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Este tópico não se trata de uma glamourização da loucura ou cobiça por uma
desordem coletiva, mas sim uma reflexão a respeito da noção de sanidade social, assim
como seus possíveis males e examiná-la é fundamental para a construção de uma visão
de mundo coerente e abrangente. Portanto, tratamos aqui o conceito de loucura não
necessariamente como um problema psicológico, mas como uma forma de ruptura de
paradigmas sociais.
Como base dessa reflexão, utilizo o filme “Um estranho no ninho”¹ com Jack
Nicholson, que trata da história de um homem que cometeu um crime e para evitar ser
preso se finge de louco e é encaminhado para um sanatório, dessa forma acaba tendo
que conviver com outros loucos. O filme demonstra como o isolamento social desses
indivíduos que são tidos como dementes acaba gerando um senso de comunidade entre
eles e o personagem central da trama, mesmo sendo o único considerado saudável
mentalmente naquele ambiente acaba desenvolvendo laços com seus colegas de
internamento e percebe características naturais neles como, por exemplo: insegurança,
depressão, ou desestímulo com a vida, traços muito comuns em uma sociedade e que
não necessariamente desencadeiam surto mental, mas no contexto do filme é a razão por
eles estarem ali, ao mesmo tempo que o sistema do sanatório além de ser controlador e
agrave seus distúrbios mentais, apenas enjaula aqueles indivíduos que não se adequam a
vida em sociedade. O protagonista é o responsável por trazer de volta a vontade deles se
libertarem dessas amarras e a obra demonstra que no fundo todos eles estão à procura de
uma felicidade, mas em sociedade não conseguem se enquadrar e que a fonte do
problema daquele hospício pode não ser interna, mas sim externa. A busca pela
liberdade pode ser evidenciada através de uma loucura, de atos que vão contra o que é
estabelecido como normal ou padrão.
Por outro lado, Michel Foucault em seu texto “A ética do cuidado de si como
prática de liberdade”³ enuncia muito bem a questão das relações de poder e os “jogos
da verdade” como um exercício de si sobre si mesmo e também como um processo de
liberação evidenciando que a natureza-essência humana se encontra aprisionada por
mecanismos de repressão, portanto, basta romper com essa inibição para que o
indivíduo se reconcilie consigo mesmo. Dessa forma, durante a entrevista Foucault se
depara com o aspecto da loucura e sua exclusão social: ele analisa em que momento
surgiu um modelo de “sanidade” e como a medicina trabalhou com isso. Cita que
grandes fenômenos de histeria foram encontrados em meios que havia um máximo de
coerção e que obrigava os indivíduos a se constituírem como loucos. Que há esquemas
que o indivíduo encontra em sua cultura e são lhe impostos por sua comunidade, seu
grupo social.
Referências Bibliográficas: