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Publicação destinada aos profissionais da saúde • ano 7 • nº 19 • julho 2014 • São Paulo • ISSN 2176-8463
Da relevância
histórica às
metas de saúde
Nesta edição da Nestlé Bio podemos apreciar, por exemplo, como a ingestão adequada de vitamina A diminui a
taxa de cegueira e mortalidade infantil.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo discutem, ainda, como
a fortificação do sal com iodo pode diminuir a prevalência de patologias associadas à ingestão deficiente deste
oligoelemento, sem que haja consumo excessivo de sódio.
Juan Carlos Marroquín
O vínculo do sal com doenças cardiovasculares e o esforço contínuo da Indústria de Alimentos para cumprir
Presidente da Nestlé Brasil
metas estabelecidas em conjunto com organismos internacionais de saúde também são objeto de reflexão.
Todas estas pautas são particularmente importantes à Nestlé. Estimular a alimentação saudável e produzir
alimentos nutritivos (com teores progressivamente menores de sal e açúcar) está no centro de gravidade da
estratégia de crescimento sustentado, com geração de valor compartilhado, de nossa Companhia.
Um exemplo disso é a qualidade singular das Papinhas Nestlé, detalhada nesta edição. E, também, os projetos
vencedores do 3º Prêmio Programa Nestlé Nutrir, Crianças Saudáveis – associados à merenda escolar conquis-
tados por escolas da Rede Pública.
Completam a presente edição um dossiê elaborado por docentes da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo, sobre nutrição e o pâncreas e um saboroso passeio gastronômico pela obra de Jorge Amado.
A revista Nestlé Bio é um produto informativo da Nestlé Brasil destinado a promover pesquisas e práticas no campo da Ciência da Nutrição realizadas no país e no exterior, sob os cuidados de um criterioso processo editorial.
linhada ao histórico papel da Nestlé no apoio à difusão da informação científica, a revista abre espaço para a diversidade de opiniões, que consideramos ser essencial para o intercâmbio de ideias e conceitos inovadores.
As declarações expressas na revista não refletem necessariamente o posicionamento institucional da Companhia com relação aos temas tratados.
por_Flávia Benvenga
Como a inovação é uma das características do 15 anos após a criação, como o programa atua hoje
programa, em 2008, em parceria com o Instituto Fer- para estimular a alimentação saudável de crianças e
nanda Keller, em Niterói (RJ), o Nestlé Nutrir Crianças adolescentes?
Saudáveis desenvolveu o formato de prevenção qua- O Nestlé Nutrir Crianças Saudáveis promove a
lificada. Trata-se de um trabalho em que as crianças boa alimentação e a atividade física para crianças e
que frequentam a entidade passam por avaliação an- adolescentes em idade escolar. Para isso, utilizam-se
tropométrica, participam de atividades pedagógicas diferentes estratégias em cada pilar de atuação —edu-
de educação alimentar e nutricional, atividades físicas, cação, nutrição e atividade física. Nas escolas públicas,
além de receber um acompanhamento individual quan- o programa busca o envolvimento de toda a comunidade
do necessário. O projeto foi tão bem-sucedido que, em escolar na promoção da importância da alimentação nu-
2012, o modelo foi posto em prática em mais três ins- tricional e educacional e da prática regular de atividade
tituições: Casa do Zezinho, em São Paulo, Instituto Bola física. Já em ONGs, uma equipe capacitada acompanha
pra Frente, no Rio de Janeiro, e Bairro da Juventude, em a criança para garantir que ela esteja recebendo o trata-
Criciúma (SC). mento e a atenção de que necessita.
Além disso, hoje, o Nestlé Nutrir Crianças Saudá-
veis integra o programa global da companhia na pre- O que mudou no programa, do seu nascimento, para
venção da obesidade infantil. “A experiência adquirida hoje?
com a atuação no Brasil contribuiu para a criação do O conteúdo do Nestlé Nutrir Crianças Saudáveis
Nestlé Healthy Kids Global Programme, presente em sempre acompanhou o cenário do Brasil e as principais
mais de 60 países”, observa a Presidente, que, na en- questões nutricionais da população. Quando foi criado,
trevista a seguir, explica com detalhes esse trabalho havia um sério problema relacionado à desnutrição
que inspira adultos, crianças e adolescentes a adotar infantil. Com o passar do tempo, esse quadro foi mu-
uma vida saudável. dando e, atualmente, nosso foco está na prevenção e
combate à obesidade de crianças e adolescentes.
Ao longo desses anos, o programa também expan-
Atualmente, o foco do Nestlé Nutrir diu a forma como atua na sociedade e passou a agir em
três novas frentes: capacitação de educadores de es-
está na prevenção da obesidade de colas públicas, combate à obesidade e desnutrição em
crianças e adolescentes organizações não governamentais e parceria com o IAAF
(Associação Internacional de Federações de Atletismo).
Além disso, o pilar atividade física ganhou força e vem
sendo trabalhado paralelamente à educação nutricional.
Aspectos metabólicos
Na atualidade, dificilmente se encontra uma mesa sem saleiro, ou
um cozinheiro que poderia viver sem uma “pitada de sal”. O sódio e o cloro absorvidos permanecem nos com-
O sal (ou sal de cozinha) é o nome popular do cloreto de sódio, partimentos extracelulares (plasma e fluido intersticial)
o composto químico formado por 40% de cátion sódio (Na+) e 60% de e uma pequena quantidade nos compartimentos intrace-
ânion cloro (Cl-). Esse íons, juntamente com o potássio, exercem papel lulares, como nos músculos, por exemplo [3].
importante na manutenção da pressão osmótica e do equilíbrio hídrico O balanço de sódio e cloro no organismo é regido,
e ácido- -básico do organismo [2]. ainda, por uma série interações hormonais que incluem
Além disso, o sódio é essencial para transmitir os impulsos nervo- o sistema renina-angiotensina-aldosterona, o peptídeo
sos, estimular a ação muscular e participar do transporte ativo de subs- atrial natriurético e o sistema calicreína-quinina, direta-
tâncias por meio das membranas celulares, como a absorção da glicose mente associados com a regulação da pressão arterial e
no intestino delgado. Ele é o cátion mais abundante no líquido extracelular do volume sanguíneo [3,4].
do corpo humano [3].
O cloro, por sua vez, é fundamental para a produção de ácido clo- Influência na saúde
rídrico (HCl), secretado no suco gástrico – fundamental para manter a O organismo humano tem demonstrado a capacidade
acidez do estômago e ativação de enzimas durante o processo digestivo. de sobreviver a extremos de ingestão de cloreto de sódio,
A absorção do sódio e do cloro (predominantemente como cloreto com evidências de populações que consomem desde 0,2
de sódio) ocorre principalmente no intestino delgado, sendo equivalente g (10 mmol) por dia, como os índios Yanomami do Brasil, a
à 98% da quantidade consumida. Amplamente encontrados nas natureza, mais de 10,3 g (450 mmol) por dia no norte do Japão [4,5].
suas principais fontes são o leite, as carnes, os frutos do mar, os ovos e Devido à insuficiência de dados de estudos dose-
vegetais como cenoura e beterrabas. O sódio também é consumido como -resposta, as EARs (Estimated Average Requirement) e
bicarbonato de sódio, glutamato monossódico, fosfato de sódio e outros as RDAs (Recommended Dietary Allowance) não pude-
ingredientes utilizados na produção dos alimentos industrializados [2,3]. ram ser estabelecidas para sódio e cloro. A AI (Adequate
A maior parte da excreção do cloreto de sódio se dá por meio da uri- Intake) foi estabelecida em 1,5 g (65 mmol) por dia de
na, quando o suor não é excessivo. Em indivíduos saudáveis, essa quanti- sódio para adultos jovens (3,8 g de cloreto de sódio),
dade é praticamente igual à ingerida, já que o rim tem capacidade de filtrar para assegurar que a dieta total possibilite uma ingestão
cerca de 25.000 mmol de sódio por dia e reabsorver 99% do filtrado [4]. adequada dos outros nutrientes, assim como, cobrir as
A excreção pela pele aumenta quando há transpiração profusa, cau- perdas de sódio. A AI para cloro foi determinada em ní-
sada por grande esforço físico e/ou altas temperaturas. O suor profuso vel equivalente aos valores molares de sódio: 2,3 g (65
pode causar perdas de mais de 350 mEq de sódio. mmol) por dia de cloro para adultos jovens [4,5].
