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No início do livro, o autor começa a sua dissertação fazendo a menção da existência de duas
épocas, que carregam em sí enfermidades fundamentais de origem distinta: uma época
bacteriológica, que se estende até o fim do século XX, e uma outra época, a época neuronal,
nascida no século XXI e marcada por enfermidades modernas da psiquê humana como a
Depressão, o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), o TPL (Transtorno de
Personalidade Limítrofe) e a SB (Síndrome de Burnout). Para prosseguir com a análise da
problemática proposta no livro, o autor denomina a primeira época como sendo a época
“imunológica”.
A época imunológica, segundo Han, é uma época que possui como paradigma norteador o
mesmo modo como o sistema imunológico funciona no corpo humano, ou seja, identificando e
atacando qualquer corpo estranho que adentre ao organismo; fazendo um paralelo, a sociedade
age de modo a atacar tudo que seja o “outro” ou o “estranho/diferente”. Em suma, é uma ação
que visa afastar a “negatividade” do “intruso/outro”. Segundo Han, esse mesmo padrão
imunológico que estava presente nas estruturas sociais também foi visto na Guerra Fria, guerra
essa que influenciou inclusive o vocabulário, pautando-o em termos de ataque e defesa. Esse
modelo imunológico, no entanto, vigorou apenas até o fim do século XX e a menção dele na
atualidade corresponde não ao indicativo da sua vigência, mas sim de seu declínio, podendo
descender daí, portanto, o interesse nele como objeto de estudo.
O fim do paradigma imunológico, que ocorreu num processo transcorrido de maneira quase
imperceptível, culminou numa mudança na sociedade, que passa a não mais operar e se
organizar nos moldes desse modelo. Essa transformação suscitou a assunção de outra forma de
ser e agir que não gera mais aquela “reação imunológica” que, para se defender, ataca o “outro”.
Essas alterações modificaram o comportamento e características do indivíduo, que deixou de
ser um “indivíduo imunológico” e passou a ser um “consumidor” da “estranheza do outro”,
assim como um turista visita um lugar novo, inusitado. Esse padrão marca o modo de ser do
novo paradigma, denominado pelo autor de época “neural”.
A época neural, isto é, o novo paradigma vigente, traz consigo não a negatividade como principal
causadora das enfermidades fundamentais (como na época imunológica), mas sim o excesso de
“positividade” como sendo o fator desencadeante das enfermidades neuronais da atualidade.
Por essa razão, qualquer técnica imunológica é ineficaz no seu combate.
De acordo com o autor, os entes que estão sob a vigência do novo paradigma são expostos, por
sua vez, a um outro tipo de violência, a violência neuronal. Essa violência é uma violência
imanente ao sistema e é a causadora das enfermidades neuronais como a Depressão, o Tdah e
a Síndrome de Burnout.
Após a reflexão acerca das duas épocas, o autor disserta a respeito da diferença entre a
sociedade disciplinar, do filósofo e historiador Michel Foucault, e a sociedade do desempenho.
Essa contraposição é assentada no argumento de que a primeira baseava-se no contexto de uma
sociedade que estabelece limites, exerce controle e seria feita apenas de insituições que
representassem esses valores, tais como, por exemplo, asilos, presídios, quartéis e fábricas.
Entretanto, segundo Han, a sociedade atual não segue esse modelo estabelecido por Foucault,
mas ao invés disso é composta por academias de ginástica, prédios de escritórios, bancos,
aeroportos, shopping centers e laboratórios de genética. Nesse novo paradigma, não existem
mais os “sujeitos da obediência”, estes agora deram lugar aos “sujeitos do desempenho”. A nova
sociedade, em oposição a anterior, é pautada pela positividade e em decorrência dessa e outras
características poder ser classificada, portanto, como a “sociedade do desempenho".
AUTOR: PCOSTA.