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2. O que se deve entender por “novo sindicalismo”?

Em 1964, com a instauração da Ditadura Militar no Brasil, o movimento


sindical sofre inúmeras derrotas e vive o momento mais crítico de sua história, tendo em
vista que, os militares cercearam a autonomia dos sindicatos, reprimiram os
movimentos sindicais e, de forma mais severa, promoveu a prisão, bem como o
assassinato, dos dirigentes sindicais e dos líderes trabalhistas. O regime militar gerou
inúmeras consequências para a classe trabalhista, sendo a restrição da liberdade de lutar
por melhores salários e condições de trabalho a mais incisiva delas (LADOSKY,
OLIVEIRA, 2014; BRITO, 2014).
O documentário “Chão de Fábrica” retrata o contexto de grave crise econômica
na qual os militares assumiram o poder. De acordo com o referido documentário (2018),
para combater esta crise, os ditadores trouxeram o economista Delfim Netto, que
assumiu a pasta do Ministério da Fazenda com a missão de restaurar a economia do
país. Ele implementou algumas políticas econômicas, das quais a mais impactante fora o
arrocho salarial. Conforme o que explica o estudioso Ricardo J. B. Amaral de Brito
(2014, p. 88), o arrocho salarial acabou “reduzindo o real poder aquisitivo do salário e a
capacidade de reprodução social do trabalhador”.
Com a política do arrocho salarial, implementada pelo Delfim Netto, o Brasil
superou a grave crise econômica e vivenciou, no início da década de 70, o chamado
“milagre econômico”, momento de crescimento financeiro. Porém, enquanto o país
atravessa o período de progresso econômico, a classe trabalhadora sofria com as
reduções salarias – que chegaram a aproximadamente 40% – e com a extinção do direito
à estabilidade decenal.
Em que pese o crescimento no número de operários e a concentração destes nas
metrópoles, os trabalhadores continuavam insatisfeitos com as condições econômicas e
de trabalho. É neste período (1979) que surge o Lula sindicalista – figura que traduzia e
sintetizava o pensamento da massa trabalhadora. Como depreende-se do documentário
citado acima (2018), é neste momento que a nova liderança sindical reencontra a
possibilidade de se reorganizar, na medida em que se percebe o descontamento da classe
trabalhadora com o “milagre econômico”, de modo a expressar a figura de um “novo
sindicalismo” (BRITO, 2014).
Assim, as greves no novo sindicalismo (1978, 1979 e 1980) surgiram da
coalização dos “elevados índices de inflação com arrocho salarial imposto pela política
econômica dos sucessivos governos e um ambiente político de redemocratização que
permitia maior liberdade de expressão e manifestação” (LADOSKY, OLIVEIRA, 2014,
p. 154). É a partir das greves de 78, 79 e 80 que o “novo sindicalismo” se politiza e
parte para uma intervenção mais direta no âmbito político, confrontando a legislação
antigreves e forçando a ruptura das amarras do modelo de organização sindical vertical,
hierárquico e sem comunicação entre as categorias trabalhadoras, implantada na “Era
Vargas”.
Nesta perspectiva, os sindicalistas propuseram a criação de uma estrutura
transversal a todos os sindicatos, sendo independente do Estado. No mesmo sentido, o
sindicalismo uniu-se a outros movimentos, sociais, políticos, religiosos e econômicos
para mudar a realidade política do país. Um movimento mais amplo, que buscava
impulsionar a luta pela redemocratização. Da reorganização sindical com o “novo
sindicalismo”, articulado a outros movimentos sociais, nasceram algumas das principais
entidades populares que tiveram papel decisivo na derrubada da ditadura militar: o
Partido dos Trabalhadores (PT); a Central Única dos Trabalhadores (CUT); o
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e outros.
Portanto, o “novo sindicalismo” pode ser entendido como o movimento
sindical que reorganizou e reestruturou o sindicalismo no Brasil a partir de movimentos
grevistas realizados nos anos de 1978, 1979 e 1980, paralisando as fábricas, contestando
a ordem trabalhista vigente à época, lutando por melhorias salariais, melhores condições
de trabalho e pelo ideário classista. Ademais, o novo sindicalismo, junto a outros
movimentos sociais, lutou pelo fim da ditadura e impulsionou o processo de
redemocratização do país (LADOSKY, OLIVEIRA, 2014; BRITO, 2014; OLIVEIRA,
2008).

REFERÊNCIAS:

CHÃO de Fábrica. Renato Tapajós e Hidalgo Romero. São Paulo: Laboratório Cisco,
2018.

BRITO, Ricardo José Braga Amaral de. O “Novo” Sindicalismo Brasileiro e o papel da
crítica: Análise das estratégias de engrandecimento da prática sindical brasileira na
década de 1980. Primeiros Estudos, São Paulo, n. 6, p. 87-101, 2014. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/primeirosestudos/article/view/61390. Acesso em: 14 ago.
2021.
LADOSKY, Mario Henrique; OLIVEIRA, Roberto Véras de. O “novo sindicalismo”
pela ótica dos estudos do trabalho. Mundos do Trabalho, vol. 6, n. 11, p. 147-170,
2014. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/19849222.2014v6n
11p147. Acesso em: 14 ago. 2021.

OLIVEIRA, Merilyn Escobar de. Sob o signo do “novo sindicalismo”: das mudanças
de identidade e estratégia, na trajetória do PT e da CUT, à consolidação do
populismo sindical no Governo Lula. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) –
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em:
https://tede2.pucsp.br/handle/handle/3971. Acesso em: 14 ago. 2021.

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