Você está na página 1de 19

Ação de Alimentos e

Cumprimento de Sentença
de acordo com o NCPC
Professor Tiago Pereira
O Novo CPC trouxe alterações significativas no procedimento executório das
decisões que fixam obrigações alimentares. Uma delas é o protesto da decisão em
desfavor do alimentando. Outra é a instituição de normas específicas para o
cumprimento das decisões (interlocutórias ou definitivas) que fixam os alimentos.

O legislador visou dar maior efetividade a cobrança de forma mais rigorosa para
que o devedor cumpra o pagamento.

Antes de adentrar no procedimento, cabe trazer à baila algumas ponderações


desde o atendimento, precificação de honorários, documentos até a inicial e o
processamento.
ATENDIMENTO

O cliente que busca alimentos em geral não tem condições financeiras de prover
para si o seu sustento. Seja cônjuge, parente (ascendente e descendente) ou
companheiro (união estável).

A precificação dos honorários fica comprometida na maioria das vezes em razão da


condição financeira que faz o cliente buscar o judiciário para receber alimentos.

A tabela é impraticável e cabe a nós observar o cliente através do contexto que se


baseia a ação. Por exemplo: uma mãe que busca alimentos para o filho decorrente
de um relacionamento passageiro. Ou o filho que busca alimentos dos pais
divorciados.

O advogado deve estar atento a situação financeira do cliente para fixar os


honorários. A dica que eu dou é: comece a cobrar a tabela da OAB como o mínimo,
parcele se for necessário, mas não avilte os próprios honorários.

Se for somente consulta, também cobre.


INFORMAÇÕES

A ação de alimentos se funda na relação de parentesco, matrimônio ou união


estável, e na condição financeira incompatível com a mantença do próprio sustento.

Se for Ofertar alimentos, as informações serão sobre as condições para o


pagamento.

Se for reclamar alimentos, as informações serão na necessidade do alimentante.

DOCUMENTOS

Se o alimentante for maior, documentos pessoais (CPF e RG) certidão de


nascimento ou casamento ou reconhecimento de união estável (pode cumular as
duas ações).

Comprovantes de pagamento de dívidas pessoais ou da família. Comprovantes de


inscrição na faculdade (se for maior). Das despesas necessárias para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive de educação.
FUNDAMENTO E CONCEITO

O fundamento para requerer alimentos está no art. 1.694 e ss do CC:

“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros
os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição
social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.”

Para fixação da prestação na hora de pedir ou ofertar, deve-se levar em condição a


necessidade de quem os pede e a possibilidade de quem deve prover. §2º do art.
1.694, CC.

Lembrando que a decisão que fixa alimentos não faz coisa julgada material,
havendo a possibilidade de revisar a prestação nos termos do art. 1.699 do CC, se
alterar as condições financeiras de quem os supre ou na de quem recebe.

A lei 5.478 dispõe sobre a ação de alimentos e o rito.


Conceito de alimentos nos dizeres de Silvio Rodrigues:

Alimentos, em direito, denomina-se a prestação fornecida a uma pessoa, em


dinheiro ou em espécie, para que possa atender às necessidades da vida. A palavra
alimentos tem conotação muito mais ampla do que na linguagem vulgar, em que
significa o necessário para o sustento. Aqui trata-se não só do sustento, como
também de vestuário, habitação, assistência médica, em caso de doença, enfim de
todo o necessário para atender às necessidades da vida; e, em se tratando de
criança, abrange o que for preciso para sua instrução. Leia mais em:
http://www.webartigos.com/artigos/obrigacao-alimentar-conceitonatureza
juridica-requisitos-e-caracteristicas/39343/#ixzz4Ip0hP9Hh

Confusão: despesas supérfluas


ÔNUS DA PROVA

Muitos colegas confundem o que provar na hora de instruir o processo ou


na realização da audiência. Quem contesta ação de alimentos, busca provar
a necessidade do alimentando e quem reclama, busca provar a
possibilidade do alimentante.

