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A Marinha em Revista chega a sua 12ª edição destacando uma importante


ação da Marinha do Brasil (MB) no campo dos recursos humanos: a
“Campanha da Capilaridade”. A ideia é apresentar a Força ao leitor, mostrando
as oportunidades de ingresso na carreira militar em todas as partes do País e

Editorial
para todos os níveis de escolaridade. O artigo do Comandante da Marinha,
Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, também trata do tema.
O entrevistado desta edição foi o Ministro da Defesa, Raul Jungmann, que
discorreu sobre a Proteção Social dos militares e relembrou as peculiaridades
da carreira nas Forças Armadas. O Ministro também destacou a importância
da “Amazônia Azul” para o desenvolvimento econômico e para a defesa do País.
A atuação da Marinha do Brasil nas águas interiores é outro tema abordado
pela revista. O texto mostra o papel fundamental da Marinha do Brasil no que
se refere à navegação de embarcações regionais, comboios luviais e à navegação
do pessoal ribeirinho.
Convido os leitores a conhecerem ainda a Operação Dragão. Desenvolvida a
partir de um conlito ictício, a “Dragão 38” contou com a participação de cerca
de 2.800 militares. Durante o exercício, que aconteceu entre os estados do Rio
de Janeiro e do Espírito Santo, as forças navais e de fuzileiros navais realizaram
uma operação anfíbia de alta complexidade.
Na editoria de Ciência, apresento o trabalho desenvolvido pelo Laboratório
Farmacêutico da Marinha e a construção da nova base brasileira na Antártica, a
Estação Antártica Comandante Ferraz.
As mulheres militares são tema de duas reportagens: a que registrou a
trajetória da primeira turma de aspirantes da Escola Naval, do ingresso à
formatura; e o peril da primeira combatente do Corpo de Fuzileiros Navais.
As bandas militares da MB e o intercâmbio realizado por alunos estrangeiros
na Escola Naval também estão presentes nesta edição. A seção de “Curiosidades
Navais” fecha a revista com a história de um guindaste datado do século XIX,
preservado e ainda em funcionamento no Comando do 2º Distrito Naval.
Convido todos a conhecerem um pouco mais sobre as atividades da
Marinha. Boa leitura!

Contra-Almirante Flávio Augusto Viana Rocha


Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 1


Marinha em Revista é um periódico da Marinha do Brasil, elaborado pelo Centro de
Comunicação Social da Marinha

Comandante da Marinha
Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira

Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Contra-Almirante Flávio Augusto Viana Rocha

Vice-Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão de Mar e Guerra Adriano Vieira

Chefe do Departamento de Produção e Divulgação do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão de Fragata Alessandro Barcellos Velasquez

Subchefe do Departamento de Produção e Divulgação do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão de Fragata Fausto de Souza Santos

Editora-Chefe do Departamento de Produção e Divulgação do Centro de Comunicação Social da Marinha


Capitão de Corveta (T) Luciana Carla Kwiatkoski Baumann Mendes

Jornalistas responsáveis
Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros – Reg. MTb 9438/DF
Primeiro-Tenente (RM2-T) Ana Carolina Freitas de Oliveira – Reg. MTb 10428/DF

Revisão
Capitão de Fragata Alessandro Barcellos Velasquez
Capitão de Corveta (T) Luciana Carla Kwiatkoski Baumann Mendes
Segundo-Tenente (RM2-T) Clélia da Conceição Lima

Projeto Gráico
909 Comunicação e Publicidade

Diagramação
Primeiro-Tenente (T) Rodrigo do Carmo Neves
Marinheiro (RM2) Gustavo Henrique Silva de Moura

Fotograias
Arquivos da Marinha do Brasil e colaboradores

Foto da capa
Arquivo MB

Tiragem
5 mil

Impressão e distribuição
Quality Gráica e Editora

Centro de Comunicação Social da Marinha


Esplanada dos Ministérios, Bloco N, Anexo A, 3° andar, Brasília-DF. CEP: 70055-900.
Telefone: (61) 3429-1831
www.marinha.mil.br
faleconosco@marinha.mil.br

2
c
EntrEvista

apa A SOBERANIA DA DEFESA NACIONAL 04


E OS DIREITOS MILITARES

u m
ma arinha
OpEraçõEs
para tOdOs! OPERAÇÃO “DRAGÃO 38”: 08
GEntE dE BOrdO

26
A FORÇA QUE VEM DO MAR
MARINHA TEM PRIMEIRA MULHER 37
12 COMBATENTE NAS FILEIRAS NAVAIS
MUITO ALÉM DO MAR
CULTURA
CIÊNCIA
MARINHA DE GUERRA... 40
UM VERÃO ATÍPICO NA ESTAÇÃO 16
MARINHA DA ARTE
ANTÁRTICA COMANDANTE FERRAZ
artiGO
A ARTE DE FAZER MEDICAMENTOS 20
PRESENTE EM TODO O PAÍS, A 44
MARINHA REÚNE PROFISSIONAIS DE
tarEfas EspEciais
23 DIVERSAS ARÉAS
AS TROPAS DE ELITE DA MARINHA
DO BRASIL
curiOsidadEs navais
ANTIGO, HISTÓRICO E AINDA 47
carrEira naval
30 OPERANTE
MULHERES DE BRANCO EM
VILLEGAGNON

ASPIRANTES ESTRANGEIROS MARCAM 34


PRESENÇA NA ESCOLA NAVAL
MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 3
A soberania da defesa
nacional e os direitos
ENTREVISTA

militares
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros
Fotos: Acervo fotográico do Ministério da Defesa

Ministro da Defesa, Raul Jungmann, fala à Marinha em Revista

À
frente do Ministério da Defesa
desde o ano de 2016, o Minis-
tro Raul Jungmann, em entre-
vista à Marinha em Revista, defendeu
a importância das Forças Armadas no
emprego militar e no desenvolvimen-
to do País perante a sociedade.
Responsável pelo órgão do Go-
verno Federal incumbido de exercer a
direção superior das Forças Armadas,
o Ministro, entre os assuntos aborda-
dos, explicou ainda sobre os projetos
estratégicos desenvolvidos pela Mari-
nha do Brasil, as operações conjuntas,
que são realizadas para garantir a se-
gurança e a defesa do País, e os assun-
tos relacionados à Proteção Social dos
Militares.

Como o senhor analisa o cenário dos


militares no regime da previdência?
Conforme eu tenho dito em diver-
sas oportunidades, o militar não tem
regime previdenciário. A Constitui-
ção não prevê um regime previdenci-
ário para os militares. O militar tem
um Sistema de Proteção Social envol-
vendo as áreas de remuneração, saúde
e assistência social.
Vale lembrar que, em 2001, os mi-
litares passaram por uma reestrutura-
ção remuneratória que trouxe grandes
ônus. Perderam o tempo de serviço, o
auxílio-moradia, o direito à inativida-

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de no posto acima, as pensões para
“O militar tem um “con- nossas riquezas e de cuidar da nossa
ilhas, entre outros. Na prática, isso trato social” por meio do gente.
signiicou um achatamento salarial ao qual abre mão de seu bem Para defender os interesses brasi-
longo de todo esse tempo e que já re- mais sagrado ao arriscar leiros na Amazônia Azul, a Marinha
presenta uma economia de aproxima- a própria vida em prol da concebeu o Sistema de Gerencia-
damente R$ 108 bilhões para a União. Pátria” mento da Amazônia Azul (SisGA-
Os militares não estão se furtando Az), sistema de monitoramento e
Raul Jungmann, Ministro da
a fazer ajustes em suas carreiras, mas controle relacionado com o conceito
estes têm que respeitar as peculiari-
Defesa internacional de segurança maríti-
dades da proissão militar. O Art. 142 Diante da crise econômica que o País ma e com a proteção das Águas Ju-
da Constituição é muito claro ao fa- vive atualmente, quais são as priori- risdicionais Brasileiras.
lar dos militares, por isso mesmo não dades orçamentárias do Ministério É importante ressaltar que mais
estão incluídos na Reforma da Pre- para atender as três Forças? de 95% do comércio exterior brasi-
vidência e os ajustes serão feitos por As principais prioridades envol- leiro é transportado por via maríti-
intermédio de projeto de lei. A dedi- vem a continuidade dos projetos estra- ma. Por isso, é de fundamental rele-
cação exclusiva e a disponibilidade tégicos e a manutenção da capacidade vância assegurar o controle das vias
permanente têm que ser levadas em operacional das Forças Armadas. de comércio marítimo, assim como
consideração, pois afetam não apenas A maioria dos projetos estratégi- o petróleo e a pesca, que são poten-
o militar, em suas atividades prois- cos das Forças está no Programa de cialidades econômicas.
sionais, mas também toda a estrutura Aceleração do Crescimento e tem uma Na Zona Econômica Exclusiva
familiar. programação própria que recebeu um (ZEE), o Brasil tem direito de sobe-
contingenciamento inferior ao que foi rania para ins de exploração e apro-
O que o senhor teria a dizer para imposto às despesas discricionárias. veitamento, conservação e gestão
aqueles que argumentam que os mi- O contingenciamento das despe- dos recursos naturais, vivos ou não,
litares estão onerando a previdência? sas discricionárias afeta diretamente a das águas sobrejacentes ao leito do
O militar tem um “contrato so- capacidade operacional e é motivo de mar, dos solo e subsolo marinhos e,
cial” por meio do qual abre mão de preocupação, mas têm sido feitos to- no que se refere a outras atividades,
seu bem mais sagrado ao arriscar a dos os contatos com a área econômica para exploração e aproveitamento da
própria vida em prol da Pátria. Além do governo para garantir que essa ca- zona para ins econômicos, como a
disso, não faz jus a diversos direitos, pacidade não seja perdida. produção de energia a partir da água,
tais como direito de greve, de sindi- das correntes marítimas e dos ven-
calização, de acúmulo de emprego, Qual a importância estratégica da tos. O Brasil tem ainda a liberdade
de FGTS, horas-extras remuneradas, “Amazônia Azul”, especialmente em de navegação, sobrevoo e de coloca-
adicional noturno, adicional de peri- relação ao desenvolvimento do Siste- ção de cabos e dutos submarinos na
culosidade, não tem banco de horas, ma de Gerenciamento da Amazônia ZEE. Como Estado costeiro, o país
entre outros. Azul, para o desenvolvimento econô- ixará a captura permissível dos re-
Ao invés de onerar, os militares mico e a defesa do país? cursos vivos dentro da zona. Na Pla-
proporcionam uma economia anual O Brasil possui um litoral de cer- taforma Continental, o Brasil exerce
para a União, pois deixam de rece- ca de 8,5 mil km² e uma vasta área direitos de soberania para efeitos de
ber compensação inanceira por de- oceânica de 4,5 milhões de km², que exploração e aproveitamento dos re-
terminadas atividades exercidas que compreende a Zona Econômica Ex- cursos naturais ali existentes.
receberiam, caso estivessem regidos clusiva (ZEE) e a Plataforma Conti- Qualquer modelo de vigilância
pela mesma legislação dos servidores nental. Em face das dimensões e das para a “Amazônia Azul” passa, ne-
e trabalhadores civis. potencialidades desse espaço ma- cessariamente, pelo adequado apa-
Por sua vez, o Estado assume rítimo serem equivalentes à nossa relhamento da Marinha. Nesse sen-
as despesas com a inatividade dos Amazônia Verde, passamos a deno- tido, o Ministério da Defesa vem se
militares e complementa os valores miná-lo de “Amazônia Azul”. Dessa esforçando para que a Força continue
necessários para o pagamento das forma, a Marinha do Brasil garante desenvolvendo seus diversos projetos
pensionistas. O militar contribui, em os interesses nacionais na Amazônia estratégicos e programas que lhe per-
média, durante 62 anos para a pensão Azul, nas águas interiores e cum- mitirão dispor dos meios capazes de
militar. pre ainda a sua missão de proteger proteger os interesses do Brasil.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 5


A Marinha vem se dedicando para ção de equipamentos e sistemas e região. Qual a importância estraté-
ingressar no rol dos seletos países capacitação de pessoal. gica de ter a Marinha e o Brasil à
que dispõem de um submarino Um dos aspectos mais notáveis frente dessa missão?
com propulsão nuclear. Em Itaguaí do Prosub diz respeito ao arrasto As  Forças Armadas  brasileiras
(RJ), além do submarino nuclear tecnológico a ser vivido pelo País, estão desde 2011 no comando da
(SN-BR), a Força está desenvolven- em função da transferência de tec- missão de paz da Força-Tarefa Ma-
do quatro submarinos convencio- nologia, que garantirá ao Brasil a rítima (FTM) da Força Interina das
nais (S-BR), que já estão em fase de capacidade de projetar, construir, Nações Unidas no Líbano (Uniil).
construção. Como o senhor avalia operar e manter seus próprios sub- A  Marinha do Brasil  mantém um
os benefícios oriundos da constru- marinos convencionais e o com navio e uma aeronave orgânica na
ção desses meios para o País? propulsão nuclear. costa libanesa com o objetivo de
Criado em 2008, o Programa de No campo da Defesa, com o impedir a entrada de armas ilegais
Desenvolvimento de Submarinos Prosub, o Brasil poderá assegurar e contrabandos naquele país, além
(Prosub) prevê o projeto e a cons- de maneira mais eficiente a tarefa de contribuir para o treinamento da
trução de uma Infraestrutura In- de negação do uso do mar, contan- Marinha libanesa, de modo que esta
dustrial e de Apoio à operação de do com uma força naval submari- possa conduzir suas atribuições de
submarinos, a construção de quatro na de envergadura, composta de forma autônoma.
submarinos convencionais e o pro- submarinos convencionais e de um A participação do Brasil em mis-
jeto e construção do primeiro sub- submarino com propulsão nuclear. sões de paz, amparada pela Consti-
marino brasileiro com propulsão tuição Federal, pela Política Nacional
nuclear. A Marinha, pelo sétimo ano con- de Defesa e pela Estratégia Nacional
O Complexo Naval, localizado secutivo, tem um comandante de Defesa, é um instrumento muito
na cidade de Itaguaí (RJ), possui brasileiro à frente da Força-Tare- importante à Política Nacional, pois,
750 mil metros quadrados. O con- fa Marítima da Força Interina das além de representar o cumprimen-
junto é composto por uma Unidade Nações Unidas no Líbano (Uniil), to com suas obrigações em nível
de Fabricação de Estruturas Metá- que busca a estabilização da paz na mundial, contribui para estreitar as
licas (Ufem), dois estaleiros, um de
construção e outro de manutenção,
base naval, complexo radiológico,
duas docas secas, oficinas, áreas ad-
ministrativas, 13 cais e um elevador
de navios (shiplift) – com capacida-
de para suportar oito mil toneladas.
Além de um Centro de Instrução e
Adestramento para as tripulações
dos submarinos.
O Programa tem três premissas
básicas: transferência de tecnologia,
exceto na área nuclear, nacionaliza-

“Mais de 95% do co-


mércio exterior brasileiro é
transportado por via marí-
tima. Por isso, é de funda-
mental relevância assegu-
rar o controle das vias de
comércio marítimo”
Raul Jungmann, Ministro da
Defesa

