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INTRODUÇÃO
1
NASCIMENTO, Patrícia Bezerra de Medeiros. O Direito de Família no Novo Código Civil. Disponível
em:<.http://www.mp.rn.gov.br/bibliotecapgj/artigos/artigo09.pdf>. Acesso em 09.ago.2010.
2
AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n.
191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/4580>. Acesso em: 10 ago. 2010.
3
Embora caiba ao Estado intervir nas relações de direito privado, este será
regulado pelo Direito Civil, atento aos ditames da Constituição Federal. Agora,
qualquer norma jurídica de direito das famílias exige a presença de fundamento de
validade constitucional. Essa é a nova tábua de valores da Constituição Federal,
especialmente no tocante à igualdade de tratamento dos cônjuges. Tanto o marido como
a mulher podem livremente praticar todos os atos de disposição e de administração ao
desempenho de sua profissão. Foi afastada a concepção antiga de que a mulher era
mera colaboradora do marido na administração dos bens, na chefia da sociedade
conjugal e no exercício do poder familiar.6
Neste contexto, o Estado Democrático de Direito cuidou de refletir o princípio
da dignidade da pessoa humana como vetor primordial, impedindo que houvesse
injustas discriminações. Com essa ampliação de conceitos, termos que restringiam as
relações afetivas e os vínculos parentais, tais como, adulterino, impuro ou ilegítimo não
são mais acolhidos.
Visto isso, nota-se que o conceito de família foi transformado com as mudanças
ocorridas na sociedade, sendo conferida igualdade e liberdade entre os membros que
compõem aquela, reconhecendo a existência de outras entidades familiares, inclusive a
família monoparental, família construída entre filhos sem a presença dos pais, e aquelas
chamadas de união estável, oriundas de uniões havidas fora do casamento, passando a
adquirir visibilidade, assegurando assistência, proteção e medidas assecuratórias
criadas, inclusive, por lei infraconstitucional.
6
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5ª Ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.p.
36.
5
família e a protegia, já a mulher por sua vez, cozinhava, cuidava da casa e dos filhos,
sendo submissa ao marido7.
Nesse período, não existia normas que regulamentassem o casamento, mas as
famílias que se formavam estabeleciam vínculos baseados no desejo sexual e no afeto.
Contudo, surge a figura da igreja católica, forte influência para as sociedades que se
formavam, levando o Estado a regulamentar tais relações, de modo plenamente imposto
pelos cânones, normatizando a indissolubilidade do vínculo do casamento.8
O Estado, como interventor das relações jurídicas, por muito tempo interveio de
modo desenfreado na esfera do direito de família, restringiu a vontade daqueles que
decidiam construir uma família, sendo essa possível apenas com a existência do
casamento civil, o que obstava em razão do custo e da indissolubilidade, como forma
retrógada de penalizar quem daquela união, deixou de amar. Com as constantes
mudanças, passou a redefinir seus conceitos, de modo a ampliá-los, no que concerne ao
direito de família. Conceitos contrários a isso, denotam a insensibilidade no sentido de
impedir outras formas de constituição familiar.
Em meados do século XX, essas prerrogativas começaram o tomar novos rumos,
conferindo as mulheres igualdade entre os cônjuges, deixaram de diferenciar filho
legítimo e ilegítimo, considerando que filhos teriam direitos iguais independentemente
de serem dentro do casamento ou não, e ainda, aprovando o divórcio9.
Em face de todas essas construções históricas, nota-se o direito como
instrumento pelo qual o estado organiza a sociedade, protege os indivíduos, exigindo
destes, condutas sensatas, coerentes com o bom convívio, cabendo ainda, garantir o
direito à liberdade e o direito à vida.
Nesse sentido, percebe-se a amplitude do direito, na sua função jurídica de
abraçar e proteger os mais diversos casos, muitas vezes implícitos no texto legal, ou se
quer ainda regulado, diante da pluralidade dos casos.
7
ARRUDA, José Jobson. História Integrada da Pré-História ao fim do Império Romano. São
Paulo:Ática, 1995. V.1, pp.17-19.
8
GOMES, Anderson Lopes. Concubinato adulterino: uma entidade familiar a ser reconhecida pelo
Estado brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1360, 23 mar. 2007. Disponível
em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/9624>. Acesso em: 08 nov. 2010.
