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NEOLIBERALISMO COMO GESTÃO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO

Vladimir Safatle, Nelson da Silva Jr, Christian Dunker


(Orgs.)

1) Luis Augusto, Capítulo 1: A economia é a continuação da psicologia por outros meios:


sofrimento psíquico e o neoliberalismo como economia moral, de Vladimir Safatle.
dentro da primeira divisão do livro, A economia moral neoliberal e seus descendentes.
2) Rodrigo, Capítulo 2: O sujeito e a ordem do mercado, gênese teórica do
neoliberalismo, de Fábio Franco (et.al)
3) Luís Augusto, Capítulo 3: Matrizes psicológicas da episteme neoliberal: a análise do
conceito de liberdade, de Daniel Pereira da Silva (et.al.), de igual modo dentro da primeira
parte.
4) Rodrigo, capítulo 6: Para uma arqueologia da psicologia neoliberal brasileira, de
Christian Dunker (et.al.), na terceira parte do livro
5) Petilda: Trabalho como Experiência de Emancipação Humana. Subtítulo:
Neoliberalismo: a questão da democracia social e subjetividade

INTRODUÇÃO

HÁ UM “PRIMEIRO VOLUME” DA SÉRIE: Patologias do Social: arqueologias


do sofrimento psíquico
TESE: Neoliberalismo se define como outra política para o sofrimento (induzido,
produzido). Projeto global. Política de austeridade, emulação do Estado em relação
à Economia, redução calculada do Estado. Posição quanto à Ecologia, Militarismo.
Todos os processos de gerenciamento, marketing, administração acabam ensinando
as pessoas a produzir sofrimento no outro (alter). Gera paranoia, medo,
antagonismo, ódio. Individualizar o fracasso. Depressão com expansão do
neoliberalismo (Hipótese, questão-problema).
A partir do eixo “Teoria Social, Filosofia e Psicanálise” a abordagem do livro traz
parâmetros para a crítica social, crítica do sujeito e crítica das formas históricas de
racionalidade. Analisar as clínicas do sofrimento psíquico.
Por que neoliberalismo? Como se chegou ao neoliberalismo? Sofrimento: nem todo
sintoma nos faz sofrer e nem toda forma de sofrimento é um sintoma. E determinar
qual sofrimento é legítimo não é somente uma questão clínica, mas política. De
interferência na subjetivação do ser humano.
Não é um modelo político-econômico meramente. Trata-se de uma natureza disciplinar
do seu discurso, no qual as categorias morais e psicológicas são um motor silencioso para
a ação econômica.
Engenharia social do neoliberalismo repercute no apagamento das neuroses, hegemonia
da depressão e consolidação de vários transtornos = Fármacos para potencialização de
performances no trabalho.
Portanto, neoliberalismo se compreende como forma de vida nos campos do
trabalho, da linguagem e do desejo.
RESPOSTA PARA PROF. GRAÇA DRUCK: Forma neoliberal descobriu que se cria
mais produção e se extrai mais-valor com o próprio sofrimento psíquico. O que antes
era ao contrário nas expressões de Jeremy Bentham e Stuart Mill, que diziam o
sofrimento era um problema que atrapalhava o trabalhador a produzir e o
desenvolvimento, além do cálculo da felicidade.
A ERA DO CAPITALISMO DE VIGILÂNCIA: A LUTA POR UM FUTURO
HUMANO NA NOVA FRONTEIRA DO PODER. Shoshana Zuboff (economista,
socióloga, norte-americana.
Def.: expropriação de direitos humanos críticos que pode ser mais bem compreendida
como um golpe vindo de cima: uma destituição da soberania dos indivíduos;
O capitalismo de vigilância (NEOLIBERALISMO) reivindica de maneira unilateral
a experiência humana como matéria-prima gratuita para a tradução em dados
comportamentais.
A conexão digital (SUBJETIVIDADE NEOLIBERAL) é agora um meio para fins
comerciais de terceiros e se alimenta não só do trabalho (MARX) mas de todo um
espectro da experiência humana.

A narrativização, metaforização e alegorização induzem a maneira do sofrimento em uma


cultura. Assim, controlar a gramática do sofrimento é um dos eixos fundamentais do
poder.