Quanto ao binômio necessidade/possibilidade fica a critério de quem pede


alimentos provar sua real necessidade de prover bens indispensáveis a
subsistência (moradia, educação, lazer, vestuário, alimentação) e o que tem
o dever de pagar, deve provar a sua possibilidade, o quanto ganha e quanto
pode pagar.

Não é ilícito juntar nos autos provas da possibilidade ou necessidade da


parte adversa. Pode juntar fotos de facebook, conversas de redes sociais,
que comprovam a possibilidade de quem os presta ou a real necessidade
de quem os pede.
DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS (art. 4º da lei 5.748/68).

Por se tratar de alimentos, há urgência no deslinde processual a fim de fixar a


obrigação e a satisfação pelo devedor. Ocorre que com a grande demanda judicial,
faz com que os processos demorem e pode causar prejuízo à quem busca os
alimentos.

Pode, portanto, requerer em sede de tutela de urgência a prestação de alimentos


provisórios até a sentença final. Da decisão cabe agravo de instrumento (pedir
efeito ativo se o juiz não conceder a tutela).

Art. 300 do NCPC. Provada a relação de parentesco, casamento ou união estável, há


elementos que evidenciem a probabilidade do direito, corroborado com as provas
da necessidade.

Pode iniciar o cumprimento dos alimentos provisórios em apartado. Art. 528, NCPC.

Ficar atento ao percentual e quem pede (ofertar alimentos é melhor do que


aguardar a ação do alimentante).

Ex: Cliente que busca ofertar alimentos.


Alimentos Provisórios x Provisionais

Tal qual os alimentos provisórios são os arbitrados liminarmente pelo juiz,


no despacho inicial da ação de alimentos, de natureza de tutela
antecipada, sendo possível quando houver prova pré-constituída do
parentesco, casamento ou união estável. E os alimentos provisionais são
arbitrados em tutela cautelar, preparatória ou incidental, de ação de
reconhecimento e dissolução de união estável, divórcio, nulidade ou
anulabilidade de casamento ou de alimentos, dependendo da
comprovação dos requisitos inerentes à toda tutela cautelar: fumus boni
juris e o periculum in mora, pela probabilidade do direito substancial
invocado e o receio de perigo de dano próximo ou iminente.
FASE DE CONHECIMENTO

Petição inicial segue a regra do art. 319 NCPC (inovação quanto ao endereço
eletrônico e a união estável)

Vista ao MP se tiver menor envolvido.

Distribuída a Ação o juiz designa audiência de conciliação (na maioria dos casos
acaba em acordo).

Após audiência de conciliação: a) se der acordo, vale como título executivo judicial.
b) se não der acordo, o réu deve contestar no prazo do art. 335, NCPC a contar da
data da audiência infrutífera.

Juiz dá vista ao autor para se manifestar nos termos do art. 350, NCPC (15 dias).

Após pede para as partes se manifestarem quais provas pretendem produzir e sua
pertinência, além de arrolar as testemunhas comprovando a intimação destas ou
comprometer-se a leva-las nos termos do art. 455, NCPC.

Audiência de instrução inicia com nova tentativa de acordo, depoimento pessoal,


testemunhas e encerramento (razões finais remissivas) e Julgamento.
Há certa flexibilização dos juízes quanto a oitiva das testemunhas, porquanto as que
tem conhecimento dos fatos geralmente são intimas das partes. Os juízes acabam
ouvindo mesmo após a contradita.

DA SENTENÇA

A sentença não faz coisa julgada material, podendo ser revisada a prestação
quando modificada a situação financeira do alimentante e do alimentando.

Da decisão não cabe apelação com efeito suspensivo (art. 14, lei 5.478/1968).

DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Como era antes...

Art. 732 rito da execução por quantia certa contra devedor solvente (art. 646 e ss).

Art. 733 execução para pagamento em 3 dias sob pena de prisão. 3 últimas
anteriores ao ajuizamento (súmula 309, STJ)

Como é com o CPC de 2015.

O novo CPC unificou a forma de execução de sentença ou decisão interlocutória.


