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INCLUSÃO DE PESSOAS AUTISTAS: A FAMÍLIA E A ESCOLA
COMO AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO

“Finalmente uma boa notícia”, diz uma mulher,


identificada como Viviana, sobre a decisão da
escola San Antonio de Padua em transferir um
menino portador de síndrome de Asperger, um “Diferente é o mundo que queremos!”
transtorno de aspecto autista. O caso aconteceu na Instituto Autismo e Vida
Argentina e repercutiu após o vazamento de uma
conversa em um grupo no whatsapp. Viviana e
outras mães comemoravam a atitude da escola,
que foi pressionada por pais de alunos de uma das
classes para trocar de sala a criança com
Transtorno de Espectro do Autismo (TEA). As mães
teriam até realizado uma “greve”, impedindo que
24 das 35 crianças do grupo fossem à aula durante
um dia. O caso revela como o indivíduo com
autismo enfrenta uma série de desafios para ser
incluído na sociedade e reafirma a necessidade de
lutar pela garantia dos seus direitos.
Foto: Reprodução / Grupo Conduzir
O autismo pode ser considerado objeto. Ainda não há conhecimento No entanto, essas instituições
um transtorno global do sobre as CAUSAS do autismo, o que enfrentam uma série de desafios
desenvolvimento que afeta as dificulta a implementação de que enredam seus desempenhos
capacidades sociocomunicativas. medidas preventivas ou uma no processo evolutivo da pessoa
Trata-se de uma anomalia que possível “cura”. Segundo a com TEA. A FAMÍLIA deve acolher a
dificulta a COMUNICAÇÃO, Associação de Amigos Autistas criança autista e procurar ajuda
comportamento e capacidade de (AMA), que dá apoio a 350 crianças profissional para acompanhar o seu
indivíduos relacionarem-se com com autismo em São Paulo, o desenvolvimento. Ao contrário do
pessoas de forma normal. A tratamento deve se dar de uma que muitos pensam, colocar a
interação social da pessoa autista é maneira MULTIDISCIPLINAR e criança em uma “bolha” protetiva,
muito afetada pela sua condição, o “ envolve as intervenções de em muitos casos, não é a melhor
que implica falhas em demonstrar médicos, psicólogos, solução. É preciso garantir que ela
reações empáticas a expressões e fonoaudiólogos, pedagogos, tenha o máximo de independência
ações de outras pessoas. fisioterapeutas, terapeutas possível, dentro dos limites do grau
ocupacionais e educadores físicos, da doença. Quando possuem uma
A doença pode ser encontrada em
além da imprescindível orientação deficiência intelectual associada ao
vários graus, desde os mais leves
aos pais ou cuidadores”. Nesse transtorno, o quadro de
aos mais graves. Normalmente, o
sentido, é válido entender como a dependência é maior. Já em outros
transtorno é diagnosticado na
família e a escola são peças casos, é possível estudar, trabalhar
infância, após os 3 anos. Crianças
fundamentais nesse processo, e ter sucesso em atividades
com TEA possuem dificuldade de
devendo atuar juntas, uma vez que profissionais. Os maiores
manter a coordenação entre os
ambas são responsáveis pela problemas relatados por pais de
canais comunicativos, como por
transmissão de conhecimento para crianças autistas são as CRISES
exemplo dificuldade de manter
um indivíduo, influenciando sua nervosas que normalmente
contato visual com alguém ou
formação. acontecem quando há acumulo de
kkkkkk
kkk
informações sensoriais Outra dificuldade no âmbito A formação escolar da criança autista
simultâneas, o que eleva o nível de familiar é o DESCONHECIMENTO também enfrenta desafios. A ESCOLA
estresse do autista. Isso pode de como agir diante de situações precisa ser INCLUSIVA e fazer
ocasionar um comportamento básicas e emergenciais. O apoio de flexibilizações curriculares. Alguns
agressivo, manifestado por meio de um profissional qualificado é cuidados podem ser tomados, como
agressões verbais, entre outros. De fundamental para preparar colocar o autista em turmas menos
acordo com o site da organização familiares sobre essas questões. numerosas, para que os professores
brasileira Entendendo Autismo, Por muito tempo no Brasil, por possam atender as suas demandas
pode decorrer do fato de que as exemplo, não houve nenhuma individuais. É válido lembrar que a
crianças com autismo, por não política governamental para apoiar educação é um direito de todos, previsto
entenderem alguns símbolos pais ou autistas. No primeiro na Constituição Brasileira de 1988.
sociais, não conseguem encontrar semestre de 2018, um grande
formas de expressar em avanço se deu: O Ministério da
determinadas situações. Nesses Saúde fechou uma parceria com a
casos, não é recomendável gritar Unifesp (Universidade Federal de
com a criança, mas procurar São Paulo) para capacitar 1.000
exercer práticas que deixem as pais e cuidadores de crianças com
crianças confortáveis. Em alguns atrasos de desenvolvimento,
casos mais graves, em que os níveis incluindo o autismo. A iniciativa é
de TEA são mais elevados, faz-se um importante passo, ao
necessário conduzir o tratamento considerar a enorme dívida
com internações e contenções. histórica do país em relação a essa
Contudo, é preciso entender que parcela da população brasileira,
Foto: Pixabay
cada caso é um caso, não podendo estimada em 2 milhões de
generalizar. pessoas.
A criança com TEA não pode ser não possuem nenhuma “Os educadores têm de entender o
excluída do ambiente escolar, com CAPACITAÇÃO para lidar com autismo, compreender que aquele
exceção dos casos mais graves, que quadros de autismo, aluno processa as informações de
não configura a grande maioria. desconhecendo resultados de maneira diferente, tem resistência
Rosana Santos, especialista no práticas e pesquisas catalogadas ou a mudanças, pode ser mais sensível
assunto e autora do livro Inclusão sequer a legislação. Esse ambiente ao barulho. Cada uma dessas
na prática: Estratégias eficazes de incertezas resulta quase sempre especificidades exige adaptações
para a educação inclusiva, afirma em PRECONCEITO, tanto dentro da na rotina”, diz Andréa Warner, mãe
que “o que faz o deficiente se instituição escolar, como por parte de um autista e criadora do blog
desenvolver é a INTERAÇÃO com de outros pais. Relatos recebidos Lagarta Vira Pupa, criado para
pares diferentes dele. A criança pelo Instituto Autismo & Vida ajudar pessoas que vivem situações
aprende por imitação. Colocá-la em demonstram diversas situações de parecidas com a dela. A inclusão é
um lugar em que só há pessoas preconceitos, partindo até de um direito protegido por lei e
com o mesmo problema não professores. O caso argentino, precisa ser garantida.
adianta”. A fim de proporcionar citado no início da abordagem,
uma educação de qualidade para revela as várias barreiras que a
pessoas autistas ou com outras população com TEA enfrenta. Isso
deficiências, é necessário que a se deve, em grande parte, à falta
inclusão não seja apenas um de formação de líderes de escolas e
desafio do professor, mas de toda a educadores, além do
escola e da rede de ensino. Muitas desconhecimento do assunto pelas
vezes, o aluno é colocado sob os famílias, o que dificulta o convívio
cuidados de professores que do autista com outras crianças.
kkkkkkk
Foto: Pixabay

