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A eficiência mecânica do organismo humano é baixa. Na cami- WBGT (ºC) Atividades esportivas - Liberação ou restrição
nhada rápida e na corrida, no máximo 25% da energia química advin-
<24 Qualquer atividade é permitida. Em atividades prolongadas, os sinais
da da oxidação dos nutrientes costumam se transformar em energia de hipertermia e desidratação (calafrios, piloereção, cefaleia etc.) re-
mecânica, responsável pelo movimento. O restante é transformado comendam a interrupção da atividade e as devidas providências. Em
imediatamente em energia térmica. Posteriormente, inclusive a energia atividades com mais de 60’ de duração, recomenda-se a ingestão de
mecânica, que proporcionou o movimento, também é transformada 250ml de líquidos a cada 15’.
em energia térmica. Portanto, 100% da energia são transformados em 24-25,9 Recomendam-se intervalos mais prolongados na sombra, com ingestão
calor. Essa energia térmica, que se acumula durante a prática de exercí- de 250ml de líquidos a cada 15’, mesmo em atividades com menos
de 60’ de duração.
cios, elevando a temperatura corporal, deve ser dissipada, o que ocorre
através de mecanismos termorregulatórios, sem os quais o organismo 26-29 Interromper as atividades dos não aclimatizados ao calor ou com al-
gum outro fator de risco. Limitar as atividades para todos os outros.
entraria em colapso devido ao superaquecimento em questão de pou-
Recomenda-se a ingestão frequente de líquidos e adoção de atitudes
cos minutos de atividade contínua. para resfriar o corpo.
Dentre os mecanismos termorregulatórios, o mais eficaz durante
>29 Cancelar qualquer atividade esportiva ao ar livre
a prática de exercícios é a evaporação do suor. Portanto, não basta Fonte: Academia Americana de Pediatria (Modificado por Carvalho T e Mara L, em 2009).
suar, sendo necessária a evaporação do suor para que o calor seja
liberado pelo organismo, algo influenciado pela umidade relativa do
ar ambiente. Ou seja, o aumento da umidade relativa do ar diminui a Sendo hipotônico o suor em relação ao plasma, inicialmente a
taxa de evaporação do suor, possibilitando, consequentemente, menor perda de água é proporcionalmente maior do que a de eletrólitos, em
liberação do calor corporal. Os demais mecanismos, que são a con- especial do sódio, ocorrendo desidratação com hipernatremia. Poste-
dução, a irradiação e a convecção, têm importância menor durante a riormente, como se costuma oferecer mais água do que sódio, pela
prática de exercícios, principalmente os mais intensos e prolongados. ingestão de água pura ou de bebidas ‘desportivas’ com menor con-
Na medida em que ocorre a elevação da temperatura externa, esses centração de sódio do que a do plasma sanguíneo, como decorrência
três mecanismos se tornam ainda menos efetivos. da hidratação, por hemodiluição, ocorre hiponatremia(7). A quantidade
O fluxo sanguíneo que banha as células do hipotálamo anterior de perda do sódio vai depender da aclimatação ao calor e da taxa de
permite ao organismo humano a constatação da temperatura sanguí- sudorese(3). Indivíduos aclimatados apresentam menor perda de sal
nea ou central do organismo(3). Diante do aumento de temperatura em relação aos não aclimatados, mas têm taxa maior de sudorese,
central, desencadeia-se uma resposta eferente mediada por receptores podendo apresentar hiponatremia em atividades com mais de três
adrenérgicos nos vasos sanguíneos, ocorrendo vasodilatação periféri- horas de duração ao considerarmos o montante final de sudorese e
ca e, consequentemente, desvio de sangue para a pele. Concomitan- a qualidade da reposição. O suor contém cerca de 30 a 60mEq/litros
temente, ocorre estímulo dos receptores colinérgicos nas glândulas de sódio e 8 a 15mEq/litros de potássio. Portanto, quando se faz uma
sudoríparas, as quais aumentam a taxa de produção do suor. Portan- avaliação relativa, considerando-se as concentrações plasmáticas de
to, o aumento da temperatura central desencadeia o mecanismo de ambos, verifica-se que a perda relativa de potássio é bem superior à de
termorregulação, que culmina com a formação e evaporação do suor. sódio(8). Entretanto, tendo em vista a grande concentração de potássio
Os mecanismos da termorregulação e da manutenção da homeosta- no meio intracelular, existe facilidade na sua reposição, o que não ocor-
sia cardiocirculatória podem se tornar conflitantes, principalmente se re com o sódio, que depende essencialmente da fonte exógena.
houver desidratação com diminuição do volume plasmático circulante,
quando o organismo privilegia a manutenção do volume plasmático, DESIDRATAÇÃO
em detrimento da termorregulação, ocorrendo, então, diminuição da Em atletas de provas de longa duração, o mecanismo de desidrata-
vasodilatação periférica e da produção de suor. Com o aumento da ção se dá principalmente pela perda de suor, que pode chegar a ser de
temperatura central, a consequência é a gradativa diminuição do de- até dois litros/hora, sendo que fatores como as condições ambientais,
sempenho físico, que pode culminar com colapso, exaustão e insolação, condicionamento físico, aclimatação, grau de intensidade de esforço e
ocasionando até mesmo o óbito(4, 5). tempo de exposição influenciam o volume da perda. Principalmente,
O comitê em Medicina de Esporte da Academia Americana de Pe- mas não somente, as atividades de longa duração em climas quentes
diatria (Tabela 1) recomenda que para a prática esportiva sejam levados expõem o indivíduo às doenças relacionadas com o calor, sendo im-
em consideração os níveis de estresse térmico medido pelo Índice portante o diagnóstico do estado de hidratação nesse contexto(9). O
de Temperatura do Globo e Bulbo Úmido(6). Esse índice combina as uso de solução de reposição oral, recomendação que obrigatoriamente
temperaturas de medida do ar (Tdb), umidade (Twb) e radiação solar deve ser seguida pelos participantes de atividades de longa duração,
(Tg), sendo determinado por meio da equação WBGT= 0,7wb + 0,2Tg inclusive os que percorrem trilhas, atividade que vem crescendo nos
+ 0,1Tdb. Vale ressaltar que essa recomendação é mais relevante para últimos anos, permite a adequada reposição de água, energia (car-
as atividades intensas e de longa duração. boidrato simples) e eletrólitos (principalmente o sódio). Portanto, a
reposição ideal se faz por meio das soluções hidroglicoeletrolíticas,
COMPOSIÇÃO DO SUOR conhecidas popularmente como ‘bebidas desportivas’.
Como já foi dito, a sudorese é estimulada em resposta ao aqueci- O grau de desidratação pode ser determinado pela massa corpo-
mento central do organismo como forma de controlar a temperatura. ral verificada imediatamente antes e após a atividade física, sendo a
Dependendo da intensidade do exercício, condições ambientais, nível perda de cada 0,5kg correspondente a aproximadamente 480-500ml
de treinamento físico e estado de aclimatação, a sudorese pode exceder de líquido(2). A partir de certo ponto, a desidratação, que espolia os
dois litros/hora. Ressalte-se que a perda do suor significa a perda de compartimentos intracelular e extracelular, acarreta diminuição do flu-
água e eletrólitos que devem ser repostos no intuito de que sejam xo sanguíneo periférico e do ritmo da transpiração, podendo mesmo
evitados sérios transtornos orgânicos agudos, como a hipovolemia e interromper a dissipação do calor(10). Verifica-se que a desidratação que
o superaquecimento corporal, e crônicos, como a hiponatremia(7). reduz a massa corporal em 1% causa aumento significativo na tempe-
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