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ano IV, número 10

janeiro, fevereiro e março de 2014


www.conass.org.br

Saúde da
pessoa
Idosa
Como Preparar o Brasil para
O desafio do século XXI

ENTREVISTA
Arthur Chioro fala dos
principais desafios do SUS

SAÚDE EM FOCO
A crise contemporânea dos
modelos de atenção à saúde

OPINIÃO
Como preparar o sistema
de saúde brasileiro para
enfrentar o envelhecimento,
tendo em vista a mudança
do perfil demográfico
consensus
Revista do Conselho Nacional de Secretários de Saúde
Ano IV | Número 10 | Janeiro, Fevereiro e Março de 2014

FOTOGRAFIA: THINKSTOCK
consensus entrevista
Confira a entrevista com o ministro da Saúde,

6 Arthur Chioro

matéria de capa
O tempo não para

12 Estamos preparados para envelhecer?

saúde em foco
26 A crise contemporânea dos sistemas de saúde

relações internacionais
32 Cobertura e sistemas universais de saúde são tema de
intercâmbio internacional de experiências no Brasil

institucional
34 Revista Consensus interativa
36 Pesquisa avalia o desempenho das UPA 24 horas
38 Comissão Geral da Câmara dos Deputados debate
financiamento da Saúde

opinião
40 Como preparar o sistema de saúde brasileiro para
enfrentar o envelhecimento, tendo em vista a mudança do perfil
demográfico

46 curtas
editorial

T razemos nesta edição da revista


Consensus, um tema muito importan-
te e que certamente interessa a todos nós: o
temas de saúde no Brasil e no mundo é outra
temática importante, abordada na matéria
que trata da crise contemporânea dos mode-
envelhecimento. Temos de admitir que, du- los de atenção à saúde - tema do 3º seminário
rante o processo de apuração dos dados e das CONASS Debate.
informações para a elaboração da nossa ma- O evento contará com a presença de es-
téria de capa, esforçamos-nos para abordar pecialistas brasileiros e de outros países, que
essa questão que nos é cara de maneira posi- irão expor suas experiências e debater as al-
tiva e proativa, tendo em vista o seu caráter ternativas de soluções para esse problema
explícito e inexorável. que, assim como nas questões relacionadas ao
Uma expressiva transição demográfica envelhecimento da população, também tem
vem se tornando preponderante no Brasil, nas transições suas principais premissas.
devendo mudar o rumo das políticas assisten- Demográficas, tecnológicas, epidemioló-
ciais no nosso país. De acordo com a projeção gicas ou nutricionais, essas transições, viven-
de especialistas, o crescimento demográfico, ciadas por países da Europa, dos Estados Uni-
a urbanização e o envelhecimento da popu-
dos da América, do Canadá e do Brasil, não
lação farão que tenhamos, em pouco mais de
podem ser cessadas. Faz-se imprescindível,
três décadas, 40 milhões de pessoas com 60
portanto, a promoção de mudanças rápidas
anos ou mais, consideradas idosas de acordo
no modelo de atenção para que ele seja coe-
com a idade estabelecida pelas Nações Unidas
rente com a conjuntura da saúde predomi-
e adotada pelo Estatuto do Idoso no Brasil.
nante no país.
E, para dar conta dos impactos causados
Também conversamos com o ministro
pelo progressivo aumento da expectativa de
da Saúde, Arthur Chioro, que assumiu a pasta
vida e da redução das iniquidades dessa par-
cela da população, o Estado brasileiro tem em fevereiro. Ele falou à revista Consensus a
muito trabalho pela frente. Principalmente respeito de seus objetivos e estratégias para
no que concerne às condições socioeconô- alavancar e aprimorar o SUS e suas ações.
micas, extremamente relevantes nesse pro- Outras matérias que compõem nossa
cesso transitório. revista tratam da pesquisa que avaliou a im-
Apresentaremos, então, os principais plementação e o desempenho das Unidades
aspectos relacionados à saúde do idoso e às de Pronto-Atendimento (UPA), realizada
políticas sociais necessárias para que os anos pelo CONASS e pelo Ministério da Saúde,
a mais de vida dos brasileiros não sejam um com o apoio da Opas; e dos debates inter-
transtorno, mas sinônimo de desenvolvi- nacionais a respeito da universalidade dos
mento do nosso país e motivo de alegria para sistemas de saúde e da cobertura universal
os cidadãos. no Brasil e no mundo.
Ao SUS compete boa parte desse desa- Apresentamos ainda uma novidade tec-
Ouvir o texto fio, a começar pela prevalência das doenças nológica da qual lançamos mão para tornar
goo.gl/TfDLnd
crônicas não transmissíveis, que geralmente a revista Consensus mais interativa. Saiba
expressam-se na velhice. como funciona e como utilizar o QR Code na
Aliás, o predomínio das condições crôni- página 34.
cas e a necessidade de modernização dos sis- Desejamos a todos uma ótima leitura!
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consensus entrevista

Entrevista

Arthur Chioro
I dealismo, inquietude e gosto por desafios definem bem
Arthur Chioro – médico sanitarista, doutor em Saúde Co-
letiva, professor universitário, pesquisador nas áreas de ges-
tão e planejamento em saúde e, agora, ministro de Estado
da Saúde.
Sua experiência profissional legitima a sua indicação para
o cargo. Chioro participou da gestão do Ministério da Saúde
entre 2003 e 2005 como Diretor do Departamento de Aten-
ção Especializada. Lá coordenou projetos inovadores para o
Sistema Único de Saúde (SUS), entre os quais destacam-se: a
implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu 192); o processo de certificação e contratualização dos
Hospitais de Ensino; a criação do projeto de contratualização
dos Hospitais de Pequeno Porte e dos Hospitais Filantrópicos
com o SUS; e a reorganização da rede de alta complexidade
em saúde com a elaboração de políticas para Atenção ao Do-
ente Renal, Doenças Cardiovasculares e Neurológicas.
Por duas vezes, foi secretário de Saúde de São Vicente/SP
e, em 2009, assumiu a Secretaria de Saúde do município de
São Bernardo do Campo/SP.
Seu compromisso com os movimentos sociais, fruto de
sua participação na militância suprapartidária em defesa do
SUS, levou-o duas vezes à presidência do Conselho de Secre-
tários Municipais de Saúde de São Paulo.
Nesta entrevista exclusiva à Revista Consensus, Arthur
Ouvir o texto
goo.gl/B8zYZ2
Chioro fala sobre como pretende enfrentar os maiores proble-
mas que desafiam e ameaçam a saúde pública brasileira, como
a judicialização, o financiamento do SUS e a oferta e as condi-
ções de trabalho dos profissionais de saúde pública no Brasil.
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consensus | primeiro trimestre 2014

