Você está na página 1de 10

Atualização Mamografia digital: perspectiva atual e aplicações futuras

MAMOGRAFIA DIGITAL: PERSPECTIVA ATUAL E APLICAÇÕES


FUTURAS*
Andréa Gonçalves de Freitas1, Cláudio Kemp2, Maria Helena Louveira1, Sandra Maria Fujiwara3,
Leandro Ferracini Campos3

Resumo Na mamografia digital, os processos de aquisição da imagem, demonstração e armazenamento são separa-
dos, o que leva à otimização de cada uma dessas etapas. A radiação transmitida através da mama é absor-
vida por um detector eletrônico, em resposta fiel a uma ampla variedade de intensidades. Uma vez que esta
informação é armazenada, ela pode ser demonstrada usando técnicas computadorizadas de imagem, permi-
tindo variações de brilho e contraste e ampliação, sem a necessidade de exposições radiológicas adicionais
para a paciente. Neste artigo, o estado atual da tecnologia em mamografia digital e dados sobre testes clí-
nicos que dão suporte ao uso dessa tecnologia são revistos. Além disso, algumas aplicações potencialmente
utilizáveis que estão sendo desenvolvidas com a mamografia digital são descritas.
Unitermos: Mamografia; Câncer de mama; Radiografia digital; Mamografia digital.

Abstract Digital mammography: current view and future applications.


In digital mammography, imaging acquisition, display and storage processes are separated and individually
optimized. Radiation transmitted through the breast is absorbed by an electronic detector with an accurate
response over a wide range of intensities. Once these data are stored, they can be displayed by means of
computer image-processing techniques to allow arbitrary settings of image brightness, contrast and magni-
fication, without the need for further radiological exposure of the patient. In this article, the current state of
the art in technology for digital mammography and clinical trials data supporting the use of this technology
are reviewed. In addition, several potentially useful applications, currently under development with digital
mammography, are described.
Keywords: Mammography; Breast cancer; Digital radiography; Full-field digital mammography.

INTRODUÇÃO nação écran-filme, processamento do fil- tration (FDA) em janeiro de 2000, é a ma-
me, quantidade de radiação medida em mografia digital de campo total, em que o
Houve, nos últimos anos, crescente miliampère por segundo (mAs), condições detector deixa de ser o filme radiográfico
preocupação com a melhora na tecnologia de visualização, além do fato de o filme ser e passa a ser um conjunto de semicondu-
que envolve a qualidade da imagem em simultaneamente receptor da imagem, meio tores que recebem a radiação e a transfor-
mamografia, sendo caracterizada, princi- de visualização e meio de armazenagem em mam em sinal elétrico, que, por sua vez, é
palmente, pelo melhor contraste das estru- longo prazo. Essas limitações podem levar transmitido para um computador (3). O Ins-
turas a serem analisadas, já que o tecido à perda do contraste da imagem, especial- tituto Nacional de Câncer norte-americano
mamário normal e o patológico possuem mente quando as condições de exposição designou a mamografia digital de campo
densidades radiológicas semelhantes. Os ou processamento do filme levam a uma total como a tecnologia de imagem com o
principais fatores que podem limitar esse redução da densidade óptica em tecidos melhor potencial para melhorar a detecção
contraste incluem energia do feixe, combi- contendo lesão(1,2). e o diagnóstico do câncer de mama(4).
Estudos relacionados à análise do de- A eliminação das limitações do filme e
* Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por
sempenho mamográfico convencional de- a utilização dos recursos de pós-processa-
Imagem, Setor de Radiologia Mamária, da Universidade Federal monstram que um dos maiores problemas mento da imagem depois da sua aquisição
de São Paulo-Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP.
1. Médicas Radiologistas, Doutoras em Medicina pelo Depar-
quanto à perda de qualidade de imagem, (após a exposição radiológica) reduzirão
tamento de Diagnóstico por Imagem, Setor de Radiologia Ma- com conseqüente reconvocação de pacien- consideravelmente o número de imagens
mária, da Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de
Medicina, Membros Titulares do Colégio Brasileiro de Radiolo- tes, ocorre por falhas no processamento das insatisfatórias, ocasionando a redução da
gia e Diagnóstico por Imagem. imagens, como contaminação dos quími- superexposição radiológica da população
2. Professor Adjunto do Departamento de Ginecologia, Chefe
do Setor de Radiologia Mamária do Departamento de Diagnós- cos, ou por problemas relacionados à lim- e, por conseguinte, o tempo e os custos
tico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo-Escola
Paulista de Medicina.
peza das câmaras escuras e das telas inten- envolvidos na repetição de imagens tecni-
3. Médicos Radiologistas, Membros Titulares do Colégio Bra- sificadoras, pois a poeira causa artefatos camente insatisfatórias.
sileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem.
Endereço para correspondência: Dra. Andréa Gonçalves de
nos filmes, prejudicando o diagnóstico(1,2). Alguns estudos das características físi-
Freitas. Avenida Moaci, 534, ap. 113-B, Moema. São Paulo, SP, Um dos avanços recentes da mamogra- cas do detector digital de campo total têm
04083-001. E-mail: andreagfreitas@terra.com.br
Recebido para publicação em 26/9/2005. Aceito, após revi-
fia, com aprovação do órgão controlador demonstrado resultados favoráveis quanto
são, em 18/11/2005. norte-americano Food and Drug Adminis- à resolução espacial e à eficiência quântica

Radiol Bras 2006;39(4):287–296 287


Freitas AG et al.