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relações com países de particular A Marinha realiza rotineiramente
interesse para a política externa bra- diversas operações de fiscalização “A reestruturação da
sileira, acarretar crescente prestigio nas águas interiores brasileiras, Proteção Social visa ainda
à política externa brasileira, aumen- seja para combater o tráfico trans- manter a capacidade de
tando a projeção do País no cenário fronteiriço seja para fiscalizar o atrair e reter talentos para
mundial, manter o adestramento das tráfego aquaviário. Como o se-
as Forças Armadas. Cada
tropas, assim como divulgar  no ex- nhor avalia o trabalho da Forças
terior produtos de Defesa nacionais Armadas nessas regiões de fron-
vez mais, os equipamentos
utilizados pela tropa brasileira em teiras? são soisticados, de últi-
operações de paz. Além da missão precípua de ma geração e precisamos
Defesa da Pátria, que cumpre com contar com jovens ade-
A missão dos militares brasileiros as duas Forças coirmãs, a Marinha quadamente remunerados,
no Haiti foi encerrada em 2017. do Brasil contribui também com as motivados e capacitados
Como o senhor avalia a atuação, ações de combate ao tráfico de dro-
a operá-los.” Raul Jung-
por 13 anos, dos Fuzileiros Navais gas e armas na fronteira, empregan-
brasileiros naquele país? do navios, aeronaves, viaturas, lan-
mann, Ministro da Defesa”
O trabalho desenvolvido pelas chas e pessoal em nossos rios, lagos, Raul Jungmann, Ministro da
Forças Armadas brasileiras no Haiti bacias e lagoas. Defesa
foi de extrema eficiência e relevân- Na defesa dos interesses nacio-
cia. A participação dos militares nais, as Forças Armadas têm atua- – coordenada pelo Ministério da
brasileiros é reconhecida pelo povo do de modo integrado com outros Defesa, por intermédio do Estado
haitiano e por autoridades interna- setores do Estado. Essa coordena- -Maior Conjunto das Forças Arma-
cionais pela desenvoltura com que ção de esforços é visível em ações das (EMCFA) – mobiliza efetivos da
combinam funções militares, como como as destinadas a garantir a se- Marinha, do Exército e da Aeronáu-
o patrulhamento, com atividades gurança das fronteiras brasileiras. tica para atuar, de forma episódica,
sociais e de cunho humanitário. Como exemplo, a Operação “Ágata” em pontos estratégicos da fronteira.
Durante a operação, são reali-
zadas missões táticas destinadas a
coibir delitos como narcotráfico,
contrabando e descaminho, trá-
fico de armas e munições, crimes
ambientais, imigração e garimpo
ilegais. As ações abrangem desde a
vigilância do espaço aéreo até ope-
rações de patrulha e inspeção nos
principais rios e estradas que dão
acesso ao País.
As atividades são planejadas e
distribuídas em regiões fronteiri-
ças, principalmente por meio das
atividades de patrulha e inspeção
naval. Além disso, essas atividades
são intensificadas na realização de
operações singulares/interagências,
tais como Operação “Amazônia
Azul” e Operação “Verão”. Em to-
das essas, a Marinha tem contado
com o apoio crescente de órgãos
das esferas federais, estaduais e mu-
nicipais, envolvidos no combate aos
crimes transfronteiriços.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 7


Operação
“Dragão 38”: a força
OPERAÇÕES

que vem do mar


Exercício envolveu 2,8 mil militares, além de meios navais, aeronavais e
terrestres
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Mariana Granja
Fotos: Segundo-Sargento (MO) Percut

8
f
oram dias de muita ação no mar,
no ar e na terra. Exercícios que
movimentaram o litoral do Espí-
rito Santo com embarcações, aeronaves
e militares, todos voltados para um úni-
co objetivo: contribuir para o apresta-
mento da tropa em uma das operações
anfíbias de maior complexidade. Esta
foi a Operação “Dragão 38”, realizada
pela Marinha do Brasil de 3 a 9 de de-
zembro de 2017.
A Operação “Dragão” permaneceu
inativa por alguns anos, mas voltou a
ser realizada em 2016, com força total.
Em 2017, a Dragão contou com cer-
ca de 2.800 militares, além de meios
navais e aeronavais do Comando em
Chefe da Esquadra, dos Comandos do
1º e do 2º Distritos Navais, da Força de
Fuzileiros da Esquadra e do Comando
do Desenvolvimento Doutrinário do
Corpo de Fuzileiros Navais.
Militar durante “Dia D”da Operação “Dragão”
A operação se desenvolve a partir
de um conlito ictício cujo foco se lo-
caliza em terra irme. Tendo esse cená-
rio como pano de fundo, os militares de ataque, e outras embarcações, como quadra, Capitão de Fragata Rodrigo
da Marinha do Brasil são acionados e navios varredores e rebocadores. No Guimarães Dobbin, a equipe da Força
se deslocam através do mar ao local da total, dez embarcações estiveram en- Avançada demarcou uma raia segura
ação, onde realizam um assalto anfíbio. volvidas na “Dragão”. no mar para a passagem dos navios
O assalto é a fase mais importante, Durante o percurso, ocorreram, en- capitais. Também desativou um su-
mas, para ser bem-sucedida, uma mis- tre outros, exercícios de ameaça de sub- posto sistema de radar de costa com
são desse porte começa muito antes. Ela marinos, de navios inimigos e de aero- um lançador de mísseis, que era uma
demanda um planejamento minucioso naves, e as fragatas tiveram a missão de ameaça para a aproximação das tropas
que envolve desde questões logísticas, garantir a defesa dos navios capitais. no contexto do exercício.
como suprimentos e combustível, até “Sempre que há uma operação an-
estratégias de deslocamento e aplicação PREPARAÇÃO fíbia, existe uma operação anterior de-
dos meios navais e aeronavais. Antes de iniciar o assalto anfíbio, senvolvida pela Força Avançada, nor-
Na Operação “Dragão 38”, após o a região de abicagem foi tomada por malmente por meio de elementos de
planejamento, partiram do Rio de Ja- navios varredores, que vasculharam o operações especiais iniltrados muito
neiro (RJ) dois navios capitais: Navio local em busca de minas, e por navios antes, ou por embarcação ou por ae-
Doca Multipropósito “Bahia” e Navio patrulha, que transportaram a Força ronave”, explica, por sua vez, o Co-
de Desembarque de Carros de Com- Avançada. Composta por mergulha- ordenador do Grupo de Controle do
bate “Almirante Saboia”. Eles transpor- dores de combate e por uma equipe de Comando de Operações Navais, Capi-
taram as tropas, além de meios navais, comandos anfíbios, a Força Avançada tão de Mar e Guerra, Fuzileiro Naval
como Embarcações de Desembarque foi responsável por fazer o reconhe- (FN), Anderson da Costa Medeiros.
e Carros Lagarta Anfíbios (CLAnf), e cimento do local e cumprir determi- Assim, quando é chegada a hora
terrestres, como caminhões e viaturas nadas missões antes do desembarque do assalto anfíbio, os navios capitais
leves. das tropas, chamadas de “Missões de podem se aproximar da praia com
Também se lançaram ao mar as fra- Força Avançada pré-dia D”. segurança. Enquanto isso, cabe às em-
gatas “Liberal” e “União”, responsáveis Segundo o Chefe do Estado-Maior barcações escoltas proteger seus lan-
por proteger os navios capitais em caso do Comando da 2ª Divisão da Es- cos.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 9


PLANEJAMENTO recerem proteção blindada à tropa, Isso foi tarefa para o Grupo de
Duas forças discutem em conjun- permitindo que os soldados se apro- Controle (GruCon), que criou even-
to o planejamento da missão: a Força ximem mais do alvo em segurança, tos e os inseriu no exercício durante
Tarefa Anfíbia (ForTarAnf), que per- algo essencial em um combate em a sua realização. Sem ter o objetivo de
tence ao Corpo da Armada e é res- terra. interferir na manobra realizada pelos
ponsável pelos meios navais, e a Força “A viatura blindada também ofe- Fuzileiros Navais, mas apenas garan-
de Desembarque (ForDbq), integrada rece ação de choque. Causa um efeito tir que as tropas fossem testadas e
pelos meios de fuzileiros navais. psicológico na tropa inimiga. O ho- avaliadas adequadamente, o GruCon
Embora atuem no mesmo nível de mem está numa trincheira e vê uma teve à sua disposição 64 eventos du-
planejamento, com o início da missão, coluna pesada de blindados fazendo rante a ação.
a ForDbq ica subordinada à ForTa- barulho, tremendo o chão, e isso cau- “Criamos o evento e tivemos um
rAnf. Um sistema de organização que sa um efeito choque, um efeito psi- observador que estava em terra ava-
não impede a interoperabilidade e o cológico, naquele inimigo”, explica o liando a tropa. Ele foi avisado pelo
diálogo constante entre os setores, que Capitão de Fragata Zupo Valente. GruCon sobre o que ia acontecer”,
dependem um do outro para que a airmou o comandante Anderson da
missão seja bem-sucedida. GRUPO DE CONTROLE Costa.
“Essa interoperabilidade ocorre, No contexto criado para a Operação Assim, dependendo da resposta
cada um tem o seu papel, e a Força de “Dragão 38”, o inimigo tinha capacidade da tropa a cada obstáculo criado, ou-
Desembarque tem demandas que são nuclear, química, biológica e radiológica, tros vão sendo incluídos ou retirados,
apresentadas à ForTarAnf e vice-ver- além de explosivos, e as tropas precisa- tudo em prol do treinamento mais
sa. Essas coordenações são feitas por vam ser testadas para estas situações. completo possível.
meio das agências de coordenação do
apoio de fogo, logística e outras”, expli-
ca o encarregado da Seção de Logísti-
ca do Comando da Divisão Anfíbia,
Capitão de Fragata, Fuzileiro Naval,
Cláudio Zupo Valente.

ASSALTO ANFÍBIO
O assalto anfíbio é descrito como
o “dia D” da operação. No exercício
realizado durante a “Dragão 38”, o
objetivo da missão foi conquistar
uma cabeça de praia em Itaoca (ES),
bloqueando o luxo logístico de seu
inimigo.
A ação teve início antes mesmo
do amanhecer, com o desembarque
de 750 homens do Batalhão de Infan-
taria do Corpo de Fuzileiros Navais,
dividido em quatro companhias.
Eles chegaram à praia, inicial-
mente por meio de 13 Carros Lagarta
Anfíbios (CLAnf), e foram seguidos
por Embarcações de Desembarque
de Viaturas e Material e Embarcações
de Desembarque de Carga Geral, que
levaram, entre outros veículos, quatro
viaturas Piranha.
Tanto os CLAnf quanto as via-
Navios participantes da Operação “Dragão 38”
turas Piranha foram usados por ofe-

10
“A viatura blindada
também oferece ação
LOGÍSTICA englobou toda a logística. Para que to-
Para que os objetivos da operação dos os outros componentes sobrevives- de choque. Causa um
fossem alcançados e as tropas conse- sem e tivessem condições de se manter efeito psicológico na
guissem avançar em terra, foi preciso em combate, foi necessária uma logís- tropa inimiga. O homem
um planejamento logístico intenso. tica que suprisse todas as necessidades está numa trincheira e
Todas as tarefas foram divididas e cada de água, comida, munição, combustível vê uma coluna pesada
militar foi responsável pelo sucesso da e outros equipamentos.
de blindados fazendo
“Dragão 38”. O Componente de Combate Ter-
restre foi o primeiro a chegar à praia
barulho, tremendo o
A operação foi gerida por meio de
um grupamento operativo, dividido para fazer o contato inicial e forçar o chão, e isso causa um
em componentes. O Componente de inimigo a recuar, proporcionando se- efeito choque, um efeito
Comando concentrou basicamente os gurança para que os demais desembar- psicológico, naquele
meios de comunicações. O Compo- cassem. inimigo”
nente de Combate Terrestre foi com- Inicialmente, foi montada uma Capitão de Fragata,
posto pelo batalhão, que pisou em terra área de apoio de praia. À medida que os
Fuzileiro Naval, Zupo
e entrou em contato com o inimigo. suprimentos chegavam, essa área cres-
ceu e se tornou uma área de apoio de
Valente
Foi nele que a tática residiu. O Compo-
nente de Combate Aéreo, por sua vez, serviço ao combate, uma estrutura um riza por isso. Você parte do zero. Você
envolveu a aviação e a defesa antiaérea. pouco mais forte e com maior capaci- tem zero apoio e vai construindo esse
E, inalmente, houve o Componen- dade de distribuição de suprimentos. poder de combate em terra a partir do
te de Apoio e Serviço ao Combate, que “Uma operação anfíbia se caracte- momento em que seus poderes consti-
tuintes vão chegando”, esclarece o Ca-
pitão de Fragata Zupo Valente.

OBJETIVO CONCLUÍDO
Após o avanço das tropas e a con-
quista dos objetivos deinidos, a opera-
ção anfíbia entra em sua fase defensiva.
A manutenção da situação em terra é
a prioridade, e outras tropas podem
chegar para assumir o controle da si-
tuação. A partir daí ocorre a ordem de
reembarque.
“A doutrina prevê que, em uma
operação anfíbia, é realizada a con-
quista da cabeça de praia, dos objetivos
e a missão é cumprida. Depois, aquela
tropa é reembarcada nos meios navais
e ica pronta para uma nova missão”,
conclui o Capitão de Fragata Zupo Va-
lente.
E não foi diferente na “Dragão
38”. Depois da conquista da cabeça
de praia, os militares retornaram pro-
gressivamente aos navios capitais onde
estavam mobilizados. O exercício foi
concluído e as tropas provaram sua ca-
pacidade em superar desaios.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 11


Muito além do mar
OPERAÇÕES

Dentre as diversas atribuições da Marinha do Brasil constantes em sua missão,


está a de guardar as águas interiores do País, que representam 13,7% do volume
de água doce do mundo
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Ana Carolina Freitas de Oliveira
Fotos: Acervo fotográico do CCSM

12
“Á
gua que nasce na fonte
serena do mundo e que
abre um profundo grotão.
Água que faz inocente riacho e desá-
gua na corrente do ribeirão. Águas es-
curas dos rios que levam a fertilidade
ao sertão. Águas que banham aldeias
e matam a sede da população”. Gui-
lherme Arantes, nos versos contidos
em uma de suas mais belas compo-
sições, “Planeta Água”, retrata a faceta
de um Brasil dono de uma imensidão
de água doce, com cerca de sete mil
quilômetros cúbicos, o que equivale,
por habitante, a 43 mil metros cúbi-
cos. A dimensão corresponde a 13,7%
do volume do planeta, o que ratiica a
qualidade do País como um “gigante
natural”. A importância da hidrogra-
ia brasileira no contexto planetário
é comprovada pelo fato de que duas Apreensão de madeira no Alto Solimões (AM)
das dez maiores bacias hidrográicas
do globo têm grande parte da sua
área localizada em terras brasilei- o fato de correr, em parte, pelo terri- so comum, que restringe a atuação da
ras: a bacia Amazônica (a maior do tório brasileiro, o maior rio do globo: Marinha do Brasil (MB) aos mares e
mundo), que apresenta quase 60% o Amazonas, com uma extensão total à defesa do País, oculta os largos bra-
dos seus sete milhões de quilômetros de 7.100 km. ços da Força Naval que envolvem as
quadrados de área total no Brasil, e A despeito de serem fatos no- águas interiores do Brasil em todas
a bacia Platina, que tem 1,4 milhão tórios, o que ainda causa dúvidas é as atividades atinentes aos rios, lagos
de quilômetros quadrados em terras sobre quem recai a responsabilidade e riachos. Desde a implementação e
brasileiras. Merece destaque também por guardar tamanha riqueza. O sen- a iscalização do cumprimento da

Militares da Marinha inspecionam embarcação

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 13


Marinha em atuação no Lago Paranoá, em Brasília (DF)

legislação da segurança do tráfego pelos nove distritos navais que com- Segundo o Diretor de Portos e
aquaviário à salvaguarda da vida hu- põem a presença da MB no Estado Costas, “a Marinha do Brasil tem pa-
mana nas águas, os militares da MB Brasileiro. Uma das principais ativi- pel fundamental nos aspectos envol-
trabalham diuturnamente para cum- dades realizadas por essas organiza- vendo a navegação de embarcações
prir a missão da Força no interior do ções militares são as inspeções navais, regionais, os comboios luviais e a
País e contam com emprego de meios que, por meio da iscalização, zelam navegação do pessoal ribeirinho, des-
navais, aeronavais e de fuzileiros na- pela segurança da navegação e pelo tacando-se os assuntos relacionados a
vais. controle do tráfego de pessoas e ma- evitar abalroamento de embarcações,
teriais, a im de fazer valer a legislação eclusagem, inscrição de embarcações,
FAZER VALER AS LEIS vigente. Segundo o Diretor de Portos estabelecimento do número de tripu-
É atribuição subsidiária da Mari- e Costas, Vice-Almirante Wilson Pe- lantes de embarcações e material de
nha do Brasil implementar e iscalizar reira de Lima Filho, a Marinha do salvatagem”, destaca.
as leis e regulamentos relacionados Brasil desenha seu planejamento es-
ao mar e às águas interiores, por meio tratégico alinhada ao crescimento do QUALIDADE DAS ÁGUAS
de operações de patrulha e inspeção luxo nas águas interiores. “O desen- A manutenção da qualidade das
naval, que por vezes são coordenadas volvimento econômico do período águas também faz parte da atuação
em conjunto com outros órgãos do de 2010 a 2016 gerou o crescimento da Marinha nas águas interiores. Os
Poder Executivo, Federal ou Estadual, de 19,2% do volume transportado procedimentos de segurança adota-
de forma a prevenir e reprimir a prá- em hidrovias. Espera-se que as ati- dos pela Força Naval cumprem o que
tica de ilícitos, como a pesca ilegal, o vidades continuem a crescer, o que determina a legislação e é uma das
contrabando e tráico de entorpecen- demandará maior protagonismo das funções da Marinha trabalhar para
tes. capitanias, delegacias e agências, que que a riqueza hídrica do País seja
Ao todo, existem 63 capitanias, serão redimensionadas em termos de preservada. As organizações mili-
delegacias e agências, distribuídas pessoal e de meios”. tares, nas diferentes regiões do País,