FOTO: Rondon Vellozo - Ascom/MS 7


consensus entrevista

Consensus Ministro, em seu discurso de pos- cessário, olhando as singularidades de cada


se, o senhor fez uma fala bastante abrangen- estado e mesmo de cada região, e será sempre
te, tratando da maioria dos problemas que a a função mais relevante como coordenação
saúde pública enfrenta. Como o senhor pre- dos sistemas estaduais de saúde. Alguns ins-
tende dar conta de todas essas temáticas? trumentos e mecanismos de fortalecimento
Arthur Chioro Não existe outra forma de en- da gestão estadual já estão dados, conforme
frentamento dos problemas estruturais do consta no Decreto n. 7.508/2011. Outros preci-
Sistema Único de Saúde (SUS) se não for por sam ser aprofundados e/ou repensados, sim-
meio do fortalecimento das relações interfe- plificados e, efetivamente, implementados.
derativas. Nesse sentido, é necessário qualifi-
car e introduzir novas práticas de gestão para Consensus O senhor propõe que a relação
reforçar as ações cooperativas e avançar, ain- interfederativa seja reforçada com mais
da mais, no processo de descentralização. Ao diálogo e interação entre as três esferas de
gestão do SUS. É possível estabelecer essa
longo dessas duas décadas de construção do
relação tripartite tendo em vista tanto o pe-
SUS, a descentralização da saúde tem se mos-
ríodo eleitoral quanto os demais aspectos
trado muito vantajosa, porém são identifica-
políticos entrelaçados à gestão da saúde pú-
das dificuldades que precisam ser superadas.
blica no Brasil?
Torna-se necessário priorizar a regionaliza-
Chioro Tratar as relações interfederativas de
ção e reforçar o papel coordenador da gestão
forma democrática e republicana é um impe-
estadual do SUS, com ênfase na formatação
rativo para o sucesso do SUS. Já demonstramos
das redes de atenção.
que podemos superar as questões político-par-
Consensus Como o papel dos estados, de tidárias se investirmos no constante aprimo-
ramento dos canais interfederativos de nego-
coordenadores dos sistemas estaduais de
ciação e diálogo. Essa superação deve-se, em
saúde, pode ser fortalecido, como o senhor
muito, ao fato da participação efetiva dos três
defende e como eles podem reforçar essa
níveis de governo na construção do arco direti-
atribuição concomitantemente a outras
vo da política de saúde e na publicização dessa
ações e aos serviços de saúde?
relação. O consenso normativo possibilita su-
Chioro É fundamental para o êxito de proces-
peração de possíveis diferenças partidárias e
so de descentralização que se tenham estados
garante o respeito pelas singularidades locais
fortes, com maior capacidade de prover coo-
quando da operacionalização do SUS.
peração técnica e financeira e de coordenar
os sistemas regionais de saúde. Tratando-se Consensus Quando esteve com sua equipe
de poder, não podemos achar que seja algo na primeira Assembleia do CONASS de
a ser transferido ou conferido pelo governo 2014, o senhor mencionou que é preciso
federal. Refere-se, em última instância, a um inovar a atuação das instâncias de pactua-
processo de empoderamento por meio da des- ção do SUS. Quais são as ideias e as propos-
centralização da própria estrutura de gover- tas do Ministério da Saúde para fomentar
nança estadual, com ênfase no planejamento e promover mudanças no processo de tra-
regional de saúde e no monitoramento bipar- balho das CIBs (Comissões Intergestores Bi-
tite de metas e resultados, como consequên- partite), das CIRs (Comissões Intergestores
cia de pactos explícitos e claras definições de Regionais) e da CIT (Comissão Intergestores
responsabilidades entre os gestores do SUS. A Tripartite)?
função gestora dos estados precisa ser refor- Chioro É preciso reforçar seu protagonismo.
çada, aperfeiçoada com nosso apoio, se ne- As instâncias técnicas devem estar subordi-
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nadas a esses fóruns de pactuação. É impor- Consensus Como tornar mais atrativo o
tante capacitar as câmaras técnicas de asses- mercado de trabalho no Sistema Único de
soramento às Comissões de forma que ao Saúde? Em sua opinião, o que falta para me-
aprovarem determinado desenho de rede re- lhorar a oferta e as condições de trabalho dos
gional ou estadual, não precisem de validação profissionais de saúde pública no Brasil?
técnica de outra esfera de governo. É preciso Chioro O SUS já é o principal empregador
abrir espaços nas agendas que tenham vários nesse mercado de trabalho. Acho que não se
sentidos, que expressem prioridades e que trata apenas de melhoria salarial como atra-
não deixem os órgãos colegiados se transfor- tivo principal, mas, fundamentalmente, da
marem no locus da burocracia e da protelação. perspectiva de visualização de uma carreira
justa e que considere e avalie desempenho
Consensus Ultrapassados os obstáculos profissional. A melhoria das condições de
para a implantação do Programa Mais Mé- trabalho está na pauta do dia com o Progra-
dicos, quais são os principais desafios para ma Nacional de Melhoria do Acesso e da Qua-
manter o atendimento nas periferias das lidade da Atenção Básica (PMAQ), SOS Emer-
grandes cidades e nas áreas mais remotas gência, Qualisus, como exemplos de ações
do país? Como o Ministério da Saúde pre- voltadas para qualificação dos serviços e
tende qualificar o programa e tratar das ca- das redes de atenção.
rências relacionadas à estrutura e à condi-
ções de trabalho destes profissionais? Consensus No que diz respeito ao financia-
Chioro O volume de investimentos compro- mento da saúde, mais de 2 milhões de as-
metido na qualificação da rede básica de saú- sinaturas, coletadas em todo o país, foram
de (construção, ampliação e reforma de UBS) entregues à Câmara dos Deputados no ano
e na implantação das redes regionais de aten- passado. Essa ação do movimento intitula-
ção à saúde é impressionante. Precisamos do Saúde + 10 pretende fazer que a União
aprofundar o debate sobre a carreira do SUS, destine 10% de suas receitas correntes bru-
que deve ter financiamento tripartite, poden- tas para a saúde. Como o senhor enxerga
do ter regramento nacional, mas que leve em esse movimento e a união de esforços para
conta as diferenças regionais, com gestão e que o governo federal aumente os recursos
operacionalização sob coordenação estadu- destinados ao SUS? O que os gestores da
al. Só dessa maneira será possível garantir o saúde podem esperar em relação ao incre-
enfrentamento das iniquidades. Precisamos mento dos recursos do SUS em 2014?
também priorizar educação permanente e es- Chioro Todo esforço de mobilização em defesa
tratégias de humanização. do SUS é bem visto pelo Ministério da Saúde.