do detector (DQE)(5,6); outros estudos de- vencional na detecção de microcalcifica- cia da detecção dos fótons de raios X num
monstraram ainda melhores resultados de ções(9,16,17). O novo desenvolvimento dessa sistema de baixo ruído, por conseqüência
detalhes de contraste(7). combinação, porém, ocorreu no final dos a uma resposta linear à intensidade da ra-
Atualmente, a maioria das pesquisas anos 90. Sistemas digitalizados de alta re- diação incidente, à redução do número de
direcionadas à mamografia digital apre- solução de fósforos para armazenagem es- repetições de exames por imagens insatis-
senta parâmetros comparativos com a ma- tão atualmente disponíveis, e estudos pre- fatórias e à possibilidade de ampliação di-
mografia convencional, por ser este o sis- liminares com simuladores têm mostrado gital da imagem após a aquisição, sem ne-
tema de referência em detecção de lesões resultados promissores. Outros sistemas cessidade de nova exposição da paciente
mamárias em estádios iniciais. Existem digitais de campo total estão sendo desen- para um complemento de ampliação(20,21).
muitas perspectivas quanto aos avanços do volvidos para superar as limitações dos Além disso, o detector digital tem maior
sistema digital de imagens mamográficas primeiros equipamentos digitais. As carac- extensão dinâmica (“dynamic range”) do
em relação às limitações da mamografia terísticas desses sistemas variam: a resolu- contraste, o que permite o uso da combi-
convencional e, principalmente, quanto aos ção espacial oscila entre 41 µm e 100 µm nação alvo/filtro de ródio/ródio em um nú-
benefícios para os pacientes. por pixel e a resolução de contraste das mero maior de imagens sem degradação da
imagens varia entre 10 e 14 bits por pixel. qualidade da imagem (Figura 1). Alguns
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS Os filmes usados em mamografia con- autores relataram que uma redução extra da
E BASES FÍSICAS vencional possuem alta resolução espacial dose é determinada também pela melhor
— entre 12 e 15 pares de linhas por milí- eficiência quântica do detector digital se
A importância da mamografia digital metro —, porém essa resolução fica limi- comparado ao sistema écran-filme(22).
cresceu paralelamente ao interesse em ima- tada devido ao decréscimo da capacidade O desempenho do detector pode ser
gens digitais de outros sistemas orgânicos. em distinguir estruturas com pouca dife- avaliado por meio da medida MTF (função
A tecnologia digital foi inicialmente utili- rença de contraste, cujos coeficientes de de transferência de modulação) e da DQE.
zada em procedimentos intervencionistas absorção dos raios X pouco diferem. Maior A MTF quantifica o grau de resolução ou
guiados por mamografia, usando detecto- limitação ocorre ainda quando se associam a nitidez da imagem e a DQE é uma medida
res com pequeno campo de visão (FOV). problemas decorrentes de condições de ex- da razão do sinal pelo ruído, responsável
Esse desenvolvimento foi adiado pelo fato posição e processamento da mamografia pela resolução do contraste e eficiência da
de haver necessidade de uma maior reso- convencional(1,2). Em conseqüência disso, dose. O desempenho da imagem na radio-
lução espacial nas imagens mamográficas pesquisas têm sido realizadas na tentativa grafia é caracterizado pela análise das cur-
do que nos outros estudos radiológicos, de desenvolver receptores de imagens di- vas DQE e MTF. No entanto, o desempe-
além da necessidade de um incremento na gitais em substituição ao sistema tela-filme, nho de um detector não pode ser adequa-
eficiência da detecção e representação dos atualmente usado em mamografia(18,19). damente descrito por uma simples freqüên-
fótons de raios X e de um sistema com Para os sistemas digitais, a resolução espa- cia espacial. Esses parâmetros são usados
baixo ruído(4,8–11). A mamografia digital de cial varia de cinco a dez pares de linha por para determinar qual é o melhor sistema de
aquisição direta foi inicialmente criada milímetro, porém eles possuem melhor re- captura de informações sobre uma faixa de
com sistemas de “chips”, baseados na tec- solução de contraste(20). freqüência espacial. Com alta MTF em
nologia CCD (dispositivo de cargas acopla- Dentre as perspectivas da física em re- determinada freqüência espacial, objetos
das), usados em estereotaxia para localiza- lação à mamografia digital de campo total, pequenos podem ser perdidos nos ruídos
ções pré-operatórias e biópsias(12,13). Esses há a expectativa de melhora na caracteriza- do sistema. Aumentando o sinal e dimi-
“chips”, contudo, não puderam ser usados ção das lesões, com redução da dose de nuindo o ruído no sistema, aumentamos a
para mamografia de campo total devido ao radiação recebida pelo paciente. Inicial- detecção de pequenas estruturas. A DQE,
limitado tamanho do detector. A subse- mente, isso se deve ao aumento na eficiên- medida da razão do sinal pelo ruído no sis-
qüente tentativa para realização da mamo-
grafia digital foi utilizar os sistemas digi-
talizadores de fósforos para armazenagem,
denominados sistemas CR (“computed ra-
diography”). Essa técnica, contudo, inicial-
mente não se estabeleceu devido à limitada
DQE e baixa resolução espacial(14). Para
aumentar a resolução espacial, foi então
investigada a combinação técnica de am-
pliação direta com um microfoco e placas
de fósforos para armazenagem(15). Os resul-
tados foram encorajadores e a ampliação
mamográfica com essa técnica demonstrou Figura 1. Comparação da extensão dinâmica do contraste do detector digital e do filme mamográfico
ser superior à ampliação mamográfica con- convencional.

