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CASO 07

O Estado de Tocantins, assim como Ceará, regularam a cobrança do


ICMS ECOLÓGICO, com base na legislação constitucional e nas Leis
ordinárias que regulam o imposto ICMS. Responda:
- O ICMS ECOLÓGICO é um imposto ou um benefício fiscal?
- Como você definiria essa modalidade de imposto no caso de não
entender ser esse o mesmo ICMS já regulado nos Estados.
- Faça uma análise crítica dessa modalidade de tributo, levando em
consideração sua característica fiscal, seu objetivo, sua base legal e as
doutrinas que analisam o mesmo. Para tanto, faça uso de artigos,
jurisprudências e leis.

Análise

Notadamente, a partir do século XX, o momento social voltou-se à


questão ambiental. Isso muito se deve aos fenômenos naturais que passaram
a alertar a sociedade em conjunto com a ameaça que a devastação da
natureza pelo homem poderia significar à sobrevivência do planeta terra. Nesse
sentido, os legisladores brasileiros assertivamente incluíram o caráter
ambiental ao sistema constitucional brasileiro.

A Constituição Federal de 1988 traz no Título VIII, da Ordem Social, um


capítulo específico a tratar do meio ambiente, denominado Do Meio Ambiente,
encabeçado pelo art. 225 que diz:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.

A partir do estudo acerca deste artigo, observamos que o direito ao


meio ambiente se diferencia das demais garantias legais. De forma que, o
direito ao meio ambiente é categorizado como direito difuso, ou seja, não deve
ser encarado como um direito exclusivo de uma única pessoa, mas da
coletividade. E sobre este assunto, cabe uma breve explanação.

Ao analisarmos as características dos direitos difusos, nos valemos do


Código de Defesa do Consumidor, que estabelece a característica
transindividual desses direitos como sendo:

1) de natureza indivisível;

2) de titularidade indeterminada e

3) ligada por circunstâncias peculiares ao fato. Nesse contexto, a


doutrina brasileira e a jurisprudência se constituem em importantes
fontes caracterizadoras dos direitos difusos.

A transindividualidade dos direitos difusos está ligada ao fato de que


são destinados, ou têm como titulares, uma coletividade de pessoas. Isso
sugere que tais direitos extrapolam a esfera jurídica individual do cidadão, indo
guarnecer uma grande quantidade de pessoas. A mera subjetividade das
relações pessoais é transposta com essa característica. Por sua vez, a
indivisibilidade está na impossibilidade de se identificar isoladamente os
titulares desses direitos, buscando com isso, um tratamento genérico e
suficiente para alcançar a alçada jurídica de todos os destinatários dos direitos.

Já sobre a quantidade indeterminada de pessoas, vale ressaltar que o


fato desses direitos não se dirigirem a todos, não permite que apontemos de
forma individual, as pessoas titulares da relação jurídica. Entretanto, o direito
não se preocupa em ligar os titulares coletivos, pois a própria existência dos
bens já faz esse papel. Sendo assim, todos os titulares são ligados aos direitos
coletivos por circunstancia de fato, ou seja, a fruição do bem da vida enseja
uma relação indissociável entre todos, inclusive com o Estado.

Um dos entraves na efetivação ou proteção desses direitos está


relacionado a questão da impossibilidade de quantificação do seu dano ou
ameaça. Ou seja, não há métodos que permitam alcançar um número exato do
quanto valem ou a quem se destinam.
Por fim, uma nota distintiva entre os direitos individuais e coletivos
difusos reside no fato de que aqueles são mais facilmente protegidos e
resguardados de lesões e ameaças futuras, enquanto estes ficam vulneráveis
mesmo com o termino favorável de uma demanda proveniente de uma ação
protetiva ou reparatória, dada a extensão desses direitos.

Com isso, temos que não há definição de partes contrárias no que se


refere ao direito ao meio ambiente, mas, sim, que todos são, em conjunto,
detentores de direitos e deveres frente à mesma garantia. Portanto, deve o
Poder Público, por força do artigo constitucional, atuar junto aos cidadãos
através de políticas públicas para preservar e prolongar o uso útil do meio
ambiente.

