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* Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, professor da Faculdade de História e do Programa de Pós-
Graduação em História Social da Amazônia da Universidade Federal do Pará, pesquisador do CNPq, membro do Grupo
de Pesquisa Demografia e História, do CNPq, e do Grupo de Trabalho População e História, da Abep, e diretor do Centro
de Memória da Amazônia (CMA/UFPA).
** Mestrando em História, pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, da Universidade Federal
do Pará, bolsista de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes e membro do
Grupo de Pesquisa Demografia e História, do CNPq.
Apesar das muitas incertezas, pode-se atordoados pela distância da Corte e nem
encontrar testemunhos que destacam as de uma Corte restrita ao Rio de Janeiro....
tensões e representações que cercaram Falaremos de um porto e de uma população
a partida da Corte, como na cena descrita ao norte da América lusitana, onde, por
nas memórias do marquês da Fronteira, motivos diferenciados, entre 1808 e 1821,
José Trazimundo, que, com cinco anos de presenciou partidas e chegadas.
idade, teve suas lembranças marcadas pela
correria e tristeza do embarque real: Entre mares e rios, o movimento das
Minhas tias mandaram logo [chamar] embarcações
por duas carruagens, que nos levaram
a toda a pressa ao cais de Belém, onde
A impressão que a cidade de Belém
reinava a maior confusão e desordem. As
bagagens da corte, expostas ao tempo e podia causar em viajantes europeus, entre
quase abandonadas, ocupavam desde a 1808 e 1821, algumas vezes não era das me-
rua da Junqueira até o cais; as carruagens lhores... em outras, surpreendia aos menos
não puderam entrar no largo de Belém, otimistas. Mesmo considerando os juízos
porque o Estado do Príncipe, o imenso
de valor contidos em algumas narrativas da
povo que estava no largo, as bagagens
e o regimento de Alcântara, que fazia a época, ainda é instigante imaginar a paisa-
guarda de honra, impediam o trânsito. Não gem inicial que os navegantes encontravam
pudemos, portanto, ver os nossos parentes ao ancorarem no Pará. Essas impressões,
que partiam... Nunca esquecerei as lágrimas por exemplo, são registradas no diário de
que vi derramar, tanto ao povo como aos
viagem de Spix e Martius (1817-1820):
criados da Casa Real, e aos soldados que
estavam no largo de Belém. (BARRETO, Do lado do mar, avistam-se, perto da
1932, p.32). margem e quase no meio da fila de casas,
a Praça do Comércio e a Alfândega, atrás
Entre números imprecisos e memórias da qual surgem as duas torres da Igreja
recriadas, rumo ao Brasil navegava um das Mercês. Mais para dentro, eleva-se a
período marcado por transformações so- cúpula da Igreja de Santana e, na parte
ciais, políticas e econômicas, ao qual, hoje, norte, termina a vista com o Convento
dos Capuchinhos, de Santo Antonio; na
chamamos de joanino (1808-1821). Anos de parte do extremo sul, o olhar repousa no
histórias de muitas separações: separação Castelo e no Hospital Militar, a que se
de um príncipe de seus súditos, de uma juntam o Seminário Episcopal e a Catedral,
Corte de sua origem, de uma colônia de sua esta com duas torres. Mais para o interior
metrópole, de uma nobreza de parte de sua das terras destaca-se, naquele lado, o
Palácio do Governo. (...) Porém, quando
riqueza, de proprietários de seus pertences, o recém-chegado entra na própria cidade,
de soldados de seus generais, de criados encontra mais do que prometia o aspecto
de seus senhores, separação de famílias... exterior: casas sólidas, construídas, em
separação de populações. sua maior parte, de pedras de cantaria,
Entre tantas separações e imprecisões, casas em largas ruas, que se cortam em
ângulos retos. (SPIX; MARTIUS,1981,
os números também podem ser aliados na p. 23).
tentativa de se enveredar pela “dinâmica da
distância”, considerando as embarcações e Em si, a impressão da cidade revela
as pessoas que deixaram portos lusitanos o “movimento” nos termos comparativos
e buscaram abrigo no Brasil. Números que implícitos, seja com cidades europeias, seja
ancoram possibilidades de investigação com outras localidades do Brasil visitadas
e marcam “movimentos” que não eram pela dupla de viajantes. A surpresa com a
novidade entre Portugal e Brasil, mas que solidez das construções também revela o
ganharam novos contornos. “movimento”, pois a expectativa é a antes-
Esse ensaio busca analisar o período sala da chegada.
joanino, considerando o movimento de Entre as ruas da cidade, uma população
embarcações e pessoas, no ir e vir entre marcada pela migração deixava suas pega-
Portugal e a Amazônia, mais especificamen- das. Negros “crioulos” e de variadas partes
te para o Pará. Não falaremos de nobres da África, índios de diversas aldeias, bran-
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1 No geral, há poucos trabalhos que estudem a história demográfica do Pará; existe uma carência na área de estudos
migratórios e de pesquisas que explorem taxas de natalidade, fecundidade e mortalidade no século XIX. Merecem destaque
as pesquisas de Kelly (1984), Moraes (1984), Batista (2004), Cancela (2006) e Cardoso (2008). Atualmente, um projeto
em desenvolvimento realiza o levantamento de fontes populacionais para a história da Amazônia, entre 1750 e 1850.