288 Radiol Bras 2006;39(4):287–296


Mamografia digital: perspectiva atual e aplicações futuras

tema dentro de uma freqüência espacial, é fico de placa de fósforos. Nesse sistema há cargas elétricas são estocadas em material
uma boa medida da eficiência da dose. uma matriz de fotodiodos com um subs- cristalino de fósforo, onde ficam estáveis
Vários fatores influenciam a DQE, in- trato de silicone amorfo acoplado a uma por algum tempo. Depois da exposição, a
cluindo a quantidade de raios X absorvi- placa de fósforos de iodeto de césio. Cada imagem é lida por um “scanner” com fei-
dos, a amplitude ou intensidade do perfil elemento diodo sensível à luz é conectado xes de luz laser. O laser descarrega a carga
do sinal (medida MTF) e o ruído. por um TFT (transistores de filme fino) a estocada, causando emissão de luz azul, a
Tem-se demonstrado que as caracterís- uma linha controle e uma linha de dados, qual é coletada por um guia de luz e detec-
ticas físicas do detector digital de campo de maneira que uma carga produzida num tada por um tubo fotomultiplicador. O si-
total apresentam resultados favoráveis diodo em resposta à emissão de luz do fós- nal resultante é logaritmicamente amplia-
quanto à resolução espacial e à DQE, foro é lida e digitalizada. O tamanho do do, digitalizado e processado para o moni-
quando comparada ao sistema tela-fil- elemento de pixel do detector é de aproxi- tor. A imagem resultante possui tamanho
me(5,6), e isso pode ser particularmente no- madamente 100 µm, e a digitalização é de do pixel de 50 µm, com precisão de digita-
tado em imagens de lesões com baixo con- aproximadamente 14 bits/pixel(26). lização de aproximadamente 10 bits/pixel,
traste(23,24). Demonstrou-se também melhor após compressão logarítmica.
resultado de detalhes de contraste(7). Sistema fósforo-CCD As potenciais vantagens desse sistema
O tamanho mínimo de pixel do detec- O Senoscan da Fischer Imaging é um são o menor tamanho do pixel, o fato de ele
tor necessário para mamografia digital tem exemplo desse sistema. Fósforo de iodeto utilizar um sistema de raios X mamográfico
sido objeto de debate. O tamanho do ele- de césio tálio-ativado, com fibra óptica convencional e o seu relativo baixo custo.
mento de pixel dos detectores disponíveis acoplando uma unidade de CCD (dipositi- Demonstrou-se que, apesar da limitação da
atualmente varia entre 50 µm e 100 µm. vo de cargas acopladas). O tamanho do ele- menor resolução espacial, a detecção de
Tem-se observado que a redução do tama- mento de pixel do detector é de aproxima- microcalcificações em sistemas CR foi
nho do pixel de 100 µm para 50 µm não damente 54 µm, e a digitalização é de apro- igual à do sistema tela-filme convencio-
proporciona melhora no desempenho do ximadamente 12 bits/pixel(27). nal(9,17). Embora o sistema CR tenha um
observador na caracterização de lesões(25). tamanho de pixel menor que o sistema di-
A separação da aquisição, da demons- Sistema selênio gital de iodeto de césio, de 100 µm, apre-
tração e do armazenamento das imagens é É um sistema diferente dos anterior- senta uma DQE muito menor. Isso resulta
outra vantagem da mamografia digital, pois mente descritos, pois não utiliza fósforo. em maior ruído para o sistema CR se com-
permite que a imagem seja armazenada Um fotocondutor de selênio (Hologic/Lo- parado ao sistema digital de aquisição di-
eletronicamente, podendo posteriormente rad Selenia Digital Mammography System) reta com a mesma dose de radiação. Além
ser demonstrada, manipulada e armazenada absorve os raios X e gera diretamente um disso, embora ambos os sistemas tenham
quando e onde for necessário(16). sinal eletrônico, sem a etapa intermediária limitante de resolução espacial de cinco
O primeiro sistema digital a obter apro- da conversão de raios X em luz. Sob a in- pares de linha por milímetro, o sistema de
vação do FDA, em janeiro de 2000, foi o fluência de um campo elétrico externo, elé- aquisição direta tem resolução muito maior.
sistema de mamografia digital de campo to- trons flutuam em direção a um pixel ele- Essa maior resolução é resultante do fós-
tal com detector de iodeto de césio Seno- trodo e são coletados em pixel capacitores. foro de iodeto de césio, que produz imagem
graphe 2000D GE Medical Systems, se- O tamanho do elemento de pixel do detec- de maior resolução que os fósforos para
guido pelo Senoscan da Fischer Imaging tor é de aproximadamente 70 µm, e a digi- armazenagem utilizados nos sistemas CR.
em setembro de 2001, pelo mamógrafo di- talização é de 14 bits/pixel.
gital com detector de selênio amorfo Sele- Há ainda poucos dados na literatura FORMAS DE APRESENTAÇÃO
nia Hologic/Lorad em março de 2002, e pelo sobre esse detector, no entanto, uma van- DAS IMAGENS DE MAMOGRAFIA
mamógrafo Mammomat Novation Siemens tagem potencial desse sistema são as altas DIGITAL DE CAMPO TOTAL
em outubro de 2005(3). Há várias outras MTF e DQE.
empresas, como Fuji, Sectra e Instrumen- As imagens em mamografia digital de
tarium, cujas unidades digitais de mamo- Sistema CR campo total podem ser apresentadas em
grafia já foram aprovadas para uso em ou- É um sistema de conversão indireta, filme impresso a laser ou em imagens lidas
tros países, mas que ainda não tiveram o ainda não aprovado pelo FDA, que, porém, em monitor de computador.
processo de aprovação completo no FDA. já está sendo usado em alguns países na Imagens impressas a laser oferecem re-
Europa e no Japão. O mamógrafo da Fuji solução espacial comparável à do filme ma-
TIPOS DE SISTEMAS Medical Systems é um exemplo desse sis- mográfico convencional (acima de 4.800 ×
DETECTORES DE MAMOGRAFIA tema. Na tecnologia CR utiliza-se uma fo- 6.400 de tamanho de matriz) e com o tama-
DIGITAL DE CAMPO TOTAL lha de plástico flexível acoplada a um ma- nho reproduzido combinado com a resolu-
terial fósforo que absorve raios X. Placas ção de aquisição dos “scanners” atuais
Sistema de placa de fósforos de imagem são carregadas em cassetes para (abaixo de 41 µm). O contraste da imagem
O Senographe 2000D GE Medical Sys- exposição com combinações normais de é similar ao do filme mamográfico, com
tems é um exemplo de sistema mamográ- écran-filme. Após a absorção de raios X, máxima densidade óptica de 3,5 a 4,0.

Radiol Bras 2006;39(4):287–296 289


Freitas AG et al.

Artefatos ou variações de processadoras,


que são presentes em filmes mamográficos
convencionais com emulsão simples, não
são problema significativo para os filmes
de mamografia digital impressos a laser.
O uso do filme impresso a laser aumenta
o custo da mamografia digital e permite
apenas um formato de apresentação da
imagem para interpretação. Uma desvanta-
gem adicional da imagem em filme é a
perda da extensão dinâmica (“dynamic
range”) inerente ao sistema de 12 a 14 bits
para 8 bits(27).
Atualmente, apenas o monitor com a
tecnologia CRT (“cathode ray tube”) pos-
sui os requisitos tecnológicos para a apre-
sentação da imagem de mamografia digi-
tal (Figura 2). Outras tecnologias, como
monitor de cristal líquido, monitor de emis-
são de campo e monitor orgânico diodo
luz-emissor, poderão estar disponíveis fu- Figura 2. Monitores de uma estação de trabalho de mamografia digital Senographe 2000D GE Medical
turamente(28,29). No entanto, a melhor tec- Systems.
nologia CRT é limitada quando compara-
da ao filme impresso a laser (29). A resolu-
ção espacial é menor que um quarto da re-
solução do filme e a extensão da luminân-
cia é muito menor (29,30).
Contudo, esses fatores podem ser ate-
nuados. Resolução espacial total é possível
com técnicas de ampliação (“zoom”) e
manipulação do contraste (Figura 3). A di-
ferença de luminância também pode não
ser importante. Resultados anteriores de-
monstraram que a detecção dos achados
mamográficos não decresce quando a lumi-
nância do monitor é usada em vez de ne-
gatoscópio mamográfico(1,2,27).
No entanto, pesquisas que incluam a
avaliação do efeito das características do
monitor na detecção e diagnóstico do cân-
cer de mama ainda serão necessárias para
assegurar a médicos e pacientes que filme
impresso e imagens de monitor são equi- A B
Figura 3. Mamografia digital demonstrando nódulo espiculado avaliado com recursos de pós-processa-
valentes. Além disso, a velocidade de in- mento utilizando técnicas de ampliação (“zoom”) (A) e inversão do contraste (B).
terpretação de um exame de rastreamento,
com redução do custo, não deverá ser
comprometida se essa tecnologia for imple- tecnologia digital utilizada em procedi- Colorado-Massachusetts Senographe
mentada clinicamente(27,29). mentos intervencionistas guiados por ma- 2000D screening trial(31,32) – Foi o primeiro
mografia, ou seja, usando detectores com teste clínico prospectivo realizado para
TESTES CLÍNICOS pequeno FOV. Recentemente, a mamogra- mamografia digital numa população assin-
COM MAMOGRAFIA DIGITAL fia digital de campo total tem sido introdu- tomática. Esse estudo envolveu 4.945 mu-
zida nos testes clínicos para comparação lheres com mais de 40 anos de idade que
Os primeiros estudos com experiências com o sistema écran-filme da mamografia se apresentaram para mamografia de ras-
clínicas publicados na literatura foram rea- convencional(5,18). Os grandes testes clíni- treamento. A leitura das imagens foi feita
lizados com equipamentos que possuem cos publicados até este momento foram: independentemente por diferentes radiolo-