9
ARTIGO 227, § 6º, CONSTITUIÇÃO FEDERAL DA REPÚBLICA. Os filhos, havidos ou não da
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação”, redação encontrada também no Código Civil Brasileiro
vigente, no art. 1.596.
6
O sistema falha quando o operador se depara com casos ainda não tutelados, abrindo
espaço para lacunas, momento em que a ordem jurídica ainda não se dispôs a legislar
sobre determinado caso ou ainda, não tenha se deparado com ele.
Com toda essa gama evolutiva, adotando relevantes aspectos da construção social,
Silvio Rodrigues, de modo restrito se inclina a afirmar que o termo família é aquele que
abrange todas aquelas pessoas que guardem entre si o vínculo sangüíneo, ou seja,
aquelas que brotem de um mesmo tronco ancestral.10
Com fulcro nos preceitos da Constituição Federal, Carlos Roberto Gonçalves, de
forma concisa, levanta uma visão sociológica e constitucional, quando diz ser um
núcleo fundamental e estrutural para a organização social, sendo essencial e portanto,
merecedora de proteção estatal.11
Já Paulo Lôbo, de maneira ordenada, corrobora uma visão sobre família de acordo o
fenômeno da repersonalização, que refuta os interesses econômicos, políticos, religiosos
e procracionais e a molda perante a ótica dos valores inerentes à pessoa humana,
assumindo uma nova função social que visa solidificar a dignidade.12
Visto isso, não se vislumbra da sociedade um conceito que possa ser inacabado e
solidificado, ou seja, os conceitos serão soltos, basta que se adequem conforme a
situação apresentada, aos vários tipos de família que possam ser relevantes para o
direito, considerados através dos vínculos ou dos grupos que coexistem separadamente
conforme escolha. Eis a razão de um ordenamento protetor.
Conforme o ordenamento jurídico vigente, depreende-se três tipos de entidades
familiares, tais quais, o casamento, a união estável e a entidade monoparental. O
Código Civil elenca de forma expressa o casamento (arts. 1.511 e s.) e a união estável
(arts.1.723 a 1.726) como entidades familiares.
Simone Ribeiro amplia o conceito de família perante o texto da Constituição
Federal de 1988:
Com a Carta Magna de 1988, deixando de existir o requisito do
casamento como fundamental para a legitimação da família, alargou-
se sobremaneira a sua conceituação, modificando-se, inclusive, o
conceito de Direito de Família, antes profundamente atrelado aos
efeitos do casamento, considerado o centro irradiador de suas normas
básicas.13
10
RODRIGUES, Sílvio. Direito de Família. 27ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002.p.4
11
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 7ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.17
12
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.11
7
13
RIBEIRO, Simone Clós Cesar. As inovações constitucionais no Direito de Família. Jus Navigandi,
Teresina, ano 7, n. 58, 1 ago. 2002. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/3192>. Acesso
em: 13 ago. 2010.
14
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil, Direito de Família. V VI. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2005.
8
Com efeito, as famílias querem avançar de acordo a evolução do homem, sem que
precisem suportar conceitos estáticos, desprendidos de valores, tudo em razão de uma
sociedade que se modifica a todo tempo, recheada de inúmeros costumes e os mais
variados gostos, e que reclama um desenho jurídico baseado na realidade social. Como
se quer, com base no princípio do pluralismo familiar, o Estado alarga a possibilidade
15
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.72-73.
16
DIAS, Maria Berenice. Família, ética e afeto. Disponível em<http://www.ibdfam.org.br/?
artigos&artigo=119> Acesso em 14.ago.10.
17
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5ª Ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.p.
28.
18
FARIAS, Cristiano Chaves de. A família na pós-modernidade: em busca da dignidade perdida da
pessoa humana. Disponível em <.http://www.revistapersona.com.ar/Persona09/9farias.htm>.Acesso em:
16.ago.2010.
9
aplicabilidade do conceito justiça, que está acima de demais preceitos que não sejam
previstos na Carta Magna, de modo a reiterar decisões na mesma linha de interpretação.
Servem para estabelecer uma ponte entre as normas pré-fixadas e o caso concreto.
Deste modo, será no direito de família que mais haverá reflexo dos princípios
eleitos pela Constituição Federal, que consagrou como fundamentais valores sociais
dominantes. Os princípios que regem o direito de família não podem distanciar-se da
atual concepção da família, dentro de sua feição desdobrada e múltiplas facetas. A
Constituição consagra alguns princípios, transformando-os em direito positivo,
primeiro passo para sua aplicação.21Busca-se com estes a concretização dos parâmetros
visados pelos novos conceitos de famílias.
