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Instituto superior de ciências e educação a distância (ISCED)

Departamento de ciências sociais e humanas.

Curso de licenciatura em direito.

3º Ano - 2021

Tema:

Os problemas da integração jurídicas na comunidade do desenvolvimento da africa


Austral.

Armando Gota

Quelimane 2021

1
Instituto superior de ciências e educação a distância (ISCED)

Departamento de ciências sociais e humanas.

Cadeira do direito da integração regional

Tema:

Os problemas da integração jurídicas na comunidade de desenvolvimento da africa


Austral.

O presente trabalho de campo da cadeira do direito de integração regional a ser apresentado


ao (ISCED) como requisito de avaliação para obtenção de grau de licenciatura em direito.

Discente: Tutor

Armando Samuel Gota

Quelimane 2021

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Índice.

Introdução……………………………………………………………………………………..…..4

A SADC…………………………………………………………………………………….….…5
Os objetivos da integração jurídica: a segurança jurídica e judiciária ………………..…....……..7
Aspetos Jurídicos, Institucionais, Administrativos e Organizativos…………………...…….……8
A SADC, é uma vasta organização de coordenação, de harmonização de políticas, de planos, de
programas, de estratégias e de projetos………………………………………..........................….9
SADC- Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral ………….….11
Os desafios da SADC no âmbito jurídico………………………………………………….…….12
Como perceber a integração na SADC no âmbito jurídico…………………………………...….14
A SADC uma organização de integração regional ainda por finalizar…………………...……...16

Conclusão …………………………………………………………………………………..……17

Referências bibliográfica…………………………………………………………….………......18

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 Introdução.

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) apresenta-se como uma das
mais desenvolvidas tentativas de integração do continente africano. Esta organização passou a
revestir-se, em 1992, de um caráter permanente, tornando-se produto de um esforço de
institucionalização que se tem vindo a materializar no estabelecimento de metas e estágios para
um ambicioso projeto de integração jurídica assim como económica.

Partindo de um prisma económico, a SADC reflete a difusão da riqueza mundial por novos
polos, bem como materializa uma nova conformação da geografia económica no seu âmbito
jurídico.

As suas instituições, frequentemente percecionadas como sendo regidas por uma lógica
intergovernamental, serão a unidade focal desta análise. Esta tem como principal objetivo a
verificação do seu impacto no processo de integração jurídica desta organização, particularmente
o estabelecimento de uma relação de causalidade entre a estrutura institucional e o atual estado
da vertente jurídica do processo integrativo.

Procura-se assim inferir se o quadro institucional da organização jurídica é capaz de gerar uma
dinâmica autónoma em prol da integração ou se sucumbe perante o voluntarismo estatal dos seus
membros a nível da região Austral no que concerne aos problemas da integração jurídica.

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Desenvolvimento.

Os problemas da integração jurídicas na comunidade de desenvolvimento da Africa


Austral.

 A SADC.
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, é a organização adscrita a esta área
geográfica, compreendendo atualmente 15 Estados Membros. Esta organização herda
diretamente o legado da SADCC, inaugurada em 1980, por iniciativa da organização informal
dos Frontline States Estados da Linha da Frente.
A questão da descolonização, nomeadamente a Guerra Rodésia-Zimbabwe, mas também as lutas
de libertação no então Império Colonial Português em África, fizeram emergir a comunidade de
Estados Frontline States (FLS). O seu advento deu-se no início dos anos setenta, quando a OUA
decidiu estabelecer um Comité de Libertação sediado na capital da Tanzânia (Dar es Salaam) que
tinha como objetivo a mobilização continental (dos Estados independentes fronteiriços com os
ainda colonizados) e mundial em prol da causa anticolonial e, especificamente, dos movimentos
independentistas ou antis segregacionistas em luta em Angola (MPLA), Moçambique
(FRELIMO), Zimbabwe (ZAPU e ZANU), Namíbia (SWAPO) e África do Sul (ANC e PAC)
(Murapa 2002, 157).
Com a independência de Angola, Moçambique e Zimbabwe e sua consequente entrada nos FLS,
a questão económica passou a ser priorizada. Julius Nyerere, o emblemático pan-africanista
presidente da Tanzânia, convocou para esse efeito uma reunião em Arusha, em 1979 (ibid).
Através da Declaração de Arusha, os FLS apostaram na criação de uma conferência que
capacitasse os Estados independentes e anticolonialistas da região, ajudando-os a reduzir a
dependência, conter e transformar a potência com mais resquícios de colonialismo da África
Austral – a África do Sul49 (M. Evans 1984, 2). Os Estados da «Linha da Frente» foram, neste
sentido, verdadeiramente singulares, por terem consubstanciado a aliança diplomática mais
fortemente dedicada a exercer uma decisiva pressão para a subversão do regime sul-africano,
ainda que não a um nível marcadamente securitário e militar (M. Evans 1984, 5). Em 1980, a
Declaração de Lusaca (em prol da libertação50 económica) estabelece a SADCC, reunindo nove
Estados independentes da região51 sob a égide da cooperação económica em prol do

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desenvolvimento dos países integrantes, abrindo caminho para a construção de uma estrutura
formal que orientasse a integração regional.

Integração
Quando se fala em integração se está falando na pretensão de formar um todo provindo de partes
anteriormente separadas. Vale ressaltar, que a formação deste todo integrado não deve ser
compreendida como um mero agrupamento, mas sim como um conjunto de partes amplamente
intercomunicadas, onde cada uma delas mantém suas características próprias.
Perante a intensificação dos fenómenos integrativos, nomeadamente a partir do pós-II Guerra
Mundial, as disciplinas de Ciência Política e Relações Internacionais tiveram que se adaptar a
esta realidade, desenvolvendo teorias que explicassem e elencassem as condições de
possibilidade em que se estabelece a integração. O funcionalismo, o neofuncionalismo e o
intergovernamentalismo destacam-se como sendo as suas principais correntes.

A integração jurídica
A Integração Jurídica refere-se ao preenchimento de lacunas mediante a aplicação de normas
individuais, atendendo ao espírito do sistema jurídico, ou por outras palavras é a convergência, a
harmonização ou a uniformização de Direitos Nacionais de vários países.
Não se pode pensar num processo de integração sem o Direito. A conclusão dum estudo
comparativo-avaliativo do Direito Comercial de oito Estados membros da SADC, (Botswana,
Malawi, Namíbia, África do Sul, Suazilândia, Tanzânia e Zimbabué) realizado em 1999, pelo
Conselho Consultivo para a Promoção da Pequena Empresa (a seguir designada pela sua sigla
inglesa SEPAC),conclui claramente que: “The creation of a more unified regulatory environment
is also an essential precursor to regional economic integration”. Do mesmo modo, as teorias
económicas da integração fundamentaram a convergência dos direitos nacionais.
Todavia, essas fundamentações não esgotam o conjunto das razões susceptíveis de abonar a
favor da integração jurídica. Fundamentos propriamente jurídicos constituem, também,
argumentos substanciais na escolha desta via. Nesta perspetiva, a integração jurídica implica
atingir fundamentalmente, os objetivos de segurança jurídica e judiciária; isto necessita do uso de
técnicas apropriadas para concretizar tais objetivos.

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 Os objetivos da integração jurídica: a segurança jurídica e judiciária
A integração implica uma estratégia global incluindo não só estratégias económicas, políticas e
normas éticas (nomeadamente, as que dizem respeito à luta contra a corrupção), mas também, a
modernização e adaptação do Direito Comercial, bem como a reabilitação da justiça e a
seguração dos justiçáveis. Por outras palavras, trata-se de implementar uma verdadeira
“estratégia jurídica e judiciária”. Nesta perspetiva, a segurança jurídica e a previsibilidade, são
apresentadas como valores essenciais, a fim de favorecer o crescimento das atividades
económicas e a promoção de investimentos.
O imperativo de segurança, surge também, ao nível da justiça. Com efeito, o melhoramento do
clima de investimento, é largamente dependente do bom andamento e desempenho da justiça,
isto é, “de uma justiça credível, equitativa, capaz de dizer o direito com competência e de
segurizar os justiçáveis”. Nesta óptica, a criação de uma jurisdição supranacional pode contribuir
para a promoção da segurança judiciária como é o caso, por exemplo, do sistema da Organisation
pour l’Harmonisation en Afrique du Droit des Affaires (OHADA).