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma ingestão Foi estabelecida uma relação linear significativa
diária para adultos de, no máximo, 5 g de sal. Para crianças e adoles- entre a excreção urinária de sódio e a pressão sanguínea
centes, os limites máximos de consumo de sódio e sal são ainda meno- sistólica (p<0,01) nos 52 centros. Em análises de corte
res, visto serem populações mais vulneráveis. A redução do consumo transversal, observou-se relação significativa entre sódio
nessas faixas etárias precoces representa melhoria da saúde cardíaca e valores crescentes de pressão sanguínea com a idade
na vida adulta. Nas últimas décadas, contudo, o consumo de cloreto de em todas as populações estudadas.
sódio na maioria dos países permanece excessivo, variando de 9 a 12 g Além disso, a literatura aponta uma associação en-
por pessoa por dia [6]. tre o consumo excessivo de sódio e o desenvolvimento
O maior efeito adverso da ingestão aumentada de cloreto de sódio é a de doenças crônicas, incluindo câncer e osteoporose.
elevação da pressão sanguínea, um fator de risco estabelecido para doen- Estudos mais recentes sugerem haver correlação entre
ças cardiovasculares e renais. De modo geral, a pressão sanguínea aumenta o consumo de sal, obesidade e inflamação, independente
progressivamente com o incremento do consumo de cloreto de sódio [7,8]. do teor energético da dieta [4, 13].
Diversos estudos de metanálise de pesquisas clínicas foram conduzi- Um artigo publicado no jornal Pediatrics, em
dos para analisar os efeitos da ingestão de sódio sobre a pressão arterial. 2014, avaliou 766 adolescentes saudáveis com con-
Essas metanálises foram capazes de fornecer evidências consistentes de sumo diário de sódio acima de 1.500 mg. Os resulta-
que diminuir a ingestão de sódio reduz as pressões sistólicas e diastólicas dos da pesquisa apontaram alto nível de leptina entre
em indivíduos hipertensos. A magnitude dessa redução em indivíduos nor- os adolescentes. A leptina é um hormônio produzido
motensos, no entanto, foi menos consistente. pelos adipócitos, responsável pela saciedade e quei-
Os resultados das três maiores metanálises (Cutler 1997; Graudal ma de gordura, mas em níveis cronicamente eleva-
1998; Midgley, 1996) demonstraram que as reduções médias nas pres- dos pode exercer efeitos opostos. Além disso, esses
sões sistólica/diastólica por diminuição de 100 mmol (2,3g) de sódio diário adolescentes com ingestão elevada de sódio também
excretado em indivíduos hipertensos foram de 5,8/2,5; 3,3/1,6; e 3,7/0,9 apresentaram altos níveis de fator de necrose tumoral
mm Hg, respectivamente. Por outro lado, as reduções correspondentes alfa (TNF-a), uma citocina que contribui para o proces-
nas pressões sistólicas/ diastólicas em indivíduos normotensos foram de so de inflamação crônica e doenças autoimunes como
2,3/1,4; 0,8/0,2; e 1,0/0,1 mm Hg, respectivamente [9, 10, 11]. lupus e artrite reumatóide [13].
Um dos mais relevantes estudos epidemiológicos observacionais —
que explorou a relação entre a ingestão de sódio e a pressão arterial — foi
conduzido em 52 centros de pesquisas localizados em 32 países. O sódio
urinário, a pressão sanguínea e outras variáveis potencialmente relevantes
que poderiam confundir o experimento foram medidas em 10.079 homens e
mulheres, entre 20 e 59 anos, de diversas regiões geográficas com variação
substancial na ingestão de sódio [12].
Após realizados os ajustes para idade e sexo, a excreção de sódio e a pres-
são sistólica foram positivamente associadas em 39 dos 52 centros (com sig-
nificância estatística em 15) e negativamente associadas em 15 centros (com
significância estatística em 2). A pressão diastólica foi associada positivamente
com a excreção de sódio em 33 centros (com significância estatística em 4) e
associada negativamente em 19 centros (com significância estatística em 6).
Cenário brasileiro
As Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) de 2002–03 e
2008–09, estimaram uma ingestão média de cloreto de sódio de cerca
de 12 g por pessoa por dia (equivalente a 4.700 mg de sódio). Análises
do consumo alimentar pessoal mostraram que mais de 70% da popula-
ção ingeria sódio em excesso (acima de 2.000 mg ao dia) e que mais
de 90% dos adultos e adolescentes de 14 a 18 anos de idade nas áreas
urbanas ultrapassava esse limite diário [14, 15].
De acordo com as mesmas pesquisas, a aquisição domiciliar anual
de cloreto de sódio caiu de 2,98 para 2,47 kg per capita. Simultaneamente,
a participação da alimentação fora do domicílio nas despesas familiares au-
mentou para um terço do total dos gastos alimentares, e a participação dos
alimentos processados cresceu em todos os estratos de renda [14,15]. do sal); 2) realização de ações educativas e informa-
Dados do Ministério da Saúde reforçam que a hipertensão arterial tivas para profissionais de saúde, manipuladores e fa-
possui grande importância epidemiológica no Brasil, sendo que 23,3% bricantes de alimentos e população; e 3) reformulação
da população adulta residente nas capitais brasileiras referiram diag- dos alimentos processados.
nóstico médico de hipertensão arterial em 2010. Além disso, estima-se Com relação aos alimentos processados, estabe-
que aproximadamente 35% dos brasileiros com 40 anos ou mais sejam leceu- se um termo de cooperação entre o Ministério da
hipertensos. As doenças do aparelho circulatório representaram 29,4% Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Ali-
dos óbitos totais no Brasil, em 2007, sendo a doença hipertensiva so- mentação (ABIA), em 2007, para com o objetivo prin-
zinha responsável por 3,7% da mortalidade geral naquele ano [16, 17]. cipal de trabalhar propostas de reformulação de produ-
O Ministério da Saúde tem coordenado estratégias nacionais visando tos. As reduções de sódio nos alimentos são discutidas
redução do consumo de sódio, com ações articuladas a planos setoriais como individualmente para cada categoria, estabelecendo-se
o Plano Nacional de Saúde 2012–2015 e o Plano de Ações Estratégicas para metas bianuais de diminuição dos limites máximos,
o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis no Brasil 2011– que são formalizadas por meio de termos de compro-
2022. Entre as principais estratégias encontram-se a redução voluntária do misso assinados entre o governo e representantes das
conteúdo de sódio de alimentos processados e a realização de campanhas indústrias de alimentos [18].
de mídia para a promoção de hábitos alimentares saudáveis, que, segundo Está prevista ainda uma redução gradual e vo-
estimativas da OMS, poderiam evitar 2,5 milhões de mortes e poupar bilhões luntária, tendo em vista aspectos que incluem o de-
de dólares aos sistemas de saúde no mundo [8,18]. senvolvimento de novas tecnologias e formulações e
A agenda é reforçada pelo envolvimento das principais agências in- a adaptação do paladar dos consumidores, permitindo
ternacionais, com destaque para a Força-Tarefa para a Redução do Consu- a avaliação de cada etapa do plano, discussão dos re-
mo de Sódio nas Américas (coordenada pela Organização Pan-Americana da sultados, avanços e dificuldades e, se necessário, com
Saúde -OPAS). Um dos principais produtos da Força-Tarefa é uma declaração base nos dados do monitoramento, revisão das metas.
política que estabelece o compromisso dos países da região com a redução Além de conferir sabor aos alimentos e preparações, o
do consumo de sal para menos de 5 g ao dia até 2020 [19]. sódio participa de processos vinculados a segurança
As ações estratégias foram definidas sobre 3 eixos: 1) promoção sanitária e, também, associados com a textura e estru-
da alimentação saudável (particularmente no que tange ao uso racional tura dos produtos.
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bio19 Ricardo 15_07_14.indd 13 22/07/14 13:38
conhecer
por_Mariana Azevedo
Ela está no pão com manteiga da padaria e no foi Intitulado “The Necessity of Certain Lipins in the
gras do restaurante francês. No alimento fortificado e Diet During Growth”, o artigo mostrava que certos com-
no creme do dermatologista. postos presentes em gorduras animais – e não apenas
Está na boca do povo, literalmente desde os pri- o lipídeo por si só – eram indispensáveis para o cresci-
mórdios da história da alimentação – não é a toa que mento normal de ratos de laboratório.
povos caçadores primitivos dão especial valor às vís- Como desdobramento da descoberta, estudos
ceras dos animais que abatem para comer –, mas só começaram a associar a deficiência de vitamina A em
ganhou nome e sobrenome há um século. crianças a atraso no crescimento, xeroftalmia, ceguei-
E que nome: vitamina é formada pelo prefixo ra e baixa imunidade.
“vida”, em latim, e a noção de que micronutrientes A importância da vitamina A para a visão foi
eram determinantes para o crescimento e a sobrevi- destrinchada pelo bioquímico americano George Wald
vência humana – em outras palavras, vitais – foi uma (1906-1997). Suas pesquisas sobre os mecanismos
revolução na ciência da nutrição. moleculares que ocorrem na retina e o papel da vitami-
A ideia de que os chamados “fatores acessórios” na centenária nesse processo lhe renderam o prêmio
eram tão necessários quanto gorduras, proteínas e Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1967 (3).
carboidratos para a saúde só se popularizou no Oci-
dente no início do século 20 (1). Entre 1912-1914, a
ciência moderna identificou os primeiros desses fato-
res, agora considerados vitais, as vitaminas A e B1.