Em 1972, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio


Ambiente Humano, conhecida como a Convenção de Estocolmo. Nesse
contexto o direito ambiental veio a ganhar o reconhecimento de direito
fundamental internacionalmente. Com este poder, cada Estado Nacional
passou a internalizar tratar o direito ao meio ambiente com sua devida
importância. Na ótica da ordem jurídica brasileira, para José Afonso da Silva,
passa a existir uma intrínseca relação entre a garantia de uma vida digna e de
um meio ambiente sadio.

Pois muito bem, é de notório saber jurídico que a ciência jurídica não é
feita somente de normas sistematicamente organizadas pelos códigos
legislativos municipais, estaduais e federais. Há os chamados princípios e
valores que funcionam como diretrizes quando pensamos no caminhar jurídico
da sociedade. Porventura, em boa parte das interpretações legais, estamos
apenas interpretando o que a norma escrita fenomenologicamente põe através
dos seus princípios intrínsecos.

Isto posto, aqui vem a importância de analisarmos os princípios que se


encontram no fundamento do Direito Ambiental brasileiro e para que com isso,
possamos chegar a uma conclusão sobre os questionamentos propostos pela
professora através dos três quesitos.
Para iniciar o estudo principiológico do Direito Ambiental brasileiro,
passamos ao princípio, talvez, de maior notoriedade, que é o princípio do
desenvolvimento sustentável, que tem por objetivo a manutenção das bases
vitais da produção e reprodução do homem e de suas atividades, e assim
garantindo igualmente uma relação satisfatória entre os homens e destes com
o seu ambiente, para que as futuras gerações também tenham oportunidade de
desfrutar os mesmos recursos que temos hoje à nossa disposição. É justo
frisar que, não há dúvida de que o desenvolvimento econômico é um valor
precioso da sociedade. Contudo, a preservação ambiental e o desenvolvimento
econômico devem coexistir, de modo que o primeiro não acarrete a diminuição
do segundo.

Acerca do princípio do poluidor-pagador, identificamos a busca para


evitar a ocorrência do dano ambiental, que é para este ramo a prior das
consequências, inclusive, muitas vezes irreversível, e caso o dano venha a se
concretizar, visa a sua reparação, com o forma de repressão à reincidência. É
si mesmo, um princípio que tenta abarcar as possíveis peculiaridades que
circundam o dano ambiental, o momento anterior e o posterior. De tal forma
que, a má intervenção realizada no meio ambiente seja de alguma forma
ressarcida para que o Poder Público possa tentar restaurá-la in loco ou em
ocasião diversa.

Outro princípio, que é de estudos mais recentes, é o princípio do


protetor recebedor, que impulsiona, objetiva, dá a possibilidade de se incentivar
o agente público ou privado que proteger de alguma forma um bem natural que
se reverte em benefício para a comunidade. E aqui está talvez o liame entre o
direito ambiental e o ICMS ecológico, objeto de análise do questionamento
deste trabalho docente. Voltando ao tema deste parágrafo, temos que esse
incentivo seria uma compensação financeira e representando a justiça
econômica ao ente público ou privado que por voluntariedade valoriza os
serviços ambientais prestados, remunerando à medida em que o bem difuso é
protegido.

Vale frisar, este tem sido o princípio mais utilizado no momento da


criação de novas formas de tributos ambientais, pois liga o interesse social à
facilidade o mecanismo tributário que é essencialmente um incentivo
econômico, invertendo assim as normas que essencialmente seriam em torno
de uma sanção. Propondo à população agir em troca de um incentivo do que
tomar a atitude já sabendo que terá que pagar pela mesma (punição).

Para alguns doutrinadores, entre eles está a Denise Lucena


Cavalcante, a concessão de certa forma exercida pelo princípio do protetor-
recebedor é uma das fases para alcançar o pico da evolução tributária
ambiental.

Como afirmado anteriormente, essa fase de concessão de incentivos é


bem característica da tese do protetor-recebedor, que com o tempo chegar-se-
á ao equilíbrio de já ter incorporado nas atividades empresariais a
obrigatoriedade de boas práticas ambientais, passando a vigorar assim, o
próximo estágio da sustentabilidade que será o de não protetor-infrator.
Consiste em um dos princípios basilares do direito ambiental, tendo sido objeto
de atenção por parte dos ambientalistas desde a Conferência de Estocolmo e
reafirmado como princípio na Declaração da ECO-92.

