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hospitalar
http://jus.uol.com.br/revista/texto/16050
Publicado em 02/2000
Leucimar Gandin
A autora ingressa com pedido de indenização por danos morais e
materiais causados por erro médico, durante cirurgia de cesariana, devido a
erro na aplicação de anestesia, que quase a levou à morte e lhe causou
sérios abalos psicológicos.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA CÍVEL DA
COMARCA DE CURITIBA/PARANÁ
"Para que tenha origem a responsabilidade médico-hospitalar – enfatiza
Costales – deve existir um dano ao paciente, de qualquer tipo ou espécie: lesão a um direito
danos morais." (Miguel Kfouri Neto – Resp. Civil do Médico, pg. 92 Edit. Revista dos
Tribunais).
E., ..., residente na rua ..., Paraná, neste ato representada por seu
advogado adiante assinado, Dr. Leucimar Gandin, brasileiro, casado, inscrito na OAB/PR
sob o nº’28.263, com endereço ao pé da página, onde recebe intimações e notificações,
vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro nos art. 159, 1545 e demais
artigos do Código Civil Brasileiro, bem como art. 14 do CDC, propor a seguinte
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO por
DANOS MORAIS E MATERIAIS
em face de L., brasileira, médica, inscrita no CRM/PR sob o nº ..., com
endereço à rua ..., HOSPITAL X., pessoa jurídica de direito privado estabelecida à
rua ..., M. P. P., brasileira, médica anestesista, com endereço à rua ..., e CLÍNICA X.,
pessoa jurídica de direito privado com sede na Av. ... pelas razões de fato e direito a seguir
expostas:
RAZÕES DE FATO
A autora deu entrada na instituição hospitalar (2º réu) em data de 25.11.97
por volta das 08h30min, com início das contrações uterinas para o parto de seu filho.
Devido ao seu avançado estado foi imediatamente encaminhada à sala de cirurgias para
iniciar o trabalho de parto. A cirurgia começou por volta de 9h00 e o médico responsável
pela cirurgia seria a Dra. L., primeira ré, eis que havia acompanhado toda a gravidez da
paciente.
Era sabido que a autora necessitaria de cirurgia para o nascimento do filho,
denominada "CESARIANA". Desta forma, iniciados os procedimentos, a equipe de
anestesiologia do hospital, chefiada pela Dra. M. (terceira ré), começou a administrar a
droga anestésica necessária para a intervenção cirúrgica.
Ocorre que, por total negligência da equipe responsável pela cirurgia, e,
principalmente da terceira ré, a anestesia peridural (1) foi aplicada de forma irregular,
provavelmente entrou em contato com a corrente sangüínea, trazendo sérios problemas
para a paciente, eis que esta entrou em convulsão nervosa, seguida de parada cardio-
respiratória, como bem demonstra a cópia do prontuário médico hospitalar anexo. Para
reverter o quadro e reparar o erro cometido, a equipe foi obrigada a administrar diversos
medicamentos bem como submeter a autora a um tratamento de risco, devido ao quadro
complicado em que se encontrava.
Apesar das complicações sofridas pela paciente, seu filho não havia sido
retirado quando da parada cardiorespiratória e, mesmo após tanto risco, nasceu normal e
sem qualquer deficiência aparente.
Não obstante sua parcial recuperação, a autora teve alta em 28.11.97.
Retornou para sua casa mas permaneceu em observações constantes, principalmente
para controle cardíaco e psicológico, devido ao enorme abalo que sofreu. Isso porque a
parada cárdio-respiratória trouxe seqüelas para a paciente, deixando-a abalada por longo
período, quando inclusive fora submetida a diversos tratamentos de recuperação.
DOS PREJUÍZOS
Com a complicação anestésica incorreta, a paciente teve uma série de
lesões, tanto de ordem física como material e moral.
