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Ricardo Alexandre

DIREITO TRIBUTÁRIO
14ª edição
ERRATA

No item 1.4.6 do Capítulo 1, o trecho onde se lê...

Nesse ponto, registra-se um detalhe muito importante. A competência para a criação das
contribuições do art. 149 é destinada exclusivamente à União. Entretanto, o § 1.º do mesmo
artigo traz uma exceção, nos seguintes termos:

“§ 1.º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão contribuição, cobrada de seus


servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40,
cuja alíquota não será inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da
União”.

Nessa linha de raciocínio, no concurso para o Ministério Público de Tocantins (2004), o


CESPE considerou correta uma assertiva que afirmava taxativamente que as contribuições
especiais “são de competência exclusiva da União, porém há exceção a essa regra”.
A atual redação do § 1.º do art. 149, dada pela EC 41/2003, fixa como piso para as
alíquotas das contribuições instituídas pelos Estados, pelos Municípios e pelo Distrito Federal
aquela cobrada pela União de seus servidores titulares de cargos efetivos. Além disso, o texto em
vigor dispõe que essas contribuições são destinadas unicamente ao custeio do regime
previdenciário dos servidores, diferentemente da redação antiga do dispositivo, que também
incluía o financiamento do sistema de assistência social, algo que não fazia muito sentido, uma
vez que sistemas assistenciais não possuem caráter contributivo (CF, art. 203).

... Deve ser substituído pelo seguinte texto:

Compete exclusivamente à União a criação das contribuições previstas no art. 149, caput,
da CF/1988, denominadas pela doutrina de “contribuições especiais”. Entretanto, o mesmo
artigo, em seu § 1º, excepciona da regra as contribuições previdenciárias dos servidores
públicos vinculados a regime próprio de previdência social, cuja instituição compete a cada
ente federado, da seguinte forma:

“§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei,


contribuições para custeio de regime próprio de previdência social, cobradas dos servidores
ativos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo
com o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões”.
A regra foi inicialmente inserida na Constituição por meio da EC 33/2001, mas recebeu
novos contornos com os adventos da EC 41/2003 e da EC 103/2019, esta última responsável
pela atual redação do dispositivo, cuja vigência, em cada ente, inicia-se a partir da data de
publicação de lei de iniciativa privativa do respectivo Poder Executivo que refere integralmente
a mudança.
Os detalhes da norma serão abordados no item 1.4.6.1.1. Por ora, importa ao estudo
apenas registrar a existência de uma exceção à competência exclusiva da União para a
instituição das contribuições especiais previstas no art. 149 da Constituição.

No item 1.4.6.1.1 do Capítulo 1, após o último parágrafo do texto, acrescentar os seguintes:

Dentre as contribuições de seguridade social, destacam-se as contribuições


previdenciárias dos servidores públicos vinculados a regimes próprios de previdência
social, que, conforme dispõe o § 1º do art. 149 da CF/1988, são instituídas pelos diversos entes
federados – e não exclusivamente pela União –, podendo ter alíquotas progressivas de acordo
com o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.
A disciplina anterior – dada pela EC 41/2003 e ainda vigente para os entes federados que
não tenham referendado, por lei, a mudança realizada pela EC 103/2019 – previa apenas que,
no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, as citadas contribuições deveriam
ter alíquota não inferior à da contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos da União.
Tal regra teve sua constitucionalidade contestada por aqueles que entendiam se tratar de
agressão à forma federativa de Estado (cláusula pétrea), haja vista a redução da autonomia dos
entes subnacionais, deixados a reboque de uma alíquota fixada pela União em atendimento às
suas necessidades específicas. O STF, contudo, enxergou na previsão uma importante proteção
ao equilíbrio financeiro e atuarial dos regimes próprios de previdência, relembrando, inclusive,
a existência de compensação entre os diversos regimes previdenciários, o que, diante do caráter
contributivo e solidário do sistema, exigiria uma certa uniformidade entre as contribuições
cobradas pelos diversos entes federados (ADI 3.138/DF).
Como o advento da EC 103/2019, o § 1º do art. 149 da CF/1988 deixou de considerar a
alíquota federal como a alíquota mínima nacional a ser adotada pelos regimes próprios de
previdência dos servidores públicos. Essa vinculação foi mantida pelo legislador constituinte
derivado apenas de forma parcial e em caráter transitório, até que entre em vigor lei
complementar instituidora de normas gerais de organização, de funcionamento e de
responsabilidade na gestão dos regimes próprios de previdência social, cuja edição está prevista
no art. 40, § 22, da CF/1988.
De acordo com o art. 9º, caput e § 1º, da EC 103/2009, até que sobrevenha a dita lei
complementar, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão continuar considerando
a alíquota federal como limite mínimo, somente podendo estabelecer alíquota inferior se
demonstrado que o respectivo regime próprio de previdência social não possui deficit atuarial
a ser equacionado, hipótese em que a alíquota adotada não poderá ser menor que as alíquotas
aplicáveis ao regime geral de previdência social (administrado pelo INSS), ao qual estão
vinculados os trabalhadores do setor privado e os servidores públicos ocupantes de cargos em
comissão.
No Brasil, são raros os casos de regimes próprios de previdência social que não possuem
deficit atuarial. Por essa razão, ao elaborar a EC 103/2009, o legislador constituinte derivado
preocupou-se em acrescentar ao art. 149 da CF/1988 a previsão de algumas medidas que podem
ser implementadas para a solução do problema.
Quando o regime previdenciário apresenta deficit atuarial, é preciso que, dentre as
providências adotadas, esteja o aumento da arrecadação de recursos. Para tanto, em tal
situação, o § 1º-A ao art. 149 da CF/1988, oriundo da citada emenda, permite que a
contribuição devida pelos aposentados e pensionistas incida sobre os proventos que superem
o salário-mínimo.
Em condições de normalidade, graças à imunidade parcial conferida pelo art. 40, § 18, da
CF/1988, a contribuição dos aposentados e pensionistas somente pode incidir sobre proventos
superiores ao limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social. Entretanto, num cenário de deficit atuarial, a própria Constituição
possibilita que a amplitude da imunidade seja reduzida, limitando-a ao equivalente a um
salário-mínimo. Por se tratar de medida que majora a carga tributária suportada pelo
contribuinte – através do aumento da base de cálculo do tributo –, deve ser veiculada por lei
em sentido formal (lei ordinária ou, em casos relevantes e urgentes, medida provisória), bem
como observar a regra da anterioridade nonagesimal prevista no art. 195, § 6º, da CF/1988.
Especificamente no caso da União, se o alargamento da base de cálculo da contribuição
ordinária dos aposentados e pensionistas se mostrar insuficiente para solucionar o problema,
os §§ 1ª-B e 1º-C do art. 149, também inseridos pela EC 103/2019, autorizam a implementação
de uma medida adicional. Nessa situação, é facultada à União a criação de uma contribuição
extraordinária, exigida dos seus servidores públicos ativos, dos aposentados e dos pensionistas,
a vigorar por período determinado, contado da data de sua instituição, que deve ser
acompanhada de outras medidas simultâneas para o equacionamento do deficit atuarial.
Apesar de serem distintos os conceitos de vigência e eficácia (ver item 3.3.1 do Capítulo 3),
o legislador constituinte derivado, ao dispor que a contribuição entra em vigor tão logo
instituída, provavelmente desejou dispensá-la de observar a anterioridade nonagesimal, de
modo a possibilitar a cobrança imediata pelo ente tributante. A intenção, contudo, não
sobrevive diante de uma análise sistemática da Constituição, já que, sendo a noventena
(corolário do princípio da não surpresa) uma garantia individual do contribuinte – e, portanto,
cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º) –, a criação de uma nova exceção representa uma diminuição
da garantia, o que não é possível nem mesmo por meio de emenda constitucional.
É oportuno o alerta de que a denominação “contribuição extraordinária” representa
simples contraponto à contribuição previdenciária usualmente recolhida pelos contribuintes,
dita “ordinária”. Não se trata, como alguns poderiam equivocadamente imaginar, de tributo
decorrente do exercício da competência extraordinária da União, que está exclusivamente
relacionada à criação de impostos extraordinários, na iminência ou no caso de guerra externa
(CF, art. 154, II).

O gabarito correto da Questão nº 3 do Capítulo 3 é a letra “D”.

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