CAPÍTULO 2 - O sujeito e a ordem do mercado: gênese teórica do neoliberalismo


Fábio Franco, Julio Cesar Lemes de Castro, Ronaldo Manzi, Vladimir Safatle, Yasmin
Afshar

A crise é um momento decisivo. Será discutido no capítulo alguns dos mais


importantes marcos teóricos para a formulação da concepção neoliberal de sujeito.
Neoliberalismo tem o nascedouro em meio à crise capitalista do início do século XX. Nos
anos 30, a crise econômica levou à substituição da livre-concorrência pelo modelo
intervencionista keynesiano.
Pós-Guerra tornou-se hegemônico até sua crise definitiva e esgotamento nos anos 70.
Ou seja, houve um hiato entre o Pós-Guerra e anos 70 em que o neoliberalismo se utilizou
para tomar fôlego.
Neoliberalismo era uma alternativa à crise econômica e social. Foi um projeto de longa
construção
As crises sistêmicas foram tendo respostas que se voltavam, essencialmente, ao
indivíduo (“capital humano”), sendo que a lógica de funcionamento do capital que
era o centro da crise.
É a contraposição da ideia do interesse com relação à paixão. Na realidade, as teorias
pré-neoliberais já se imbuíam da ideia de que a disposição intrínseca à acumulação teria
um efeito corretivo sobre os afetos. Paixão versus interesse.
O que move, portanto, o ser humano é o interesse e a vantagem individual, e não a
humanidade na ação em seu conteúdo abstrato no sentido da felicidade alheia.

Sujeito: em quadro de exacerbada heternomia (submissão), indivíduos são alçados à


agentes autônomos, capazes de agir livremente para satisfazer seus interesses. Convertido
em “capital”, ele passa a se comportar como empresas em uma dinâmica mercadológica.

Sempre a partir de uma lógica de valorização do capital!


➢ Autores afirmam estarmos em uma “Gestão pós-disciplinar” que sucede o regime
disciplinar em sentido estrito, associado por Foucault ao panóptico idealizado por
Bentham (utilitarismo antecede teoricamente o neoliberalismo) – Teorias que
privilegiam a ação espontânea dos indivíduos. E antecipa a emergência do
neoliberalismo como psicologia moral.
Todas as atividades devem se comparar a uma produção! Disciplinamento pessoal e
responsabilização pessoal predatória e fetichista.

A subjetividade ilusoriamente inflada provoca, de maneira inevitável, no momento de


esvaziamento, a real frustração e angústia, aliadas ao fracasso a autoculpabilização.
Patologia típica, então, é a depressão (VER NÚMEROS NO BRASIL)

Capítulo busca compreender a ideia do sujeito neoliberal. Sua concepção e a visão


moral sobre a inserção do sujeito no mercado e o neoliberalismo como uma
psicologia moral.
Panóptico de Jeremy Bentham: vigilância total não só em prisões. Baseado na disciplina
e controle. Teoria Utilitarista.
Workhouses (Bastilhas) e o Panóptico – Nova Lei dos Pobres de 1834. Casas de
Correção foram criadas para abrigar os pobres oriundos da Revolução Industrial e
desemprego gerado. A antiga Lei dos Pobres obrigava o Governo a complementar salários
insuficientes ou abrir postos de trabalho em cidades vizinhas.
BENTHAM: homem é governado pela dor (que teria um efeito corretivo) e prazer. E
isso é moral! Bem e Mal
A pobreza, a indigência e desemprego seriam desvios morais a serem corrigidos pelo
utilitarismo!!
Princípios no Relatório da Nova Lei dos Pobres, baseados no utilitarismo Benthaniano:
não é possível dar conforto aos pobres sem que eles se multipliquem!! Então,
trabalhadores seriam obrigados a aceitar qualquer tipo de trabalho, independente da
remuneração – princípio utilitarista!!!!!

Por isso Bentham escreve: Na Deontologia ou a ciência da moralidade! 1834 – Vigiar a


si mesmo.

STUART MILL: “sanção interna” – sentimento do dever e sua violação interna.


