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Introdução
Descritos os procedimentos metodológicos seguidos para o desenvolvimento
deste estudo, passarei, no presente capítulo, a apresentar de forma interpretativa a
análise dos dados obtidos ao longo do processo de pesquisa, tendo por referência o
quadro conceptual que o suporta, bem como os objetivos e as questões de pesquisa
orientadoras do mesmo. De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 205) a análise e a
recolha de dados corresponde ao:
«processo de busca e de organização sistemático de transcrições de
entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo
acumulados, com o objectivo de aumentar a sua própria compreensão
desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo
que encontrou».
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
procurando entender o problema inicial deste estudo à luz dos resultados obtidos na
sequência das entrevistas realizadas.
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
(…) Bem, ele está um pouco ligado às artes. Ah… eu estudei até ao 12.º ano
num curso ligado às artes, Artes e Design (…).
(…) Pronto e depois fui sempre fazendo vários tipos de formações que eu
gostava, de música, de dança, de expressão dramática, fiz sempre muitas
formações nestas áreas (…);
(…) também fiz outras em computadores, também fiz algumas em educação
física e assim (…);
(…) Eu fui evoluindo em termos profissionais, fui sempre evoluindo, fui sempre
pesquisando e estudando, nunca parei (…).
A Ana refere:
(…) Depois acabei, também, por concluir um curso de pintura relativamente às
artes (…);
(…) Também tirei o curso de professora de danças urbanas, em que exerci
profissão (…).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
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(…) os pais (…) [que] chegam a casa cansados e um bocadinho saturados (…)
já não [lhes] dão tanta atenção como deveriam (…) (Maria Martins).
Neste sentido, Parramón Ediciones (2002a) evidencia que a escola deve ser
colaboradora na deteção das necessidades familiares e sociais da criança, não devendo,
no entanto, substituir a família. Nesta perspetiva, as funções da educação pré-escolar
devem ser complementares das da família.
Prosseguindo a análise do respetivo quadro, as educadoras atribuem importância
à educação pré-escolar por promover o desenvolvimento das capacidades nas crianças
(1).
2.2. Benefícios
Por forma a possibilitar uma melhor compreensão dos benefícios trazidos pela
educação pré-escolar, o Quadro 10 apresenta os seguintes dados, que passarei de
seguida a interpretar:
Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
muitos 1 1
depende muito da educadora 1 1
facilitar (…) novas aprendizagens 1 1
percebam que nem tudo no mundo é fácil e há dificuldades 1 1
autonomia, para a sua relação com os outros 1 1
TOTAL 1 2 2 5
Quadro10 - Benefícios
Embora os benefícios sejam tidos como muitos (1) por uma das educadoras, esta
tendência é refutada quando a Maria Martins afirma que:
(…) Penso que isso depende muito da educadora… do papel da educadora e da
sua personalidade, pois há educadoras e educadoras (…).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
forma como se propicia a sua intervenção educativa e se determina o seu papel, a par
com traços característicos da sua personalidade. A este respeito Sil (2006, p. 201)
realçou a importância das atitudes e dos comportamentos do profissional no que se
refere à natureza e à qualidade da relação pedagógica.
A Maria Martins refere:
(…) vá ajudar a que eles um dia mais tarde percebam que nem tudo no mundo é
fácil e há dificuldades (…);
(…) alertar para a existência de dificuldades e que nem sempre tudo é fácil e
[que] ao longo da vida surgem problemas, que eles devem ter a capacidade de
contorná-los (…).
Pode facilmente constatar-se pela interpretação feita do Quadro 11, que o papel
do educador na educação pré-escolar se cinge, na voz de duas das educadoras, ao que à
atenção (1), à educação e à transmissão de valores (1) se reporta.
Na voz da Ana:
(…) a criança, embora seja um ser único, com diferentes características, faz
com que cada criança tenha um gosto, uma preferência por qualquer coisa e o
educador tem de estar atento, ver que a criança não é, no fundo, algo igual às
outras, mas é um ser único e, por isso, fazer com que agrade a um, agrade a
outro e agrade a todos (…).