Decorre do artigo 1º, III, da Constituição Federal de 1988, o qual logra respeito
à pessoa, independente de cor, classe social, religião, nível escolar, entre outros fatores,
vistos casuisticamente. O qual impõe respeito à pessoa, independente de cor, classe
social, religião, raça, nível escolar, etc. De fato, não há como pensar no direito de
família sem que não esteja atrelado aos Direitos Humanos.22
Consoante ensinamento da doutrinadora Carmen Lúcia Antunes Rocha, para
quem este seria um princípio que surge para vislumbrar a justiça conforme
entendimento:
21
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5ª Ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.p.
59.
22
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais orientadores do direito de família. Belo
Horizonte: Del Rey, 2006.p.37.
23
ANTUNES ROCHA, Carmen Lúcia. O princípio da dignidade humana e a exclusão social. In:Anais do
XVVI
Conferência Nacional dos Advogados – Justiça: realidade e utopia, Brasília: OAB, Conselho Federal,
2000.p.72.
12
Deste modo, a mais relevante conotação é de que tal princípio estende proteção
às entidades familiares, e deste surge os demais princípios, como liberdade, igualdade,
solidariedade, entre outros; estabelece um leque de deveres ao Estado no sentido de
permitir e outro leque no sentido de conceder, ou seja, visa um direito oponível aos
próprios membros da família, e assim, tenham suas dignidades respeitadas, e nesse
preâmbulo, inteiramente relacionado ao princípio da Solidariedade,26 como se verá
adiante.
24
SOUSA, Rabindranath V. A. Capelo de. O direito geral da personalidade. Coimbra: Coimbra Editora,
1995, p.15.
25
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição
Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 60.
26
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.p.38-39.
13
Por muito tempo, como já visto, o casamento foi considerado o único modelo
de entidade familiar, embora fossem conhecidos outros modelos à margem dos
conceitos moralmente aprovados.
16
27
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.73.
28
GOMES, Anderson Lopes. Concubinato adulterino: uma entidade familiar a ser reconhecida pelo
Estado brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1360, 23 mar. 2007. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/9624>. Acesso em: 14 out. 2010.
29
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. P. 368.
30
QUADROS, Tiago de Almeida. O princípio da monogamia e o concubinato adulterino. Jus Navigandi,
Teresina, ano 9, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/5614>. Acesso
em: 14 out. 2010.
17
homem teria um valor, como condição humana, não devendo ser usado como meio
para atingir um fim e sim, devendo ser livre da possível coisificação, assumindo
fortemente sua postura como um ser racional, não suscetível de preço, inestimável,
insubstituível.31
Portanto, todo ser humano tem dignidade porque tem razão e assim, para a
ética, todos os seres possuem o mesmo valor.
Desta forma, no que pertine as escolhas, consoante interpretação do artigo 226,
§ 7º , da Constituição Federal, o casal será livre para escolher seu planejamento
familiar, mas deve fazê-lo em obediência ao princípio da dignidade da pessoa humana,
cuja observância confirmará o intérprete apenas em cada situação concreta, de acordo
com a equidade, que leva em conta a ponderação dos interesses legítimos e valores
adotados pela comunidade em geral.32
Paulo Lôbo, um dos mais renomados estudiosos do Direito de Família da
atualidade, menciona de forma brilhante:
O Estado, a família e a sociedade devem propiciar os meios de
realização da dignidade da pessoa humana, impondo o
reconhecimento da natureza de família a todas as entidades com fins
essencialmente afetivos. A exclusão de qualquer delas, sob impulso
de valores outros, viola o princípio da dignidade da pessoa humana.33
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
v.1.p.139-140.(Coleção Os Pensadores).
32
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.51.
33
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.81.
34
LÔBO, Paulo Luiz Neto. Famílias. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.52.
35
LÔBO, Paulo Luiz Neto. A repersonalização das relações de família, texto revisto. Revista de Direito de
Família, Porto Alegre: Síntese, n.24, p.136-156, jun./jul. 2004.
18
36
AZEVEDO, Antônio Junqueira. Réquiem para uma certa dignidade da pessoa humana. In: CUNHA
PEREIRA, Rodrigo da (Coord.). Anais do III Congresso Brasileiro de Direito de Família – Família e
cidadania. O novo CCB e a vacatio legis. Belo Horizonte: Del Rey, IBDFAM, 2002, p.329-351.