Álbum completo
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FOTO: Rondon Vellozo - Ascom/MS 9


consensus entrevista

Nosso país enfrenta, atualmente, o grande desafio algumas portarias, em especial a Portaria
de assegurar um financiamento público adequado n. 204/2007, que regulamenta o financia-
que viabilize a garantia do direito à saúde prevista mento e a transferência dos recursos fede-
na Constituição Federal, de 1988. Entre 2000 e 2011, rais para as ações e os serviços de saúde?
os estados e os municípios mais que triplicaram o Chioro Essa questão deve ser tratada de ma-
volume de recursos destinados à saúde, passando neira articulada com a discussão de critérios
de R$ 28 bilhões para R$ 89 bilhões, o que corres- de rateio e vem sendo discutida em Grupo
pondeu a um incremento de R$ 61 bilhões, sendo de Trabalho Tripartite, constituído para ade-
R$ 28 bilhões referentes ao incremento estadual e quação/elaboração de critérios de rateio dos
R$ 32 bilhões, ao municipal (Ipea, 2013). Nesse mes- recursos federais, atendendo às exigências da
mo período, a União aumentou o gasto em ações e Lei Complementar n. 141/2012.
serviços públicos de saúde em R$ 31 bilhões, o que
Consensus A questão da judicialização da
correspondeu a um aumento de 75% em relação a
saúde também tem sido recorrente em suas
2000. Esse valor incremental é muito próximo ao
falas desde que assumiu o Ministério da
observado em cada uma das outras duas esferas de
Saúde. Que estratégias o senhor e sua equi-
governo, totalizando um aumento da ordem de R$
pe pretendem desenvolver e colocar em
92,7 bilhões. Contudo, esses aumentos do percentu-
prática para lidar com esta situação?
al de recursos públicos aplicados em saúde, ainda,
Chioro A principal estratégia é a do diálogo.
não ultrapassaram 4% do PIB. Nos países com sis- Queremos ouvir do CONASS, assim como do
temas de saúde universais, como o nosso, esse per- Conasems, quais as alternativas possíveis que
centual já ultrapassa os 6% do PIB há algum tempo já identificam. São soluções diferentes para dis-
e, em muitos, supera 10%. Essas comparações dão tintos problemas. Precisamos traçar um plano
uma ideia do caminho de que o Brasil ainda tem de ação, no Grupo de Trabalho já constituído
de percorrer, sendo necessário avançar, também, para esse fim e começar sua operacionalização,
na compreensão do custo e da efetiva necessidade de imediato. Pretendo liderar, efetivamente, esse
de recursos para implantar um sistema que se quer esforço, envolvendo outros atores como MPF,
universal, integral e equânime. Precisamos, cada TCU, OAB e Conselho Nacional de Saúde. A judi-
vez mais, legitimar o SUS, por meio da qualifica- cialização da saúde, em vez de promover justiça
ção do atendimento, da explicitação clara de suas social, está sendo promotora de iniquidades.
responsabilidades e padrão de integralidade, a fim
de buscar alternativas factíveis de ampliar os gastos Consensus O que o senhor pretende fazer
públicos com a saúde da nossa população. para melhorar a qualificação da Atenção
Primária à Saúde?
Consensus Como o senhor e sua equipe pre- Chioro Esse conjunto de ações, como o PMAQ,
tendem trabalhar a questão da revisão de Programa de Valorização dos Profissionais da
Atenção Básica (Provab), Atenção Domiciliar,
A função gestora dos estados precisa Programa Saúde na Escola, Academia da Saúde,
entre outras, é voltado para qualificação da Aten-
ser reforçada, aperfeiçoada com ção Básica, porém os resultados não aparecem em
nosso apoio, se necessário, olhando as curto prazo. Além disso, precisamos avançar na
singularidades de cada estado e mesmo qualificação da gestão da Atenção Básica e, princi-
palmente, na gestão do cuidado. Para isso, são es-
de cada região, e será sempre a função senciais ações de educação permanente, para que
mais relevante como coordenação dos a Atenção Básica seja efetivamente a ordenadora
sistemas estaduais de saúde. das redes de atenção à saúde. É preciso, também,
equacionar o problema da oferta de serviços de mé-
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dia complexidade. Este se constitui, ainda, um dos Entre 2000 e 2011, os estados e
mais graves problemas do SUS, e por se constituir
em importante ponto de estrangulamento das re- os municípios mais que triplicaram
des de cuidados interfere na qualidade da Atenção o volume de recursos destinados
Básica. Os déficits no padrão de oferta resultam à saúde, passando de R$ 28
em demanda reprimida, filas e longo tempo de
espera ou não garantia de acesso e oportunidade
bilhões para R$ 89 bilhões, o que
de utilização dos serviços necessários. Organizada correspondeu a um incremento de
e financiada com base na lógica de oferta e paga- R$ 61 bilhões, sendo R$ 28 bilhões
mento por produção de procedimentos, desconsi-
dera as necessidades e o perfil epidemiológico da
referentes ao incremento estadual
população. Caracteriza-se pela dificuldade de aces- e R$ 32 bilhões, ao municipal.
so e baixa resolutividade, superposição de oferta Consensus O envelhecimento da população
de serviços nas redes ambulatorial e hospitalar, é o tema central desta edição da revista Con-
concentração de serviços e profissionais especiali-
sensus. Em sua opinião, como a saúde públi-
zados em locais de alta densidade populacional e
ca pode se preparar para as implicações des-
baixo grau de integração entre os diferentes níveis
ta transição epidemiológica e demográfica?
de complexidade da assistência. A organização da
Chioro Por meio da formação de redes de aten-
assistência de saúde em linhas de cuidado con-
ção integradas e resolutivas. A construção de
tribui para superar a fragmentação, reduzindo a
redes de atenção deve ser orientada por linhas
distância entre os diversos pontos de atenção e ga-
de cuidado, principal ferramenta de integra-
rantindo a integralidade das ações com um fluxo
ção entre promoção, prevenção, vigilância
rápido e oportuno em cada nível de atenção. A li-
e assistência em todos os seus níveis. Nesse
nha de cuidado é uma ferramenta imprescindível
caso, a Atenção Básica desempenha papel pro-
para a gestão da clínica e, consequentemente, para
tagonista, constituindo-se na principal porta
uma atenção à saúde efetiva e de qualidade.
de entrada do sistema, com garantia da longi-
Consensus Considerando a instituição da tudinalidade do cuidado (ou vínculo e respon-
Política Nacional de Atenção Hospitalar, sabilização). A longitudinalidade é especial-
qual a proposta do Ministério da Saúde mente adequada para pessoas com doenças
para os hospitais de pequeno porte diante crônicas e em comorbidades, situações muito
da Rede de Atenção à Saúde do SUS? frequentes e que exigem da Atenção Básica
Chioro É preciso analisar a realidade e as neces- uma reestruturação dos serviços, cuja tradição
sidades de cada região de saúde antes de definir é organizarem-se para o enfrentamento de pro-
o número de leitos considerado adequado para blemas agudos. Teremos de pensar em novos
determinado hospital. É preciso, também, consi- arranjos do cuidado, considerando que a saúde
derar a sua inserção em rede – a organização de dos idosos será um dos maiores desafios sani-
um conjunto de serviços que articuladamente tários das próximas décadas. Esse esforço de
são ofertados para cuidar da saúde da população reestruturação implica uma permanente ação
–, a estabelecer processos de trabalho que con- articulada entre o estado e os municípios com
siderem a realidade local, os avanços possíveis a definição clara dos seus papéis e responsabi-
e não o ideal estabelecido para o país como um lidades, criando mecanismos que garantam o
todo. Em certos lugares, pode ser necessário am- desenvolvimento de suas ações, com empode-
pliar a oferta de internação hospitalar; em ou- ramento técnico-científico e financeiro, espe-
tros, a internação domiciliar pode ser a resposta cialmente dos municípios, e ainda garantam
mais adequada. Há, ainda, situações em que a o acompanhamento e o monitoramento das
oferta precisa ser profundamente reestruturada. ações pactuadas entre os entes federados.
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especial