Cf: VIEIRA Jr., Antonio Otaviano. História e População na Amazônia: levantamento de fontes demográficas (1750-1850);
financiado pelo CNPq, por meio de uma Bolsa de Produtividade em Pesquisa.
2 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10915 – Ofício do comandante do presídio de Trafaria, António
Elesbão Xavier de Almeida, para o [secretário de estado da Marinha e Ultramar, conde das Galveias, D. João de Almeida
de Melo e Castro], sobre os indivíduos embarcados no navio “Prazeres e Alegria”, com destino ao Pará, onde vão cumprir
as penas de degredo a que foram condenados.
3 Arquivo Público do Estado do Pará, Registros Códice 645, Série: Abaixo-assinados da navegação com o comandante
da fortaleza da Barra (1808-1832).
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GRÁFICO 1
Visitas de embarcações no porto de Belém, por país de origem
Belém, Pará – 1808-1821
Fonte: Arquivo Público do Estado do Pará, Registros Códice 645, Série: Abaixo-assinados da navegação com o comandante da
fortaleza da Barra (1808-1832).
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das Guerras Napoleônicas não significou o promulgava a abertura dos portos brasilei-
término das tensões políticas que envolviam ros a todas as nações amigas. No caso do
o governo português, ao contrário, houve norte do Brasil, isso significou, na prática, a
intensificação desses conflitos, que desa- preponderância das embarcações inglesas.
guaram, em 1821, na Revolução do Porto; A soma das embarcações de outras nações
e a força da marinha inglesa articulada à – EUA (17%), França (6%), Holanda (0,3%),
necessidade de ampliação da rede comercial Suécia (0,6%) e Dinamarca (0,6%) – não al-
britânica. cançava o total referente à presença inglesa
Os dados da Tabela 1 mostram que (34%). Os portos foram abertos às “nações
o fim das Guerras Peninsulares instigou o amigas”, mas a mais “amiga” era a Inglaterra.
aumento das embarcações estrangeiras Segundo Jobson Arruda (2008), pelo menos
no porto de Belém, notadamente inglesas em relação ao Rio de Janeiro, essa abertura
e francesas. Além disso, em números ab- aconteceu efetivamente em 1800. Ou seja,
solutos, os navios da Inglaterra chegaram entre a abertura dos portos fluminenses em
a superar os de Portugal. Somando-se as 1800, a Carta Régia que formalizou essa
naus francesas, inglesas e portuguesas, abertura em 1808 e a circulação de embar-
depois de 1815, tem-se um total de 252 cações estrangeiras na Amazônia, existem
visitas – quase a metade de todas as visitas intervalos temporais significativos, o que tor-
do período joanino (534). Destas, 50% eram na instigante pensarmos as especificidades
embarcações inglesas, 38% portuguesas e do fluxo de embarcações no Brasil joanino.
12% francesas. Há a efetivação do domínio Em suma, é possível considerar uma
inglês nas relações portuárias em Belém, história do movimento, da origem e do
bem como uma significativa diminuição da período dos navios que chegavam a Belém
presença lusitana. nos anos joaninos, em que se verifica uma
A partir desses dados, verifica-se que, relação direta entre as origens das embar-
entre 1808 e 1821, o porto de Belém foi cações que visitavam o cais belenense e a
frequentemente visitado por embarcações intensificação dos conflitos peninsulares na
estrangeiras. E mais, no conjunto das Europa, marcando o predomínio das embar-
visitas, percebe-se um aumento paulatino cações lusitanas até a derrocada final do
das embarcações de origens inglesas e exército napoleônico e a supremacia inglesa
francesas, o que coincidiu com o processo nos anos seguintes. Observa-se, também,
de pacificação das relações entre Portugal e que a suposta “abertura dos portos”, pelo
França, com a dominação comercial inglesa menos na Amazônia, só se efetivou depois
e a efetivação de um cenário político que de 1815, com marcante aumento da pre-
impelia o retorno da família real. sença de naus inglesas e francesas. Das 89
Ainda na chegada do príncipe regente à embarcações dos Estados Unidos, somente
cidade de Salvador, sua primeira carta régia 20 ancoraram em Belém antes de 1816. Das
TABELA 1
Visitas de embarcações no porto de Belém, por país de origem
Belém, Pará – 1816-1821
Ano Portuguesas Inglesas Francesas
1816 23 09 01
1817 25 23 02
1818 15 29 11
1819 13 18 02
1820 10 18 08
1821 10 29 06
Total 96 126 30
Fonte: Arquivo Público do Estado do Pará, Registros Códice 645, Série: Abaixo-assinados da navegação com o comandante da
fortaleza da Barra (1808-1832).