Sensação não de natural, mas sentir como natural todo esse fenômeno. Shoshana Zubof
traz a percepção da “inevitabilidade” da captura subjetiva neoliberal, já que a
competição é que faz se chegar ao topo, sucesso, metas.

Calcular a liberdade:
Na economia havia uma teoria junto com a utilitarista, era a “escola marginalista”. Tudo
para sair da crise capitalista do início do século XIX.
Desloca-se da relação do capital e seus processos objetivos e se incute no indivíduo e sua
abstração a partir de sua escolha, preferência e bem-estar. LER PÁG. 56
Teoria marginalista é também centrada no indivíduo. Bem (mercadoria) calculado
não pelo tempo-valor utilizado para a produção (MARX), mas pela utilidade para o
consumidor e na quantidade disponível!!!!!!!!!!
Utilidade marginal é, portanto, decrescente. Porque o bem se estiver escasso ele vai mais
na escolha subjetivada do indivíduo para se alcançar, de modo que a utilidade tendencial
de lucro é presumida pelo indivíduo. E, com isso, o trabalho consiste em mercadoria!
E por isso mais e mais trabalho.
Teoria clássica x teoria neoclássica (utilidade marginal). Essa é de equilíbrio instantâneo
entre oferta e demanda entre diferentes mercados.

Aborda teorias econômicas que buscam quantificar o afeto e, com isso, individualizar
sensações em detrimento dos fenômenos coletivos. A Economia como ciência
matemática.
A qualidade passa a ser de julgamento endógeno. De dentro para fora. Assim, há uma
moral imanente à escolha subjetiva.

Pressuposto para a harmonia entre indivíduo e sociedade, agente e mercado é a escolha e


a ‘liberdade de escolher’ de modo a buscar a satisfação máxima.
Quem escolhe? O indivíduo a partir de sua liberdade. E a escolha é a decisão de
comprar e vender como elemento fundamental da ação humana. Só o indivíduo, com
sua ‘liberdade de escolher’, detém a legitimidade e interesse.
Pág. 59: À diferença do utilitarismo, o marginalismo introduz a ideia de que os mercados
tendem a uma situação de equilíbrio, total ou parcial!! (informação perfeita e livre
iniciativa) Final do séc. XIX...Longa Depressão... Situação da Classe Trabalhadora na
Inglaterra (Engels)! Então como haveria equilíbrio? Concorrência perfeita? XXXXXX

A ordem espontânea do mercado:


Ideia de que a ordem capitalista é um desenvolvimento natural da ação livre humana.
Chama a atenção para o que István Mészaros vai trabalhar posteriormente que é a
teoria do valor decrescente de uso das coisas. Exatamente a trama que as grandes
figuras do neoliberalismo pensavam.
Como se configura o valor de um bem? A quantificação de satisfação do bem. Tudo
é matemático. Inclusive a satisfação.
Von Mises: nada que o homem almeja fica de fora da gradação e preferência. A liberdade
implica um esforço de hierarquização do mundo, necessário para o exercício da escolha
racional.
Marginalismo mantém ou aprofunda isso do utilitarismo.
Liberdade torna-se mensurável e potencialmente calculável por meio da quantificação de
satisfação de cada alternativa e sua classificação em relação às outras.

A racionalidade mercantil do sujeito e de sua ação:


Onde fica a doutrina neoliberal?
Ideia de que o sujeito é movido pelo interesse, utilidade e satisfação, bem como que
tudo isso é mensurável dentro de uma razão chega-se à concepção do que se chamou
posteriormente de doutrina neoliberal!!