19
O firmamento de todo esse propósito vai mais além quando diante do propósito
de construir-se uma entidade familiar, marcada pela solidariedade, companheirismo e
ajuda mútua que se busca no eixo familiar e não somente o interesse econômico, se
quer admitido o interesse de sustentabilidade, invocando os laços afetivos para um leal
convívio familiar. Por essas e outras, tem sido levantada, sobremaneira, as
exposições fáticas das relações de convívio afetivo marcadas pelos laços, marcadas
essencialmente pelo afeto. Em um artigo realizado para coleção dos Estudos em
homenagem a Paulo Luiz, a doutoranda Catarina de Oliveira mostra isso de forma
clara, quando diz:
Não restam dúvidas de que a afetividade é socialmente aceita como
aquilo que justifica o surgimento e a manutenção das famílias e, em
sendo assim, enraizado o entendimento de sua presença, ela Será no
mínimo, socialmente presumida.38
37
GOMES, Anderson Lopes. Concubinato adulterino: uma entidade familiar a ser reconhecida pelo
Estado brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1360, 23 mar. 2007. Disponível em:
<http://jus.uol.com.br/revista/texto/9624>. Acesso em: 1 .nov. 2010.
38
OLIVEIRA, Catarina Almeida de. Refletindo o afeto nas relações de família. Pode o direito impor
amor? In: Famílias no Direito Contemporâneo – Estudos em homenagem a Paulo Luiz Netto Lôbo.
Salvador: Jus Podivm, 2010, p.52.
39
LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações de família. Revista Brasileira de Direito de
Família. Porto Alegre: Síntese, IBDFAM, v.6, n.24, p.155.jun./jul.2004.
20
Destarte, leva-se a vislumbrar que não será qualquer afeto que reputar-se-á
suficiente para caracterizar uma entidade familiar, mas sim um afeto que valha como
ponto para ligar outras necessárias características referentes ao âmbito familiar, ou
melhor, que seja o principal, mas que reúna necessariamente outros requisitos também
de relevância, e nesse sentido, o brilhante Paulo Lôbo explicita de modo espetacular
quais seriam esses outros requisitos que juntos, formariam uma entidade familiar,
quais sejam, a ostensibilidade e a estabilidade, explicando que a afetividade será o
fundamento, a estabilidade a comunhão de vida, por conseqüência, excluiria do
conceito de entidade, os relacionamentos casuais, e por último, a ostensibilidade que
demonstra a necessária publicidade do relacionamento.41
Em suma, para o renomado jurista, o princípio da afetividade não teria um fim
em si mesmo, embora muito forte e inerente a toda relação familiar, é ainda necessário
que se uma aos demais requisitos, para que de forma clara, seja notório o conceito de
família.
40
BARROS, Sérgio Resende de. A ideologia do afeto. Revista Brasileira de Direito de Família. Porto
Alegre: Síntese, IBDFAM, v.4, n.14, p.9, jul./set.2002.
41
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Entidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus.
In: CUNHA PEREIRA, Rodrigo da (Coor.). Anais III Congresso Brasileiro de Direito de Família –
Família e cidadania – O novo CCB e a vacatio legis. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p.91.
42
21
Consoante rica leitura, nota-se que o termo poliamor visa definir que os laços
criados a partir de um modelo liberal, não resulta de uma intenção promíscua, mas de
algo que possa ser permitido, visualizado dentro do conceito de liberdade, algo aceito.
Assim, os poliamoristas se dão bem, se respeitam, não pregam a promiscuidade e não
tem a relação sexual como prioridade.
Assevera ainda, que o objetivo do poliamor não é pregar a política do desapego,
nem tampouco, magoar alguém, ou tão somente ter fins sexuais, mas sim,
primordialmente, pregar a política do respeito, das causas possíveis em que se pode
amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, inclusive da possível ligação entre termos
contrários, como interação e independência das relações existentes, pois ao mesmo
tempo em que estão sintonizadas, cada uma existe por si só, sem depender da outra, sem
dar cabimento aos ciúmes, colocando em evidência a segurança entre os envolvidos e a
total liberdade, seja para qual for a decisão.43
O questionamento concerne diante do ponto de vista jurídico, para o qual
procura respostas para sentimentos nascidos dos relacionamentos, se esses provocariam
adversidade entre os conviventes ou se trariam vantagens, pontos positivos, pois como
se sabe, muitos não lidam bem com a situação, não aceitam a dicotomia de amar mais
de uma pessoa, o que pode trazer preocupação no tocante a segurança, seja de quem ta
vivendo ou dos envolvidos indiretos, ressaltando a possibilidade de haver a pluralidade
do amor.
