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ILDA BASSO (Org.

)
JOSÉ CARLOS RODRIGUES ROCHA (Org.)
MARILEIDE DIAS ESQUEDA (Org.)

II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO


LINGUAGENS EDUCATIVAS:
PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES NA ATUALIDADE

BAURU
2008
S6126 Simpósio Internacional de Educação (2. : 2008 : Bauru, SP)

Anais [recurso eletrônico] / 2. Simpósio Internacional de


Educação / Ilda Basso, José Carlos Rodrigues Rocha,
Marileide Dias Esqueda (organizadores). – Bauru, SP :
USC, 2008.

Simpósio realizado na USC, no mês de junho de 2008,


tendo como tema : Linguagens educativas – perspectivas
interdisciplinares na atualidade.
ISBN 978-85-99532-02-7.

1. Educação – simpósios. 2. Linguagens educativas. I.


Basso, Ilda. II. Rocha, José Carlos Rodrigues. III. Esqueda,
Marileide Dias. VI. Título.
CDD 370
ESCOLHA PROFISSIONAL: TAREFA COMPLEXA NA ADOLESCÊNCIA?

Anna Cecília Latanzio RODRIGUES


Aluna do 5o ano de Psicologia da USC – Universidade do Sagrado Coração – Bauru.

Silvana Nunes Garcia BORMIO


Doutora docente do curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração – Bauru.

Resumo

Escolher é um difícil passo do processo evolutivo da fase adolescente. Diante disso, estes
jovens passam por inúmeras escolhas, decisões e conquistas, nas quais fazem com que tenham
que despender inúmeros esforços para alcançá-las. As escolhas por eles vivenciadas auxiliam-
no no processo de individuação, pois desenvolvem sua personalidade e faz com que possa
estruturar e consolidar sua identidade. Assim, se faz necessária uma análise da percepção que
o adolescente tem em relação às tantas escolhas que este período do desenvolvimento exige,
na qual a escolha vocacional é uma vertente bastante importante. Desta forma, compreender
qual a concepção destes adolescentes diante das escolhas profissionais, quais seus sentimentos
diante disso, também os fatores que influenciam-no, as dificuldades que encontram e,
principalmente conjeturar suas perspectivas, mudanças e sonhos em relação ao seu futuro, são
aspectos muito importantes e fundamentais para quem almeja trabalhar no processo de
orientação profissional e/ou conhecer a respeito desta vasta e crescente área que tem sido
solicitada pela intensa necessidade de eleição das profissões na adolescência, idades bastante
questionada para a execução de tal tarefa. Em vista disso, compreender e analisar as
necessidades dos adolescentes frente à escolha profissional, acompanhando-os na resolução
de seus conflitos emocionais constitui o objetivo desta pesquisa. O atual estudo foi
concretizado com aplicação de um questionário semi-estruturado em 51 estudantes da terceira
série do ensino médio, pertencentes a escolas públicas e particulares, de ambos os sexos, em
idade entre 16 e 20 anos, que residem na cidade de Fartura, interior do estado de São Paulo.
Uma análise dos dados mostrou que: 100% dos adolescentes abordados pensam a respeito da
escolha de uma profissão; 100% dos participantes relataram que sentem necessidade do apoio
familiar neste período de escolha; 82,4% já receberam alguma informação sobre a
importância desta escolha e/ou foram estimulados a pensar sobre o assunto; 45% dos
adolescentes consideram esta ser a melhor fase para se fazer uma escolha profissional; que
64,8% dos participantes sentem-se angustiados por não saber se estarão fazendo a escolha
certa e 74,5% não se sentem pressionados para realizá-la. Além destes aspectos citados,
alguns critérios foram relevantes para a escolha da profissão, como: realização pessoal (92,2);
mercado de trabalho (88,2%); remuneração (80,4%); status da profissão (45,1%) e aprovação
familiar (33,3%). E, por fim, foi investigada a questão do projeto de vida que estes têm em
relação à área profissional, e verificou-se que 62,7% procuram satisfação pessoal e boa
condição financeira em relação à profissão escolhida.

Palavras-chave: Adolescente, Escolha Profissional, Diagnóstico.


Abstract

Choosing is a difficult step in the developmental process of adolescence. Therefore, these


youngsters have to make innumerable choices, decisions and achievements that cause them to
engage in a great number of efforts in order to accomplish them all. The choices these young
people make help them in the individualization process, since such choices develop their
personality and make them structure and consolidate their identity. For this reason, it is
necessary an analysis of the perception that the adolescent has towards so many choices that
this developmental period requires, in which the vocational choice is a very important source.
This way, both understanding the perception of these adolescents towards their choices
concerning a profession, as well as their feelings about this process and the circumstances that
influence them when facing difficulties and, most importantly, conjecturing their perspectives,
changes and dreams about the future are fundamental and very important for whom seeks to
work in the process of professional guidance, and/or to know about this vast and yet
increasing area that has been requested by the intense need of the choice of a profession
during adolescence, that is a period of life when there are high expectancies about the
accomplishment of such a task. Thus, understanding and analyzing the adolescents’ need
towards their choice of a profession while watching them on the resolution of their emotional
conflicts is the aim of this research. The current study was developed through the application
of a semi-structured questionnaire with 51 students in the last year of High School, in public
as well as private schools, of both sexes, with ages ranging from 16 to 20 years-old living in
Fartura, Sao Paulo State. An analysis of the data showed that 100% of the questioned
adolescents think about the choice of a profession; 100% of the participating students reported
that they feel the need for family support in this period of choices; 82,4% of them have
already received some information about the importance of this choice and/or have been
stimulated to think about it; 45% of these adolescents consider adolescence to be the best
period for making a choice involving a profession; 64,8% of the participating students feel
anguished for not knowing whether they are making the right choice and 74,5% of the
youngsters do not feel pressured to make such a choice. Besides the aspects presented, some
criteria were relevant for the choice of a profession, such as: personal fulfillment (92,2%), job
market (88,2%), remuneration (80,4%); status of the profession (45,1%) and family approval
(33,3%). Finally, the matter of a project of life that these adolescents have about the
professional area was investigated and the results showed that 62,7% look for personal
satisfaction and a good financial support related to the profession chosen.

Keywords: Adolescent, Choice of a Profession, Diagnostic.

Introdução

Escolher a futura ocupação é cargo inserido na fase adolescente. É o período em que o


jovem começa a se preocupar com seu futuro, passa a pensar nas escolhas que devem ser
feitas para que possa se realizar pessoalmente e começa a perceber a responsabilidade que é
assumir uma decisão. A preocupação é intensa em relação à necessidade de uma aprovação
social, pois a sociedade como um todo exige muito deste adolescente em relação a sua
perspectiva futura, principalmente no âmbito familiar, escolar e de amigos.
Diante disso, a idéia de vocação é um fator a ser descoberto, não é algo já instalado,
preestabelecido. Sendo assim, a identidade ocupacional está relacionada com um grupo de
fatores que influenciam fortemente a escolha profissional como meio social, grupo familiar e
as identificações pessoais. Dentro deste contexto, deve-se analisar a questão da afetividade
que o adolescente tem ao relacionar-se com as pessoas que desempenham os papéis sociais
como os parentes e amigos. (WEINBERG, 2001)
Ao investigar o processo de escolha profissional é necessário que se conheça a
respeito do seu sujeito, entretanto, percebe-se que tal processo visa principalmente a fase
adolescente, a qual é uma etapa do desenvolvimento que transita entre a infância e a vida
adulta, e dentro deste período, passa-se por intensos processos de mudanças físicas, psíquicas
e sociais. Desta forma, pode-se pontuar que estas mudanças são muitas vezes compreendidas
pelas tarefas evolutivas (a qual a escolha profissional é uma destas) que devem ser cumpridas
durante esta fase e como Levenfus (2001) ressalta, tais tarefas são resultados de um intenso
processo que se inicia na infância e se modifica de acordo com o desenvolvimento da
personalidade.
Escolher uma profissão é entender que está ocorrendo o desenvolvimento da
personalidade e sua integração. Espera-se, desta forma, que uma identidade profissional esteja
estabelecida no final desta fase da adolescência, pois tal construção e consolidação desta
identidade são um dos fatos que marcam sua passagem pela fase.
Segundo Weinberg et al. (2001), atualmente a sociedade está crédula de que a escolha
profissional é algo angustiante, terrível e difícil que se torna um sofrimento para o adolescente
e sua família.
Entretanto, segundo Levenfus (2001) a escolha profissional leva o adolescente à
construção de sua própria identidade, porém isto só poderá ocorrer se este indivíduo tiver
realizado o processo de separação-individuação (composto por 4 subfases: diferenciação
acontece quando o bebê realiza recordações de idas e vindas da mãe, e experimenta situações
boas e más, neste período o bebê tenta compará-la aos outros, quando este bebê se individua
ele consegue perceber a mãe tátil e visual , conseqüentemente passa a reconhecer o mundo;
exploração, caracterizado pela capacidade da criança separar-se da mãe fisicamente, passa
então a se preocupar-se com suas funções autônomas, porém necessita da mãe como ponto
estável para suprir, assim, suas necessidades emocionais; reaproximação, antes a criança
apresentava desinteresse pela mãe, agora quer compartilhar suas conquistas, nesta subfase
ocorre o medo da criança de perder o amor do objeto (mãe), é neste momento que inicia o uso
do pronome pessoal “eu”; e individuação, caracteriza-se pela consolidação desta através do
inicio da constância emocional do objeto e do sujeito, tal constância se dá pela internalização
gradual de uma imagem interna constante da mãe, desta forma, a criança deverá ter adquirido
um sentido de identidade estável e uma consolidação primitiva da identidade sexual) de
maneira completa. Caso isto não tenha acontecido, este adolescente apresentar-se-á mais
confuso e indeciso na escolha vocacional do que normalmente encontramos neste período de
escolha.
Diante dos construtos de Levenfus (2001), a individuação na adolescência deve ser o
último passo a uma construção de identidade, porém possuem ainda uma precária identidade.
Desta forma, Levenfus (2001) pode-se observar como o adolescente confronta suas
idéias com a família o que é chamado de “conflito de gerações”, para que possa ocorrer um
processo discriminatório. Contudo, identifica-se isto na escolha profissional quando o
adolescente rejeita a todo tipo de profissão que tenha sido apresentada pelos familiares,
mostrando-se ansioso pelo fato de se sentir influenciado por tais.

Contrapondo-se aos desejos e expectativas de seus pais, o adolescente busca se


definir e aos seus objetivos. Esse mecanismo de oposição, próprio do momento que
vivencia, muitas vezes erroneamente confundido com a idéia de que o adolescente
está repudiando o sistema de valores dos pais e apresentando um quebra no processo
identificatório com os mesmos. Pelo contrário, é precisamente porque o sistema de
valores parentais permanece consideravelmente intacto e valorizado que o jovem
apresenta conflitos. (LEVENFUS, 2001, p.101)

Weinberg et al. (2001) relata também que neste período de escolha profissional seria
interessante a relação entre pais e filhos para que o adolescente possa suportar as ansiedades
desse período de intensa “turbulência” e que conseqüentemente provoca várias dúvidas.
Segundo Levenfus (2001), quando ocorre a consolidação da identidade do jovem, este
já consegue apreciar seus pais em conteúdos mais realistas, pois “uma vez internalizada as
figuras parentais não há necessidade dos pais como objetos primordiais para sua sustentação e
direcionamento” (LIDZ 1973 apud LEVENFUS, 2001, p.106). Quando incorporado às formas
parentais à identidade do adolescente, o superego e suas regras se tornam menos importantes.
As imposições paternas podem ser seguidas sob a visão de que foram incorporadas, por
identificação, no sistema ético e não mais por medo da desaprovação.
Desta forma, pode-se entender a identidade ocupacional, que seria, então, sua decisão
a respeito do seu fazer profissional e isto requer muito esforço, desafios, envolvimento
humano em busca de sua totalidade.
Considera-se que o desenvolvimento dos indivíduos acontece por meio das
identificações que ocorrem durante todo esse processo, a partir das imitações, modelos
apresentados que proporcionará um ideal de realização, um ideal de ego.