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consensus | primeiro trimestre 2014

O tempo não para


Estamos preparados para envelhecer?

tatiana rosa
Adriane Cruz

“A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”, já dizia Ar-
naldo Antunes ao cantar, em 2009, a música Envelhecer. Mais atual
impossível, a canção fala com leveza, ironia e bom humor sobre a chegada
da velhice – realidade cada vez mais comum no mundo e, principalmente,
nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil. É o que revelam
os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2060,
uma grande parcela da população brasileira será de idosos com mais de 60
anos. Hoje, são 20,6 milhões de idosos, o que representa 10,8% da popula-
ção. Em 2060, esse número representará 26,7% do total.

Ouvir o texto
goo.gl/xOM7iM

13
especial

“O meu problema são as dores que sin- Como estamos nos organizando para cuidar
to nas juntas. Por isso, que eu costumo dizer de nossos idosos? Será esse o maior desafio do
que é pra juntar tudo e jogar fora”, brinca a século XXI?
aposentada Anastácia Carvalho Silva, de 63 Para responder a essas perguntas, ouvi-
anos. Moradora de Planaltina, cidade-satélite mos especialistas e autoridades que há algum
a aproximadamente 50km de Brasília, a apo- tempo trabalham com essa temática.
sentada retrata com bom humor realidade Como no caso das coordenadoras geral
que atinge também grande parte dessa par- e adjunta da Saúde da Pessoa Idosa (Cosapi)
cela da população que sofre com problemas – área do Ministério da Saúde vinculada ao
decorrentes do avanço da idade. Departamento de Atenção Especializada e
Para amenizar a dores do tempo, dona Temática (DAET) da Secretaria de Atenção
Anastácia, como gosta de ser chamada, parti- à Saúde (SAS) –, Maria Cristina Hoffmann e
cipa de um grupo gratuito de automassagem. Maria Cristina Lobo, respectivamente. Para
“Já melhorei bastante. Antes eu não conse- elas, um dos maiores desafios para o país
guia levantar o braço e agora eu já consigo é a inclusão da pauta do envelhecimento
e posso fazer outras coisas. As dores que eu e seus impactos na agenda prioritária das
sentia nos ombros, braços e pernas já melho- políticas públicas com ofertas concretas de
raram muito. Isso aqui alegra a vida da gente intervenções.
e nos dá mais vontade de lutar, porque se a Hoffmann cita também outros desafios,
gente ficar só em casa, não dá”, comemora a como o fortalecimento da articulação inter-
aposentada. setorial com vistas a responder às demandas
Totalmente gratuita, a atividade faz par- da pessoa idosa na sua integralidade, com am-
te do Programa de Assistência Integral à Saú- pliação de oferta de arranjos institucionais
de do Idoso da Regional de Planaltina, uma
iniciativa da Secretaria de Saúde do Distrito PIRÂMIDES ETÁRIAS ABSOLUTAS
Federal junto ao Ministério da Saúde, com o Homens Mulheres
objetivo de integrar os idosos em atividades de
lazer, saúde e educação, além de socializa-los, Idade 2013
dando a eles mais cidadania e facilitando o Mais de 90
acesso aos serviços de saúde. 85 a 89
80 a 84
Iniciativas como essa espalham-se pelo 75 a 79
país afora e, assim como o que acontece em 70 a 74
65 a 69
Planaltina, já existem pelo Brasil inúmeros 60 a 64
programas que visam dar melhor qualidade 55 a 59
de vida às pessoas que já chegaram à terceira 50 a 54
45 a 49
idade. Essas iniciativas demonstram a preo- 40 a 44
cupação das autoridades com o envelheci- 35 a 39
30 a 34
mento da população. 25 a 29
20 a 24
Desafios 15 a 19
10 a 14
Diante dessa realidade, é importante en- 5a9
1a4
tender o que isso representa do ponto de vista 0a1
das políticas públicas e que tipos de desafios o Milhões de 8 6 4 2 2 4 6 8
pessoas
Brasil terá de enfrentar. Estamos preparados?
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para dar conta da complexidade do cuidado à outros desafios. Segundo ela, é preciso au-
população que envelhece, envolvendo famí- mentar o número de crianças no país – hoje a
Acesse a PNSPI
lia e sociedade, oferta de cuidadores e apoio taxa de fecundidade que nos últimos 50 anos goo.gl/LbgPLj
às famílias cuidadoras, atenção domiciliar e era de 6,2 filhos, passou para 1,77 em 2013.
cuidados prolongados. “Na verdade, a população brasileira está ca-
Questionada sobre como o Ministério da minhando para uma diminuição e quem tra-
Saúde tem se preparado para o enfrentamento balha e paga imposto daqui a alguns anos não
desses desafios, ela explica algumas diretrizes vai mais contribuir. A pergunta é: quem vai
que compõem a Política Nacional de Saúde da fazer esse papel?”, questiona.
Pessoa Idosa (PNSPI - Portaria n. 2.528/2006). O outro desafio, segundo Camarano,
“A Política possui diretrizes que norteiam diz respeito não ao fato de haver muitos ou
as ações nas três esferas do Sistema Único de poucos idosos, mas sim à garantia das condi-
Saúde (SUS), com foco na promoção do en- ções de saúde e autonomia dessas pessoas. A
velhecimento ativo e saudável, na oferta de pesquisadora afirma que é preciso repensar o
atenção integral à saúde da pessoa idosa e na conceito de idoso. “Essa definição de que ido-
realização de ações intersetoriais, visando à so é uma pessoa com 60 anos ou mais é ultra-
integralidade da atenção. A PNSPI também passada. É preciso avaliar melhor essa classi-
