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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA


UNISANTA

1ºsem / 2014 – Teoria 2 – Tratamento Clássico de Água de Abastecimento Urbano

Água Bruta é a água na forma como é encontrada na natureza, na maioria dos casos, ela
é imprópria para o consumo humano, por haver estado exposta ao meio ambiente.
A Água necessita apresentar determinados padrões de potabilidade e para atingir, é
necessário o emprego de um tratamento físico e físico-químico a fim de se remover todas as
impurezas presentes. A fabrica que realiza o processo de purificação da água é chamada
Estação de Tratamento de Água (ETA). Em 1832, nos Estados Unidos, foi construída a primeira
estação de tratamento de água. Em 1854, a Inglaterra recomendou o uso de hipoclorito de cálcio
para desodorizar águas residuais e em 1887, iniciou nos Estados Unidos, a desinfecção de águas
utilizando compostos de cloro. No Brasil, em 1926, a cidade de São Paulo passou a clorar toda água
canalizada, e na cidade do Rio de Janeiro, a cloração iniciou em 1934.

As estações modernas de tratamento de água realizam três operações: Clarificação, Desinfecção


e Correção de pH.

ESQUEMA GERAL
Floculação
Clarificação Decantação
Filtração
Tratamento Desinfecção

Correção Final de pHl

FLUXOGRAMA
Sulfato de
Alumínio
Água
Floculadores Decantadores Filtros
Natural
Cal

Rede de
Desinfecção Cal de Correção Reservatório
Distribuição

CLARIFICAÇÃO - FLOCULAÇÃO

Neste processo provoca-se formação na água de um precipitado em forma de flocos, o


qual tem a propriedade de agregar as partículas finamente divididas nela existente.
Os flocos vão absorvendo e adsorvendo as impurezas aumentando progressivamente de
peso e volume. Partículas coloridas como íons de ferro e manganês também são envolvidos
pelos flocos que se colorem enquanto a água se clarifica.
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Os reagentes químicos devem ser rápida e uniformemente distribuídos pela massa líquida,
portanto são aplicados em pontos de grande turbulência.

Floculadores
Os floculadores são depósitos de água, onde ocorrem agitação com relativa lentidão para
não romper os flocos formados, e ao mesmo tempo a agitacão deve ser suficiente para conseguir
engrossar progressivamente o floco.
Um tipo clássico de floculador é o floculador de chicanas. A água encontrando obstáculos
muda de direção. Há revolução do líquido com conseqüente mistura dos reagentes entre si e com
a água. Os floculadores de chicanas são subdivididos de acordo com o tipo de escoamento
promovido, que pode ser vertical ou horizontal. No primeiro tipo, a água sofrerá movimentos
verticais ascendentes e descendentes sucessivamente, enquanto que no segundo tipo o
escoamento efetua-se com movimentos horizontais.

VIANNA, M. R. Hidráulica aplicada às estações de tratamento de água. 4ª edição.


Belo Horizonte: Imprimatur, 2002.

Na floculação distinguem-se câmaras de misturas rápidas, as quais homogenizam e


propiciam rápida mistura entre os reagentes, acelerando a reação, e câmara de mistura lenta
cuja agitação moderada facilita boa constituição dos flocos e agregação das impurezas. Agitação
suave promove encontro de partículas e aglomeração, enquanto que, excessiva poderá
desintegrar flocos formados.

Outro tipo usado é o floculador mecânico, que


pode ser de eixo vertical ou horizontal. Compõe-se
de um tanque geralmente cilíndrico, contendo
agitador, isto é, um eixo acionado por motor ao
qual se prendem as pás. O movimento das pás
provoca agitação do meio e misturando os
reagentes e consequente formação de flocos.

São feitas associação de floculador mecânico de eixo vertical com a finalidade de agitação
inicial mais rápida e chicanas para misturas mais brandas. Esse objetivo é alcançado também só
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com as chicanas, nas quais os espaçamentos entre os obstáculos é menor nas primeiras e maior
nas últimas.
Menos comuns são as câmaras tipo “Alabama”, constituída de compartimento onde a água faz
um movimento ascendente e depois descendente.

