Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O texto busca analisar como as mulheres camponesas se organizam na produção agrícola,
na política e na vida em comunidade. Por mulheres do campo entende-se não apenas as
trabalhadoras rurais, mas as mulheres quilombolas, faxinalenses e indígenas. O espaço geopolítico
da análise está limitado às comunidades rurais, reservas indígenas e assentamentos de reforma
agrária do Território da Cidadania Cantuquiriguaçu - Paraná. Os objetivos da análise são: identificar
as formas de organização comunitária e da produção rural e verificar como se estabelecem as
relações de gênero nos espaços políticos comunitários. Os depoimentos de mulheres sobre suas
experiências no mundo da produção e na vida comunitária são analisados com base nos debates
feministas da igualdade e do reconhecimento político das diferenças de gênero, e com base na teoria
dos movimentos sociais. Este texto possibilita lançar um olhar que intersecciona gênero, raça, etnia,
classe e sexo no campo dos estudos feministas sobre as mulheres rurais/camponesas no Brasil.
1
Doutora em Sociologia Política. Professora da Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Campus Laranjeiras
do Sul – PR, Brasil.
2
UFFS surge da demanda dos movimentos sociais por educação superior, pesquisa e extensão ligada à ideia do
desenvolvimento regional sustentável. A Universidade Federal da Fronteira Sul tem quatro anos de existência e sobre
ela recaem as mais variadas expectativas, apostas e desafios. Nascida da organização dos movimentos sociais e das
lideranças políticas e comunitárias da Mesorregião da Grande Fronteira do MERCOSUL e seu entorno, a UFFS é a
mais viva e recente expressão da capacidade de mobilização dos atores sociais que, há décadas, lutam em defesa dos
ideários mais importantes da emancipação social, como democracia, igualdade, respeito à diversidade, cidadania, direito
à educação pública, gratuita e de qualidade, sustentabilidade e justiça social. Sua origem se dá no âmago da sociedade
civil organizada. Ela nasce de “fora para dentro”; surge dos movimentos sociais e, na sequência, legitima-se como
instituição pública estatal por meio da Lei Federal 12.029/2009. (2010:12)
3
As informações sobre o Território da Cantu teve como fonte principal o Diagnostico Socioeconômico do Território da
Cantuquiriguaçu, documento elaborado pelo IPARDES.
4
Campo Bonito, Candói, Cantagalo, Catanduvas, Diamante do Sul, Espigão Alto do Iguaçu, Foz do Jordão, Goioxim,
Guaraniaçu, Ibema, Laranjeiras do Sul, Marquinhos, Nova Laranjeiras, Pinhão, Porto Barreiro, Quedas do Iguaçu,
Reserva do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Três Barras do Paraná e Virmond.
social. Características essas que refletem áreas ou regiões estagnadas economicamente e deprimidas
socialmente. (IPARD5, 2007)
Conhecer o processo histórico de ocupação e formação humana, cultural, política e
econômico desta região, é essencial para compreender atual organização social. Os protagonistas
sociais deste processo foram às populações indígenas (guarani e kaingáng), os migrantes
portugueses, (interessados na captura de indígenas e na colonização do interior do estado), os
espanhóis com suas missões jesuítas, e no século XX, a migração nacional e internacional de
italianos, alemães, eslavos, catarinenses e gaúchos em busca de novas terras férteis. A história
regional foi construída em meio a muitos conflitos de ordem cultural e também por conflitos físicos
violentos, tendo como principal desencadeador a questão da posse da terra. (IPARDES, 2007).
A economia do período de colonização e expansão das fronteiras paranaenses esteve
atrelada a produção agrícola de subsistência, ao cultivo da erva mate, criação de gado e mulas para
o tropeirismo, a criação de suínos e a exploração madeireira, tendo como base o trabalho escravo e
familiar.
As atividades econômicas e produtivas além das características acima tinham como outro
dado relevante, as grandes propriedades de terra. Dentro deste cenário, constituíram os elementos
fundamentais para a formação de uma sociedade patriarcal, com lutas de classes sociais, conflitos
étnicos constantes, e problemáticas com as relações de gênero, principalmente no que tange a
questão do trabalho das mulheres e geração de renda, dentro dos assentamentos e nas pequenas
propriedades de agricultura familiar, ou em outros espaços de trabalho ligados aos ambientes rurais.
O processo histórico de ocupação do território no Centro-Oeste e Sudoeste do Paraná definiu
para a região, uma distribuição fundiária com predominância de pequenas propriedades de
exploração unifamiliar. Tal característica foi intensificada na região, onde foi implantado pelo
INCRA, e pela capacidade organizativa dos movimentos sociais o assentamento de mais de 5 mil
famílias de trabalhadores rurais sem terra. A região é tipicamente agrícola, caracterizada por
pequenas propriedades e culturas de subsistência, que encontram na agricultura familiar uma base
estruturadora e dinamizadora do processo de desenvolvimento associado à valorização e proposição
de novas alternativas para a atual matriz produtiva.