destaca a importância de investimentos em ficação, porque não importa se a pessoa tem
educação permanente dos profissionais da 60 anos ou mais, mas sim se ela está em con-
saúde da pessoa idosa”, diz. dições de trabalhar, de produzir, de não estar
Em contrapartida, a técnica de Planeja- dependendo da previdência ou de cuidados
mento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa especiais. Acho que são dois desafios que me
Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano cita parecem assim de imediato”, ressalta.

2040 2060

Fonte: IBGE.
Diretoria de
Pesquisas.
Coordenação
de População
e Indicadores
Sociais. Projeção
da População
por Sexo e Idade
para o Brasil,
Grandes Regiões
e Unidades da
10 8 6 4 2 2 4 6 8 10 10 8 6 4 2 2 4 6 8 10Federação, 2013.

15
especial

Já para o presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil (ILC), o geriatra


Alexandre Kalache, o aumento da expectativa de vida da população e, consequentemente, o
aumento da população idosa trazem desafios importantes para o país. “A expectativa de vida
não aumenta só ao nascer. As pessoas que chegam aos 60 anos também continuam vivendo
cada vez mais e isso exige políticas públicas mais adequadas”. A afirmação foi feita durante a
sua participação no Fórum Saúde Brasil, promovido pelo jornal Folha de S. Paulo no último
dia 27 de março.
E assim como a pesquisadora do Ipea, o geriatra também alertou para a diminuição da
população, tendo em vista que há pelo menos seis anos a taxa de fecundidade no Brasil está
abaixo do nível de reposição. Segundo ele, é importante que se invista na educação pública
se quisermos ser bem cuidados e termos jovens produtivos no futuro, uma vez que hoje as
mulheres com baixa renda e com tempo de educação menor que 8 anos têm o dobro da taxa
de fecundidade daquelas mulheres de classe média/alta. “São essas crianças de hoje, que não
estão sendo bem educadas, que vão cuidar de nós e nos sustentar à medida que envelhece-
mos. Se elas não tiverem o mínimo de educação básica, não serão boas cuidadoras. Então
até em causa própria é necessário pensarmos muito nesse desafio do abismo hoje que há em
termos de taxa de fecundidade”.
16 Foto: Getty Images News
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Para ele, outro aspecto importante a ser Para ela, fica claro que os impactos dessas
considerado diz respeito à transição demográfi- mudanças na área da saúde acontecem pelo
ca e epidemiológica. Segundo ele, cada vez mais aumento da demanda por serviços de saúde,
as mortes de pessoas com mais de 60 anos são tanto públicos quanto privados, na necessida-
decorrentes de doenças crônicas. No entanto, o de de se investir em ações de promoção e pre-
envelhecimento não deve ser considerado cul- venção, na atenção ambulatorial e hospitalar
pado, pois não podemos desconsiderar que a especializada e na atenção domiciliar para o
população está envelhecendo com bolsões de cuidado com a pessoa idosa.
extrema pobreza. “Não vamos culpar o envelhe-
cimento por essas doenças crônicas. Nós temos Confira em
Confira algumas experiências goo.gl/Jc1Olz
de ter muita atenção antes de responsabilizar o
exitosas da gestão estadual e munici-
indivíduo, pois não podemos culpá-lo por ter
pal no campo do envelhecimento e
sido pobre, excluído e negligenciado. Temos
saúde da pessoa idosa.
de ter a solidariedade de tratar essa pessoa que
nunca foi cuidada, com respeito e dignidade”.
Kalache também chama a atenção para Lobo cita dados da Pesquisa Nacional por
a importância do cuidado, pois à medida Amostra de Domicílios de 2008 que indicam
que uma população envelhece, o cuidado que 73% da população idosa são usuários do
é a dimensão principal na área da saúde. “É SUS, 51% têm domicílio cadastrado nas Equi-
importante proporcionar o autocuidado, dar pes de Saúde da Família (ESF) e 53% utilizam
sustento e suporte para que o idoso possa se posto ou centro de saúde como primeiro local
cuidar, afinal ninguém deve estar tão interes- de atendimento. “Isso reforça a necessidade de
sado em se cuidar que ele próprio”. priorizar investimentos nas ações de promo-
ção, prevenção e preservação das condições
Impactos na Saúde e Políticas Públicas: de saúde, considerando suas especificidades e
como trabalhar essa questão? ampliando o acesso qualificado à pessoa idosa,
O acelerado processo de envelhecimento preferencialmente nos territórios”, diz.
populacional no Brasil impacta e traz mudan- A coordenadora da Cosapi indica ainda
ças no perfil epidemiológico dos brasileiros, outro impacto significativo que são as deman-
principalmente porque é caracterizado por das de cuidado, seja para apoiar as famílias
importante heterogeneidade e grandes desi- cuidadoras ou suprir ausência de vínculos so-
gualdades sociais. ciais. Ela explica que é necessário um esforço
“Essa peculiaridade exige das políticas so- conjunto com envolvimento principalmen-
ciais uma articulação intersetorial entre elas, te da Saúde e da Assistência Social para am-
como a assistência social e a previdência para pliar, criar novos dispositivos de cuidados a
responder às demandas crescentes de cuida- partir de experiências já realizadas, como, por
do”, afirma a coordenadora adjunta da Saúde exemplo, as experiências de cuidado que en-
da Pessoa Idosa, Maria Cristina Lobo. volvem a figura do cuidador, seja no âmbito