290 Radiol Bras 2006;39(4):287–296


Mamografia digital: perspectiva atual e aplicações futuras

gistas, cada qual analisando um número tes já haviam adquirido experiência na lei- independentemente, cada imagem do es-
igual de exames de mamografia convencio- tura das imagens digitais em estação de tra- tudo. O manejo das anormalidades prosse-
nal e digital. O manejo das pacientes foi balho. Para a análise dos resultados, as guia se o resultado de qualquer um dos
feito com base nos achados de ambos os pacientes foram divididas em dois grupos, exames fosse positivo. O resultado sobre a
métodos. um com faixa etária entre 45 e 49 anos e existência ou não de câncer foi determi-
Nesse teste, que foi conduzido por mais outro com faixa etária entre 50 e 69 anos. nado através de biópsia ou por meio de se-
de 30 meses, sendo o resultado final tam- Houve superioridade no número de cânce- guimento clínico, incluindo mamografia
bém publicado posteriormente por Lewin res detectados no sistema digital nas pacien- um ano após o ingresso no estudo para a
et al.(32) já com 6.736 pares de filmes de tes com faixa etária entre 50 e 69 anos maioria das mulheres que tiveram resultado
mamografia convencional e digital feitos (0,83% de detecção no sistema digital e negativo na mamografia inicial.
em 4.489 pacientes, foram realizadas 179 0,54% no sistema convencional) e essa O estudo utilizou cinco tipos de mamo-
biópsias e 50 cânceres foram diagnostica- diferença ficou próxima da significância grafia digital, que incluíram o Senographe
dos (42 com auxílio de imagem e oito cân- estatística, enquanto nas pacientes com 2000D GE Medical Systems, o Senoscan
ceres de intervalo). Não houve diferença faixa etária entre 45 e 49 anos não houve Fischer Imaging, o Selenia Hologic/Lorad,
estatisticamente significativa na sensibili- diferença estatisticamente significativa na o Digital Mammography System Trex Med-
dade ou na área sob a curva ROC entre os taxa de detecção de câncer entre os dois ical e o Computed Radiography System
dois sistemas. Houve, porém, redução no sistemas (0,27% de detecção no sistema Fuji Medical Systems. No total, 33 centros
número de pacientes convocadas para a digital e 0,22% no sistema convencional). no Canadá e nos Estados Unidos foram
realização de incidências adicionais na ma- Diferentemente do estudo de Lewin et envolvidos nesse trabalho, com 49.528
mografia digital em relação à mamografia al.(32), no qual houve uma menor taxa de mulheres avaliadas.
convencional(31,32). O protótipo da estação pacientes convocadas para realização de O DMIST é um importante estudo por-
de trabalho usada pode ter influenciado incidências adicionais na mamografia di- que permitiu estimar com maior precisão a
nesses resultados, pois não era equipada gital em relação à mamografia convencio- sensibilidade e a especificidade da mamo-
com os algoritmos de processamento de ima- nal, os resultados desse estudo mostraram grafia digital versus mamografia conven-
gem que existem nas estações de trabalho significante aumento na taxa de reconvo- cional, devido ao grande número de mulhe-
mais atuais, o que pode explicar em parte cação de pacientes no equipamento digital res participantes, fornecendo mais informa-
a menor taxa de detecção de câncer no equi- em relação ao convencional. Isso pode ser ções do desempenho dos sistemas para le-
pamento digital usado nesse estudo. em parte explicado pela maior taxa de cân- sões específicas (calcificações e nódulos)
Norwegian Senographe 2000D trial- ceres detectados no equipamento digital e O custo-benefício relativo da mamografia
Oslo I e Oslo II study(33,34) – A primeira também porque a taxa de reconvocação no digital versus convencional também foi
etapa desse estudo avaliou 3.683 mulheres rastreamento mamográfico nos Estados estudado nesse trabalho, além de avaliar o
assintomáticas e sintomáticas em mamo- Unidos é maior do que na Noruega, devido efeito da densidade mamária na percepção
grafia convencional e digital(33). Os auto- às implicações médico-legais existentes diagnóstica nos mamógrafos digitais ver-
res concluíram que, em sua população de naquele país. sus convencionais e a acurácia diagnóstica
pacientes, mamografia convencional e di- American College of Radiology Imag- de cada um dos cinco tipos de unidades
gital são comparáveis em termos de detec- ing Network (ACRIN) DMIST(35,36) – Outro mamográficas utilizadas. Os resultados
ção de câncer. Eles também notaram que grande teste clínico realizado para rastrea- iniciais desse estudo foram apresentados
havia parcialidade em seu estudo, já que os mento com mamografia digital numa po- em setembro de 2005(36) e mostraram que
leitores das mamografias possuíam grande pulação assintomática é o Digital Mammo- na população inteira a acurácia diagnóstica
experiência na leitura de mamografia con- graphic Imaging Screening Trial (DMIST), foi similar entre os dois métodos na área
vencional, comparado com menor experiên- que completou as pacientes inscritas em sob a curva ROC. Contudo, a acurácia da
cia na leitura de imagens digitais no moni- novembro de 2003. A concessão inicial mamografia digital foi significativamente
tor da estação de trabalho e que as condi- para o ACRIN foi de US$ 22 milhões por maior que no filme mamográfico conven-
ções de leitura para mamografia digital não cinco anos (1999–2004, inclusive). Fundos cional entre as mulheres abaixo de 50 anos
eram ideais, com muitas interrupções e para o ACRIN foram renovados por mais (área sob a curva ROC para mamografia
muita luz ambiente, particularmente no quatro anos, até 2008. digital: 0,84 ± 0,03; área sob a curva ROC
começo do estudo. Em outubro de 2001, o ACRIN iniciou para filme mamográfico convencional:
Já na segunda etapa desse estudo(34) o DMIST. O propósito primário desse tra- 0,69 ± 0,05; diferença 0,15, 95% intervalo
foram realizadas mamografias de rastrea- balho foi avaliar a acurácia diagnóstica da de confiança: 0,05 a 0,25; p = 0,002), nas
mento randomizadas em 25.263 pacientes, mamografia digital versus mamografia mulheres com mamas heterogeneamente
no qual 70% das pacientes realizaram ma- convencional em mulheres assintomáticas ou extremamente densas na mamografia
mografia convencional e 30% realizaram que se apresentaram para mamografia de (área sob a curva ROC para mamografia
mamografia digital. Nessa etapa a leitura rastreamento. Todas as participantes foram digital: 0,78 ± 0,03; área sob a curva ROC
das imagens foi feita numa sala escura, submetidas à mamografia convencional e para filme mamográfico convencional:
dedicada e sem interferências. Os intérpre- digital. Dois radiologistas interpretaram, 0,68 ± 0,03; diferença 0,11, 95% intervalo