Acontece que, maximizando a individualidade do ser humano e pós-Guerra Mundial e


todo assolamento da humanidade, Von Mises publica em 1949 “Ação Humana” e divulga
a ciência geral da ação humana, designada de praxeologia.
O que é isso?
Vivo, o indivíduo nunca se está satisfeito. Busca do conforto é a busca da felicidade e
essa busca se funde com a ideia mercadológica de demanda de modo que os afetos se
reduzem ao quantitativo e motiva para vender, comprar e investir.
Ou seja, ideias de satisfação e desconforto entram em simbiose com as noções de
lucro e prejuízo!!!!
Razão humana e razão do mercado são uma coisa só. Lucro é um fenômeno psíquico.
MISES: o ingresso no capitalismo se deu de forma gradual e pacífica!!??
E a estigmatização forçada dos pobres nas workhouses?
Mudar a alma:
Após a Grande Depressão já se pensava em resgatar a liberdade e dissipar a ideia de
intervencionismo estatal. Friedman dizia em livre concorrência como solução e o
neoliberalismo como única saída.
Colóquio Walter Lipmann em 1938 e Sociedade Mont Pélerin em 1947: contra o
keynesianismo e socialismo.
LER PÁG. 65 SOBRE O QUE O PENSAMENTO NEOLIBERAL, EM GESTAÇÃO,
VISLUMBRA?

Tatcher: economia é o método e o objetivo é a mudar a alma. Prepara a “vitalpolitik”


(política da vida) contrária à política social.
FOUCAULT já vai discutir o neoliberalismo em seu Curso no Cóllege de France, em
1978/79, trabalhando a ideia de governamentalidade. Economia como gestão de si
próprio.
Sujeito agindo em torno da lógica capitalista de interesse e necessidade, em busca da
satisfação plenamente quantificada e matematizada.
Quer dizer, a tão louvada autonomia e liberdade do indivíduo via lógica mercantil acaba
por se revelar como absoluta heternomia (dependência)
Afirmações de HAYEK sobre liberdade em governos democráticos e liberdade pessoal
com Pinochet e Allende. O que ele falou?
Liberdade é, então, se curvar para a instância do mercado. Nem que seja em um
governo autoritário. Ou seja, princípios fundamentais de uma sociedade livre podem
ser sacrificados e mitigados para preservar a liberdade ao longo do tempo!!!
Isso justifica o autoritarismo para HAYEK!!!

Considerações finais:
HARVEY resume bem o contexto de ingresso e permanência do neoliberalismo, do ponto
de vista daquilo que fez de mais promissor às cabeças e ideais humanos: a ideologia.
Diz que a escolha dos ideários políticos de dignidade humana e liberdade individual
como valores centrais da humanidade foi o passo mais vitorioso dos neoliberais!!!!!!
Conceitos esses sedutores e convincentes.

Só na década de 70 o neoliberalismo ganhou corpo, porém Friedman escreveu 20 anos


antes Capitalismo e Liberdade. Diz ele que a recepção bem-sucedida seria pela crise do
modelo anterior e a ausência de ideias influentes no período!!!!

Formulações teóricas são fundamentais para legitimação de uma nova ordem e para
um novo exercício do poder. Tal movimento mobiliza afetos e ganha adesão social. São
normas de performance e de autovigilância. ‘revolução da mentalidade’

Mobilização do militarismo para a ascensão do neoliberalismo.


São neoliberalismos e fecha com a ideia do próprio Brasil como tendo gérmens da
racionalidade desde a transição incompleta da ditadura e também da herança escravocrata.
Portanto, o capítulo termina com a ideia de que sem os hibridismos históricos (gêneses
teóricas que antecederam a criação neoliberal) o neoliberalismo não se consolidaria no
Brasil como fez, através de outras subjetividades.
Termina o texto dizendo que é difícil ainda diagnosticar todo autoritarismo internalizado
no neoliberalismo, embora seu arsenal teórico tente negar (às vezes não nega). Thatcher
e Reagan são exemplos, depois do Chile.

Consequências visíveis: Mas também o enrijecimento de forças repressivas, ascensão


de regimes protofascistas ultraliberais e desmonte de garantias sociais são elementos
visíveis!!!!!