51% têm domicilio cadastrado nas Equipes de Saúde da Família (ESF) Pesquisa
53% utilizam posto ou centro de saúde como primeiro local de atendimento Nacional por
Amostra de
73% da população idosa são usuários do SUS Domicílios de
2008

17
especial

familiar ou institucional, a oferta de serviços articular esforços da União, dos estados, do


dia e atenção domiciliares, além de reordenar Distrito Federal e dos municípios em colabo-
as instituições de longa permanência de forma ração com a Sociedade Civil, para valorização
que estas se constituam em opção humani- e defesa dos direitos da pessoa idosa. A Comis-
zada de moradia para idosos, principalmente são é coordenada pela Secretaria dos Direitos
para aqueles em situação de vulnerabilidade Humanos e é composta por 17 ministérios.
social e sem vínculo familiares. “Nós também estamos envolvidos di-
Para amenizar os impactos que essas tran- retamente no fortalecimento do Colegiado
sições acarretam ao SUS, o Ministério da Saúde Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que é um
tem trabalhado com diversas linhas de atuação fórum composto por gestores dos estados e
Entrevista completa
goo.gl/T5X61A
(confira todas as ações do MS na entrevista do Distrito Federal, dos municípios capitais
completa no site). Uma das mais importan- e acima de 500 mil habitantes com reuniões
tes é a implementação do Modelo de Atenção presenciais semestrais e agenda permanente
Integral à Saúde da Pessoa Idosa. “Como é do de trabalho”, complementa Hoffmann.
conhecimento, o SUS adotou como orienta- Para conhecer a implementação da Política
ção para organizar a atenção, a constituição e Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e o esforço de
atuação em Redes de Atenção à Saúde (RAS). A gestão de estados e municípios, a Cosapi condu-
necessidade de propor um modelo de atenção ziu um projeto de mapeamento das experiên-
específico surgiu como resposta para organizar cias exitosas de gestão, seguindo critérios como
a atenção à população idosa no SUS. Esse mode- o alinhamento com princípios e diretrizes do
lo tem como foco potencializar e articular ações SUS, com a Política Nacional de Saúde da Pes-
existentes nas RAS, incluindo as especificidades soa Idosa e com as diretrizes para organização
desse grupo”, explica Maria Cristina Hoffmann. da Rede de Atenção à Saúde com a população
Entre os objetivos específicos propostos idosa. O projeto considerou o caráter inovador,
no modelo, estão a busca por melhores re- a relevância dos resultados e o potencial para
sultados sanitários nas condições crônicas, a ser replicado em outras realidades.
diminuição das referências para especialistas A pesquisadora do Ipea Ana Maria Cama-
e hospitais, o aumento da eficiência dos sis- rano lembra que a sociedade conseguiu gran-
temas de saúde, a produção de serviços mais de avanço ao emplacar a Política Nacional do
custo-efetivos e melhorias na satisfação dos Idoso, mas faz uma ressalva: “Nós não conse-
Leia o Estatuto usuários em relação aos serviços de saúde e a guimos implementá-la, tanto que nove anos
goo.gl/JBAJZp ampliação e qualificação do acesso da pessoa depois foi criado o Estatuto do Idoso por causa
idosa ao SUS, a partir das suas especificidades. do fracasso da política”. E vai além.
Vale ressaltar que o modelo foi elaborado e “Nós temos condições de desenvolver
validado no VIII Colegiado de Gestores de Saú- políticas públicas e sociais eficazes para en-
de da Pessoa Idosa, realizado em novembro de frentar essa nova realidade, mas para isso é
2013 e será lançado no XXX Congresso Nacional preciso que os governantes tratem esse pro-
do Conselho Nacional de Secretarias Munici- blema como prioridade. Condições há, basta
pais de Saúde (Conasems), em junho deste ano. querer. O que preocupa é que o Brasil ainda
Leia o Decreto
goo.gl/jZL87c O Ministério da Saúde participa da não conseguiu resolver a saúde para a po-
Comissão Interministerial instituída pelo pulação. Ainda há uma dificuldade de aten-
Decreto Presidencial n. 8.114/2013, que es- dimento, de acesso da população como um
tabelece o Compromisso Nacional para o todo e consequentemente isso afeta também
Envelhecimento Ativo e tem o objetivo de a população idosa”.
18
www.conass.org.br