3. A família na educação
A terceira categoria que emergiu do corpus das entrevistas realizadas às
educadoras relaciona-se com “A Família na educação” e compreende três subcategorias:
ꞌO papel dos paisꞌ, ꞌParticipação dos pais na vida do jardim de infânciaꞌ e ꞌConsequências
da falta de trabalho colaborativoꞌ.
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
Constata-se, também, que os papéis a desempenhar por cada uma das partes muitas
vezes confundem-se, resultando, como consequência, uma lacuna nas formas e nas áreas
de intervenção, bem como no grau de participação e compromisso/responsabilidade.
Este aspeto toma sentido nas palavras da Ana, ao referir:
(…) hoje em dia (…) os pais veem o jardim de infância como um lugar que serve
para educar a criança e tudo o que acontece no jardim de infância faz com que
já não seja necessário a educação em casa (…);
(…) muitas vezes eles [pais] passam as responsabilidades para a educadora,
para as auxiliares (…).
inexperiência, e ter medo de errar, pensamos que estamos a fazer tudo bem, o
melhor que sabemos, e no fundo não (…).
Parece-me, então, que as instituições e, primordialmente, o jardim de infância,
têm o dever de promover o desenvolvimento da criança, com base em interações
positivas entre os demais intervenientes no processo educativo. Destes intervenientes,
destaca-se, indubitavelmente, a família e os pais como determinantes no
desenvolvimento da criança. Parramón Ediciones (2002a) aponta que é, em princípio, a
família que deve ter a responsabilidade principal no desenvolvimento da criança.
Contudo, não descarta o papel dos profissionais da educação, pois julga que a ação de
ambos os mediadores deve ser feita em conjunto, por permitir a construção do
conhecimento necessário para o desenvolvimento integral do educando.
Neste sentido, as OCEPE (Ministério da Educação, 1997) enumeram algumas
estratégias, facilitadoras da relação entre os pais e o jardim de infância, que procurarei
analisar de seguida, em função das inferências das educadoras.
A rigor Campos (1991, p. 32) defende que «a ideia de que a educação não ocorre
apenas nas escolas e que a política educativa não tem a ver somente com estas está a
fazer o seu caminho ainda muito lentamente».
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
4.1. Conceito
O Quadro 15 pretende sistematizar os dados referentes ao conceito de identidade:
Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
A perspetiva desta educadora vai, deste modo, ao encontro das influências que
as primeiras relações com a família e, ulteriormente, com os educadores no seio do
jardim de infância (outros significativos), e as manifestações do próprio meio, num
contexto mais alargado, tecem sobre o indivíduo. Desta situação recai a ideia de que é
com base em constituintes como o bem-estar emocional e social, resultado de ambientes
de estimulação securizantes, que a criança desenvolve sentimentos de confiança,
autonomia, iniciativa, empatia e autoconfiança, tidos como alicerces das relações
humanas para a transição para a vida adulta (Hohmann & Weikart, 1997).
A perspetiva da Ana corrobora com a definição de identidade no que ao mais
singular da pessoa diz respeito, revogando, tal como Costa (1991) a ideia de estrutura
estática (1). Realça-se, ainda, que a experiência, o meio ambiente, a história pessoal, a
maneira de agir e de estar são alguns dos elementos que dão forma e continuidade ao
indivíduo.
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Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
forma de organizar a sala 1 1
influencia muito o grupo/atividades/pessoas 1 1 2
tem a ver com o gosto pessoal 1 1
forma como cada educadora vai reagir 1 1
TOTAL 4 1 0 5
Quadro 16 – A identidade do educador
Pela leitura dos dados, é observável que as educadoras assinalaram esta
subcategoria com 5 ocorrências. Depreende-se, também com facilidade, que as
educadoras consideram que a identidade do educador exerce influência sobre o grupo,
as pessoas e as próprias atividades (2), do mesmo modo que evidenciam a relação que
existe com o gosto que manifesta por determinados aspetos (1).