14
“A Marinha do Brasil tem
papel fundamental nos
aspectos envolvendo
a navegação de
embarcações regionais,
comboios luviais e
navegação do pessoal
ribeirinho”
Diretor de Portos e Costas,
Vice-Almirante Lima Filho

Segundo o Capitão dos Portos de


São Paulo, Capitão de Mar e Guerra
Alberto José Pinheiro de Carvalho, é
de fundamental importância a pre-
sença, no estado de São Paulo, da ca-
pitania, como agente da Autoridade
Marítima, exercendo as atividades re-
lacionadas à segurança da navegação,
salvaguarda da vida humana nas águas
e prevenção da poluição hídrica. “Re-
veste-se de grande importância, pois
faz parte da área de jursidição da CPSP
participam de ações conjuntas para às populações ribeirinhas, pantaneiras duas grandes represas, Guarapiranga e
despoluição e, por meio da iscaliza- e das que tiram sua subsistência dos Billings, no estado de São Paulo, e a de
ção, reprimem práticas abusivas que cursos luviais. Diversas organizações Furnas, em Minas Gerais, conhecida
gerem danos ambientais aos leitos e militares atuam como dissemina- como o “Mar de Minas”, onde existe
degradem as águas. doras de conhecimentos relativos à grande atividade náutica”, airmou. Os
Um exemplo foi a iniciativa da prevenção de acidentes, retiradas de serviços da Capitania dos Portos de
tripulação da Delegacia da Capitania documentos, regulamentação de em- São Paulo envolvem um universo de
dos Portos em Itajaí, em Santa Catari- barcações, exigências de itens de segu- mais de 160 mil amadores e cerca de
na que, em março de 2016, participou rança, navegação segura em condições 120 mil embarcações, tornando-se a
da 6ª edição do projeto “Juntos pelo climáticas adversas e capacidade má- maior capitania do Brasil.
Rio”. A ação, alusiva ao Dia Mundial xima de pessoas por embarcação. De acordo com dados da Direto-
da Água, teve como objetivo cons- Um dos casos ilustrativos é o da ria de Portos e Costas, de 1º de janeiro
cientizar a população do município Capitania dos Portos de São Paulo a 31 de outubro de 2017, foram qua-
por meio da limpeza do rio Itajaí-A- (CPSP) que, em maio de 2016, em liicados no País 10.124 novos traba-
çu. Duas equipes da delegacia, com parceria com a Fundação Nacional do lhadores aquaviários, gerados 37.125
três lanchas, uma moto aquática e Índio (Funai) e as empresas Ecology cadernetas de inscrição e registro e
uma embarcação de alumínio, per- Brasil e Rumo Logística S/A, realizou emitidos 68.890 certiicados. Também
correram o rio para a coleta de quase o Curso de Pescador Proissional para foi contabilizada, para proissionais
três toneladas de lixo. os indígenas, da Aldeia Krukutu, loca- não tripulantes, tripulantes não aqua-
lizada entre os municípios de São Ber- viários e proissionais de proteção
EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO nardo do Campo (SP) e Parelheiros marítima, a emissão de 29.433 certi-
Como parte do leque de atividades (SP). Ao todo, foram capacitados 27 icados. Foram ainda instaurados 719
realizadas pela Marinha no interior do indígenas, para atuarem como pesca- inquéritos administrativos sobre aci-
País estão as ações educativas voltadas dores proissionais. dentes e fatos da navegação.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 15


Um verão atípico na
Estação Antártica
CIÊNCIA

Comandante Ferraz
O cenário de pesquisas deu lugar às obras para a reconstrução da Estação
Antártica Comandante Ferraz (EACF). A nova estação abrangerá uma área
de quase 4.500 metros quadrados e contará com 17 laboratórios

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Joana Martins Ferreira Correia


Fotos: Suboicial (AR) Alexander Vieira e Cabo (AR) Vitor Lima de Oliveira

16
u
ma imensidão branca na qual técnicos e engenheiros deram início vamos sempre atentos, tentando ante-
natureza é vista na sua forma às obras. Cerca de cem operários tra- cipar qualquer situação de risco. E ter
mais primitiva, com pouquís- balhavam dia e noite para garantir trazido todas as peças pré-moldadas,
simas intervenções humanas. Um a conclusão, ocorrida em março de pré-fabricadas, foi o grande diferencial
cenário de tranquilidade e muita di- 2017. “Tivemos um cronograma de 85 para a prontiicação dessa etapa, pois
versidade cientíica, à beira da Baia dias, aproximadamente e, mesmo com facilitou muito a montagem”, disse Ro-
do Almirantado, na ilha Rei George, as diiculdades do clima e do tempo, drigo.
Arquipélago Shetlands do Sul. Esse é o conseguimos concluir toda a primeira Mas as diiculdades não se limita-
pedacinho do Brasil no continente dos etapa, a fundação”, declarou Rodrigo ram ao clima e ao escasso tempo dispo-
superlativos: a Antártica. Local que Ajaj Seraien, Engenheiro Civil da Chi- nível, sempre inluenciado pelas condi-
desde 1984 abriga a Estação Antártica na Electronics Imports and Exports ções climáticas. Como a empresa que
Comandante Ferraz, mantida pela Ma- Corporation (Ceiec), empresa Chinesa ganhou a licitação para reconstruir Fer-
rinha do Brasil. responsável pela reconstrução. raz é chinesa, ocorreram também dii-
Há cerca de seis anos, após um Foram usados 1.200 blocos de con- culdades de comunicação. Para ameni-
incêndio, ocorrido em 2012, que creto nas fundações da base. O trans- zar esse contratempo, dois intérpretes
destruiu dois terços das instalações porte desse material foi feito por um faziam a mediação entre engenheiros
da base brasileira, apenas módulos navio da empresa Ceiec. Com uma brasileiros contratados pela empresa,
emergenciais dão suporte às pesquisas balsa e guindastes, os blocos foram re- militares e operários chineses. “Nesse
brasileiras desenvolvidas na Estação. tirados do navio chinês e levados até o verão atípico[2016/2017], nosso prin-
No entanto, esse cenário vem sendo terreno da nova estação. Retroescava- cipal desaio foi tentar entender como a
transformado e, em breve, os módulos deiras foram utilizadas para a abertura cultura chinesa poderia ser inserida na
emergenciais darão lugar a um novo de trincheiras, nas quais foram coloca- cultura brasileira, e assim trabalharmos
ambiente. A reconstrução da Ferraz das as fundações formadas por estru- juntos em prol dessa construção”, air-
começou em dezembro de 2016, após turas quadradas que envolvem chapas mou o ex-Chefe da Estação Antártica
a empresa chinesa Ceiec ter vencido o de aço e blocos de concreto. Toda a Comandante Ferraz, Capitão de Fraga-
processo licitatório internacional pro- movimentação do material foi feita ta Rodrigo Cersosimo Kristoschek.
movido pela Secretaria da Comissão com bastante cautela, preservando a Segundo Kristoschek, esse entendi-
Interministerial de Recursos do Mar. segurança dos trabalhadores. “Encon- mento foi fundamental para que toda
Na ocasião, equipamentos para reali- tramos diversas situações de nevasca, a supervisão e coordenação das opera-
zação das obras, vindos da China, de- rajadas de vento muito fortes, que dii- ções logísticas — que estavam a cargo
sembarcaram no continente mais frio cultavam as movimentações das peças do grupo base da EACF, composto por,
e seco do planeta. e o uso dos guindastes. Por isso, o con- aproximadamente, 15 militares — fos-
Em janeiro de 2017, pedreiros, trole de segurança foi reforçado e está- sem realizadas com sucesso.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 17


CONSERVAÇÃO AMBIENTAL podem impactar os trabalhadores, condições climáticas — fator decisi-
Superadas as diiculdades climá- assim como os animais que habitam vo para o andamento das obras, que
ticas e as diferenças culturais, outro a região. só podem ser realizadas no período
ponto de atenção e extremo cuidado Como o ambiente antártico é pro- do verão antártico, de outubro a mar-
foi a implantação de todos os progra- tegido mundialmente, toda e qual- ço.
mas ambientais. “Todo o estudo da quer intervenção precisou seguir os Em novembro de 2017, uma equi-
obra foi realizado para que fossem padrões estabelecidos no Protocolo pe de 20 trabalhadores da Ceiec che-
minimizados ao máximo os possíveis de Proteção Ambiental da Antártica. gou à estação para fazer a limpeza da
impactos ambientais. Todas as inter- Os estudos referentes aos impactos neve acumulada durante o inverno
venções são monitoradas para ter- ambientais também foram realiza- antártico no canteiro de obras, tes-
mos a certeza que estamos causando dos e aprovados pelo Ministério do tar o funcionamento dos geradores,
o menor impacto possível. Só assim Meio Ambiente. Foi realizada, ainda, tratores, guindastes, caminhões, em-
conseguiremos entregar um projeto uma força-tarefa entre a Secretaria barcação de desembarque e reativar a
maravilhoso, sem afetar a fauna e a da Comissão Interministerial para plataforma de desembarque deixados
lora da região”, airmou o Engenhei- Recursos do Mar (Secirm), Ministé- pela Ceiec na Antártica.
ro Ambiental da Ceiec, Nicolau Lu- rio do Meio Ambiente e o Instituto Em dezembro, o Navio Mercan-
cif. Brasileiro do Meio Ambiente e dos te “Magnólia” atracou na Antártica,
Nicolau explicou que as prin- Recursos Naturais Renováveis (Iba- vindo de Xangai, com todos os con-
cipais atividades do planejamento ma), que trabalharam para que todas têineres necessários para a recons-
ambiental estavam relacionadas com as exigências fossem cumpridas. trução de estação. A conclusão da
a avaliação de alguns parâmetros de As exigências são muitas, mas um montagem, a realização dos testes, o
qualidade do ar, devido à emissão de planejamento minucioso garante que comissionamento e a inauguração da
fumaça preta dos veículos, qualidade nada saia fora do previsto. Até por- estação estão previstos para o próxi-
da água e do solo. Foram feitos tam- que, o único imprevisto permitido mo verão antártico: outubro de 2018
bém monitoramentos dos ruídos que naquela região está relacionado às a março de 2019.

Militares brasileiros e operários chineses trabalham nas fundações da nova Estação

18
ESTRUTURA Federal do Pampa Rodrigo Paidano
Estão previstas as instalações dos Alves.
setores funcionais da Estação, que es- A reconstrução da Estação possi-
tão organizados em blocos. O bloco bilitará dar continuidade a pesquisas
superior abrigará os camarotes e as importantes ligadas ao monitoramen- Programa Antártico Brasileiro
áreas de serviço de jantar/estar. No to de fenômenos da alta atmosfera,
bloco inferior, serão incorporados os como temperatura e ondas gravitacio- O Programa Antártico Brasileiro
laboratórios e as áreas de operação e nais, ao monitoramento da dinâmica (Proantar) foi criado em janeiro de
manutenção. Este mesmo bloco con- do buraco de ozônio atmosférico e 1982 e, desde então, garante a presença
templará as garagens e o paiol central. dos raios ultravioleta, de parâmetros do País na região austral. Nas suas
Com design moderno e tecnologia atmosféricos de superfície, inventários três décadas, o Proantar realiza uma
de ponta, a arquitetura da nova base de fauna e lora locais (ambos terres- média anual de 20 projetos de pesquisas
contempla um conceito de planeja- tres e marinhos), qualidade do ar, im- nas áreas de oceanograia, biologia,
mento semelhante ao que é empre- pactos ambientais locais (contamina- biologia marinha, glaciologia, geologia,
gado a uma cidade de pequeno porte, ção de solos) e outros. “Tenho certeza meteorologia e arquitetura, além de
isolada das demais facilidades urba- de que a nova estação vai nos dar um permitir à Marinha do Brasil, com o
nas, em que se devem ter condições de suporte maior e, também, nos auxiliar apoio da Força Aérea Brasileira, realizar
vida com boa qualidade e segurança na realização de pesquisas de maiores uma das maiores operações de apoio
para toda a população residente. dimensões, pois poderemos usufruir logístico, em termos de complexidade e
Com a conclusão das obras, a Es- mais dos laboratórios que vamos ter distância.
tação Comandante Ferraz terá capaci- aqui, das aparelhagens”, relatou a pes-
dade para 64 pessoas durante o verão e quisadora da Universidade Federal do
34 no inverno. A ediicação brasileira Pampa Juliana Ferreira.
contará com 17 laboratórios, setor de
saúde, biblioteca, sala de estar, entre
outros departamentos. Ela abrigará
uma população formada por militares “Todo o estudo da obra foi realizado para que fossem
da Marinha e pesquisadores. minimizados ao máximo os possíveis impactos ambientais.
Os civis permanecerão em pesqui- Todas as intervenções são monitoradas para termos a
sas por períodos de 30 dias durante o certeza que estamos causando o menor impacto possível.
verão antártico, que vai de outubro a
Só assim conseguiremos entregar um projeto maravilhoso
março. Já os militares icam na estação
durante um ano para apoiar o desen- sem afetar a fauna e a lora da região”
volvimento das atividades de pesquisa, Engenheiro Ambiental da Ceiec,
prover a manutenção das instalações e Nicolau Lucif
manter, permanentemente, a presença
brasileira no continente.