RICHTER, C. A.; NETTO, J. M. D. A. Tratamento de água. Ed. Edgard Blucher Ltda

Reagentes Utilizados

Floculantes são reagentes que adicionadas à água dão origem aos flocos. Os reagentes
utilizados no processo de floculação são agrupados em três categorias:
a) Coagulantes: compostos, geralmente de ferro ou alumínio. Capazes de produzir hidróxidos
gelatinosos insolúveis e englobar as impurezas.
b) Alcalinizantes: capazes de conferir a alcalinidade necessária à coagulação (cal virgem–óxido
de cálcio; cal hidratada–hidróxido de cálcio; soda caustica– hidróxido de sódio; barrilha–carbonato
de sódio).
c) Coadjuvantes: capazes de formar partículas mais densas e tornar os flocos com mais lastro
(argila, sílica ativa, polieletrólitos, etc.)

Entre os coagulantes podemos citar o sulfato de alumínio que reage com a alcalinidade natural da
água ou com a alcalinidade adicionada geralmente por intermédio da cal dando origem ao
hidróxido de alumínio que se constitui num floco gelatinoso. As correspondentes equações
químicas são:

a) com a alcalinidade natural da água (representado por Ca (HCO3)2 - bicarbonato de cálcio):

Al2 (SO4)3 + 3 Ca(HCO3)2 → 3 CaSO4 + 2 Al (OH)3 + 6 CO2


flocos
b) com a alcalinidade adicionada pela cal:

Al2 (SO4)3 + 3 Ca(OH)2 → 2 Al (OH)3 + 3 CaSO4


flocos
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pH ótimo de Floculação

É o pH em que melhor se dá a floculação. É determinado em laboratório pelo ensaio do “jar test”.


A adição de sulfato de alumínio reduz o pH da água e geralmente é necessário elevá-lo para
atingir-se o pH ótimo de floculação, o que é feito por adição de cal, a cal de floculação.

Dosadores

São aparelhos que permitem adicionar quantidades controladas dos ingredientes químicos. Há
dois tipos:
a) Dosadores por via seca (dry-freder) dosam o material seco, isto é, o pó.
b) Dosadores por via líquida (solution feeder) que dosam a solução.

CLARIFICAÇÃO - DECANTAÇÃO

É a operação na qual os flocos sedimentam sob a ação de gravidade. O fluxo de água


sofre grande redução de velocidade no decantador, o que permite a deposição dos flocos.
Decantadores – São, comumentes, tanques paralelepipédicos de grandes dimensões
projetadas de forma a tornar a velocidade da água cerca de 0,75 cm/seg , o que implica num
período de permanência da água no decantador de 4 a 6 horas.
A admissão da água proveniente dos floculadores ao decantador é feita por meio de
caneletas, que a despejam frente a um anteparo perfurado ou com folga no fundo.

Isto comunica a água um movimento descendente de tal forma que os flocos também animados
desse movimento tem sua precipitação facilitada. A saída da água também se efetua por meio de
canaletas que recolhem o líquido sobrenadante eliminando a admissão de flocos aos filtros.

Limpeza dos Decantadores

Os flocos se depositando, vão tornando cada vez mais espessa a camada de lôdo. Este
contendo impurezas e matérias orgânicas constitui-se num foco de fermentação, que pode ser
observada pelo surgimento de pequenas bolhas na superfície. O prosseguimento da fermentação
vai conferindo gosto e cheiro à água efluente e provoca também a suspensão de placas de lôdo
‘Jacarés”.
A altura do lôdo que impede decantação normal ou o início de fermentação verifica-se em
média de 3 a 4 meses de uso do decantador, dependendo da qualidade da água.
Nesta ocasião, deve-se proceder a lavagem do decantador, que é feita raspando-se as
paredes com esfregões e utilizando-se esguicho para arrancar os pedaços de lôdo aderentes à
mesma.

CLARIFICAÇÃO - FILTRAÇÃO

É a operação na qual a água decantada passa através um leito poroso, capaz de reter
impurezas. A filtração está fundamentada principalmente nos aspectos:

a) ação de coar (partículas são retiradas por terem maior tamanho que os poros);
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b) ação de superfície (as impurezas aderem a superfície dos grãos de areia). Sedimentação de
partículas sobre os grãos de areia. O filtro age como um decantador de múltiplos fundos
sobrepostos.

c) floculação de partículas, que estavam em formação pelo aumento de oportunidade de contato


entre si;

d) formação de película gelatinosa na areia, promovida por microorganismos que aí se


desenvolvem, que também retém por aderência as impurezas.