Os bioquímicos americanos Elmer V. McCollum
(1879-1967) e Marguerite Davis (1887-1967), da Uni- O bioquímico americano
versidade de Wisconsin-Madison, foram os responsá-
veis por isolar pela primeira vez a substância lipossolú- George Wald pesquisou os
vel que, posteriormente, foi nomeada como vitamina A.
Os pesquisadores usaram letras para identificar George Wald
mecanismos moleculares
a substância porque, na época, sua estrutura ainda
não tinha sido determinada para receber nomenclatu-
que ocorrem na retina e o
ra química. papel da vitamina A
Em 1913, McCollum e Davis publicaram o artigo
“fundador” da vitamina A no periódico “The Journal of
Biological Chemistry”, da American Society for Bioche-
mistry and Molecular Biology. (2)
Força milenar
Mas a história da vitamina remonta há muitos sé-
culos antes de sua descoberta, há 101 anos.
Em um papiro egípcio de cerca de 1.500 a.C.,
consta a recomendação de se usar fígado bovino para
a cura de uma doença da visão (4).
À luz da ciência moderna, o “tratamento” sugeri-
do é ineficaz: a indicação era colocar o bife sobre o olho
do paciente, quando hoje se sabe que a ação da vitami-
na A na visão é sistêmica.
Mas relacionar a cura de um mal da visão com
um dos alimentos mais ricos em vitamina A é altamen-
te sugestivo de que esse povo da Antiguidade tinha ao
menos uma intuição da relação entre substâncias en-
contradas nos alimentos (no caso, o micronutriente) e Estratégia A
seu efeito em um órgão específico. O combate à desnutrição infantil e, especifica-
A relação da deficiência da vitamina A com a ce- mente, a suplementação de vitamina A e zinco estão
gueira noturna (e outras doenças) também foi perce- entre as estratégias propostas pelo Consenso de Co-
bida na Antiguidade Grega. penhagen de 2008 (6) para solucionar os dez maiores
Em um dos livros da obra deixada por Hipócrates desafios mundiais.
e seus discípulos (5) encontra-se a recomendação de A organização reúne especialistas do mundo todo
se tratar crianças afetadas por cegueira noturna com para discutir os programas com melhor relação custo/
uma dieta de fígado cru. No livro também há o comen- benefício a serem adotados por governos e ONGs.
tário de que crianças com esse problema de visão são Segundo a Micronutrient Iniciative (MI), a suple-
as que sofrem de outras doenças infecciosas. mentação de vitamina A duas vezes ao ano em popula-
A relação é fácil de ser entedida hoje, quando se ções subnutridas reduz de 12% a 23% a taxa de mortali-
sabe que a deficiência de vitamina A está relacionada à dade infantil e em até 70% a cegueira em crianças (7).
desnutrição em geral o que, consequentemente, causa A MI é uma organização mundial com base no Ca-
baixa imunidade. nadá que trabalha com instituições como a OMS e a Uni-
cef para combater a deficiência de vitaminas e minerais
em populações vulneráveis.
A eficácia da suplementação semestral de vitami-
na A em crianças subnutridas foi provada em várias pes-
A relação da deficiência de vitamina A com quisas populacionais. Entre as mais importantes, estão
Boas fontes
Nos alimentos, a vitamina A pode ser encontrada
de duas maneiras: pré-formada (retinol), pronta para ser
usada pelo organismo, ou em precursores, carotenoides
que são convertidos pelo corpo na vitamina (13).
Fígado, em especial, e outras vísceras animais,
gema de ovo, leite e derivados são as principais fontes
de vitamina A “pronta para o uso”.
Frutas e legumes amarelos e alaranjados (manga,
mamão, goiaba vermelha, cenoura, abóbora) e vegetais
verde-escuro (espinafre, couve, chicória) são as gran-
des fontes dos carotenoides precursores.
Alguns frutos de palmeira e seus óleos também
são muito ricos em vitamina A: dendê, buriti, pequi, pu-
Cristais de vitamina A punha, tucumã. (14).
Um bife de fígado de 85 g tem 22,175 UI de vitami-
na A. Meia xícara de espinafre cozido oferece 11,458 UI
No Brasil da vitamina e meia xícara de cenoura crua, 9,189 UI (15).
A deficiência de vitamina A é considerada um
problema de saúde pública no país (12). A Pesquisa
Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mu-
Teores de vitamina A em diferentes alimentos
lher (PNDS-2006) identificou que 17,4% das crianças e
12,3% das mulheres brasileiras apresentam níveis ina-
dequados da vitamina.
As maiores prevalências da deficiência em crian-
ça foram observadas nas regiões Sudeste (21,6%) e
Nordeste (19%). Em mulheres, a maior prevalência tam-
bém está no Sudeste (14%), seguida por Centro-Oeste
(12,8%) e Nordeste (12,1%).
Desde 2005, o Ministério da Saúde realiza o Progra-
ma Nacional de Suplementação de Vitamina A, que atual-
mente cobre todas as regiões consideradas de risco do
país. O programa prevê a suplementação de megadoses
de vitamina A para crianças de 6 a 59 meses e mulheres
no pós-parto. As doses de 100.000 UI e 200.000 UI são Um bife de fígado Meia xícara de Meia xícara de
distribuídas na forma líquida (diluída em óleo de soja e de 85 g espinafre cozido cenoura crua
acrescida de vitamina E) e em cápsulas.
Também faz parte do programa incentivar o alei-
tamento materno até os seis meses (no caso de mães
22,175 UI 11,458 UI 9,189 UI
que não têm deficiência nutricional, o leite materno su-
pre todas as necessidades do bebê) e orientar sobre o
consumo de alimentos ricos em vitamina A.
Perspectivas
Vários estudos têm examinado o papel antican-
cerígeno da vitamina A. No caso de câncer de pulmão,
como no trabalho do Grupo de Estudos sobre Alfa-tocofe-
rol Betacaroteno, os resultados são inconclusivos.
Mas, por causa do papel desta vitamina na regu-
lação do crescimento e diferenciação celular, pesquisas
continuam a ser feitas com diferentes tipos de câncer.
Recomendações diárias Um grande estudo de coorte retrospectivo (20),
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitá- feito por pesquisadores da Kaiser Permanent, das uni-
ria) recomenda uma ingestão diária de 600 mcg ER para versidades da Califórnia e de Washington e do Fred Hu-
adultos (16). tchinson Cancer Research Center, associou a suplemen-
É a dosagem recomendada pelo Departamento de tação de vitamina A à redução de melanoma, o tipo mais
Agricultura dos Estados Unidos para meninos e meninas fatal de câncer de pele.
entre 9 e 13 anos (15). Os pesquisadores analisaram o risco de melano-
A instituição americana recomenda doses de 900 ma de 69.635 pessoas com idade média de 62 anos, e
mcg ER para homens a partir dos 14 anos e de 700 mcg concluíram que o risco de melanoma era cerca de 40%
ER para mulheres nessa faixa etária. Para bebês e crian- menor nos participantes que tomavam suplementos de
ças as recomendações são 400 mcg ER até os seis me- vitamina A.
ses, 500 mcg ER dos 7 aos 12 meses, 300 mcg ER de 1
a 3 anos e 400 mcg ER de 4 a 8 anos.
Overdose
Em excesso, a vitamina A pré-formada pode ser tó- A vitamina A também será estudada como
xica. O quadro de hipervitaminose A raramente acontece
por ingestão de alimentos: sua causa mais comum é a tratamento coadjuvante da esclerose múltipla
superdosagem de suplementos.
O consumo excessivo crônico pode aumentar a pres-
são intracraniana, causar náusea, dor de cabeça, inflama-
ções de pele, articulações e ossos (13). E como a vitamina
A é armazenada no fígado, a overdose causa danos ao órgão.
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Vitamin A supplementation for cystic fibrosis. Cochrane Database Syst Rev 2010
set. out.
70º Curso Nestlé de Atualização em Pediatria >> 2 a 5 37º Simpósio Internacional de Ciências do Esporte
O departamento científico da Sociedade Brasileira de Organizado pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de
Pediatria, juntamente com membros da Sociedade de São Caetano do Sul (CELAFISCS), o simpósio acontece em São Paulo
Pediatria do Ceará e docentes da área, preparou uma (SP), no Centro de Convenções Rebouças. A programação científica
programação científica com foco nas novas morbidades, foi desenvolvida de acordo com o tema “Lições e Sonhos no Exercício
prevenção da obesidade e alergia alimentar. O encontro e na Atividade Física”. Maiores informações estão disponíveis no site
acontece em Fortaleza (CE), no Centro de Convenções da oficial do evento: http://www.simposiocelafiscs.org.br
cidade. A programação científica preliminar está disponível
em: http://www.cnap.com.br
nov.
XXIII Congresso Brasileiro de Nutrição >> 17 a 20
Nessa edição do evento bianual, organizado pela Associação
Brasileira de Nutrição e suas filiadas, a programação científica
está voltada para a temática “Alimentação e Nutrição nos
III World Congress of Public Health Nutrition >> 9 a 12
Excessos e na Fome Oculta: onde estamos e para onde vamos?”.
