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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000533590

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação


Cível nº 0010800-27.2013.8.26.0004, da Comarca de São
Paulo, em que são apelantes CLAUDIO MARCOS ARENA (POR
SI ) e GABRIELA DINIZ ARENA (MENOR(ES)
REPRESENTADO(S)), são apelados MARIA LUIZA MARTINS
FILOMENO, JOAO VITOR MARTINS DOS SANTOS (MENOR(ES)
REPRESENTADO(S)), ERICA MARTINS SIQUEIRA DOS SANTOS
(REPRESENTANDO MENOR(ES)), MARGHERITA MARIA PUOLI
GABRIELLI MARTINS e LUCI CURY MARTINS.

ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito


Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a
seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.
Sustentação dos Drs. José Araújo Novaes Neto OAB/SP n.º
70.772 e Dr. Pierre Moreau OAB/SP n.º 112.255.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este
acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.


Desembargadores ARALDO TELLES (Presidente sem voto),
MAURÍCIO PESSOA E JORGE TOSTA.

São Paulo, 29 de junho de 2021.

SÉRGIO SHIMURA
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 25790
Apelação n. 0010800-27.2013.8.26.0004
Comarca: São Paulo (3ª Vara Cível do Foro Regional da
Lapa)
Apelantes: CLAUDIO MARCOS ARENA E OUTRO
Apelados: MARIA LUIZA MARTINS FILOMENO E OUTROS
Juiz (a): Dr. Claudio Salvetti D'Angelo

DISSOLUÇÃO PARCIAL DE
SOCIEDADE C.C. APURAÇÃO DE
HAVERES “PALUMBO MOTEL
LTDA.” - PROCEDÊNCIA. Sociedade
Limitada Justa causa para
exclusão dos sócios apelados, que
ficou caracterizada Arts. 1.030 e
1.085 do Código Civil - Total
desídia por parte dos réus na
condução da sociedade, aliada à
resistência injustificada na
assinatura de cheques para
pagamentos de despesas
ordinárias da sociedade, pondo em
risco a continuidade das atividades
da empresa - Quebra do “dever
geral de colaboração” para a
consecução das atividades sociais
Acolhimento do pedido de
dissolução parcial da sociedade,
com exclusão dos réus apelados -
Apuração de haveres a ser feita em
liquidação RECURSO PROVIDO.

Trata-se de ação proposta por CLÁUDIO


MARCOS ARENA e GABRIELA DINIZ ARENA contra MARIA
LUIZA MARTINS FILOMENO, LUCI CURY MARTINS,
MARGHERITA MARIA PUOLI GABRIELLI MARTINS e JOÃO
VITOR MARTINS DOS SANTOS, objetivando a dissolução
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parcial da sociedade “PALUMBO MOTEL LTDA.”, com a


exclusão dos requeridos do quadro social.

Os requeridos apresentaram contestação e


reconvenção.

Sobreveio sentença de improcedência dos


pedidos da inicial e da reconvenção, cujo relatório se adota, ao
fundamento de que, para a exclusão de sócio, não basta a
alegação de quebra da “affectio societatis” e que não houve
demonstração de justa causa. O pedido alternativo de
dissolução total da sociedade também foi julgado
improcedente, diante do princípio da preservação da empresa
(fls. 3824/3829).

Inconformados, os autores vêm recorrer,


sustentando, em resumo, a negligência e desinteresse dos
réus com a administração da sociedade e com a condução dos
negócios, no tocante à operacionalidade da empresa.
Destacam os problemas enfrentados para a substituição de
caldeira, a existência de alvará do Corpo de Bombeiros
vencido, irregularidades na contabilidade (furos de caixa),
irregularidades na instalação elétrica e nos hidrantes.
Fundamentam seu pedido de dissolução parcial da sociedade
nos arts. 1030 e 1085, CC, arguindo que a desinteligência
grave entre os sócios levou à impossibilidade de realizar o fim
social.

Argumentam que, além de ser evidente a


perda da “affectio societatis”, estão configuradas faltas graves
praticadas pela administração anterior (fls. 3862/3902).
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Recurso devidamente processado e


respondido (fls. 3911/3922).

O Ministério Público se manifestou pelo


desprovimento do recurso (fls. 3927/3928).

Houve oposição ao julgamento virtual (fl.


3930/3931 e fl. 3933).

É o relatório.

Consta dos autos que, em 28/03/2012, os


autores passaram a integrar a sociedade “PALUMBO MOTEL
LTDA.” mediante “cessão de quotas”, pela qual o autor
Cláudio passou a ser titular de 62,76% das quotas sociais.
Após tal alteração contratual (“18ª Alteração Contratual”), a
responsabilidade pela administração da sociedade passou a ser
dos sócios Claudio Marcos Arena, Maria Luiza Martins Filomeno
e Luci Cury Martins, assinando Cláudio em conjunto com umas
das sócias administradoras. Permaneceram como sócios os
autores e os réus (fls. 59/72).

Anteriormente, no período de 23/07/2010 a


28/03/2012, a administração da empresa era exercida pelos
sócios Crescencio Palumbo Junior, Luci Cury Santos e
Margherita Maria Puoli Gabrielli.

Consta, ainda, que Cláudio já participava da


sociedade desde 1988, inclusive como administrador, como se
infere da ficha cadastral de fls. 512/518. Retirou-se da
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sociedade apenas em 23/07/2010, cedendo quotas à sua filha


menor de idade Gabriela (coautora), permanecendo na
sociedade como seu representante, retornando em
28/03/2012.

Em 23/05/2013, CLÁUDIO MARCOS ARENA


e GABRIELA DINIZ ARENA ajuizaram a presente ação contra
MARIA LUIZA MARTINS FILOMENO, LUCI CURY MARTINS,
MARGHERITA MARIA PUOLI GABRIELLI MARTINS e JOÃO
VITOR MARTINS DOS SANTOS, objetivando a dissolução
parcial da sociedade “PALUMBO MOTEL LTDA”, com a exclusão
dos réus do quadro social. Alternativamente, os autores
pediram a dissolução total da sociedade (fls. 02/33).

O pedido dos autores de exclusão dos réus


da sociedade está fundado no desinteresse das sócias Maria
Luiza e Luci na administração da sociedade, constatado pelo
autor Cláudio no início de sua administração, em conjunto com
as requeridas, verificando diversas regularidades operacionais
do estabelecimento, como a não regularização da parte
elétrica, dos hidrantes, dentre outros.

Exemplificando a alegada conduta desidiosa


por parte da administração anterior, o autor apelante afirma
que quando assumiu a “coadministração” da sociedade, em
28/03/2012, constatou que o alvará do Corpo de Bombeiros
estava vencido, sendo que, para renovação, era necessária a
substituição da caldeira, dificultada pelas rés, como se extrai
da ata da AGE realizada em 23/08/2012.

E na ocasião, as requeridas se negaram a


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assinar os cheques de pagamento à empresa responsável pela


substituição da caldeira.

Quanto à negativa de assinatura de cheques


da empresa, os apelantes refutam a justificativa apresentada
pelos apelados a fl. 3392, pois, conforme consta do contrato
social, os pagamentos somente podem ser efetuados com a
assinatura de dois dos sócios, razão pela qual nenhum dos
sócios pode, isoladamente, movimentar a conta corrente da
sociedade, mesmo que possua as senhas.

E a falta de assinatura de cheques de


contas ordinárias da empresa acarretou o inadimplemento de
débitos ou pagamentos com atraso, prejudicando a sociedade
(fls. 726/1537 e fls. 1971/2164).

O sócio e administrador Cláudio deixou


consignado na ata “as dificuldades que vem enfrentando para
solucionar problemas urgentes com os administradores pelo
fato de que Luci Cury Martins, embora recebendo pró-labore
como administradora desde 2005, nunca esteve na empresa e
a sócia e administradora Maria Luiza Martins Filomeno não
toma decisões de imediato, dependendo sempre da opinião de
seus irmãos sócios” (fls. 80/83).

Alegam os autores apelantes que as rés não


compareciam ao estabelecimento para administrá-lo, sequer
para receber seus pró-labores, tendo tal ausência sido
comprovada pelos telegramas para retirada de pró-labore (fls.
43/88), por declarações de funcionários (fls. 1660, 1666,
1667, 1708/1714) e pelo documento de fl. 2953, que atesta
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que Luci nunca acessou os computadores da sociedade.

Dizem, ainda, que, em auditoria contábil


independente, foi constatado um “furo de caixa” em
31/03/2012 no valor de R$ 1.072.180,39, corroborados pela
prova pericial, decorrente de inconsistência contábil referente
ao ano de 2011 e aos três primeiros meses de 2012 (fls. 2397,
2415, 2416 e 3547).

Diante desse contexto, o recurso merece


provimento, com a procedência da ação.

É certo que a simples perda da “affectio


societatis”, que restou evidenciada no caso, não é suficiente
para permitir a exclusão de um sócio.

Neste sentido, esta 2ª Câmara Reservada


de Direito Empresarial já decidiu que: “DISSOLUÇÃO DE
SOCIEDADE Dissolução parcial com pedido de exclusão de
sócio minoritário - Sentença de improcedência Ausência de
provas (art. 373, I, do CPC) Pedido recursal de
dissolução com exclusão de sócio pela perda da affectio
societatis - Impossibilidade Ausência de comprovação dos
requisitos do art. 1.030 do CC Aplicação do art. 252 do
Regimento Interno deste Egrégio Tribunal de Justiça
Sentença mantida Honorários advocatícios Majoração
Art. 85, §11º NCPC Valor majorado de R$ 3.000,00 para R$
4.000,00 Recurso improvido. Dispositivo: negaram
provimento ao recurso, majorando-se a verba honorária. (...)
É cediço que a simples perda da afecctio societatis não
autoriza a exclusão de um dos sócios sem a
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demonstração da falta grave prevista no artigo 1.030 do


Código Civil ou da justa causa prevista no artigo
1.085 do mesmo Diploma Civil” (TJSP, 2ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial, Ap.
1074774-82.2017.8.26.0100, Rel. Des. RICARDO NEGRÃO, j.
04/04/2014) (g/n).

MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS, de


modo sempre preciso, leciona que “Por isso mesmo, a
jurisprudência contemporânea não admite a exclusão de sócio
fundamentada na simples alegação de quebra da affectio
societatis, sendo de rigor a demonstração da prática de atos
de inegável gravidade, tais como violação de cláusula
contratual, prática de concorrência desleal, desvio de clientela
ou de know-how, abuso no uso da firma social ou
denominação, conduta social irregular que comprometa a
imagem da sociedade, praticar atos de liberalidade à custa da
empresa, tomar por empréstimo recursos ou bens da
sociedade” (“Comentários ao Código Civil Direito Privado
Contemporâneo” Coordenador Giovanni Ettore Nani, Saraiva-
Jur, 2019, p. 1473, nota ao art. 1.085, CC) (g/n).

ERASMO VALLADÃO AZEVEDO E NOVAES


FRANÇA E MARCELO VIEIRA VON ADAMEK também destacam
que: “com a entrada em vigor do atual Código Civil, que
seguramente tornou mais estritas as possibilidades de
exclusão de sócio, parte significativa da doutrina pátria mais
moderna passou a sustentar, com razão, que não mais basta a
simples alegação de quebra da affectio societatis para
legitimar o afastamento compulsório do sócio, e essa
orientação já tem encontrado amparo em boas e corretas
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decisões de nossos tribunais, ainda quando as forças da


