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12/08/2021 O apagão tecnológico brasileiro | JOTA Info

VOZES NEGRAS NO DIREITO

O apagão tecnológico brasileiro


Considerações legais sobre a contratação de programadores e cientistas de dados

ANDREU WILSON

28/07/2021 15:36
Atualizado em 28/07/2021 às 15:37

(Foto: Pixabay)

Nos últimos anos, o Brasil passou a ser o lar de uma série de unicórnios, startups de
base tecnológica com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão, o que mostra
definitivamente a capacidade brasileira de gerar inovações relevantes, tanto local
quando internacionalmente.
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No entanto, esse cenário de prosperidade exponenciou o drama da formação de


profissionais qualificados para atuação na área de tecnologia. Recente notícia[1]
aponta que o Brasil tem um déficit de cerca de 100.000 profissionais por ano na área
tecnológica.

Este quadro de escassez profunda gera a necessidade de desenvolvimento de três


estratégias básicas para a manutenção dos profissionais que já possui quanto para
a contratação daqueles necessários para subsidiar o seu crescimento.

Inicialmente, importa salientar que a competição por mão-de-obra qualificada é


global, sendo crescentemente frequente a contratação de profissionais estrangeiros,
inclusive brasileiros, para trabalhar como expatriados ou até mesmo de seus países
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natais (os chamados “expatriados virtuais”. Ou seja, o trabalho online tem permitido
a contratação de brasileiros no Brasil por empresas estrangeiras[2].

Como vantagens, se apontam o conhecimento de outra cultura profissional, maior


remuneração (chegando em alguns casos ao triplo da remuneração no Brasil para o
mesmo cargo) e ganho de fluência em inglês, bem como a possibilidade de
eventualmente emigrar para o exterior, realidade factível em razão da escassez
global de profissionais de T.I.

Neste sentido, observa-se que vários países, tais como Canadá[3], Estados Unidos[4]
e Austrália[5] possuem programas que privilegiam a imigração de mão-de-obra
qualificada e mais necessária nos respectivos mercados de trabalho, sendo notória
a escassez desses profissionais em âmbito global.

De fato, o Fundo Monetário Internacional (“FMI”) aponta que em 2030 o mundo terá
um déficit de 85 milhões de trabalhadores na área tecnológica, com o Brasil
podendo responder por um déficit de 18 milhões de trabalhadores[6].

Vocês devem estar se perguntando qual o papel do Direito diante desta perspectiva
aterradora, que é o real pagão de mão-de-obra no setor de tecnologia. Esta resposta
é essencialmente multifacetada e envolve um papel “ofensivo” e um “defensivo”.

O ponto de vista “ofensivo” seria a necessidade ativa de recrutamento de mão-de-


obra quer por meio de parcerias com centros de formação, tais como universidades
e edtechs, bem como a realização de aquisições de startups para a internalização
dos times de tecnologia. Empresas dos mais diversos portes terão comportamentos
distintos, considerando o capital disponível, o fit cultural e técnico com a empresa
adquirida e a necessidade de treinamento específico para o exercício competente do
trabalho.

Interessante exemplo de uma postura proativa de formação da mão-de-obra para


sustentar o crescimento acelerado foi a parceria entre a XP e a Trybe, por meio da
qual a XP dará bolsas de 50% (cinquenta porcento) para 300 alunos da Trybe,
tornando mais factível para centenas de pessoas a qualificação profissional em uma
área extremamente demandada.

Longe de ser vista como uma ação beneficente, embora notavelmente meritória, é a
resposta mais eficiente para empresas de grande porte, que consideram a escassez
de mão-de-obra uma ameaça aos seus planos de crescimento e desenvolvimento de
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disputados globalmente, com a eventual obrigação de oferecerem salários


competitivos internacionalmente e muito acima da média nacional.

Para empresas com menos capital, a necessidade de uma postura defensiva é


essencial, impossibilitadas de formarem internamente a mão-de-obra necessária,
tampouco de oferecerem bolsas para a formação de novos profissionais, precisam
evitar riscos relativos à propriedade intelectual decorrentes do turnover de seus
contratados, bem como limitar a perda de profissionais para a concorrência.