O art. 1.072, inciso V do NCPC revoga expressamente a forma de execução disposta
nos artigos 16 a 18 da lei 5.478/68

O novo CPC ainda aloca em locais diferentes normas relativa ao cumprimento de


sentença envolvendo alimentos (art. 528 a 533) e das relacionadas à execução
fundada em título executivo extrajudicial (art. 911 a 913).

ALIMENTOS PROVISÓRIOS X DEFINITIVOS

Alimentos provisórios - aqueles fixados em sede de tutela de urgência antecipada.

Alimentos definitivos - aqueles fixados em sentença transitada em julgada ou que


não é objeto de recurso com efeito suspensivo.

Alimentos fixados em decisão interlocutória e em sentença não transitada em


julgado serão processados em autos apartados. Art. 531, §1º.

O cumprimento definitivo será nos mesmos autos da ação de conhecimento. Art.


531, §2º.
Processamento

O juiz, a requerimento da parte, mandará intimar o executado pessoalmente (AR


ou oficial de justiça, não encontrado far-se-á citação por edital) para que pague o
débito em 3 dias (a contar da comunicação, §3º do art. 231), provar que o fez ou
justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

Exemplo de justificativa: não sabia o paradeiro do alimentando.

Novidade: caso não pague, não prove que pagou ou não justifique a
impossibilidade de pagamento, o juiz poderá requerer o protesto da decisão
impedindo que o devedor adquira crédito na praça. Mesmo se decisão
interlocutória ou não transitado em julgado. Forma do art. 517 do NCPC.

Prisão – o art. 528, §3º possibilita a prisão do executado de 1 a 3 meses em regime


fechado. O cumprimento da pena não exime o pagamento da dívida. Obs:
Advogado preso no lugar do cliente.

§7º. O débito alimentar que autoriza a prisão civil é o que compreende ATÉ 3
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso
do processo.
Cumprimento tradicional

Pode ainda o credor de alimentos, escolher a via do art. 523 do NCPC, requerendo
o pagamento no prazo de 15 dias sob pena de multa de 10% e honorários. Não
satisfeita a obrigação, inicia os atos de constrição. Art. 528, §8º.

Caso a prisão não resolva, passa a execução nos termos do art. 831 NCPC. (Penhora
de bens).

Execução no juízo do domicílio do credor Art. 528, §9º.


Petição para execução:

Endereçamento (Juízo da causa)

Nº do processo

Qualificação completa

Do título executivo judicial (discorrer sobre o fixado em sentença ou em decisão


interlocutória)

Do débito (discorrer sobre as parcelas vencidas, 3 últimas e a menção as que


vierem a vencer no decorrer do processo além do demonstrativo de débito com as
atualizações e correções perinentes)
Dos pedidos
1 – JG
2 – intimação o MP se necessário
3 – intimação do executado no prazo do art. 528, NCPC por AR inciso II do §2º
do art. 513, NCPC, pagamento, prova do pagamento ou justificativa,
requerendo a prisão.
4 – Expedição de ofício ao empregador (art. 529)
5 – Condenação aos honorários e custas
Assalariado, funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa

O juiz oficiará a autoridade, empresa ou empregador para que proceda o desconto


sob pena de crime de desobediência.

O desconto pode chegar a 50% dos rendimentos líquidos se somado o débito das
parcelas vencidas e as que vierem a vencer.

Se o executado, atuar a fim de obstar o pagamento, juízo poderá intimar o MP para


apurar crime de abandono material art. 244 do CP.
Execução de título extrajudicial

Art. 911 NCPC. Na execução fundada em título executivo extrajudicial que contenha
obrigação alimentar, o juiz mandará citar o executado para, em 3 (três) dias,
efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se
vencerem no seu curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.

Verifica-se aqui, a execução de alimentos fixados em título extrajudicial, qual seja,


escritura pública de divórcio, nos termos da Lei 11.441/07, que alterou alguns
dispositivos do Código de Processo Civil de 1973, possibilitando a realização de
inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via
administrativa.
OBRIGADO

Você também pode gostar