AS EXPECTATIVAS
“A expectativa é que a nova Esta-
ção permita que trabalhos, que hoje
são realizados somente no Brasil,
sejam feitos já in loco. Por exemplo,
com a nova Estação já poderíamos
realizar a extração do DNA de algu-
mas espécies e não perderíamos mui-
to material no transporte até o Bra-
sil”, relatou, ansioso, o pesquisador
do programa de Pós-Graduação de
Ciências Biológicas da Universidade
Navio de Apoio Oceanográico “Almirante Maximiniano”
durante atividades de apoio logístico à Estação
MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 19
A arte de fazer
medicamentos
CIÊNCIA

A Marinha do Brasil conta com o Laboratório Farmacêutico da Marinha que


contribui para o desenvolvimento tecnológico da Força com atividades de
Ciência, Tecnologia e Inovação, relacionadas às ciências farmacêuticas.
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Mariana de Jesus Ferreira
Fotos: Suboicial (AR) Alexander Vieira e Acervo fotográico do LFM

É
no Rio de Janeiro (RJ) que da Empresa Gerencial de Projetos Nessas pesquisas, são desenvolvidos
está localizado o Laborató- Navais que atuam na produção de medicamentos para serem utilizados
rio Farmacêutico da Marinha medicamentos. Os principais fár- frente às ameaças decorrentes do
(LFM), que, há mais de cem anos, macos produzidos são a “Isoniazida emprego de armas de destruição em
vem buscando se aprimorar na arte 100mg” em comprimido, “Oloxaci- massa.
de fazer medicamentos. Seja na rea- no 400mg” em comprimido revesti- Segundo o responsável técnico
lização de pesquisas ou na aplicação do e “Pirazinamida” para suspensão do LFM, Capitão de Corveta, do
de novas tecnologias, o laboratório oral, que atendem os programas de Quadro de Apoio à Saúde (S), Sato,
tem o intuito de contribuir para combate à hanseníase e à tuberculo- um exemplo dessa linha de pesqui-
a eicácia do Sistema de Saúde da se do Ministério da Saúde. sa é o desenvolvimento do medica-
Marinha (SSM) e para o desenvol- mento Ciproloxacino, indicado no
vimento tecnológico da Força, com PESQUISAS combate ao bacilo do Antraz, doen-
atividades voltadas para as áreas de Além da produção de medi- ça infecciosa causada pela bactéria
ciência, tecnologia e inovação rela- camentos, o LFM possui diversos Bacillus anthracis. É notória a neces-
cionadas ao conhecimento farma- projetos de pesquisa na área farma- sidade de um local adequado para
cêutico. cêutica, entre os quais destacam-se produção do antídoto em casos de
Atualmente, o LFM conta com os projetos nas áreas de defesa con- infecção pela bactéria. Além disso, é
194 militares, 47 servidores civis da tra ameaças Nucleares, Biológicas, fundamental que este esteja disponí-
Marinha, bem como 49 funcionários Químicas e Radiológicas (NBQR). vel para pronto uso em quantidades

20
e atualmente se encontra em fase de
registro, com resultados satisfatórios
nos estudos de equivalência farma-
cêutica e bioequivalência em com-
paração ao medicamento do Lafepe”,
explica Sato. Com o desenvolvimen-
to desse projeto, é esperada a produ-
ção de um medicamento para suprir
a demanda de atendimento do SUS,
com possibilidade, ainda, de forne-
Processo de produção de medicamentos no laboratório cimento para outros países.
Outro projeto que merece des-
adequadas nas situações emergen- nidazol é o medicamento usado para taque é o do suplemento alimentar
ciais. “A preparação para resposta a a quimioterapia especíica da doença para melhorar a resistência, a imu-
eventos decorrentes do uso de agen- de Chagas e atua através da inibição nidade e o foco nas tarefas desem-
tes biológicos assume importância da capacidade de multiplicação do penhadas por tropas militares. O
cada vez maior no cenário global, parasita. A doença, quando se ma- Projeto Quercetina (QCTN) está em
principalmente devido ao aumento nifesta, tem duas fases clínicas: uma desenvolvimento pelo LFM, sob co-
da população nos grandes centros aguda, que pode ou não ser identi- ordenação do Ministério da Defesa.
urbanos e a possibilidade de terro- icada; e outra, crônica, que decorre A proposta prevê o fornecimen-
rismo”, explica Sato. do não tratamento da primeira fase. to de um suplemento, produzido a
O Ciproloxacino é ainda utiliza- Estima-se que no Brasil existam en- partir de um ativo natural derivado
do no tratamento de segunda linha tre dois e três milhões de indivíduos da biodiversidade brasileira, para ser
da tuberculose. “O fornecimento infectados. empregado na ração operativa para
para o Governo Brasileiro de um Desde 1970, o Laboratório Ro- militares em operações e na alimen-
medicamento de uso dual favorece a che era o único produtor e distri- tação dos atletas de alto rendimento,
manutenção de um estoque, sem ris- buidor desse medicamento, mas, como forma de agregar valor nutri-
co de perdas por expiração do prazo em 2003, foi assinado um acordo de cional às refeições.
de validade. Entre as ações NBQR transferência de tecnologia para o “O LFM vem ainda consolidando
em andamento, também merece Laboratório Farmacêutico do Estado diversas parcerias com universida-
destaque o Projeto Azul da Prússia, de Pernambuco (Lafepe) e a Roche des e empresas nacionais, com a pre-
cuja inalidade é desenvolver um encerrou sua produção, tornando o ocupação de promover o desenvol-
medicamento para o tratamento de Brasil seu único produtor mundial. vimento e a fabricação de produtos
pacientes contaminados por césio e No entanto, apenas um laboratório estratégicos em território nacional.
tálio radioativos”, ressalta o respon- público não é suiciente para atender
sável técnico. a grande demanda do SUS. “O LFM COMO TUDO COMEÇOU
No que se refere a doenças negli- iniciou, então, o desenvolvimento A história do LFM se funde com
genciadas, que são as doenças tropi- do produto Benzonidazol 100mg. a chegada da família real ao Brasil em
cais endêmicas causadas por agentes Após diversos testes, a formulação 1808. Naquele ano, a Botica Militar, o
infecciosos ou parasitas, como a ma- inal do medicamento foi deinida que hoje chamamos de farmácia, foi
lária, a doença de Chagas e a esquis-
tossomose, mais conhecida como
barriga d’água, o LFM tem apresen-
tado efetiva contribuição para a saú-
de nacional.
Vale destacar o fármaco especíi-
co desenvolvido para tratar a doença
de Chagas, que é uma antropozoo-
nose causada pelo Trypanosoma
cruzi, cujo vetor é conhecido popu-
larmente como “barbeiro”. O Benzo-

MARINHA em Revista Antigo LFM Ano 08 - Número 12 - março 2018 21


instalada no Colégio dos Jesuítas, no PRINCIPAIS MEDICAMENTOS NA “O LFM vem consolidando diversas
morro do Castelo, no Rio de Janeiro ÉPOCA parcerias com universidades
(RJ), para prestar assistência de saúde Desde a época do descobrimento, e empresas nacionais, com a
às tropas do Exército e da Armada de em 1500, a população do Brasil colônia preocupação de promover o
Portugal que chegaram escoltando a era acometida de várias doenças como:
desenvolvimento e a fabricação de
Família Real Portuguesa. coqueluche; disenterias; diteria; escar-
Com a independência do Bra- latina; febre amarela; infecções gerais;
produtos estratégicos em território
sil, em 1822, D. João VI, expediu um malária; peste bubônica; sarampo; tifo; nacional ”
decreto que deu abertura dos Portos tuberculose; e varíola. Os medicamen- Responsável técnico do LFM,
brasileiros e a criação de escolas de tos para combater essas enfermidades Sato
cirurgiões, iniciando o ensino de far- eram produzidos em boticas dirigidas
mácia. “Com o passar dos anos, após a por jesuítas, que em sua maioria eram nativas na produção de remédios co-
proclamação da República, em 1888, o feitos com matérias-primas naturais, meçou a ser intensiicado a partir de
Brasil sofreu mudanças políticas, eco- devido à diiculdade em conseguir pro- 1759, quando os jesuítas foram expul-
nômicas e sociais que izeram com que dutos europeus. Um dos compostos sos de seus domínios, tendo seus bens
o Rio de Janeiro, então capital do País, mais famosos utilizados foi à triaga bra- coniscados. Nesse período houve a
se adequasse aos parâmetros exigidos sílica, substância feita à base de plantas junção da sabedoria popular com os
de uma capital, inclusive a melhoria da medicinais, usado no combate a diver- estudos farmacêuticos na produção de
assistência de saúde”, airmou o Dire- sas doenças, chegando a alcançar fama medicamentos que passaram a ser dis-
tor do LFM, Capitão de Mar e Guerra internacional. ponibilizados nas boticas com os remé-
(S) José Alexandre Barbosa Lima. Segundo Barbosa, o uso de ervas dios mais tradicionais.
Nos primeiros anos do século
XX, outra importante, porém len-
ta, mudança estava em curso: o de- PROCESSO PARA PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS
senvolvimento industrial. Algumas
farmácias ampliaram suas capaci-
dades de produção de medicamen- ETAPAS
tos transformando-se nos primeiros
laboratórios. “A Marinha, pensando
em se ajustar às demandas feitas
pelo Estado Brasileiro, buscava se
Ocorre a mistura
inserir no contexto mundial da épo- Manipulação dos pós
ca. Criou então o Laboratório Far-
macêutico e o Gabinete de Análises,
instituídos pelo Decreto nº 6.233, de
14 de novembro de 1906, situado nas
Os pós ganham os
dependências do Hospital da Mari- Compressão formatos que conhecemos
nha, na Ilha das Cobras. Em julho de no mercado
1926, o seu nome foi alterado para
Laboratório e Depósito de Material
Sanitário Naval. Após oito anos, pas- Recebem embalagem
sou a ser chamado Laboratório Far- Emblistamento primária, com 10 ou 20
macêutico Naval”, explicou Barbosa. comprimidos

Com o im da Segunda Guer-


ra Mundial, em 1945, o Laborató-
rio passou por renovações. Tendo
sua organização reestruturada, seu Processo secundário,
Embalagem onde são embalados em
nome foi alterado, assim como o Final caixas com 500
seu regulamento, icando conhecido comprimidos
como Laboratório Farmacêutico da
Marinha.

22
As tropas de elite da
TAREFAS ESPECIAIS

Marinha do Brasil
Esses militares, designados para lidar com atividades de alto risco, se preparam
com treinos pesados e desaiadores
Por: Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros/Primeiro-Tenente (RM2-T) Natalie Louise Carvalho Neris
Fotos: Acervo CCSM e BtlOpEspFuzNav

C
onlitos internacionais estão litares passam a ser conhecidos como Naval Commandos (Força da Marinha
presentes nos noticiários dia- Mergulhadores de Combate (MEC) ou da França).
riamente. O Brasil não está Comandos Anfíbios (Comanf). São es- Tanto os mergulhadores de com-
envolvido em antagonismos mundiais, sas duas especialidades da Marinha do bate quanto os comandos anfíbios são
mas mesmo não vivenciando esse esta- Brasil que se caracterizam quanto ao considerados tropas de elite mais bem
do é dever das Forças Armadas estarem emprego rápido, estratégico, silencioso treinadas e eicientes. Eles chegam a lu-
preparadas para defender o País em e certeiro. Eles entram em ação quando gares onde ninguém consegue chegar,
qualquer situação que exija força, estra- o assunto é tarefas especiais. localizam possíveis ameaças, eliminam
tégia e atuação militar. O Grupamento de Mergulhadores alvos capciosos, cumprem ousadas
A Marinha do Brasil conta com (Grumec) e os Comandos Anfíbios missões de resgate e estão sempre pron-
dois grupos de combate que se diferen- (Comanf) são designados para realizar tos para o combate. No cenário operati-
ciam por sua atuação tática. Eles con- atividades especíicas em operações na- vo militar, são altamente conceituados
tam com militares altamente adestra- vais. Esse dois grupos brasileiros estão e relevantes.
dos para situações de risco e que lutam entre as forças táticas mais bem prepa- Os militares que compõem essas
por um único objetivo: a segurança radas do planeta, juntando-se às for- tropas possuem qualiicação exclusiva
nacional. Mas, para poder fazer parte ças especiais British Special Air Service para operar em ambientes de temerida-
de alguma dessas especialidades, não (Serviço Aéreo Especial do Exercito da de elevada. Deles são exigidos elevados
basta ser apenas militar. O ingresso já Grã-Bretanha), US Navy Seals (Força níveis de adestramento e habilidade
exige, de antemão, preparação física e da Marinha Norte-Americana), Sayeret para empregarem vários tipos de equi-
controle emocional. Depois do árduo Matkal (Unidade de Reconhecimento pamentos que exigem proissionalis-
e pesado curso de formação, esses mi- Geral da Forças de Defesa de Israel) e mo, competência e precisão. São esses

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 23


militares que aliam coragem, planeja-
mento detalhado, preparação constan-
te e zelo proissional na condução das
atividades que têm como missão.
Para o Contra-Almirante Carlos
Eduardo Horta Arentz, mergulhador
de combate há mais de 23 anos, en-
grossar as ileiras desse seleto grupo é
estar preparado para as ameaças não
tradicionais, em função de sua pecu-
liar e exigente preparação para atuar
em ambientes de risco elevado. “Os
Mergulhadores de Combate são uma
parcela relevante nas operações de con-
trole de áreas marítimas e de interdição
marítima e nas operações anfíbias e ri- Mergulhadores de Combate
beirinhas, seja atuando nas abordagens
não cooperativas, em nossas Águas
Jurisdicionais, em ações de retomada explica. técnicas especíicas na condução dessas
de navios ou plataformas de petróleo, Esses dois grupos de tarefas espe- tarefas. Dominam uma gama de equi-
eventualmente sequestradas, no resga- ciais são capazes de desenvolver ativi- pamentos, como paraquedas, embar-
te de reféns existentes, seja em apoio dades especíicas, trabalhando, mui- cações pneumáticas, lanchas de alta
às operações de paz sob a égide de or- tas vezes, em conjunto e lutando para velocidade, caiaques, veículos submer-
ganismos internacionais. Além disso, resguardar nossos interesses nacionais síveis, diversos tipos de armamentos,
possuem aptidão para serem furtiva- e defendê-los com estratégia, força e explosivos e de equipamentos de mer-
mente iniltrados em áreas litorâneas e muita habilidade. gulho, estando aptos a se iniltrarem no
ribeirinhas para executar ações de re- território inimigo sem serem vistos e,
conhecimento, sabotagem e destruição GRUMEC na maioria das vezes, em silêncio.
cirúrgica de alvos de valor estratégico”, Não basta ter fôlego. Para se tornar Quando um navio não colabora
destaca. um mergulhador de combate da Mari- ou não facilita a abordagem, é aí que
O Contra-Almirante, Fuzileiro Na- nha do Brasil, é necessário, em primei- entram em ação os mergulhadores de
val, Rogério Ramos Lage, que já atuou ro lugar, ter técnica e precisão. combate. “Desses militares é exigido
como comandos anfíbios por mais de Subordinado ao Comando da For- certo grau de diiculdade, pois atuam
25 anos, explica a importância e a sin- ça de Submarinos, o Grumec é sediado em operações e missões de alto risco.
gularidade da atuação desses militares, na Ilha de Mocanguê, em Niterói (RJ). Tenacidade, espírito de cooperação e
as ações de alto risco desenvolvidas A Divisão de Mergulhadores de Com- preparo psicológico são algumas das
por elementos de operações especiais bate foi criada em 1970, após oiciais e características inerentes aos Mec que
do Corpo de Fuzileiros Navais. “Os praças da Marinha realizarem cursos atuam nos três ambientes operacionais:
comandos anfíbios são preparados de mergulho de combate nas Marinhas mar, terra e no ar”, explica o Coman-
e adestrados para atuarem nos mais dos Estados Unidos da América e da dante do Grumec, mergulhador de
variados ambientes, seja na selva, no França. A partir dos conhecimentos combate, Capitão de Fragata Michael
pantanal, na caatinga, na montanha e adquiridos nessas experiências milita- Vinicius Aguiar.
em climas frios e nos mais diversos ti- res e mesclando as técnicas operativas Entre suas habilidades mais con-
pos de operações como, por exemplo, de mergulho e as terrestres, foi criada ceituadas, esses militares são treinados
o estabelecimento e a operação de pis- essa unidade operativa, adapta às ne- para realizar o reconhecimento de áreas
tas avançadas, zonas de lançamento e cessidades da Marinha do Brasil, so- costeiras, iniltração de maneira furtiva
zonas de desembarque, atuando como mando 47 anos de atuação. em locais estratégicos e interrupção de
guias aéreos avançados, caçadores, re- No treinamento e desempenho possíveis ataques. Dos principais even-
alizando uma ininidade de ações de de suas tarefas, esses combatentes são tos já realizados no Brasil, esse grupo já
comando, sobretudo ofensivas, além de lançados por submarinos, navios, avi- atuou na RIO +20, na Copa das Con-
ações de vigilância e reconhecimento”, ões, helicópteros, além de dominarem federações 2013 e na Copa do Mundo