As técnicas da integração jurídica


Três técnicas concorrem para a realização da integração jurídica:

 A harmonização das normas jurídicas;


 A uniformização das mesmas e a
 Técnica convencional.

Integração jurídica pela via de convenções internacionais


A integração jurídica pela via de convenções internacionais não deve ser negligenciada, mas ela
induz por natureza a alguns limites, nomeadamente, a de se sujeitar ao Direito Internacional
Público.
Em todo caso, a implementação de um processo de harmonização e de uniformização, apenas
pode se realizar se os Estados membros consentirem as necessárias transferências de
competências, isto é, os necessários abandonos de soberania a favor dos órgãos da integração
económica.

A necessidade de um poder judicial integrado.

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Uma SADC supranacional implica, também, um Poder Judicial de jurisdição obrigatória e
integrado. O contencioso da aplicação das normas jurídicas uniformizadoras aprovadas pelo
Conselho deveria poder ser solucionado ao nível das jurisdições nacionais dos Estados membros
em primeira e segunda instâncias enquanto, em última instância, o Tribunal da SADC deveria ser
competente para unificar a jurisprudência relativa a aplicação das normas uniformes aprovadas
pelo Conselho. Por outras palavras, o Tratado da SADC, deveria estabelecer um princípio de
supranacionalidade judicial materializado pela transferência de competência das jurisdições
nacionais de última instância (Tribunal Supremo) para o Tribunal Comunitário nas matérias
abrangidas pelas normas uniformizadoras do direito aprovado pelo Conselho. Assim, esses
mecanismos permitiriam estabelecer “uma unidade de jurisprudência” necessária para consolidar
o Direito Comunitário no espaço da SADC. Com efeito, a harmonização do direito seria
extramente difícil na hipótese em que cada jurisdição nacional podia ter a sua própria
compreensão das normas uniformizadoras do direito.
Além disso, este procedimento não deveria impedir a consulta ao Tribunal pelas jurisdições
nacionais, no caso em que o Tribunal fosse solicitado por essas jurisdições para dar o seu
parecer, na ocasião de um contencioso já existente, sobre a interpretação de uma disposição do
Tratado ou das normas aprovadas pelo Conselho.

 Aspetos Jurídicos, Institucionais, Administrativos e Organizativos


Apesar da palavra integração estar localizada no corpo do Tratado constitutivo da SADC mais
particularmente, no preâmbulo, no n. ° 2, do Artigo 21. ° E no n.º 1, do Artigo 22. ° Ou em
alguns protocolos e com o objetivo de criar uma união quase total, deve razoavelmente concluir-
se que o processo de integração desta organização é, de jure e de facto, uma Pseudointegração
que peca, principalmente, por uma dupla ausência de técnicas integrativas e de uma visão global
da integração, o que faz com que a SADC, seja apenas uma organização de Cooperação (Cistac,
2008, p. 9). Facto sintomático, o termo integração não está contemplado, formalmente, em
alguns protocolos da SADC.

O Tratado da SADC, não consagra nenhum instrumento que permita razoavelmente concluir pela
existência de um real processo de uniformização das legislações dos Estados-membros. Pelo
contrário, o objetivo é de cooperar, isto é, coordenar a ação dos Estados membros num domínio
determinado. O instrumento privilegiado desta opção é o Protocolo. Assim, esses acordos entre

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Estados membros aparecem como instrumentos particularmente indicados e adaptados para
promoção de uma cooperação entre Estados.

Apesar da sua ratificação pela Cimeira de Chefes de Estados, os protocolos são abertos à
assinatura e ratificação dos Estados e não existe nenhum mecanismo que garante e assegure que
todos os Estados-membros procedam, de modo uniforme ao cumprimento de todas essas
formalidades. Os protocolos entram em vigor 30 dias após o depósito dos instrumentos de
ratificação de dois terços dos Estados membros, o que deixa instalar-se grandes incertezas sobre
a implementação concreta dos protocolos, vista a lentidão com a qual alguns Estados membros
ratificam ou ratificaram alguns protocolos (NG’ONG’OLA, 2005, p. 8). Além disso, alguns
protocolos previram um processo de denúncia ou retirada.