Radiol Bras 2006;39(4):287–296 291


Freitas AG et al.

de confiança: 0,04 a 0,18; p = 0,003) e em dade, dose e tempo de exposição associa- dade de manipular uma ampla variedade de
mulheres na pré- e na perimenopausa (área dos com emulsão do filme e processamen- exposições através dos recursos de pós-
sob a curva ROC para mamografia digital: to. O processamento do filme, em particu- processamento da estação de trabalho(9,
16,17)
0,82 ± 0,03; área sob a curva ROC para lar, é a maior causa das variações da ima- . Além do baixo ruído, há também a
filme mamográfico convencional: 0,67 ± gem e requer verificação diária dos parâ- vantagem da ampla extensão dinâmica e do
0,05; diferença 0,15, 95% intervalo de con- metros de controle de qualidade e correção alto contraste da imagem, conseqüentes à
fiança: 0,05 a 0,24; p = 0,002). Não houve das variações. Contraste insuficiente é um aquisição feita com maior voltagem, porém
diferença estatisticamente significativa na problema que não ocorre com imagens di- com menor tempo de exposição, reduzindo
área sob a curva ROC entre mamografia gitais e, além disso, pelo fato de o detector a mobilidade da paciente. A única desvan-
digital e filme mamográfico convencional ser lacrado não há artefatos de sujeira. tagem da mamografia digital é a menor
entre mulheres com 50 anos ou mais, mu- Dentre as perspectivas de melhora para resolução espacial, que é contornada pelo
lheres com mamas gordurosas ou com den- a paciente, a maior vantagem da mamogra- uso da ampliação geométrica digital, que
sidades fibroglandulares esparsas e em fia digital é a velocidade. Isto é especial- aumenta a imagem projetada das calcifica-
mulheres na pós-menopausa. mente verdadeiro em estudos diagnósticos ções acima do menor limite da resolução
durante os quais o radiologista analisa cada espacial do sistema digital (Figura 4). Um
VANTAGENS CLÍNICAS imagem antes de decidir o próximo passo importante ponto precocemente analisado
DA MAMOGRAFIA DIGITAL para a avaliação diagnóstica. Por não ter nessa tecnologia é que a ampliação da ima-
que esperar pela revelação dos filmes, a gem no monitor apenas não é um substituto
Muitos dos benefícios da mamografia duração de um exame mamográfico diag- para a ampliação geométrica verdadeira
digital percebidos pelos primeiros a utili- nóstico é bem menor. Localizações pré- com foco fino. Embora tenha sido esperado
zarem o método não foram relatados na li- operatórias com fio são ainda mais afeta- que a mamografia digital pudesse eliminar
teratura discutida previamente. Isto inclui das, porque para esse procedimento a pa- a necessidade de convocar pacientes para
tanto vantagens operacionais como vanta- ciente precisa ficar sob compressão en- realização de incidências adicionais com
gens reais na habilidade diagnóstica. Em- quanto a última imagem feita é processada ampliação geométrica verdadeira, isto não
bora não sejam facilmente mensuráveis, para ser então avaliada pelo radiologista. se confirmou, havendo em algumas situa-
esses benefícios deverão causar impactos Pelo decréscimo no tempo entre a exposi- ções a necessidade da reconvocação da pa-
positivos para as pacientes e para seus ção e a demonstração da imagem para 10 a ciente para realização dessas incidências.
médicos. 20 segundos (enquanto para o processa- Em virtude da ampla extensão dinâmica
A mamografia digital, assim como ou- mento do filme convencional o tempo é de do contraste, a mamografia digital é ideal
tras modalidades de imagens digitais, per- cerca de três minutos), há uma importante para imagens de implantes. Uma única
mite a armazenagem e transmissão de cada redução no tempo total do procedimento e exposição pode ser feita para mostrar muito
estudo, eliminando o problema de filmes no desconforto da paciente. O decréscimo bem detalhes do implante propriamente
perdidos e, eventualmente, eliminando a no tempo de exame tem efeitos positivos dito ou, pelo ajuste dos parâmetros de ja-
necessidade de arquivos de filmes. As ima- para médicos, técnicos e administradores nela, otimizar a visualização tecido mamá-
gens poderão ser transmitidas eletronica- de clínicas radiológicas, sendo o último rio adjacente (Figura 5).
mente para vários médicos, simultanea- beneficiado pelas eficiências em termos de Pela mesma razão, a mamografia digi-
mente, ou ser fornecidas ao paciente, sem custos com a sala e com técnicos, porque tal é também ideal para imagens da pele e
perda de qualidade. Isto é uma mudança os exames podem ser agendados com me- dos tecidos imediatamente adjacentes à
operacional importante. Atualmente, con- nor intervalo de tempo nas unidades digi- pele. Esses tecidos são tipicamente enegre-
tudo, as imagens ainda não podem ser tais. Em muitos casos, estas economias não cidos num filme de mamografia convencio-
transmitidas eletronicamente entre as ins- compensam completamente o alto preço do nal bem exposto, necessitando de luz ama-
tituições devido à incompatibilidade entre equipamento digital, porém, com o decrés- rela especial para recuperar parcialmente as
os sistemas e por motivos de segurança na cimo dos custos com filmes e arquivos, elas informações daquela região. O processa-
rede; além disso, as imagens de mamogra- podem fornecer uma parcial justificativa mento digital da imagem permite que a pele
fia digital são bastante pesadas, exigindo para que se caminhe para a mamografia e tecidos adjacentes sejam avaliados roti-
alta velocidade de transmissão, assim, os digital. neiramente sem nenhum recurso extra, ape-
centros ainda estão imprimindo as imagens Embora não haja expectativas em ter- nas modificando parâmetros de janela da
para os pacientes. mos de detecção de microcalcificações no imagem. Embora a pele usualmente não
Ainda mais importante para mamogra- rastreamento mamográfico, a mamografia tenha importância, existem doenças em que
fia do que os benefícios operacionais de digital é idealmente feita para caracteriza- ela pode estar espessada, incluindo o car-
uma imagem digital é a eliminação dos ção de microcalcificações, seja com amplia- cinoma (Figura 6). Além disso, incidências
artefatos do filme, como sujeira e ruídos ções digitais das imagens de rastreamento tangenciais podem ser realizadas na tenta-
estruturais causados pelo processamento ou pela realização de imagens ampliadas de tiva de verificar a natureza cutânea de al-
do filme. A mamografia digital também alta resolução com foco fino, devido ao gumas microcalcificações indeterminadas,
reduz a variabilidade do contraste, densi- baixo ruído das imagens, além da habili- provando que elas são benignas.