Fazendo uma ligação entre os princípios do poluidor-pagador e do


protetor-recebedor, é oportuno salientar que, tanto a punição pelo dano
ambiental realizado, quanto o incentivo econômico oferecido aos que
preservam o meio ambiente, são formas de aplicação do princípio da
prevenção. Contudo, as penalidades levam em consideração os benefícios
experimentados pelo infrator com a atividade nociva, o lucro auferido à custa
da agressão, de modo que a aplicação da pena não compense o lucro
percebido.

Assim como o princípio da prevenção, o princípio da precaução foi


positivado durante a ECO-92, quando do texto atribuído ao Princípio 15 do
termo elaborado durante a Conferência ocorrida no Rio de Janeiro, transcrito a
seguir:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve


ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas
capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou
irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser
utilizada como razão para postergar medidas eficazes e
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

O princípio da precaução ainda é visto por muitos como um fator que


visa interromper o desenvolvimento econômico. Contudo, esse princípio não
deve ser restrito a este ângulo. Seu objetivo é apenas preservar, em caso de
dúvida ou imprecisão do resultado da prospecção, um meio ambiente sadio o
suficiente para garantir a vida digna das presentes e futuras gerações,
conforme o texto constitucional.

Pelo art. 23 da CF/88 verifica-se a competência comum dos entes


federativos, tendo por finalidade a execução de serviços que favorecem o meio
ambiente e à defesa da fauna e flora, dos valores e obras pertencentes ao
patrimônio cultural brasileiro. Isto porque, importa a toda sociedade brasileira a

que lhes são comuns.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:

(...)

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de


suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

Quando pensamos em tributo, um pagamento realizado ao ente estatal


para que este possa prover serviços públicos de qualidade para a nossa
sociedade, é esta razão de ser do tributo que nos vem logo à mente.

Cabe observar ainda que, embora seja função primordial da doutrina


conceituar tributo, a Constituição Federal prestigiou uma noção geral de tributo,
permitindo que, através de suas regras e princípios é possível identificá-lo,
assim como distingui-lo das demais obrigações, identificando, ainda, a
caracterização de cada uma das espécies tributárias.
A leitura da Constituição conduz ao entendimento de que o tributo é
prestação pecuniária decorrente de lei, e não da vontade, ainda que fictícia
(preço), que não constitui sanção de ato ilícito (multa) nem indenização pelo
uso de bens públicos (compensação financeira).

Impende ressaltar que, o fato da receita obtida através de tributos


propiciar recursos ao Estado para fazer frente às despesas decorrentes do
atendimento de suas finalidades essenciais, não caracteriza o tributo, porque
as demais receitas auferidas pelo Estado igualmente são destinadas ao
cumprimento das suas atividades fins.

Contudo, prosseguiremos na abordagem dos demais temas para


buscar responder aos questionamentos da ilustre professora.

A partir de uma permissão ofertada pela CF/88 no seu art. 151, I, a


possibilidade de o tributo ter objetivos diversos da pura arrecadação financeira
ao erário. De tal forma que se admite a concessão de incentivos fiscais no
intuito de promover o ideal do desenvolvimento socioeconômico englobando
todas as regiões do país em busca da justiça social. A seguir, transcrito o texto
constitucional:

Art. 151. É vedado à União:

I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional


ou que implique distinção ou preferência em relação à Estado, ao
Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a
concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do
desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País;

E aqui chegamos a uma característica extrafiscal do tributo. Percebe-


se, portanto, que a extrafiscalidade do tributo consiste exatamente nessa
possibilidade de uma arrecadação tributária ir além da simples cooptação
financeira.

A finalidade de um tributo extrafiscal é o bem comum, levando em


consideração fatores sociais, econômicos e políticos, e respeitando os
princípios que alicerçam não só o sistema tributário nacional, mas a ordem
constitucional no seu mais amplo sentido.
Alicerçado no potencial extrafiscal de alguns tributos, o tributo passa a
ser um instrumento para a persecução de políticas públicas em diversas outras
áreas do conhecimento humano, por exemplo, as áreas social e ambiental;
assim, ao invés de apenas arrecadar tributos e aplicá-los, o Estado estimula ou
desestimula comportamentos, visando a atingir os mesmos fins que
tradicionalmente buscava atingir tributando. A grande problemática está
relacionado ao dimensionamento da tributação em conformidade com os
méritos e ou deméritos dos contribuintes.