tradição e da inércia façam reverberar o antigo entendimento.
(...) Na realidade, a quebra de affectio societatis jamais pode
ser considerada causa de exclusão. Pelo contrário, a quebra
de affectio societatis é, quando muito, consequência de
determinado evento, e tal evento, sim, desde que configure
quebra grave dos deveres sociais imputável ao excludendo
poderá, como ultima ratio, fundamentar o pedido de exclusão
de sócio. Em todo caso, será indispensável demonstrar o
motivo desta quebra da affectio societatis, e não apenas
alegar a consequência, sem demonstrar a sua origem e o
inadimplemento de dever do sócio que aí possa estar.”
(“Affectio Societatis: Um conceito jurídico superado no
moderno direito societário pelo conceito de fim social”, in
“Direito Societário Contemporâneo I”, Quartier Latin, 2009, p.
150-155) (g/n).

Mas a exclusão do sócio é possível em caso


de “falta grave” ou “justa causa”, que restou devidamente
comprovada na hipótese vertente.

O art. 1.030, Código Civil, reza que


“Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único,
pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da
maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento
de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade
superveniente” (g/n).

E o art. 1.085, Código Civil, reafirma que


“Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos
sócios, representativa de mais da metade do capital social,
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entender que um ou mais sócios estão pondo em risco a


continuidade da empresa, em virtude de atos de inegável
gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante
alteração do contrato social, desde que prevista neste a
exclusão por justa causa” (g/n).

No que diz respeito às irregularidades de


contabilidade que ocasionaram um “furo de caixa”, foi
devidamente esclarecido pela perícia que os valores que
compuseram o saldo de caixa em 31/03/2012, no montante de
R$ 1.072.180,39, não tiveram destinação registrada
contabilmente, permanecendo como ativo circulante da
empresa até a data do último Balanço Patrimonial verificado
pela perita (fls. 2395/2396).

Conforme a conclusão apontada no laudo


pericial, quanto ao valor apontado pelos apelantes como “furo
de caixa”: “contabilmente, existe escrituração do valor
apontado e que este valor permanece como ativo da empresa
até a data do último documento analisado, o mês de
maio/2013” (fl. 2398).

Todavia, vislumbra-se no caso total desídia


por parte dos réus na condução da sociedade, especialmente
das administradoras LUCI e MARIA LUIZA. Na contestação,
inclusive, as rés corroboram seu desinteresse na
administração da sociedade, ao afirmarem que “se faziam
representar na empresa por intermédio de seus maridos” (fl.
473) e confirmarem que Cláudio sempre esteve à frente da
administração do PALUMBO MOTEL.
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Chegaram a ser enviados telegramas às rés


para que comparecessem ao motel para receber seus “pro-
labores” (fls. 224/225), além de os autores terem juntado
documento para demonstrar que a requerida LUCI jamais
acessou os computadores da empresa (fls.2953).

Os depoimentos dos funcionários do motel


corroboram o total desinteresse dos demais sócios, ora
apelados, na condução dos negócios da empresa (fls. 1660,
1666/1667 e 1708/1714).

Conforme os ensinamentos de Maurício


Moreira Menezes, configura justa causa para a exclusão do
sócio a quebra do “dever geral de colaboração”, “de caráter
fundamental em qualquer atividade associativa; a noção do
dever geral de colaboração não se limita aos deveres legais ou
explicitamente impostos por cláusulas contratuais, mas sim à
'necessidade de colaborar' para a consecução das atividades
sociais, de sorte que o sócio deve cumprir com o 'papel' que
assumiu frente a seus pares, porquanto nessa ocasião
despertou a confiança dos demais, substancial para a
formação do consentimento” (“Processo societário Volume
III”, Coordenadores Flávio Luiz Yarshell e Guilherme Setoguti
J. Pereira, São Paulo: Quartier Latin, 2018, págs. 567/568).

Outrossim, a recusa das rés


administradoras em assinar cheques para pagamentos de
despesas ordinárias da sociedade, conjuntamente com o autor
Cláudio, como exige a cláusula 6ª da “18ª Alteração
Contratual” (fl. 64), também configura motivo relevante à
descontinuidade dos negócios, vez que tal conduta das rés
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rompe com o dever de colaboração para a consecução das


atividades sociais.

