Você está na página 1de 13

27/10/2016 “Los 

que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

Nuevo Mundo Mundos
Nuevos
Nouveaux mondes mondes nouveaux ­ Novo Mundo Mundos Novos ­ New world New
worlds

Imagens, memórias e sons | 2015
Musique et politique en Amérique Latine, XXe­XXIe siècles – Coord. Anaïs Fléchet et Marcos Napolitano

CAIO DE SOUZA GOMES

“Los que la represión golpea por
igual unieron la unidad”: o exílio
chileno e a construção de redes
musicais de solidariedade na
década de 1970
[18/09/2015]

Resumos
Português English
Os  golpes  civil­militares  que  tomaram  a  América  Latina  nas  décadas  de  1960  e  1970,  embora
tenham sido rupturas cruciais na crescente mobilização dos músicos, intérpretes e compositores
comprometidos  latino­americanos,  não  representaram  o  fim  dos  projetos  de  integração  da
América  Latina  por  meio  da  canção  que  vinham  sendo  propostos  desde  o  início  da  década  de
1960.  Para  muitos,  as  atrocidades  cometidas  pelos  novos  donos  do  poder  e  a  perseguição
crescente  significaram  a  necessidade  de  deixar  o  país.  Mas  se  por  um  lado  os  exílios  deixaram
uma  marca  dolorosa,  por  outro  eles  representaram  um  momento  fundamental  no  processo  de
construção de “conexões transnacionais”, pois resultaram em um adensamento e complexificação
das  redes  transnacionais  ativas  desde  o  início  da  década  de  1960,  impulsionando  a  inserção  de
novos  polos  aglutinadores  nos  circuitos  que  articulavam  a  produção  e  circulação  da  canção
engajada na América Latina. O objetivo deste artigo é apontar, tomando como exemplo o caso da
produção  musical  do  exílio  chileno,  como  a  saída  massiva  de  artistas  de  seus  países  de  origem
desenhou um novo mapa da música engajada latino­americana na década de 1970.

The Latin American dictatorships in the 1960s and 1970s disrupted the growing mobilization of
protest singers and composers, but were not the end of continental integration projects through
the  song  that  have  been  proposed  since  the  early  1960s.  The  atrocities  committed  by  the  new
power  brokers  have  forced  many  people  to  leave  their  countries.  The  exiles  left  a  painful  mark,
but  also  represented  a  crucial  moment  in  the  "transnational  connections".  They  extended
transnational  networks  with  the  inclusion  of  new  poles  in  the  systems  which  articulated  the

https://nuevomundo.revues.org/68244 1/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970
production  and  circulation  of  protest  songs  in  Latin  America.  The  purpose  of  this  article  is  to
show  how  the  exile  of  artists  designed  a  new  map  of  the  production  and  circulation  of  Latin
American protest songs in the 1970s, taking as an example the musical production of the Chilean
exile.

Entradas no índice
Keywords : protest song, Latin American dictatorships, exile; solidarity networks, transnational
connections
Palavras Chaves : canção engajada, ditaduras latino­americanas, exilio; redes de solidariedade,
conexões transnacionais

Notas do autor
Este artigo apresenta alguns resultados preliminares de minha pesquisa de doutorado, em
desenvolvimento junto ao programa de pós­graduação em História Social da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFFLCH/USP), sob
orientação da Profa. Dra. Maria Helena R. Capelato. O objetivo central do projeto é estudar os
impactos dos golpes militares e das experiências ditatoriais nos projetos de integração da
América Latina pela canção que vinham se estabelecendo desde a década de 1960.

Texto integral
“Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”

Verso da canção “Chile Resistência”, do compositor chileno Sergio Ortega, gravada pelo
conjunto Inti­Illimani no álbum Chile Resistencia, de 1977.

1 A  partir  da  década  de  1960,  artistas  latino­americanos  ligados  à  canção  engajada,
que  acreditavam  ter  um  lugar  destacado  nas  transformações  pelas  quais  o  mundo
passava  e  que  pretendiam  fazer  de  suas  obras  instrumentos  de  intervenção  social,
conceberam projetos de integração da América Latina a partir da canção, projetos que
foram  se  esboçando  de  maneira  assistemática  e  fragmentaria  e  se  cristalizaram
fundamentalmente  a  partir  das  próprias  canções,  tanto  no  campo  estritamente
musical,  a  partir  do  cruzamento  de  referências  sonoras  de  distintas  partes  do
continente,  no  sentido  da  construção  de  um  repertório  capaz  de  expressar  uma
“sonoridade  latino­americana”,  quanto  nas  letras,  que  trataram  de,  a  partir  de
caminhos  variados,  propor  a  unidade  continental  e  reafirmar  a  identidade  latino­
americana.
2 Esses  projetos  de  unidade  continental  a  partir  da  canção  resultaram  no
estabelecimento,  ao  longo  das  décadas  de  1960  e  1970,  de  uma  série  de  “conexões
transnacionais”1,  que  permitiram  a  constituição  de  uma  complexa  rede  de  diálogos  e
intercâmbios que aproximaram as experiências artísticas que vinham se desenvolvendo
simultaneamente em diferentes países do continente.
3 Essas conexões passaram por algumas fases fundamentais de desenvolvimento. Um
marco  inicial  importante  foi  o  ano  de  1963,  em  razão  de  dois  fatos  que  podem  ser
considerados  como  os  primeiros  passos  dos  movimentos  de  nueva  canción  latino­
americanos: o lançamento do movimento do nuevo cancionero  argentino,  a  partir  da
divulgação  do  Manifiesto  del  Nuevo  Cancionero,  e  a  edição  do  primeiro  LP  do
compositor  e  intérprete  uruguaio  Daniel  Viglietti.  Neste  momento  tinha  início  a
constituição  de  movimentos  de  renovação  do  cancioneiro  folclórico  que  encontraram
amplo  desenvolvimento  ao  longo  dos  anos  de  1965  e  1966,  com  a  incorporação  de
vários  artistas  aos  projetos  defendidos  e  o  lançamento  de  seus  primeiros  discos;  foi
também  neste  período  que  começou  a  se  estruturar  no  Chile  um  movimento  de
renovação da canção folclórica, que teve como marco inicial a fundação da Peña de los
Parra.
4 Se o período 1963­1966 pode ser considerado o momento de formação e consolidação
dos  movimentos  de  nueva  canción  no  Cone  Sul,  1967  é  um  ano  de  ruptura
fundamental, por conta da realização em Cuba do I Encuentro de la Canción Protesta,

https://nuevomundo.revues.org/68244 2/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