Classificação dos filtros

a) de acordo com a taxa ou velocidade de filtração:


lentos - vazão média 4m3/m2 . dia
rápidos - vazão média 120m3/m2 . dia
b) quanto a pressão:
de pressão: fechados, metálicos, nos quais a água a ser filtrada é aplicada sob pressão
(usados em piscinas e indústria);
de gravidade: a água percola o leito filtrante sob ação da gravidade.

Filtro rápido de areia

É o mais comum nas ETAs. Consiste num tanque aberto de concreto, com fundo falso, que
pode ser de laje, ou canalizações perfuradas.
Às perfurações chumbam-se bocais de coleta geralmente em forma de sino ou campânula
ou ainda elas são feitas em forma de tronco de pirâmide invertida e preenchidas por esferas de
porcelanas de diâmetros 1/4”.
O fundo de filtro com canalizações perfuradas consiste de vários tubos de fibro cimento
perfurados, comunicados a um coletor central. A água penetra pelas perfurações e vai ao coletor.
A função do fundo do filtro é dupla; no funcionamento, recolher a água filtrada e, na lavagem,
distribuir uniformemente a água de lavagem.
Sobre esse fundo temos as camadas suportes que são feitas de pedregulho. São 4
camadas de pedregulho em granulometria decrescente (a partir do fundo do filtro). Temos em
seguida a camada torpedo (transição entre o material de granulometria maior e o de
granulometria menor). Ela é constituída de areia grossa.
Finalmente temos a camada filtrante que é constituída de areia fina.
Abaixo damos as alturas das camadas, o material de que é constituída e a sua granulometria

1ª camada suporte - pedregulho 1 1/2” a 2” ..................... 0,07 m


2ª camada suporte - pedregulho 1/2” a 1 1/2” ..................... 0,08 m
3ª camada suporte - pedregulho 1/2” a 1/4” ..................... 0,10 m
4ª camada suporte pedregulho 1/8” a 1/4” ..................... 0,10 m
Transporte ..................... 0,35 m
5ª camada torpedo - areia grossa 1/20” a 1/8” ..................... 0,15 m
6ª camada filtrante - areia fina 1/40” a 1/20” ..................... 0,60 m
Total: 1,10 m
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No filtro há ainda a considerar as canaletas da água de lavagem que se destinam a coletar a


água suja após a lavagem e conduzi-la
conduzi la ao esgoto e as canalizações influentes da decantada e
efluentes da água filtrada.

ESQUEMA DE UM FILTRO RÁPIDO DE AREIA

É claro que no decurso do tempo a vazão do filtro vai diminuindo, pela obstrução dos poros
da camada filtrante. Sempre que a perda da carga atingir um determinado valor, geralmente
compreendido entre 1,8 m e 2,5 m os filtros devem ser lavados. Indicadores de perda de carga e
de vazão nos permitem esse controle.
A lavagem se processa mediante a admissão de água limpa em contra corrente, ou seja, a
água penetra pelo fundo do filtro atravessa o leito filtrante de baixo para cima, e sai pela canaleta
de água de lavagem para ra o esgoto. É uma operação importante pois a sucessão de lavagens mal
feitas podem levar o filtro a colmatação (obstrução completa) ou a formação de bolas de lodo, l que
são agregados de areia e flocos que implicam em maior porosidade do leito e daí filtraçãofiltraç mal
efetuada.
A velocidade ascensional da água de lavagem deve ser controlada. Se muito baixa, não
terá força para carregar consigo os flocos que tinham se depositado no filtro. Se muito alta poderá
levar consigo areia do filtro. Essa velocidade é da ordemordem de 60 cm/min. Um dispositivo muito
prático para verificar se a lavagem está ou não com boa velocidade consta de um cabo de
vassoura e três ou mais latinhas vazias, pregadas ao mesmo, de maneira que uma toque a areia,
a outra fique na mesma altura da canaleta
canaleta da água de lavagem e a terceira ou as demais fiquem
equidistantes dessas duas extremas.
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Ao se efetuar a lavagem coloca-se o cabo de vassoura com a latinha da extremidade


encostada na areia.

