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DA IDENTIDADE FRONTEIRIÇA NA
URUGUAIANA DO SÉCULO XIX
1. Introdução
2. Consumo e significado
O consumo deve ser percebido como um meio de exibição social. Nem sempre o
consumo de um produto suprirá somente necessidades práticas, mas, além disso, ele
poderá estar preenchendo lacunas nas formas de relacionamentos sociais e servir como
meio de comunicação e afirmação de identidade. Quando entendemos este processo
percebe-se que, quando a sociedade consome um determinado objeto ela está também
consumindo valores. Assim, a humanidade se inventa através dos objetos e do consumo,
pois estes estão carregados de múltiplos valores que estabelecem e compõem a vida
social. Segundo Veblen:
Figura 1: Fragmentos de faiança fina com padrão decorativo floral. Uruguaiana - RS.
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A questão da significação conduz de imediato a uma abordagem dos fenômenos de denotação e
conotação do signo. De um signo denotativo pode-se dizer que ele veicula o primeiro significado
derivado do relacionamento entre um signo e seu objeto. Já o signo conotativo põe em evidência
significados segundos que vêm agregar-se ao primeiro naquela mesma relação signo / objeto. Em / o tutu
estava espalhado sobre a mesa /, o signo / tutu / pode atribuir à mensagem duas diferentes significações,
conforme o entrono maior que a envolve: denotativamente pode-se entender que sobre a mesa /, fora
espalhado o prato à base de feijão; conotativamente, que sobre a mesa havia dinheiro espalhado. Em otras
inquisiciones, Jorge Luis Borges fornece um exemplo literário, mais rico que o anterior. “Ao falar das
alegorias, trata dos dois conteúdos abrangidos por uma forma: um, o imediato ou literal (denotativo,
Foi modelando e queimando o barro que o ser humano deu forma aos seus
deuses e a sua natureza mística em distintos tempos e espaços no transcurso da história.
Durante séculos os artefatos cerâmicos em suas mais variáveis formas, tamanhos ou
motivos de representação artística têm sido utilizados por diferentes grupos sociais que
foram aprimorando essencialmente as suas formas de produção. Estas sociedades os têm
usado para estocarem ou manusearem diversas coisas ou alimentos, ou ainda, em
cerimoniais religiosos, ritos de passagem, rituais fúnebres, reuniões e outros modos de
celebração com a finalidade de reter substâncias ou compartilhar significados inclusive
ainda em nossa época.
A cerâmica vidrada, por exemplo, já era produzida no período clássico greco-
romano. As relações comerciais alocadas entre distintos grupos sociais foram
continuamente categóricas no desenvolvimento da produção cerâmica. Um caso
específico e importante neste estudo é a produção iniciada na Europa pela majólica ou
maiólica que recebe este nome devido a sua origem advinda de um comércio de grande
influência árabe formado na ilha espanhola de Maiorca no Mar Mediterrâneo. A
terminologia faiança, cominada a esta cerâmica, tem a sua origem relacionada à cidade
de Faenza na Itália, um importante núcleo de produção cerâmica no século XVI, mas
tem a sua pronúncia empregada inicialmente e popularizada no francês, “faiance”. De
acordo com Guarisse, “no século XVI os comerciantes italianos levaram as majólicas
diríamos), de que é exemplo: Dante, guiado por Virgílio, chega a Beatriz”. O outro figurativo (em nossa
terminologia, conotativo): “o homem enfim chega à fé, guiado pela razão”. NETTO, J. Teixeira Coelho.
Semiótica, Informação e Comunicação. Coleção debates: Semiótica. São Paulo - SP. 1990. Editora
Perspectiva S.A. p.24.
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O iluminismo é um dos temas mais importantes na História das ideias, influenciando toda a estrutura
mental do Ocidente contemporâneo. Como conceito, foi criado pelo filósofo alemão Imannuel Kant, em
1784, para definir a filosofia dominante na Europa ocidental no século XVIII. A palavra iluminismo vem
de esclarecimento (Aufklärung no original alemão), usada para designar a condição para que o homem, a
humanidade, fosse autônomo. Isso só seria possível, afirma o iluminismo, se cada indivíduo pensasse por
si próprio, utilizando a razão. O iluminismo abarcou tanto a filosofia quanto as ciências sociais e naturais,
a educação e a tecnologia, desde a frança até a Itália, a Escócia e mesmo a Polônia e a América do Norte.
Os pensadores e escritores de diversas áreas que aderiram a esse movimento de crítica às ideias
estabelecidas pelo antigo regime eram chamados comumente philosophes, filósofos em francês, mas entre
eles havia também economistas, como Adam Smith, e historiadores como Vico e Gibbons. Ver mais em:
SILVA, Kalina Vanderlei, Dicionário de Conceitos Históricos. São Paulo, Editora Contexto, 2009.
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Ainda durante o século XVIII.
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Bento Martins de Meneses (1818 – 1881).
Contudo, nos textos do próprio Marx, pode-se encontrar a base para uma
abordagem das mercadorias muito mais abrangente e profícua de um ponto
6. O comércio
Mas não foi somente o consumo do café que pertenceu aos hábitos modernos da
Uruguaiana. Outros elementos ou produtos eram relacionados e também constituíram a
moda daquela sociedade. Conforme McCracken, “a moda transforma de tal maneira os
gostos e as preferências nos dias modernos que é difícil imaginar uma economia na qual
ela não desfrutasse de total preponderância” (McCRACKEN, 2003, p. 39). Outras
bebidas também eram consumidas na Uruguaiana do final do século XIX e início do
século XX. Além, é claro, do consumo da erva mate no chimarrão de origem nativa e do
café.
O chá era também uma bebida habitual, pois carregava elementos da cultura
inglesa. Ainda mais que foram os ingleses responsáveis por muitas das obras que
valeram a estruturação da economia na fronteira, um exemplo disso são os saladeiros. O
hábito de tomar chá nasceu entre os ingleses somente no século XVIII, passando então,
a compor a cultura da Inglaterra. O consumo do chá no mundo ocidental é reflexo do
fascínio pela cultura do extremo oriente. A bebida servia para manter despertos os
monges budistas durante longos períodos de meditação. De acordo com Watts:
7. Considerações finais
APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas: as mercadorias sob uma perspectiva
cultural. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2010.
DEETZ, James. In Small Things Forgotten: The Archaeology of Early American Life.
New York: Norton, 1977.
DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron. O mundo dos bens: para uma antropologia
do consumo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2004.
HILBERT, Klaus. Diálogos entre substâncias, coisa, cultura material e palavras. Métis:
História e Cultura, Caxias do Sul, v. 8, n, 16, p. 11-25, jul./dez. 2009.
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MILLER, Daniel. Coca-cola: a black sweet drink from Trinidad. In: BUCHLI, Victor.
(Org.) The Material Culture Reader. New York: Berg, 2002.
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REDE, Marcelo. História a partir das coisas: tendências recentes nos estudos de
cultura material. Anais do museu paulista. São Paulo. N. Sév. V.4 p. 265-82 jan./dez.
1996.
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SOUZA, Rafael de Abreu. Louça branca para a Paulicéia. São Paulo: USP, 2010.
SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. Espaço privado e vida material em Porto Alegre
no século XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.
WATTS, Alan, 1915 – 1973. O espírito do Zen: um caminho para a vida, o trabalho e
a arte no extremo oriente. Porto Alegre: L&PM, 2009.
WILK, Richard. Bottled Water: The Pure Commodity in the Age of Branding. New
York, 2003.