DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO E DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS DA
PESQUISA MESTRANDO/DOUTORANDO: ANA DÉBORA LIMA DE FRANÇA
BIBLIOGRAFIA: Han, Byung-Chul. Psicopolítica - O neoliberalismo e as novas
técnicas de poder. Tradução Maurício Liesen. Editora Âyiné. Belo Horizonte/Veneza.
Sobre o livro Psicopolítica: O Neoliberalismo e as novas formas de poder, do
filósofo sul coreano Byung Chul Han, composto de ensaios curtos cujos debates tratam de questões essenciais para compreender a sociedade contemporânea. A essência da obra é discutir as novas, e eficazes, formas de poder nos contextos sociais, empregadas pelo modelo econômico Neoliberal, considerado pelo autor a mutação do capitalismo. O modelo neoliberal torna o sujeito um empreendedor de si, conceito este que se resume, a grosso modo, no trabalhador que explora a si mesmo como uma empresa, sem chefes ou patrões. O eu desse sujeito suspeita ser livre, pois não se submete mais a coerções externas provenientes dos chefes ou patrões, e sim a uma forma de subjetivação interna em forma de desempenho e eficácia. Ao questionar se de fato queremos ser realmente livres, o autor discute a crise da liberdade por meio da exploração da própria liberdade. Para Han, acreditamos que somos sujeitos livres e não submissos, no entanto, o indivíduo do neoliberalismo que não sofre mais com a coerção externa, mas sim com a forma mais eficiente de subjetivação, torna-se escravo de suas próprias subjetividades. Outro debate caro que se desenvolve ao longo do seu texto é sobre a autoexploração que atinge todas as classes, como forma de se coagir a si mesmo, resultando em doenças psíquicas como depressão, burnout e outras, consideradas por Han como os sintomas da sociedade de desempenho e da crise da falsa liberdade. Para Han, o neoliberalismo é o poder inteligente da atualidade por se constituir um poder amigável, ao contrário do poder disciplinar pautado nas ordens e proibições que se tornaram ineficientes ao longo do tempo. A técnica de coerção utilizada pelo neoliberalismo tem, portanto, sua particularidade em agradar para deixar as pessoas dependentes, controlando suas vontades em seu próprio benefício e se esforçando em produzir emoções positivas. Saímos, portanto do poder disciplinador, para um poder mais amigável. Byung Chul Han traça um caminho epistemológico partindo da crítica à biopolítica, desenvolvida por Michel Foucault, e cria o conceito de Psicopolítica desenvolvido por ele. A primeira se ocupa do controle e disciplina do corpo, é a técnica de governança da sociedade disciplinar que quer o indivíduo obediente e não tem acesso a psique humana. Já a segunda é de natureza psicológica e usa a psique como forma de controle. De forma agradável e sedutora tenta criar dependências do indivíduo ao poder. A psicopolítica neoliberal busca agradar ao invés de oprimir. O autor destaca, sobretudo, a violência que tem toda essa positividade. Segundo Han, a negatividade é violenta, mas a positividade “destrói a alma humana”, cobrando mais ainda de si. O sujeito do regime neoliberal sucumbe com o otimismo exagerado que lisonjeia e seduz a alma a ponto de esgotá-la. Dentro do raciocínio de Bill Chu Han, é necessário refletir sobre a racionalidade em sua oposição à emocionalidade. A objetividade, a universalidade, a estabilidade caracterizam a racionalidade. Já em seu oposto encontra-se a subjetividade, situacional e volátil, que surge a partir da percepção. A economia neoliberal reduz cada vez mais a racionalidade. O capitalismo do consumo provoca emoções para estimular e maximizar o consumo, que se desdobram para além do seu valor de uso, instaurando uma nova lógica de consumo. As emoções são, portanto, o centro do neoliberalismo de consumo, como nova técnica de poder. Consistindo em uma ditadura da emoção, que provoca as pessoas a comprar emoções e não coisas. O autor ainda vai discutir sobre um conceito e processo muito utilizado na vida cotidiana e na educação, que é a gameficação. Para ser mais eficaz e gerar mais produtividade, o capitalismo das emoções também se apropria do jogo, como forma de envolver as pessoas por meio da emoção. No jogo se “emocionaliza” com a lógica da recompensa que faz gerar mais desempenho e êxito. A gamificação do trabalho explora o homo lumens e submete este à lógica da submissão, destruindo a comunicação humana. Segundo o autor, a gamificação é muito importante na estruturação do capitalismo das emoções, tornando mais atrativo e urgente a estrutura de recompensas para as pessoas. Para Han, o excesso de dados obtidos das pessoas, está promovendo um grande avanço para o que ele chama de psicopolítica digital. Ou seja, tudo no meio digital é registrado de alguma forma e acaba revelando algo de nós, criando padrões de comportamentos que serão utilizados por muitos, podendo formar inclusive um novo “inconsciente coletivo”, padronizando os comportamentos dos indivíduos. Os dados pessoais dos cidadãos se transformaram num grande negócio. Uma espécie de rastreamento da vida pessoal de cada indivíduo, que o categoriza e fornece produtos e serviços por interesse da categoria a que o indivíduo pertence. Em resumo, o livro em tela nos ajuda a refletir sobre a estreita relação entre economia e psicologia com a finalidade de buscar respostas e reflexões profundas sobre o atual momento do capitalismo e como ele consegue nos envolver nos seus propósitos. Apresenta as formas de subjetivação as quais somos envolvidos emocionalmente, por meio da psicologização dos nossos comportamentos. Por fim, sugere a “arte de viver” como possibilidade de “despsicologização” dos sujeitos, para que este se torne livre para aquela forma de vida que ainda não se tem nome, se esavaziando e “dessubjetivando” de todas as formas de psicologização provocada pelo capitalismo das emoções.