Na voz das educadoras:
(…) a identidade do educador influencia muito o grupo mas também a forma
como as atividades são feitas (…);
(…) este grupo é um grupo que gosta muito de cantar, está estimulado nesse
sentido e, mais uma vez, porque a outra educadora também gostava muito de
cantar com eles e [isso] influencia (…) (Ana);
(…) à medida que fui aprendendo novas coisas (…) fui aplicando na prática, fui
experimentando, fui gostando da experiência e, essa mesma experiência, fui
passando para as outras pessoas que trabalham comigo (…) (Maria).
Tais repostas permitem inferir, tal como Simões (2004) nos indica, que o
educador é um modelo que influencia o desenvolvimento da personalidade da criança,
através do estilo de ensino que assume, dos seus comportamentos, dos gostos, das
atitudes, das crenças e dos valores que tem como premissas para si. Por isso, torna-se
necessário ter especial atenção à presença de atitudes discriminatórias, agressivas e
conflituosas que, por mais inconscientes que possam ser, exercem influências negativas
sobre as crianças (Simões, 2004).
Evidencia-se, também, que a identidade do educador reflete o que ele é enquanto
profissional: na sua forma de reagir às situações (1) e na forma como organiza a sala
(1), aspetos que são também influenciados pelo que o educador apresenta de mais
particular.
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Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
ter em atenção as características/interesses das crianças 1 1 2
TOTAL 1 0 1 2
Quadro 17 – O papel do educador
Pela sua leitura, surgem as ideias de que tanto o educador como as crianças
exercem influência um sobre o outro (1), do mesmo modo que as ideias, os interesses e
gostos das crianças são tidos em consideração nas atividades (1), evidenciando o
cuidado pela sua identidade.
Prosseguindo a análise do quadro, surge a ideia de que a identidade da criança
ocupa um lugar de destaque na educação pré-escolar (1), sendo esta o ponto central
deste nível de ensino, pois como decorre das OCEPE (Ministério da Educação, 1997) a
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
Por seu turno, a valorização de trabalho individual (1) e o desenho ao ar livre (1)
são aspetos tidos em conta por forma de promover a identidade na criança.
5. Adequação do currículo
A quinta categoria que emergiu da análise de conteúdo ao corpus de informação
das entrevistas realizadas às educadoras foi a que se reporta à “Adequação do
currículo”. Pode afirmar-se, numa panorâmica geral, que esta categoria se relaciona com
a forma como as educadoras adequam o currículo ao grupo de crianças.
A respetiva categoria compreende as subcategorias: ꞌPerspetiva curricularꞌ, ꞌO
documento Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar tido como uma
referênciaꞌ e ꞌAdequação das atividadesꞌ, as quais passo a analisar interpretativamente,
uma a uma, para uma melhor compreensão das mesmas.
Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
projeto 1 1 1 3
acho que se consegue trabalhar em todas as áreas de conteúdo 1 1
temos um tema e a partir desse tema vão surgindo outros trabalhos 1 1 2
seguindo uma linha é mais fácil tanto para eles como para nós 1 1
fica ao critério de cada uma saber como fazer 1 1
TOTAL 2 3 3 8
Quadro 19 – Perspetiva curricular
A metodologia de trabalho de projeto revelou-se como um dos pontos de vista
predominantes no discurso das educadoras (3). Deste modelo curricular sobressai o
facto de que o mais importante é atender as necessidades e os interesses das crianças,
com um papel ativo no seu próprio processo de desenvolvimento, prevendo, além da
evolução intelectual da criança, melhorar a sua compreensão em relação ao mundo que
a rodeia (Katz & Chard, 1997).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
Pela leitura do Quadro 19, verifica-se ainda que a Maria considera que a
possibilidade de se poder trabalhar e articular as diferentes áreas de conteúdo (1) é uma
mais-valia; vendo a Maria Martins, nesta metodologia de trabalho, uma linha
orientadora de trabalho (1).