Mas, mesmo na hipótese em que um protocolo entra em vigor pelo cumprimento da condição
acima referida, nada garante a uniformidade na adoção e aplicação de medidas internas visando o
respeito das obrigações que ele impõe.
Portanto, parece desenhar-se, na prática, uma SADC a geometria Variável (Cleary S., 2001, p.
87-104) ou, por outras palavras, uma SADC constituída de Estados que ratificaram uma boa
parte dos protocolos e que executaram as suas disposições e Estados-membros que ratificaram
poucos protocolos e que têm, visivelmente, muitas dificuldades a implementá-los.

Pode-se concluir por uma ausência total de técnicas jurídicas capazes de favorecer o processo de
integração da SADC. A razão fundamental é de que a escolha dos protocolos como instrumento
de pseudointegração permite evitar riscos de limitação da soberania dos Estados. É a soberania
dos Estados que, de facto, paralisou o processo de integração. O atual funcionamento da SADC
não violenta uma sociedade de justaposição de entidades soberanas.

 A SADC, é uma vasta organização de coordenação, de harmonização de políticas, de


planos, de programas, de estratégias e de projetos.

Esta natureza tem implicações nos seus métodos de trabalho e na sua estrutura jurídico-
organizativa. Coordenam-se as políticas nacionais com mais ou menos sucesso. O Protocolo de
Cooperação no domínio da Energia da SADC, de 24 de Agosto de 1996, materializa claramente

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esta opção. Harmonizam-se programas e estratégias. O Protocolo sobre o Sector Mineiro da
SADC, de 8 de Setembro de 1997, constitui um bom exemplo disto: troca-se informações
Promovem-se políticas e a harmonização de medidas administrativas e legislativas em matéria
penal e civil (este protocolo nem trata se quer de Direito Económico ou Comercial), ou
Aduaneiras, mas nenhum desses instrumentos contribuem para uma verdadeira integração.

Na prática, o objetivo predominante da SADC, é o de fomentar relações multilaterais de mera


cooperação entre os Estados-membros, na esfera da atividade económica, correspondente apenas
a uma parte do objeto material da organização que é muito mais rico (manutenção da paz,
segurança, democracia, cultura.

No que diz respeito à estrutura jurídico-organizativa da SADC, esta não reflete nenhuma
limitação à soberania dos Estados-membros. Os mecanismos organizativos apenas desenvolvem
relações horizontais de simples coordenação das soberanias estaduais. Os Estados- membros
ainda desempenham um papel primordial na vida da SADC. As suas decisões e deliberações têm
como destinatários os próprios Estados-membros e nunca os seus sujeitos internos,
particularmente o indivíduo. Ou seja, o Estado-membro interpõe-se entre a SADC e a sua ordem
interna. As decisões ou deliberações dos órgãos da SADC, não têm efeito direto sobre os
nacionais dos Estados-membros nem sobre as respetivas administrações (Cistac, 2008, p. 15).
Com efeito, se os protocolos são aprovados pela Cimeira sob recomendação do Conselho, estes
são sujeitos à ratificação dos Estados-membros o que significa que apesar desta decisão da
Cimeira, o efeito direto é ainda inexistente nas ordens jurídicas internas dos Estados membros.

Em resumo, não há transferência de poderes soberanos dos Estados-membros para a SADC


(Cistac, 2008, p. 15).
A SADC tem um carácter estritamente interestatal e as suas decisões são dirigidas aos Estados-
membros. De facto, a SADC institui o que alguns autores chamaram de regionalismo de
cooperação (Carreau; Florye Juillard, 1990), em que os Estados promoveram um conjunto de
solidariedades económicas com vista a estimular as trocas comerciais. Contudo, este tipo de
regionalismo permanece respeitoso às soberanias dos Estados-membros. A SADC, não impõe
nenhuma limitação de soberania aos Estados ao contrário do regionalismo de integração que tem
outros objetivos (Bohanes, 2005, p. 5).

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Tipologia da Integração Regional

 Todo o processo de integração passa por etapas que, podem ou não evoluir de acordo
com os objetivos pretendidos pelos seus integrantes. Essas etapas podem apresentar-se
sob a forma de:
 Zona de Comércio Livre,
 União Aduaneira,
 Mercado Comum,
 União Económica,

Integração Económica Total. Alguns autores falam ainda de Confederação como última fase.