Camarano também acredita na impor- Por isso, é importante, segundo o geriatra,


tância das ações intersetoriais. “Essa questão traçar uma perspectiva do curso de vida, pois
Fórum Saúde Brasil
do envelhecimento tem de ser trabalhada in- os idosos querem envelhecer mantendo a inde- goo.gl/00JXip
tersetorialmente. Por exemplo: acabar com o pendência e a qualidade de vida. “Se nós chegar-
preconceito que existe em relação aos idosos mos bem aos 80 anos, continuaremos a ser um
é uma questão de educação que começa desde recurso para a sociedade, se ela se preparar para
o ensino básico, ensinando os jovens a valo- tal. O problema está naquele idoso que entra em
rizar o papel do idoso e seu papel social. São declínio. Aí sim o envelhecer é um fardo”.
necessárias políticas de cuidado e de acessi- O médico alertou para a transição do curso
bilidade para essas pessoas, ou seja, é preciso de vida. “Antes a aposentadoria durava apenas
trabalho conjunto dos ministérios da Cidade, dois, três anos e com um salário baixo. Hoje
da Educação, da Saúde etc.” nós vamos nos aposentar e viver mais uns 30
Além disso, explica, “é muito importante anos com muita experiência para continuar
a inserção dos idosos na construção dessas po- contribuindo para a sociedade. Mas será que
líticas, pois muitas vezes elas são elaboradas ela está preparada? Uma sociedade que pensa
sem ouvir os principais interessados e acabam no idoso vai nos beneficiar a todos. Quem for
não sendo tão eficientes quanto deveriam”.
amigo do idoso será amigo de todos”, refletiu.
O presidente do ILC concluiu sua apre-
Revolução da Longevidade
sentação afirmando que é preciso promover o
Durante o Fórum Saúde Brasil, Alexandre
Kalache falou sobre a Revolução da Longevida-
de. “Revolução é aquilo que acontece
de súbito e que tem impacto em
toda a sociedade. É exatamente
isso que está acontecendo hoje
no Brasil e também no mundo.
Estamos diante de uma revolu-
ção da longevidade”, afirmou.

Foto: Getty Images News 19


especial

envelhecimento ativo, dando oportunidades “É importante investir em campanhas


de saúde, de educação continuada e de parti- publicitárias com foco na mudança de pa-
cipação na vida social. “Essa revolução veio radigma sobre o envelhecimento em uma
para ficar e todos nós devemos abraçá-la in- sociedade que valoriza exageradamente a ju-
dependentemente da nossa área de atuação”. ventude e não valoriza a sua história”, obser-
va Cristina Hoffmann.
Preconceito: é possível acabar? Segundo ela, o conhecimento acumula-
do pelos anos vividos pode ser aproveitado e
Exclusão, maus-tratos, negação. Negar a investido em políticas de reinserção no mer-
velhice e cultuar a juventude. Negar o passa- cado de trabalho e de possibilidades de parti-
do, negar a história, cultuar o hoje e o efême- cipação social, protagonismo e contribuição
ro. Como envelhecer diante de uma socieda- para sociedade.
de mergulhada na valorização daquilo que é Hoffmann destaca um ponto impor-
novo? Como lidar com a contradição de uma tante. “Na saúde, temos de trabalhar o con-
sociedade que, ao mesmo tempo em que bus- ceito do envelhecimento ativo, desvincular
ca alternativas que prolonguem a expectativa envelhecimento de doenças crônicas, reco-
de vida das pessoas, renega o tão natural ato nhecer que o envelhecimento traz perdas,
de envelhecer e exclui os seus idosos, abando- mas que é possível viver esta fase com qua-
nando-os, muitas vezes à própria sorte? lidade de vida”.
E finaliza citando trecho adaptado do Fun-
do de População das Nações Unidas (UNFPA),
Em Planaltina/DF, os idosos participam da técnica Bor- 2012, que se refere ao processo de envelheci-
dado Terapia (imagem abaixo), que une conhecimentos da mento como celebração e desafios: “O enve-
psicologia às atividades artísticas na cura de depressão, ansie- lhecimento é um triunfo do desenvolvimento.
dade, estresse e dificuldades de relacionamento. A atividade O aumento da longevidade é uma das maiores
faz parte do Programa de Assistência Integral à Saúde do Ido- conquistas da humanidade. As pessoas vivem
so, iniciativa da SES/DF junto com o Ministério da Saúde. mais em razão de melhorias na nutrição, nas
condições sanitárias, nos avanços da medici-
na, nos cuidados com a saúde, no ensino e no
bem-estar econômico. Mas a população em
envelhecimento também apresenta desafios
sociais, econômicos e culturais para indivídu-
os, famílias, sociedades e para a comunidade
global. E isto pode e deve ser planejado para
transformar os desafios em oportunidades”.

O que outros países estão fazendo?


O Brasil vem implantando, desde 2012,
o projeto-piloto dos Cuidados Continuados
Integrados (CCI), fruto da parceria e inter-
câmbio com a Catalunha, na Espanha, onde
o modelo funciona desde a década de 1980, e
com Portugal, que há cerca de sete anos vem
adotando o CCI.
20 Foto: Thinkphotos
www.conass.org.br

A participação da família na
recuperação e na reabilitação
do idoso é primordial. Por
isso, estimulamos a integração
entre os profissionais de saúde
e a família. Equipe médica,
assistência social e família são
o tripé da atenção à
pessoa idosa.
Luiz Maria Ramos Filho