292 Radiol Bras 2006;39(4):287–296


Mamografia digital: perspectiva atual e aplicações futuras

A B C
Figura 4. Mamografia digital demonstrando microcalcificações agrupadas avaliadas sem recursos de pós-processamento (A) e utilizando técnicas de amplia-
ção (“zoom”) (B) e inversão do contraste (C).

APLICAÇÕES AVANÇADAS
DA MAMOGRAFIA DIGITAL
DE CAMPO TOTAL

Análise de imagens auxiliada


por computador
A sensibilidade do rastreamento mamo-
gráfico tem-se mostrado variável, prova-
velmente devido aos modelos de estudo,
população selecionada, técnica usada,
tempo de intervalo entre os exames de ras-
treamento e a definição dos termos usados,
como: câncer perdido, mamografias falso-
negativas e câncer de intervalo.
Câncer perdido é definido como aquele
em que a biópsia provou câncer em uma
paciente assintomática, com rastreamento
mamográfico prévio negativo, mas com
câncer julgado visível, retrospectivamen-
te(37). O uso do termo “perdido” não deve
ser aplicado como indicativo de negligên-
cia na interpretação porque o julgamento
da lesão foi feito em retrospecção. Esses
casos devem ser incluídos como falso-ne-
gativos nas práticas de auditoria(37). Câncer
de intervalo é definido como aquele em que
uma paciente apresenta achados clínicos
antes da próxima mamografia do programa
de rastreamento. Este intervalo geralmente
A B
é de um ano, mas pode variar dependendo
Figura 5. A habilidade de variar os parâmetros de demonstração da imagem, combinada com a maior
extensão dinâmica de contraste do detector digital, permitem que a mesma imagem seja usada para da prática do local onde o programa é feito,
examinar ambos, o implante mamário (A) e o tecido mamário adjacente (B). podendo chegar a 18–24 meses.

Radiol Bras 2006;39(4):287–296 293


Freitas AG et al.

leitura feita pelo mesmo ou por outro ra-


diologista(42).
A eficiência do programa de CAD ana-
lisando diretamente as imagens de mamo-
grafia digital de campo total mostrou-se
superior à obtida na análise pelo CAD de
imagens secundariamente digitalizadas,
resultando em 81% de detecção dos casos
de microcalcificações e 81% dos nódulos(43).
Outros estudos, porém, demonstraram ín-
dices equivalentes desse programa para os
dois métodos, resultando em 97% de detec-
ção de microcalcificações, 84%dos nódu-
los, com 89% de sensibilidade do programa
para detecção de cânceres(44).
A reprodutibilidade das marcas geradas
pelos sistemas de CAD tem melhorado
como resultado de uma redução nos índi-
ces de falso-positivos. A reprodutibilidade
da identificação de nódulos verdadeiro-
positivos resta como importante assunto
que pode ter implicações práticas metodo-
lógicas e clínicas(45).
A B
Figura 6. A imagem da mamografia não processada (A) não consegue demonstrar a linha da pele e o Mamografia digital com contraste
tecido mamário denso ao mesmo tempo. Após a equalização de tecidos por meio de ajustes da janela
da imagem (B), todo o tecido mamário é visível, inclusive próximo à linha da pele. Cânceres sofrem realce após injeção de
contraste iodado endovenoso. Detectores
digitais, com sua habilidade em distinguir
Cânceres perdidos podem ocorrer em de trabalho na execução dos exames ma- estruturas de baixo contraste, permitem a
conseqüência de uma “performance” insu- mográficos(40). Foi atribuída detecção de identificação dos tumores por uso do con-
ficiente na percepção de lesões e na análise 84% de todos os casos de câncer avaliados traste endovenoso iodado com custo muito
de lesões percebidas. Estudos sugerem que pelo programa, com 99% de detecção dos menor do que a ressonância magnética ou
o decréscimo do número de cânceres per- casos de calcificações e 75% dos casos de a tomografia computadorizada da mama.
didos ocorre com o uso de métodos de trei- nódulos sendo corretamente marcados(40). Isso oferecerá uma oportunidade adicional
namento, experiência, educação contínua, Evidenciou-se também aumento na detec- de determinar a importância de um achado
dupla leitura prospectiva, avaliação retros- ção de cânceres em estágio precoce, sem mamográfico, assim como uma melhora
pectiva de casos perdidos e sistemas de aumentar o número de pacientes convoca- potencial para detecção precoce de cânce-
detecção auxiliada por computador (“com- das para realização de incidências comple- res em uma população selecionada.
puter-aided detection” – CAD). mentares ou alterar o valor preditivo posi- Evidenciou-se, por meio de imagens
Os programas de CAD foram elabora- tivo das biópsias(41). simuladas, o tamanho mínimo dos vasos
dos para fornecer rápidos comandos visuais Todos os sistemas de CAD atualmente detectáveis e os parâmetros técnicos ótimos
indicativos, para que o radiologista inter- disponíveis produzem marcas apontando requeridos para subtração digital angiográ-
prete com mais atenção áreas específicas da áreas que não representam câncer de mama. fica da mama, e concluiu-se que as imagens
imagem. Muitos programas diferentes de Relatou-se que o programa apresentou de- permitirão identificação de vasos menores
CAD têm sido desenvolvidos para detec- tecção de 77% dos cânceres perdidos no que 0,20 mm de diâmetro interno, usando
tar nódulos e calcificações(38,39). Diversos rastreamento, produzindo em média quatro concentração típica para infusões venosas.
fatores interferem na “performance” dos marcas em cada mamografia com quatro Esses resultados indicam que microvascu-
programas de CAD, incluindo lesões sutis, incidências, das quais apenas um terço larização associada a angiogênese do tumor
o tamanho, a localização e a constituição representava os cânceres perdidos(42). A poderá ser vista com esse método. Usando
dos estudos usados no treino do programa maioria das marcas indica áreas que o ra- 20% da dose de exposição radiológica ha-
e o tipo de método de validação usado(39). diologista optará por desconsiderar por bitualmente utilizada nas imagens de ma-
Sugeriu-se que o uso dos programas de possuírem aparência benigna, sendo con- mografia convencional foram identificados
CAD em rastreamento por mamografia sideradas como falso-positivas. A eficiên- vasos de 0,25 mm, indicando o potencial
pode resultar em aumento da efetividade, cia e o custo relativo dos programas de uso desta dose em imagens de realce dinâ-
sem incremento do tempo e da proporção CAD podem ser comparados com a dupla mico com contraste(46).

