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A racionalidade neoliberal, palestra do Prof. Dr.

Christian Laval

Quem é Christian Laval?


Christian Laval é professor de sociologia da universidade Paris-Nanterre. É autor de diversas
obras como L’Homme économique: Essai sur les racines du néoliberalisme e A escola não é
uma empresa, ao lado de Pierre Dardot, publicou Comum: ensaio sobre a revolução no século
XXI e A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal, além de outras obras.
Seus estudos são voltados para o Neoliberalismo.

O Prof. Laval inicia a palestra fazendo um resgate sobre as origens do neoliberalismo, que são
conduzidas à teoria econômica utilitarista de Jeremy Bentham.

O utilitarismo de Bentham: A motivação humana é reduzida ao princípio de querer maximizar a


utilidade. A utilidade sendo aqui a propriedade que qualquer objeto tenda a produzir algum benefício,
vantagem, prazer ou a impedir danos, mal, infelicidade. “Toda atividade humana é derivada do desejo
de maximizar o prazer”

Para o professor, na conjuntura do neoliberalismo, o modelo de homem cristão moralista foi


substituído pelo homem econômico e egoísta que busca o máximo prazer, ou seja, o homem
governado pelo seu interesse. Homem econômico: homem governável (bentham - pelo prazer e
satisfações) governar o indivíduo pelos seus interesses.

A sociologia clássica, como a conhecemos, somente existe no esquema de representação do homem


econômico, ou seja, o mundo da economia se impôs à sociologia. Desse modo, a representação que
temos do homem e da sociedade é marcada pelo utilitarismo.

O funcionamento do neoliberalismo busca transformar as sociedades e construir o homem novo. É


preciso entendê-lo como uma lógica política e não somente a expansão dos mercados, possuindo um
caráter construtivista e intervencionista. Sendo uma forma de governança, não altera somente o
plano econômico, mas a sociedade em seu sentido mais abrangente, ou seja, o capitalismo saindo de si
mesmo sendo substituído por uma lógica política e cultural que tira do capitalismo seu modo de
funcionamento para aplicá-lo em outras esferas.

A racionalidade capitalista tem duas características, sendo a primeira delas que todas as relações
sociais devem ser regidas pelo princípio da concorrência. O que impõe a todos os indivíduos e
instituições a concorrência e a competitividade, uma política neoliberal é uma política que exige dos
indivíduos que sejam competitivos (ex. Concorrência nas escolas e nos hospitais).

Na norma da concorrência o que se impõe é o modelo da empresa (foucault), o modelo empresarial se


torna aplicável a todos os indivíduos, transformando os indivíduos em empreendedores de si mesmos
(nesse sentido, cada indivíduo é um capital a ser administrado). Auto Valorização de si mesmo como
um capital tendo a tarefa de se valorizarem.

Uma das características do neoliberalismo é que ele é ordoliberal, ou seja, cabe ao estado estabelecer
as condições de concorrência. Portanto, temos uma cisão que deixa claro a diferença entre o
neoliberalismo e o liberalismo clássico de Adam Smith onde o estado deveria ter o mínimo papel
possível na economia. A junção do ordoliberalismo alemão, onde o estado estabelece as condições de
concorrência,como o neoliberalismo americano, onde o sujeito é capital humano são as bases do novo
neoliberalismo. Ex.: Escola de chicago no chile de pinochet e União Europeia.

New public management: importação das regras de gestão que foram criadas no setor privado para o
setor público. O neoliberalismo é uma racionalidade que associa aspectos particulares ao fato de ser
conduzido pelo estado mas que supõe uma transformação do próprio estado. As políticas neoliberais
para transformar a sociedade são obrigadas a transformar o estado. Sendo as normas aplicadas para
fazerem com que o estado tenha como forma e função a generalização de certo tipo de funcionamento,
que são a concorrência e o espírito da empresa.Os estados que implantaram o sistema neoliberal se
tornaram reféns do sistema que implantaram.

Nova subjetividade capitalista subentende não só as políticas de austeridade da oposição rico/pobre,


mas sim a quebra de todas as barreiras da sociedade quanto ao neoliberalismo, como o sistema escolar
que visa formar cidadãos que saiam da lógica utilitarista, rompendo inclusive com os marcos
tradicionais da democracia. Ex.: “Revolução” de Emmanuel Macron, onde fala de transformar a
França em um startup. Com isso, tem-se também a ameaça fascista, com a extrema direita presente em
um número cada vez maior de governos.

Tem-se a função antidemocrática na construção neoliberal, pois a democracia subentende a vontade da


maioria, que é perigosa porque o povo não conhece as ordens da concorrência e o funcionamento do
mercado, e corre os risco de levar a políticas que irão desregular o mercado. Uma ditadura militar que
respeita as ordens do mercado é melhor que um governo eleito e legítimo que não siga as ordens do
mercado.

A junção de nacionalistas e protecionistas com ultraliberais que transformaram as relações


econômicas em uma Guerra Comercial.

O neoliberalismo é também caracterizado pela sua plasticidade, mudança e por ser pluriclassista, ou
seja, explora a insatisfação e raiva de várias classe sociais para fazer sua base popular

Diferente do nazifascimo classico

Neoliberalismo puro + autoritarismo puro com uma dimensão policial e militar cada vez mais
acentuada. Políticas anti revolucionárias sem revolução. Jogo do mercado faz o neoliberalismo
dominar a sociedade, introduz desigualdades, insatisfações e leva a hiper autoridades

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