A criação de novos municípios, ou áreas urbanas, não retirou o caráter de ser uma região
onde grande parte de seus habitantes, são residentes das áreas rurais, apesar de vir acompanhando a
tendência brasileira de fluxo migratório do campo para a cidade. Da população total do território de
5
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES.
233.643 habitantes, 47,54% vivem em áreas rurais, com 21.184 agricultores familiares, 4.264
famílias assentadas, 03 comunidades quilombolas e 02 reservas indígenas6. O diagnóstico
paranaense mostra que a população de homens no campo é maior que a feminina, afirmando que há
uma masculinização das áreas rurais.
O caso do município do Rio Bonito do Iguaçu, chama atenção, devido às altas taxas de
crescimento populacional, principalmente na zona rural. A presença de acampamentos e
assentamentos rurais originários da reforma agrária em alguns municípios pertencentes ao Território
da Cantu data a partir dos anos de 1990, onde o INCRA criou 40 assentamentos rurais (IPARDES,
2007. p. 121).
Essas formas de ocupação do território estão ligadas aos movimentos sociais, entre eles o
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, na sua maioria. O expressivo número de
movimentos sociais é uma realidade que trás particularidades para o território da Cantu. Além do
MST, outros movimentos sociais, têm presença ativa no território, entre eles, o Movimento das
Mulheres Camponesas - MMC, o Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, o Movimento dos
Atingidos por Barragens – MAB, o Movimento das Comunidades Quilombolas, formam a Via
Campesina, que se constitui numa rede de movimentos sociais que lutam pelo direito à terra.
O Território Cantuquiriguaçu detém o segundo lugar do IDH mais baixo do Paraná. Está em
condições de vulnerabilidade socioeconômica, com baixos de índices de desenvolvimento humano e
situação de exclusão social crescente. A pobreza predominante nos municípios do Território atinge
principalmente as famílias camponesas e de maneira desigual homens e mulheres. Observa-se na
região uma concentração de terra e renda proveniente do agronegócio.
Para amenizar o baixo desenvolvimento socioeconômico, a região integra projetos de
intervenção de políticas públicas para reverter a situação na esfera estadual. Além deste, o Território
da Cantu também integra o programa federal “Territórios da Cidadania”, que tem o objetivo de
gerar desenvolvimento e difundir programas sociais, numa parceria com os governos municipais e
estaduais.
Este artigo busca contemplar as temáticas dos estudos das relações de gênero, mulheres e
feminismos em suas interseccionalidades com as temáticas da ruralidade, da reforma agrária, da
6
Dados populacionais consultados no site do Território da Cidadania (http:// www.territoriosdacidadania.gov.br).
agricultura familiar, das situações das mulheres do campo, nas áreas prioritárias de políticas
públicas, como por exemplo, nos territórios da cidadania, no caso, a Região da Cantuquiriguaçu-PR.
Entende-se pela noção de mulher do campo todas as diferentes experiências socioculturais e
de gênero que definem as mulheres como agricultoras, indígenas, trabalhadoras rurais, quilombolas.
Como já é de conhecimento, no Brasil, “as reflexões sobre mulheres e gênero em contextos rurais
alcançaram uma maior visibilidade a partir da década de 1980” (PINTO, 1994, 198). Conforme
Rosineide Cordeiro e Russel Perry Scott (2007),
podemos citar três vertentes que contribuíram para o delineamento dessa área: a produção
das pesquisadoras feministas sobre o trabalho feminino e, particularmente, sobre o trabalho
das mulheres na área rural; o discurso das mulheres trabalhadoras rurais organizadas em
grupos e movimentos; as pesquisas etnográficas sobre campesinato, rebeirinhos(as),
populações indígenas, etc. (CORDEIRO e SCOTT, 2007, 240)
A força de trabalho das mulheres camponesas na lavoura é tal qual a dos homens, porém o
trabalho doméstico não tem o mesmo peso. No capitalismo o trabalho na lavoura é considerado
economicamente produtivo, mesmo que muito de seu trabalho doméstico traga benefícios
econômicos, este não é valorizado.
As mulheres, ainda, responsabilizam-se praticamente sozinhas pelo trabalho doméstico, no
qual com frequência são auxiliadas ou substituídas pelas filhas, quando têm outra atividade.