VOCÊ SABIA que o


Transtorno do Espectro
Autista afeta uma em cada
160 crianças no mundo? Ele
pode se manifestar em uma
gradação, de graus mais
leves aos mais longos. O
dado é da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
ANOTA AÍ

 Segundo a OMS, estudos conduzidos nos  A tecnologia também pode ser uma aliada no
últimos 50 anos revelam que o número de tratamento de pessoas autistas. Eraldo
pessoas diagnosticadas com TEA está Martins Guerra provou isso ao desenvolver o
aumentando no mundo inteiro. As explicações aplicativo “CanGame”. Conectado ao
para esse aumento apontam para diagnósticos videogame ou em um computador, o
mais eficientes, mais conscientização e Cangame tem um formato de quiz, com
registros mais precisos; perguntas e desafios que procuram estimular
a pessoa acometida pelo TEA. A cada erro e
 No Brasil, em 2012, foi sancionada por Dilma acerto, o jogo mapeia as atividades motoras e
Rouseff a Lei Nº 12.764 que institui a “Política lógicas do jogador. Os resultados são enviados
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa para os médicos, procurando auxiliá-los em
com Transtorno do Espectro Autista”. A possíveis diagnósticos;
medida faz com que autistas passem a ser  Uma escola no norte de Londres, na
pessoas consideradas oficialmente com Inglaterra, está ensinando ioga a alunos com
deficiência, tendo direito a todas as políticas autismo para reduzir suas crises nervosas. A
de inclusão do país; escola diz que diminuíram as crises nervosas
dos alunos.
DIALOGANDO MOMENTO LITERÁRIO