24
2014. Para as Olimpíadas Rio 2016, a mento, combate ou ambas em prol, “Muitas vezes, as pessoas
tropa foi treinada, especialmente, pe- principalmente, das Operações An-
dizem que as missões são
los Seals, grupo de elite da Marinha fíbias da Marinha.
dos Estados Unidos da América, para Essa estrutura permite a orga-
impossíveis, mas, para esses
poderem garantir segurança nacional nização por tarefas de grupamen- homens, o impossível nada
nesse evento de cunho mundial. tos operativos e destacamentos mais é do que algo difícil que
Com a possibilidade do aumento para cumprir qualquer missão de será feito”
das atividades terroristas e de crimes interesse da Marinha no contexto
Comandante do
transnacionais pelo mundo, podendo, de operações especiais, inclusive,
inclusive, afetar o tráfego marítimo aquelas relacionadas com a reto-
BtlOpEspFuzNav, Capitão de
brasileiro e ameaçar as riquezas natu- mada de instalações e o resgate de Mar e Guerra Campos Mello
rais da nossa “Amazônia Azul”, vislum- pessoal.
bra-se a possibilidade de emprego mais Dentre os mais de 14 mil fuzi- devem realizar o Curso Especial de
intenso do Grumec nas ações de prote- leiros navais, pouco mais de 400 Comandos Anfíbios, com duração
ção marítima e ribeirinhas, de presen- compõem as operações especiais. de 22 semanas, que abrange diversas
ça nas fronteiras e, eventualmente, em “O militar para servir nessa área disciplinas de técnicas de iniltração,
Operações de Paz. deve ter coragem, porque ele vai patrulha e montanhismo.
participar de missões arriscadas, O treinamento operativo e físico
COMANF de treinamentos especiais com real é rígido, fazendo com que esses mi-
Tarefas arriscadas, precisas e perigo, seja ao saltar de paraquedas, litares lidem diretamente com situa-
que não permitem erros. Os Co- mergulhar ou operar munição real ções de socorro avançado, combate
mandos Anfíbios são  as forças todo o tempo. Ele tem que ter ab- em áreas urbanas e corpo-a-corpo,
especiais  do Corpo de Fuzileiros negação e determinação para agir, sobrevivência no mar e na terra. Eles
Navais da Marinha do Brasil. Eles apesar de todas as dificuldades que são capacitados e adestrados para
congregam os fuzileiros navais es- encontrará no caminho. Tem que operar em regiões ribeirinhas e no
pecificamente preparados para ter ousadia para fazer aquilo que Pantanal, em montanha e clima frio,
realização de operações especiais, os outros dizem que não pode ser em regiões semiáridas, selva e em
sendo subordinados ao Batalhão feito”, comenta o comandante do áreas urbanas. “Muitas vezes, as pes-
de Operações Especiais de Fuzilei- BtlOpEspFuzNav Capitão de Mar soas dizem que as missões são im-
ros Navais (BtlOpEspFuzNav), co- e Guerra Luís Manuel de Campos possíveis, mas, para esses homens, o
nhecido como Batalhão Tonelero, Mello. impossível nada mais é do que algo
pertencente à Força de Fuzileiros Para se tornar um Comanf, oi- difícil que será feito”, destaca o co-
da Esquadra. Surgiu na década de ciais e sargentos fuzileiros navais mandante do BtlOpEspFuzNav.
1970 e tem sede no Rio de Janeiro
(RJ). Em suas habilidades táticas,
colaboram com o poder naval, rea-
lizando missões de reconhecimen-
to, atuando em resgate de reféns,
ações de comando, ações de reto-
mada de instalações e inteligência.
Para desenvolvimento de suas
atividades de combate o BtlOpEsp-
FuzNav, organiza seus militares em
efetivos especializados e organiza-
dos por tarefas nomeadas de Gru-
pamentos de Operações Especiais,
podendo ser constituídos por Equi-
pes de Comandos Anfíbios, Unida-
des de Comandos Anfíbios ou em
Grupos de Comandos Anfíbios,
recebendo missões de reconheci-
Comandos Anfíbios

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 25


Uma Marinha para todos!
São diversas as áreas oferecidas pela Força para quem deseja seguir carreira e
engrossar as ileiras navais da Marinha do Brasil
CAPA

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros/Primeiro-Tenente (RM2-T) Natalie Louise Carvalho Neris
Fotos: Acervo fotográico do CCSM

F
oi no ano de 2001 que o Ter- contar do seu relacionamento com a nasceu. Lá brotou com ele o sonho de
ceiro-Sargento John Almeida Força. Em 2017, Xicharo celebrou bo- trabalhar como jornalista. Em busca
Xicharo iniciou sua carreira na das de cristal ao comemorar 15 anos do objetivo, ele foi cursar Comunica-
Marinha do Brasil (MB). Aos 17 anos, de serviço prestado. “Na Marinha, tive ção Social em Santa Maria (RS), onde
prestando o serviço militar obriga- a oportunidade de ter uma proissão, descobriu a Marinha do Brasil.
tório, ele que é natural do município de aprender, de crescer e conhecer Nessa cidade, além de sua forma-
de Coari, no estado do Amazonas, e muitos lugares, além de ser o orgulho ção acadêmica, o Capitão-Tenente ca-
sonhava ser jogador de futebol, des- da minha família que é muito humil- sou-se com Carla. O casal viu no então
cobriu-se um militar apaixonado pela de. Fui o único que seguiu carreira mi- concurso que a Marinha divulgava na
carreira que abraçara. litar e, ainda, pretendo crescer, ainda época a oportunidade de crescimento
Apesar de residir a mais de 400 km mais, na minha querida Força”, contou proissional em suas vidas, Streb como
de Manaus (AM), Xicharo, que é de emocionado. Jornalista e Carla como Fonoaudiólo-
origem indígena, não encontrou em- Em um outro contexto, o jornalis- ga. Juntos, estudaram e passaram no
pecilhos para insistir no sonho de tor- ta no Centro de Comunicação Social concurso da Força, em 2009, quando
nar-se um militar. Os anos de estudos da Marinha Capitão-Tenente Rodrigo partiram para o Rio de Janeiro (RJ),
renderam-lhe a aprovação, em 2002, Machado Streb encantou-se com a dando início às suas carreiras navais
para a Escola de Aprendizes-Mari- MB em 2008. Foi no município de São no Curso de Formação de Oiciais, em
nheiros do Ceará e, desde então, soma Pedro do Sul (RS), cidade com pouco família. “A Marinha me proporcionou
experiências e grandes histórias para mais de 14 mil habitantes, que Streb as melhores oportunidades da minha

26
para alcançar populações que os Dis- A CARREIRA
tritos Navais não conseguem entender Seguir uma carreira militar é fa-
comparecer pessoalmente”, explica o zer parte de organizações autorizadas
Chefe do Estado-Maior da Armada (à a usar a força. Elas são fundamentais
época Diretor-Geral do Pessoal da Ma- para a manutenção da segurança e da
rinha), Almirante de Esquadra Ilques soberania do País. Envolve paixão e
Barbosa Junior. profunda relação de quem serve na
Atualmente, a Marinha conta com instituição, sendo mais do que um
16 concursos para ingresso na insti- emprego, tornando-se uma missão
tuição. Desses, nove são abertos para de vida.
o ingresso feminino. No ano de 2016, A Diretoria de Ensino da Marinha
foram registrados mais de 113 inscri- é uma das organizações militares res-
tos para as diversas áreas e níveis de ponsáveis por divulgar as formas de
escolaridade. ingresso na Força, coordenando a ati-
Apesar de haver predominância vidade em conjunto com os nove Dis-
do pessoal da região Sudeste na com- tritos Navais, que abrangem as cinco
posição dos corpos e quadros de oi- regiões brasileiras. “Produzimos
ciais e praças, a Marinha tem desem- materiais de divulgação, tais como
penhado esforços para a agregação de vídeos, cartazes, folderes e palestras.
candidatos oriundos de outras regiões Esse material é enviado aos Distritos
do Brasil. “O objetivo principal é levar Navais para divulgação em suas áreas
a informação que a Marinha oferece, de abrangência”, explica o Diretor de
anualmente, vagas de trabalho em car- Ensino da Marinha, Vice-Almirante
gos de todos os níveis de escolaridade Antonio Fernando Garcez Faria.
até o interior do País e, assim, recru- A Marinha oferece várias por-
tar brasileiros dessas localidades para tas de entrada para as ileiras navais.
que, nos próximos concursos, a quan- Desde o ensino fundamental até o su-
tidade de inscritos de cidades fora do perior são inúmeras as possibilidades
Rio de Janeiro seja aumentada”, escla- de inserção para pessoas entre 15 e 41
rece o Almirante Ilques. anos. (veja quadro da pág. 28)

vida. Fiz cursos e também os ministrei


no exterior e no Brasil. Minha famí-
lia hoje é estabilizada graças ao que
alcançamos servindo à Marinha”, co-
menta Streb.
Assim como a história do Sargento
e do Capitão-Tenente, muitos outros
militares carregam em suas vidas a ex-
periência da carreira naval. A Marinha
registra em suas ileiras a representati-
vidade cultural do Brasil e busca alar-
gar, ainda mais, a base geográica de
pessoal, com novos meios de captação
e divulgação. “Para isso, estamos prio-
rizando o marketing digital, uma vez
que ele possibilita atingir o público-al-
vo com mais precisão, se compararmos
ao marketing realizado em meios tradi-
cionais. O marketing digital será usado Terceiro-Sargento Xicharo é de origem indígena e realizou o sonho de servir à Marinha

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 27


Ensino Fundamental
CONCURSO IDADE SEXO DURAÇÃO LOCAL BENEFÍCIOS
- Bolsa-auxílio;
- Alojamento;
15 anos completo - Alimentação; e
Colégio Naval Masculino 3 anos Angra dos Reis (RJ)
(limite 18 anos) - Assistência
médico-hospitalar

Ensino Médio
CONCURSO IDADE SEXO DURAÇÃO LOCAL BENEFÍCIOS
Masculino e
Escola Naval 18 a 23 anos 5 anos Rio de Janeiro (RJ)
Feminino
Escola de Formação
de Oiciais da Marinha Masculino e Rio de Janeiro (RJ) e
17 a 23 anos 3 anos
Feminino Belém (PA) - Bolsa-auxílio;
Mercante - Alojamento;
Florianópolis (SC); - Alimentação;
- Assistência médico-
Escola de Aprendizes- Fortaleza (CE); hospitalar; e
18 a 22 anos Masculino 4 anos
Marinheiros Vila Velha (ES); e - Perspectiva de cres-
Recife (PE) cimento proissional ao
longo da carreira
Soldado Brasília (DF) e
18 a 21 anos Masculino 17 semanas
Fuzileiro Naval Rio de Janeiro (RJ)
Sargento Músico Masculino e
18 a 24 anos 18 semanas Rio de Janeiro (RJ)
Fuzileiro Naval Feminino

Ensino Técnico

CONCURSO IDADE SEXO ÁREA DURAÇÃO LOCAL BENEFÍCIOS


Corpo Auxiliar de Masculino e Diversas
18 a 25 anos 17 semanas Rio de Janeiro (RJ)
Praças (CAP) Feminino Áreas* - Bolsa-auxílio;
- Alojamento;
- Alimentação; e
Quadro Técnico de - Assistência
Eletroeletrônica e
18 a 25 anos Masculino 55 semanas Rio de Janeiro (RJ) médico-hospitalar
Praças da Armada Mecânica

*Áreas CAP: Administração; Administração Hospitalar; Contabilidade; Desenho de Arquitetura; Desenho Mecânico; Ediicações; Eletrônica; Eletrotécnica; Enfermagem; Estatística; Estruturas Na-
vais; Geodésia e Cartograia; Gráica; Higiene Dental; Marcenaria; Mecânica; Metalurgia; Meteorologia; Motores; Nutrição e Dietética; Patologia Clínica; Processamento de Dados; Prótese Dentária;
Química; Radiologia Médica; Secretariado; e Telecomunicações.

Ensino Superior
CONCURSO IDADE SEXO ÁREA DURAÇÃO LOCAL BENEFÍCIOS
Quadro
Engenharia;
Complementar de
Ciências Náuticas 1
Oiciais da até 29 anos Masculino 39 semanas Rio de Janeiro (RJ)
e Educação
Armada e de
Física 1.1
Fuzileiros Navais - Perspectiva de
crescimento
Quadro Administração; proissional
Masculino e
Complementar até 29 anos Ciências Contábeis 39 semanas Rio de Janeiro (RJ) ao longo
Feminino da carreira;
de Intendentes e Economia
- Estabilidade
Masculino e após cinco
Quadro Técnico até 36 anos Diversas Áreas 2 39 semanas Rio de Janeiro (RJ) anos de serviço; e
Feminino
- Ingresso sem
Masculino e exigência de
Corpo de Saúde até 36 anos Diversas Áreas 3 39 semanas Rio de Janeiro (RJ) experiência anterior
Feminino
Corpo de Engenheiros Masculino e
até 36 anos Diversas Áreas 4 39 semanas Rio de Janeiro (RJ)
da Marinha Feminino
Capelão Naval até 41 anos Masculino Diversas Áreas 5 39 semanas Rio de Janeiro (RJ)

Área de Ciências Náuticas somente para o Corpo da Armada e Educação Física somente para o Corpo de Fuzileiros Navais.
1 1.1

Áreas: Arqueologia; Arquivologia e Gestão de Documentos; Biblioteconomia; Ciência da Computação; Ciências Náuticas; Comunicação Social; Desenho Industrial; Direito; Educação Física; Es-
2

tatística; Física – Licenciatura; História; Geologia/Geofísica; Informática; Letras; Português – Licenciatura; Matemática – Licenciatura; Meteorologia; Museologia; Música; Oceanograia; Pedagogia;
Psicologia; Serviço Social; e Segurança do Tráfego Aquaviário.
Áreas: Médicos: Clínica médica; Cirurgia Geral; Radiologia; Anestesiologia; Ginecologia e Obstetrícia; Pediatria; Psiquiatria; Ortopedia e Traumatologia. / Cirurgiões-Dentista: Cirurgião-Dentista;
3

Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial; Dentística; Endodontia; Implantodontia; Odontopediatria; Ortodontia; Patologia Bucal e Estomatologia; Periodontia; Prótese Dentária; e Radiologia.
Apoio à Saúde: Enfermagem; Farmácia; Fisioterapia; Fonoaudiologia; e Nutrição.

Áreas: Engenharia Cartográica; Engenharia Civil; Engenharia de Materiais; Engenharia de Produção; Engenharia de Sistemas de Computação; Engenharia Eletrônica; Engenharia Elétrica; Enge-
4

nharia de Telecomunicações; Engenharia Mecânica; Engenharia Naval; e Engenharia Química.


Áreas: Sacerdote da Igreja Apostólica Romana; Pastor da Igreja Assembléia de Deus; e Pastor da Igreja Batista
5

28
“A Marinha me
proporcionou as
melhores oportunidades
da minha vida. Fiz
cursos e também os
ministrei no exterior e
no Brasil. Minha família
hoje é estabilizada
graças ao que
alcançamos servindo à
Marinha”
Capitão-Tenente Streb,
jornalista
Cerimônia de formatura de Aspirantes da Escola Naval

ESCOLHENDO SER MARINHEIRO conhecimento da sociedade, atestado hora e aonde o usuário estiver”, escla-
É normal icar em dúvida na hora em várias pesquisas de mídia; e o cul- rece o Diretor de Ensino da Marinha.
de escolher qual carreira seguir. São to a valores e tradições”, destaca. A página oicial da Marinha no
tantas informações e opções que Além do plano de carreira naval, facebook também funciona como
chega a causar admiração quando a Marinha oferece diferenciais frente meio de divulgação de recrutamen-
alguém se mostra decidido, de pri- aos demais concursos públicos. Pers- to voluntário de pessoal, de forma
meira, quanto à futura proissão. Na pectiva de crescimento proissional, ágil, gratuita e regionalizada. Publica
carreira militar, não é diferente. transferências regionais remunera- as várias oportunidades de vagas de
Para tomar a decisão de se tornar das, assistências médico-hospitalar, trabalho em todos os níveis de esco-
um militar é preciso ter uma análise odontológica, religiosa e psicológica laridade, alcançando desde centros
prévia das vantagens oferecidas an- e as chances de participar de diversas urbanos até cidades interioranas do
tes de se candidatar. É comum surgir missões no Brasil e no exterior são al- País. Os candidatos podem acompa-
outro questionamento em todo esse guns dos benefícios da carreira. São nhar os webinar (seminários ao vivo
processo de decisão da proissão: vale essas as características que permitem nas mídias sociais) e sanar dúvidas
mais a pena embarcar na formação o candidato explorar mais sobre a em tempo real.
para uma proissão por ainidade Marinha. Do norte ao sul do Brasil, é possí-
com o assunto ou por causa do retor- Para que as formas de ingresso vel observar o trabalho realizado pela
no inanceiro que ela proporciona? na Marinha possam atingir o maior Marinha. É o exemplo dessa Força,
O Almirante Ilques explica que número de interessados possíveis, a singular e consolidada em tradições e
ainidade e retorno inanceiro podem Força tem investido na utilização das progressos, que oferece oportunida-
estar alinhados em quem opta por se- mídias sociais para alcançar públi- des proissionais àqueles que buscam
guir a carreira naval. “O estímulo em cos distantes. “Veriicamos que a fan um futuro promissor e profícuo. São
ingressar na Força e seguir a carreira page ‘Ingresso na Marinha’ tornou-se pelos exemplos do Sargento Xicharo
militar encontra-se alicerçado em fa- a melhor ferramenta de divulgação e do Capitão-Tenente Streb que po-
tores como o plano de carreira bem segmentada por se tratar de um canal demos observar os louros conquis-
deinido e com previsão de ascensão; que lida diretamente com o público tados com a carreira naval. Eles são
capacitação contínua; existência de jovem, de interesse para a Marinha. exemplos de luta, sonhos alcançados
apoio social e de serviço de saúde; re- Além disso, a informação chega à e progressos de vida.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 29