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rio português. Gibraltar, por sua vez, era pos- dos portos” em 1808, a ancoragem de em-
sessão inglesa. Ou seja, em última instância, barcações estrangeiras no cais de Belém
embora os navios partissem rumo à África, passou a ser mais diversificada, incluindo
seus portos de chegada estavam atrelados a navios dinamarqueses, suecos, etc. Noutro
“Portugal” ou, no caso de Gibraltar, à “Ingla- sentido, o avançar dos anos joaninos tam-
terra”. Essas regiões eram fontes do tráfico bém significou a diminuição da presença
de população escrava, exceto Gibraltar. A de embarcações portuguesas na baía do
partir de 1815, todavia, apenas Angola se Guajará. E fundamentalmente explicitando
enquadrava nesse aspecto, pois Portugal e a força da ingerência econômica inglesa,
Inglaterra firmaram um acordo que proibia o houve o prevalecimento da ancoragem de
tráfico negro de regiões da África localizadas embarcações britânicas após 1815 – que
acima da Linha do Equador.5 superou a presença lusitana.
Outro ponto a destacar é o número re- No ir, percebe-se que os navios portu-
duzido de viagens à França (apenas duas), gueses que partiam de Belém trafegavam
o que pode criar a impressão de que o con- principalmente entre Portugal, Brasil, Gi-
tato entre Belém e a França era esporádico, braltar e Caribe francês. As naus lusitanas
mesmo considerando o número de embar- também visitavam com frequência o porto
cações francesas que partiam do porto de de Caiena, mesmo após a desocupação
Belém (30). Entretanto, o que os registros desse território por parte das tropas portu-
mostram é que os barcos portugueses guesas. As mesmas embarcações portu-
preferiam visitar as possessões francesas guesas, quando tinham destino para outras
no Caribe: Ilha de São Bartolomeu (três partes do Brasil, visitavam prioritariamente
viagens), Ilha de São Vicente de Guadalupe o Maranhão.
(três) e Martinica (uma). No total foram sete Assim, pode-se ter uma ideia do tráfico
viagens a portos franceses no Caribe, mais de embarcações que passou pelo porto de
do que, por exemplo, as quatro viagens para Belém durante os anos joaninos. O destaque
Angola, as duas para Inglaterra, as três para é dado para o fluxo de navios lusitanos, que
Guiné Bissau ou as duas para Barbados ligaram extremos de um mesmo império.
(colônia britânica na parte extrema oriental Mas, ainda considerando esse império,
do Caribe). Além das visitas das embarca- devemos pensar no perfil da trajetória que
ções portuguesas ao Caribe francês, ainda marca a saída de pessoas, como no caso
podem ser somadas as visitas às Guianas, o do “rapaz” que embarcou no “Prazeres &
que efetivamente destaca o contínuo contato Alegria”.
entre o porto de Belém com essas regiões
sob domínio francês, principalmente a partir Para além das embarcações
de 1815-16.
Em resumo, por meio dos dados apre- Não foram só navios que partiam e
sentados, verifica-se que, no período joani- chegavam no porto de Belém nos anos joa-
no, alguns elementos podem ser destaca- ninos. A relação entre Portugal e a Amazônia
dos no vir e ir de embarcações portuguesas não se resumia ao transporte de mercado-
através do porto de Belém. rias e nem ao simples ancoradouro. Pessoas
No vir, durante o período joanino também saíam de Lisboa ou do Porto rumo
em geral (1808-1821), Belém recebeu à capital do Pará.
prioritariamente visitas de embarcações A documentação que sustenta essa
portuguesas ou inglesas. Somente depois análise está disposta no Arquivo Histórico
de 1815, a despeito da famosa “abertura Ultramarino Português: são as solicitações
5 Em 1815, durante o Congresso de Viena, Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado que proibia o tráfico, para o Brasil,
de escravos oriundos de regiões sobre a Linha do Equador. Em 1817, este Tratado foi ratificado e acrescido, culminando
na autorização à Marinha Inglesa para abordar navios suspeitos em pleno mar e na criação de tribunais mistos no Rio de
Janeiro e em Serra Leoa, para julgar embarcações presas sob a suspeita de praticarem o tráfico em regiões proibidas.