Simultaneamente, acontecem o V Congresso Ibero-americano de O encontro internacional será sediado em Las Palmas de Gran
Nutrição, o III Simpósio Ibero-americano de Nutrição Esportiva, Canaria, na Espanha, juntamente com o II Latin America Congress
o II Simpósio Iberoamericano de Nutrição em Produção de of Community Nutrition e o X Congreso de la Sociedad Espñola de
Refeições e o II Simpósio Ibero-americano de Nutrição Clínica. Nutrición Comunitaria (SENC). O evento conta também com 3 dias
O Congresso será realizado em Vitória (ES) e disponibiliza de workshop pré-congresso. A programação preliminar pode ser
maiores informações no endereço: http://www.conbran.com.br acessada no endereço: http://www.nutrition2014.org
69º Congresso Brasileiro de Cardiologia >> 26 a 29 1º Congresso Brasileiro de Nutrologia Pediátrica >> 13 a 15
O tradicional encontro da Sociedade Brasileira de Cardiologia Paralelamente, acontece o 4º Simpósio Internacional de Nutrologia
acontece em Brasília, no Centro Internacional de Convenções. Pediátrica. O programa científico do evento com sede em Florianópolis (SC)
Com um desenho diferente dos anteriores, organização permitirá a discussões sobre programação metabólica, alergia alimentar,
do evento prepara uma grade científica focada em temas obesidade, nutrição, atividade física, prevenção na infância de doenças
práticos, visando proporcionar discussões positivas crônicas do adulto, transtornos alimentares, dentre outros. A submissão
e esclarecedoras aos participantes. Para inscrições e de trabalhos científicos pode ser realizada até o dia 15 de agosto.
programação preliminar, acesse: http://congresso.cardiol.br Para maiores informações, visite: http://www.nutroped2014.com.br
19, que habita o livro homônimo de Charles Dickens. da), fubá, porco, goiabada cascão... “
Foi a partir dessa mesa crua, de refeição insi- Nasci para comer, e nesta casa os petiscos têm
piente, que Oliver, com “imprudente miséria”, resolveu qualquer coisa que bole no coração da gente. (...) Juro
avançar no refeitório do reformatório e dizer a frase “Por sobre a lança de meu amo que petisqueira como as da-
favor, senhor, eu quero mais”, que o fez ser punido e aca- qui, nem no céu”, ouve em elogio a cozinheira Tia Nastá-
bar, mais tarde, tomando rumo em direção Londres. cia, de sua obra “O Picapau Amarelo”.
[1] Marcia Camargos, Vladimir Sacchetta. À mesa com Monteiro Lobato. Editora Senac São Paulo. [2] Paloma Jorge Amado. A comida baiana de Jorge Amado ou o Livro de cozinha de
REFERÊNCIAS Pedro Archanjo com as merendas de Dona Flor. Editora Record. [3] Jorge Amado. Dona Flor e Seus Dois Maridos. Companhia das Letras. [4] Dinah Fried. Fictitious Dishes: An Album of
Literature's Most Memorable Meals. HarperCollins: fictitiousdishes.com [5] Jorge Amado. Gabriela, Cravo e Canela. Companhia das Letras. [6] Bettina Orrico. Os jantares que não dei.
Editora BEI. [7] Jorge Amado. Tenda dos milagres. Companhia das Letras. [8] Jorge Amado. Tieta do Agreste. Companhia das Letras.
iodo/kg de sal, destinada somente para as áreas de grande importância por prevenir as consequências
LÍVIA FERNANDES DE LIMA
bócio endêmico. Posteriormente, em 1994, essa do consumo insuficiente ou excessivo deste micro-
Nutricionista (USP/RP),
quantidade passou a ser considerada insuficiente nutriente. Por outro lado, é importante salientar Mestranda em Ciências
para garantir o aporte mínimo necessário à saúde. que a ingestão aumentada de iodo está diretamen- Médicas na área de
Investigação Biomédica pelo
Assim, o Ministério da Saúde, além de aumentar te relacionada ao consumo de sal. Sabe-se que a Programa de Pós-graduação
o teor de iodo no sal para 40 a 100mg de iodo/ população brasileira apresenta uma ingestão diária do Departamento de Clínica
Médica da FMRP-USP.
kg de sal, estendeu a iodação para todo território de sal duas vezes maior do que o recomendado.
nacional [1]. Desta forma, o interessante seria a existência DR. ANDERSON
Em 2000, houve uma pesquisa nacional que de uma sintonia entre as ações em saúde públi- MARLIERE NAVARRO
evidenciou excesso do consumo deste micronu- ca que contemplem a adequação da ingestão de Professor do Curso de
Nutrição e Metabolismo do
triente. Devido a esta nova realidade, a Agência sódio e, concomitantemente, a fortificação do sal Departamento de Clínica
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em com iodo, em concentração adequada à população Médica da FMRP-USP.
Mestre em Alimentos
2003, reduziu os níveis de concentração de iodo no brasileira, possibilitando a prevenção de doenças e Nutrição na área de
sal de consumo humano para 20 a 60 mg de iodo/ associadas ao sódio e às condições de insuficiência concentração de Ciências
Nutricionais pela UNESP
kg de sal. Porém, esta medida continuou mantendo e/ou excesso do consumo de iodo. e Doutor em Ciências
Médicas na área de
Investigação Biomédica pelo
Programa de Pós-graduação
[1] Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, Fundação Nacional de Saúde. Manual de combate aos distúrbios por deficiência de do Departamento de Clínica
REFERÊNCIAS iodo. Ministério da Saúde, 1996. [2] Medeiros-Neto G. Iodine nutrition in Brazil: where do we stand? Arquivo Brasileiro Endocrionologia Médica da FMRP-USP.
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schoolchildren. Eur J Nutr, 2012, 51(5):557-62. [4] De Lima LF, Barbosa Jr F, Navarro AM. Excess iodinuria in infants and its relation to the
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Resolução da Diretoria Colegiada nº 23, de 24 de abril de 2013. Dispões sobre o teor de iodo no sal destinado ao consumo humano e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília: Ministério da Saúde, n.75, 2013.
Alimentação
complementar adequada:
contribuindo para o desenvolvimento saudável
As boas práticas alimentares durante a primeira in- De modo geral, são identificados três grandes de-
fância, incluindo o aleitamento materno e a alimentação safios para o desenvolvimento do lactente [5-11]:
complementar saudável, são essenciais para o crescimen-
to, o desenvolvimento e a saúde futura da criança.
. Vulnerabilidade acentuada (0 a 6 meses): diminuição
Em 2008, uma série de publicações da revista The Lancet
demonstrou o impacto da desnutrição nos primeiros “mil dias”
da criança sobre a mortalidade infantil e seus efeitos, a maioria
1 da imunidade fornecida pela mãe, mudanças ambientais,
desenvolvimento da imunidade.
ÚC
AD
ION A
ADO DE
qualidade e integridade ao longo do tempo.
PAPINHAS NESTLÉ As Papinhas Nestlé podem auxiliar os pais a compor um cardápio va-
Pensando em tudo isso, as Papinhas Nestlé oferecem um por- riado e diversificado. Juntamente com as papas caseiras e com a amamen-
tfólio diversificado contendo ingredientes adequados para cada fase tação elas podem fazer parte da dieta do bebê, após os 6 meses de idade.
do desenvolvimento da criança: Etapa 1 (Descobrindo os alimen- Vale lembrar que, após a abertura da embalagem, a papinha que não
tos), Etapa 2 (Variando o cardápio), Etapa 3 (Estimulando a masti- teve contato com a colher que foi à boca do bebê pode ser acondicionada
gação) e Júnior (Nutrição para o crescimento). por até 24 horas em refrigerador.
As receitas das Papinhas Nestlé foram desenvolvidas com me-
nos sal, auxiliando na redução do risco para hipertensão no futuro e
evitando o estímulo a preferências alimentares [11]. Além disso:
As receitas das Papinhas Nestlé foram desenvolvidas com menos sal, auxiliando na redução
do risco para hipertensão no futuro e evitando o estímulo a preferências alimentares.
NOTA IMPORTANTE: O aleitamento materno é a melhor opção para a alimentação do lactente proporcionando não somente benefícios nutricionais e de proteção, como também afetivos. É fundamental que a
gestante e a nutriz tenham uma alimentação equilibrada durante a gestação e amamentação. O aleitamento materno deve ser exclusivo até o sexto mês e a partir desse momento deve-se iniciar a alimentação
complementar mantendo o aleitamento materno até os 2 anos de idade ou mais. O uso de mamadeiras, bicos e chupetas deve ser desencorajado, pois pode prejudicar o aleitamento materno e dificultar o retorno
à amamentação. No caso de utilização de outros alimentos ou substitutos de leite materno, devem-se seguir rigorosamente as instruções de preparo para garantir a adequada higienização de utensílios e objetos
utilizados pelo lactente, para evitar prejuízos à saúde. A mãe deve estar ciente das implicações econômicas e sociais do não aleitamento ao seio. Para uma alimentação exclusiva com mamadeira será necessária
mais de uma lata de produto por semana, aumentando os custos no orçamento familiar. Deve-se lembrar à mãe que o leite materno não é somente o melhor, mas também o mais econômico alimento para o bebê.