Mulheres de branco em
CARREIRA NAVAL

Villegagnon
Após quatro intensos anos de estudos e treinamento, a Marinha do Brasil declara
as primeiras 12 Guardas-Marinha mulheres formadas pela Escola Naval
Por: Primeiro-Tenente (RM2-T) Érika Mussi
Fotos: Arquivo Escola Naval/CCSM

30
h
onra, coragem, disciplina e zelo com o ingresso de mulheres em seus foi um período fácil, pelo contrário,
são apenas alguns dos atributos quadros e reairmou esse compromisso mas a minha determinação e vontade
que passaram a nortear a vida com a abertura de oportunidades para de fazer parte da história da Escola Na-
das 12 jovens que ingressaram na Esco- as mulheres em 2012, promovendo, val não me deixaram desistir. Aprendi
la Naval em 2014. As moças, oriundas pela primeira vez, uma mulher ao cargo muito e foi um período de suma impor-
de diferentes estados do Brasil, optaram de oicial-general. Desde então, uma sé- tância para mostrar quem realmente
por uma rotina dura, na qual abnegação rie de adaptações foram realizadas, com merecia permanecer no curso”.
fez parte das principais escolhas diárias, a inalidade de transformar o ambiente Atualmente, a Escola Naval, mais
não existindo espaço para fragilida- militar, para que homens e mulheres antigo estabelecimento de Ensino Supe-
des. Após quatro anos de luta e perse- pudessem servir à Marinha do Brasil de rior do Brasil, tem por propósito formar
verança, em 9 de dezembro de 2017, forma a congregar suas principais qua- oiciais da Marinha para os postos ini-
formaram-se as primeiras aspirantes lidades e valores. ciais das carreiras dos Corpos da Arma-
mulheres forjadas no “Solo Sagrado de A Guarda-Marinha haís Afonso da (CA), Fuzileiros Navais (FN) e In-
Villegagnon”, como é conhecida a Es- dos Santos fala sobre o início do curso tendentes da Marinha (IM), oferecendo
cola Naval, localizada no Rio de Janeiro na Escola Naval: “apesar da rotina, que vagas para as mulheres apenas no qua-
(RJ). exigiu grande esforço e dedicação, esta- dro de Intendentes. Após declaradas
As mulheres, que em 2013 disputa- va no lugar que sempre almejei estar. A Guardas-Marinha, em 2017, realizarão,
ram suas vagas com outras 3.343 candi- presença de nós mulheres num univer- em 2018, o ciclo pós-escolar, com um
datas, passaram, ao longo desses quatro so tão masculino, no início, foi diferente ano de duração e que se encerrará com
anos de formação, por muitos desaios e para todos nós, mas logo nos sentimos a viagem de instrução, apelidada cari-
conquistas. Entraram então na história integradas e parte do Corpo de Aspi- nhosamente por muitos de “viagem de
da Marinha do Brasil e da Escola Naval, rantes.” haís relembra, ainda, o perío- ouro”, a bordo do Navio-Escola “Brasil”.
que até então só havia formado oiciais do de adaptação no início do curso: “já A viagem tem como objetivo com-
homens. a adaptação foi uma experiência à parte, plementar, com ênfase na experiência
A Força Naval tomou o primeiro iz coisas e provei para mim mesma que prática, os conhecimentos teóricos ad-
passo para essa transformação em 1981, era capaz de superar meus limites. Não quiridos pelos Guardas-Marinhas na

GM (IM) Maria Carolina durante premiação da Navamaer 2017

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 31


Escola Naval, além de aprimorar a for-
mação cultural dos futuros oiciais. O
itnerário do navio contempla diversos
portos das Américas, Europa e Ásia e,
durante os dias no mar, são ministradas
aulas práticas de navegação, meteorolo-
gia, marinharia, operações navais, con-
trole de avarias e administração naval,
bem como é conduzida a importante
fase de adaptação da vida a bordo.
A futura oicial intendente da Mari-
nha Guarda-Marinha Fernanda Fonse-
ca explica: “minha principal expectativa
diante da carreira é poder servir à Mari-
nha do Brasil da melhor forma possível,
aprender bastante e conhecer outros
lugares do mundo”. Ela airma ainda
que gostaria de conhecer Grécia, Itália e
Holanda durante a viagem de instrução.
Para ela, a principal diiculdade encon-
trada durante o curso foi administrar o
tempo entre trabalho, estudo e treina-
mento físico.
Além da formação militar-naval
inerente à carreira, a Escola Naval, por Guardas-Marinha mulheres durante formatura, acompanhadas da CA (MD) Dalva
meio do desenvolvimento de ativida-
des complementares, aprimorou nesses
quatro anos, os aspectos físicos, cívicos
e culturais das aspirantes, assegurando os mesmos. Tivemos aula juntos, com adaptação com os novos aspirantes que
que as futuras oiciais da Marinha es- os mesmos instrutores, então temos a incorporam à carreira militar. Durante
tivessem plenamente preparadas para mesma base.” a 51ª Navamaer, tradicional competição
exercer as funções a elas atribuídas. A presença dos familiares, de acor- esportiva entre as três Forças Armadas,
Algumas relatam que as diiculdades do com as futuras oiciais, durante o realizada em julho de 2017, a aspirante
são naturais e muitas vezes as mesmas processo de formação, foi fundamental Laís Menezes subiu no lugar mais alto
de qualquer outra atribuição. “Acredito para o sucesso dessas jovens. Segundo a do pódio por cinco vezes nas competi-
que a nossa carreira se cria com base nas Guarda-Marinha hais Oliveira: “ o or- ções de atletismo, por exemplo.
decisões que tomamos durante o nosso gulho e a motivação dos meus familiares Os laços estabelecidos durante o
caminho, espero ser sábia o bastante e foram o que me manteve forte durante período de formação são uma iloso-
fazer boas escolhas”, conclui a Guarda esses anos. Foram períodos marcados ia incentivada por todos os oiciais do
-Marinha Géssica Custódio, de Brasília. por inúmeras lágrimas de dor, orgulho Comando do Corpo de Aspirantes da
A Guarda-Marinha haísa Azevedo e emoção, um período marcado pelo Escola Naval. A primeira colocada das
relembra os anos de formação e reitera suor”. hais acrescenta que o resultado intendentes, a Guarda-Marinha Na-
que sempre houve a preocupação em do convívio diário foi muito importante raiane airmou: “Após estes anos, posso
tratar homens e mulheres como mili- para o desenvolvimento do espírito de ratiicar que vale muito a pena. A Esco-
tares, independentemente do gênero, turma. la Naval nos formou grandes homens
mentalidade que sempre foi mantida na Enquanto aspirantes, as futuras e mulheres, prontos para servirmos à
instituição: “as cobranças impostas aos oiciais participaram de diferentes ati- Pátria. Minhas companheiras de turma
meus colegas do sexo masculino foram vidades: representações, eventos, ativi- têm muito a ver com isso, pois a convi-
as mesmas impostas a nós. Os ensina- dades esportivas que culminaram com vência com elas me fez ser forte e perse-
mentos passados, tanto do militaris- a conquista de medalhas em competi- verar. Sou muito grata a Deus por tudo
mo, quanto da parte acadêmica, foram ções, além da condução de períodos de o que passei aqui”.

32
“As cobranças impostas
aos meus colegas do
sexo masculino foram
as mesmas impostas a
nós. Os ensinamentos
passados, tanto do
militarismo, quanto da
parte acadêmica, foram
os mesmos. Tivemos aula
juntos, com os mesmos
instrutores, então temos
a mesma base”
GM Thaísa Azevedo

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018


haisa Azevedo durante prova de atletismo da Navamaer 2017 33
Aspirantes estrangeiros
CARREIRA NAVAL

marcam presença na
Escola Naval
Acolhimento e saudade marcam rotina de alunos de outras nacionalidades
na instituição militar brasileira
Por: Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros
Fotos: Suboicial (AR) Alexander Vieira

“t
odos deveriam sentir-se ensino, esses alunos, que antes passam propriedade, de forma oral e escrita,
estrangeiros um dia. Neste por um estágio de nivelamento para na língua portuguesa e no domínio
momento conhece-se o ho- adaptação acadêmica, integram as i- de conhecimentos que formam a base
mem dentro de nós, sua força, sua ca- leiras navais brasileiras como alunos necessária para acesso aos cursos de
pacidade de dominar o meio, interagir Aspirantes e levam para suas vidas mi- graduação da escola”, explica o asses-
com ele, fazer amizades, vencer o medo.” litares a troca de experiências pessoais sor da Superintendência de Ensino
O poeta brasileiro Augusto Branco de- e culturais de diferentes nações. da Escola Naval, Capitão de Fragata
clama em versos a coragem de quem O estágio é um conjunto de aulas (RM1-T) Adocilio Candido Tenório.
deixa sua nação, sua família e sua rotina destinadas ao trabalho de conteúdos, Os Aspirantes chegam à Esco-
para galgar, a passos largos, a realização habilidades e competências conside- la Naval no primeiro ano. Apesar do
de um sonho, o aprimoramento prois- radas pré-requisitos para o acompa- receio inicial, o corpo acadêmico da
sional e o autoconhecimento. nhamento das disciplinas do currícu- Escola Naval procura preservar suas
É na Escola Naval, instituição mi- lo brasileiro, de modo que viabilize a origens e se adaptar aos seus costu-
litar da Marinha do Brasil que promo- compreensão, a fala e a escrita da lín- mes nativos. “Esses jovens tiveram
ve a formação de futuros oiciais, que gua portuguesa desses alunos. “Todo uma imigração diferenciada, visto que
muitos jovens estrangeiros buscam o esse processo é importante porque vai estão representando, antes de qual-
reinamento em suas carreiras navais. capacitá-los por meio do desenvol- quer coisa, os seus países de origem
Com a inalidade de realizarem for- vimento de competências para com- em uma formação superior especial,
mação superior nessa instituição de preender e poderem se expressar com que é a militar, e, por características

34
próprias, inerentes à caserna, como
o aquartelamento ou internato, ne-
cessitam de uma atenção a mais por
parte de todos da instituição, desde os
professores, do Serviço de Orientação
Educacional e Pedagógica, até a admi-
nistração de sua alimentação, pois al-
guns, por exemplo, são muçulmanos e
não podem fazer o consumo de carne
de porco, comum da alimentação bra-
sileira”, explica o Mestre em Educação
Capitão de Mar e Guerra (RM1) Her-
cules Guimarães Honorato.
O contato inicial com os alunos
estrangeiros é imediato. Não há sepa-
ração nas atividades e o convívio co-
meça desde o primeiro dia. “A rotina Prática de Treinamento Físico Militar é realizada diariamente
com eles ocorre da mesma forma, sal-
vo alguns períodos do ano, nos quais
eles possuem algumas modiicações “Eu quero estar apto
as diferenças cultural e religiosa. A in- A DIDÁTICA DE CONVIVÊNCIA para usar as habilidades
teração, rápida e eicaz, deriva do sis- Os motivos são diversos para es-
colherem sair do conforto familiar e
que eu aprendo na
tema esquematizado pela Escola, que
dá o suporte linguístico e acadêmico, da comodidade cultural de seus paí- escola para atender às
juntamente aos valores e tradições da ses, para viajarem em direção à reali- necessidades do meu
instituição, possibilitando a melhor zação de um sonho. país”
Selecionado por aproveitamento
adaptação deles”, conta João Victor Aspirante Itamar,
Oliveira Magela, aluno do 3º ano. acadêmico na Academia de Angola,
podendo optar por cursar no Brasil
angolano
Atualmente, a Escola Naval acolhe
26 alunos estrangeiros, matriculados ou em Portugal, o Aspirante Itamar de
no ciclo escolar, cumprindo o perío- Aloísio Vicente Pereira, de 24 anos, des- atividades esportivas e aprendem em
do de quatro anos de formação. Mais taca o principal motivo de sua escolha grupo. “Eles são participativos em diver-
de 115 estrangeiros já passaram pela pelo ensino brasileiro. “Simplesmente sas atividades esportivas e grêmios, isso
Escola Naval. A Namíbia é o país com por poder cursar na melhor escola de sem contar a troca de experiências que
mais militares que foram capacitados oiciais, em busca da melhor prepara- gera um grande enriquecimento cultu-
pela Marinha do Brasil. ção acadêmica e proissional”, destaca. ral para ambas as partes envolvidas”, co-
Para o ex-Comandante do Corpo Itamar escolheu o Corpo da Arma- menta o Aspirante Magela.
de Aspirantes Capitão de Mar e Guer- da, cursa habilitação em Mecânica e Para o Comandante Hercules Gui-
ra Vagner Belarmino de Oliveira, não está no 3º ano. Ele destaca que a possi- marães Honorato, o currículo em vigor
só os alunos ganham com essa troca bilidade de ser maquinista, juntamente para a disciplina de língua portuguesa é
de experiência entre nacionalidades, com a gama de formação extracurricu- acrescido de outras atividades que de-
mas também a instituição Marinha lar que a instituição brasileira disponi- mandam aprendizado fora da sala de
do Brasil. “Trata-se de uma grande biliza, é essencial para sua qualiicação. aula. “Visitas a pontos turísticos e a ins-
e valiosa oportunidade para a nossa “Eu quero estar apto para usar as habi- tituições de reconhecido valor, como a
Marinha fortalecer os laços de ami- lidades que eu aprendo na escola para Academia Brasileira de Letras, a Biblio-
zade, cooperação e coniança mútua, atender às necessidades do meu país”, teca Nacional, museus, salas de concerto
bem como contribuir com a capaci- conta. também integram a vida do aspirante”,
tação dessas marinhas, favorecendo, A rotina diária da escola é a mesma explica.
até mesmo, a estabilidade geopolítica para todos. Brasileiros e estrangeiros Mesmo com o estágio inicial re-
das regiões nas quais estão inseridas as dividem o mesmo camarote, a mesma alizado em seu país de origem, antes
respectivas nações”, explica. sala de refeição, praticam as mesmas do ingresso na Escola Naval, a fa-

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 35


co da saudade é a tecnologia. “Mante-
nho contato por celular ou redes sociais
e aproveito as férias de inal de ano para
estar com eles. Não é fácil, mas a gente
aprende a lidar com as perdas por es-
colhas e prioridades”, comenta Itamar.
Apesar da distância da família, tem
também a ansiedade de conhecer o
país tropical, que, na descrição de Jorge
Estudo em grupo entre brasileiros e estrangeiros Ben Jor, “é abençoado por Deus e bo-
nito por natureza”. Por unanimidade,
o que mais encanta esses estrangeiros
miliarização com o idioma ainda é DA SAUDADE DE CASA A é o acolhimento fervoroso. “O Brasil já
o maior desaio. “Acostumar com o GUARITA BRASILEIRA me proporcionou várias oportunidades
afastamento do lar e da família cer- Ao se mudarem para o Brasil, além e a chance de viver diferentes momen-
tamente foi e ainda é muito difícil, de terem de se adaptar à nova cultura, tos, que para sempre serão guardados
mas o maior desaio é o idioma, pois comida e as tradições, os estudantes na minha memória, como a Copa do
é um dos mais complexos e precisa- também enfrentam os dilemas do pri- Mundo, a Jornada Mundial da Juventu-
mos dominá-lo para poder acom- meiro dia de aula. O Aspirante Ralph de e as Olimpíadas”, conta Ralph.
panhar a rotina e as aulas sem icar lembra o contato inicial com os novos É pelo entusiasmo, proissionalis-
para trás”, destaca o Aspirante Ralph colegas e o novo ambiente. “Como mo e diversidade cultural que esses
Abi Ghanem, de origem libanesa. tudo na vida, a gente sabe que o tempo jovens optam pela oportunidade de
Ralph tem 24 anos e está no 4º cura praticamente qualquer coisa e nós fazerem e serem a diferença em seus
ano da escola. Escolheu o Corpo da acabamos aceitando a realidade e se países. Ao observá-los, engrossando as
Armada, com habilitação em Siste- adaptando à ela e às pessoas”, comenta ileiras navais da Escola Naval, é pos-
mas de Armas. Ele destaca os frutos o militar. sível compreender o fascínio que eles
adquiridos com a escolha em cursar O Aspirante comenta ainda que a têm pela carreira que escolheram abra-
fora do seu país. “O intercâmbio nos cobrança pessoal é um fator determi- çar. Eles mantêm o andar cadenciado
torna uma pessoa mais forte, inde- nante para o aluno estrangeiro. “Em- com passos irmes, trajam suas fardas
pendente, tolerante, menos precon- bora haja aproximação cultural, no reluzentes e rumam ao topo de suas re-
ceituosa e, sem dúvida, mais cons- meu caso, o maior desaio é lidar com alizações proissionais. E, assim, depois
ciente da realidade do mundo na sua o fato de estar representando um país”, de quatro anos de aprendizado e aper-
complexidade e mais irmes e dei- explica. feiçoamento, eles podem voltar em paz
nidos em nossas crenças, opiniões e Quando o assunto é a família, o ao conforto de seus lares e prontos para
princípios. Nos torna, também, me- meio utilizado para amenizar um pou- defenderem seus países.
lhores proissionais, pois adquirimos
uma bagagem maior e mais diversii-
Países que estão/estiveram com representantes na Escola Naval:
cada”, explica.
Para Magela, os alunos brasilei-
ros ganham muito com a experiên- Angola Nigéria
cia e a oportunidade de conviverem
diariamente com aspirantes de ou- Cabo Verde Namíbia
tras nacionalidades. “Minha adapta-
ção com eles é excelente, tanto que, Guiné Bissau Panamá
atualmente, eu divido camarote com
um estrangeiro, que é um excelente
amigo e exemplo de vida a ser segui-
Honduras Peru
do por sua humildade e honestida-
de”, conclui. Líbano Senegal