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GRÁFICO 2
Solicitações de passaporte ao Pará
1808-1821
Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino. Projeto Resgate Barão do Rio Branco. Pará. Solicitações de passaporte.
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6 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10791 – Requerimento de Bárbara Benedita de Tavares Ferreira
Osório, para o príncipe regente [D. João], solicitando a concessão de passaporte com destino à cidade de Belém do Pará
e daí para Caiena, juntamente com suas filhas menores e dois criados, para ali se juntar a seu marido.
7 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10974 – Requerimento do negociante Cristóvão Luís de Azevedo
para o príncipe regente [D. João], solicitando a concessão de passaporte para regressar à cidade de Belém do Pará.
202 R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 193-210, jan./jun. 2010
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de Portugal. Porém, não pretendia aportar número de pessoas que deixaram Portugal
na cidade baiana ou no Rio de Janeiro, mas rumo à capitania paraense. Não seria ab-
sim na capital paraense. Não atravessaria surdo imaginar a possibilidade de muitos
o oceano seguido por centenas de famílias navios partirem de Lisboa e do Porto sem a
nobres, mas tentava embarcar com seus permissão das autoridades (principalmente
dois supostos filhos, um criado, “duas cria- considerando-se os anos de guerra e de
das pretas” e a esposa, dando início a uma ocupação de parte do território lusitano),
travessia pouco mais discreta. Justificava trazendo passageiros não declarados e sem
seu pedido de deslocamento pelo fato de “passaporte”.8
ter morada em Belém e lá exercer o ofício de Joaquim Godinho pediu apenas um
cirurgião. O intrigante do seu pleito era a pre- “passaporte”, mas este não se resumia à sua
sença dos filhos. O “passaporte” solicitado, partida; compreendia também criadagem,
em 23 de janeiro de 1808, trazia uma anota- supostos filhos e esposa. No geral, embora
ção lateral informando que Godinho partiria tenham sido solicitadas 236 autorizações de
com a esposa, Gertrudes Justina, dois filhos, viagem, o número dos envolvidos era su-
um criado e “duas criadas pretas”. Mas, perior pela presença de “agregados”. Além
estranhamente, durante a reiteração da dos 236 solicitantes, foram identificados 40
solicitação do “passaporte”, uma semana “agregados”, ou quase 17% de pessoas
depois, Godinho textualmente afirmou: “não acrescidas ao total de pedidos. A soma
tem o Suplicante filhos e nem esperança de dos solicitantes de “passaportes” e dos
tê-los, pella sua avançada idade por tanto “agregados” apresenta uma média de 21
não pode ser útil a esse país [Portugal]”. pessoas/ano tentando viajar rumo ao Pará.
Parece que o fato de ter ou poder ter Esse número talvez não seja expressivo,
filhos dificultaria a permissão de viagem; a principalmente quando comparado com o
ausência da prole era apresentada como provável contingente que acompanhou D.
ponto favorável para seu deslocamento até João ao Brasil, mas instiga a problematizar,
o Pará. Mas, mesmo assim, não se pode considerando o período joanino, as alte-
esquecer a anotação na lateral da página rações populacionais na Amazônia – pelo
do primeiro pedido de “passaporte”, bem menos quanto ao quadro migratório.
como o fato de Godinho fazer referência Essa tentativa de ponderar sobre os li-
à sua família nos dois documentos: seria mites das possíveis alterações na população
apenas a esposa? Envolveria os criados? da Amazônia ganha reforço quando se con-
Os filhos seriam frutos de outra relação da sidera o perfil dessas migrações. Joaquim
esposa? Perguntas que hoje temos poucas Godinho pediu autorização de viagem, uma
condições de responder. ação que era predominantemente masculi-
Mesmo considerando limites documen- na: do total de solicitações de embarque
tais, é possível estabelecer um diálogo entre para o Pará, aproximadamente 74% foram
casos particulares e tendências mais gerais, feitas por homens. Nesse sentido, pode-se
num esforço de compreensão do significa- pontuar a maior possibilidade de mobilidade
do da autorização de viagem pleiteada por masculina. Sim! Mas, não esqueçamos que
Joaquim Godinho e sua família (incluindo Joaquim viajaria acompanhado, incluindo a
os supostos filhos). O primeiro ponto é a esposa. Então, pedidos feitos por homens
quantidade. Em todo período joanino, foram não estariam mascarando o deslocamento
solicitados 236 pedidos de viagem para o de mulheres, como no caso citado?
