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Acho que o texto nos oferece diversos pontos para aprofundar a análise, mas

quero destacar três momentos que tem relação com algumas discussões que já
tivemos em aula:

1) Acho importante reafirmar a ideia desse neosujeito não reduzido à ideia do


incentivo ao empreendedorismo, discurso que vemos com tanta força nos
tempos atuais, mas sim como a subjetivação do modelo empresarial pelos
sujeitos.

Dardot e Laval fazem uma revisão do neoliberalismo não apenas como uma
continuação do liberalismo mas como um novo paradigma social. Como eles citam no
começo do texto, não se trata de situações que forçam o sujeito a funcionar de acordo
com o sistema mas, sim, de um novo sujeito que é produzido pelo dispositivo de
desempenho/gozo.

Se com a Fontenelle nós vimos que a liberação das pulsões foi base do
desenvolvimento do capitalismo agora vemos a integração, a essas funções, do
dispositivo da eficácia.

Se no capitalismo, vestir a camisa da empresa, e o conformismo com a obrigação do


trabalho, eram suficientes. Agora falamos do pós-comprometimento, a necessidade de
ir além de si mesmo.
E, se no capitalismo, os anteparos disciplinares suprimiam o gozo a fim de um
“equilíbrio” social, a nova norma trata-se do desempenho máximo.

“A máquina econômica não pode funcionar em equilíbrio e, menos ainda, com perda, ela tem
que mirar no além”

“além do equilíbrio para operar na lógica da intensificação e da limitação”

Obriga os indivíduos a irem além das suas capacidades atuais. E esse discurso iguala
todos os sujeitos diante das novas obrigações.

Isso me fez pensar muito na síndrome de burnout. Que, entre os sintomas estão
depressão, citado pelos autores como o outro lado do desempenho, mas também do
sentimento de incapacidade, que se relaciona com a norma da competição, da
desmobilização e a individualização da responsabilidade.

Esse ponto me fez lembrar de um documentário chamado Take your pills, disponível
na Netflix, que enfatiza o uso de medicamentos, como Aderrall para produzir mais
rápido e com mais foco. Medicamento que deveria tratar dda, é amplamente
difundido entre os esportistas, mas que hoje é extremamente comum entre
estudantes e profissionais do mercado. No documentário eles citam exemplos de
funcionários do mercado financeiro e Vale do Silício.
– possível falar além do sofrimento no trabalho, da desmoralização daqueles que
desempenham menos que a média, que os leva a experimentar a droga
2) Mas gostaria de voltar à individualização. Entre os diagnósticos que os autores
apresentam no textos, eles falam da dessimbolização. Onde nenhum princípio
ético, nenhuma proibição parece resistir à exaltação de uma escolha infinita e
ilimitada.
Num dia ele é convidado a trocar de carro, no outro de parceiro, no outro de
identidade, ao sabor das suas satisfações e insatisfações.
O que tem relação com o que conversamos outro dia a partir da apresentação
da Thaís, das relações voláteis do Tinder e do amor nos tempos do capitalismo
da Eva Illouz.
Existe uma fantasia de onipotência e tudo passa pelo dispositivo da eficiência.
Todas as escolhas desse neosujeito.

Por outro lado a supressão do gozo agora parte do próprio sujeito, a partir dos
valores empresariais.
A empresa passa a ser a principal instituição distribuidora de regras. Mas essas
exigências não possui sujeito, uma fonte identificável. O que indica uma
autocoeração.

“A perda não é realmente uma perda, uma vez que é decidida pelo
próprio sujeito” (mais uma vez a responsabilidade individual, própria da
lógica neoliberal)

“O trabalho não é castigo, é gozo de si por intermédio do desempenho


que se deve ter. Não há perda, porque é imediatamente “para si” que o
indivíduo trabalha.

O que talvez nos ajude a entender porque trabalhos uberizados, por exemplo,
não fazem mais questão de vínculos CLT. A liberdade tornou-se uma obrigação do
desempenho.

3) Se uma das saídas para essa lógica, além da individualização, seria a partir deu
uma mobilização coletiva, nós vemos que a desmoralização atua na corrosão
dos laços sociais. Quando a principal qualidade passa a ser a mobilidade,
prevalece a tendência ao desapego.

Agora que o sujeito não deve mais nada a ninguém, como manter juntos esses
sujeitos?

Os autores também citam que as equipes de trabalho são estritamente operacionais e,


hoje em dia, é muito difundido no mercado as metodologias agéis como modelos de
trabalho. Equipes multidisciplinares, com estregas escalonáveis + produtividade –
menor tempo.

Mas acho que também vale destacar o recado que deixam no final do capítulo. Que
não adianta mais lamentarmos a crise das instituições. Que a crítica a mercantilização
já não é suficiente. Que é melhor compreendermos como as instituições são hoje
incorporadas e transformadas pelo dispositivo de desemprenho/gozo.

“É melhor analisar como disciplinas médicas e psicológicas se articulam com o discurso


econômico e com o discurso sobre segurança pública para reforçar os instrumentos da
gestão social”.

E a gestão social do desempenho como imperativo para regular que esse gozo
ilimitado não acabe caminhando para comportamentos violentos e delituosos. Eles
falam sobre não ignorar o surgimento de uma neuroeconomia.

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