evento  que  reuniu  artistas  de  diversas  partes  da  América  Latina  e  do  mundo  para
discutir o que definiria essa nova onda de canções engajadas que tomava o continente, e
que,  ao  promover  o  encontro  das  diversas  experiências  que  vinham  se  desenvolvendo
em diferentes países e permitir diálogos entre artistas de várias nacionalidades, acabou
por  ser  um  marco  fundamental  no  estabelecimento  de  redes  de  conexão  dos  artistas
engajados  e  na  incorporação  da  defesa  da  identidade  latino­americana  como  tema  e
bandeira. A importância deste encontro pode ser medida pelo impacto que teve na obra
dos  principais  compositores  e  intérpretes  da  nueva  canción  nestes  anos  finais  da
década de 1960, marcando uma nova fase caracterizada, principalmente, pelo destaque
de dois novos temas: a revolução e o anti­imperialismo.
5 A  entrada  da  década  de  1970  marca  o  início  de  um  terceiro  momento  destas
“conexões  transnacionais”  na  canção  engajada,  período  de  redimensionamento  das
experiências  da  nueva  canción  na  América  Latina  marcado  principalmente  pela
radicalização  dos  discursos  políticos.  O  período  entre  1970  e  1973  é  marcado  pela
experiência da Unidade Popular no Chile e o início de uma nova relação dos músicos
engajados  com  o  poder,  momento  de  intensa  militância  dos  artistas  chilenos  na
campanha pela eleição de Salvador Allende e, depois, de participação ativa no governo
da Unidade Popular. Os três anos do governo Allende foram ainda marcados pelo forte
estreitamento  das  relações  dos  músicos  cubanos  com  os  artistas  ligados  à  nueva
canción  no  Cone  Sul,  conexão  marcada  tanto  pelas  viagens  de  cubanos  ao  Chile  e  de
chilenos a Cuba quanto pela realização de discos que envolveram artistas cubanos e sul­
americanos2.
6 Essa  efervescente  rede  de  conexões,  que  fervilhava  no  início  da  década  de  1970,  foi
duramente  atingida  pela  ocorrência  de  golpes  civil­militares  nos  diversos  países  do
continente. A instalação de ditaduras impactou diretamente aqueles que se envolveram
com  algum  tipo  de  militância  política,  e  os  músicos  engajados  sofreram  a  violência
imposta e enfrentaram um processo progressivo de fechamento dos canais de produção
e circulação de cultura e arte, de aumento do controle, da censura e da repressão a tudo
o  que  fosse  considerado  perigoso  pelos  novos  regimes.  Deste  modo,  a  produção
engajada  nos  países  latino­americanos  minguou  progressivamente,  e  aqueles  que  se
viram obrigados a conviver com os regimes ditatoriais tiveram que, cada vez mais, se
adaptar  e  transformar  suas  obras  de  modo  a  encontrar  meios  (ainda  que  sutis  e
metafóricos) de transmitir suas mensagens, em busca de resistir à repressão e se manter
produzindo3.
7 Mas  se  os  golpes  significaram,  para  uma  parte  dos  artistas  que  permaneceram  em
seus países, a necessidade de se adequar a um novo contexto dominado pela repressão e
a censura, para tantos outros especialmente visados pela repressão eles significaram a
necessidade de deixar o país. Diante das atrocidades cometidas pelos novos donos do
poder  e  da  perseguição  crescente,  muitos  foram  levados  ao  exílio  que,  como  afirma
Denise Rollemberg, “assim como a prisão e os assassinatos políticos, cumpriu o papel
de afastar e eliminar as oposições identificadas a projetos de mudança, fossem eles de
reforma ou de revolução”4.
8 Ao se instalarem em diferentes países, muitos na Europa, os artistas estabeleceram
uma  série  de  novas  conexões  nas  redes  de  produção  e  circulação  de  ideias  e  obras,
ampliando  ainda  mais  o  processo  de  construção  de  pontes  que  havia  se  iniciado  na
década anterior. Deste modo, se desenhou um novo mapa da canção engajada latino­
americana, a partir da inclusão de países como o México, a Itália, a Espanha, a França,
como novos polos articuladores e novas bases a partir das quais os principais músicos
engajados latino­americanos darão continuidade à sua produção musical e também à
sua  militância  política,  fosse  a  partir  da  participação  ativa  nos  movimentos  de
solidariedade aos países vítimas das ditaduras, que se espalharam por todo o mundo,
fosse a partir da continuidade de suas obras individuais e da edição de discos autorais.

Os movimentos de apoio ao povo
chileno e a construção de uma “rede
https://nuevomundo.revues.org/68244 3/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

musical de solidariedade”
“El clamor solidario del mundo entero, se levanta en defensa de los
obreiros”
Verso da canção “Cueca de la solidaridad”, do compositor chileno Eduardo Carrasco,
gravada no álbum Adelante pelo conjunto Quilpapayún, em 1975.

9 As  experiências  dos  golpes  civil­militares  suscitaram  o  estabelecimento  de  redes  de


solidariedade  em  vários  países,  principalmente  naqueles  que  abrigaram  quantidades
significativas de exilados latino­americanos. Embora os grupos de exilados do Brasil,
da Argentina e do Uruguai5  tenham  provocado  a  constituição  de  redes  de  apoio,  sem
dúvida  o  movimento  internacional  de  solidariedade  que  ganhou  maior  expressão  ao
longo  da  década  de  1970,  até  por  conta  do  impacto  internacional  do  fim  abrupto  da
experiência de governo da Unidade Popular, foi o de apoio ao povo chileno6.
10 Aqueles que sofreram os impactos imediatos do golpe e buscaram como saída o exílio
encontraram caminhos variados para deixar o Chile. Claudia Rojas Mora e Alessandro
Santoni, ao traçarem uma “geografia política do exílio chileno”, apontam a existência
de  ao  menos  três  grandes  segmentos  de  países  de  acolhida  dos  exilados  chilenos:  a
América Latina, como é o caso de Cuba, México, Venezuela e Argentina (ao menos até o
golpe de 1976)7;  a  Europa  Ocidental,  com  grupos  importantes  de  exilados  em  países
como França, Itália, Grã­Bretanha 8 ; os países comunistas, como a União Soviética e a
Alemanha Oriental9; além de outras realidades particulares como os Estados Unidos,
Canadá  e  Austrália10.  Essa  fragmentação  do  exílio  chileno  significou  também  a
constituição  de  uma  série  de  entidades  em  vários  lugares  do  mundo  que  buscaram
desempenhar atividades de apoio e solidariedade aos refugiados chilenos, como aponta
Ariel Mamani:

Una gran cantidad de entidades se prestaron solidariamente a colaborar con la
causa chilena, y no solo en Europa, sino que también en América y los otros
continentes. Es de recalcar la creación de la Casa de Chile en México, el Comité
Antifascista de Solidaridad con Chile de la Habana, “Chile Democrático” en Roma,
Comité de Solidaridad de Caracas, Comité Sindical Chile de Bruselas;
instituciones que desempeñaron importantes tareas de difusión política y cultural,
amén de prestar ayuda a los refugiados.11

11 Essas  redes  ganharam  contornos  particulares  no  caso  de  movimentos  sediados  em
polos  de  exilados  em  países  da  América  Latina.  Isso  porque  nestes  casos  os
movimentos  de  solidariedade  ganharam  inevitavelmente  contornos  latino­
americanistas  e  anti­imperialistas,  pois  a  luta  contra  o  autoritarismo  e  a  repressão
aparecia  como  realidade  compartilhada,  se  incorporando  aos  discursos  pela  unidade
continental que já caracterizavam as relações no continente:

En este contexto regional, la solidaridad se relacionaba íntimamente con un
significado que le era específico. Estamos hablando de lo que se ha percibido
tradicionalmente no sólo como una causa común a los pueblos de América Latina,
sino, de hecho, como un rasgo acusado y persistente de la “identidad
latinoamericana” durante el siglo XX: la causa del antiimperialismo y de la lucha
contra al dominio ejercido por el incómodo y poderoso vecino norteamericano
sobre los asuntos internos de estos países.12

12 Esses movimentos de solidariedade encontraram na canção, entendida como veículo
importante para a veiculação de ideias, um modo de manifestar­se. Os discos editados
em diferentes países com o intuito de promover o discurso da solidariedade aos países
que  viviam  agora  sob  ditaduras  funcionaram  como  um  importante  espaço  de
construção  de  diálogos  entre  os  artistas  das  diferentes  partes  da  América  Latina,  e
também do estabelecimento de pontes com os meios artísticos dos países do exílio.
13 A  produção  musical  em  solidariedade  ao  povo  chileno  é  bastante  emblemática  da
criação de obras que carregavam as marcas dolorosas dessas experiências e buscavam
expressar por meio de canções os sentimentos daqueles que sofriam e também daqueles
que buscavam se solidarizar com as “vítimas”. Esses discos constituem uma verdadeira

https://nuevomundo.revues.org/68244 4/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

