz de sair da linha.
Na segunda ocorrência, a seriedade em questão remete a outra gama de significações. Levar a serio,
seja um trabalho, um lugar ou um amor, não consiste no zelo pela vigência de normas sociais. Se levar a
sério, isto é algo que sai de mim em direção ao objeto da seriedade, se sou sério, me coisifico como objeto
de seriedade, a sério revigoro o mundo com uma quantidade imensa de significações, sério reduzo-me a
objeto morto.
 Entretanto é no Brasil onde o falar, o escrever e o pensar, vieram a ser as coisas mais formalizadas e
rígidas que se conhece, onde construir frases numa ordem que jamais usaria para pedir um cafezinho, o
intelectual brasileiro discursa e triunfa o sério como expressão de uma classe privilegiada diante de uma
multidão de analfabetos. É, pois urgente que assumamos a capacidade do a sério do humor como forma
de conhecimento, só no momento em que, abandonada a tirania do sério, percebemos que nossa atitude
mais profunda encontra-se em ver o avesso das coisas é que poderemos retirar de nossas costas o peso de
séculos de academismo.  
  No terceiro capitulo “Uma razão que se expressa” afirma que a filosofia ocupa este papel da razão
em sua expressão carregada de historicidade, e uma filosofia brasileira precisaria ser o desnudamento
desta razão que viemos a ser. Talvez temendo nada encontrar por debaixo de nossos trajes europeus. A
questão se reduz a algo simples: não existe uma “problemática” brasileira à nossa espera, ainda urge ser
inventada e posta em questão, e este é o esforço da filosofia, desde sempre, e cabe perguntar se entre nós,
encontraremos sinais de tal esforço para se chegar a uma filosofia brasileira.
No quarto capitulo que se chama “Filosofia e negação” a filosofia goza de um destino certamente
trágico mostrando que qualquer momento criador teve sua origem na negação. Qualquer conhecimento
inicia com negação, ou seja, como essencialmente critico, o que não era exclusivo da filosofia. Há uma
condição para esta negação, a critica que é algo assumido, é uma posição do espírito e não da eternidade.
 Eis por que, não assumindo uma posição nossa, um pensar brasileiro torna-se impossível,
impossibilitado de criar por não aceitar destruir o passado que nos impuseram recusando assumir sua
condição básica que seja nosso negador do alheio.
Já no quinto capitulo “O mito da imparcialidade: O ecletismo” afirmava que o produto direto da
indiferenciação brasileira, que por sua vez era produto da dependência cultural que até hoje pendura, o
autor Roberto Gomes crer que no ecletismo tenhamos revelado muito mais que normalmente se supõe. É
manifestação de alguns traços básicos de nosso caráter intelectual e de nossa condição política e se nada
fizermos, corremos o risco de continuarmos a ser apenas um país jovem que não sabe a que veio, nem o
que tem a dizer, por medo, omissão ou covardia e jamais inventaremos nossa posição, nada vindo a ser,
sem termos providenciado nossa exclusiva problemática.                                    
No sexto capitulo o “Mito da concórdia: O jeito”, explana o ufanismo brasileiro que privilegia um
objeto, o jeito, que é a voz corrente que damos um jeito a tudo,do existencial ao político, do físico ao
metafísico, sendo ele uma maneira marota de desrespeitar a extrema formalidade em respeito a valores
maiores. Analisar a partir do pressupostos de que somos um povo pouco especulativo é coisa perigosa e,
de resto, falsa. Quanto a filosofia, é grave que entre nós tenha se recusado a cumprir a missão que lhe
seria própria, ser o centro de consciência critica, de negação de nossas falsificações existenciais, a
inexpressividade da filosofia no Brasil se deve ao fato de ocorrer, sem volta, ao nível de expressão difusa
a todo social.