A saúde do lactente pode ser prejudicada quando alimentos artificiais são utilizados desnecessária ou inadequadamente. É importante que a família tenha uma alimentação equilibrada e que, no momento da intro-
dução de alimentos complementares na dieta da criança ou lactente, se respeitem os hábitos culturais e que a criança seja orientada a ter escolhas alimentares saudáveis. Em conformidade com a Lei 11.265/06;
Resolução ANVISA n° 222/02; OMS - Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno (Resolução WHA 34:22, maio de 1981); e Portaria M.S. n° 2.051 de 08 de novembro de 2001.
Nutrição e Pâncreas
ANDRÉ LUÍS MONTAGNINI O pâncreas é um órgão parenquimatoso, lo- Tabela 1 – Células pancreáticas e produtos produzidos.
Doutor em Cirurgia do
Aparelho Digestivo pela
calizado no retroperitônio, com íntima relação com Pâncreas Endócrino
Faculdade de Medicina o duodeno aonde desembocam os ductos pancreá- Células Produto
da USP. Cirurgião do
Serviço de Cirurgia das Vias ticos. Apresenta função endócrina e exócrina.
Alfa Insulina
Biliares e Pâncreas do HC- A atividade endócrina é exercida pelas das
FMUSP. Professor Médico Beta Glucagon
Colaborador da Disciplina Ilhotas de Langerhans, dispersas pelo parênquima
de Cirurgia do Aparelho Delta Somatostatina
pancreático, onde células específicas produzem
Digestivo da FMUSP.
hormônios (tabela 1). A insulina e o glucagon tem PP Peptídeo pancreático
TATIANA OLIVEIRA ISAMU ação direta no metabolismo da glicose e influen- Pâncreas Exócrino
Coordenadora de Nutrição
do Centro de Combate ciam no catabolismo e anabolismo. Células Produto
ao Câncer em São Paulo.
Mestre em Ciências na área
O pâncreas exócrino é formado pelas células Epitélio ductal Água e bicarbonato
de Oncologia pela Fundação acinares dispostas em arranjo glandular com ácinos Centro acinares Água e bicarbonato
Antonio Prudente.
Especialista em Nutrição e ductos. As células acinares produzem as enzimas
Enzimas
Clínica em Oncologia pelo digestivas e as células do epitélio ductal secretam Tripsinogênio
A. C. Camargo Cancer
água e bicarbonato de sódio [1]. Quimotripsinogênio
Center. Especialista em
Acinares Proelastase
Nutrição Clínica pela As células acinares sintetizam, armazenam e
ASBRAN. Procarboxipeptidaase
secretam diversas enzimas digestivas. As enzimas Amilase
Lipase
digestivas são sintetizadas na sua forma inativa (pró-
-enzimas) e ficam armazenadas no citoplasma den-
tro de vacúolos denominados grãos de zimogênio. de forma que o suco pancreático, rico em enzimas
Quando as pró-enzimas entram em contato com digestivas e bicarbonato, é secretado no duodeno
as células da mucosa duodenal, a enteroquinase aí no momento das refeições. O processo de digestão
presente ativa o tripsinogênio e a tripsina ativa em pode ser dividido didaticamente em três fases: ce-
cascata as outras pró-enzimas. Amilase e lipase são fálica, gástrica e intestinal.
sintetizadas e secretadas nas formas ativas [2]. Na fase cefálica, os estímulos visuais e olfati-
O suco pancreático é composto por água, ele- vos chegam ao córtex cerebral e desencadeiam a res-
trólitos (sódio, potássio, cálcio, magnésio, bicarbo- posta colinérgica transmitida pelo nervo vago, que
nato, cloretos, sulfatos e fosfatos), proteínas (albu- estimula a secreção de enzimas. Na fase gástrica, a
mina e globulinas) e enzimas pancreáticas. distensão das paredes do estômago promove a libe-
A secreção pancreática é regulada por me- ração de gastrina que também estimula a secreção
canismos ligados às distintas fases da alimentação enzimática do pâncreas. A fase intestinal se inicia
NOTA DO EDITOR A segunda parte desse artigo será publicada na edição nº 20 da Nestlé Bio.
com a passagem do bolo alimentar para o duode- forma crônica o tecido pancreático sadio é substituído paulatinamente por teci-
no e jejuno proximal. O ácido clorídrico aí contido do fibroso, o pâncreas sofre atrofia e adquire consistência endurecida. O com-
estimula a secreção de secretina pelas células S. A prometimento da glândula tem como resultado a perda das funções exócrina e
secretina aumenta dramaticamente a secreção de endócrina. Com o avanço da doença, o paciente pode apresentar insuficiência
água e bicarbonato pelo epitélio ductal pancreático exócrina e endócrina, ou seja, má absorção e diabetes [4].
e biliar. Além disso, a presença de polipeptídeos e Diversas são as causas que levam à pancreatite crônica conforme a tabela 1.
ácidos graxos estimula a liberação da colecistoqui- O alcoolismo é a causa mais comum em nosso meio, podendo chegar a
nina (CCK) que promove a secreção enzimática das 90% dos casos. Estima-se que a quantidade de etanol ingerida necessária para
células acinares para o ducto pancreático [2]. o desenvolvimento de pancreatite crônica seja de pelo menos 100g/dia para os
A concentração de cada uma das enzimas diges- homens e 80g/dia para as mulheres, por um período mínimo de 5 anos. A inges-
tivas no suco pancreático não é constante e nem igual tão crônica de álcool leva a alterações na composição do suco pancreático que se
em todos os indivíduos. Mecanismos de feedback torna mais viscoso. Muito provavelmente, o incremento da viscosidade do suco
controlam a síntese intracelular de enzimas. As con- pancreático é explicado pelo aumento no conteúdo proteico em paralelo à dimi-
centrações de lipase e proteases são ajustadas para o nuição da secreção de água e bicarbonato pelas células do epitélio ductal. Esta
padrão alimentar de cada pessoa em um determinado alteração na fluidez do suco pancreático faz com que haja deposição de rolhas
período de tempo. Quanto maior a quantidade de de- proteicas nos pequenos ductos secundários e posteriormente no ducto principal,
terminado substrato no bolo alimentar, maior a quan- dificultando o fluxo local. Com o tempo ocorre a deposição de cálcio nas rolhas
tidade da enzima específica no suco pancreático [3]. proteicas, que se transformam em cálculos pancreáticos. Uma proteína deno-
Como vimos, a pâncreas possui papel crucial minada litostatina pode estar envolvida na formação dos cálculos pancreáticos.
no processo digestivo e seu funcionamento depende A presença da rolha proteica ou do cálculo pancreático desencadeia res-
de mecanismos intrincados de ajustes, modulados posta inflamatória local que leva ao estreitamento do ducto. O represamento
por hormônios reguladores que respondem ao esti- segmentar do suco pancreático leva à dilatação ductal e ao aumento de pressão
mulo alimentar e à composição da refeição. hidrostática neste determinado ponto. A hipertensão canalicular e o processo
inflamatório dela decorrente levam às alterações histológicas anteriormente
PANCREATITE CRÔNICA descritas. Com o tempo, as áreas de dilatação ductal, intercaladas com áreas de
dilatação conferem a clássica característica de imagem de “colar de contas” [5].
Fisiopatologia e Etiologia Dentre os pacientes etilistas, somente cerca de 10 a 15% desenvolvem a
Nesta doença o pâncreas sofre processo in- pancreatite crônica. Este dado sugere haver algum fator genético que predispo-
flamatório persistente que resulta na destruição nha o paciente ao aparecimento da doença. Outros fatores etiológicos da pancre-
progressiva do parênquima e da arquitetura normal atite crônica, não ligados ao alcoolismo, incluem: mutações genéticas hereditá-
do órgão. Diferentemente da pancreatite aguda, na ria, metabólicas, autoimunes e idiopáticas. Condições anatômicas que causam
algum grau de obstrução ao livre fluxo do suco pancreático também podem de-
Tabela 2 – Fatores etiológicos associados à pancreatite crônica. sencadear a pancreatite crônica. Tabela 2.
Álcool
Outro sintoma importante é o emagrecimento. A perda de peso está pre- As medidas iniciais incluem terapia de supor-
sente em mais de 90% dos pacientes e pode ser atribuída à diminuição da inges- te para o abandono definitivo do álcool, ajuste da
tão alimentar, intencionalmente para diminuir o quadro de dores abdominais ou dieta e reposição de enzimas pancreáticas.
pelo descuido com os hábitos alimentares frente à ingestão alcoólica. A má ab- Dor: Durante as crises o paciente deve ser
sorção e esteatorréia, decorrentes da insuficiência exócrina, também contribuem tratado com o uso de analgésicos, anti-inflamató-
para o emagrecimento. rios não hormonais e opioides. Nas fases iniciais,
Com a progressão da doença, os pacientes podem também apresentar diabe- o jejum ou a dieta baseada em hidratos de carbono
tes (cerca de 40% dos casos), icterícia e vômitos (por compressão do colécodo ou podem contribuir no controle da dor uma vez que
duodeno pelo processo inflamatório na cabeça do pâncreas) [6]. diminuem o estímulo secretário do pâncreas [4].