“memória  musical”  do  exílio,  e  são  exemplares  do  estabelecimento  de  uma  “rede
musical de solidariedade”.
14 No  caso  do  exílio  chileno  no  México,  o  paradigma  anti­imperialista  e  latino­
americanista  ganhou  especial  destaque,  já  que  serviu  de  argumentação  fundamental
para  o  apoio  do  presidente  Luis  Echeverría  Álvarez  e  do  Partido  Revolucionario
Institucional (PRI) para a causa da solidariedade com o Chile. Foi o próprio Echeverría,
ao lado de sua esposa María Esther Zuno, quem promoveu e patrocinou a criação, em
1974,  da  Casa  de  Chile13,  instituição  referência  da  causa  dos  exilados  chilenos,  que
abrigou a Secretaría de Solidaridad para América Latina, um dos principais centros
de coordenação dos comitês de solidariedade ao Chile do continente.
15 A Casa de Chile, em parceria com o selo mexicano Discos Pueblo, editou em 1974 o
álbum México Chile Solidaridad14. O disco trazia uma série de canções de compositores
mexicanos  em  homenagem  ao  Chile,  caso  de  dois  tributos  a  Salvador  Allende  –  “A
Salvador  Allende”  interpretado  por  Óscar  Chavez,  compositor  do  tema  ao  lado  de
Benjamín “Chamín” Correa, e “Compañero Salvador” interpretado pela dupla Margarita
Cruz  e  Anthar  López,  fundadores  da  Peña  Tucuanime,  espaço  fundamental  de
divulgação da nueva canción no México – e de uma homenagem ao poeta chileno Pablo
Neruda (“Canto a Neruda”) composta e interpretada pelo compositor Guadalupe Trigo.
Além  das  canções  dos  artistas  mexicanos,  o  álbum  trazia  também  composições  de
nomes  centrais  da  nueva  canción  chilena,  como  Violeta  Parra  (“Al  centro  de  la
injusticia” e “Qué dirá el Santo Padre”), Víctor Jara (“Plegaria a un labrador”) e Patrício
Manns (“En Lota la noche es brava”), interpretadas por importantes artistas engajados
mexicanos:  Amparo  Ochoa,  Los  Folkloristas,  Salvador  Ojeda,  Conjunto  Icnocuicatl,
Julio Solórzano.
16 O disco abre com a reprodução do último discurso de Salvador Allende, feito a partir
de La Moneda já sob ataque das tropas pinochetistas, episódio marco do início da série
de atrocidades cometidas pelo regime militar que é alvo das denúncias apresentadas no
disco, e termina com o “Canto Final” da famosa “Cantata Santa María de Iquique”, que
a  esta  altura  já  era  símbolo  máximo  da  nueva  canción  chilena  e,  portanto,  ganhava
força  simbólica  ao  ser  revivida  pelo  conjunto  mexicano  Tupac­Amaru.  O  texto  que
aparece  na  contracapa  do  disco  é  bastante  representativo  do  tom  que  o  discurso  dos
movimentos de solidariedade assumiu naquele momento:

El Comité Nacional de Solidaridad y Apoyo a Chile saluda a los compañeros
artistas que a través de las canciones grabadas en este disco, manifiestan su
solidaridad con la lucha del pueblo chileno. Ahora más que nunca conviene
considerar que del triunfo del pueblo chileno depende en gran parte el futuro de la
libertad en América Latina. Por lo tanto es urgente incrementar las presiones
internacionales tendientes a aislar a la junta fascista, y redoblar los esfuerzos de
apoyo a la resistencia civil en el interior de Chile, lucha en contra del fascismo, y
buscar la restauración del orden democrático que permitirá la continuación de la
lucha política y la construcción de una sociedad nueva.

17 A solidariedade ao povo chileno ganhava eminente caráter latino­americanista ao ser
entendida  como  parte  fundamental  da  luta  pela  liberdade  do  continente.  E  esse
discurso se alia ao movimento mais amplo da luta antifascista, ao colocar as ditaduras
latino­americanas  como  símbolo  do  fascismo  no  continente.  Esse  discurso  se
materializava  por  meio  das  canções,  que  se  configuravam  como  efetiva  tentativa  de
aproximação dos universos da nueva canción chilena e mexicana, construindo pontes
entre os artistas e a produção musical dos dois países.
18 Outro  polo  importante  da  solidariedade  ao  Chile  na  América  Latina  foi  Cuba.  As
relações  entre  o  Chile  da  Unidade  Popular  e  o  governo  revolucionário  cubano  sempre
foram  complexas,  pois  se  por  um  lado  o  fato  de  se  tratarem  das  duas  experiências
revolucionárias  do  continente  as  aproximava,  as  estratégias  totalmente  diferenciadas
das  duas  propostas  geravam  inevitavelmente  tensões  e  atritos.  E  a  experiência  dos
exilados chilenos em Cuba será marcada por essas ambiguidades.
19 A  gravadora  estatal  cubana  EGREM  (Empresa  de  Grabaciones  y  Ediciones
Musicales), criada em 1964 como parte do movimento de centralização das atividades
culturais  sob  o  comando  do  governo  revolucionário,  editou  dois  álbuns  em  apoio  ao
povo chileno.
https://nuevomundo.revues.org/68244 5/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

20 O  primeiro  deles,  Jornada  de  solidaridad  con  la  lucha  del  pueblo  de  Chile  15,  de
1974,  produzido  por  Frank  Fernández,  apresenta  formato  bastante  similar  ao  do  já
citado disco México Chile Solidaridad, trazendo canções de compositores cubanos em
solidariedade aos chilenos, como “Andes lo que andes”, de Amaury Pérez, “A Salvador
Allende en su combate por la vida”, de Pablo Milanés – que se tornou um dos maiores
clássicos desse repertório da solidariedade – e “Santiago de Chile” de Silvio Rodríguez,
ao lado de versões de músicos cubanos para clássicos da nueva canción chilena, como a
interpretação de Argelia Sánchez para “Guitarra” e a do grupo Los Cañas para “Plegaría
a un labrador”, ambas de Víctor Jara. Este álbum, assim, reunia os mais importantes
expoentes  da  nueva  trova  cubana  e  dava  continuidade,  em  novo  contexto,  às
aproximações  que  vinham  se  estabelecendo  entre  esse  movimento  e  a  nueva  canción
chilena desde o fim da década de 1960.
21 É  importante  ainda  apontar  que  o  disco  explicita  como  os  movimentos  de
solidariedade  aos  exilados  chilenos  tinham  claramente  neste  momento  uma
perspectiva  de  aproximação  dos  países  latino­americanos  em  torno  de  uma  mesma
causa,  o  combate  ao  autoritarismo  e  a  libertação  do  continente,  principalmente  por
conta da inclusão de uma versão da cantora cubana Miriam Ramos para a “Canción con
todos”,  hino  pela  unidade  latino­americana  composto  pelos  argentinos  César  Isella  e
Armando Tejada Gómez e que havia se celebrizado na voz de Mercedes Sosa. Embora
aparentemente deslocada em meio ao repertório de composições de cubanos e chilenos,
“Canción con todos”, cujo refrão convoca: “Canta conmigo, canta hermano americano”,
acaba  por  mobilizar  o  discurso  da  unidade  latino­americana  em  nome  da  causa  da
solidariedade,  servindo  ao  objetivo  de  construir  pontes  que  deem  conta  de  amplificar
ainda mais os diálogos e aprofundar as conexões.
22 Esse caráter profundamente latino­americanista dos movimentos de solidariedade se
explicita ainda mais no outro disco produzido em Cuba, Compañero Presidente16, de
1975,  resultado  da  parceria  da  Casa  de  las  Américas  com  o  Comité  Chileno  de
Solidaridad con la Resistencia Antifascista, que reuniu gravações de artistas de vários
países  latino­americanos:  os  chilenos  Inti­Illimani,  Quilapayún  e  Ángel  Parra;  os
venezuelanos  Alí  Primera  e  Soledad  Bravo;  o  uruguaio  Daniel  Viglietti;  o  argentino
César  Isella;  os  porto­riquenhos  Andrés  Jiménez  y  Grupo  Taoné;  o  mexicano  Óscar
Chávez;  os  cubanos  Pablo  Milanés  e  Grupo  de  Experimentación  Sonora  del  ICAIC
(GESI).  O  disco,  verdadeiro  mosaico  da  canção  comprometida  do  continente,  é
representação  de  como  os  movimentos  de  solidariedade  às  vítimas  das  ditaduras  se
ampararam no discurso da unidade latino­americana, e deram sequência aos projetos
de  unidade  do  continente  pela  canção  que  já  vinham  se  desenhando  desde  a  década
anterior, o que transparece no texto da contracapa do álbum:

Estas canciones, venidas de muchos países de nuestra América, se arrojan al fuego
para que siga creciendo la solidaridad mundial con la gran causa del pueblo
chileno, simbolizado en la magnífica figura del presidente Salvador Allende, cuya
muerte en combate, el 11 de septiembre de 1973, sería calificada por el compañero
Fidel como “el más alto ejemplo de heroísmo que se pueda ofrecer”. Son canciones
nacidas del corazón, no para cantar el dolor pequeño de un hombre o de una
mujer solitarios, sino el dolor multitudinario de un continente que siente en pleno
pecho las heridas que padecen las mujeres y los hombres de Chile. […] la Casa de
las Américas, con la colaboración del Comité Chileno de Solidaridad con la
Resistencia Antifascista, ofrece estas canciones que se arrojan al fuego, en esta
hora de los hornos, proclamando con certidumbre, con música y con rabia: ¡hasta
la victoria siempre compañero Presidente!

23 Através  da  produção  dessas  obras  coletivas,  os  músicos  latino­americanos


encontraram um caminho para se inserir nos movimentos de solidariedade, fazendo da
sua arte um meio de propagar as ideias desses grupos e de estimular a adesão às causas
defendidas. No contexto do exílio, portanto, a canção seguiu sendo ponto importante
da militância política.

https://nuevomundo.revues.org/68244 6/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

A retomada da produção discográfica
da nueva canción chilena no exílio
francês
“¿Qué será de mis hermanos que están lejos de esta tierra?”
Verso da canção “Qué será de mis hermanos”, do chileno Ángel Parra, gravada pelo
compositor no álbum Ángel Parra de Chile (1976).

24 Os  movimentos  de  solidariedade  foram  inegavelmente  fundamentais  para  a


construção de uma rede de apoio aos exilados e para fortalecer a organização de ações
de denúncia contra as ditaduras instaladas na América Latina, dando uma cara para a
resistência  no  exilio.  No  entanto,  uma  vez  instalados  no  exterior,  para  além  de  sua
atuação  em  ações  coletivas,  a  maioria  dos  artistas  buscou  retomar  suas  atividades
artísticas e viabilizar a continuidade de suas carreiras individuais, o que implicou na
busca de novos canais para editar sua produção discográfica.
25 Fundamental neste sentido foi o desenvolvimento da produção musical dos músicos
chilenos  exilados  na  Europa,  que  tiveram  que  lutar  contra  todas  as  dificuldades
impostas  pelo  exílio  e  ainda  buscar  de  algum  modo  a  inserção  em  um  concorrido
mercado  fonográfico,  vencendo  barreiras  como  a  língua  e  as  diferenças  culturais  e
mesmo  os  limites  impostos  pelo  contexto  musical  estrangeiro,  no  qual  os  artistas
latino­americanos muitas vezes acabavam estigmatizados com a marca do “exótico” e
“pitoresco”.
26 Um dos polos mais significativos de exilados chilenos na Europa foi a França, para
onde  se  dirigiram  várias  das  lideranças  da  nueva  canción  chilena,  como  os  irmãos
Ángel e Isabel Parra, Patricio Manns e o conjunto Quilapayun. Dois discos podem ser
apontados como símbolos dos caminhos encontrados pelos chilenos para se inserir no
mercado  musical  francês:  o  álbum  Chants  de  la  résistance  populaire  chilienne  17,  de
1974,  primeiro  registro  fonográfico  do  grupo  Karaxú,  formado  no  exílio  por  Patrício
Manns, e o álbum Angel Parra De Chile 18 , lançado em 1976.
27 O disco Angel Parra De Chile foi editado por Le Chant Du Monde, selo discográfico
que  manteve  estreita  ligação  com  o  Parti  Communiste  Français  (PCF),  o  que  o
transformou  em  verdadeiro  reduto  dos  artistas  engajados  latino­americanos  exilados
em  Paris.  A  companhia  discográfica  Le  Chant  Du  Monde,  a  mais  antiga  ainda  em
atividade  na  França,  foi  fundada  em  1938,  pelo  crítico  de  cinema  Léon  Moussinac,
como  casa  de  edição  de  partituras  de  música  erudita,  e  se  tornou  uma  gravadora  de
discos quando retomou suas atividades após a Segunda Guerra Mundial. Ao fortalecer
sua  atividade  como  editora  de  discos,  ampliou  sua  atuação  para  além  da  música
erudita,  se  celebrizando  pela  edição  de  um  impressionante  catálogo  de  “música  do
mundo”. A partir dos anos 1960, a gravadora se tornou verdadeiro reduto de artistas
engajados dos mais variados países, passando a ser uma das principais responsáveis
pela  difusão  da  música  folk  e  da  nueva  canción  latino­americana  no  contexto
europeu19.
28 A  principal  proposta  da  gravadora  era  colocar  à  disposição  de  um  público  amplo,
com a venda de discos a preços bastante baixos, o grande repertório musical de várias
partes do mundo, mas a partir de uma política artística bastante singular, ditada em
grande  medida  pelo  Parti  Communiste  Français  (PCF),  já  que  membros  do  partido
participavam  de  maneira  bastante  direta  da  tomada  de  decisões  dentro  da  empresa.
Segundo o pesquisador francês Vincent Casanova, “devemos associar a história de Le
Chant  du  Monde  àquela  das  relações  entre  Moscou,  o  PCF  e  a  Internacional
Comunista  durante  a  Guerra  Fria”,  entendendo  a  gravadora  como  uma  base
importante de difusão na França de uma “cultura musical comunista”20.
29 Normalmente todo o processo de saída de seus países de origem, viagem e instalação
dos  exilados  latino­americanos  na  Europa  era  mediado  por  pessoas  ligadas  aos
partidos de esquerda, que trataram de promover uma rede de apoio aos exilados. E a
existência de uma gravadora de discos estreitamente ligada ao PCF abria uma grande
oportunidade  à  comunidade  de  músicos  latino­americanos  exilados  em  Paris  de  dar

https://nuevomundo.revues.org/68244 7/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

