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Aluna: Ana Júlia Ribeiro Soares.

BA3135071

Curso: Ciências Biológicas. 2º Semestre. 2023

Resenha/Bolsa.

Sociedade do Cansaço-Byung Chul Han.

Byung Chul Han é um pensador que utiliza metáforas e analogias do corpo


humano para compreender a sociedade. O filósofo expõe na obra que a logica da
imunologia, sistema que detém a responsabilidade de identificar e combater a
presença de microrganismos invasores provendo a cura de doenças infecciosas,
marcou o século XX. Da mesma maneira que o sistema imunológico humano age,
as sociedades imunológicas estabeleciam uma polarização nítida entre a
adversidade de posições perante existencialismo, isso deixava em evidencia quem
era amigo e quem era inimigo, era possível identificar aquilo que era próprio e aquilo
que era estranho.

Para explicar a logica da imunologia, o autor cita a Guerra Fria, rivalidade


geopolítica entre Estados unidos e União Soviética, o conflito marcava a distinção
“eles e nós”. Para fundamentar seu parecer, Han recorre ao pensamento de Michel
Foucault quanto à sociedade disciplinar, construída com o controle e com a
vigilância dos corpos, que se interliga ao sujeito de obediência. Com isso, não é
apenas marcada pelo panóptico, mas também pela diferenciação clara do que é
permitido e o que não é, contando com punição de algo ou alguém superior.

Com o fim da Guerra Fria e com a ascensão do neoliberalismo, Han mostra


que uma nova forma de dominação surgiu na sociedade, à dominação neuronal.
Doenças como a depressão, ansiedade, Transtorno de déficit de atenção com
hiperatividade ou a Síndrome de Burnout, são cada vez mais comuns e recorrentes
no dia a dia de viventes do século XXI, apesar do diagnostico dessas doenças
serem bem mais complexos que a determinação de doenças infecciosas.
Justamente por não se tratar de uma enfermidade causada por uma infecção ou a
anormalidade do organismo, o tratamento não pode ser realizado da mesma forma
com que se lida com ataques externos ao mesmo. A sociedade, segundo Han, não
está mais em condições de descrever tais enfermidades neuronais.
A negatividade estranha ao sistema não é causadora das doenças neuronais.
A causa é imanente ao sistema e faz parte integralmente da logica de
funcionamento da sociedade.

São estados patológicos devidos a um exagero de positividade. A violência


não provem apenas da negatividade, mas também da positividade, não
penas do outro ou do estranho, mas também do igual.

Byung-Chul Han, Sociedade do Cansaço, 2010, p.11.

A logica da imunologia é composta por negatividade, controle e exclusão.


Uma mudança significativa ocorre na passagem para a sociedade da positividade.
Dominação e exploração derivadas do neoliberalismo não são mais articuladas pela
negatividade da proibição e da vigilância, indo contra a retomada de ideias da
sociedade disciplinar. No século atual os termos “dominação e exploração” se
fundamentam no excesso de positividade que se expressa na ideia individualista de
que com força de vontade e objetivos determinados, nada é impossível. Ignorando
fatores sociais, históricos, econômicos e políticos, o individuo se encontra em uma
posição, onde sozinho é capaz de tudo.

Com a convicção de que tudo é possível estabelecida, a possibilidade de


fracasso é apresentada como falta de interesse, dedicação ou até mesmo
planejamento. Ao invés de exercer um controle disciplinar sobre o individuo, a
positividade da violência neuronal reforça a todo o momento que o mesmo pode
tudo. Contudo, apresenta-se a nova exploração que traz essa sensação de
liberdade, o sujeito do desempenho.

O sujeito de desempenho esta livre da instancia externa de domínio


que o obriga a trabalhar ou que poderia explora-lo. É senhor e soberano de
si mesmo. Assim não esta submisso a ninguém ou esta submisso apenas a
si mesmo. É nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da
instancia dominadora não leva a liberdade. Ao contrario, faz com que
liberdade e coação coincidam.

Byung-Chul Han, Sociedade do Cansaço, 2010, p.19.

A exploração do sujeito da obediência tinha uma autoridade externa que


controlava e vigiava o individuo, enquanto o sujeito do desempenho derruba essa
autoridade com uma liberdade de certa forma ilusória. Com a repetição excessiva, a
exploração se internaliza, e para querer e poder deve-se se submeter a uma
autoexploração. Nessa dominação a autoridade é internalizada e o individuo exige
de si mesmo metas a serem cumpridas e positividade. A sociedade do sujeito de
desempenho é a sociedade do cansaço.

A crítica feita por Han não é direcionada ao ato de trabalhar, mas sim a forma
com que o capitalismo organiza socialmente o trabalho, com ênfase a forma com
que o trabalho assume no neoliberalismo voltado para o sujeito do desempenho.
Não é uma critica ao esforço pessoal ou aos trabalhadores que se dedicam ao
máximo, sendo multi tarefas para arcar com as despesas de si próprios e de seus
dependentes, mas sim mostrar que a nova organização do trabalho não cumpre com
a liberdade que diz entregar. Han evidencia que uma das táticas do neoliberalismo é
construir uma exploração mascarada de liberdade, formando um tipo de
subjetividade que desencadeia inúmeros transtornos e que inicia uma nova e sutil
forma de dominação, a psicopolítica.

As diferenças do modelo atual com o modelo de sociedade anterior são quase


sempre contraditórias. A noção do medo externo do período imunológico vem da
concepção que o perigo é quase tão forte e importante quanto o individuo, no pós-
imunológico o outro é apenas diferente, e perante a isso surge à positividade em
excesso. Han exemplifica a mudança com os imigrantes, uma diferença que gera
incomodo, mas não tem força significativa para causar alterações na vida dos que
residem originalmente no local determinado, por isso ocorre adaptação aos
costumes e o estilo de vida dos nativos, visão que se rega com os pensamentos da
sociedade do cansaço. A positividade altera o modo de lidar com o outro,
mascarando os reais pontos de atenção de uma situação onde ocorra imigração.

Imigrantes são vistos mais como um peso do que como uma


ameaça. Também o problema do vírus de computador já não tem mais tanto
impacto social. Não é por acaso que, então, que em sua analise
imunológica, Esposito não se volta para problemas da atualidade, mas
exclusivamente a objetos do passado.

Byung-Chul Han, Sociedade do Cansaço, 2010, p.10

Conclui-se que a obra explana a realidade da sociedade atual em meio a


aplicação da nova organização do capitalismo onde o sujeito é livre para se dedicar
a suas tarefas da maneira como preferir, mas é preso a incessável cobrança que faz
a si mesmo para atingir os objetivos impostos por seu eu pertencente a sociedade
do cansaço. Por mais que a obra tenha me levado a questionar o posicionamento de
Han mediante as questões como a causa de doenças neuronais e a relação entre a
população nativa e os riscos que os imigrantes a coloca, pude perceber que o autor
pretendia levar os leitores a contemplar os ideais de alguém que vive no século XXI
e faz parte do grupo que faz uso excessivo da positividade, nós mesmos.

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