294 Radiol Bras 2006;39(4):287–296


Mamografia digital: perspectiva atual e aplicações futuras

Utilizando-se técnicas de mamografia as múltiplas imagens são alinhadas e sobre- gia especialmente atraentes para mamogra-
com subtração digital angiográfica foram postas, então apenas as estruturas do plano fia digital. Ao mesmo tempo, o tamanho e
avaliadas 18 pacientes com imagens sus- seccional de interesse podem ser alinhadas. a resolução das imagens da mamografia
peitas, posteriormente submetidas à bióp- Por obter cada imagem individual com digital estão entre os maiores desafios no
sia. Concluiu-se que as informações forne- menor dose que uma única incidência ma- suporte do custo efetivo de um sistema de
cidas por esse método são qualitativamente mográfica, os planos não alinhados têm telerradiologia.
similares àquelas dos estudos feitos em baixo contraste e baixa relação sinal-ruído As principais aplicações da telemamo-
ressonância magnética com gadolínio- e são efetivamente borrados, enquanto o grafia incluem a possibilidade da criação de
DTPA, porém, a mamografia com subtra- sinal das porções alinhadas é somado e as um centro de especialistas, que poderiam
ção digital angiográfica é mais rápida e estruturas do plano de escolha tornam-se receber imagens de vários centros para
barata que a ressonância magnética(47). mais visíveis. avaliação, possibilitando telediagnóstico,
Uma série de oito a dez imagens obtidas teleconsulta e teleadmimistração(51).
Tomossíntese digital sobre um arco de 20 a 30 graus permite o
Tomossíntese digital é um método que movimento sobre a mama, fazendo cortes CONCLUSÃO
foi descrito há muitos anos(48), mas não pôde efetivamente com poucos milímetros de
ser facilmente aplicado até o desenvolvi- espessura. Usando algoritmos de reconstru- Os resultados dos principais estudos
mento de um detector digital que pudesse ção, um modelo tridimensional da mama atuais apontam para uma similaridade na
ser lido diretamente, sem a necessidade de pode ser obtido. Isto possivelmente deverá acurácia diagnóstica da mamografia digi-
mover a mama no sistema. O desenvolvi- melhorar a habilidade de detectar tumores tal em relação ao filme mamográfico con-
mento desse novo método de tomossíntese que atualmente não são vistos devido à vencional para o rastreamento da popula-
digital combina imagens adquiridas em interface com estruturas que se comportam ção geral. Alguns resultados indicam me-
diversos ângulos do tubo de raios X, se- como ruído. lhora na detecção para determinados seg-
guindo um arco acima da mama, enquanto mentos populacionais (pacientes em deter-
o detector se mantém estacionário(49,50) (Fi- Telemamografia minadas faixas etárias e pacientes que apre-
gura 7). As imagens poderão ser reconstruí- A telerradiologia oferece significativa sentam mamas densas à mamografia).
das eletronicamente, permitindo a caracte- melhora na eficiência e precisão do diag- Mesmo que a acurácia da mamografia di-
rização de diferentes planos seccionais da nóstico da paciente, em relação à prática gital não seja substancialmente diferente do
mama. A dose total de radiação para tomos- corrente no tradicional diagnóstico baseado filme mamográfico convencional, as apli-
síntese mamária é comparável à dose de em imagens écran-filme. cações avançadas disponíveis com mamo-
uma única incidência na mamografia. O aumento do número de mulheres que grafia digital, com a utilização de recursos
Pelo conhecimento preciso da localiza- precisam do rastreamento para câncer de como CAD, mamografia com contraste e
ção do tubo de raios X em relação à mama, mama torna as vantagens da telerradiolo- tomossíntese digital, são uma grande pro-
messa para melhoria na detecção e no diag-
nóstico precoce do câncer de mama.
REFERÊNCIAS
1. Young KC, Wallis MG, Ramsdale ML. Mammo-
graphic film density and detection of small breast
cancers. Clin Radiol 1994;49:461–465.
2. Robson KJ, Kotre CJ, Faulkner K. The use of a
contrast-detail test object in the optimization of
optical density in mammography. Br J Radiol
1995;68:277–282.
3. U.S. Food and Drug Administration. Center for
Devices and Radiological Health. MOSA Pro-
gram. Disponível em: URL: http://www.fda.gov/
cdrh/mammography/digital.html
4. Shtern F. Digital mammography and related tech-
nologies: a perspective from the National Cancer
Institute. Radiology 1992;183:629–630.
5. Vedantham S, Karellas A, Suryanarayanan S, et
al. Full breast digital mammography with an
amorphous silicon-based flat panel detector:
physical characteristics of a clinical prototype.
Med Phys 2000;27:558–567.
6. Vedantham S, Karellas A, Suryanarayanan S,
D’Orsi CJ, Hendrick RE. Breast imaging using
an amorphous silicon-based full-field digital
mammographic system: stability of a clinical pro-
Figura 7. Representação diagramática de tomossíntese mamária. Múltiplas baixas doses de exposição totype. J Digit Imaging 2000;13:191–199.
são feitas de diferentes ângulos. Essas imagens são processadas para fazer cortes tomográficos. 7. Suryanarayanan S, Karellas A, Vedantham S, Ved

Radiol Bras 2006;39(4):287–296 295


Freitas AG et al.