continuidade à edição de suas obras. Foi o caso de Ángel Parra, que mantinha estreitas
relações com o PC chileno e encontrou em Le Chant du Monde a possibilidade de dar
continuidade a sua carreira discográfica a partir da edição do álbum Angel Parra De
Chile21, em 1976.
30 O  álbum  era  composto  exclusivamente  por  composições  do  próprio  Ángel  Parra,
interpretadas  pelo  autor  ao  violão,  que  tratavam  de  transformar  em  música  a
melancolia gerada pela experiência da saída forçada de seu país e as dificuldades de se
instalar no exílio. O disco abre com a canção “La libertad”, que já coloca o dilema que
atormenta  o  autor:  “el  destierro  lejano  quemaba  una  interrogante:  ¿cómo  es  la
libertad?”. Essa temática atravessa todo o disco, com a sombra da ditadura e do exílio
presente  em  canções  como  “Yo  tuve  una  pátria”,  “Tango  em  Colombes”,  “El  día  que
vuelva  a  encontrar”  e  principalmente  “Que  será  de  mis  hermanos”,  um  dos  mais
emblemáticos  hinos  de  expressão  da  angústia  dos  exilados.  Alguns  momentos  de
otimismo  e  esperança  em  um  futuro  melhor  também  aparecem  em  canções  como
“Porque  mañana  se  abrirán  las  alamedas”  e  “El  día  que  vuelva  a  encontrar”,  que
imaginam  o  momento  de  vitória  sobre  os  inimigos  e  de  retorno  à  pátria.  E  o  fato  da
experiência  das  ditaduras  e  exílios  ter  se  tornado  um  elemento  compartilhado  por
diversos países latino­americanos abre espaço para que siga forte o discurso da unidade
continental, que aqui aparece claramente na canção “America del Sur”.
31 Caminho  diferente  foi  trilhado  por  Patricio  Manns,  outro  expoente  importante  da
nueva canción chilena. Foi pelo selo independente francês Expression Spontanée que o
músico chileno editou, em 1974, o álbum Chants de la résistance populaire chilienne22,
primeiro  registro  fonográfico  do  grupo  Karaxú,  formado  por  ele  no  exílio  junto  dos
músicos Franklin Troncoso, Bruno Fléty, el ”Negro” Salué, el ”Negro” Larraín e Mariana
Montalvo.  O  fato  de  o  disco  ser  todo  baseado  no  discurso  político  do  Movimiento de
Izquierda Revolucionaria (MIR), grupo mais radical no espectro da esquerda chilena e
de cuja ideologia se aproximava Manns, é fato importante para compreender porque o
álbum  encontrou  acolhida  em  Expression  Spontanée  e  não  em  Le  Chant  du  Monde,
selo dominado por representante do PCF.
32 Expression Spontanée foi criado nos anos 1960 pelo cantor e compositor Jean Bériac.
As  gravações  dos  discos  do  selo  eram  na  maioria  das  vezes  bancadas  pelos  próprios
autores,  com  tiragens  médias  de  500  discos,  distribuídos  pelos  próprios  artistas  em
suas apresentações e também em festivais de música, além de serem vendidos em uma
loja  própria.  Em  cerca  de  15  anos,  o  selo  produziu  por  volta  de  70  discos,  dentro  os
quais  quatro  ou  cinco  discos  sobre  o  Chile  e  vários  sobre  países  como  Espanha,
Portugal, Guiana, Palestina, Cabo Verde, além de discos de folk e registros de encontros
políticos,  de  festivais  de  música,  muitos  deles  realizados  em  parceria  com  o  jornal
L’Escargot.
33 Os artistas franceses próximos ao selo eram fortemente influenciados pelos ideais do
movimento  de  maio  de  1968,  e  fizeram  de  Expression  Spontanée  um  espaço  de
militância  política,  acolhendo  manifestações  engajadas  de  todo  o  mundo23.  Isso  fez
com  que  o  selo  acolhesse  a  produção  de  Chants  de  la  résistance  populaire  chilienne,
disco que traz escrito na capa: “Miguel Henriquez, Etendard de la lutte des opprimés.
MIR”,  e  abre  com  “La  canción  de  Luciano”,  em  que  Manns  homenageia  Luciano  Cruz
Aguayo, um dos principais líderes do MIR, morto em 14 agosto de 1971. O disco traz
ainda  a  canção  “La  dignidad  se  convierte  en  costumbre”,  homenagem  de  Manns  a
Bautista van Schouwen Vasey – el “Bauchi” – médico e membro do Comité Central do
MIR que foi preso, torturado e assassinado pelos militares em Santiago de Chile poucos
dias após o golpe militar. Ao lado das canções “miristas”, o álbum traz ainda algumas
canções  do  álbum  El  sueño  americano,  gravado  por  Manns  no  Chile  em  1967
(“Bolivariana”,  “Ya  no  somos  nosotros”),  e  canções  que  tematizam  o  exílio  e  a
resistência, além de um tema do uruguaio Daniel Viglietti, “Sólo digo compañeros”.
34 Os casos dos álbuns Chants  de  la  résistance  populaire  chilienne e Angel Parra De
Chile  são,  assim,  exemplares  do  movimento  de  retomada  da  produção  dos  músicos
engajados  latino­americanos  no  exílio,  além  de  apontarem  para  o  fato  de  que  as
filiações políticas e ideologias dos músicos exilados acabaram por ser determinantes na
inserção desses artistas nos circuitos comerciais. Além disso, atentar para a história de
selos como Le Chant Du Monde e Expression Spontanée24 é fundamental, uma vez que
https://nuevomundo.revues.org/68244 8/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970

seus catálogos são importantes instrumentos para acompanhar a atividade dos artistas
latino­americanos  no  exterior  e  também  para  pensar  a  inserção  desses  artistas  no
cenário artístico europeu e o lugar que suas obras encontraram nesse universo, abrindo
um período de mudanças importantes nos parâmetros que até então haviam definido a
produção da nueva canción latino­americana.

Palavras Finais
35 Os  golpes  civil­militares  que  varreram  a  América  Latina  ao  longo  das  décadas  de
1960 e 1970 impactaram profundamente a canção engajada que vinha se fortalecendo e
ganhando espaço no continente neste período. Ao submeter os artistas e suas obras à
perseguição,  violência,  repressão,  as  ditaduras  impuseram  enormes  limites  à
continuidade  da  produção  de  canção  engajada  nos  locais  atingidos.  Aqueles  que
permaneceram  em  seus  países  tiveram  que  aprender  a  lidar  com  a  censura  e  a
necessidade  de  encontrar  caminhos  alternativos,  muitas  vezes  clandestinos,  para
manter  sua  atuação  artística  e  sua  militância  política.  Mas  outros  tantos  acabaram
recorrendo ao exílio como estratégia de sobrevivência e, uma vez instalados em outros
países, tiveram que encontrar novos caminhos para se manterem ativos.
36 Assim, se estrutura toda uma “cultura do exílio”, na qual a canção popular tem papel
fundamental. Como busquei apontar neste artigo, a partir do exemplo do exílio chileno,
ao menos dois caminhos importantes se apresentaram a esses artistas para se inserir
nas  redes  de  militância  política  em  atividade  no  exterior  e  para  manter  viva  sua
produção artística. Por um lado, a participação nos movimentos de solidariedade aos
países  vítimas  das  ditaduras,  que  como  mostrei  a  partir  dos  discos  produzidos  pela
solidariedade  no  México  e  em  Cuba,  acabaram  construindo  uma  verdadeira  “rede
musical  de  solidariedade”.  Por  outro,  a  continuação  das  discografias  individuais  por
meio  do  lançamento  de  álbuns  por  selos  estrangeiros  que  se  abriram,  por  conta  do
engajamento  político  de  seus  organizadores,  para  acolher  a  produção  desses  artistas
que se viram repentinamente impedidos de dar sequência a seu trabalho em seus países
natais, como sintetizado aqui a partir do exemplo dos álbuns Chants de la résistance
populaire chilienne e Angel Parra De Chile,.
37 É importante atentar para como há diferenças importantes entre a produção musical
do exílio veiculada a partir da América Latina e aquela desenvolvida na Europa. Se os
movimentos  de  solidariedade  latino­americanos  ganharam  inevitavelmente  ares  de
luta pela unidade, se inserindo no contexto mais amplo das ações pela “libertação” do
continente,  na  Europa  o  apoio  aos  países  que  enfrentavam  as  ditaduras  dialogavam
com os movimentos antifascistas, e a inserção dos artistas engajados nos circuitos de
produção passava pela necessidade de encarar certos desafios impostos pelo mercado,
como a diferença de língua e uma visão estereotipada de suas obras.
38 A pesquisa mais sistemática de todo esse universo da “produção musical do exílio”
que abordei aqui é sem dúvida uma contribuição crucial para ampliar a compreensão
dos significados das experiências violentas impostas pelas ditaduras civil­militares na
América  Latina.  Por  meio  do  estudo  dessas  canções,  que  assumem  como  temáticas
centrais o desterro e a necessidade de resistir, acredito ser possível desvendar todo um
imaginário  dos  exilados,  além  de  expandir  ainda  mais  a  compreensão  de  como,  ao
longo  das  décadas  de  1960  e  1970,  os  artistas  latino­americanos  pensaram  na
possibilidade de promover uma integração musical do continente e estabeleceram uma
série  de  “conexões  transnacionais”  cuja  análise,  para  a  qual  a  pesquisa  que  venho
desenvolvendo  pretende  contribuir,  é  central  para  a  construção  de  uma  história  da
canção engajada na América Latina.

