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O FRUTO DO ESPÍRITO

Texto bíblico – Gálatas 5:22-25: “Mas o fruto do


Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E
os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne
com as suas paixões e concupiscências. Se
vivemos no Espírito, andemos também no
Espírito”.

O apóstolo Paulo, neste capítulo, discorre, inicialmente, sobre as obras da carne e


as conseqüências negativas que tais obras trazem para a vida daqueles que as
praticam.

Em seguida, ele deixa de falar de obras, para falar de fruto – e não é qualquer
fruto, mas, o fruto do Espírito. Observe-se que a palavra fruto está no singular,
dando a idéia de que nenhuma das nove atitudes descritas pode ser tratada ou
vivenciada individualmente.

O fruto do Espírito é um todo, e, embora esteja subdividido em nove partes, não


subsiste quando uma delas deixa de ser evidenciada. Ou seja, só é um fruto se
vivido como um todo.

Didaticamente, podemos dividir as nove partes em três grupos: o primeiro grupo


trata de qualidades espirituais básicas que deve existir em cada indivíduo; o
segundo grupo trata do relacionamento dos indivíduos uns com os outros; e o
terceiro grupo trata do relacionamento dos cristãos com Deus e sua vontade
revelada na Bíblia; a forma como Deus trata com os homens; e da relação que
cada cristão tem consigo mesmo.

1 – O PRIMEIRO GRUPO

A primeira parte do primeiro grupo, descrita por Paulo, é o amor: A Palavra de


Deus diz (em Romanos 5:5) que “o amor de Deus está derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

Observe-se que o texto supracitado mostra, em primeiro lugar, que o amor de


Deus já está presente em nossos corações, ou seja, o verbo estar é usado no
tempo presente do modo indicativo, o que mostra que ele – o amor – não tem que
ser buscado, mas, vivido. Não é algo a ser procurado, mas, algo a ser posto em
prática. Em segundo lugar, o texto diz que esse amor – que já está presente nos
nossos corações – não nos foi dado de forma parcimoniosa, mas, em abundância;
como o próprio texto diz, ele foi derramado.

É por isso que se diz que “amar é uma decisão”, porque, uma vez que o amor de
Deus está derramado em nossos corações, basta decidir usá-lo. Então a primeira
evidência de que alguém está andando no Espírito é a prática do amor. Esta é a
condição sine qua non para que as evidências das demais partes do fruto em
análise aflorem na vida de um cristão.

Diga-se, por oportuno, que não se está a tratar de um amor subjetivo, que é
sentido, mas de uma amor objetivo, que é prático esse faz aparente a partir das
ações daquele que é cheio do Espírito.

A segunda parte do fruto do Espírito é a alegria (gozo): A alegria que Paulo relata
aqui não é a alegria que é proporcionada pelas coisas que estão no mundo – e
que é efêmera –, mas, proporcionada pelo próprio Espírito.

É aquela alegria equilibrada, que não ultrapassa limites e não permite que a
pessoa tome atitudes precipitadas, eufóricas e inconseqüentes. A alegria que é
provocada pelos caminhos que o mundo oferece é uma alegria falsa que leva ao
seu antônimo – a tristeza. O livro de Provérbios, no capítulo 14, versículos 12 e
13, fala sobre isto:

“Há um caminho que ao homem parece direito,


mas o fim dele conduz à morte. Até no riso tem
dor o coração, e o fim da alegria é a tristeza”.

Em contrapartida, a alegria gerada pelo Espírito, levanta o homem, dá força ao


mesmo para reagir às agruras da vida. Capacita-o para uma vida feliz. Em
Neemias 8:10 consta o seguinte:

“... Não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor


é a vossa força”.

A alegria gerada pelo Espírito não está nas coisas do mundo, mas, na esperança
que o crente tem em Jesus. Ele não se deixa abater, não se entristece, pois sabe
que, apesar das dificuldades aparentes, o Senhor pode reverter o quadro e isto o
faz confiante, esperançoso e, por isto, alegre. Ressalte-se que, sem o amor, é
impossível ser alegre, pois, como dito, um fruto não pode ser vivenciado
isoladamente dos demais.
A terceira parte desse fruto é a paz: O Senhor Jesus, quando prometeu que o
Espírito Santo viria como o outro consolador para que os discípulos não ficassem
órfãos, disse:

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vo-la


dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize” (Jo: 14:27).