Pará (considerando a documentação do Entre as solicitações masculinas que
Arquivo Ultramarino de Portugal); entretan- declararam “agregados”, apenas oito pe-
to, isso não significa dizer que esse foi o didos não englobavam cônjuges. Outros
8 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc.10735 – Requerimento de Joaquim Alves Godinho, para o
príncipe regente [D. João], solicitando a confirmação da concessão de passaporte com destino ao Pará; e doc. 10737
– Requerimento de Joaquim Alves Godinho, para o príncipe regente [D. João], solicitando licença de transporte para a
cidade de Belém do Pará.
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24 casos envolviam homens com suas res- percentual de 20%, com destaque para a
pectivas esposas. Ou seja, de 175 homens presença de capelães de navio (11%).
que solicitaram licença para viajar ao Pará, Somando os números de “retornos”
18% viajaram acompanhados. Mas, quando com os dos “navegadores”, tem-se uma
comparado ao quadro geral de pedidos perspectiva que minimiza o impacto da pre-
masculinos, o caso de Joaquim Godinho sença da Coroa no processo de migração
se enquadrava no rol seleto de homens que para Amazônia. Considerando a população
partiram de Portugal com cônjuges. masculina, 40% dos deslocamentos esta-
A justificativa para o pedido feito por vam associados ao “retorno” ou às funções
Joaquim traz outras informações. Sua de navegação. A esse número somam-se
solicitação, mesmo que se valesse de um 10% de homens que foram degredados –
jogo retórico para fugir de Lisboa, vinculava (27% não identificaram o motivo). Tem-se
sua partida ao fato de retornar para casa. um quadro em que não ganham destaque
Joaquim explicitou para as autoridades as empreitadas masculinas empenhadas
que havia residido em Belém por mais de em garantir pela primeira vez residência na
16 anos, onde tinha “casa de morada”. Em Amazônia joanina.
Lisboa, ainda segundo o próprio Godinho, Nem mesmos os homens que viajavam
ele e sua família encontravam-se “na maior acompanhados de suas esposas, excetu-
desgraça pelos fundos do seu giro se ando os “retornados”, poderiam indicar um
acharem no Pará”, onde exercia a função empenho de se estabelecer num período
de cirurgião, o que significava dizer que ele mais duradouro no Pará. Dos 24 maridos
estava “partindo” de Lisboa motivado por que durante o período joanino partiram
suas precárias condições de subsistência. de Portugal com suas esposas, 12 (50%)
E mais, que o Pará era local de sua residên- tinham uma razão compulsória comum: o
cia onde não apenas tinha propriedades e degredo.
exercia um ofício, mas também possuía uma Este era o caso de José Antonio Martins,
base domiciliar. Joaquim Godinho estava comerciante natural de Setúbal. Em novem-
“retornando” para sua morada em Belém bro de 1818, encontrava-se preso na Ribeira
do Pará.9 das Naus. Deveria embarcar o mais breve
Considerando os motivos explicitados possível para Belém, onde cumpriria sua
nos pedidos de “passaporte” formalizados pena de degredo por cinco anos. Escrevera
por homens, 20% (35) apontavam o “retor- uma solicitação a D. João VI destacando
no” como justificativa da viagem. Ou seja, que havia sido condenado injustamente,
eram homens que alegavam já ter residência fruto de acusações falsas de seus inimigos
no Pará. Ainda levando-se em conta as so- e, principalmente, pelo mal cumprimento
licitações masculinas, somente 0,1% (três) da legislação, pois no seu processo não
declarou o empenho de se estabelecer pela houve exame de corpo e delito e nem
primeira vez em território paraense. pronúncia para sua prisão. E mais, deixava
Tão significativo quanto o número nas entrelinhas uma reclamação sobre a
de retornos, como no caso de Joaquim partida do soberano, enfatizando que uma
Gondinho, era o percentual de pedidos autoridade local, D. Miguel Pereira Forjaz,
associados diretamente à navegação. Eram fazia as “vezes” do rei: “Vossa Excelência é
homens que apenas exerciam funções em que faz as vezes e quem enxuga as lágrimas
embarcações que pretendiam aportar no da saudade do nosso amantíssimo (sic)
Pará. Esses casos também figuravam no soberano auzente”. Entretanto, o objetivo
9 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc.10735 – Requerimento de Joaquim Alves Godinho, para o
príncipe regente [D. João], solicitando a confirmação da concessão de passaporte com destino ao Pará; e doc. 10737
– Requerimento de Joaquim Alves Godinho, para o príncipe regente [D. João], solicitando licença de transporte para a
cidade de Belém do Pará.