Bibliografia
Alten,  Michèle.  “Le  Chant  du  monde:  une  firme  discographique  au  service  du  progressisme
(1945­1980)”. ILCEA, 16, 2012.

https://nuevomundo.revues.org/68244 9/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970
Bayle,  Paola.  “Los  rubios.  El  compromiso  británico  hacia  las  víctimas  de  la  dictadura  militar
chilena (1973­1990)”. Sociedad Hoy, n° 22, p. 77­93, 2012.
Bayly, C. A et al. “On Transnational History”. American Historical Review, December 2006.
Bolzman, Claudio “Apprendre à vivre en exil : les réfugiés chiliens en Suisse”. Revue européenne
des migrations internationales. vol. 5, n°2, p. 133­144.
DOI : 10.3406/remi.1989.1024
Bravo Chiappe, Gabriela; González Farfán, Cristian. Ecos del tiempo subterráneo: Las peñas en
Santiago durante el régimen militar (1973­1983). Santiago, LOM Ediciones, 2009.
Casanova,  Vincent.  “Jalons  pour  une  histoire  du  Chant  du  monde  à  l’heure  de  la  guerre  froide
(1945­1953)”. Bulletin de l’Institut Pierre Renouvin, n°18, 2004.
Coraza  de  los  Santos,  Enrique.  “Realidades  y  visiones  del  exilio  uruguayo  en  España”.  América
Latina Hoy, 34, 2003, p. 79­102.
Duarte,  Geni  Rosa;  Fiuza,  Alexandre  Felipe.  “Músicos  latino­americanos  no  exílio:  música,
deslocamentos e participação política”. Actas  de  las  II  Jornadas  de  trabajo  Exilios  Políticos  del
Cono Sur en el siglo XX. Montevideo, 2014.
Fléchet,  Anaïs.  “Por  uma  história  transnacional  dos  festivais  de  música  popular.  Música,
contracultura e transferências culturais nas décadas de 1960 e 1970”. UNESP – FCLAs – CEDAP,
vol. 7, n°1, jun. 2011, p. 257­271.
Fléchet,  Anaïs.  “Aux  rythmes  du  Brésil:  exotisme,  transferts  culturels  et  appropriations.  La
musique brésilienne en France au XXe siècle”. IRICE – Bulletin de l'Institut Pierre Renouvin, n
°27, 2008/1, p. 175 à 180.
Fléchet,  Anaïs;  Gomes,  Caio  de  Souza.  "Quando  um  muro  separa,  uma  ponte  une":  conexões
transnacionais  na  canção  engajada  na  América  Latina  (anos  1960/70).  2013.  Dissertação
(Mestrado  em  História  Social)  ­  Faculdade  de  Filosofia,  Letras  e  Ciências  Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
Fléchet,  Anaïs;  Gomes,  Caio  de  Souza.  “Por  toda  América  soplan  vientos  que  no  han  de  parar
hasta  que  entierren  las  sombras:  anti­imperialismo  e  revolução  na  canção  engajada  latino­
americana (1967­69)”. História e Cultura, vol. 2, 2013, p. 146­165.
Gómez  Gálvez,  Mauricio.  “El  pueblo  unido,  jamás  será  vencido!  Circulation  internationale  et
réception  d’un  chant  politique  (1973­1983)”.  In:  Anaïs  Fléchet,  Marie­Françoise  Lévy  (dir.)
Littératures  et  musiques  dans  la  mondialisation,  Paris,  Publications  de  la  Sorbonne,  2015,
p. 127­136.
Gruzinski, Serge. “Les mondes mêlés de la Monarchie catholique et autres ‘connected histories’”.
Annales. Histoire, Sciences Sociales, n° 1, 2001.
Jedlicki, Fanny. “Les exilés chiliens et l’affaire Pinochet. Retour et transmission de la mémoire”.
Cahiers de l’Urmis, 7, juin 2001
Jordán,  Laura.  “Cantando  AL  MIR  y  al  Frente:  Cita  y  versión  en  dos  canciones  militantes  de
Patricio Manns”. In: Actas del IX Congreso de la IASPM­AL, Montevideo, junio de 2010.
Jordán, Laura. “Música y clandestinidad en dictadura: la represión, la circulación de músicas de
resistencia y el casete clandestino”. Revista Musical Chilena, Año LXIII, n° 212, Julio­Diciembre
2009, p. 77­102.
DOI : 10.4067/S0716­27902009000200006
Lastra,  Maria  Soledad.  “Del  exilio  al  no  retorno.  Experiencia  narrativa  y  temporal  de  los
argentinos en México”. Aletheia, 1(2), 2011.
Levitt,  Peggy;  Khagram,  Sanjeev  (ed.).  The  Transnational  Studies  Reader:  intersections  and
innovations. New York, Routledge, 2008.
Mamani,  Ariel.  “El  equipaje  del  destierro.  Exilio,  diáspora  y  resistencia  de  la  nueva  canción
chilena (1973­1981)”. Revista Divergencia, n° 3, Año 2, enero ­ julio 2013, p. 9­35.
Mamani, Ariel. “Exilio, resistencia y adaptación de la Nueva Canción Chilena (1973­1978)”. Actas
de las Jornadas de trabajo Exilios Políticos del Cono Sur en el siglo XX. La Plata, 2012.
Marchini, Darío. No  toquen:  músicos  populares,  gobierno  y  sociedad. Buenos Aires, Catálogos,
2008.
Mártin Montenegro, Gustavo. La campaña de solidaridad con chile en australia (1973 – 1990).
In: http://www.memoriachilena.cl/602/articles­122388_recurso_2.pdf.
Martins,  Carlos  Alberto.  “Música  Popular  como  comunicación  alternativa:  Uruguay  1973­1982”.
Diálogos de la Comunicación, n° 27, julio de 1990.
Merklen, Denis. “Sufrir lejos, quedarse juntos. El exilio de los uruguayos en Francia”. Anuario de
Estudios Americanos. Sevilla (España), 64, 1, enero­junio, 2007, p. 63­86.
DOI : 10.3989/aeamer.2007.v64.i1.33
Napolitano, Marcos. “A MPB sob suspeita: a censura musical pela ótica dos serviços de vigilância
política (1968­1981)”. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 24, nº 47, p. 103­126, 2004.
DOI : 10.1590/S0102­01882004000100005