Complicações locais relacionadas à pancreatite crônica também podem Nos casos de falha do tratamento clínico da
ocorrer: pseudocistos, ascite pancreática, derrame pleural ou mediastinal e fístu- dor, a cirurgia pode estar indicada. Acredita-se que
las internas e externas. a hipertensão hidrostática intraductal e o processo
inflamatório perineural peripancreático são com-
Diagnóstico ponentes importantes na gênese e manutenção
A hipótese diagnóstica de pancreatite crônica parte do quadro clínico su- das dores. O objetivo da cirurgia é descomprimir o
gestivo, principalmente em pacientes com história de etilismo de longa data. Os ducto pancreático e/ou remover a área com maior
exames subsidiários serão pedidos com o objetivo de avaliar as alterações funcio- processo inflamatório. As cirurgias podem então
nais e morfológicas da glândula. ser de ressecção: duodenopancreatectomia, pan-
createctomia cefálica com preservação do duode-
Exames laboratoriais: no e pancreatectomias ditais (corpo e cauda do
Amilase e lipase podem estar normais em condições sem processo infla- pâncreas); ou cirurgias de descompressão e deriva-
matório agudo ou se o pâncreas já se encontra totalmente atrofiado. A eleva- ção: derivações pancreato-jejunais simples ou em
ção destas enzimas pode indicar quadro agudo ou a ocorrência de complicações combinação com ressecções de parênquima pan-
como pseudocisto ou derrames cavitários. Nos pacientes com comprometimento creático inflamado. O tratamento cirúrgico é indi-
endócrino podemos encontrar curva glicêmica alterada ou franca hiperglicemia. vidualizado e o cirurgião deve ter como objetivo a
A pesquisa de gordura nas fezes, qualitativa (Sudam III) ou quantitativa conservação do órgão ainda funcionante [7].
confirma a presença de esteatorréia e confirma a insuficiência exócrina. Insuficiência exócrina: O tratamento espe-
cífico será discutido posteriormente no suporte
Exames de imagem: nutricional (parte 2 – edição 20).
O RX simples do abdômen pode mostrar calcificações na topografia do pân- Insuficiência endócrina: O tratamento é
creas e ocasionalmente alargamento do arco duodenal e dilatação do estômago clínico e depende da intensidade do diabetes. Po-
quando há obstrução duodenal pelo processo inflamatório da cabeça do pâncreas. demos usar hipoglicemiantes orais ou insulina. O
A ultrassonografia do abdome superior pode mostrar alterações de textura e controle clínico deve ser rigoroso, pois o paciente
tamanho do pâncreas, além dos diâmetros do ducto pancreático e das vias biliares. pode apresentar períodos de grande variação na
A tomografia e a ressonância nuclear magnética de abdome mostram atrofia aceitação alimentar, correndo o risco de desenvol-
pancreática, dilatação, tortuosidade dos ductos e presença de calcificações. Estes ver crise de hipo ou hiperglicemia.
exames também podem fazer o diagnóstico de diversas complicações como pseudo- Outras complicações: A maior parte das com-
cistos, derrames cavitários, fístulas e trombose venosa do tronco mesentérico portal. plicações requer tratamento cirúrgico. A icterícia
obstrutiva é tratada definitivamente com derivação
Tratamento bilio-digestiva. Os pseudocistos e fístulas pancreáti-
Os objetivos do tratamento desta doença são alívio dos sintomas, prevenção de cas são tratados com cirurgias de derivação interna.
novos surtos, correção das insuficiências endócrina e exócrina e das complicações. A colecistite calculosa requer a colecistectomia [4].
cações. Se não tratado adequadamente, o paciente terá grande limitação na sua Hipertrigliceridemia >1.000 mg/dl
qualidade de vida com alto custo pessoal, familiar e social. Colangiopancreatografia
endocópica retrógrada
PANCREATITE AGUDA Hipercalcemia
gressivo, podendo durar várias horas. Habitualmente Tomografia e ressonância do abdome: São exames importantes para o estabe-
é acompanhada de náuseas e vômitos. Pode haver lecimento do diagnóstico da pancreatite aguda e avaliação da gravidade da doença.
irradiação para os flancos (dor em faixa) e região Identificam a intensidade e extensão do comprometimento da glândula e dos teci-
lombar. O paciente apresenta grande desconforto e dos peripancreáticos, focos de necrose e/ou hemorragia. Podem também mostrar a
pode manisfestar agitação e ansiedade. presença de complicações como coleções, pseudocistos, ascite e derrame pleural.
Ao exame físico o paciente pode manifestar, Além do diagnóstico da pancreatite aguda, devemos tentar estabelecer a
de acordo com a repercussão sistêmica e acometi- sua causa e também a forma (edematosa ou necrotizante) e gravidade da do-
mento de outros órgãos, taquicardia, febre, hiper- ença (leve, moderadamente grave e grave) pois estes dados serão importantes
tensão, taquipnéia [10]. para o adequado planejamento terapêutico.
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edition GSleisenger and Fordtran´s: Gastrointestinal and liver disease. Philadelphia, 939-960.
Saunders Elsevier, 2010, p. 985-1015.
por_Flávia Benvenga
Merenda
Escolas públicas vencedoras do 3º Prêmio Nutrir Crianças Saudáveis
implementam projetos bem-sucedidos que podem servir de
inspiração e ser replicados por outras instituições
Arroz e feijão temperado com carinho. Picadinho de carne feito com amor. Bolo
recheado de afeto. Esses não são os nomes de alguns dos pratos servidos nas me-
rendas das três escolas públicas de São Paulo vencedoras do 3º Prêmio Nestlé Nutrir
Crianças Saudáveis, mas poderiam ser, pois expressam o cuidado, a boa qualidade
de cada um deles e a importância que essas instituições dão à alimentação e à edu-
cação alimentar de seus alunos.
Dinalva Vieira de Souza, cozinheira da Escola Municipal de Ensino Fundamental
Henrique Souza Filho – Henfil, no bairro São Mateus – premiada em primeiro lugar
com o projeto “A alimentação e a interação na formação cidadã” –, explica por que a
merenda de sua escola é nota 10:
O trabalho de capacitação do
Nestlé Nutrir Crianças Saudáveis
Durante o ano de 2013, profissionais de mais de 100 escolas públi-
cas de São Paulo participaram do Programa Nestlé Nutrir Crianças Saudá-
Esse processo de escolha é um grande avanço, além, é veis, que capacita diretores, professores e cozinheiras da rede pública de
claro, do fato de o refeitório ter se transformado em ex- ensino nos temas educação alimentar e nutricional, além da importância
celente espaço de convivência e aprendizado, devido da atividade física.
à instalação de jogos como pebolim e pingue-pongue.” Em São Paulo, o Programa envolveu 475 educadores (sendo
Lilian Cirne Gentil, coordenadora pedagógica da 165 cozinheiras) de 118 unidades escolares, distribuídas em qua-
EMEF Prof. Alípio Corrêa Neto, no bairro Butantã, terceira tro Diretorias Regionais da Secretaria Municipal de Educação: DRE Butantã,
colocada com o projeto “Eu posso e eu quero escolher”, DRE Campo Limpo, DRE Itaquera e DRE São Mateus.
afirma que o que despertou a escola para a criação do Essas escolas, que somam 126.885 alunos e passaram pela
autosserviço no refeitório foi justamente o desperdício capacitação, inscreveram seus projetos, colocando em prática os conceitos
da merenda. “Além disso, quisemos trabalhar tam- aprendidos no Programa, para concorrer na 3ª edição do Prêmio Nestlé Nutrir
bém a questão comportamental, pois víamos as Crianças Saudáveis em parceria com o Departamento de Alimentação Escolar
crianças comendo em pé ou sentadas nas esca- do Município de São Paulo. Ao todo, 28 projetos participaram. Desses,
das”, destaca. “Agora, a hora da refeição é, inclusi- quatro foram pré-selecionados, e uma comissão julgadora premiou três.
ve, um momento de integração e socialização. Apro-
veitamos a oportunidade para elaborar um trabalho
interdisciplinar em que o professor acompanha o aluno As oficinas
nas mesas, orienta, explica, ensina.” O Programa Nestlé Nutrir Crianças Saudáveis realiza
Da preocupação em reduzir o lixo alimentar nas- oficinas com base no contexto local e nas boas práticas de
ceu também o fortalecimento da autonomia de cada educação alimentar acumuladas desde 1999, sempre em
estudante. Ao pegar seu prato de vidro e seus talheres, parceria com Secretarias Municipais de Educação. Para
escolher o que prefere comer e ir até seu lugar à mesa, conduzir as capacitações, uma equipe da Fundação
a criança melhora a imagem de si mesma e pensa: “Sou Nestlé Brasil, formada por educadores, nutricionistas
capaz de comer com esses utensílios, a escola confia e culinaristas, aborda a educação alimentar e nutri-
em mim, não desperdiço comida”, salienta a profes- cional no ambiente escolar tendo a infância como
sora Marcela de Paolis. “O mais importante desse pro- foco. Nesse processo, o educador é estimulado a
jeto foi perceber, tanto para os alunos quanto para os discutir novas práticas e a construir caminhos
professores, que a hora da alimentação não é só para de aprimoramento da educação alimentar na es-
matar a fome; é um momento em que podem acontecer cola em que atua e com os recursos disponíveis.
muitas outras coisas boas, como, por exemplo, auxiliar
na melhora da autoestima”, reconhece.
