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Tensão nas revoltas coloniais. Quem nunca ouviu falar na Conjuração Baiana, Guerra
dos Mascates e Inconfidência Mineira?
Parafraseando Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes, mas muitos desses
conflitos se deram em busca de secessão e mais liberdade.
Ainda que em 1889, com a proclamação da República (ou melhor, o golpe republicano),
o Brasil tivesse mudado seu regime político, na prática, o poder, assim como no
período monárquico, continuava nas mãos interesses dos grandes proprietários
agrários — sobretudo os cafeicultores, casta agrária mais poderosa da época que
dividiam influência entre São Paulo e Minas Gerais. O café era o principal produto
de exportação e fonte geradora de grande parte da riqueza. Durante a maior parte da
Primeira República (1889 – 1930), a oligarquia cafeicultora, principalmente a
paulista, controlou o estado e conduziu a política governamental de acordo com seus
interesses.
A prática ficou conhecido como “Política do Café com Leite”; uma alusão à economia
de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Com o
acordo, 6 paulistas e 3 mineiros foram eleitos — dos 11 presidentes eleitos no
Brasil até 1930.
O nome escolhido pelo Aliança, no entanto, não foi Antônio Carlos; e sim o gaúcho
Getúlio Vargas (e o paraibano João Pessoa para vice-presidente, já que as disputas
eleitorais eram separadas). Mesmo com a manobra, os mineiros, com seus aliados,
foram derrotados por Júlio Prestes.
Em São Paulo, no mesmo ano em que chegou ao poder, Getúlio nomeou o militar João
Alberto Lins de Barros. Além de não ser natural do estado, o que os paulistas
consideraram uma afronta, Lins de Barros não conseguiu, aos olhos locais, fazer uma
boa gestão.
Aborrecidos com o rumo que o país havia tomado, os paulistas queriam reconquistar o
comando político que haviam perdido com a Revolução de 1930. Para isso, pediam
maior autonomia para o estado, convocação de eleições e a promulgação de uma
Constituição. Se, atualmente, os paulistas, pedem menos centralismo, “mais Brasil e
menos Brasília”, naquela época a situação era um pouco diferente: “mais Brasil e
menos Rio de Janeiro”, já que a capital brasileira era o Rio — e por lá que Vargas
controlava, politicamente, o país.
O ocorrido marcou a vida dos milhares de paulistanos e fez com que o conflito, que
estava em apenas em protestos, contestações e reclamações, tomasse proporções
bélicas. A violência contra os estudantes acabou introduzindo no cenário político o
ingrediente que faltava: mártires. Além disso, aumentou o apoio da classe média
paulista à causa constitucionalista e contra o governo.
“Os constitucionalistas buscavam retomar seus direitos perdidos com o golpe dado
por Vargas. Foi a primeira resposta à Revolução varguista. Em 1930, ao centralizar
o poder em suas mãos e dissolver a Constituição de 1889, Getúlio retirou a
autonomia dos presidentes dos estados, atuais governadores. Os paulistas, contra
esse centralismo, reagiram e deram início ao conflito”, afirmou, Lilia.
A mobilização foi total. Nos poucos meses de conflito, São Paulo viveu um
verdadeiro esforço de guerra.
Para movimentar a economia, prejudicada pelo boicote federal e pelo bloqueio dos
Porto de Santos pela Marinha, o governo de São Paulo emitiu bônus e moedas do
Tesouro Estadual.
A desproporção de armamentos era enorme. São Paulo tinha sete pequenos aviões civis
adaptados para enfrentar 24 aparelhos militares do governo. Os conflitos
aconteceram principalmente na região do Vale do Paraíba, nas divisas dos estados de
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. As tropas paulistas tentaram resistir às
investidas das forças varguistas, com a capital paulista sendo atacada por aviões
governistas.
“São Paulo ficou de mãos atadas. Os paulistas esperavam que iriam lutar com a ajuda
de outros estados, mas terminaram ficando sozinhos. Com isso, a desproporção entre
o exército constitucionalista e o exército federal ficou gritante”, afirmou
Schwarcz.
“Foi uma má avaliação de forças por parte de São Paulo. Os paulistas estavam
planejando fazer um barulho muito grande, mas, que no final das contas, não
aconteceu. A Revolução Constitucionalista de 1932 ficou mais como um símbolo da
tentativa de independência política de São Paulo. O estado, ao observarmos a
história do Brasil, sempre buscou uma maior autonomia frente ao poder Federal. O
atual embate entre o governador paulista, João Doria, e o presidente brasileiro,
Jair Bolsonaro, por exemplo, é a continuação dessa histórica busca”, completou a
historiadora.
O conflito também fez com que o Congresso Nacional foi reaberto, os partidos
políticos voltaram a funcionar, e Getúlio Vargas foi eleito presidente da república
por meio de eleição indireta. Assim se encerrava o Governo Provisório e começava o
Governo Constitucional, no qual Vargas passou a governar o Brasil sob as diretrizes
constitucionais.
As mudanças não param por aí. Apesar de adversários em 1932, Vargas não se afastou
dos paulistas após o conflito. Como o estado era o mais desenvolvido
economicamente, o governo Federal manteve a política de valorização do café, o
principal produto econômico de São Paulo, em uma tentativa de amenizar o impacto
nas contas do estado no pós conflito. A manobra foi fundamental para a aproximação
de Vargas com seus antigos inimigos.
Cásper Líbero, voz firme da imprensa durante a guerra por meio de sua emissora,
Gazeta, fundou, anos depois, em 1947, a primeira escola de jornalismo da América
Latina, a Faculdade Cásper Líbero — que ainda está em funcionamento.