Neste cenário, a celebração de contratos de


emprego que prevejam adequadamente as
restrições pós-contratuais relativas ao sigilo das
informações da contratante, bem como a adequada
formulação de cláusula de não-concorrência.

Não obstante haja uma discussão nos Estados Unidos sobre a abusividade as
cláusulas de non-compet[7], o seu uso adequado, inclusive com remuneração do
empregado para que não aceite propostas de concorrentes diretos da sua
empregadora (idealmente deve ser listado exaustivamente quais as empresas para
as quais a cláusula de non-compete se aplica), deve se transformar em um standard
nas contratações de profissionais na área de TI.

Evitar que um empregado saia para prestar serviços num concorrente direto é a
forma mais eficiente de se evitar as violações à propriedade intelectual da empresa,
sendo essencial notar que a produção intelectual produzida pelo empregado em
razão do trabalho, usando equipamentos e no horário de trabalho pertence à
contratante, não ao empregado.

Essa dissociação entre o trabalhador e produto da sua capacidade intelectual já


gerou disputas bilionárias, sendo uma das mais famosas aquela relativa ao roubo de
propriedade intelectual e trade secrets promovida por Anthony Levandowski, antigo
engenheiro da Waymo e que foi contratado pela Uber para ser chefe do projeto de
desenvolvimento de veículos autônomos, contratação esta que deflagrou uma
intensa disputa judicial entre as empresas[8].

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compete nos contratos de trabalho.

As empresas que obterão os melhores resultados na retenção de sua propriedade


intelectual e de seus empregados serão aquelas que combinarem contratos de
trabalho restringindo a contratação por concorrentes diretos (remunerando
adequadamente essa restrição de direitos, sob pena de ver tais cláusulas anuladas
judicialmente) com ao alinhamento de interesses, com a utilização de contratos de
vesting, entre outros.

Conclusivamente, no futuro próximo, as principais grandes empresas e startups


brasileiras precisarão lidar com a escassez de mão-de-obra na área de Ti,
precisando desenvolver estratégias para a aquisição do talento necessário para
sustentar o seu crescimento.

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[1] Valor Econômico. XP convoca a Trybe para dobrar time de tecnologia. Disponível

em:  https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/xp-convoca-a-trybe-para-
dobrar-time-de-tecnologia.ghtml Acesso: 26 jul. 2021

[2] Estadão. Home Office: como trabalhar para uma empresa no exterior sem sair do Brasil.
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trabalhar-para-uma-empresa-no-exterior-sem-sair-do-brasil,1159863 Acesso: 26 jun. 2021

[3] Disponível em: https://www.quebec.ca/en/immigration/immigration-programs/regular-

skilled-worker-program/processing Acesso: 26 jul. 2021

[4] Disponível em: https://travel.state.gov/content/travel/en/us-visas/immigrate/employment-

based-immigrant-
visas.html#:~:text=Skilled%20workers%20are%20persons%20whose,or%20its%20foreign%20
equivalent%20degree. Acesso: 26 jul. 2021

[5] Disponível em: https://immi.homeaffairs.gov.au/visas/getting-a-visa/visa-listing/skilled-

independent-189/points-table. Acesso: 26 jul. 2021

[6] IMF.  Tech Talent Scramble: Global competition for a limited pool of technology workers is

heating up. Disponível em: https://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2019/03/global-


competition-for-technology-workers-costa.htm Acesso: 27 jul. 2021

[7] FORBES. How Biden’s Proposed Ban On Non-Compete Agreements Would Impact Companies.

Disponível em: https://www.forbes.com/sites/edwardsegal/2021/07/09/how-bidens-


proposed-ban-on-non-compete-agreements-would-impact-companies/?sh=50e465e074e0 
Acesso: 27 jul. 2021

[8] FORBES. Anthony Levandowski Sentenced To 18 Months In Prison For Stealing Trade Secrets

From Google. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/elanagross/2020/08/04/anthony-


levandowski-sentenced-to-18-months-in-prison-for-stealing-trade-secrets-from-google/?
sh=1306dc612d01 Acesso: 27 jul. 2021

ANDREU WILSON – Chief Diversity Officer (CDO) e Sócio de Lima ≡ Feigelson Advogados. Doutorando
(2018-2022) e Mestre (2016-2018) em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio.

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