Assim como os fenômenos sociais, o mesmo é verdadeiro com respeito os ser


individual que, simultaneamente, exterioriza o seu ser no mundo social e interioriza
o mundo como uma realidade objetiva. Enquanto participante da dialética da
sociedade, os autores dizem que o indivíduo não nasce membro da sociedade, mas
sim, nasce com uma predisposição para a sociabilidade, tornando-se membro dela.
(LEVENFUS, 2001, p. 113)

Segundo Weinberg et al. (2001), a sociedade enfoca com intensidade apenas o futuro,
esquecendo-se, do passado e sem direcionar ao presente do adolescente. Diante destes fatos, o
adolescente vivendo todos estes conflitos se angustia, seus sofrimentos se intensificam, pois
têm que se adequar a uma sociedade impositiva, a qual não compreende as diferenças e os
sofrimentos individuais.
Entretanto, compreende-se que dúvidas e angustias são absolutamente normais e
comuns a todos, inclusive neste período em que o adolescente passa por situações de escolhas
relativas à área profissional. Desta forma, isto retrata uma fase de amadurecimento psíquico.
(WEINBERG, 2001)
Portanto, diante de toda a necessidade de perceber a visão dos adolescentes referente à
escolha profissional nesta fase do desenvolvimento, pode-se perceber, segundo Weinberg et
al. (2001) que se destaca a questão da inquietude, a curiosidade, a criatividade e a
espontaneidade. Sendo assim tais características serão adequadas se canalizados para
situações criativas e não somente para rotulações, modas e modismos. Isso só poderá ser
visto se houver uma apresentação do mundo ao adolescente, porém esse mundo é ele próprio,
seu desejo e sua personalidade, desta forma, colocando sua personalidade. Esta forma de
conhecimento de si próprio por parte dos adolescentes auxiliará muito na escolha profissional.
Assim sendo, este processo de escolha profissional, suas dificuldade perante as
dúvidas relacionadas a estas questões não se refere somente à culpa dos pais ou da cultura,
mas a questão primordial é abrir espaço psíquico para pensar em uma identidade profissional.
Sendo assim, há uma necessidade extrema em ouvir os jovens em suas dificuldades, desejos,
mas para que isso aconteça é necessário que ele se conheça psiquicamente.

Uma boa escolha profissional deve ser menos idealizada, proporcionando uma
situação possível de ser alcançada. Todos possuem limites, mas também possuem
muitos recursos psíquicos próprios. A vida não se resume somente a uma identidade
profissional. (Weinberg, 2001, p. 198)
Desta forma, por meio do presente estudo busca-se pesquisar sobre a compreensão que
os adolescentes têm da adolescência como etapa do processo evolutivo bem como conhecer
seus posicionamentos diante de vários fatores que influenciam na escolha profissional e
apresentar a visão de futuro que estes têm perante tantas mudanças, dificuldades e angústias.
Pretende-se, então, compreender os sentimentos dos adolescentes diante da escolha
profissional, identificar quais as influências sofridas por tais dentro deste contexto, suas
atitudes diante das dificuldades que estes sofrem de toda a sociedade, familiares e amigos,
além de abranger neste contexto suas perspectivas futuras.

Método

Participantes
Foram utilizados para o desenvolvimento desta pesquisa 51 adolescentes, que se
encontram na 3º série do Ensino Médio, com idades entre 16 e 20 anos (Média = 16,74), no
qual 53% dos participantes é do sexo feminino e 47%do sexo masculino. Desta forma 53%
pertencem à escola particular e 47% são de escolas públicas da cidade de Fartura, interior do
estado de São Paulo.

Instrumento
Nesta pesquisa foi utilizado um questionário semi-estruturado, com 14 questões,
abertas e fechadas, referente à visão do adolescente diante da escolha profissional e suas
perspectivas futuras.

Procedimento
O questionário foi entregue aos adolescentes e respondidos por tal no ambiente de sala
de aula, com data e horários agendados com a escola. Foi entregue aos participantes pela
própria pesquisadora e explicado a estes o objetivo do mesmo. Desta forma, após a coleta de
dados, foi feita uma análise dos resultados obtidos e, em seguida, discutidos de forma a
estabelecer uma melhor confirmação e compreensão destes. Tal questionário foi realizado
após comunicação antecedente com a escola.
Resultados e Discussão