https://nuevomundo.revues.org/68244 10/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970
Napolitano, Marcos. “A produção do silêncio e da suspeita: a violência do regime militar contra a
MPB  nos  anos  70”.  In:  Anais  do  V  Congresso  da  Música  Popular  IASPM­AL.  Rio  de  Janeiro,
2004.
Napolitano,  Marcos.  “Engenheiros  das  almas  ou  vendedores  de  utopia?  A  inserção  do  artista­
intelectual  engajado  no  Brasil  dos  anos  70”.  In:  1964­2004:  40  anos  do  golpe.  Rio  de  Janeiro,
Faperj/7 Letras, 2004.
Orquera,  Fabiola.  “Los  sonidos  y  el  silencio.  Folklore  en  Tucumán  y  última  dictadura”.  Telar, n
° 13­14, 2015.
Paredes, Alejandro. “Santiago de Chile y Mendoza, Argentina: La red social que apoyó a exiliados
chilenos (1973­1976)”. REDES­ Revista hispana para el análisis de redes sociales, vol. 13, n° 4,
Diciembre 2007.
Paredes, Alejandro. “Las prácticas políticas de los exiliados chilenos en Mendoza y su incidencia
en Chile (1970­1989)”. Revista Universum, nº 18, 2003.
Pozo,  José  del.  “Los  chilenos  en  el  exterior  de  la  emigracion  y  el  exilio  a  la  diaspora  el  caso  de
montreal”. Revue européenne des migrations internationales, vol. 20, n° 1, 2004.
Prado, Maria Ligia Coelho. “Repensando a História Comparada da América Latina”. Revista de
História, São Paulo, nº 153, p. 11­33, 2005. 
DOI : 10.11606/issn.2316­9141.v0i153p11­33
Prognon,  Nicolas.  “La  culture  chilienne  en  exil  en  France:  Une  forme  de  résistance  à  la  junte
(1973­1994)”. Pandora: revue d'etudes hispaniques, 8, 2008, p. 205­220
Rojas  Mira,  Claudia  F.  "La  casa  de  Chile  en  México."  Exiliados,  emigrados  y  retornados.
Santiago, RIL Editores, 2006, p. 107­126.
Rojas  Mira,  Claudia;  Santoni,  Alessandro.  “Geografía  política  del  exilio  chileno:  los  diferentes
rostros de la solidaridad”. Perfiles latinoamericanos, n° 41, enero­junio 2013, p. 123­142.
Rollemberg,  Denise.  “Memórias  no  exílio,  memórias  do  exílio”.  In:  FERREIRA,  Jorge;  AARÃO
REIS, Daniel. (Orgs.). As Esquerdas no Brasil. Revolução e democracia (1964...). vol. 3. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Santoni,  Alessandro.  “Comunistas  y  socialistas  italianos  frente  a  la  causa  chilena:  solidaridad  y
renovación (1973­1989)”. Revista www.izquierdas.cl, n° 19, Agosto 2014, p. 112­130.
Santoni,  Alessandro.  “El  Partido  Comunista  Italiano  y  el  otro  “compromesso  storico”:  los
significados  políticos  de  la  solidaridad  con  chile  (1973­1977)”.  Historia,  n°  43,  vol.  II,  julio­
diciembre 2010, p. 523­546.
Santos, Laura; Petruccelli, Alejandro; Morgade, Pablo. Música y dictadura: por qué cantábamos.
Buenos Aires, Capital Intelectual, 2008.
Subrahmanyam, Sanjay. “Connected Histories: Notes towards a Reconfiguration of Early Modern
Eurasia”. Modern Asian Studies, vol. 31, n° 3, jul. 1997, p. 735­762.
DOI : 10.1017/S0026749X00017133
Sznajder,  Mario;  Roniger,  Luis.  “Exile  Communities  and  Their  Differential  Institutional
Dynamics:  A  Comparative  Analysis  of  the  Chilean  and  Uruguayan  Political  Diasporas”.  Revista
de Ciencia Política (Santiago), Santiago, vol. 27, n° 1, 2007.
DOI : 10.4067/S0718­090X2007000200003
Uliánova, Olga. “La Unidad Popular y el golpe militar en chile: percepciones y análisis soviéticos”.
Estudios Públicos, 79, invierno 2000.

Notas
1 Utilizo a expressão “conexões transnacionais” na tentativa de aproximar as discussões propostas
recentemente em torno das ideias de “histórias conectadas” e “histórias transnacionais”. Há uma
ampla  bibliografia  a  respeito  dessas  novas  abordagens,  mas  uma  boa  introdução  às  “histórias
conectadas” é apresentada em Prado, Maria Ligia Coelho, “Repensando a História Comparada da
América  Latina”,  Revista  de  História,  São  Paulo,  nº  153,  2005,  p.  11­33.  Ver  ainda  o  dossiê
especial apresentado nos Annales. Histoire, Sciences Sociales, n. 1, 2001, especialmente os artigos
de  Sanjay  Subrahmanyam,  “Du  Tage  au  Gange  au  XVIe  siècle:  une  conjoncture  millénariste  à
l'échelle  eurasiatique”,  e  de  Serge  Gruzinski,  “Les  mondes  mêlés  de  la  Monarchie  catholique  et
autres  ‘connected  histories’”.  Em  relação  à  “história  transnacional”,  um  bom  balanço  das
principais discussões aparece no fórum “On Transnational History”, apresentado na seção “AHR
Conversation”  da  American  Historical  Review,  dezembro  de  2006.  Ver  ainda  Levitt,  Peggy;
Khagram, Sanjeev (ed.). The Transnational Studies Reader: intersections and innovations. New
York: Routledge, 2008.
2  Esse  tema  da  elaboração  de  projetos  de  integração  continental  por  meio  da  canção  e  da
constituição  de  “conexões  transnacionais”  entre  os  músicos  engajados  latino­americanos  nas
décadas de 1960 e início da década de 1970 é detalhadamente discutido em minha dissertação de
mestrado:  Gomes,  Caio  de  Souza.  "Quando  um  muro  separa,  uma  ponte  une":  conexões
transnacionais  na  canção  engajada  na  América  Latina  (anos  1960/70).  2013.  Dissertação