204 R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 193-210, jan./jun. 2010
Vieira Jr., A.O. e Barroso, D.S. Histórias de “movimentos”
10 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 11439 – Requerimento de José António Martins, negociante da
vila de Setúbal, para o rei [D. João VI], solicitando licença para que a esposa, Felícia Rosa, o acompanhe na viagem de
degredo para o Pará, a que fora condenado.
11 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 11059 – Requerimento de Teresa de Jesus para o príncipe regente
[D. João], solicitando o seu regresso ao Reino e afastamento de seu marido, Manuel Francisco, condenado ao degredo
no Pará, e a quem acompanhou na viagem, devido aos maus tratos por este praticados contra a pessoa da suplicante.
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Vieira Jr., A.O. e Barroso, D.S. Histórias de “movimentos”
Maria Joaquina, seus dois filhos e sua mãe pelo desarranjo em que fica meu giro” (sic).
terem embarcado na mesma viagem que O negócio estabelecido por ele no Pará ne-
levara Maria Luiza e sua recém-nascida filha cessitava da sua presença contínua, o que
ao Pará.12 na carta aparece como justificativa para a
Duas famílias que deixavam Portugal e permanência no Brasil.
rumavam para Belém. Essas duas mulhe- A carta continha claras instruções para
res não apenas compartilharam a mesma Rosário, como ela deveria proceder ao che-
viagem, mas também declararam o mesmo gar em Belém. Primeiro, ela deveria buscar
motivo: ficarem juntas dos respectivos ma- a casa dos irmãos Feliciano e Domingos
ridos e residirem com as famílias no Pará – Colares, pois eles providenciariam a ida de
onde os cônjuges haviam se estabelecido. Rosário e de seu filho até onde seu marido
O “Navio Comerciante” foi palco, naquele estava no Pará. Ao compadre que morava
mês de abril de 1809, do encontro entre em Portugal escrevia também, pedindo que
“Marias”. “Marias” que deixavam Lisboa e este auxiliasse Rosário a suprir qualquer
rumavam para Belém, “Marias” que bus- eventual necessidade de vestuário. A parti-
cavam o amparo do marido, “Marias” que da de Rosário deveria ser rápida, Zeferino
levavam seus filhos rumo a uma distante e esperava reunir-se com a família no Natal.
mal conhecida região do outrora poderoso Para tanto, pedia que a mulher embarcas-
Império lusitano e que agora se deparava se logo no primeiro navio e que, se não o
com a ameaça das empreitadas napoleô- fizesse, lhe avisasse em qual embarcaria. Ele
nicas. No convés do Comerciante, histórias teve que esperar, pois, apesar de remeter a
parecidas se encontrariam. carta em agosto de 1809, somente em 15
O caso de Maria do Rosário também de janeiro de 1810 o processo começou a
é instigante, devido às instruções que caminhar: passou mais um Natal longe da
acompanhavam a “carta de chamada”, esposa e do filho.13
escrita por Zeferino Xavier, seu marido, que Orientava que a esposa vendesse os
havia partido para a capital paraense antes “trastes” que tinha em casa. Embora tivesse
mesmo da ocupação francesa e, em 1805, dúvida sobre a possibilidade da existência
já morava na cidade. Após cinco anos dis- de tais “trastes”, explicitada numa lacônica
tante da família, ele achava que chegara o frase: “se he que ainda tem algum”. Essa
momento de chamar a esposa e o filho. Por dúvida pode sugerir uma instabilidade
isso, Rosário, a esposa, em 1810, solicitara econômica na vida de Rosário, explicada
o direito de viajar para Belém acompanhada parcialmente pela situação de Portugal
de um filho com seis anos de idade. A carta após a partida da Corte, pois houve um
do marido fora escrita em agosto de 1809, expressivo deslocamento de parte de sua
no Pará; chegara às mãos de Rosário por base econômica para o Brasil, incluindo a
meio de um comerciante que vinha de Be- intensidade do comércio e a circulação de
lém e logo nas primeiras linhas orientava a capital. Nesse quadro, Rosário tinha que
esposa para se por “em prática seu avizo”. sustentar a si e a um filho, e sem ajuda dos
Zeferino explicitava sua vontade de pais que já eram falecidos. A venda dos
buscar pessoalmente Rosário e seu filho: “trastes” serviria como meio de sustento. No
“Eu queria antes ir em lugar da carta (...)”. entanto, na mesma carta, o marido orientava
Mas, logo justificada a sua impossibilidade: Rosário a não se desfazer da cama, que
“porem este gosto não me é possível tello deveria acompanhá-la até o Pará – era um
12 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10762 – Requerimento de Maria Joaquina dos Santos, para
o príncipe regente [D. João], solicitando a concessão de passaporte com destino à cidade de Belém do Pará, indo ao
encontro de seu marido, Manuel Carlos dos Santos.