Segundo Chiappin (1974) todo ser humano deseja se conquistar a cada dia como um
apelo a uma voz gritante de natureza íntima, sob a necessidade de que aflore seus conteúdos
pessoais e a grande forma de conquistar verdadeiramente o mundo ao seu redor e além de si
numa classe de valores eficazes.
Sendo assim, neste estudo, pode-se verificar a visão dos adolescentes diante da
escolha profissional relacionando o desenvolvimento vocacional, os sofrimentos, angústias,
influências familiares, pressões sofridas e os critérios que estes utilizam para realizar a
escolha buscando obter seu projeto de vida, desta forma, identificando suas perspectivas
futuras neste período de escolha profissional.
Desta forma, pode-se verificar neste estudo que 100% dos adolescentes que
participaram da pesquisa pensam sobre a escolha profissional (Gráfico 1). Sendo assim,
Weinberg et al. (2001) relata que atualmente, grande parte dos adolescentes, mesmo
possuindo indecisões a respeito de qual escolha é mais adequada ao seu perfil, já se
encontram informados sobre os diversos cursos e universidades. Desta forma, existe uma
necessidade de ajudá-los na decisão, porém já pensaram a respeito do assunto (escolha
profissional).
Outro ponto que deve ser destacado é a questão de que 17,6% relataram não terem
sido estimulados pela família a pensar a respeito da escolha profissional, enquanto que, 82,4%
dos adolescentes foram estimulados (Gráfico 2). Sendo que destes, 76,5% foram estimulados
pelos familiares, 17,6% pelos amigos, 33,3% obtiveram estímulo da escola e 1,7% tiveram
estímulo próprio.

GRÁFICO 1 – Escolha Profissional GRÁFICO 2 - Estímulo da família

100
100

80 80

60 60
Porcentagem Porcentagem
40 40

20 20

0 0
P ens am s o bre a es co lha profis s io nal
Estimulados a pensar Não estimulados a pensar
Resposta dos participantes
Resposta dos participantes

Segundo Santos (2005), a família é considerada importante no momento da escolha,


no entanto, o adolescente não pondera sua decisão apenas nos familiares. Ele sofre influências
também dos pares, que são os "outros" significativos na sua vida. Este dado apresentado na
pesquisa pode mostrar a influência que os pais têm na escolha profissional dos filhos. Dentro
deste contexto verificou-se também que os adolescentes sentem necessidade do apoio familiar
neste período de escolha, 100% dos participantes relataram esta necessidade (Gráfico 3). Isso
pode ser confirmado por Santos (2005, p. 7) o qual relata que “não importa o que o
adolescente planeje, é na família que ele tende a buscar o primeiro apoio”.
Segundo Santos (2005), os sentimentos e opiniões determinados pela família, muitas
vezes acontecem de forma conflitante e parece influenciar no processo decisório destes
adolescentes que estão em período de escolha profissional.
Porém, dentro deste contexto, um dado foi relevante na pesquisa, pois apesar desta
acusar a influência dos pais em relação ao estímulo e à necessidade de apoio, em relação aos
critérios que estes irão considerar para a decisão final. Sendo assim, 33,3% dos participantes
consideram importante à aprovação familiar neste momento de escolha e 66,07% acreditam
que está não deva ser levada em consideração, pois esta decisão cabe somente a pessoa
(Gráfico 4).

GRÁFICO 3 – Apoio familiar GRÁFICO 4 – Importância da aprovação social

100
100
80
80
60 60
Porcentagem Porcentagem
40 40

20 20
0 0
Necessidade de apoio familiar Neces s ita de aprovação Não neces s ita de aprovaçao
familiar familiar
Resposta dos participantes Respostas dos participantes

Sendo assim, um fator que deve ser levado em consideração e o qual é importante
compreendê-lo é a questão que envolve as preocupações vividas por tais adolescentes neste
período. Desta forma, 80,4% dos adolescentes que participaram da pesquisa responderam que
sua maior preocupação é de escolher uma profissão que não atenda às suas expectativas.
Entretanto, 9,8% destes responderam que as satisfações pessoais, profissionais e financeiras é
o que mais os preocupam, 6% relataram que não possuem preocupação em relação à escolha
profissional e 1,9% responderam que ser um bom profissional é o que mais preocupa e 1,9 %
não responderam a questão (Gráfico 5).
GRÁFICO 5 – Preocupação sobre a escolha profissional

100

80

60
Porcentagem
40

20

0
P ro fis s ã o que nã o S a tis fa ç ã o pe s s o a l Nã o pre o c upa m -s e S e r um bo m
a te nda da a s c o m a e s c o lha pro fis s io na l
e xpe c ta tiva s

