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Quem compreende esse cerne interior da lenda de Prometeu
- quer dizer, a necessidade de sacrilégio imposta ao
indivíduo que aspira ao titânico - deverá também sentir ao
mesmo tempo o não-apolíneo dessa concepção pessimista;
pois Apolo quer conduzir os seres singulares à tranqüilidade
precisamente traçando linhas fronteiriças entre eles e lembrando
sempre de novo, com suas exigências de autoconhecimento
e comedimento, que tais linhas são as leis mais sagradas
do mundo. Mas, para que a forma, nessa tendência
apolínea, não se congelasse em rigidez e frieza egípcias, para
que no esforço de prescrever às ondas singulares o seu curso
e o seu âmbito não fosse extinto o movimento do lago
inteiro, de tempo em tempo a maré alta do dionisíaco torna
a desfazer todos aqueles pequenos círculos em que a "vontade"
unilateralmente apolínea procura constranger a helenidade.
Essa repentina maré montante do dionisíaco toma
então sobre o seu dorso as pequenas vagas dos indivíduos,
assim como o irmão de Prometeu, o titã Atlas, tomou sobre
o seu dorso a Terra. Esse afã titânico de ser como que o Atlas
de todos os indivíduos e carregá-los com a larga espádua cada
vez mais alto e cada vez mais longe, é o que há de comum
entre o prometéico e o dionisíaco. O Prometeu esquiliano
é, nessa consideração, uma máscara dionisíaca, ao passo
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O NASCIMENTO DATRAG ÉDIA