O dialogando traz um trecho de uma entrevista com Andréa Mais conhecido pelo romance “O estranho caso do cachorro morto”,
Werner, já citada anteriormente, mãe de Theo, que possui Mark Haddon é um autor inglês ganhador do Prêmio Whitbread, o
Prêmio de Literatura Infantil Dolly Grey, o Prêmio Guardião e o
Transtorno do Espectro Autista. A entrevista foi concedida ao site
Prêmio Common wealth Writers pelo seu trabalho. A obra nos
Hypeness. apresenta ao personagem Christopher Boone, um menino de 15 anos
que tem um tipo de autismo e vive com um pai que não parece
Como você acha que as outras pessoas veem o autismo? E como exatamente saber como lidar com ele. O livro foi traduzido para 32
você gostaria que as pessoas vissem o Theo? “Os pais de línguas e figurou entre os livros mais vendidos nos EUA e na
crianças autistas, geralmente, se dividem em 2 tipos: os que Inglaterra. Abaixo a descrição do livro retirada do site da editora
veem o autismo como uma maldição, uma deficiência, e os que Record:
preferem encarar como “um jeitinho diferente de ser”. Eu não
Criado entre professores especializados e pais que definitivamente não
sou nem um pouco maniqueísta. Acho que, entre o preto e o sabem lidar com suas necessidades especiais, Christopher Boone tem 15
branco, existem vários tons de cinza. Tento passar para os outros anos e sofre do mal de Asperger, uma forma de autismo. Adora listas,
pais a minha visão de que o autismo faz parte do meu filho. Não padrões e verdades absolutas. Odeia amarelo e marrom e, acima de
dá para separar ele do autismo. E ele traz muitas dificuldades no tudo, odeia ser tocado por alguém. Christopher nunca foi muito além de
dia a dia, mas traz, também, características únicas e interessantes seu próprio mundo, não consegue mentir nem entende metáforas ou
piadas. É também incapaz de interpretar a mais simples expressão
que enriquecem quem o Theo é (como seu olhar super apurado, facial de qualquer pessoa. O próprio personagem define seu cérebro
seu jeito de achar graça nas coisas mais simples, sua maneira de como um computador com grande memória fotográfica e capaz de
sentir o mundo de forma muito mais intensa). Quanto às outras resolver complicadas equações matemáticas, mas com nenhuma
pessoas que não conhecem nada sobre o autismo, queria que habilidade para lidar com emoções ou pessoas.
vissem o Theo como a criança encantadora, carinhosa e, muitas Um dia, Christopher encontra o cachorro da vizinha morto no jardim, é
acusado do assassinato e preso. Depois de uma noite na cadeia, decide
vezes, travessa que ele é. Na verdade, ele tem mais pontos em descobrir quem matou Wellington, o cachorro, e escreve um livro,
comum com as outras crianças do que diferenças. Ele gosta de relatando suas investigações. O resultado é O estranho caso do
brincar, passear, tomar sorvete, comer pipoca, ir comprar cachorro morto, e Christopher acaba descobrindo muito mais do que
brinquedos, pular na piscina. Toda criança tem seus pontos fortes procurava.
e suas dificuldades”. [...]

Confira entrevista completa: https://bit.ly/2wALNzN


BIBLIOGRAFIA
COSTA, Fernanda Da. O que é autismo e como você pode ajudar na inclusão. Disponível em:
<https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2014/11/O-que-e-autismo-e-como-voce-pode-ajudar-na-inclusao-4638366.html>. Acesso em:
28/08/2018

MARINI, Eduardo. Como está a inclusão das pessoas com Transtorno do Espectro Autista. Disponível em: <http://www.revistaeducacao.com.br/como-esta-
inclusao-pessoas-com-autismo/>. Acesso em: 28/08/2018

MEIRELLES, Elisa. Inclusão de autistas, um direito que agora é lei. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/57/legislacao-inclusao-autismo>. Acesso
em: 28/08/2018.

BBC BRASIL. 'Tenho medo do meu próprio filho': o desafio de lidar com crises de crianças com autismo. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-41801855>. Acesso em: 29/08/2018.

LEMOS, Emellyne Lima de Medeiros Dias; Et al. Inclusão de Crianças Autistas: um Estudo sobre Interações Sociais no Contexto Escolar. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rbee/v20n1/a09v20n1.pdf>. Acesso em: 29/08/2018.

FERREIRA, Mariana. Autismo não é só diagnóstico. Disponível em: <http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/180/reportagens/autismo-nao-e-so-


diagnostico>. Acesso em: 29/08/2018.

UOL NOTÍCIAS. Mães comemoram saída de menino autista de colégio na Argentina. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2017/09/03/maes-comemoram-saida-de-menino-autista-de-colegio-na-argentina.htm>. Acesso em: 29/08/2018.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Curso capacitará profissionais, pais e cuidadores para ampliar assistência ao autismo. Disponível em:
<http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/42926-curso-capacitara-profissionais-pais-e-cuidadores-para-ampliar-assistencia-ao-autismo>. Acesso
em: 29/08/2018.

CASTRO, Débora. Aplicativo auxilia o desenvolvimento de autistas. Disponível em: <https://noticias.band.uol.com.br/noticias/100000887899/aplicativo-auxilia-


o-desenvolvimento-de-autistas.html>. Acesso em: 29/08/2018.

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