Pela análise do Quadro 20, surge a ideia de que as OCEPE são vistas como uma
referência (2), sendo nesse sentido destacada a ideia de suporte/ajuda (1), também ao
nível da psicologia (1), como o expresso nas palavras das educadoras:
(…) temos esse documento que nos ajuda (…) é um suporte para nos apoiar
nesse sentido (…) (Maria Martins);
(…) não só ao nível dessas orientações mas também a nível da psicologia (…).
(Ana).
(…) os adultos que a acompanham têm que saber as capacidades que aquela
criança tem, em que fase etária está para poder (…) adaptar todas as atividades
àquela criança (…).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
(…) ao final da semana eu vejo com eles [crianças] a avaliação e faço com que
(…) para a próxima semana trabalhem mais [determinada área] para que eles
tenham esse sentido de não descurar nenhuma área (…).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
(…) tenho essa forma organizada muito para eles serem autónomos e para
escolherem no início da manhã o que querem fazer, quais os espaços em que
querem brincar ou as atividades que querem fazer (…) tenho essa rotina de
manhã (…) (Maria Martins);
(…) até às dez horas, dez e meia, são chamadas as atividades livres (…) (Ana);
(…) o tempo está todo dirigido (…) por fases do dia (…);
(…) a partir das dez horas, como já todas as crianças chegaram começam a
haver algumas atividades dirigidas, ou dentro das expressões, ou então outra
atividade dirigida (…);
(…) a parte da tarde são sempre tardes livres de brincadeira (…) (Maria).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
há valores 1 1
transmitir regras 1 1 1 3
incentivamos sempre a que sejam autónomos 1 1
muito importante 1 1
é importante que as crianças saibam agir/comportar-se corretamente 1 1
conseguirmos mudar comportamentos 1 1 2
tenhamos alguma influência [no desenvolvimento da personalidade] 1 1
no desenvolvimento da personalidade não 1 1
depende um bocado da nossa postura/daquilo que lhes passamos 1 1
é a tal semente que nós podemos semear nas crianças 1 1
dar-lhe determinadas razões para que ela entenda 1 1
TOTAL 3 7 4 14
Quadro 25 – O papel do educador
Constatável pela observação do Quadro 25, as educadoras em muito se
expressaram para definir de que forma o educador desempenha um papel importante no
desenvolvimento da criança (14). Ressalta o facto de que a transmissão de regras (3) é
um aspeto que prima na intervenção destas educadoras, sendo estas fundamentais para
conseguir mudar comportamentos mais tarde (2).
Nos seus discursos:
(…) as regras (…) acabam por ser todas influenciadas (…) o mais descontraído,
o menos descontraído, o ambiente pacífico, menos pacífico, formas de aprender
diferentes (…) (Ana);
(…) desenvolver nelas [crianças] o saber estar com o outro, o saber respeitar, o
saber esperar (…) são tudo regras que são muito trabalhadas no jardim de
infância, porque se trabalha em grande grupo (…) (Maria);
(…) Penso que o chamar a atenção, o estabelecimento de regras, o saber
comportar-se à mesa, o saber comportar-se com os colegas, o pedir desculpa, o
dizer obrigado… fazem parte do dia-a-dia de uma sala e depois na sociedade é
importante que as crianças saibam agir corretamente, saibam comportar-se
dessa forma, porque cada vez mais nós vemos jovens rebeldes (…) (Maria
Martins).
As educadoras veem na autonomia das crianças um forte aspeto a ser
incentivado nas suas práticas (1), sendo na perspetiva de Bárrios et al., (s/d) a
autonomia pessoal um valor patente nos objetivos educativos deste nível de ensino.