Moçambique Venezuela

36
Marinha tem primeira
GENTE DE BORDO

mulher combatente nas


ileiras navais
Foi com a aprovação no Quadro de Oiciais Auxiliares da Marinha que a tenente
Débora viu a oportunidade de incluir o segmento feminino no combate
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros
Fotos: Capitão-Tenente (T) Rafael Dutra Miranda

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 37


t
alvez a maioria das pessoas, ao
verem o ilme “No limite da
honra”, no qual a atriz Demi
Moore interpreta uma oicial da Ma-
rinha dos Estados Unidos e luta bas-
tante para fazer parte de um grupo de
elite das Forças Armadas do país, ima-
gine que feminilidade e vida militar
não combinem. Entretanto, o crescen-
te número de mulheres integrando as
Forças Armadas no Brasil mostra que
o militarismo pode sim ser compatível
com o universo feminino.
A força da mulher, considerada por
alguns como frágil, tem destaque no
Brasil desde a época imperial. Maria
Quitéria de Jesus Medeiros lutou pela
independência do País. Ela alistou-se
no regimento de artilharia e serviu no
Batalhão dos Voluntários do Impera- Iara, Débora orgulha-se de sua história Um pouco mais dessa história de
dor, em 1822. Pelo seu entusiasmo e de vida e de sua família. Em casa, ela vida, com seus desaios e evoluções,
bravura, Maria Quitéria conquistou o divide suas experiências vivenciadas na começa a ser contada agora no Gente
respeito dos companheiros e recebeu Marinha com o irmão, que também é de Bordo.
de D. Pedro I a insígnia de Cavaleiro da militar. Solteira e sem ilhos, dedicou-
Ordem Imperial do Cruzeiro. se diuturnamente aos estudos e, em Como a Marinha entrou na sua
Na Marinha do Brasil, a história das 2014, alcançou sua meta tão sonhada: vida?
mulheres teve início nos anos 80. Na- ser oicial. Tudo começou por inluência do
quela época, elas integravam um corpo Débora ingressou na Marinha do meu irmão, que hoje é Segundo-Sar-
auxiliar e sua participação era restrita Brasil no ano de 2004. Entrou como gento. Ele ingressou primeiro na Mari-
a alguns cargos e ao serviço em terra. Terceiro-Sargento no Quadro de Mú- nha e foi aí que obtive o contato inicial
Entre 1995 e 1996, o acesso das oiciais sicos, única especialidade que aceita com a Força. Com o passar do tempo
mulheres foi estendido aos corpos de mulher como Fuzileiro Naval. E foi nas eu fui conhecendo mais sobre os con-
saúde e engenharia. As evoluções não sinfonias musicais da banda do Centro cursos e percebi que havia a oportuni-
pararam e, atualmente, elas ocupam de Instrução Almirante Sylvio de Ca- dade de servir fazendo o que eu mais
diversas especialidades como oiciais e margo, última Organização Militar que amava, que era tocar. Me inscrevi no
praças. serviu como musicista, que ganhou concurso, passei e fui cursar no Centro
A história do Gente de Bordo traz, inspiração para sonhar mais alto. Na de Instrução Almirante Sylvio de Ca-
nesta edicão, uma personagem que car- época, ela tocava saxofone. margo. Lá eu iniciei minhas atividades
rega consigo o ineditismo de ser a pri- Ao concluir o nível superior, surgiu como militar. Depois do curso, fui para
meira mulher combatente do Corpo de a oportunidade de prestar concurso o Batalhão Naval, no qual trabalhei por
Fuzileiros Navais e das Forças Armadas interno para o Quadro de Oiciais Au- um ano e oito meses. Eu tocava saxofo-
brasileira a integrar uma tropa em mis- xiliares da Marinha, sendo aprovada ne e, de imediato, senti como a minha
são de paz. no concurso para oiciais em 2014. Já presença fazia a diferença para o grupo.
A Segundo-Tenente do QuadroAu- como oicial, no ano de 2016, a Tenente Depois, eu pude concluir que na músi-
xiliar de Fuzileiros Navais Débora Fer- Débora concluiu o curso de Especiali- ca é assim, todo mundo é importante,
reira de Freitas tem 34 anos, 13 deles zação em Guerra Anfíbia e tornou-se para tudo estar em sintonia.  Quando
dedicados à Marinha do Brasil, é natu- a primeira mulher habilitada a coman- eu saí do Batalhão, fui servir no Centro
ral do estado do Rio de Janeiro e serviu dar um pelotão de infantaria no Brasil. de Instrução Almirante Graça Aranha
no Grupamento Operativo de Fuzi- Exerceu ainda a função de oicial de as- servir por três anos. E, desde então, mi-
leiros Navais do Haiti (GptOpFuzNav suntos civis e de comunicação social do nha carreira não parou mais. Fui sem-
-Haiti). Filha de seu José Carlos e dona GptOpFuzNav-Haiti. pre evoluindo.

38
Quando surgiu seu interesse pela público consegue se emocionar com adestramentos, tem a parte física.
música? as apresentações, imagine nós que Somos muito demandados, há mui-
Minha família e eu sempre fomos vivemos isso? É mágico. Quando eu to esforço físico, principalmente na
da igreja. Na adolescência, eu icava passei para Oicial e fui cursar Guerra pista de obstáculos e de cabos. Foi
deslumbrada com a banda de música Anfíbia, mesmo com todo o treina- exaustivo pra mim e, mesmo per-
que tocava nos cultos que eu frequen- mento que nos é exigido, mesmo às cebendo que, às vezes, o homem
tava. Não demorou muito e comecei a vezes tendo que deixar a vaidade fe- pode demonstrar mais força do que
estudar as partituras. Foi quando me minina de lado, é muito tocante par- a mulher, eu fui superando os meus
apaixonei pelo saxofone. Toquei na ticipar de atividades que diicilmente limites e consegui concluir tudo
igreja desde os meus 15 anos e, com o outras mulheres têm a oportunidade com muito empenho. Durante o
tempo, fui participando de concursos de vivenciar. curso, houve 16 desistências, mas,
de bandas e sendo convidada a tocar com a ajuda de Deus e apoio dos
Quando surgiu o sonho de se
em casamentos e festas particulares. meus companheiros de curso, con-
tornar oicial da Marinha do segui concluir o que me foi exigido.
Qual o momento mais marcan- Brasil?
te vivenciado na Marinha como Foi em 2010, quando terminei Por que você se voluntariou
sargento músico? meu curso superior em Música, na para a missão no Haiti?
A manobra que participamos du- Universidade Federal do Estado do Sempre foi meu sonho integrar
rante o curso de sargento na Ilha da Rio de Janeiro. Naquele momento, uma missão no exterior. Eu tinha
Marambaia, no Rio de Janeiro (RJ), eu vi a necessidade de evoluir na apoio da minha família, então eu
e a minha primeira apresentação Marinha também. E mesmo sabendo fui atrás do sonho de trabalhar com
como musicista executante na Banda que não carregaria a música comigo ações humanitárias. A maior lição
do Corpo de Fuzileiros Navais, com nessa nova singradura, eu sempre que podemos aprender com todo
certeza, foram as mais marcantes da tive absoluta certeza de que a música esse trabalho é o respeito à diver-
minha vida. sempre estaria em minhas raízes. sidade cultural e a importância da
solidariedade. Os haitianos gostam
Qual a apresentação que mais te Como foi o Curso de Formação muito dos brasileiros, então, a nos-
emocionou? de Oicial? Qual o maior desaio sa convivência no país é muito boa
Quando a banda se apresentava enfrentado? Você teve apoio de com todos.
para crianças com necessidades es- seus colegas e sua família?
peciais. A música funcionava como Minha família sempre me Qual seu maior orgulho como
um remédio para as dores, a triste- apoiou e os meus colegas vibra- militar?
za, o desânimo e os problemas. Isso ram com a novidade, sempre com Servir a minha pátria não tem
sempre me emocionava muito. Es- palavras de ânimo para o novo ca- preço, mas, como mulher, poder
tar com aquelas pessoas funciona- minho que eu estava indo trilhar. representar o nosso gênero e fazer
va como tratamento de alma para Quanto ao início do curso, foram parte dessa evolução feminina nas
mim. três anos de estudos intensos até a Forças Armadas é muito signiicati-
aprovação, mas, sem dúvida, o ano vo para mim. E hoje esse avanço é o
Quando falamos sobre Fuzilei- de formação é o mais corrido. A meu maior orgulho.
ros Navais, é normal a maioria quantidade de matérias específicas
das pessoas associar a especia- do Fuzileiro Naval é bem extensa, O que a Marinha representa na
lidade a homens, seja por causa tanto teórica quanto prática, esse sua vida?
das operações especiais seja pelo foi o maior desafio. Representa a minha vida, a mi-
grande esforço físico exigido. nha evolução, as minhas conquistas
Como é ser uma mulher Fuzilei- Depois do curso de formação, e o meu sonho. É na Marinha que
ro Naval? você foi fazer especialização tenho, diariamente, a oportunidade
Sem dúvida, é um grande orgu- no curso de Guerra Anfíbia. de desenvolver minhas técnicas, de
lho. Eu não consigo nem expressar a Como foi essa experiência? aperfeiçoar minhas habilidades, tra-
emoção. Apesar de ser bem desaia- Foi em 2016 e eu era a única balhar com o que eu gosto, ganhar
dor, é gratiicante. Mesmo quando eu mulher do curso, o meu desafio co- novas experiências e descobrir no-
era musicista, já era maravilhoso. Se o meçou aí. Além da intensidade dos vos rumos.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 39


Marinha de Guerra...
Marinha da Arte
CIULTURA

Bandas militares tocam história, tradição, motivação e arte

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Natalie Louise Carvalho Neris


Foto: Acervo fotográico do CCSM

G
aitas escocesas, surdos, caixas navegar nas próximas frases, têm atemorizar os inimigos. Mesmo sen-
de guerra, trombonitos, bom- grande presença e importância no do instrumento formalizado dentro
bos, trompetes, taróis, lau- círculo militar, mas principalmente das Forças Armadas, a música, ain-
tins, pratos, triângulo, liras e schel- para a sociedade. Formaturas, para- da hoje, proporciona um retorno
lenbaum (árvore dos sinos). Sons, das, solenidades, anúncios, desiles de sentimentos outrora vividos em
escalonamento, métricas, padrões, e outras formalidades militares e ci- batalhas e missões realizadas pelos
sequências musicais, articulações, vis bradam por galantes entonações militares, denominado pelos gregos
movimentos, ritmo, leveza e graça musicais. Nesses eventos, o “caráter de Ethos.
devastam a apática inércia da ausên- da música militar se mostra, mas A sua importância no meio mi-
cia de som. Notas musicais, anún- seu lado popular, modinheiro, lí- litar se tornou fundamental para
cios, rítmicas e evoluções marcam rico e cotidiano do povo brasileiro manutenção da vida de soldados
a marcha de cores vermelhas, bran- se revela, fazendo-a não puramente e do sucesso de suas batalhas. Por
cas e douradas dos uniformes. À bélica”, analisa o professor doutor meio dela, sinais, comandos, ca-
memória, sentimentos diversos de Vinícius de Carvalho, da Universi- dências e outros eram emitidos às
nostalgia e esperança são contados dade Federal de Juiz de Fora (UFJF). tropas. E, cada vez mais, padrões e
pelos instrumentos de uma garbosa A música foi encontrada pelo sequências musicais como “mar-
tropa composta por verdadeiros ho- meio militar como forma relevante char” e “aproximar” eram emprega-
mens do mar. de comunicação nas batalhas, mas dos pelas forças militares. Destacan-
As bandas militares, por meio também como elemento psicológi- do a importância da relação musical
das quais o seu conhecimento vai co, fosse para animar as tropas ou e militar, o Comandante da Compa-

40
mais organizada, com três instru-
mentos de sopro e de tambores, e os
músicos eram chamados de aenea-
tores. Na Inglaterra e na Escócia, a
música trazia tradicionalmente a
presença da cornamusa, conhecida
como gaita de fole.
No século XIV, Nicolau Maquia-
vel, em sua obra “A Arte da Guerra”,
orientou que os oiciais deveriam
emitir seus comandos por meio dos
sons dos trompetes, pois, mesmo
em meio ao tumulto das batalhas,
podia ouvir seu som. Já as lautas e
os tambores eram empregados para
garantir disciplina às marchas e
aos deslocamentos da infantaria no
campo de batalha.
No ano de 1808, nas águas do
estado do Rio de Janeiro, navios an-
coraram com a família real e a corte
portuguesa e trouxeram a origem
dos Fuzileiros Navais e da Brigada
Real da Marinha. Esta desilou ten-
do à sua frente bandas de música
marcial, com uniformes pomposos
e orquestrados por sons vibrantes.
“Muitos autores vinculam o surgi-
mento das bandas civis à formação
das bandas militares. A função das
bandas militares, no processo de
nhia de Bandas do Batalhão Naval, lhas ou marchas triunfais, nas quais difusão das bandas no Brasil, con-
Capitão de Fragata Sidney da Costa os instrumentos eram de sopros e irma-se como atuantes, com fatores
Rosa, detalha a importância da mú- tambores. Já em Roma, segundo o simbólicos e instrumentais, enten-
sica no meio militar. “De todas as Professor Doutor Vinícius de Car- dida como uma combinação pecu-
manifestações artísticas produzidas valho, da UFJF, a música militar era liar de instrumentos de sopro e per-
pelo ser humano, poucas guardam
tanta ainidade com a proissão mi-
litar quanto a música. Desde a mais
remota antiguidade até as guerras
de alta tecnologia de nossos dias, as
bandas militares cumprem o singu-
lar e insubstituível papel de reforçar
o moral e o ânimo daqueles que, nas
casernas em tempos de paz ou nas
agruras das campanhas, dedicam-se
à proissão das armas”, explica.
As ações militares ligadas à mú-
sica estão registradas na história.
Na literatura grega, existe referência
aos músicos acompanhando bata-
Gaitas de Fole Escocesas em execução durante apresentação