Nessa esfera as mulheres têm autonomia e poder, tomando decisões relativas ao preparo
dos alimentos, cuidado da casa e da roupa, orientação e educação dos filhos, assim como a
uso de recursos destinados ao consumo doméstico. Elas também tomam decisões referentes
a vendas eventuais de bens por elas produzidos, tais como ovos, queijo, nata e outros, sendo
também responsáveis pelo uso do recurso assim obtidos. No entanto não se deve
superestimar a importância de sua autonomia e poder nesse domínio, tendo em vista, por
um lado, que as vendas feitas por elas geralmente são eventuais e de pequeno valor e, por
outro, que as atividades domésticas são consideradas secundárias, pelos próprios membros
da família, em relação às atividades produtivas. Não é de surpreender, por isso, que
mulheres, apesar da dureza do trabalho agrícola e de seu papel subalterno no mesmo,
prefiram exercer essa atividade ao trabalho doméstico, usando justificativas tais como: “o
trabalho doméstico é todo dia a mesma coisa, a gente limpa e logo em seguida a gente tem
que limpar de novo”; “o trabalho na roça a gente vê”. (BRUMER, 2004, 211-212)
O exemplo dos ticunas reforça a ideia do simbolismo na cultura indígena que orienta a
divisão sexual dos papéis de homens e mulheres. Nas terras indígenas do Paraná, entre os povos
kaingáng e guarani os papéis sexuais estão bem definidos, principalmente no que cabe à mulher em
relação à educação dos filhos.
Quando se fala em educação, é importante separar a educação indígena da educação
escolar indígena. A educação indígena é responsabilidade da família e da comunidade. A
mãe inicia o processo de aprendizagem do filho; é ela que dá ao filho as primeiras noções
de identidade e de pertencimento. Essa relação especial começa durante a amamentação,
quando a mãe fala as primeiras palavras kaingáng, que, aos poucos, se torna familiar aos
ouvidos do bebê até que este comece a falar a língua de seu grupo.
[...]. A formação da pessoa e da personalidade indígena, enfim, é responsabilidade da mãe.
Quando a mãe não cumpre com esse papel, é como se ela não tivesse dado conta de ser
mãe. Já o pai e toda a coletividade passam à criança as noções sobre os ritos, a organização
política e social de seu povo e o que pode e o que não pode na vida coletiva. (KAINGÁNG,
2012, 412)
Quanto ao poder político, entre no povo kaingáng, por ser “patrilinear (quem dá a
identidade ao filho é o pai)”, a liderança é masculina.
Assim, entre nós, a liderança política tradicional, com raríssimas exceções, é sempre
exercida pelos homens nas aldeias. A autoridade máxima é uma figura masculina e não uma
mulher, embora as mulheres, desde sempre, enfrentem mais diretamente os problemas que
envolvem a saúde, a segurança alimentar e a responsabilidade pela educação dos filhos.
(KAINGÁNG, 2012, 411)
Em relação aos povos tupis “quem tem o poder, pelo menos historicamente, são as mulheres,
porque eles são matrilineares (quem dá a identidade ao filho é a mãe)” (Kaingáng, 2012, 411). Entre
os tupis, as mulheres têm assumido a liderança como cacique, a exemplo da aldeia guarani ou
também denominada de Comunidade do Pinhal, no município de Espigão Alto, Paraná.
Algumas experiências
Seguindo os argumentos de Paulilo, tanto o MST como o MPA na região têm um perfil
voltado mais às lutas de classe, mas com a Escola de Mulheres, oriunda desses movimentos,
percebe-se a tentativa de abrir espaços para a inclusão dos debates e discussões de gênero. Os
relatórios das atividades desenvolvidas pela Escola apontam para isto.
A dinâmica mobilizadora das mulheres do campo no Território da Cantuquiriguaçu iniciou
com ideia de aproveitar os encontros festivos realizados no dia 8 de março em celebração
ao Dia Internacional da Mulher - organizados pelas instituições municipais, e torná-lo um
dia de luta com caráter de formação, cujo objetivo é o de mobilizar as mulheres dos mais
variados espaços sociais em torno da construção de um projeto popular, que paute as reais
necessidades e tenha como bandeira de luta a permanente busca de igualdade e equidade de
condições entre homens e mulheres. Nesta lógica os encontros têm sido realizados desde
2006, o primeiro encontro aconteceu no município de Cantagalo com as discussões
voltadas para saúde da mulher. No ano seguinte o evento foi realizado no município de
Nova Laranjeiras. Em 2008 o encontro se desenvolveu no município de Goioxim, tendo
como tema “Água”. A quarta edição do evento se realizou no município de Porto Barreiro,
tendo como tema “Sementes”. O quinto encontro aconteceu no Município de Rio Bonito do
Iguaçu, na oportunidade foi discutindo o tema “Sementes”. No ano de 2011 o encontro
aconteceu no Município de Marquinho, este encontro teve como tema “Mulheres dizem não
ao agrotóxico e sim à vida”. O evento de 2012 foi sediado no Assentamento 8 de Junho em
Laranjeiras do Sul, com o tema “Organização produtiva”, seu viés foi destacar as atividades
coletivas e cooperativas visando o desenvolvimento local pelas famílias rurais e redução
dos índices de êxodo rural, diversificação das atividades produtivas para que se tornem auto
sustentáveis.