Esse princípio denota a relevância do direito tributário como


instrumento econômico, possibilitando objetivar a finalidade eminentemente
voltada ao bem comum, devendo ser otimizada sua utilização como
instrumento de implementação das políticas de proteção ao meio ambiente e
ao desenvolvimento sustentável.

Sempre que possível a norma tributária deve ser atrelada ao princípio


da extrafiscalidade. A partir deste pensamento, o legislador, seja de que ente
federal for, a fim de estabelecer nas regras tributárias o caráter extrafiscal,
deve incluir elementos normativos que vão além da finalidade de arrecadar,
direcionando o comportamento e as ações dos contribuintes em sociedade.

Aqui passamos a analisar propriamente o ICMS, que é uma das


principais fontes de receita tributária para os estados. No que toca às
municipalidades, o quadro pode ser considerado, de certa forma, similar ao
estadual, pois, mesmo não tendo no estado a expressão deste imposto,
apresenta um percentual expressivo em função do repasse. Está ligado ao
aspecto genérico deste tributo, sendo, certamente, o tributo mais abrangente
que a Federação possui.

A sua amplitude está ligada à gama de acontecimentos que onera. Os


fatos geradores da incidência tributária, que são:

1) a circulação de mercadorias ou bens: esta circulação pode ser


econômica, quando há alteração na titularidade da mercadoria, ou não-
econômica, quando há transferência de mercadorias entre estabelecimentos de
um mesmo titular;
2) a prestação de serviço de transporte, quando do pagamento pelo
serviço prestado;

3) prestação por serviços de comunicação, sendo aí englobadas todas


as possibilidades, alternativas ou não, de comunicação de qualquer natureza.
Tributar o mercantilismo é uma prática antiga da sociedade capitalista.

Na CF/88, seu caráter genérico se amplia com a incorporação de


serviços de transporte interestadual e intermunicipal, e de comunicação, como
bases adicionais de incidência, com caráter estritamente fiscal, destinado a
fornecer receita aos estados.

O princípio da repartição das receitas tributárias, como é o caso do


ICMS, é constitucional. Seus percentuais estão descritos no artigo 158 da
CF/88.

Art. 158 Pertencem aos municípios:

(...)

IV. vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do


Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestação de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação. Parágrafo Único. As parcelas de
receita pertencentes aos municípios, mencionadas no inciso IV, serão
creditadas conforme os seguintes critérios:

I três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas


operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de
serviços, realizadas em seus territórios.

II até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no


caso dos Territórios, lei federal.

O ICMS Ecológico existiu primeiramente no estado do Paraná em


1992, por iniciativa de prefeitos de municípios que sofriam limitações quanto ao
licenciamento ambiental para atividades econômicas em seus territórios, em
virtude da existência de espaços protegidos por integrarem bacias de
abastecimento de água para municípios vizinhos.
A principal característica foi buscar uma forma de compensação
financeira pelo custo de oportunidade gerado em função das restrições legais
impostas. A denominação ICMS-Ecológico é usada para referenciar qualquer
critério no rateio de ICMS relacionado com a manutenção da qualidade
ambiental. Tais critérios, embasados na geração de benefícios, dizendo qual
quantia extra cada município deve receber da repartição dos recursos
financeiros arrecadados com o ICMS.

O termo ICMS-Ecológico foi proposto com o intuito de popularizar o


caráter extrafiscal do ICMS e torná-lo o mais democrático possível,
possibilitando a busca de informações e o aguçamento da curiosidade popular
a fim de facilitar o processo de transparência na sua gestão.

O instrumento, que aloca parte da arrecadação do ICMS, com base em


critérios de desempenho ambiental, é, com certeza, o mais importante
mecanismo compensatório ou de incentivo à preservação do meio ambiente no
sistema tributário nacional. O montante do rateio destinado aos critérios
ecológicos é obtido de acordo com um determinado percentual da arrecadação,
fixado em lei.