Após um ou dois minutos de lavagem, retiramo-lo e vamos verificar o seguinte: se a


velocidade estiver boa a latinha do fundo fica cheia de areia, as intermediárias ficarão com
quantidade de areia decrescentes e a que fica na altura da canaleta somente conterá flocos sem
conter nenhum grão de areia.
Se esta última contiver areia, é sinal de que a velocidade está muito alta e se não tiver
flocos então estará muito baixa. No primeiro caso a areia estaria sendo arrastada e no segundo
não estaria havendo o arrastamento das sujeiras.

DESINFECÇÃO

É a operação na qual pela adição de um agente desinfetante à água, extinguimos as


bactérias patogênicas que por acaso nela existam.
Um tratamento de clarificação bem conduzido, reduz de 97 a 99% o número de bactérias
da água. No entanto, entre as que restam após a filtração pode encontrar-se uma patogênica que
causará a disseminação de moléstias. Por isso é que se efetua a desinfeção da água, ou seja,
adiciona-se a água filtrada um agente desinfetante que não permitirá a existência de patogênicas.
Deixa-se sempre certo residual do desinfetante a fim de evitar-se eventuais
contaminações durante o trajeto da E.T.A. ao ponto de consumo.

Desinfetantes Usados

Devem satisfazer certos requisitos, entre os quais citamos:

a) serem inofensivo ao consumo humano;


b) propiciar residuais, ou seja, a permanência de certa quantidade do agente desinfetante após
sua ação bactericida com proteção à ulteriores contaminações;
c) permitir sua pesquisa mesmo em baixo teor, através de ensaio simples;
d) ser econômico.

Há diversos agentes desinfetantes, entre os quais:

a) Raios ultravioleta
Exige água com reduzida cor e turbidez, inferiores à 15 ppm, em movimento lento. A água
escoa em tênue lençol sob lâmpada emissora dos raios. Não deixa residual. Destrói a
cadeia protéica (ácidos ribonucléico).

b) Prata
(processo Katadin) utiliza o poder bactericida da prata coloidal. Mais utilizado em moringas e
filtros domésticos.

c) Ozona: O3
Tem ação eficiente, no entanto é relativamente caro.

d) Cloro e seus compostos


São os mais empregados. Respondem prontamente aos requisitos anteriores. Entre os
compostos de cloro de uso mais frequente destacam-se:
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hipoclorito de sódio - NaClO,


hipoclorito de cálcio - Ca(ClO)2,
cal clorada - CaClOCl, e a
água de lavadeira que são soluções de hipoclorito.

CORREÇÃO FINAL do pH

Esta operação tem a finalidade de prevenir a corrosão interna das tubulações.


A água filtrada apresenta geralmente teor de CO2 elevado, o qual á fator de corrosão
principalmente dos materiais à base de cimento (tubos de fibrocimento) e do ferro.
O oxigênio dissolvido na água é agressivo em relação ao ferro, com o qual reage formando
Fe(OH)2 e Fe(OH)3 (hidróxidos ferroso e férrico) porém forma-se um filme de certa forma protetor
que permanece no próprio local.
O carbonato de cálcio existente na água precipita nesta película formando um verdadeiro
cimento preenchendo os vazios do filme.
Se a água contém CO2 livre irá dissolver o cimento de CaCO3 e reagirá com o Fe(OH)2,
formando bicarbonato ferroso, Fe(HCO3)2 que é solúvel. Este bicarbonato é carregado pela água
e por sua vez é oxidado pelo oxigênio dissolvido voltando a formar Fe(OH)3 insolúvel, porém em
suspensão na água. Este fenômeno provoca não só a corrosão da tubulação como pode
modificar as características da água conferindo-lhe cor e turbidez.
A prevenção de corrosão é problema técnico de suma importância pois além da perda da
água nas linhas de distribuição, o vazamento é sempre ponto passível de contaminação,
mormente quando se adota a péssima norma de fechar a distribuição em períodos em que não há
consumo.
Ora, a linha quando em serviço está sobre pressão, de sorte que não há perigo de entrar
águas poluídas que existem nas imediações, porém, quando ocorre seu esvaziamento, cria-se
pressão negativa com consequente aspiração da água adjacente.

PREVENÇÃO DA CORROSÃO

A forma mais simples e barata de prevenir a corrosão das linhas de distribuição é eliminar
o caráter ácido da água, tornando o teor de CO2 livre nulo, o que é feito adicionando-se cal (a cal
de correção).

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