É neste sentido que as mesmas referem, ainda, que é importante transmitir às
crianças o porquê de ser agir de determinada forma (1), para mais tarde toda essa
preocupação dar frutos e a criança crescer no seu verdadeiro entendimento (1). Na voz
das educadoras:
(…) se é o nosso papel e se estamos com aquele grupo de crianças achamos que
[se] para nós é correto agir de determinada maneira (…) é importante que
transmitamos isso para depois conseguirmos mudar comportamentos àquelas
crianças que se comportavam menos bem (…) (Maria Martins);
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
(…) dar-lhe determinadas razões de forma a que ela entenda e que ela vá
crescendo com essas mesmas regras que são importantes para quando ela for
adulta saber viver em sociedade (…) (Maria).
Embora uma das educadoras tenha referido inicialmente que o educador não
desempenha um papel importante no desenvolvimento da personalidade da criança (1),
esta indica nas observações ulteriores que, de facto, o educador tem influência nesse
sentido (1), dependendo da sua postura e dos princípios morais que tem para si como
referências (1).
Na voz da Maria:
(…) no desenvolvimento da personalidade não (…);
(…) eu acredito que nós [educadoras] tenhamos alguma influência [no
desenvolvimento da personalidade] e que (…) consigamos semear algo de bom
ou algo de mau (…);
(…) nós também podemos semear coisas más nas crianças, depende um bocado
da nossa postura e daquilo que lhes passamos, dos princípios morais, de uma
série de princípios que fazem parte da educação (…).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
Maria
INDICADORES/OCORRÊNCIAS Ana Maria TOTAL
Martins
o meio familiar (…) é o que tem maior força 1 1
a criança já vem, de certa forma, formatada 1 1
TOTAL 0 2 0 2
Quadro 26 – O meio familiar
Pelo discurso proferido, somente uma das educadoras teceu as suas observações
a este respeito, revelando que é o meio familiar aquele tem maior força na formação da
criança (1), uma vez que esta quando ingressa na educação pré-escolar já vem
formatada desse meio (1).
Pires (2007, p. 7) refere, neste mesmo seguimento, que são «as vinculações mais
precoces que vão permitir o desenvolvimento de personalidades equilibradas», pois em
função dos primeiros tempos de vida que ficam registados no subconsciente do
indivíduo, a forma de agir e comportar-se é influenciada. Assim sendo, a qualidade da
primeira vinculação é a responsável por determinar a segurança básica que permite à
criança crescer e desenvolver-se em plenitude, contributos que determinarão a
construção de uma personalidade rica e equilibrada. Do mesmo modo, vai permitir que
a criança construa uma autoestima positiva, consequência do sentimento de ser amado
advindo das primeiras relações com a figura materna. Por fim, a criança aprende a amar,
uma capacidade que vai permanecer ao longo da sua vida, se as primeiras vinculações
da criança forem positivas.
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
TOTAL 5 9 6 20
Quadro 27 – Estratégias e atividades desenvolvidas
Debruçando-nos sobre os dados do respetivo quadro, destacam-se 20 ocorrências
como sendo as respostas assinaladas das educadoras. Sobressai a realização de jogos (3)
como uma das estratégias e das atividades potenciadoras do desenvolvimento da
criança, pois nas suas palavras:
(…) Jogos… gosto muito de fazer jogos. Jogos em grupo (…) (Maria Martins);
(…) os jogos de autoconhecimento, nós acabamos por conhecer a outra pessoa e
ficar muito mais perto dela e (…) estas atividades estimulam isso (…) (Ana);
(…) fazem-se perfeitamente jogos sociais, onde são submetidas regras que eles
têm de respeitar (…) (Maria).
Parramón Ediciones (2002b) afirma que através dos jogos, nos seus momentos
implícitos de brincadeira, intervêm um conjunto de fatores de ordens várias, que
contribuem para a construção de si próprio e do meio ambiente. Os jogos em grupo
ganham aqui especial ênfase pelas regras que têm implícitas. Ou seja, de acordo com
Kamii e De Vries (1991), para o desenvolvimento equilibrado do jogo ambos os
participantes têm de aceitar, cooperar e seguir as regras, ressalvando Martins (2008, p.