A propósito, a perícia concluiu que as contas


e despesas da sociedade pagas em atraso deixaram de ser
pagas nos respectivos dias de vencimento em virtude de os
cheques terem sido assinados apenas por um administrador
(Cláudio), em evidente prejuízo à sociedade (fl. 3411). Consta
do laudo pericial, ainda, que tais contas pagas em atraso
representam o valor considerável de R$ 469.960,23 (fl. 3537).

Os réus justificaram a recusa de assinatura


de alguns cheques ao argumento de que: “Como Cláudio
detém as senhas das contas da empresa e a movimenta
isoladamente, pode, e deve, utilizá-la para os referidos
pagamentos. O que ele pretende é conseguir a concordância
das administradoras, por meio da assinatura dos cheques, a
fim de não ter que responder pelos gastos indevidos perante
os demais sócios. Esta é a razão pela qual as rés não
concordam em assinar tais cheques” (fl. 3392).

Tal alegação genérica de recusa em assinar


os cheques porque supostamente destinados a “pagamentos
indevidos” não justifica a conduta das rés, que descumpriram
suas obrigações ao obstaculizar o pagamento de despesas
ordinárias do motel, tornando inexequível o objetivo social da
sociedade.

O que se verifica no caso em tela é a


incontroversa ocorrência de divergências entre os sócios, como
se depreende das alegações dos réus, ao afirmarem que o
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autor se recusou indevidamente a aprovar as contas da


sociedade, além do que teria desviado recursos da empresa.
Segundo os réus, o “furo de caixa” foi causado pelo fato de
Cláudio ter distribuído os lucros aos sócios, sem efetuar o
lançamento contábil.

Em acréscimo, é preciso considerar que as


afirmações feitas em sede de reconvenção, notadamente de
que os apelantes estipularam valores desproporcionais de pró-
labore e movimentaram a conta da empresa sem anuência de
uma administradora (alegação esta que contradiz com a
afirmação dos próprios réus de que o autor deveria usar as
contas bancárias da empresa para efetuar pagamentos)
(fls.544/552), constitui ato de inegável gravidade, que
evidenciam a total perda da “affectio societatis”, pondo em
risco a continuidade das atividades da empresa.

Como apontado no Parecer Jurídico


elaborado por MODESTO CARVALHOSA, juntado pelos
apelantes às fls. 3973/3996, se o princípio da preservação da
empresa “pode prevalecer para manter unidos sócios
dissidentes que estão em franco combate no contexto de uma
dissolução total, com mais razão a dissolução parcial deve ser
sobrepor aos conflitos privatísticos dos sócios para permitir a
continuidade das atividades sociais. E, com maior razão terá
lugar a exclusão do sócio faltoso quando se verifica que a
beligerância entre os sócios não decorre de divergências a
respeito de decisões puramente negociais, mas sim de
condutas negligentes e desleais que colocam em risco o
próprio funcionamento da atividade principal da sociedade”
(fls. 3983/3984).
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Logo, no caso vertente, merece acolhida o


pedido de dissolução parcial da sociedade, com exclusão dos
réus apelados, devendo a ação ser julgada procedente para:
a) declarar dissolvida parcialmente a sociedade “PALUMBO
MOTEL LTDA”, fixando-se como data da resolução o trânsito
em julgado do acórdão (art. 605, IV, CPC), oficiando-se a
Junta Comercial;
b) determinar a apuração dos haveres dos sócios excluídos
mediante regular liquidação, levando-se em conta o valor
patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se
por referência a data da resolução e avaliando-se bens e
direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída,
além do passivo também a ser apurado de igual forma.

Em consequência do ora decidido, caberá


aos réus apelados arcar com o pagamento integral das custas
e despesas processuais, além dos honorários advocatícios aos
patronos dos autores, no montante de 15% do valor da causa,
nos termos do art. 85, § 2º, CPC.

Do exposto, pelo meu voto, dou


provimento ao recurso.

SÉRGIO SHIMURA
Relator

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