Um dos viés mais importantes do ICMS Ecológico é instigar a


percepção local de que as áreas protegidas não reduzem a possibilidade de
geração de receitas para o município. Portanto, ele dá ao município um
estímulo para a criação e manutenção de áreas protegidas, ao invés de permitir
a expansão de atividades pouco interessantes, tanto do ponto de vista
ambiental, quanto econômico.

A CF/88 estabelece a solidariedade como um dos objetivos a serem


perseguidos pelos cidadãos brasileiros, preocupados com a estruturação
equilibrada da nação. Isto porque, por seu intermédio é possível não só pensar,
mas também materializar propostas efetivas a favor do desenvolvimento da
sociedade (art. 3, inc. I, da CF/88).

Por meio desse objetivo constitucional é possível planejar medidas que


visem manter os fundamentos necessários à existência da sociedade brasileira.
Agrega-se às reflexões sobre a solidariedade o papel imprescindível à
constituição da ética social e jurídica a favor da sociedade moderna. Portanto,
a solidariedade aproxima os cidadãos brasileiros aos princípios da
reciprocidade e a redistribuição do excedente, como viés alternativo à
fundamentação socioeconômica contemporânea.

A CF/88 estabeleceu em seu art. 155, II, ser da competência dos


Estados e do Distrito Federal a instituição do ICMS, observe:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre


prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem
no exterior;

Imposto criado pela reforma tributária da EC n. 18/65, representa, hoje,


cerca de 80% da arrecadação dos Estados federados, tendo um caráter
predominantemente fiscal. Observando-se que o seu fato gerador consiste nas
operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, infere-
se que a maior parte dessas atividades irá acontecer no âmbito dos Municípios.

Vale ressaltar, que se permite ao Estado estabelecer Lei


Complementar que defina os contribuintes e aos Municípios a vigésima quinta
parte da arrecadação deste imposto, a fim de equilibrar o desenvolvimento
social e econômico entre Estado e Municípios, então, é compreensível o
empenho político pela complementação da Constituição Estadual, com o fito de
conferir maior retribuição tributária ao município que comprovar efetivo
exercício de políticas ambientais (vide, arts. 155, XII; 158, IV e 161, II, CF/88).

Regulamentou, ainda, no parágrafo único do mesmo artigo, como deve


ser feita a transmissão de tais valores:

Art. 158. Pertencem aos Municípios:

(...)

IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do


Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação.

Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,


mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes
critérios:

I - três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas


operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de
serviços, realizadas em seus territórios;

II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no


caso dos Territórios, lei federal.

Com a promulgação constitucional, cada entidade estadual pôde dispor


da parte que lhe cabia à sua maneira. Esta possibilidade de inovação foi
apontada como ponto positivo da descentralização, em que cada ente poderia
ser um laboratório experimental de leis, impostos e serviços.

O ICMS é um imposto de relevante importância para a realidade dos


Estados e Municípios. Tanto pelo seu potencial arrecadatório, mas,
principalmente, porque permite que os Governos estaduais distribuam, da
melhor forma, o seu numerário entre os seus Municípios, obedecendo a
critérios estabelecidos pela legislação estadual, buscando a redução da
desigualdade entre as comunidades, o desenvolvimento econômico de cada
região e a melhoria na qualidade dos serviços públicos prestados pelo Poder
Público.

Como é possível supor através da explanação que se busca com este


trabalho, o ICMS Ecológico não consiste na criação de um novo tributo, mas na
adequação de um já existente.

O critério ambiental como parâmetro para o repasse dos recursos


encontra consonância com o ideal de desenvolvimento sustentável, e não
poderia ser diferente. Existe aqui uma ligação muito forte entre a defesa do
meio ambiente e o uso dos recursos naturais para a produção industrial e o
desenvolvimento econômico.
No tocante à articulação do Direito Tributário e do Direito Financeiro
com o Direito Ambiental, sua importância deriva da lógica do desenvolvimento
sustentável, que permeia não apenas os estatutos jurídicos internacionais
como também a legislação pátria. Merecem, pois, convivência harmoniosa o
equilíbrio fiscal e a sustentabilidade ambiental, em simbiose tal que em verdade
se deve falar em sustentabilidade fiscal em cooperação com o equilíbrio
ambiental, exatamente porque uma ideia não exclui a outra: equilíbrio ou
sustentabilidade fiscal convive com equilíbrio ou sustentabilidade ambiental.
Mais ainda: o equilíbrio fiscal é pressuposto da sustentabilidade ambiental, pois
que sem o primeiro não se poderão garantir os recursos necessários à
realização da segunda.