Resposta dos participantes

Desta forma, para uma melhor compreensão dos dados apresentados é importante
relatar que diante de uma decisão adotada, a mudança de orientação vai se tornando mais
difícil. Desta forma, os adolescentes sentem a mudança como algo inconveniente, que causa
danos, atrasos, perda de tempo, pois poderiam já estar seguindo outro caminho. (Levenfus et
al., 2002)

Existe uma tendência nos jovens a idealizar a profissão que querem seguir. Eles se
imaginam em uma profissão perfeita, ideal, que responderá a todas as suas
aspirações e sobre o qual poderão projetar seus sonhos (Soares-Lucchiari, 1997b).
Imaginam, muitas vezes, que, se não encontrarem a profissão ideal, ficarão perdidos
para sempre. Costumam descrever seus sentimentos como se só houvesse no mundo
uma profissão que satisfizesse cada pessoa e teme não encontrar essa uma, única,
que lhes confere. (LEVENFUS et al., 2002, p.64)

Levenfus et al. (2002) relatam que diante de toda esta situação se apresentam
apavorados diante da necessidade de escolher a profissão errada. E isto pode se constatado
nesta pesquisa de forma explicita, diante da grande porcentagem apresentado pelos
participantes.
Outra questão que foi de grande importância para os pesquisadores está relacionada a
opinião dos adolescentes pesquisados a respeito da necessidade de se fazer uma escolha nesta
fase de seu desenvolvimento. A análise dos dados mostra que 45% dos participantes
consideram esta ser a melhor fase para se fazer uma escolha profissional, 27,8% dos
adolescentes consideram ainda imaturos para realizar este processo, 11,6% relataram que é
necessário muita cautela para realizar tal escolha, 7,8% responderam que é muito difícil e
complicado realizar escolhas nesta fase que encontram, 5,9% não responderam a questão e
1,9% acham importante realizar a escolha nesta fase, pois precisam ajudar financeiramente a
família, assim, necessitam fazer a escolha o mais breve possível (Gráfico 6).
GRÁFICO 6 – Necessidade de fazer escolha na adolescência
100

80

60
Porcentagem
40

20

0
M elho r fas e p ara Imaturid ad e Cautela Difícil e Não rep o nd eram Ajud ar
es co lher co mp licad o financeiramente a
família

Respostas dos participantes

Um dado surpreendente foi o fato de que a maioria dos participantes relatou ser esta a
melhor fase para que ocorra a escolha profissional. Sendo assim, para que possa ser entendido
esse dado, pode-se perceber que para ocorrer uma escolha ajustada é necessário que o
indivíduo tenha “capacidade de adequação, interpretação e juízo da realidade, de
discriminação, de hierarquização dos objetos e, em especial capacidade para esclarecer a
ambigüidade e tolerar a ambivalência nas relações de objeto”.(LEVENFUS et al., 2002, p.64)
Dentro deste contexto analisado, foi averiguado também o sentimento que o
adolescente tem relacionado a “pressão” que estes poderiam sofrer durante esta fase de
escolha profissional. Foi encontrado, de acordo com a análise dos dados, que 74,5% dos
participantes não sofrem nenhum tipo de “pressão”, já 25,5% sofrem alguma forma de
pressão. Dentre estes que sofrem “pressão” 79,9% se sentem pressionados pelos pais, 15,4%
sofrem “pressão” de si próprios, 15,4% sentem pressionados pela escola, 7,7% sofrem
“pressão” de amigos e 7,7% sofrem “pressão” de todos (Gráfico 7).
A análise dos dados trouxe uma variante significativa para os estudos, pois a
porcentagem pode mostrar que a maioria dos adolescentes pesquisados não sofre nenhuma
forma de “pressão”, nem mesmo escolar e/ou familiar. Entretanto, pode-se perceber que
dentro dos participantes que sofrem “pressões”, a grande maioria é exercida pelos pais, sendo
assim, Levenfus et al. (2002) apresenta algumas posturas utilizadas pelos pais de
adolescentes, as quais favorecem a idéia de que estes “pressionam” seus filhos diante desta
situação explicitada, como por exemplo: quando estes adolescentes se encontram no último
ano do Ensino Médio, passa a cobrá-los em relação a sua escolha profissional, exigindo que
estes passem no vestibular e ainda apresentem uma escolha consciente, devido o tempo ocioso
que possuem.
Sendo assim, estas atitudes têm reforçado a situação de “pressão” imposta por pais,
professores entre outros que abusam de poderes, sem pensar que muitas vezes prejudicam os
adolescentes, causando intensos sofrimentos para estes. Porém a pesquisa demonstrou que
estas atitudes podem estar mudando dentro do contexto atual. Demonstram estar havendo uma
conscientização por parte destes indivíduos, os quais têm transformado a forma de expressar,
não inferindo acentuadamente nos pensamentos destes adolescentes.
Um outro assunto é relevante dentro desta pesquisa, à questão relacionada aos critérios
utilizados pelas adolescentes para que ocorra uma escolha de profissão que mais se aproxima
da adequada ao seu perfil.
Assim, no âmbito da remuneração foi apresentado pelos participantes que 80,4% têm
como critério para a escolha da profissão o aspecto financeiro que esta proporcionará, 19,6%
não considera este um critério relevante (Gráfico 8).