CAPÍTULO 6: Para uma arqueologia da psicologia neoliberal brasileira, de


Christian Dunker (et.al.)
Arqueologia do neoliberalismo na psicologia brasileira

Capítulo vai trazer como no Brasil, desde a década de 60, se formou uma razão
psicológica – pela gramática econômica através de simbologias e moral (um conjunto de
ideias e ordens autoexplicativas e ordenadas para a formação do neoliberalismo)!! Para
impor a gestão do sofrimento psíquico e os modos de subjetivação correlatos.
O caso modelo: Autor – José Osvaldo de Meira Pena. Foi Min. Relações Exteriores
no período militar e membro da Sociedade Mont Pélerin. Recebeu homenagens póstumas
de Rodrigo Constantino e Olavo de Carvalho em seu falecimento aos 2017.
Meira Pena busca explicar a razão da procrastinação burocrática – “dinossauro” - (para
fazer valer a tão falada liberdade!!!!) e a primazia do estético sobre a técnico e funcional
– tudo como efeito direto do excesso de erotismo!!!

Pelo trânsito do RJ quer explicar a “ausência de lei”. Diz mais: em tom anti-Freudiano,
alega que o Brasil pendeu a balança para o lado do Eros em detrimento do poder material
e progresso tecnológico. Contra o pansexualismo e que isso paralisa a sociedade no
progresso e nos traz o atraso com relação às nações de primeiro mundo do ponto de vista
econômico, social e psicológico!
Temos, então, uma “imaturidade psíquica, subdesenvolvimento moral e fracasso de
individualização”. Qual período que ele está criticando? Suas obras são de 1967, 1969
e 1980. Período da ditadura civil-militar!!! Ele queria a formação de uma nova elite
dirigente, sem consideração pelas “vidas secas”
Exalta Jung na medida em que alega a responsabilidade de nossa paralisia diante
da imaturidade psíquica, nosso subdesenvolvimento moral e fracasso de
individualização.
Questão é que esse pensamento se voltava para uma formação da elite e elite política
brasileira (sem se importar com as ‘vidas secas’) nesse novo movimento psicológico
(psicanálise) que se desenha na ditadura militar.
Psicanálise precisava de uma renovação e assim o fez na vertente da pureza asséptica do
método clínico. Antonio Cândido chamou de compromisso entre radicais e
conservadores, próprio da brasilidade.
Meira Pena se debruçou na compreensão da matriz psicológica do brasileiro a partir de
Joaquim Nabuco, Silvio Romero (eugenia), Oliveira Viana. Queria Meira Pena sair da
tradição europeia e ir para a ciência cognitiva norte-americana v.O que tinha nos EUA à
época? Embora ainda seja praticada nos Estados Unidos, a psicanálise não é uma forma
de terapia respeitada, em razão de suas fragilidades inerentes. As fragilidades da
psicanálise continuam a ser mesmas identificadas pelo filósofo da ciência Karl Popper
em seu livro A Lógica da Pesquisa Científica, de 1959. Popper dava grande ênfase
à observação e à experimentação, e introduziu o conceito de falseabilidade.

Psicanálise moralista. Queria uma aliança entre nacionalismo e desenvolvimentismo que


nos afastasse do patrimonialismo. Miguel Reale também.
Tudo isso formava base para o pensamento neoliberal no Brasil, sobretudo no RJ e suas
Universidades.
Neoliberalismo à brasileira: marcado pela aliança entre civis e militares!!!
Inserção neoliberal nos bancos da academia não se deu de forma sem perturbações.
Diziam que havia uma “hegemonia marxista” nas universidades brasileiras e, ainda, sobre
uma improvável democracia racial e ao sincretismo cultural.
Duas chaves para o neoliberalismo brasileiro:
Primeira a que requer uma renovação moral e na segunda um Estado desenvolvedor
de mercados e protetor de monopólios. Esse chega ao poder de forma gradual com
Sarney, Collor e FHC.
Quer dizer, a base social do neoliberalismo no Brasil se dá pelo compromisso dos
capitalistas e gerenciais, sob liderança da classe capitalista (de direita).
• Meira Penna defende a renovação racional dos costumes, a internacionalização e
abertura da economia!!!!
Neoliberal Olavo de Carvalho: digitalismo bélico, conservadorismo católico, astrologia e
colunismo midiático. (arqueologia da psicologia da formação do sujeito neoliberal)
Portanto, psicologia neoliberal como modo de vida tinha um processo de ocupação e
formação de uma elite orgânica intelectual. O que se deu via Direito, Economia e
Filosofia. A partir do governo Lula e Dilma estendeu-se e alargou-se para a cultura do
terceiro setor, projetos educacionais e culturais, cidadania, direitos humanos e liberdades.