Escolas e
projetos vencedores
PROBLEMAS
■ Desperdício de alimentos devido ao sistema de distribuição da merenda ser realiza-
do em pratos feitos.
1º L
■
Produção excessiva de lixo orgânico.
Falta da autonomia dos alunos.
Impossibilidade de uma intervenção mais efetiva junto aos alunos durante o mo-
mento das refeições.
Pouca reflexão sobre as questões alimentares.
Momentos ociosos e agitados nas refeições.
Filho – Henfil
R E S U LT A D O S
PROJETO ■ Implementação do autosserviço – Enquanto os alunos servem-se no balcão térmi-
A alimentação e a interação na co, os funcionários os orientam sobre a importância da alimentação balanceada e
formação cidadã os incentivam a provar legumes e verduras.
NÚMERO DE ALUNOS ■ Educação alimentar – A escola passou a lançar mão de textos diversos sobre ali-
546 (ensino fundamental) mentação (livro didático, artigos de revistas), vídeos informativos, pesquisas na
internet, filmes relacionados ao tema e atividades práticas nas aulas de ciências.
MODELO DE GESTÃO DA MERENDA ESCOLAR
terceirizada (insumos e funcionários)
■ Conscientização e interação no horário da refeição – Os alunos são orientados com
relação a como se servir, a quantidade adequada, provar novos alimentos, sentar-se
corretamente.
■ Adoção de pratos de vidro e talheres de metal (garfo, faca e colher).
■ Utilização de bandejas plásticas para facilitar o transporte dos pratos, copos e so-
bremesa.
■ Instalação de jogos no refeitório (pebolim, sinuca, minibasquete, jogo de botão, bo-
liche, pingue-pongue, entre outros), para deixar o ambiente do intervalo mais inte-
rativo e prazeroso.
■ Diminuição drástica da quantidade de alimento descartado (cerca de 500 g por dia).
■ Adesão dos alunos à merenda escolar: maioria faz a refeição na escola.
■ Todos os alunos que participam da refeição sentam-se e utilizam os talheres ade-
quadamente.
■ Os alunos menores estão “treinando” o uso de garfo e faca.
PROBLEMAS
2º
■ O espaço reservado às refeições pertencia a uma área do pátio, sem muretas ou
divisórias. Por isso, o aluno que comia sentado a mesa não tinha privacidade e
tranquilidade, pois junto a ele havia outros alunos brincando e correndo.
L U G A R ■ Uso de pratos de plástico e colheres durante as refeições representavam um
retrocesso e produziam constrangimento entre as crianças.
R E S U LT A D O S
EMEF Castor ■ Construção de uma mureta revestida com ladrilhos e finalizada com um canteiro
de plantas e flores.
PROJETO
Ambiente saudável: primeiro passo ■ Colocação de mesas forradas com toalhas plastificadas.
para alimentação saudável ■ Troca de utensílios para pratos de vidro, garfos e facas de metal.
NÚMERO DE ALUNOS ■ Refeitório transformado em espaço reservado e mais tranquilo para as refeições.
884 (ensino fundamental) ■ Realização de projetos em salas de aula relacionados à alimentação saudável,
MODELO DE GESTÃO DA MERENDA ESCOLAR como o Projeto Horta e Alimentação Saudável.
terceirizada (insumos e funcionários) ■ Diariamente, é feita a apresentação caprichada da refeição em um prato que
pode ser apreciado pelos alunos enquanto aguardam na fila para serem servidos.
■ Pessoal treinado para servir os alunos com gentileza, respeito, cuidado e capri-
cho na colocação da comida no prato de cada um.
■ Os alunos alimentam-se com mais calma.
PROBLEMAS
Incômodo da equipe gestora referente ao excesso de barulho e bagunça no intervalo.
3º
■
por_Luiza
Luiza de Andrad
Andrade
A todo o
vapor
Um dos métodos de cocção que
Nos primórdios do século 20, mu-
lheres faziam aulas de preparo para a vida
social da Virgínia, no sudoeste dos Estados
Unidos. Pois uma delas tinha o costume de contar à
sua filha, em casa, que havia uma colega que não conse-
guia, sequer, ferver água.
A filha era a escritora americana M.F.K Fisher que, em
seu primeiro livro, “Como Cozinhar um Lobo” (editora Com-
panhia das Letras), sobre a alimentação em tempos de
mais preservam a integridade dos guerra e escassez, revela que “poucas mulheres chegam a
perceber os limites vastos de pôr água na panela e fervê-la”.
alimentos (sabor e textura), o “E quando é que a água está fervendo? Pode-se dizer,
e poucos irão discordar, que a água ferve quando é aquecida
delicado cozimento no vapor também a 100ºC. De minha parte, diria que é quando borbulha com
bolhas grandes e enérgicas, parece prestes a saltar da cha-
tem capacidade de conservar leira, faz um barulho de pedregulho em vez de chiar e solta
No Japão, país cujos cozinheiros buscam in- Mesmo sabor, mais temperos?
terferir o mínimo possível na integridade dos alimen- Parece um cozimento extremamente simples, se
tos (e extrair deles o máximo de sabor), o vapor é uma das o cozinheiro tiver à mão os instrumentos necessários para tal
formas mais tradicionais de cozimento – cumpre bem es- – uma panela com uma cesta ou um suporte improvisado que
sas funções e mantém a umidade dos produtos sem depen- mantenha o alimento acima da água. A chinesa Judy Lew, au-
der do acréscimo de óleos e gorduras. tora de “Culinária Chinesa – Fácil e Rápida” (editora Patrimonio
No restaurante Aizomê (São Paulo, SP), sob o comando Tokyo), ensina que também é possível improvisar uma “prate-
de Shin Koike, japonês que cresceu em meio ao agito do mer- leira” própria para o cozimento no vapor com uma lata – com
cado de peixes de Tóquio, utiliza-se a técnica em uma porção ambas as pontas removidas – que pode ser acomodada no
de preparos. Entre eles, a garoupa, quando está disponível no centro de uma panela ou de uma frigideira com água fervente.
mercado. “Trata-se de um peixe de carne meio fibrosa mas, ao Mas, atenção, há que se preocupar com o ponto de
ser aquecido no vapor, fica macio e continua úmido”, conta fervura da água. “A maioria das pessoas (...) não sabe que
sua sócia Telma Shimizu. Entre outras possibilidades está o existe um momento em que ela [a água] está au point e que
sakamushi, uma espécie de flan à base de ovos, receita pre- Deve-se no resto do tempo ela está passada demais, tanto quanto
parada no vapor, de resultado delicado. Outra dica de Telma atentar à um filé ou um crêpe suzette”, escreve M.F.K. Fisher.
é promover a cocção utilizando uma combinação de água e Pois o que Fisher registrou nos anos 40, em literatura,
saquê na mesma proporção. “Pode- -se preparar um frango
quantidade tem fundamento científico. Umas das orientações de Harold
inteiro nela”, diz. de água na McGee, que se debruça sobre as transformaçoes químicas
A forma clássica desse método teve origem no Orien- da cozinha, é atentar-se à quantidade de água na panela,
panela para que seja suficiente para não queimar. “Apenas alguns
te, onde se valia, basicamente, de estruturas de bambu
suspensas sobre uma panela com água fervente. “Por que segundos de fumaça do fundo da panela quente podem ar-
bambu? Porque ele é capaz de reter a umidade. O bambu ruinar o sabor do alimento.”
absorve a umidade e funciona como uma esponja”, expli- É preciso, ainda, driblar o estigma de “método sem
ca Marina Hernandez, professora da Escola Wilma graça”. “Deve-se ter bastante atenção ao tempero dos
Kövesi. Há registros que creditam a origem do alimentos antes do cozimento, utilizando ervas
cozimento no vapor à China. “É possivel que e especiarias para conferir-lhe melhor sabor.