GRÁFICO 7 – “Pressão” vivenciada pelos adolescentes GRÁFICO 8 – Remuneração

100
100
80
80
60
60 Porcentagem
Porcentagem 40
40
20 20

0 0
Remuneraçao Não considera
Não sofrem pressão Sofrem pressão remuneração
Respostas dos participantes Respostas dos participantes

Isto pode ser analisado quando Levenfus et al. (2002) pontua que a situação
socioeconômica das famílias tem interferido diretamente na escolha profissional do
adolescente em razão de possibilitar maiores ou menores condições educacionais. Pois, se for
analisada a preocupação de um adolescente de classe alta, este pensará mais em realização
pessoal do que se o curso escolhido proporcionará uma boa renda. Em contrapartida, os
indivíduos de classe média têm seu pensamento voltado para a realização pessoal, mas
também em relação à questão financeira.
Contudo, outro aspecto também deve ser observado, a questão da realização pessoal,
que pode estabelecer relação com o ponto citado anteriormente. Esta situação pode ser
visualizada pelos participantes da pesquisa através da análise dos dados que demonstrou que
92,2% ressaltaram este item como um importante critério e 7,8% não consideraram este
aspecto como algo a ser de grande influência na escolha (Gráfico 9).
Isto demonstra um índice muito bom, pois este aspecto é caracterizado como de
grande importância para que possam ser conquistados muitos outros objetivos. Pode-se
perceber a ligação direta com a questão da remuneração, ou seja, quando se tem uma
realização pessoal na profissão escolhida, muitas vezes o aspecto financeiro vem como
conseqüência da satisfação pelo trabalho exercido.
O status da profissão (valorização social) foi um fator colocado pelos participantes de
forma a considerar que 45,1% apontam este critério como relevante, já 54,9% não apontou
este fator (Gráfico 10).

GRÁFICO 9 - Realização Pessoal GRÁFICO 10 – Status da Profissão

100 100

80 80

60 60
Porcentagem Porcentagem
40 40
20 20
0 0
Realização pes s oal Não realização pes s oal Status profis s ão Não s tatus da pro fis s ão
Respostas dos participantes Respostas dos participantes

Este dado pode ser reflexo de uma sociedade que promove pessoalmente indivíduos
que realizam determinado curso e não valorizam a questão de satisfação pessoal que este
profissional terá.
Também outro fator de destaque é o mercado de trabalho, onde 90,2% dos
participantes consideram este critério importante na escolha da profissão, e 9,8 não
consideraram como fator relevante para tal. Sendo assim, Levenfus et al. (2002) considera
importante a questão do mercado de trabalho, porém considera que a escolha não deve ser
realizada de forma a focar este item como único a ser destacado, pois a escolha é um processo
que envolve diversos fatores em um conjunto.
Há ainda a questão relacionada às angustias que estes jovens têm em relação à escolha
profissional. Pode ser verificado que 64,8% dos participantes sentem-se angustiados por não
saber se estarão fazendo a escolha certa, 7,9% consideram, neste ponto, a questão da
realização pessoal, 5,9% relatam angustiar-se pela questão da concorrência no mercado de
trabalho, 5,9% não se angustiam em relação a esta questão, 3,9% consideram o desemprego a
situação mais angustiante neste período de escolha, 3,9% relataram ser a dificuldade de passar
no vestibular, 1,9% relatam que a angústia maior é não conseguir pagar o curso, 1,9%
consideram que ficar longe da família é a situação pior, 1,9% consideram que a maior
angustia é a família não apoiar a profissão escolhida e 1,9% não responderam a questão
(Gráfico 11).
GRÁFICO 11 - Angústias vivenciadas