Veja-se que o Nosso Senhor não usou o verbo dar no tempo futuro, o que dá a
idéia de uma coisa que está perfeita, pronta, sem necessidade de atos que
venham complementa-la. E mais: Ele disse que essa paz que nos foi dada é
diferente da paz gerada pelo mundo – uma paz falsa, passageira, e
amedrontadora, já que se sustenta em coisas cuja solidez é duvidosa.

A paz que brota como fruto do Espírito é duradoura, eficaz, porque a pessoa que
exercita esse fruto repousa no “Pai das luzes, em que não há mudança nem
sombra de variação”.

É semelhante a uma criança que descansa nos braços do pai. Ela se sente
segura, porque acha que o seu pai vai lhe livrar de tudo que se levante contra ela.
Ainda que o pai já tenha falhado em algumas vezes, ela se sente segura.

Deus jamais falhou, e o que precisamos fazer é confiar Nele, repousar em Seus
braços e saber que Ele tem o melhor para cada um de nós. Ressalte-se,
entretanto, e uma vez mais, que é impossível que essa paz ser vivenciada, sem
que o amor e a alegria também o sejam, pois, repita-se, um fruto não pode ser
tratado de forma isolada dos demais.

2 – O SEGUNDO GRUPO

A primeira parte do segundo grupo é a longanimidade: Trata-se de uma


característica que a pessoa que exercita o fruto do Espírito deixa transparecer
para com aqueles que a aborrecem. Ela – a pessoa longânima – se recusa a dar
vazão às paixões ou às explosões da ira. Muitos têm interpretado a palavra
“longanimidade” como sinônimo de “paciência”, mas, cremos que a palavra que
melhor se aplica como sinônima, é “perseverança”. Quem é longânimo é
perseverante no relacionamento com os seus pares, sobretudo, com aqueles que
endurecem o coração para com o evangelho. A longanimidade é uma grande
arma contra a hostilidade do mundo em relação à igreja. Aliás, é isso que o
Apóstolo Paulo ensina na 2ª Carta enviada a Timóteo (4:2):

“Prega a Palavra, insta a tempo e fora de tempo,


admoesta, repreende, exorta com toda a
longanimidade e ensino”.
A longanimidade pode, e deve, também, estar presente no relacionamento entre o
cristão e Deus. Ou seja, o cristão longânimo, perseverante, tem a confiança de
que Deus cumprirá suas promessas. Sobretudo porque a carta aos Hebreus
(6:12), diz o seguinte:

“Não desejamos que vos torneis indolentes, mas


sejais imitadores dos que pela fé e pela
longanimidade herdam as promessas”

Aquilo que Deus prometeu Há de se cumprir! O que falta, é perseverança,


longanimidade por parte dos cristãos.

A segunda parte do segundo grupo é a benignidade: O cristão benigno não age


para com os outros de acordo com o padrão do mundo. Jesus nos admoestou a
ser benignos. Em Lucas 6:27-28, Ele diz:

“Mas a vós, que me ouvis, digo: amai a vossos


inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem,
bendizei os que vos maldizem, orai pelos que vos
caluniam”.

Infere-se pela leitura do texto supracitado, que a benignidade se opõe às práticas


da vingança e da ira retributiva. Jesus é o nosso maior modelo de uma pessoa
benigna: como exemplos, podemos citar o Seu encontro com a mulher que lavou
os Seus pés com perfume (Lucas 7:36-50); a sua oração quando estava na cruz
(Lucas 23:34); e o Seu julgamento para com a mulher adúltera (João 8:1-11).

O cristão benigno segue o exemplo de Jesus!

A terceira parte deste segundo grupo é a bondade: à primeira vista, a bondade


parece ser sinônima de benignidade. Mas, cremos que o apóstolo ao usar duas
palavras que parecem ser iguais, tinha um objetivo diferenciador para elas. Na
realidade, quando ele fala em bondade, está a se referir à generosidade de
coração e de ações.

O cristão bondoso é generoso para com os outros e essa generosidade se revela


nas suas ações. Essa generosidade não significa ceder aos pedidos e desejos de
muitos, mas, aplicar o mesmo tratamento bondoso para com todos. Não direcionar
suas boas atitudes para poucos. Do contrário, se estaria fazendo acepção de
pessoas, o que é defeso pelo Senhor.

A bondade, inclusive, é um dos atributos de Deus que é partilhado com o homem.


Aliás, a Bíblia afirma que “o Senhor é bom” (Salmo 100:5) e que “toda boa dádiva
e todo dom perfeito vem do Pai das luzes...” (Tiago 1:17). Então, o homem, criado
à imagem e semelhança de Deus, é detentor do atributo da bondade e, sendo
assim, deve evidenciá-lo na sua vida.