13 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10802 – Requerimento de Maria do Rosário, para o príncipe
regente [D. João], solicitando a concessão de passaporte com destino à cidade de Belém do Pará, acompanhada de
seu filho, Tomé José Xavier, indo ao encontro de seu marido Zeferino José Xavier.
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“traste” especial, que merecia ser mantido retornar para suas moradas no Pará (20%)
no patrimônio familiar, o que se justifica ou acompanhar as embarcações onde exer-
pela limitada possibilidade de aquisição de ciam ofício (20%). No caso das mulheres,
mobília no Brasil e seu elevado custo. o destaque era dado para seus empenhos
Após todas as orientações, o marido em seguir o marido. Somente 5% (3) das
reforçava o desejo de se reunir com a es- mulheres alegaram buscar em Belém do
posa: “o mais que me resta fica para a vista, Pará por iniciativa própria, embora ampara-
que só com ella serei feliz”. Encerra a carta da por outros parentes, uma alternativa de
mandando lembranças a muitos conheci- sobrevivência que não estava relacionada
dos e parentes que residiam em Portugal, diretamente a uma determinação masculina.
e assinava a carta como: “Seu fiel esposo, Este é o caso da ex-escrava Joaquina
Zeferino José Xavier”. Maria, nascida em Angola, com 25 anos de
A “carta de chamada” é instigante por idade e que residia em Lisboa. Em 26 de
apresentar problemas corriqueiros que en- maio de 1809, solicitou passaporte para
volviam o deslocamento para a Amazônia. retornar ao Pará, junto a uma filha chamada
O cuidado com os bens que ficavam em Lis- Paula Francisca, de pouco mais de quatro
boa, a debilidade material no Pará, a rede de anos. Paula era natural do Pará, ou seja,
sociabilidade criada em Belém e que deveria sua mãe estava há pouco tempo morando
amparar a chegada da esposa, a entrada de em Lisboa. Foi para a capital portuguesa
Zeferino em regiões distantes de Belém, o acompanhando seu senhor, José Monteiro
desejo de reencontrar a família, os amigos de Carvalho, e por morte deste ganhou a
e parentes que continuavam em Portugal... alforria. Forra e em Lisboa, Joaquina pre-
Todos esses elementos integravam uma cisava garantir a vida naqueles tempos de
espécie de “cotidiano da separação” de incertezas, tempos de súditos sem sobera-
um casal que, dos sete anos de possível no. A forra declarou que sua ida para Belém
vida marital, tiveram durante cinco anos o se justificava por não ter condições de se
Atlântico como fronteira. sustentar na capital portuguesa e por contar
Mas, no geral, quais seriam os motivos no Pará com o apoio de parentes. O paquete
alegados por mulheres para deixarem Por- Santo Antonio do Pará foi autorizado a levar
tugal em busca da Amazônia? Dos 61 casos a ex-escrava e a filha.14
que envolviam mulheres, 42% (26) estavam O outro caso foi de Dona Ana Raimun-
justificados pelo empenho da esposa em da Góes Freire, viúva do desembargador
acompanhar o marido. Seja um marido que Manuel Freire. Em abril de 1817, Dona Ana
foi degredado, seja, principalmente, um solicitou o direito de partir de Lisboa, onde
esposo que buscava morar no Pará. Como morava, para a cidade de Belém. O pedido
no caso de Zeferino que chamava Rosário se estendia a três filhos menores, um com
para fazer residência em Belém. Em outros 11 anos, outro com cinco anos e o mais
casos, as mulheres alegavam acompanhar novo com três meses de idade; também foi
parentes masculinos, como filhos (8%), solicitado o “passaporte” para sua criada
irmãos (6,5%), genro ou pai (3%). Ou seja, Maria Gertrudes, uma portuguesa com 20
61,5% das partidas das mulheres eram anos de idade. Dona Ana era viúva e, pela
justificadas pelo fato de acompanharem a idade da filha mais nova, presume-se que
iniciativa de parentes masculinos. recentemente perdera o marido. Mas o
Assim, marca-se uma diferença sig- que levaria a viúva de um alto funcionário,
nificativa entre os motivos alegados por com seus três filhos e uma criada, partir de
homens e por mulheres para alcançarem a Lisboa para Belém naquele ano de 1817?
Amazônia. Os homens, no geral, declaravam A explicação talvez resida no fato de Dona
14 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10766 – Requerimento de Joaquina Maria, para o príncipe regente
[D. João], solicitando a concessão de passaporte com destino à cidade de Belém do Pará.