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 41


cussão”, conclui Fernando Binder,
músico e mestre da Universidade
Estadual Paulista (UNESP), sobre a
inluência na sociedade.
Atualmente, na Banda Marcial
do Corpo de Fuzileiros Navais, que
tem reconhecimento no cenário
musical brasileiro e internacional,
120 executores movimentam a di-
versidade de 12 tipos de instrumen-
tos musicais. A Marinha do Brasil
é a única força que dispõe de uma
Banda Marcial. Exibidas em diver-
sos países, as execuções alcançam
Regente-Mor Luiz Carlos Gomes Barboza
diversas camadas da sociedade, di-
fundindo a música e a Marinha do
Brasil. “Responsável pela contagiante energia que consagra cada
Na Marinha, há uma diversidade apresentação como única e por fazer qualquer música virar energia,
de bandas militares: Banda de Mú- com ritmo, melodia e harmonia típicas da Banda Marcial”, assim se
sica (estruturas instrumentais e de apresenta o Suboicial Fuzileiro Naval Luiz Carlos Gomes Barboza
pessoal variadas); Banda Marcial; e Regente-Mor da Banda Marcial de Fuzileiros Navais.
Banda Sinfônica, além de Conjun- Inluenciado musicalmente por seu pai músico, desde a
tos Musicais populares. Em todas infância, se envolveu com a música. Ao servir à Marinha do Brasil,
elas, somam-se mais de 300 milita- encantou-se, em sua juventude, com a Banda Marcial de Fuzileiros
res músicos. Navais realizando evoluções e coreograias. Por essa razão, prestou
Cada Distrito Naval tem sua concurso para o quadro de Cornetas e Tambores para então ser
banda militar. As bandas de músi- incorporado à Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais.
ca são agentes responsáveis pelos Aos 52 anos, com 25 anos de casado e duas ilhas, Luiz Carlos
consagrados prenúncios de autori- airma, emocionado, a satisfação de ser o suboicial-mor da Banda
dades e formosas cerimônias mili- Marcial desde 2014. Sua carreira na banda teve início em 1986,
tares, que exaltam as tradições. “Em quando obteve sua especialização. Em 2006, tornou-se um dos
um ambiente militar, as Bandas de regentes. Já em 2013, transferido para a Namíbia, apoiou a banda
Música são utilizadas como instru- musical da Marinha do país africano.
mento de integração e socialização. Com vasta experiência, o suboicial já fez parte de diversas
A manifestação dos sentimentos se bandas, como a Banda de Música do Rio de Janeiro e do
sobressai, inluenciada pela música Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília, a Banda Sinfônica e a
militar, que estimula a exterioriza- Banda híbrida do Corpo de Fuzileiros Navais. “Reger não somente
ção dos valores que se traduzem no com as mãos, não somente com o corpo, mas também com o rosto.
amor à Pátria e às tradições milita- Quando falamos de coração, falamos de batidas rítmicas, e quando
res”, comenta o comandante Sidney. falamos de batidas, falamos da Banda Marcial”, conta emocionado.
Criada em meados de 1970, a Inluenciado musicalmente por Guilherme Arantes e Ivan Lins, o
Banda Sinfônica pertence à Compa- maestro confessa inluências, em seus arranjos musicais vibrantes
nhia de Bandas do Batalhão Naval. e dançantes, das bandas norte-americanas Eart, Wind & Fire e
Ela exerce um lado rente à sensibili- CHIC.
dade em consonância com a música Destacou, como uma das mais marcantes apresentações em
clássica. Há, em suas apresentações, que regeu, a Banda Marcial, durante desile, em Brasília (DF), com
uma miscelânea com músicas canta- a presença de autoridades máximas do País, entre elas o presidente
das, eruditas e populares. Sua com- da República, ministros e senadores.
posição traz oiciais regentes e 84 Aqueles primeiros passos musicais, quando ainda era criança,
músicos militares. “A execução de e toda inluência de seu pai, o levaram à regência mor de uma das
hinos pátrios, dobrados e marchas maiores bandas marciais do mundo. Sendo eterno marinheiro,
orgulha-se de todos os seus triunfos alcançados.
42
“De todas as
manifestações
artísticas produzidas
pelo ser humano,
poucas guardam
tanta afinidade com
a profissão militar
quanto à música”
Comandante da
Companhia de Bandas,
Capitão de Fragata
Sidney
Banda Sinfônica da Marinha do Brasil em apresentação no Rio de Janeiro

militares, que contagiam as tropas e movimentos em evoluções sincro- embarcação foi incorporada à For-
por ocasião das cerimônias em que nizadas com os dobrados e marchas ça Naval brasileira, em 1951, com o
são realizados os desiles, retretas militares. “O estilo musical se difere nome de Cruzador “Tamandaré”, e
e concertos, levando, por meio das das demais bandas devido a seus rit- sua tripulação presenteou a Banda
melodias e dos acordes executados, mos, batidas e evoluções próprias, Marcial com 16 gaitas escocesas.
o estímulo aos mais diversos senti- para públicos grandes e a céu aber- Ao fazer um resgate histórico
mentos ligados aos valores milita- to” destaca o Sub-Oicial-Mor da sobre nossas bandas, há de eviden-
res, sejam eles em relação à nação, Banda Marcial Luiz Carlos Braga. ciar a atuação de diversos Fuzileiros
à Instituição a qual pertencem ou à As gaitas de fole escocesas são Navais e maestros de relevância no
missão que desempenham, sem dei- marcantes nas apresentações da cenário musical, como Oswaldo
xar de contribuir também com o en- Banda Marcial do Corpo de Fuzilei- Passos Cabral – autor do Poema
tretenimento àqueles que as ouvem”, ros Navais. Os instrumentos foram Sinfônico Riachuelo. Entre os reno-
explica o maestro Sidney. presentes da rainha da Inglaterra mados maestros, destacou-se o pro-
Já a Banda Marcial é caracteri- para o USS Saint Louis, navio per- fessor regente e maestro Francisco
zada por sua montagem de iguras tencente à Marinha Americana. A Braga, autor do Hino à Bandeira.
Em 10 de maio de 1968, o então
presidente Costa e Silva, por meio
CURIOSIDADES do Decreto nº 62.683/1968, consi-
derou o maestro Patrono das Ban-
A terminologia “Banda Militar” apareceu pela primeira das de Música e Marcial da Marinha
vez em 1678, na Inglaterra. de Guerra. Com pregressa história
de esforço, foi no Asilo de Meninos
A primeira orquestra militar foi formada em 1762, nas Desvalidos, criado pelo Marquês de
Guardas Francesas. Sua composição se deu com clarinetas, Tamandaré, que Antônio Francisco
oboés, trompas e fagotes, trompetes e tambores. cresceu, conectando-se com a Mari-
nha desde sua infância. Dedicou-se
Militares norte-americanos combatiam no Iraque ao por mais de 30 anos à formação mu-
som de Rock In Roll e Heavy Metal, para motivação sical, servindo às bandas de música
durante as batalhas. da Marinha do Brasil.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 43


Presente em todo o
País, a Marinha
ARTIGO

reúne proissionais
de diversas áreas

Por: Almirante de Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira


Foto: Acervo fotográico do CCSM

44
“O
s dois dias mais impor-
tantes da vida são o dia
do nascimento e o dia
em que se descobre o porquê de
ter nascido”. A afirmação do au-
tor norte-americano Mark Twain
ratifica o que pensam aqueles que
acreditam na predisposição de se
optar por determinadas carreiras.
Aliar a escolha profissional àquilo
que faz o coração bater mais forte
parece ser o ideal almejado das no-
vas gerações que buscam fazer do
sustento diário mais de uma fonte
de alegria na trajetória da vida, e
a carreira naval se encaixa nesse
campo.
Optar pela carreira naval en-
volve integrar-se a um ambiente Fuzileiros Navais durante Operação
pautado por valores como honra,
disciplina, orgulho e garra. Tra-
ta-se de algo que vai muito além timento e motivação. A abnegação está presente na imensa “Amazônia
de um emprego: fala muito mais está presente desde o juramento à Azul”; defende a Pátria; e apoia
de missão de vida do que de uma Bandeira Nacional, que marca o as populações ribeirinhas dos
mera forma de ganhá-la. Vestir a início da vida dedicada à Pátria. mais distantes recantos do País.
farda diariamente é fazer parte de Servir à Marinha do Brasil (MB) A Força Naval também atua em
uma realidade que foge à rotina e é fazer parte de uma instituição missões sob a égide de organismos
que requer alto grau de comprome- que percorre mares, rios e lagos; internacionais, inserindo o Brasil
no rol de países que apoiam ações
humanitárias e de paz.
A MB tem como missão pre-
parar e empregar o Poder Naval a
fim de contribuir para a defesa da
Pátria; para a garantia dos pode-
res constitucionais e, por iniciati-
va de qualquer destes, da lei e da
ordem; para o cumprimento das
atribuições subsidiárias previstas
em Lei; e para o apoio à Política
Externa. Para cumprir sua missão
e ser a Força moderna, equilibrada
e balanceada que pretende, além de
dispor de meios compatíveis com
a inserção político-estratégica do
Brasil no cenário internacional e,
em sintonia com os anseios da so-
ciedade brasileira, a Marinha pri-
ma pela excelência na captação e na
Oicial Dentista em atendimento na Região Amazônica formação de pessoal especializado.

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 45


Formatura de Oiciais no Centro de Instrução Almirante Wandenkolf

A renovação de efetivo e a bus- âmbito nacional e realizados nas ou depois do ingresso, dependendo
ca por profissionais capacitados na principais capitais brasileiras e as da opção entre os corpos e quadros
Força são vistas com importância. vagas contemplam as diversas lo- que compõem as carreiras.
Como forma de incentivo ao in- calidades. Existem no País quatro Independentemente da escolha,
gresso, a MB lançou, há um ano, escolas de Aprendizes Marinheiros pertencer aos quadros da MB é, ao
a “Campanha de Capilaridade”. A – duas no Nordeste, uma no Sudes- mesmo tempo, desafiador e grati-
ação visa fomentar o engajamento te e uma no Sul: Ceará, Pernambu- ficante. Ser um militar de carreira
na carreira naval por jovens de to- co, Espírito Santo e Santa Catarina. representa, acima de tudo, motivo
das as partes do País e não somente Além dos diversos centros de de muito orgulho. É uma honra
da área do Rio de Janeiro e adjacên- formação, a Marinha apresen- servir ao País por meio de uma ins-
cias - que concentra a maior par- ta oportunidades para inúmeras tituição que desfruta de prestígio
te das organizações militares. Por carreiras. Aviadores, enfermeiros, singular perante a sociedade. Pelo
diversos meios, a ideia é enfatizar engenheiros, fuzileiros navais, geó- terceiro ano seguido, as Forças Ar-
a possibilidade de servir à Força logos, músicos, oceanógrafos, sub- madas foram consideradas as insti-
sendo oriundo de qualquer local marinistas, especialistas em moto- tuições de maior confiabilidade do
do Brasil. res ou em sistemas de armas... esses Brasil.
Há oportunidades de ingresso são apenas alguns dos profissionais No mar, na terra, ou no ar, a
para diferentes níveis de escola- que atuam na Força. A formação Marinha representa uma excelente
ridade: fundamental, médio e su- profissional pode ser realizada oportunidade de crescimento pes-
perior. Todos os concursos são de dentro ou fora da Marinha, antes soal e profissional.

46
Antigo, histórico e ainda
CURIOSIDADES NAVAIS

operante
A peça mais antiga da Capitania dos Portos da Bahia é um guindaste do Século
XIX, que consta em vários registros históricos da cidade de Salvador (BA)

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Camila Marques de Almeida


Fotos: Primeiro-Sargento Elinaldo Trindade e Divulgação

t
udo teve início no século 19, fabricação de máquinas de pesagem e Apesar das mudanças no com-
quando uma empresa inglesa considerada a maior fabricante desse plexo administrativo da Marinha, o
fabricou um guindaste que pe- ramo na época. guindaste permaneceu no mesmo lo-
sava quatro toneladas. Nos anos 50 Há registros fotográicos do sé- cal e em funcionamento. Com as suas
daquele século, o então feito inglês culo 19 que identiicam o guindaste características originais conservadas,
teve como destino o Brasil. Chegando na área em que estão estabelecidos o o equipamento de ferro tem o seu va-
ao País, o equipamento aportou em prédio e a carreira de embarcações da lor histórico, mas, por sua funcionali-
Salvador, no estado da Bahia. Na oca- atual Capitania dos Portos da Bahia dade, não é considerado uma peça de
sião, foi levado para as instalações do (CPBA), foi criada em maio de 1846 museu. Até hoje, a Capitania dos Por-
antigo Arsenal de Marinha da Bahia pelo Decreto nº 447. Inicialmente, a tos retira embarcações da água para
para içar embarcações. Capitania foi instalada no segundo receber manutenção em terra, utili-
A empresa de engenharia mecâ- pavimento do edifício da entrada do zando o guindaste de forma manual,
nica responsável pela fabricação do antigo Arsenal de Marinha da Bahia, mantendo a dinâmica que é utilizada
equipamento foi a H.Pooley & Son com frente para a rua denominada desde a sua inauguração.
Engineers Liverpool, especializada na “Portas da Ribeira”. Relatos descritos em icha de con-

MARINHA em Revista Ano 08 - Número 12 - março 2018 47


“Apesar de o maquinário ser
do século XIX, o equipamento
continua sendo operado
manualmente, da mesma
forma que os antigos
marinheiros realizavam as
manobras”
Capitão dos Portos da Bahia,
Capitão de Mar e Guerra Silva
Reis

Foto de 1860 mostra guindaste no antigo Arsenal de Marinha da Bahia

trole de patrimônio histórico e cultu- O Marinheiro João Henrique Leal encontrado autentica a imagem re-
ral da Marinha diz que o maquiná- de Santana, que serviu por cinco anos gistrada em 1860 pelo fotógrafo in-
rio tem capacidade de içar pesos de na divisão, dá detalhes do funciona- glês Benjamin R. Mulock, na qual é
aproximadamente dois mil quilos e mento do equipamento, que tem duas possível visualizar o guindaste. Este
considerando o tempo de amarração velocidades, leve e pesada, e devem documento contextualiza o marco
dos cabos até a embarcação chegar ao ser alteradas de acordo com a neces- temporal da chegada do maquinário
local desejado, o desempenho com- sidade. “Ele também é utilizado para em Salvador, que, provavelmente,
pleto do guindaste leva cerca de 40 içar boias e motores, mas a inalidade ocorreu entre 1856 a 1860”, conclui.
minutos. principal é operar com as embarca-
Segundo o encarregado da Divi- ções”, explica. OPERACIONALIDADE HISTÓRICA
são de Manutenção de Embarcações e Considerando todos os anos em
Viaturas, o servidor civil da Marinha DOCUMENTO ENCONTRADO atividade, o equipamento sempre es-
Eduardo Bonim, ao todo, são ne- Na busca por mais informações teve em funcionamento. O Capitão
cessários três militares para acionar sobre o guindaste, o Segundo-Sar- dos Portos da Bahia, Capitão de Mar
o funcionamento do guindaste. Um gento Daiverson Melo Jasmim, his- e Guerra Leonardo Andrade da Silva
ica no freio e dois na manivela. “Pre- toriador, voluntariou-se na busca por Reis, acredita que o segredo da dura-
ferencialmente, utilizamos o guin- mais registros históricos sobre o equi- bilidade do equipamento está na qua-
daste durante a maré alta para dimi- pamento. Em 2015, ele teve acesso a lidade da fabricação e no trabalho de
nuir o esforço dos militares, já que a um documento oicial armazenado manutenção que é realizado mensal-
distância a ser içada será menor”, co- no site Center for Research Libraries. mente com a utilização de lubriican-
menta o servidor, que trabalha há 21 Nele, há relatos da aquisição de um te, pintura, tratamento de ferrugem
anos na Capitania. maquinário de içar de origem inglesa e limpeza. “Frequentemente, o guin-
Eduardo conta que nunca soube e pelo então Ministério da Marinha do daste é utilizado para içar e arriar as
não há registros de acidentes envol- Brasil para o Arsenal de Marinha da embarcações e, apesar de o maquiná-
vendo o equipamento. Mesmo o ma- Bahia, com data de 1857. rio ser do século 19, o equipamento
quinário sendo considerado seguro, é Em 2016, foi lançado um livro continua sendo operado manualmen-
necessário ter atenção durante o seu comemorativo dos 170 anos da Ca- te, da mesma forma que os antigos
manuseio, que necessita da presença pitania dos Portos da Bahia e nele há marinheiros realizavam as manobras
de uma pessoa coordenando a ativi- informações baseadas na pesquisa e mantendo-o com muito esmero”, de-
dade. do Sargento Daiverson. “O relatório clara o Capitão dos Portos.

48
FINANCIAMENTO
IMOBILIÁRIO O S
J U R
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CONTE COM QUEM ENTENDE AIND ES
E N O R
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QUEM PODE
Na FHE: militares e pensionistas das Forças Armadas

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