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RESUMO DO LIVRO “A SOCIEDADE DO CANSAÇO”

O livro a "Sociedade do cansaço", de autoria do filósofo Sul-coreano Byung-Chul Han, publicado


em alemão em 2010 e lançado no Brasil em 2015, reflete sobre a contraposição existente entre
dois tipos de sociedade: a sociedade disciplinar (conceito criado pelo filósofo e historiador
Michel Foucault), que vai até o século XX, e a sociedade do desempenho (também denominada
pelo autor Byung-Chul Han de a "sociedade do cansaço") nascida a partir do século XXI, e
decorrente das mudanças e profundas transformações geradas, entre outras coisas, pela
globalização.

No início do livro, o autor começa a sua dissertação fazendo a menção da existência de duas
épocas, que carregam em sí enfermidades fundamentais de origem distinta: uma época
bacteriológica, que se estende até o fim do século XX, e uma outra época, a época neuronal,
nascida no século XXI e marcada por enfermidades modernas da psiquê humana como a
Depressão, o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), o TPL (Transtorno de
Personalidade Limítrofe) e a SB (Síndrome de Burnout). Para prosseguir com a análise da
problemática proposta no livro, o autor denomina a primeira época como sendo a época
“imunológica”.

A época imunológica, segundo Han, é uma época que possui como paradigma norteador o
mesmo modo como o sistema imunológico funciona no corpo humano, ou seja, identificando e
atacando qualquer corpo estranho que adentre ao organismo; fazendo um paralelo, a sociedade
age de modo a atacar tudo que seja o “outro” ou o “estranho/diferente”. Em suma, é uma ação
que visa afastar a “negatividade” do “intruso/outro”. Segundo Han, esse mesmo padrão
imunológico que estava presente nas estruturas sociais também foi visto na Guerra Fria, guerra
essa que influenciou inclusive o vocabulário, pautando-o em termos de ataque e defesa. Esse
modelo imunológico, no entanto, vigorou apenas até o fim do século XX e a menção dele na
atualidade corresponde não ao indicativo da sua vigência, mas sim de seu declínio, podendo
descender daí, portanto, o interesse nele como objeto de estudo.

O fim do paradigma imunológico, que ocorreu num processo transcorrido de maneira quase
imperceptível, culminou numa mudança na sociedade, que passa a não mais operar e se
organizar nos moldes desse modelo. Essa transformação suscitou a assunção de outra forma de
ser e agir que não gera mais aquela “reação imunológica” que, para se defender, ataca o “outro”.
Essas alterações modificaram o comportamento e características do indivíduo, que deixou de
ser um “indivíduo imunológico” e passou a ser um “consumidor” da “estranheza do outro”,
assim como um turista visita um lugar novo, inusitado. Esse padrão marca o modo de ser do
novo paradigma, denominado pelo autor de época “neural”.

A época neural, isto é, o novo paradigma vigente, traz consigo não a negatividade como principal
causadora das enfermidades fundamentais (como na época imunológica), mas sim o excesso de
“positividade” como sendo o fator desencadeante das enfermidades neuronais da atualidade.
Por essa razão, qualquer técnica imunológica é ineficaz no seu combate.

De acordo com o autor, os entes que estão sob a vigência do novo paradigma são expostos, por
sua vez, a um outro tipo de violência, a violência neuronal. Essa violência é uma violência
imanente ao sistema e é a causadora das enfermidades neuronais como a Depressão, o Tdah e
a Síndrome de Burnout.

Após a reflexão acerca das duas épocas, o autor disserta a respeito da diferença entre a
sociedade disciplinar, do filósofo e historiador Michel Foucault, e a sociedade do desempenho.
Essa contraposição é assentada no argumento de que a primeira baseava-se no contexto de uma
sociedade que estabelece limites, exerce controle e seria feita apenas de insituições que
representassem esses valores, tais como, por exemplo, asilos, presídios, quartéis e fábricas.
Entretanto, segundo Han, a sociedade atual não segue esse modelo estabelecido por Foucault,
mas ao invés disso é composta por academias de ginástica, prédios de escritórios, bancos,
aeroportos, shopping centers e laboratórios de genética. Nesse novo paradigma, não existem
mais os “sujeitos da obediência”, estes agora deram lugar aos “sujeitos do desempenho”. A nova
sociedade, em oposição a anterior, é pautada pela positividade e em decorrência dessa e outras
características poder ser classificada, portanto, como a “sociedade do desempenho".

Na sociedade do desempenho, o excesso da presença da positividade acaba por modificar


profundamente o modo como os indivíduos fazem a gestão da sua atenção. Tornando-se agora
seres multitarefa, os indivíduos passam a ter que lidar com o monitoramento e execução de
diversas atividades ao mesmo tempo, igual aos seus ancestrais primitivos faziam ao se
alimentar, por exemplo, uma vez que precisavam, em paralelo ao processo de comer, estar
alertas e observando tudo ao redor para não acabarem sendo devorados. De acordo com Han,
esse modelo de comportamento é na verdade um retrocesso civilizatório e, devido a ele, perde-
se a capacidade de se fazer um aprofundamento contemplativo. Essa perda é uma das principais
responsáveis pela histeria e nervosismo da sociedade ativa moderna, segundo o autor.

Além do fenômeno de transformação dos indivíduos em seres multitarefa, a Sociedade do


Desempenho acaba por desembocar na geração de um cansaço e esgotamento excessivos.
Conforme expresso nas palavras do próprio autor, o “excesso da elevação do desempenho leva
a um infarto da alma”. Essa sociedade, imersa num modo de vida totalmente acelerado no qual
o indivíduo não é livre pois torna-se escravo do “trabalho” e do “fazer” torna-se, de acordo com
o autor, a “Sociedade do Cansaço”.

AUTOR: PCOSTA.

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