Ocorre que o parto da paciente seria integralmente coberto por plano de
saúde, eis que na época a autora era conveniada à (Plano de Saúde da Clínica X.), plano
de assistência médica, o qual cobriria todo o tratamento, com exceção de Unidade de
Terapia Intensiva – UTI. Em virtude das complicações cirúrgicas resultantes do erro
anestésico, a paciente foi obrigatoriamente transferida para a UTI após o parto. Com isso,
teve que desembolsar uma quantia aproximada de R$500,00 (quinhentos reais), referentes
a diárias de UTI e exames realizados. Não bastasse, fora submetida a avaliação
psiquiátrica, exames laboratoriais e demais acompanhamentos, os quais totalizaram uma
importância, à época, de R$1.000,00, gastos estes que poderão ser verificados através da
documentação anexa.
Não bastasse as lesões de ordem patrimonial, a autora teve uma série de
seqüelas com a parada cardio-respiratória. Inicialmente evidencia-se um sofrimento físico
enorme, eis que a autora já passava por uma situação extremamente delicada que era o
parto, o qual agravou-se seriamente com as complicações anestésicas. É evidente,
Excelência, que um acidente desta natureza traz grandes lesões ao sistema nervoso,
causando enorme agonia à vítima. Não bastasse, a angústia e o sofrimento causados, a
lesão psicológica é enorme, devido à insaciável necessidade, no momento da convulsão,
de retornar ao estado normal, agravado pelo fato de sua vida estar nas mãos de uma
equipe de seres humanos que podem ser falhos, como o foram.
Não bastasse, ocorreu sério risco de vida à paciente, uma vez que seus
órgãos vitais sofreram uma paralisação total, a qual, caso perdurasse por mais alguns
minutos, resultaria, inevitavelmente em sua morte, ou quem sabe, invalidez permanente ou
até mesmo vida vegetativa, devido a um comprometimento sensitivo e motor.
DO DIREITO
Comprovado em juízo o dano, de forma satisfatória, como ocorre no caso
em tela (nexo causal entre a ação médica e o resultado no paciente), a indenização civil se
instala, com assento na previsão geral do art. 159 e na especial do art. 1545, ambos do
Código Civil, bem como no art. 14 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90).
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DO
ANESTESIOLOGISTA E DO HOSPITAL
A anestesia foi administrada pela Equipe de Anestesiologia do Hospital X.,
chefiada pela Dra. M., terceira ré, como traz a cópia do Prontuário Médico anexo. Desta
forma, o Hospital deverá responder pelo erro de sua preposta, eis que responsável pelos
atos de seus funcionários, cabendo aqui a CULPA "IN ELIGENDO". Neste caso, a
responsabilidade é OBJETIVA, senão vejamos o que diz a jurisprudência dominante
acerca da matéria:
200954 - RESPONSABILIDADE CIVIL - ERRO MÉDICO - ESTAGIÁRIO - Culpa do médico
médico atribuído ao estagiário, estudante de medicina, ato privativo seu e sem os necessários
cuidados, vindo a causar danos à parturiente, em decorrência do mau uso do instrumento médico-
cirúrgico, configura-se ato culposo, por negligência e falta dos cuidados objetivos ou do zelo
aparelhamento para a prestação de atendimento aos pacientes, como profissional autônomo, sem
credenciamento, pois quem era credenciado era o hospital, a autarquia previdenciária também é
responsável pela má escolha das entidades de prestação de assistência médica, pois esta seria
delegou ato de sua atribuição ao estagiário e estudante de medicina, do hospital, de que eram
integrantes o médico e o estagiário, e do INAMPS, pelos danos que o erro médico causou à
parturiente. Os honorários advocatícios devem ser reduzidos a 15%, por ser a autora
beneficiária de assistência judiciária gratuita, conforme lei específica (Lei 1.060/50, art.
11). (TRF 1ª R. - AC 89.01.221268 - MG - 3ª T. - Rel. Juiz Vicente Leal - DJU 22.10.1990) (RJ
159/149).