Foi de bom tom e em boa hora que os Estados brasileiros decidiram


orientar-se pelo critério ambiental para partilhar os recursos com os Municípios,
criando o instituto do ICMS Ecológico.

Resta analisar de que forma o ideal de proteção à natureza foi


materializado em cada unidade federativa, observando-se, ao final, o que de
importante foi contemplado pelas legislação estaduais. De modo a fazer deste
um objetivo comum a todos os Estados.

Contudo, não há uma forma única de tratar o ICMS Ecológico, pois


cada estado editou Lei específica para dar efetividade a esta repartição de
verbas. Ele foi instituído com finalidades estabelecidas de acordo com as
prioridades de cada estado em nível ambiental, estimulando os municípios a
adotarem mecanismos de incentivo à recuperação e à preservação ambiental,
tais como: ações de saneamento básico; apoio às comunidades indígenas,
enfim, todas as ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida que
promovam o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável, criação e
manutenção de unidades de conservação; recompensar municípios que
possuem áreas protegidas em seus territórios e que, desta forma, são
impedidos de destinar a área para atividades produtivas tradicionais que
poderiam gerar uma maior arrecadação e também participação na repartição
do ICMS, etc.
O ICMS Ecológico trouxe o critério ambiental na redistribuição do
imposto. Por conseguinte, cria-se o mecanismo oportuno para o estado influir
no processo de desenvolvimento dos municípios, premiando algumas
atividades e restringindo outras.

Com isso, o ICMS Ecológico apresenta duas funções principais, que


são: estimular os municípios a adotarem iniciativas de conservação ambiental e
desenvolvimento sustentável, seja pela criação de unidades de conservação ou
pela manutenção de áreas preexistentes, ou pela promoção do equilíbrio
ecológico e social, juntamente ao desenvolvimento econômico e, por fim
recompensar os municípios que possuam áreas protegidas em seu território.

Reforço aqui que, o ICMS Ecológico não é uma nova modalidade de


tributo, não implica no aumento da carga tributária incidente sobre os
contribuintes, nem é uma inovação quanto ao seu aspecto tributário, pois sua
base de cálculo, o fato gerador e as alíquotas incidentes sobre o tributo
permanecem as mesmas.

A inovação se dá em função da sua importância para a conta bancária


do Município, que passa a receber mais dinheiro, aumentando o seu potencial
de financiamento das atividades, assando a ter maior poder para políticas
públicas ambientais ou não, por se tratar de tributo na modalidade de Imposto.

Em termos de proteção à natureza, principalmente no tocante à


questão das unidades de conservação, a complexidade para a criação e
manutenção de políticas públicas ambientais por vezes inibe a atuação
municipal, cabendo ao ente estadual a tarefa de ajudar as municipalidades a se
estruturarem.

O ICMS Ecológico pode representar um instrumento de incentivo


porque pode estimular os municípios que não possuem unidades de
conservação a criarem ou então a defenderem a criação destas em seus
territórios.

Não obstante, os municípios que ainda não possuem aterros sanitários


ou unidades de compostagem tenderiam a criá-los e cuidar melhor de seus
resíduos. Além disso, esta política tem representado um instrumento de
compensação ao custo de oportunidade que alguns municípios têm em abdicar
das atividades econômicas tradicionais que produziriam riqueza, mas que em
contrapartida, por razões intrínsecas ao processo produtivo, degradariam e
poluiriam o meio ambiente.

Os dados existentes em reposta aos modelos estaduais de ICMS


Ecológico, indicam que todos os estados ganharam com a implantação do
ICMS Ecológico. Já o Estado de Tocantins inovou ao incluir critérios ambientais
como controle de queimadas e qualidade de conservação do solo.

O Estado do Ceará também se destaca, porque incluiu no ICMS


Ecológico a certificação dos municípios, além de prever o fomento aos
programas ambientais em curso.

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