Estuda-se quais as conseqüências jurídicas trazidas para o seio da sociedade e
mais, da família como merecedora de proteção? Caberia ao Estado impor uma conduta
que há muito tempo não é percebida? O repúdio tira as conseqüências negativas? Essas
são as perguntas diante de casos concretos em que não deixam de crescer
numericamente, como se verá, mais adiante em capítulo próprio.
o da procriação. O interesse era tão intensificado, que por vezes, ocorria do varão
emprestar sua esposa para que esta pudesse concretizar o intento procriador de outro
homem também, sendo ladeados notoriamente, outros preceitos, como a honra, o
sentimento, enfim, a moral.44
Todavia, com o desenvolvimento de inúmeras relações, os que naquela época
viviam, notavam a crescente taxa populacional, com isso percebiam a necessidade de
regular tudo aquilo que eles tinham por bens materiais, porém, se deparavam com a
incerteza da paternidade, e assim, com a acumulação de bens, não se saberia como
proceder a herança, restando dúvidas, buscando com o casamento uma forma de
regulamentar tais direitos sucessórios. 45
Ademais, extrai-se da brilhante obra de Friedrich Engels,46 apontamentos de
significativa notoriedade, em relação ao modo de vida primitiva e a sua ingerência, ou
seja, a sua influência nos dias atuais, quando a partir de desenvolvimentos de métodos
de sobrevivência, inovações de objetos e técnicas de agricultura, o homem se interessou
a demarcar o espaço, a querer dividir o que consideravam por bens materiais, e assim,
por mero interesse patrimonial, criaram o matrimônio, para que assim, pudesse
controlar a sexualidade feminina e de pronto, conhecer a paternidade, logo, o
matrimônio que um dia foi em grupo, deixou de existir, o que um dia poderia ser
considerado por promíscuo, não mais deveria existir no meio de quem resolvia
demarcar tudo aquilo que pudesse fazer parte do seu patrimônio, enfim, sustentava a
existência de um sistema de parentesco estagnado, repare:
44
Q. F. M. O casamento. Blogspot. 27. Ab. 2004. Disponível em <http://roma-
antiga.blogspot.com/2004/04/o-casamento-o-casamento-para-os.html>. Acesso em: 15. nov. 2010.
45
MÉNDEZ, Natália Pietra. Monogamia e Heterossexualidade: Um breve apanhado histórico sob a ótica
de gênero. Procempa. Disponível em:
<http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/comdim/usu_doc/monogamia_e_heterossexualidade.pdf.
Acesso em:15.nov.2020.
46
Toda essa batalha explicativa de Engels passou, e hoje resta os mais fortes
questionamentos de tudo aquilo que ele levantou de forma única e espetacular, cabendo
a sociedade atual, vislumbrar aquilo que julgam mais importante para o convívio social
e para a felicidade que tanto se almeja, seja lá qual for a fase que se esteja.
Para tal fatos alegados, vislumbra-se o princípio da monogamia, ou seja,
princípio não expresso na Constituição Federal, mas contido na interpretação
sistemática das normas constitucionais como preceituam alguns estudiosos, como Paula
Carvalho Ferraz, que menciona em seu precioso artigo:
Já para a renomada autora Maria Berenice Dias, de maneira mais acertada, trata-
se de uma função reguladora, em que visa estabelecer limites nas relações
matrimonializadas, no intuito de proibir algo que anteceda impedimentos, porém, não
tão avante quanto o que é permitido, pois a própria Constituição não proíbe vínculos
alheios ao casamento, nem restringe direitos aos filhos havidos fora dele, muito pelo
contrário, os tratam de forma igual, não passando de uma regra com preceitos morais,
exclusivos as mulheres, porém, não o encontrando na prática, não cabe ao Estado
regular aquilo que não lhe cabe, como em razão disso, crer que na sociedade ocidental
as regras que não proibidas, sejam atendidas.48
47
FERRAZ, Paula Carvalho. O concubinato e uma perspectiva de inclusão constitucional. Ibdfam. 28.
Nov. 2008. Disponível em: < http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=470>. Acesso em: 16. Nov.
2010.
48
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5ª Ed.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.p.
60-61.