"Todo médico que aplica os anestésicos locais, seja de que forma for, deve ter
consciência dos riscos que eles acarretam e do tratamento correto das reações.
As reações tóxicas são quase sempre devidas ao excesso de dosagem, à injeção
alergia genuína constitui raridade com o emprego dos anestésicos locais do grupo das amidas
(lignocaina por exemplo). As reações, sobretudo por parte do sistema cardiovascular, podem
instalar-se com rapidez surpreendente e sem sinais premonitores; portanto, o paciente nunca
autarquia pelo dano causado por médico-anestesista de seu hospital, que aplicando anestesia
raquidiana causa ao sistema locomotor da paciente, sem que tivesse havido interferência de
causa estranha (força maior, caso fortuito ou culpa exclusiva da vítima). 2. Pensão vitalícia
submetido à cirurgia, dentro do período previsto de grande risco. A alta precoce constitui
se o início da incubação se deu no leito hospitalar. Mantém-se voto singular, que nega
EIC/APC 17.549 - DF - Reg. Ac. 63.647 - 1ª C. - Rel. p/ o Ac Des. João Mariosa - DJU
O hospital, aberto aos serviços médicos em geral, com centro cirúrgico,
compartimentos para internamento, clínicas diversas, plantonistas, pessoal técnico e
administrativo, tem o dever de zelar pelo bom atendimento a seus pacientes,
evidenciando-se perfeitamente sua culpa em permitir negligência de preposto responsável
pela manipulação de droga anestésica em procedimento cirúrgico de Cesárea. Nesse
sentido, o ilustre jurista Miguel Kfouri Neto transcreve o seguinte texto em sua obra:
sido imposto pelo hospital ou ser parte integrante da equipe médico-cirúrgica. Quanto aos
auxiliares do anestesista, se ele os escolhe, torna-se responsável pelos seus atos; a
responsabilidade será do hospital, que os indicou, por culpa in eligendo, se da atuação desses
tenha praticado ou indicado ainda que este tenha sido solicitado ou consentido pelo paciente
CIRURGIÃO. CULPA "IN ELIGENDO" E DO ANESTESISTA RECONHECIDA PELO ACÓRDÃO RECORRIDO DE PROVA
SÚMULA Nº 07 DO STJ.
ocorridos em cirurgia pois, no comando dos trabalhos, sob suas ordens é que executam-se os
cirurgião (quanto ao aspecto "in eligendo") e do anestesista pelo dano causado. Insuscetível
Waldemar Zveiter, Recorrente Osvaldo Luiz Dias Berg. Recorrido: Norma Pacheco Senna. J.
ilícitos do selecionado – Credor a quem cabe escolher entre os co-deliquentes o que melhor lhe
responsabilidade civil dos profissionais e hospitais que seleciona. A medida de sua culpa deve
ser avaliada no processo e pode responder sozinha pela ação, pois, em matéria de ato ilícito,
a responsabilidade dos co-autores do delito é solidária e o credor pode escolher, entre os co-
com oferta de atendimento completo e de uma decantada perspectiva de vida despreocupada quando
a essa parte, tudo fazem para se esquivar do compromisso assumido. Assim sendo, aos juízes
cumpre não se deixarem seduzir pelos meneios da retórica insinuante que esses esquemas já têm
"Art. 12 – (...)
I – (...)
a. (...)
(...)
I – De emergência, como tal definidos os que implicarem risco imediato de vida
1.665 de 04.06.98)."(grifamos)
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos."
(...)