No sétimo capitulo “Originalidade e Jeito” afirma que se nos limitarmos a superfície, o jeito que é
promotor de uma atitude de tolerância e de abertura intelectual, pode levar a uma filosofia condenada a
não ser original. É inteiramente estranha a filosofia uma atitude de conciliação que tome idéias como
coisas dadas em si mesmas, sem a critica desta questão, qualquer esforço de pensamento estará entre nós,
a serviço da razão ornamental, e enquanto a filosofia no Brasil não encontrar suas condições de
originalidade, ela não será vista como aceita.
Quando se observa o oitavo capitulo “A filosofia entre nós” o autor afirma que nunca se explicitará
com suficiente exatidão o que determina a ausência de um verdadeiro filosofo no Brasil, e faz em seguida
uma afirmação ainda mais grave, talvez que se possa encontrar assim, na herança portuguesa, a causa da
ausência de um filosofo no Brasil. As faculdades especulativas e criticas, a capacidade de tratar
problemas abstratos, e o dom de estudo paciente, desinteressado e introspectivo não parecem muito
habituais nos homens luso-brasileiros, onde a herança filosófica é coisa que não existe.
No nono capitulo “A razão ornamental”, nos conduz a querer aplicar no Brasil escolas estrangeiras,
portanto estranhas como se isso fosse possível sem nos cobrar um preço o esquecimento do que somos, e
se mostrando em uma razão comprometida. Em outros termos a razão ornamental se caracteriza pela
supressão da intencionalidade, os objetos aos quais se refere estão encobertos e esquecidos, deixando de
importar, encontrada na recusa desde sempre manifestada pelo intelectual brasileiro em assumir sua
própria identidade.                  
Incapaz de pensar, exigindo brilhar, a razão ornamental conduz a fuga dos modismos, no ultimo grito
cultural, o leilão de idéias.
Já no décimo capitulo “A razão afirmativa”, encontrou em nosso ambiente intelectual um campo de
fácil penetração, nas condições peculiares do país como a ausência de tradição filosófica, fragmentação e
dispersão do único grupo, a Escola de Recife reivindicava a metafísica e ao mesmo tempo em que
recusava a volta da antiga filosofia já recusada. A razão afirmativa é o mesmo que sem razão, é um
complemento desesperado do senso impensado da razão eclética, que equivale a agarrar-se ao dado na
pretensão de perpetuá-lo, quando a função radical do pensamento é destruir a positividade do dado, a
razão afirmativa tende a sacralizar o passado, fonte de todas as certezas e pensar o anestésico e
esterilizado que não incomoda e nem arrisca.
No décimo primeiro e ultimo capitulo “Razão independente e negação” considera a condição previa a
qualquer filosofia brasileira que não queira se ver reduzida, como tem acontecido até hoje, a mera
assimilação ornamental e independente, é fazer desabar as instalações sérias nas quais vivemos. Negar
postiças importâncias e urgências providenciadas e que não nos expressão, encobrindo condições que
poderiam libertar em nós um pensamento de fato criador, correr o risco de saber coisa alguma, pois o
pensamento não é gerado pela certeza e sim pela duvida.                 
A crítica da razão tupiniquim composta por Roberto Gomes vai atacar o conformismo e advertir que
o brasileiro ainda não produziu filosofia, e que o pensamento brasileiro jamais esteve lá onde tem sido
procurado, nas teses universitárias, curso de graduação e pós graduação, que no decorrer do texto mostra
o porque. O autor vai fazer uma dura critica ao nosso pensamento oficial onde não se encontra qualquer
sinal de uma atitude que assuma o Brasil e pretenda pensá-lo em nossos termos. O autor ainda mostra a
manifestação de alguns traços básicos de nosso caráter intelectual e de nossa condição política, e se nada
fizermos, corremos o risco de continuarmos a ser apenas um país jovem que não sabe a que veio, nem o
que tem a dizer, por medo, omissão ou covardia e jamais inventaremos nossa posição.

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