 SADC- Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral


Após a conquista das independências dos territórios, os ELF decidiram estender a cooperação ao
sector económico, como forma de superarem a dependência económica em relação à “potência
da região” a África do Sul; dessa necessidade resultou criação da SADCC, cujo surgimento é por
vezes apontado como resultado de influência exterior ocidental isto é; americana e europeia. Essa
influência pode facilmente ser entendida se tivermos em consideração que a SADCC foi fundada
num contexto internacional marcado pela Guerra Fria que, se estendeu ao continente africano.

Assim como os ELF, a SADCC não foi criado a partir de um instrumento de Direito
Internacional; existia a Declaração de Lusaka sob o título “Por uma Libertação Económica”
assinada em Abril de 1980, onde estavam espelhadas as linhas orientadoras e objetivos que
motivaram a criação da conferência. Nenhum dos Estados membros – Angola, Botsuana, Lesoto,
Malawi, Moçambique, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué tinha um vínculo legal com a
Declaração de Lusaka, uma vez que esta não estava revestida de carácter jurídico.

A SADCC foi criada para o alcance dos seguintes objetivos:


 Redução da dependência económica, não só em relação a África do Sul;

 Formação de alianças para a criação de uma integração regional, genuína e equitativas;

 Mobilização de recursos para promover a implementação de políticas nacionais,


regionais e interestatais;

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 Criação de uma ação conjunta para assegurar a cooperação internacional no âmbito da
estratégia da SADCC para a libertação económica.

Em 1981 os Estados membros assinaram o Memorando de Entendimento sobre a


institucionalização da conferência e estrutura dos órgãos da SADCC:175
 Conferência dos Chefes de Estado;

 Comissão Permanente de Funcionários;

 Comissões Sectoriais;

 Secretariado.

O programa de ação da SADCC foi elaborado a partir dos sectores aonde membros eram
economicamente mais dependentes da África do Sul. Dos 9 (nove) Estados, apenas o Zimbabué
tinha uma estrutura de desenvolvimento aceitável. Os sectores identificados como chaves, em
matéria de cooperação eram exatamente aqueles em que os membros mais dependiam da África
do Sul.

 Os desafios da SADC no âmbito jurídico.

A criação de uma Comunidade ou de uma União Económica e Monetária tem implicações


políticas que tornam a sua realização particularmente difícil, este aspeto deve ser tomado em
conta para medir o caminho a percorrer para a sua realização na SADC.
Além disso, a integração jurídica depende de um determinado número de vetores que
determinam, em certa medida, o grau da integração jurídica do espaço económico em causa.

VILAYSOUN LOUNGNARATH identificou e classificou muito bem esses “determinantes do


grau de integração jurídica num espaço económico determinado. Alguns têm uma natureza
meramente estruturais e instrumentais, outros são mais ligados à criação de um ambiente capaz
de sustentar de forma duradoura o processo de integração. Seguindo esta perspetiva, a SADC
precisará de reformas para criar verdadeiramente as condições da sua integração
pluridimensional.
Essas reformas passam pela própria afirmação no Tratado da SADC da harmonização ou
uniformização das legislações nacionais como objetivos.

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 Pela mudança na sua estrutura organizativa;
 Pela criação de um verdadeiro Direito da Integração;
 Esses vetores da integração devem desenvolver-se num ambiente favorável, e
 Em todo caso, a elaboração de uma estratégia é indispensável para implementar com
sucesso este processo.

A reforma da infraestrutura organizativa da SADC O objetivo que deve nortear esta reforma é
a instauração de uma dose de supranacionalidade nos órgãos da SADC, o que implicará
inevitavelmente uma reforma das estruturas existentes.

Mesmo parecendo como uma evidência que no seio de um espaço económico, a existência de
instituições centrais dotadas de um poder normativo aplicando-se à totalidade deste espaço
contribui para a integração económica, a concretização desta é na prática, de uma extrema
complexidade porque a supranacionalidade deve enfrentar duas barreiras poderosas: a
soberania e o protecionismo.

O instrumento jurídico para proceder à pseudointegração que é o protocolo é uma das suas
manifestações. A arquitetura complexa da estrutura institucional é uma outra. Além disso, a
fraqueza do Secretariado é também uma manifestação desta. O protecionismo que tem ligação
estreita com a proteção da soberania estatal, é também manifesta na Região no que concerne
em particular, à implementação do Protocolo sobre as Trocas Comerciais pelos Estados
membros.