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação, ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias da
experiência."(grifamos)
obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra (Savatier). Apesar
obrigação de resultado, concernente a antes, durante e após o ato anestésico, daí a profunda
responsabilidade técnica do médico anestesista, que estatui até uma condição arbitrária para
exame do caso concreto, onde se aplicou anestesia peridural-raquiana e, após algum tempo sem
dor mas consciente, o paciente veio a ter concussão cerebral, com traumatismo crânio-
encefálico, ficando com lesão cerebral, com dano permanente, em razão da P.C.R. (parada
cardiorespiratória). Ocorre que não foi feito o exame de sensibilidade do paciente, e não
sendo "intervenção cirúrgica urgente", tanto assim que a anestesia fora setorial, houve falta
de cuidado objetivo e técnico do médico anestesista, que por negligência e também imperícia,
tanto pelo aspecto omissivo e comissivo, não teve atitude correta, pronta, técnica e
profissional condizente ao momento e ao paciente, havendo agido com culpa e respondendo pelo
dano causado (arts. 159 e 1.145 e 1.056 do CC). Ainda mais, o acréscimo angustioso, visto não
material físico. (TJGO – AC29.966-5/188 – 1ª C – Rel. p/o Ac. José Soares de Castro – j.
18.05.93 – RJ 191/68).
DANO PATRIMONIAL
Por todo o exposto, evidente que a autora sofreu diversos prejuízos de
ordem material, senão vejamos que foi obrigada a pagar internamento em CTI, além de
exames e medicamentos que se fizeram necessários para sua recuperação em
consequência do acidente cirúrgico. Tais fatos podem ser confirmados da análise da
documentação anexa, onde junta notas fiscais, recibos de pagamento, dentre outros
documentos, os quais totalizam uma despesa excedente de aproximados R$1.000,00.
DANO MORAL
Evidente também as agressões em sua integridade moral, senão vejamos
novamente que a autora correu enorme risco de vida durante a convulsão e parada cardio-
respiratória, sofrendo enorme agonia a ponto de necessitar delicado tratamento físico e
psiquiátrico a fim de retornar às funções que anteriormente desempenhava. Ademais, seu
filho também correu sério risco de vida diante da anestesia incorretamente aplicada, uma
vez que o quadro poderia se agravar ainda mais, resultando na morte de ambos. Por todo
o constrangimento sofrido, bem como pela necessidade de um delicado tratamento de
recuperação, seguido de diversos gastos resultantes na negligência e imprudência dos
réus, requer uma indenização a título de danos morais no importe de 700 (setecentos)
salários mínimos, a fim de amenizar toda a dor resultante das manobras dos réus.
Alternativamente, caso Vossa Excelência assim o entenda, requer seja
arbitrado outro valor, desde que compatível com todos os danos sofridos pela autora,
considerando-se o sério risco de vida que correu, bem como a gravidade da negligência e
imprudência dos réus, que trouxeram inúmeros constrangimentos à autora, cabendo
ressaltar que: "Para atribuir quanto vale a integridade moral de outrem no caso de
uma indenização, basta questionarmos quanto valeria a nossa integridade moral,
caso fossemos a vítima!!!!!"
JUSTIÇA GRATUITA
A peticionária é pessoa de baixa renda e, desta forma, não possui
condições de arcar com as despesas processuais da presente demanda sem o prejuízo
em seu sustento e o de seus dois filhos. Por este motivo, requer sejam concedidos os
benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, na forma da lei, eis que a própria peticionária, em
declaração, já postula tal benefício.
Assistência Judiciária Gratuita. Pedido. Requisito. Prazo.
qualquer fase do processo." (STJ – Rec. Esp. 174.538 – SP – Rel. Min. Garcia Vieira – J. em
08/09/98 – DJ de 26.10.98).
REQUERIMENTO FINAL
Diante de todo o exposto, requer finalmente a Vossa Excelência:
a. Seja recebida a presente Ação de Indenização por Danos Morais, bem como todas
as peças que a instruem;
d. A inversão do ônus da prova, na forma do art. 6º, VIII do CDC, ficando ao encargo
dos réus a produção de todas as provas que se fizerem necessárias ao andamento do
feito;
Leucimar Gandin
OAB/PR 28.263
todas as provas necessárias processualmente, diante de sua responsabilidade
objetiva,
NOTA