32) que «deverá ser um acto aprazível para a criança, a fim de que esta a volte a cumprir
e esse cumprimento entre na sua rotina».
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A ocorrência expressa por uma das educadoras evidencia a sua real preocupação
com a importância de saber partilhar por todas as crianças (1). A consciência de que a
partilha deve ser fomentada entre o grupo, do mesmo modo que deve ser vista como
algo natural e importante para a vida em sociedade recai na voz da Maria:
(…) o saberem (…) que há uma caixa de marcadores e de lápis de cera, e essa
caixa tem de andar de um lado para o outro, tem de ser partilhada por todos(…);
(…) eles têm de se habituar a partilhar (…);
(…) são estratégias (…) que se aplicam, ao seu desenvolvimento social de forma a
que eles saibam o que é a partilha (…);
(…) trazem (…) bolos de casa, bolachas, saberem que chegam mas que também têm
de dar bolachas aos amigos (…);
(…) saberem partilhar também aquilo que trazem de casa (…);
(…) saberem emprestar (…);
(…) tudo isto é-lhes passado diariamente (…) a importância de partilhar, do
emprestar, hoje empresto eu e amanhã emprestas tu (…).
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
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CAPÍTULO IV APRESENTAÇÃO E ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS DADOS
A intencionalidade que está na base da ação educativa constitui-se, ela só, como
um requisito fundamental para atender tanto cada criança em particular, como o grupo
no seu todo. Neste sentido, proporcionar-lhes momentos agradáveis, estimulantes e
significantes, ao invés de demonstrar atitudes negativas e pessimistas constituem-se
como determinantes para a construção de um autoconceito e autoimagem positivas na
criança. Não nos podemos esquecer, neste âmbito, que as avaliações e opiniões tecidas
sobre a criança são determinantes para a construção das representações sobre si própria.
Considera-se também a gestão dos materiais, dos espaços e do tempo como
referências que contribuem para a construção da identidade na criança. Quer isto dizer
que possibilitar à criança o acesso aos materiais, deixando-a optar e utilizar o que
pretende são aspetos que promovem a sua autonomia, um objetivo que a este nível de
ensino respeita. Do mesmo modo, o facto de se incentivar a reutilização de materiais e
de se procurar utilizar novas técnicas e suportes constituem-se como aspetos que
apontam para uma visão conscienciosa de que os materiais podem ser reestruturados, as
suas potencialidades desdobradas e, assim, possibilitam-se novas situações desafiadoras,
atentas às necessidades da criança.
Perspetivar o ambiente educativo sem considerar as acrescidas potencialidades
que o espaço nos oferece não faz sentido algum, no âmbito deste estudo. O espaço, por
si só, traz inúmeras oportunidades educativas e de crescimento para a criança. No
entanto, repensá-lo sob o ponto de vista dos interesses e das necessidades da criança é
repensá-lo enquanto contributo para o seu desenvolvimento. Surge, nesta linha de
pensamento, a visão do espaço enquanto elemento flexível do ambiente educativo, que
se vai moldando e redesenhando consoante se forem conhecendo as necessidades e os
interesses da criança. No entanto, e considerando o espaço como um elemento que é
pensado, este é concebido por forma a levar as crianças a ser responsáveis pela
arrumação do mesmo.
Por seu turno, a organização temporal ganha aqui sentido quando se considera a
existência de referências temporais estáveis que servem de guia para as crianças,
possibilitando-lhes, pelo ritmo, antever o que se sucede, um passo rumo à autonomia, à
segurança e à confiança. Considerando, do mesmo modo, a gestão equilibrada entre as
atividades de cariz livre e orientadas, estas são perspetivadas como critérios básicos
para a organização temporal, que promovem por um lado a autonomia da criança que
decide o que pretende fazer e, por outro lado, dá asas para se abordarem aspetos do
currículo.
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