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Ensaio Sobre o Pensamento Constitucional Brasileiro
Ensaio Sobre o Pensamento Constitucional Brasileiro
___________________________________________________________
Introdução
Este trabalho tem por objetivo, fazer uma análise de uma forma
superficial sobre o pensamento constitucional brasileiro, colocando-se as
opiniões dos pensadores e doutrinadores, que de alguma forma influenciam na
sua compreensão e que discutem se efetivamente possuímos ou não um
pensamento constitucional em construção.
1
BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (o triunfo
tardio do direito constitucional no Brasil). 2017. Disponível:
http://www.luisrobertobarroso.com.br. Acesso em: 25 out. 2019.
geração. Uma Constituição não é só técnica. Tem de haver,
por trás dela, a capacidade de simbolizar conquistas e de
mobilizar o imaginário das pessoas para novos avanços. O
surgimento de um sentimento constitucional no País é algo que
merece ser celebrado. Trata-se de um sentimento ainda tímido,
mas real e sincero, de maior respeito pela Lei Maior, a despeito
da volubilidade de seu texto. É um grande progresso.
Superamos a crônica indiferença que, historicamente, se
manteve em relação à Constituição. E, para os que sabem, é a
indiferença, não o ódio, o contrário do amor.
Já dizia nosso maior jurista Rui Barbosa3em sua grade obra “Oração aos
Moços”, dizer esse, que trazendo-o a nossa época, encaixa-se como uma luva
aos nossos estudos do direito constitucional brasileiro e a maior efetividade de
nossa grandiosa constituição, ultrapassando as barreiras de qualquer tempo,
sendo atualíssimo em qualquer época:
2
LYNCH, Christian Edward Cyril et MENDONÇA, José Vicente Santos de. Por uma história
constitucional brasileira: uma crítica pontual à doutrina da efetividade. Ver. Direito e Práx., Rio
de Janeiro, Vol. 08, n. 2, 2017, p. 974-1007.
3
BARBOSA, Rui. Oração aos Moços. Edições Casa de Rui Barbosa. Rio de Janeiro. 1999. p.
37.
Mais de trinta e um anos se passaram desde a promulgação de nossa
Constituição, muito esta sendo estudado sobre os direitos nela previstos,
muitas divergências de interpretação estão vindo a tona, consensos são
poucos, interpretações contrarias são muitas, por vezes calcados em
interesses estranhos aos interesse da sociedade, interesses de poucos em
detrimento de muitos. Nossa Constituição não é apenas um amontoado de
artigos expressos em folha de papel, é sim, a aspiração de todo um povo pela
preservação de seus direitos fundamentais e necessários para a base de uma
sociedade sólida e consistente, fundada num verdadeiro estado de direitos. 4
Muito se tem discutido no Brasil, como país periférico que lhe intitulam,
se possuímos ou não um pensamento constitucional genuíno, ou, se
simplesmente, usurparmo-nos de “teorias constitucionais” prolatadas nos
países ditos “cêntricos” e importadas por juristas e doutrinadores, que pelo
sentimento de inferioridade que sempre assolou-nos em todos os campos do
conhecimento, como um adjetivo intrínseco tomado de forma perpetua, somos
4
Espindola, Ruy.Samuel. Princípios Constitucionais e Democracia. Habitus Editora. 2019. pp.
145-146. “A constituição há muito deixou de ser entendida como mero documento de belas e
boas intenções políticas; carta de exortações morais aos poderes públicos; apostila de
recomendações aos gestores da coisa pública; epístola de aspirações realizáveis ao sabor das
contingências do momento político, e do fígado dos ocupantes temporais do poder. Há muito
morreu a idéia de carta política sem força de direito. Também, a idéia da Constituição como um
instrumento de governo, insensível às políticas públicas sociais, e só envolvida com a proteção
da liberdade individual e as garantias de cada individuo, já se tornou opinião da história das
idéias político-constitucionais do limiar do século passado.”
apenas repetidores de idéias e pensamentos, como se não tivéssemos uma
identidade própria, mas tivéssemos algo criado para nós e aceito por
unanimidade. Nas palavras de Christian Lynch explicito está essa condição
perversa:
5
.LYNCH, Christian Edward Cyril. Por que pensamento e não teoria? A imaginação
políticosocial brasileira e o fantasma da condição periférica (1880-1970). Dados Revista de
Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 56, n. 4, p. 758, 2013.
6
BONAVIDES, Paulo. A evolução constitucional do Brasil. Conferência feita pelo autor na
Academia Piauense de Letras em 27 de julho de 2000. Estudos Avançados 14 (40), p.156.
idéias de pensamento constitucional em detrimento de algo mais concreto, ou
até algo que mais se assemelhasse a uma breve teoria:
Luiz Roberto Barroso7 nos traz que, pelo fato de nossa Constituição ser
recente, em relação a países que há muito consolidaram seu direito
constitucional, a doutrina e a jurisprudência ainda não passaram da fase da
juventude e muito ainda há para se consolidar:
7
BARROSO, Luiz Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O triunfo
tardio do direito constitucional no Brasil). Disponível em
http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/uploads/2017/09/. Acesso em 25 out. 2019.
concebidos alhures, e se esforçar para viver a vida dos outros.
O sincretismo – desde que consciente e coerente – resulta
sendo inevitável e desejável.