H, Baker SP, D’Orsi CJ. Flat-panel digital mam- Great Britain. Comparison of charge coupled MA. Computer-aided detection of mammo-
mography system: contrast detail comparison be- devices and amorphous silicon based technology graphic microcalcifications: pattern recognition
tween screen-film radiographs and hard-copy for full field digital mammography. Presented at with an artificial neural network. Med Phys
images. Radiology 2002;225:801–807. 13th European Congress Radiology, 2001. 1995;22:1555–1567.
8. Jarlman O, Samuelsson L, Braw M. Digital lumi- 24. Karellas A, Vedantham S, Levis I, et al. Evalua- 39. Kallergi M, Carney GM, Gaviria J. Evaluating the
nescence mammography. Early clinical experi- tion of a full-field clinical prototype flat panel performance of detection algorithms in digital
ence. Acta Radiol 1991;32:110–113. imager for digital mammography. Presented at the mammography. Med Phys 1999;26:267–275.
9. Funke M, Hermann KP, Breiter N. A magnifica- 84th Scientific Assembly of the Radiological 40. Warren Burhenne LJ, Wood SA, D’Orsi CJ, et al.
tion mammography technique using storage Society of North America, 1998. Potential contribution of computer-aided detec-
phosphor plates: experimental investigations con- 25. Levy L, Muller M, Priday K, Rick A. Influence tion to the sensitivity of screening mammography.
cerning spatial resolution and detection of micro- of pixel size on diagnostic accuracy with digital Radiology 2000;215:554–562.
calcifications. Fortschr Röntgenstr 1997;167: mammography. Presented at the 13th European 41. Freer TW, Ulissey MJ. Screening mammography
174–179. Congress Radiology, 2001. with computer-aided detection: prospective study
10. Obenauer S, Hermann KP, Grabbe E. Dose reduc- 26. Pisano ED, Kuzmiak C, Koomen M, Cance W. of 12.860 patients in a community breast center.
tion in full-field digital mammography: an anthro- What every surgical oncologist should know Radiology 2001;220:781–786.
pomorphic breast phantom study. Br J Radiol about digital mammography. Semin Surg Oncol 42. Birdwell RL, Ikeda DM, O’Shaughnessy KF,
2003;76:478–482. 2001;20:181–186. Sickles EA. Mammographic characteristics of
11. Obenauer S, Luftner-Nagel S, von Heyden D, 27. Pisano ED, Cole EB, Kistner EO, et al. Interpre- 115 missed cancers later detected with screening
Munzel U, Baum F, Grabbe E. Screen-film vs full- tation of digital mammograms: comparison of mammography and the potential utility of com-
field digital mammography: image quality, detect- speed and accuracy of soft-copy versus printed- puter-aided detection. Radiology 2001;219:192–
ability and characterization of lesions. Eur Radiol film display. Radiology 2002;223:483–488. 202.
2002;12:1697–1702. 28. Blume H, Roehrig H, Ji TL. High-resolution high- 43. Baum F, Fischer U, Obenauer S, Muller S, Benali
12. Undrill PE, O’Kane AD, Gilbert FJ. A compari- brightness CRT displays systems: update on the K, Grabbe E. Computer-assisted diagnosis (CAD)
son of digital and screen-film mammography us- state of the art. SID Digest 1994;94:219–222. in direct full field digital mammography (FFDM):
ing quality control phantoms. Clin Radiol 2000; 29. Hemminger BM, Dillon AW, Johnston RE, et al. preliminary results. Presented at the European
55:782–790. Effect of display luminance on the feature detec- Congress Radiology, 2002.
13. Funke M, Breiter N, Hermann KP, Oestmann JW, tion rates of masses in mammograms. Med Phys 44. O’Shaughnessy KF, Castellino RA, Muller S,
Grabbe E. Storage phosphor direct magnification 1999;26:2266–2272. Benali K. Computer-aided detection (CAD) on 90
mammography in comparison with conventional 30. Roehrig H, Krupinski E. Image quality of CRT biopsy-proven breast cancer cases acquired on a
screen-film mammography – a phantom study. Br displays and the effect of brightness of diagnosis full-field digital mammography system. Pre-
J Radiol 1998;71:528–534. of mammograms. J. Digit Imaging 1998;11:187– sented at the 87th Scientific Assembly of the
14. Kheddache S, Thilander-Klang A, Lanhede B, et 188. Radiological Society of North America, 2001.
al. Storage phosphor and film-screen mammog- 31. Lewin JM, Hendrick RE, D’Orsi CJ, et al. Com- 45. Zheng B, Hardesty LA, Poller WR, Sumkin JH,
raphy: performance with different mammograph- parison of full-field digital mammography with Golla S. Mammography with computer-aided de-
ic techniques. Eur Radiol 1999;9:591–597. screen-film mammography for cancer detection: tection: reproducibility assessment initial expe-
15. Funke M, Breiter N, Hermann KP, Oestmann JW, results of 4,945 paired examinations. Radiology rience. Radiology 2003;228:58–62.
Grabbe E. Magnification survey and spot view 2001;218:873–880. 46. Niklason LT, Kopans DB, Hamberg LM, Venkata-
mammography with a new microfocus X-ray unit: 32. Lewin JM, D’Orsi CJ, Hendrick RE, et al. Clini- krishnan V, Castleberry DE, Opsahl-Ong B. Digi-
detail resolution and radiation exposure. Eur cal comparison of full-field digital mammography tal subtraction angiography of the breast: techni-
Radiol 1998;8:386–390. and screen-film mammography for detection of cal parameters and minimum detectable vessel
16. Rong XJ, Shaw CC, Johnston DA, et al. Microcal- breast cancer. AJR Am J Roentgenol 2002;179: size for a full-field digital mammography system.
cification detectability for four mammographic 671–677. Presented at the 83rd Scientific Assembly of the
detectors: flat-panel, CCD, CR, and screen-film. 33. Skaane P, Young K, Skjennald A. Population- Radiological Society of North America, 1997.
Med Phys 2002;29:2052–2061. based mammography screening: comparison of 47. Jong RA, Yaffe MJ, Skarpathiotakis M, et al. Con-
17. Fischer U, Baum F, Obenauer S, et al. Compara- screen-film and full-field digital mammography trast-enhanced digital mammography: initial clin-
tive study in patients with microcalcifications: with soft-copy reading—Oslo I study. Radiology ical experience. Radiology 2003;228:842–850.
full-field digital mammography vs screen-film 2003;229:877–884. 48. Miller ER, McCurry EM, Hruska B. An infinite
mammography. Eur Radiol 2002;12:2679–2683. 34. Skaane P, Skjennald A. Screen-film mammogra- number of laminagrams from a finite number of
18. Yaffe MJ, Nishikawa RM, Maidment ADA, Fens- phy versus full-field digital mammography with radiographs. Radiology 1971;98:249–255.
ter A. Development of a digital mammography soft-copy reading: randomized trial in a popula- 49. Niklason LT, Christian BT, Whitman GJ. Im-
system. Proc SPIE 1988;914:182–188. tion-based screening program—the Oslo II study. proved visualization of breast lesions with digi-
19. Sickles E. Current status of digital mammogra- Radiology 2004;232:197–204. tal tomosynthesis imaging. Presented at the 82nd
phy. Excerpta Medical Int. Congr. Series. Amster- 35. Pisano ED, Gatsonis CA, Yaffe MJ, et al. Ameri- Scientific Assembly of the Radiological Society
dam: Elsevier. Presented at 7th Int. Congress can College of Radiology Imaging Network Digi- of North America, 1996.
Senol, 1993. tal Mammographic Imaging Screening Trial: ob- 50. Niklason LT, Kopans DB, Hamberg LM. Digital
20. Pisano ED, Yaffe M. Digital mammography. jectives and methodology. Radiology 2005;236: breast imaging: tomosynthesis and digital sub-
Breast Dis 1998;10:127–135. 404–412. traction mammography. Breast Dis 1998;10:151–
21. Feig SA, Yaffe MJ. Current status of digital mam- 36. Pisano ED, Gatsonis CA, Hendrick E, et al. Di- 164.
mography. Semin Ultrasound CT MR 1996;5: agnostic performance of digital versus film mam- 51. Lou SL, Sickles EA, Huang HK, et al. Full-field
424–443. mography for breast-cancer screening. N Engl J direct digital telemammography: technical com-
22. Gennaro G, di Maggio C, Bellan E. Full-field digi- Med 2005;353:1773–1783. ponents, study protocols and preliminary results.
tal mammography and patient dose reduction. 37. Bird RE, Wallace TW, Yankaskas BC. Analysis IEEE Trans Inf Technol Biomed 1997;1:270–278.
Presented at 14th European Congress Radiology, of cancers missed at screening mammography.
2002. Radiology 1992;184:613–617.
23. Evans DS, Mackenzie A, Workman A, Care K, 38. Chan HP, Lo SCB, Sahiner B, Lam KL, Helvie

296 Radiol Bras 2006;39(4):287–296

Você também pode gostar