100

80

60
Porcentagem
40

20

0
Es colha cer ta Realização Mer cado de Não se angustia Desempr ego Ves tibular Cus to do cur s o Longe da Não apoio Não
pessoal tr abalho f amília f amiliar r es ponder am

Respostas dos participantes

Segundo Barreto e Aiello-Vaisberg (2007) o trabalho é uma situação dotada de intensa


complexidade. Mesmo assim, considera-se este uma conduta humana que vem juntamente
com transformações perceptíveis na vida atual e, conseqüentemente, vem ocorrendo fortes
modificações no decorrer do último século. Desta forma, sendo a escolha profissional uma
conduta humana, compreende-se o fato de que o mesmo que aplica às condutas, aplica-se às
escolhas. E isto ocorre por conta de uma mostra vincular, o que a torna essencialmente ligada
às condições sólidas da existência destes adolescentes. Desta forma, analisa que o
desemprego, as questões de realização pessoal estão intrinsecamente ligadas a este fator. Pois
são situações de grande conflito dentro da sociedade vigente.
E, por fim, foi investigada a questão do projeto de vida que estes têm em relação à
área profissional. Sendo assim, 62,7% procuram satisfação pessoal e boas condições
financeiras em relação à profissão escolhida, 21,6% pretendem alcançar seus objetivos através
de sua escolha, 9,8% não respondeu a questão e 5,9% não sabe o que espera de seu futuro,
relacionado à escolha profissional (Gráfico 12).
GRÁFICO 12 – Projeto de vida

100
80
60
Porcentagem
40
20
0
Satisfação Alcançar Não Não sabem
pessoal e objetivos reponderam
cond.
Financeira

Respostas dos participantes

Desta forma, como relata Levenfus et al. (2002), que através de uma escolha ajustada
o adolescente consegue unir seus desejos e as oportunidades que virão, gerando assim
satisfação pessoal, condições de crescimento, entre outros fatores que acarretam a carreira
escolhida. Desta forma um ser humano que busca se realizar profissionalmente consegue
atingir seus objetivos e se adequar de forma ética na sociedade em que vive.
Assim sendo, pode-se concluir diante dos dados apresentados nesta pesquisa que os
adolescentes têm vivenciado inúmeras dificuldades pessoais, familiares e sociais devido à
necessidade de uma escolha profissional nesta fase do desenvolvimento que se encontra.
Portanto, percebe-se que tal tarefa, de escolha profissional, dificulta na forma de viver destes
jovens que possuem, além desta, muitas outras tarefas ainda a serem cumpridas nesta etapa da
vida. Entretanto, deve ter consciência de que esta escolha seja consolidada por meio de uma
satisfação laboral e pessoal, já que tal trajetória deverá ser realizada por estes adolescentes na
sociedade como um todo, de forma que compreenda que será este seu papel social.

Referências

BARRETO, Maria Auxiliadora; AIELLO-VAISBERG, Tania. Escolha profissional e


dramática do viver adolescente. Psicol. Soc., Porto Alegre, v. 19, n. 1, 2007. Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822007000100015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 11 Jun 2007. Pré-publicação.

CHIAPPIN, A. Realização Humana Vocacional e Profissional. Porto Alegre: Sulina, 1974

GONÇALVES, C. M. A Influência da família no desenvolvimento vocacional de


adolescentes e jovens. Disponível em: <
http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0122&area=d7&subarea=>.
Acesso em: 13 jun 2007.

LEVENFUS, R. Psicodinâmica da escolha profissional. Porto Alegre: Artmed, 2001.


LEVENFUS, R et al. Orientação Vocacional Ocupacional: novos achados teóricos, técnicos
e instrumentais para a clínica, a escola e a empresa. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SANTOS, L. M. M. O papel da família e dos pares na escolha profissional. Psicol. estud.,


Maringá, v. 10, n. 1, 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
73722005000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 28 Nov 2006. doi: 10.1590/S1413-
73722005000100008.

WEINBERG, (org). Geração delivery = Cybele. São Paulo: Sá editora, 2001.

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