Nesta perspetiva, a integração é concebida como um processo jurídico-político constitutivo de


uma nova entidade jurídica, com o objetivo de criar uma nova ordem jurídica com uma
Constituição e o seu Governo e as suas próprias normas jurídicas. Isto significa a limitação da
soberania dos Estados membros, resultante de uma transferência de poderes soberanos dos
referidos Estados para a SADC.

Assim, as restrições à soberania dos Estados membros da SADC traduziram-se no facto de


existirem relações de subordinação e não de mera cooperação entre a organização e os Estados
membros, incluindo os seus sujeitos de Direito interno. Relações essas, que vão cobrindo
progressivamente novos domínios.

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Apesar de haver um crescimento económico significativo entre os Estados membros da
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, as assimetrias existentes entre os
mesmos, em termos de desenvolvimento e dinâmica de crescimento, constitui um obstáculo
para a materialização total da Integração ou o cumprimento das etapas fulcrais para o avanço
do processo integracionista na África Austral.

Moçambique tem demonstrado empenho no cumprimento das fases do processo de Integração


Económica Regional e o seu impacto e os desafios do processo de Integração Económica
Regional no desenvolvimento económico dos Estados membros da SADC, bem como os
desafios e obstáculos de Moçambique neste processo são aqui embaçados.

Balanço da integração económica


O último ponto a salientar relativamente à integração económica da SADC articula-se com a
problemática estudada por Jacob Viner (1950), acerca das vantagens e malefícios que os Estados
teriam que equacionar caso ponderassem a entrada em Acordos Preferenciais de Comércio e com
o contributo de Nye (1968b, pp. 860 –862) relativo à integração económica, em que autor propõe
analisar o peso do comércio intrarregional no total das trocas comerciais feitas na região. Sem
ambições econométricas e considerando o facto de a SADC não ter ainda constituído uma UA,
os seguintes gráficos foram elaborados por forma a extrair conclusões acerca dos efeitos da
liberalização de comércio nesta área regional.

 Como perceber a integração na SADC no âmbito jurídico


As variáveis analisadas demonstraram que, não obstante a falta de mecanismos para a
implementação compulsória dos programas e instrumentos previstos pelas instituições da
SADC, os níveis de implementação e adesão às etapas integrativas são elevados. Os dados
analisados mostraram que, mesmos os Estados que se excluíram da ACL-SADC, não puseram
de parte a adoção de instrumentos e práticas de harmonização aduaneira, que uniformizam o
enquadramento jurídico e prático das interações comerciais da região. Contudo, a falta de
medidas compulsórias para a implementação dos programas e instrumentos de integração
económica é refletida pela elevada proporção de atrasos e adiamento das fases de integração.

Pese embora a relevância da ausência de mecanismos efetivos de correção de desvios ao


comportamento, estes atrasos e adiamentos também se explicam com recursos a variáveis

14
externas ao panorama institucional, tais como as fortes carências socioeconómicas,
infraestruturais e técnicas (know-how) que os Estados enfrentam, previamente referida.

A análise apresentou ocorrências de tipo díspar, tais como “indicativo-cumprimento entrada”,


“vinculativo-atraso” e um nível de implementação entrado significativo, tanto nas medidas
vinculativas como indicativas. Estas últimas, no entanto, apresentaram múltiplas ocorrências de
adiamento relativamente às etapas integrativas previstas pelo RISDP, que sugerem um maior
grau de cumprimento de emanações vinculativas da organização (Protocolo de Comércio -
1996).

As primeiras duas hipóteses avançadas foram infirmadas pelo teste feito às variáveis. A
primeira porque assentava na predominância de combinações do tipo “indicativo-rejeição” ou
autoexclusão dos estágios mais avançados de integração económica, - pressupostos que não se
verificaram -, para concluir que o design institucional da SADC não se revestia de agência
suficiente para condicionar o comportamento dos Estados e, consequentemente, o seu empenho
nesta vertente integrativa.