https://nuevomundo.revues.org/68244 11/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970
(Mestrado  em  História  Social)  ­  Faculdade  de  Filosofia,  Letras  e  Ciências  Humanas,
Universidade  de  São  Paulo,  São  Paulo,  2013.  Disponível  em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde­28062013­130124/>.  Acesso  em:
2015­02­14.
3  A  questão  da  repressão  e  da  censura  aos  músicos  engajados  e  aos  veículos  de  produção  e
circulação  de  suas  obras  foi  largamente  abordada  em  estudos  sobre  as  realidades  nacionais  sob
ditadura. Ver, por exemplo: Bravo Chiappe, Gabriela; González Farfán, Cristian. Ecos del tiempo
subterráneo:  Las  peñas  en  Santiago  durante  el  régimen  militar  (1973­1983). Santiago: LOM
Ediciones,  2009;  Jordán,  Laura.  “Música  y  clandestinidad  en  dictadura:  la  represión,  la
circulación  de  músicas  de  resistencia  y  el  casete  clandestino”,  Revista  Musical  Chilena,  Año
LXIII, n° 212, Julio­Diciembre 2009, p. 77­102; Marchini, Darío. No toquen: músicos populares,
gobierno  y  sociedad.  Buenos  Aires:  Catálogos,  2008;  Martins,  Carlos  Alberto.  “Música  Popular
como comunicación alternativa: Uruguay 1973­1982”, Diálogos de la Comunicación, n° 27, julio
de 1990; Napolitano, Marcos. “A MPB sob suspeita: a censura musical pela ótica dos serviços de
vigilância política (1968­1981)”, Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 24, nº 47, p. 103­
126,  2004;  Napolitano,  Marcos.  “A  produção  do  silêncio  e  da  suspeita:  a  violência  do  regime
militar contra a MPB nos anos 70”. In: Anais do V Congresso da Música Popular IASPM­AL. Rio
de Janeiro, 2004.
4  Rollemberg,  Denise.  “Memórias  no  exílio,  memórias  do  exílio”.  In:  Jorge  Ferreira;  Daniel
Aarão  Reis.  (Orgs.).  As  Esquerdas  no  Brasil.  Revolução  e  democracia  (1964...).  vol.  3.  Rio  de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
5  Duarte,  Geni  Rosa;  Fiuza,  Alexandre  Felipe.  “Músicos  latino­americanos  no  exílio:  música,
deslocamentos e participação política”. Actas  de  las  II  Jornadas  de  trabajo  Exilios  Políticos  del
Cono  Sur  en  el  siglo  XX.  Montevideo:  2014;  Lastra,  Maria  Soledad.  “Del  exilio  al  no  retorno.
Experiencia narrativa y temporal de los argentinos en México”. Aletheia, 1(2), 2011; Coraza de los
santos, Enrique. “Realidades y visiones del exilio uruguayo en España”. América Latina Hoy, 34,
2003,  pp.  79­102;  Merklen,  Denis.  “Sufrir  lejos,  quedarse  juntos.  El  exilio  de  los  uruguayos  en
Francia”. Anuario de Estudios Americanos. Sevilla (España), 64, 1, enero­junio, 2007, p. 63­86.
6  Rojas  Mira,  Claudia;  Santoni,  Alessandro.  “Geografía  política  del  exilio  chileno:  los  diferentes
rostros de la solidaridad”. Perfiles latinoamericanos, n. 41, enero­junio 2013, p. 137­138.
7  Rojas  Mira,  Claudia  F.  "La  casa  de  Chile  en  México."  Exiliados,  emigrados  y  retornados.
Santiago:  RIL  Editores,  2006,  p.  107­126;  PAREDES,  Alejandro.  “Santiago  de  Chile  y  Mendoza,
Argentina:  La  red  social  que  apoyó  a  exiliados  chilenos  (1973­1976)”.  REDES­ Revista hispana
para el análisis de redes sociales, vol.13, n° 4, Diciembre 2007.
8  Jedlicki,  Fanny.  “Les  exilés  chiliens  et  l’affaire  Pinochet.  Retour  et  transmission  de  la
mémoire”. Cahiers  de  l’Urmis,  7,  juin  2001;  Prognon,  Nicolas.  “La  culture  chilienne  en  exil  en
France: Une forme de résistance à la junte (1973­1994)”. Pandora: revue d'etudes hispaniques,
8, 2008, p. 205­220; Santoni, Alessandro. “El Partido Comunista Italiano y el otro “compromesso
storico”: los significados políticos de la solidaridad con chile (1973­1977)”. Historia, n. 43, Vol. II,
julio­diciembre 2010, pp. 523­546; Bayle, Paola. “Los rubios. El compromiso británico hacia las
víctimas  de  la  dictadura  militar  chilena  (1973­1990)”.  Sociedad  Hoy,  n°  22,  p.  77­93,  2012;
Bolzman, Claudio “Apprendre à vivre en exil: les réfugiés chiliens en Suisse”. Revue européenne
des migrations internationales. vol. 5, n° 2, p. 133­144.
9  Uliánova,  Olga.  “La  Unidad  Popular  y  el  golpe  militar  en  chile:  percepciones  y  análisis
soviéticos”. Estudios Públicos, 79, invierno 2000.
10 Pozo, José del. “Los chilenos en el exterior de la emigracion y el exilio a la diaspora el caso de
montreal”.  Revue  européenne  des  migrations  internationales,  vol.  20,  n°1,  2004;  Mártin
Montenegro,  Gustavo.  La  campaña  de  solidaridad  con  chile  en  australia  (1973  –  1990).  In:
http://www.memoriachilena.cl/602/articles­122388_recurso_2.pdf.
11  Mamani,  Ariel.  “El  equipaje  del  destierro.  Exilio,  diáspora  y  resistencia  de  la  nueva  canción
chilena (1973­1981)”, Revista Divergencia, n°  3, Año 2, enero ­ julio 2013, p. 20.
12 Rojas Mira, Claudia; Santoni, Alessandro. “Geografía política del exilio chileno: los diferentes
rostros de la solidaridad”. Perfiles latinoamericanos, n° 41, enero­junio 2013, p. 128.
13  Sobre  a  Casa  de  Chile  ver  Rojas  Mira,  Claudia  F.  "La  casa  de  Chile  en  México."  Exiliados,
emigrados y retornados. Santiago: RIL Editores, 2006, p. 107­126.
14 Mexico­Chile Solidaridad. México: Discos Pueblo, DP­1007, 1974.
15 Jornada de solidaridad con la lucha del pueblo de Chile. EGREM­Areito, LD­3465, 1974.
16 Compañero Presidente. Cuba: Casa de las Américas/EGREM, 1975.
17 Karaxú. Chants de la résistance populaire chilienne. França: Le Chant du Monde, 1974.
18 Ángel Parra. Ángel Parra de Chile. França: Le Chant du monde, LDX 74611, 1976.
19  Para  um  histórico  do  selo  discográfico  Le  Chat  Du  Monde,  ver  o  site  oficial  da  empresa:
http://label.chantdumonde.com.
20 Vincent Casanova, “Jalons pour une histoire du Chant du monde à l’heure de la guerre froide
(1945­1953)”. Bulletin de l’Institut Pierre Renouvin, n°18, 2004. (tradução minha).
21 Ángel Parra. Ángel Parra de Chile. França: Le Chant du monde, LDX 74611, 1976.

https://nuevomundo.revues.org/68244 12/13
27/10/2016 “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970
22 Karaxú. Chants de la résistance populaire chilienne. França: Le Chant du Monde, 1974.
23 Sobre Expression Spontanée ver “Mai 68 ­ Jean Bériac et Expression Spontanée”. Je chante,
18 Décembre 2009 (disponível em http://www.jechantemagazine.com).
24  Fora  do  contexto  francês  se  destacam  outros  selos  importantes  na  divulgação  da  canção
engajada latino­americana, como o norte­americano Paredon Records, o mexicano Discos Pueblo
e o italiano I Dischi Dello Zodiaco.

Para citar este artigo
Referência eletrónica
Caio de Souza Gomes, « “Los que la represión golpea por igual unieron la unidad”: o exílio
chileno e a construção de redes musicais de solidariedade na década de 1970 », Nuevo
Mundo Mundos Nuevos [Online], Imagens, memórias e sons, posto online no dia 18 Setembro
2015, consultado o 27 Outubro 2016. URL : http://nuevomundo.revues.org/68244 ; DOI :
10.4000/nuevomundo.68244

Autor
Caio de Souza Gomes
Doutorando em História Social – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo – FFLCH/USP 
contato: caio.gomes@usp.br

Direitos de autor

Nuevo mundo mundos nuevos est mis à disposition selon les termes de la licence Creative
Commons Attribution ­ Pas d'Utilisation Commerciale ­ Pas de Modification 4.0 International.

https://nuevomundo.revues.org/68244 13/13

Você também pode gostar