7
Proposta de extensão aprovada no PROEXT 2013, intitulada “Apoio à ações organizativas de integração
social e produtiva para mulheres do Território da Cidadania Cantuquiriguaçu”.
sofrida por adultas e crianças, que veio em tom de denúncia. Neste aspecto, a Escola de Mulheres
vem discutindo a questão da violência contra a mulher, tema do último curso realizado em
dezembro de 2012. A violência contra mulher indígena tem se colocado como um grande desafio
político, tanto para a Escola como para os projetos desenvolvidos pela Universidade nas terras
indígenas. Há muito que fazer.
Conclusões
Referências
BONI, Valdete. Poder e igualdade: as relações de gênero entre sindicalistas rurais de Chapecó,
Santa Catarina. Revista Estudos Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC, vol. 12, n.1, 2004, p.
289-302.
BRUMER, Anita. Gênero e agricultura: a situação da mulher na agricultura do Rio Grande do Sul.
Revista Estudos Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC, vol. 12, n.1, 2004, p. 205-227.
CONDETEC. Território da Cantuquiriguaçu - Paraná: diagnóstico socioeconômico, Curitiba,
2004. 90 p. Disponível em: <http://www.iapar.br/arquivos/File/zip_pdf/cantuquiriguacu.pdf.>.
Acesso em: set.2010.
CORDEIRO, Rosineide de L. M.; SCOTT, Russel Perry (Orgs.). Mulheres em áreas rurais nas
regiões Norte e Nordeste do Brasil. Revista Estudos Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC,
vol. 15, n.2, 2007, p. 419-423.
I CONFERÊNCIA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - COEPE: definindo agendas e
construindo rumos. Documento Base. Setembro, 2010.
IPARDES. Diagnóstico socioeconômico do Território Cantuquiriguaçu: 1.a fase: caracterização
global / Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 2007. 145 p.
Disponível em:<http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/territorio_cantuquiriguacu.pdf>. Acesso
em: set. 2010.
KAINGÁNG, Azelene. Depoimento de uma militante. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO,
Joana Maria (Orgs.). São Paulo: Contexto, 2012, p. 410-422.
LOOP, Carla. Relatório da Escola de Mulheres de La Via Campesina. Junho de 2012.
PAULILO, Maria Ignez. Trabalho familiar: uma categoria esquecida de análise. Revista Estudos
Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC, vol. 12, n.1, 2004, p. 229-252.
PAULILO, Maria Ignez; SILVA, Cristiani Bereta da. A luta das mulheres agricultoras: entrevista
com Dona Adélia Schmitz. Revista Estudos Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC, vol. 15,
n.2, 2007, p. 399-417.
PINTO, Céli Regina Jardim. (Participação?) Política da Mulher no Brasil: limites e perspectivas. In:
SAFFIOTI, Heleieth I. B.; MUÑOZ-VARGAS, Mônica. Mulher brasileira é assim. Rio de Janeiro:
Editora Rosa dos Tempos, 1994, p. 195-229.
SCOTT, Joan W. Igualdade versus diferença: os usos da teoria pós-estruturalista. Revista Debate
Feminista: cidadania e feminismo. México: Produtos Culturales; São Paulo: Melhoramentos, 2000.
TORRES, Iraildes Caldas. A visibilidade do trabalho das mulheres ticunas da Amazônia. Revista
Estudos Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC, vol. 15, n.2, 2007, p. 469-475.
Astract: The text aims to analyze how rural women organize themselves in farming production,
politic and community life. By rural women it means not only the rural workers, but women at
quilombola communites, faxinalenses and indigenous. The geopolitical space of the analysis is
limited to rural communities, indian reserves and agrarian reform settlements of the Territory of
Citizenship Cantuquiriguaçu - state of Paraná. The objectives of the analysis are to identify the
forms of community organization and rural production and see how they settle gender relations in
the community political spaces. Women testimonies about their experiences in the world of
production and community life are analyzed based on the feminist debates of equality and political
recognition of gender differences, and also on the social movements theory. This text provides a
glimpse that intersects gender, race, ethnicity, class and sex in the field of feminist studies on
rural/peasant women in Brazil.