A divisão no campo psicológico:


Verdadeiro marco neoliberal é a CF/88.
Neoliberalismo se instala no Brasil advindo do liberalismo (Antes da hora porque foi
contra um Estado que jamais alcançou a totalidade da população e Depois da hora porque
presume uma realidade nacional distinta daquela pela qual se achava que o neoliberalismo
seria o antídoto).
A crítica à CF vai no sentido que ela impossibilita a livre negociação e mercado.
Carregava práticas do direito do trabalho do Varguismo. Impedia a privatização da
educação. Olha o campo para o que depois foi se consolidando, como exemplo a
Reforma Trabalhista!!
Campo psicológico, então, para inserção do neoliberalismo nada mais é do que eleger
instrumentos que possam lidar com a gramática do sofrimento psíquico. Por meio de
narrativas, discursos, depoimentos, práticas de ajuda, etc.
E isso é bem explicado por HARVEY quando diz que a liberdade negativa e o
intervencionismo estatal fazem com pessoas busquem solidariedades sociais e explica a
busca pela religiosidade como amparo pela moralidade, novas formas de associativismo
em torno de questões de cidadania e direitos.
E isso explica também o retorno de formas antigas de política como o fascismo,
nacionalismo...)
Há processo de normatização do sofrimento por causa da modernização dos costumes das
classes médias no Brasil. Sofrimento liberal e sofrimento neoliberal.
Aparição de um novo sujeito (supereu) em que o gozo e não mais o desejo torna-se
categoria central.
Prazer e dor. Maximização e minimização
Portanto, neoliberalismo tem a capacidade de gerenciar os efeitos de seus próprios
fracassos, individualizando ao extremo o sofrimento psicológico e psicologizando o
fracasso laboral, afetivo e discursivo para o campo da moralidade individualizada.
E as clínicas de psicologia têm seu papel: modalidades terapêuticas e espirituais do tipo
holístico, científico mimético ou pararreligioso? Ciência ou religião?
Crítica ao psicodrama como privatização do sofrimento e à individualização dos
tratamentos. Caráter público de suas intervenções.
Crítica às sedutoras Gestalts-terapias que começam a se desenvolver em SP a partir de
1972 por meio de workshops que vem favorecer o autoconhecimento pela valorização
do mundo em detrimento do racional, intelectual.
Para entender as tendências psicológicas e psicoterápicas: No momento crítico do
neoliberalismo (2008) no Brasil havia duas tendências – terapias cognitivo-
comportamentais e psicanálise. Como abordam o sofrimento?

IDENTIFICAR O ESPECTRO IDEOLÓGICO DA “PSICANÁLISE À BRASILEIRA”


– ABARCA DESDE A ESTRATÉGIA BIOPOLÍTICA DE CONTROLE SOBRE OS
CORPOS ATÉ A POLÍTICA NEOLIBERAL EXTREMAMENTE INCISIVA NA
DETERMINAÇÃO DE CATEGORIAS CLÍNICAS
Tudo na ideia de se criar o homem dócil!! E ENTRA DE NOVO SHOSHANA
ZUBOFF COM A “INEVITABILIDADE”. CATEGORIA PSICANALÍTICA DE SE
ATER AO SOFRIMENTO E GERENCIAR.
Compreender que tipo de segregacionismo a instalação da psicanálise no Brasil veiculou,
deliberadamente ou não: formação da “matriz fundamental da psicologia implícita do
sujeito neoliberal” e os modelos de gerência das subjetividades.
E vem um pensamento de resistência:
HARVEY foi cirúrgico: não pensaram que dentro das liberdades individuais de escolha,
poderia se escolher instituições coletivas fortes (como sindicatos) do que as fracas como
instituições de caridade.
Portanto, a nostalgia dos valores conservadores iria se infiltrar através das Igrejas
Neopentecostais, a se contrapor e competir com as psicoterapias.
O neopentecostalismo de resultados:
Necessidade de uma nova criação de sintaxe que conectasse o sofrimento cotidiano
com outra gramática de transformação. Igreja Católica já não mais tinha tanta
tolerância com os pensadores críticos latino-americanos (Teologia da Liberdade,
Psicologia da Libertação)
Assim, a salvação não mais se coletiviza pela expiação e poder transcendente. Agora, ela
se individualiza e a religiosidade é mero suporte!!!
Ex: Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo. Meados de 1977 no RJ. Terceira
onda neopentecostal que se reveste da função política e moral do sofrimento. Sofrimento,
agora, liga-se com o fracasso, falta de fé
Portanto o neopentecostalismo de resultados (arrecadação e doações) se dá a partir
da recusa do sofrimento e sua abordagem realista e pragmática operacionalizada
em forma de empresa.