o uso das vaporeiras de bambu pelos chi- Uma possibilidade interessante é perfu-
neses remonte a cinco mil anos”, conta mar a água que será utilizada no cozi-
o historiador Sandro Dias. mento no vapor também com ervas e
Na China, um exemplo emblemá- especiarias”, diz Roland Villard, chef
tico de receita que utiliza esse recurso francês do Le Pré Catelan, do hotel So-
é o guioza (ou guo tie), recheado com fitel, do Rio, autor de “A Dieta do Chef”
carne de porco, repolho, acelga, nirá (editora Senac).
e temperos. “Colocamos o recheio em Para chef Tatiana Cardoso, “quando
uma massa, fechamos e cozinhamos no você tira o alimento do vapor e lambuza
[1] 400 g - Técnicas de Cozinha, de Betty Kövesi, Carlos Siffert, Carole Crema, Gabriela Martinoli; [2] Comida - Uma Historia, de Felipe Fernandez-Armesto; [3] Comida & Cozinha - Ciência
REFERÊNCIAS e Cultura da Culinária, de Harold McGee; [4] Como Cozinhar um Lobo, de M.F.K. Fisher; [5] Culinária Chinesa - Fácil e Rápida, de Judy Lew; [6] Dicas Para Cozinhar Bem - Um Guia Para
Aproveitar Melhor Os Alimentos e as Receitas, de Harold McGee; [7] A Dieta do Chef, de Roland Villard; [8] Elementos da Culinária de A a Z - Técnicas, Ingredientes e Utensílios, de Michael
Ruhlman; [9] Larousse Gastronomique, com assistência do comitê gastronômico presidido por Joël Robuchon; [10] Pegando Fogo - Por Que Cozinhar nos Tornou Humanos, de Richard
Wrangham; [11] A Arte Da Cozinha Brasileira, de Leonardo Arroyo e Rosa Belluzzo; [12] Enciclopédia da Gastronomia Francesa, de Vincent Boué, Hubert Delorme; [13] Alquimia dos
Alimentos, organização de Wilma M.C. Araújo, Nancy di Pilla Montebello, Raquel B.A. Botelho e Luiz Antônio Borgo.
O café da manhã e o
risco para doenças
cardiovasculares
Um café da manhã Em meados de 1900 começaram a to de Nutrição da Escola de Saúde Pública
surgir na literatura científica pequenos de Harvard, verificou prospectivamente a
equilibrado pode estudos encontrando os benefícios para a relação da presença do café da manhã e o
auxiliar na adoção de saúde relacionados a ingestão do café da aumento do risco cardiovascular. Os au-
manhã. Nos dias atuais esta refeição é co- tores monitoraram as condições de saúde
hábitos alimentares mumente citada como parte fundamental de 26.902 profissionais da área da saú-
saudáveis no de uma dieta saudável; no entanto, estima- de do gênero masculino durante 16 anos
-se que nos Estados Unidos, por exemplo, (1992 e 2008), com idades entre 45 e 82
restante do dia cerca de 8% das crianças e 20% a 30% dos anos, sem histórico de eventos cardiovas-
adolescentes não comem nada nas primei- culares. Os pesquisadores avaliaram o há-
ras horas do dia. bito alimentar, incluindo o consumo do café
De acordo com a recomendação bra- da manhã e o lanche da tarde e da noite, por
sileira, o café da manhã deve garantir em meio de um questionário de frequência ali-
média 25% do total energético consumido mentar aplicado no ano de 1996 aos parti-
durante o dia, ou seja, cerca de 500Kcal. cipantes da coorte.
Considerando a importância e as vantagens Além dos hábitos alimentares, o es-
do seu consumo adequado, o café da ma- tudo de Cahill coletou informações sobre
nhã poderia ser responsável pelo consumo hábitos de vida, tais como: assistir televi-
de algumas ou de todas as porções diárias são, praticar atividade física, qualidade do
de alguns grupos alimentares, como o dos sono e da dieta, histórico médico, índice
cereais integrais, o das frutas, e o do leite de massa corporal (IMC) e fatores sociais.
e derivados. Mesmo após a realização dos ajustes para
O estudo recentemente publicado por as variáveis de estilo de vida e IMC, não
Leah Cahill e colaboradores do Departamen- foi detectada associação entre frequência
alimentar diária e o risco para doença car- feição em presente ou ausente, limitando a tos) e este comportamento foi fortemente as-
diovascular. investigação qualitativa e a sua composição. sociado ao risco de síndrome metabólica (OR
Os homens que não consumiam café da Em outro trabalho desenvolvido pela 2.25; 95% CI 1.43). Dentre os componentes
manhã encontravam-se no grupo dos mais Universidade de Umeå, na Suécia, publicado da síndrome metabólica, a obesidade abdo-
jovens, fumantes, com hábito de consumir be- na Public Health Nutrition, a associação do minal e altos níveis de glicose foram os fa-
bida alcoólica, solteiros, menos ativos fisica- café da manhã e complicações metabólicas tores que mais se associaram a ausência ou
mente e que trabalhavam em horário integral foi investigada. Diferentemente da pesqui- insuficiência nutricional no café da manhã.
– apresentando um risco 27% maior de desen- sa de Cahill, esta pesquisa foi realizada em Destacamos a importância dos hábitos
volver doenças cardiovasculares. adolescentes e não considerou somente pre- alimentares na infância e na adolescência,
Há uma série de mecanismos plau- sença ou ausência de café da manhã, mas com baixa ingestão de frutas e legumes, la-
síveis que podem explicar como o café da também, a composição da refeição. ticínios, cereais integrais e consumo elevado
manhã poderia melhorar os fatores agudos Esta pesquisa começou em 1981, com de açúcares e gorduras. Isto determina a pos-
e de longo prazo relevantes para o risco 889 voluntários, quando foi realizado um sibilidade de inúmeros fatres de risco para a
cardiovascular e metabólico. A hora do dia questionário sobre o que eles consumiam no síndrome metabólica na vida adulta, como foi
e a frequência de alimentação, bem como o café da manhã. Vinte e sete anos depois, os avaliado no estudo acima.
conteúdo, têm efeitos independentes impor- mesmos pesquisados foram submetidos a A definição de hábitos de café da ma-
tantes sobre o consumo de energia, composi- exames clínicos para investigação dos com- nhã foi baseada em uma avaliação de um
ção da dieta, e a resposta hormonal que são ponentes da síndrome metabólica: obesidade único dia podendo diminuir a precisão da
fundamentais para o equilíbrio energético e, central definida como circunferência da cin- medida levando à diluição dos dados e pos-
portanto, o desenvolvimento da adiposidade. tura maior que 80 cm para mulheres e 94 cm sível subestimação. Contudo, as conclusões
Uma consideração importante é que o para homens, associado a dois ou mais dos são unânimes e podem justificar a orien-
conteúdo da refeição e a qualidade dos ali- quatro componentes a seguir: aumento dos tação de que um café da manhã saudável
mentos que a compõe desempenham um triacilgliceróis, HDL-c reduzido, aumento da pode ajudar na adesão a bons hábitos ali-
papel importante nos fatores relacionados ao pressão arterial, aumento da glicemia em je- mentares durante o resto do dia, por meio
apetite, hormônios como a glicose e insulina jum ou diabetes tipo 2. do equilíbrio da glicemia pós-prandial e in-
e no metabolismo lipídico. Porém a interpreta- O estudo mostrou que 9,9% dos jovens gestão energética equilibrada.
ção frequente do consumo do café da manhã aos 16 anos não costumavam tomar café da
é dicotomizada nas pesquisas populacionais. manhã ou tinham uma refeição insuficiente Conheça maiores detalhes sobre os estudos
abordados nesse Leitura Crítica.
Assim, a maioria dos estudos avaliam a re- (só consumiam uma bebida doce ou biscoi-
[1] Cahill LE et al. Prospective Study of Breakfast Eating and Incident Coronary Heart Disease in a Cohort of Male US Health Professionals. Circulation, 128:337-343, 2013.
[2] Wennberg M et al. Poor breakfast habits in adolescence predict the metabolic syndrome in adulthood. Public Health Nutrition, 2014.
Priscila Maximino - Nutricionista, Especialista em Atendimento Multidisciplinar do Adolescente e Mestre em Ciências. Atua como pesquisadora do centro de
dificuldades alimentares do Instituto de Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil PENSI - Hospital Infantil Sabará e como nutricionista da Nutrociência Assessoria em
Nutrologia.
Abykeyla Tosatti - Nutricionista, Especialista emAtendimento Multidisciplinar do Adolescente e Pós- Graduada emObesidade e Emagrecimento. Atua como
pesquisadora do centro de dificuldades alimentares do Instituto de Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil PENSI - Hospital Infantil Sabará e como nutricionista da
Nutrociência Assessoria em Nutrologia.
Mauro Fisberg - Pediatra e nutrólogo, professor associado do Setor de Medicina do Adolescente da UNIFE SP e do Centro de Nutrologia do Instituto de Pesquisa e
Ensino em Saúde Infantil do Hospital Infantil Sabará. Coordenador científico da Força Tarefa Estilos de Vida Saudável e membro da diretoria do ILSI (International
Life Science Institute) Brasil.