A segunda assentava numa preponderância de ocorrências do tipo “vinculativo-cumprimento” e


da entrada, por parte da maioria dos Estados, nos diversos estágios de integração. Embora nas
medidas vinculativas, a taxa de implementação das variáveis observadas tenha sido elevada e
superior a 50%, a entrada nos estágios integrativos, ainda que expressivamente maioritária,
ocorreu apenas para o primeiro sem adiamentos substanciais (ACL-SADC). Questiona-se, após a
análise dos dados, não apenas o cumprimento das metas seguintes (atrasadas em 5 anos), mas
também a manutenção do mesmo número de Estados que figura na ACL, em etapas com um
aprofundamento integrativo significativamente maior, tais como a União Aduaneira e o Mercado
Comum.
As hipóteses (3) e (4) destacaram-se como pertinentes para a explicação do peso institucional
nesta vertente da integração, designadamente:
A terceira hipótese operativa, relativa à constatação da existência de ocorrências díspares140,
previa uma conclusão assente em um de dois pressupostos ou nos dois cumulativamente,
designadamente

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 A estrutura institucional da SADC, ainda que não particularmente eficaz no
constrangimento dos Estados Membros em prol do projeto integrativo, possibilita os
incentivos necessários, sem contrapartidas onerosas no campo do condicionamento estatal,
para estimular a uma participação contínua (não necessariamente aprofundada), dos
Estados que a integram; e/ou
 Não obstante a reticência em abdicar substancialmente (e juridicamente) de parte da sua
soberania, os Estados reconhecem o papel da integração económica como necessária para o
seu desenvolvimento interno, pelo que mobilizam esforços em prol de uma integração
“soberanista”, mesmo sem atribuírem às instituições regionais jurisdição para exercer
vinculativamente o seu papel de impulsionadoras da integração.
 A SADC uma organização de integração regional ainda por finalizar.

Sem entrar nos pressupostos fundamentais da integração regional, é de constatar a ausência


nítida desses pressupostos no atual processo de integração da SADC. Com efeito, apesar da
palavra “integração” estar localizada no corpo do Tratado constitutivo da SADC mais
particularmente, no Preâmbulo, no n.º 2, do Artigo 21.° e no n.º 1, do Artigo 22.° ou em alguns
protocolos43 e com o objetivo de criar uma união quase total, deve razoavelmente concluir-se
que o processo de integração desta organização é, de jure e de facto, uma Pseudointegração que
peca, principalmente, por uma dupla ausência de técnicas integrativas e de uma visão global da
integração , o que faz com que a SADC seja apenas uma organização de cooperação . Facto
sintomático, o termo "integração" não está contemplado, formalmente, em alguns protocolos da
SADC.

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 Conclusão.

A década de 1990 foi acompanhada de importantes mudanças no âmbito regional e internacional,


como o fim da Guerra Fria, a dissolução da União Soviética, o aprofundamento da globalização,
entre outras, que impulsionaram o processo de integração e permitiram maior colaboração entre
os Estados nas questões políticas, econômicas e de segurança.
A importância da integração jurídica deriva em primeiro lugar da transcendência dos processos
económicos, político, social e cultural da "globalização", que propiciou à formação de blocos
regionais a nível da africa Austral.
A análise proposta tinha como objetivo perceber o impacto que a estrutura institucional da
SADC teria no seu projeto de integração jurídica. O estudo concluiu que, mesmo perante os
problemas de medidas compulsórias para garantir o cumprimento dos objetivos de integração, na
sua dimensão jurídicas, se verifica uma participação contínua dos Estados Membros e um
esforço de implementação de medidas de harmonização nas práticas jurídicas a nível da SADC.
Conclui-se igualmente que a correlação entre a estrutura institucional da SADC e a sua
integração jurídica é positiva. A análise proposta contribuiu ainda para corroborar a aceção de
que instituição proporcionou, até à atualidade, os devidos incentivos para promover a
participação judicial a nível da região em que se insere, mas que não perfila como sustentável,
caso permaneça alicerçada no atual edifício institucional.

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 Referências bibliográficas.

Murapa, Rukudzo. 2002. «A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC): rumo


à integração política e econômica». Traduzido por Cristina Paixão Lopes. Impulso, n. 31
(Setembro): 155–64.

MURAPA, Rukudzo. A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC): rumo à


integração política e econômica. Impulso, nº31, Setembro, 2002.

JAMINE, E. B. A Integração Regional na África Austral: Obstáculos e Oportunidades


(1980-2008). Dissertação de Mestrado em Relações Internacionais. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 2009.

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