Solução seria a inserção exasperada ao capitalismo (com a promessa ostensiva de


enriquecimento e ascensão social - aderindo à Teologia da Prosperidade)
Explicação do porquê as religiões de matrizes africanas são adversárias no componente
da fé (menos individualista, mais coletivas e tradicionalistas). Neopentecostalismo é
forjado na moderna ideia de religiosidade mágica e ascensão social de todos se buscarem
tal objetivo.
Pela linha neopentecostal, precisa se inserir na via do capitalismo, já que o fracasso é seu
na fé e tentativa.
Portanto, neoliberalismo se compreende como forma de vida nos campos do
trabalho, da linguagem e do desejo (gozo que se tornou categoria central). E o NR
capturou essa forma de vida.
Há uma antiga religiosidade que ainda está presa ao fetiche do sofrimento. No NR há uma
promessa de ascensão social eminente!
No Brasil ficou sendo chamado de modernização regressiva!

A mutação do sofrimento do trabalho:


Mutação do lugar do sofrimento no mundo do trabalho!
Liberalismo da CF/88 até a gestão do sofrimento pelo neoliberalismo via dignidade do
método e uma administração calculada do sofrimento.
A certeza de que o nível de insatisfação não pode mais diminuir (pela alienação,
estranhamento do trabalho) é onde se começa o sofrimento. Ex: telefonistas produtivas,
agora call centers. VER: CHRISTOPHER DEJOURS.
PSICODINÂMICA DO TRABALHO: O foco de preocupação agora é problematizar o
sofrimento gerado na relação homem-trabalho: quando o trabalho é fonte de
sofrimento, está nas raízes de possíveis descompensações psicossomáticas.
• DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 5ª
ed. amp. São Paulo: Cortez – Oboré, 1992.
• _________ . Psicodinâmica do trabalho: contribuições da Escola Dejouriana à
análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.

Dejours explica muito bem que o que é explorado são os mecanismos de defesa do
sofrimento e não propriamente o sofrimento.
O sofrimento passa a ser uma alavanca para a produtividade!!! Pois seria uma
agressividade contra a própria impotência
LER CALL CENTERS – SISTEMA DE TRABALHO. PÁG. 246!!
Sistema de metas. Assim, o neoliberalismo oculta as relações de trabalho em seus
esforços de renomeação da categoria (empreendedor, colaborador, associado...)
Aqui entra HAN, SENETT.....

Vida laboral tida como irracional, porque a fragmentação é predatória. Há uma


autosabotagem crônica. Fenômeno das mentorias e coaching. Cita Augusto Cury - A
teoria visa explicar o funcionamento da mente humana e as formas para exercer maior
domínio sobre a nossa vida por meio da inteligência e pensamento - (tal como Meira
Pena no Brasil). Sua linguagem vai ao essencial para moldar a pessoa ao universo da
produção e produtividade, e consumo neoliberal! Cria-se um efeito de inteligência e
capacidade mágica na pessoal. Tornar-se um líder de si mesmo.
Erro fundamental da psicologia neoliberal:
HAYEK não previa que poderia existir eventualidades de sociedades periféricas
pudessem adotar formas de vida e economia por suas particularidades culturais e
instituições políticas respectivas, que lhe restam. E sair da ideia utilitarista do hommo
economicus com ações coletivas contra a justiça de mercado!!!!!

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