3. O TERCEIRO GRUPO

A primeira parte deste terceiro grupo é a Fidelidade. Esta subdivisão, como dito
inicialmente, está se referindo à relação que o cristão tem com Deus e com a sua
vontade revelada na Bíblia Sagrada. No original, ela está relacionada à palavra
pistis (fé), no sentido de “fé em Deus”. Entretanto, no contexto da carta aos
Gálatas, ela foi traduzida por fidelidade, que significa lealdade. O apóstolo Paulo
já havia falado nesta carta (cap. 1:6-9, 3:1 e 5:7) sobre como os gálatas estavam
sendo desleais com Deus, abandonando os ensinamentos constantes na Sua
Palavra.

Agora, Paulo estava sendo mais explícito e mostrando que o desvio dos Gálatas
era provocado pela inexistência do fruto do Espírito. E essa inexistência ficava
caracterizada pela falta de lealdade aos padrões da verdade insculpidos na
Palavra de Deus e, também, no trato com outras pessoas.

Sim, porque a falta de lealdade a Deus leva à falta de lealdade com as pessoas. O
relacionamento com os demais é um reflexo do relacionamento com Deus.

Hodiernamente vive-se a cultura do “não é bem assim” com relação às coisas de


Deus. Lê-se a Bíblia e, imediatamente, busca-se a conclusão que seja mais
favorável ao leitor, e não, àquela que Deus revelou.

Por tal razão é que há tantos desvios de conduta! A lealdade com Deus é
fundamental para uma vida de sucesso.

Na sequência Paulo fala sobre a mansidão. Quando fala em mansidão, Paulo


está a dizer como é o relacionamento de Deus com o homem e como deve ser o
relacionamento deste para com Deus. A mansidão é o oposto extremo da
violência, e da agressividade ou explosões de ira. Deve servir de exemplo,
inclusive, no relacionamento dos homens entre si. Mansidão pode ser definida
como a gentileza de uns para com os outros.

No original mansidão (prautes) transmite o sentido de brandura, que é visto como


a disposição de se submeter à vontade de Deus. Tem a ver, também, com a
lealdade, isto é, uma não subsiste sem a outra. Quando não há disposição em se
submeter à vontade de Deus, não há, conseqüentemente, lealdade para com este
Deus.
A razão de tantos planos fracassados, é que não há disposição dos homens em
fazer a vontade de Deus. O que há, na verdade, na maioria das vezes, é uma
imposição dos homens em quererem que Deus faça a vontade deles, e não o
inverso.

Então, quando não conseguem o que querem, colocam a culpa em Deus, dizem
que Deus é injusto, que Deus não existe etc.. A mansidão é o que torna os
homens menos impetuosos e mais obedientes à vontade de Deus. Só assim os
homens poderão ser bem sucedidos em seus projetos de vida.

Por fim, Paulo refere-se ao domínio próprio. Trata-se da relação que alguém tem
consigo mesmo. A pessoa que tem essa bênção evidenciada na sua vida tem “o
poder de conter-se a si mesma”, que foi o que o escritor quis dizer – se tomado
por base o sentido do termo usado no original. Domínio próprio é o domínio sobre
os nossos desejos.

Na vida de um cristão cheio do Espírito Santo, o “eu” é colocado no seu devido


lugar. Isto não significa que a pessoa que age assim está negando-se a si mesma,
negando a sua natureza pecaminosa, mas que ela avalia até onde os seus
desejos podem ser benéficos; até onde eles estão de acordo com a vontade de
Deus; até onde eles podem ser atendidos.

CONCLUSÃO
Vê-se que essas qualidades (amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio) não são naturais (não estão
presentes na vida de cada pessoa, bastando, tão somente, serem postas em
prática). Se assim fosse, Paulo não as teria citado como sendo fruto do Espírito
Santo. Elas precisam ser cultivadas espiritualmente!

É por esta razão que o apóstolo diz: “Se vivemos no Espírito, andemos também no
Espírito”. Isto é, se temos o Espírito Santo, evidenciemos que o temos com nossas
ações. Deixemos que as pessoas vejam que temos uma vida de acordo com a
vontade de Deus.

O desenvolvimento do fruto do Espírito leva a uma vida de harmonia com Deus e


com os homens. O fruto do Espírito torna a vida mais prazerosa!

Portanto, se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito!

Seja abençoado(a).

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