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Ana ter nascido em Belém do Pará, onde Os casos citados possibilitam pensar
provavelmente tinha uma base familiar que que as viagens de mulheres ao Pará não
lhe garantiria a subsistência sua e de seus se limitavam a um único estamento social,
filhos.15 envolvendo senhoras casadas acompanha-
Cita-se, ainda, o caso de Vitória Maria das de seus filhos, viúvas com seus netos,
Teresa, viúva e natural do Pará. Fora para bem como uma ex-escrava e sua filha. A
Lisboa acompanhando o filho que era cirur- cidade de Belém, em anos joaninos, emergia
gião numa nau real. Após o falecimento do como possibilidade de residência e ampa-
filho na capital portuguesa, Vitória solicitou, ro – mesmo para poucos –, principalmente
em 1810, autorização para voltar a Belém considerando o estabelecimento de maridos
com a filha e o neto de seis anos. Alegava e outros parentes que serviam como base
que estava passando “grandes mizerias e de auxílio. No rastro da família real, outras
necessidades pela falta de abrigo e amparo famílias buscaram no Brasil sobrevivência,
do dito seu filho sem terem por quem as residência e tentaram reconstruir suas vidas,
sustentem”. Vitória formava um intrigante embora, na realidade específica do Pará,
grupo familiar em Lisboa, pois a paraense esse número não seja significativo.
viúva morava com a filha (sem referência ao Mas nem todos vinham à Amazônia por
genro), com o neto e com o filho que era o vontade própria. Alguns eram obrigados,
provedor da residência. Continuando seu pagando punições judiciais com o degredo.
relato, empenhada em transmitir a gravidade Em 27 de novembro de 1811, era remetida
de sua situação, Vitória Maria dizia que no pelo comandante do presídio de Trafaria
Pará tinha dois filhos, que serviriam como uma lista de condenados que deveriam ser
base de apoio para que ela, a filha e o neto embarcados para o Pará, na já referida em-
retornassem para Belém.16 barcação “Prazeres e Alegria”, que fazia linha
Considerando o caso da ex-escrava, regular entre Belém e Portugal, transportando
da viúva do desembargador e de Vitória, passageiros, pólvora, madeira, sal, fio de
encontramos os três únicos processos vela, pedra calcária... e, naquele novembro
de “passaporte” solicitados por mulheres de 1811, a “carga” incluía 13 presos.17
que destacavam como motivo da viagem Entre os presos apenas um era homem,
a vontade de estabelecer vida em Belém. os demais eram mulheres. A culpa mais co-
Não atrelando suas viagens diretamente a mum entre as condenadas era o furto (10),
parentes masculinos específicos, como a outra era acusada de infanticídio, uma viúva
maioria dos casos, tais mulheres buscavam acusada de participar da morte do marido
retornar à terra de suas famílias. Embora es- e o único homem arrolado fora acusado de
tivessem separadas por estamentos sociais “aviso falso”. Mulheres livres, outras conde-
tão distantes, a ex-escrava Joaquina Maria, nadas, esposas de altos funcionários reais,
Dona Ana e Vitória tinham como marco do cônjuges de comerciantes, ex-escravas,
deslocamento inicial o falecimento de seus prisioneiras... compunham um cenário com
“provedores” em Lisboa; seja o senhor, o muitas possibilidades daqueles que partiam
marido proprietário ou o filho. de Portugal e buscavam o Pará.
15 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 11156 – Requerimento de Ana Raimunda de Góis Freire,
viúva do desembargador Manuel Joaquim Ribeiro Freire, para o príncipe regente [D. João], solicitando a concessão de
passaporte para viajar com destino ao Pará, levando seus três filhos menores, Inês Amália dos Santos, Cipriano Ribeiro
Freire e Maria Honorata.
16 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10820 – Requerimento de Vitória Maria Teresa, viúva de José
de Lima Álvares e natural da cidade do Pará, para o príncipe regente [D. João], solicitando a concessão de passaporte
com destino à cidade de Belém do Pará.
17 Projeto Resgate, Pará, Arq. Histórico Ultramarino, doc. 10915 – Ofício do comandante do presídio de Trafaria, António
Elesbão Xavier de Almeida, para o [secretário de estado da Marinha e Ultramar, conde das Galveias, D. João de Almeida
de Melo e Castro], sobre os indivíduos embarcados no navio “Prazeres e Alegria”, com destino ao Pará, onde vão cumprir
as penas de degredo a que foram condenados.
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Resumen
Abstract
In order to better organize the understanding of the effects of the presence of the Portuguese
Royal Family in Brazil beyond Rio de Janeiro, this article discusses the period of the Brazilian
reign of King John VI (1808-1821), in the Amazon region. The focus of the analysis is the in-
and-out of Portuguese vessels and the migratory processes between Portugal and the then
Province of Pará.
Keywords: 19th-century Amazon. Migratory movements. Population in Pará.
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