Já, Virgílio Afonso do Silva8 sustenta que é possível uma teoria brasileira
do Direito Constitucional, desde que coloque-se em primeiro lugar a realidade
brasileira, frente a sua evolução e sua história político-social-econômica9:
8
SILVA, Virgílio Afonso da. Interpretação constitucional, São Paulo: Malheiros, 2005:
9
No vislumbre de termos um pensamento constitucional totalmente importado de culturas tão
diversas da brasileira, Virgílo Afonso da Silva traz que não é difícil perceber que a doutrina
jurídica recebe de forma muitas vezes pouco ponderada as teorias desenvolvidas no exterior.
E, nesse cenário, a doutrina alemã parece gozar de uma posição privilegiada, já que, por
razões desconhecidas, tudo o que é produzido na literatura jurídica germânica parece ser
encarado como revestido de uma aura de cientificidade e verdade indiscutíveis. v. Virggílo
Afonso da Silva. p.116.
preposições, e quem sabe assim poderemos chegar a um esboço de uma
teoria constitucional brasileira.
Mas como chegar a um modelo teórico que realmente nos tire da esteira
do pensamento singular de direito constitucional e que “desse um pontapé
inicial” ao delineamento de uma cultura constitucional mais concreta e
10
BARROSO, Luiz Roberto e BARCELLOS, Ana Paula de. O Começo da História. A nova
interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. Disponível em:
http://www.camara.rj.gov.br/setores/proc/revistaproc/revproc2003/arti_histdirbras.pdf
tupiniquim? Como se constrói uma teoria constitucional num país periférico?
Pergunta essa de difícil resposta. Christian Lynch11 faz uma pequena reflexão
sobre essa questão discorrendo sobre o pensamento político brasileiro o qual
compatibiliza-se perfeitamente sobre o pensamento constitucional brasileiro:
11
LYNCH, Christian Edward Cyril. Op. cit. pp. 759-760.
12
Thomaz Henrique Junqueira de Andrade Pereira “Apenas uma teoria
constitucional que leve a sério as especificidades históricas, políticas e
institucionais brasileiras, conjugando teoria política, ciência política, história e
direito, pode responder adequadamente essas perguntas."
12
PEREIRA,Thomaz Henrique Junqueira de Andrade. É fundamental desenvolver teoria
constitucional realmente brasileira. Revista Consultor Jurídico. 2017.
13
v. BARROSO e BARCELLOS: A Constituição de 1988 tem sido valiosa aliada do processo
histórico de superação da ilegitimidade renitente do poder político, da atávica falta de
efetividade das normas constitucionais e da crônica instabilidade institucional brasileira. Sua
interpretação criativa, mas comprometida com a boa dogmática jurídica, tem se beneficiado de
uma teoria constitucional de qualidade e progressista. No Brasil, o discurso jurídico, para
desfrutar de legitimidade histórica, precisa ter compromisso com a transformação das
estruturas, a emancipação das pessoas, a tolerância política e o avanço social.
14
v. BARROSO et Barcellos: “Efetividade significa a realização do Direito, a atuação prática da
norma, fazendo prevalecer no mundo dos fatos os valores e interesses por ela tutelado.”
15
___________: A Constituição de 1988 foi o marco zero de um recomeço, da perspecti va de
uma nova história. Sem as velhas utopias, sem certezas ambiciosas, com o caminho a ser feito
ao andar. Mas com uma carga de esperança e um lastro de legitimidade sem precedentes,
desde que tudo começou. E uma novidade. Tardiamente, o povo ingressou na trajetória política
brasileira, como protagonista do processo, ao lado da velha aristocracia e da burguesia
emergente.
16
___________. “A experiência política e constitucional do Brasil, da independência até 1988, é
a melancólica história do desencontro de um país com sua gente e com seu destino. Quase
Em análise, sem se levar a efetivação a cabo da nossa constituição,
nunca teremos uma teoria constitucional ou um verdadeiro constitucionalismo,
mesmo que no limite de pensamento, que com o tempo, buscando-se a maior
efetividade dos direitos constitucionais, e os interpretes e doutrinadores usem
nossas raízes e nossa cultura, recheadas de historicidade de mais de 500 anos
de lutas e buscas pelos direitos individuais e coletivos, certamente o
estrangeirismo alienígena que tomou conta dos nossos entendimentos e
interpretações, será realocado para segundo plano.Segundo ainda Lynch e
Mendonça, “A história constitucional também ainda teria algo a dizer do ponto
de vista hermenêutico a distância crescente das constituições, em relação ao
tempo de sua edição, e a complexidade de sociedades, cada vez mais plurais,
enfraqueceram a vontade constituinte como fórmula de interpretação.”17
19
PEREIRA, Wingler Alves. O dilema do pensamento constitucional brasileiro: tupi or not tupi.
Rev. Direito & Práxis. Rio de Janeiro, Vol. 9, N. 1, 2018, p. 297-322
periferia, será possível, mais adiante, sugerir um método
alternativo de estudá-lo, apto a suprimir a distinção qualitativa
entre “teoria política” (“universal”–cêntrico–superior) e
“pensamento político” (“local”–periférico –inferior). Essa tarefa
passa, também, pela superação da consideração das “idéias
políticas” como dotadas de vida e lugar próprios, bem como de
sua indeclinável historicidade.20
Conclusão
20
v. LYNCH e MENDONÇA. Op. cit. p. 760
subjetiva de país periférico e começem a construir uma teoria constitucional
genuinamente latina e brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
LYNCH, Christian Edward Cyril et MENDONÇA, José Vicente Santos de. Por
uma história constitucional brasileira: uma crítica pontual à doutrina da
efetividade. Ver. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 08, n. 2, 2017, p. 974-
1007.