O modelo, que começa com a aborda- desse projeto”, relata a dra. Montserrat Dolz,
gem do paciente no hospital pela Equipe de diretora da Gesaworld S.A. e consultora do
Gestão de Alta (EGA), tem como objetivo projeto no Brasil.
orientar a continuidade da atenção dada não Ela conta que não havia oferta de serviços
apenas aos idosos, mas aos cidadãos em geral além da atenção básica e da atenção hospita-
com necessidade de acompanhamento, seja lar clássica, causando diariamente grande vo-
em questões agudas ou crônicas. lume de cuidados, o que também aconteceu
Uma das principais características do no Canadá e nos Estados Unidos da América,
CCI é a articulação entre as equipes mul- conforme relata Dolz.
tidisciplinares, integrando o atendimento “Começando a tratar pessoas com proble-
pós-alta com as equipes das atenções básica mas de cronicidade e dependência, viu-se que
e domiciliar e com os centros de referência o modelo clássico de abordagem médico-assis-
em reabilitação física, efetivando a integra- tencial prestado nos hospitais ficava curto e in-
lidade da assistência e o prosseguimento do completo para as necessidades que os pacien-
cuidado a pacientes em situação clínica es- tes apresentavam. Porque o hospital clássico
tável que careçam de reabilitação ou adapta- orienta um tratamento para curar e faz uma
ção decorrentes de processo clínico, cirúrgi- intervenção pontual. Então, os pacientes com
co ou traumatológico. patologias ou multipatologias, com condições
“A prisão assistencial que alguns hospi- crônicas ou com idade avançada, tinham de
tais de média e alta complexidade estavam ser tratados de outro jeito”, explica.
percebendo, devido ao incremento de pato- A experiência da Catalunha e de outros pa-
logias crônicas e degenerativas e de pacien- íses que têm serviços públicos de saúde, como
tes que precisavam de cuidados variados, foi o Brasil, corrobora a necessidade de reforço da
um dos principais motivadores para o início Atenção Primária à Saúde (APS), a fim de fazer

21
especial

ser uma proposta multidisciplinar não cen-


trada no cuidado médico. O projeto está em
fase de implantação em Teresina, no Piauí,
em Rebouças, no Paraná, e em Campo Gran-
de, no Mato Grosso do Sul.
Ele explica que, embora não seja uma
política específica para a população idosa,
ela é grande beneficiária do programa e que
nos países europeus, por conta da população
mais envelhecida, há um cuidado assistencial
diferenciado, até mesmo com o financiamen-
to da assistência social. “Muitas vezes a neces-
sidade social do paciente é muito maior que a
necessidade médica. Em algumas situações, o
volume de recursos financeiros pode, inclusi-
ve, inverter-se, sendo maior o aporte por par-
te da assistência social que da saúde”.
“O principal é formar as Equipes de Ges-
tão de Alta nos hospitais de referência com
a devida abordagem de pacientes com uma ou lotação maior. Estas equipes, assim como a
mais patologias, crônicas ou degenerativas, regulação, são fundamentais para o direcio-
que podem ficar em casa e se deslocar à Unida- namento do tratamento ou para a internação
de Básica de Saúde para fazer seus controles. domiciliar”, ressalta Ramos Filho.
Nesse aspecto, o papel do cuidador tam- Na região de Franca, em São Paulo, foram
bém é fundamental. “Muitas vezes ele é da fa- inauguradas, em agosto de 2013, Unidades de
mília, portanto, parte do trabalho dessas equi- Cuidados Continuados nas cidades de Pedre-
pes é educar os familiares, mostrando como gulho e Ipuã, com apoio da Secretaria de Saú-
deve ser o acompanhamento para que os pa- de do estado, do Centro de Estudos Augusto
cientes possam receber os cuidados adequa- Leopoldo Ayrosa Galvão (Cealag) e da Federa-
dos às suas necessidades”, explica Montserrat. ção das Santas Casas e Hospitais Beneficentes
O Dr. Luiz Maria Ramos Filho, superin- do Estado de São Paulo (Fehosp), custeadas
tendente de Assistência Social do Hospital pelo Ministério da Saúde.
Samaritano, executor do projeto pelo Proadi- A Santa Casa de Franca, como hospital
-SUS, ressalta que o CCI depende muito da estratégico da região, é a que mais encaminha
mudança da visão da equipe de atenção por pacientes para essas unidades, tendo como
primeira referência a Unidade de Pedregulho,
Portaria n. 2.809/12 para onde já foi transferido o maior número
Acesse a Portaria n. 2.809/2012 e
goo.gl/Muj7Xx de pacientes que recebem todo o cuidado de
saiba como os Cuidados Prolongados
podem ser implantados nos municí- saúde e de apoio social de forma continuada
pios e nos estados brasileiros. e integrada, centrada em sua recuperação glo-
bal, promovendo a sua autonomia e melho-
rando sua funcionalidade.
22 Fotos: Thinkphotos
www.conass.org.br

Cuidados Prolongados
Um dos desdobramento do intercâmbio Envelhecer
internacional foi a publicação, em 2012, da (Arnaldo Antunes, Marcelo Jeneci e Ortinho)
Portaria n. 2.809, que estabelece os Cuida-
dos Prolongados como retaguarda da rede de A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer
atenção de urgências e com unidades inspira- A barba vai descendo e os cabelos vão caindo pra cabeça aparecer
das no CCI. Os Cuidados Prolongados já estão Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizendo que agora é pra valer
sendo incorporados ao SUS, implantados nos Os outros vão morrendo e a gente aprendendo a esquecer
hospitais São Julião e na Santa Casa de Cam-
Não quero morrer pois quero ver
po Grande, no Mato Grosso do Sul, e na Santa
Como será que deve ser envelhecer
Casa de Ipuã, em São Paulo.
Eu quero é viver pra ver qual é
“Esta é uma estratégia intermediária entre E dizer venha pra o que vai acontecer
os cuidados hospitalares de caráter agudo ou
crônico e a atenção domiciliar destinada a usu- Eu quero que o tapete voe
ários estáveis que necessitem de reabilitação No meio da sala de estar
ou adaptação por sequelas, problemas clínicos, Eu quero que a panela de pressão pressione
cirúrgicos ou traumatológicos”, explica Ana E que a pia comece a pingar
Paula Cavalcante, coordenadora de Atenção Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Hospitalar do Departamento de Atenção Hos-
Eu quero pôr Rita Pavone
pitalar e Urgência da Secretaria de Atenção à No ringtone do meu celular
Saúde, do Ministério da Saúde (SAS/MS). Eu quero estar no meio do ciclone
Os Cuidados Prologados são uma das Pra poder aproveitar
possibilidades que os gestores têm para a re- E quando eu esquecer meu próprio nome
abilitação da pessoa com perda de autonomia Que me chamem de velho gagá
potencialmente recuperável. São unidades de
15 a 25 leitos, com equipe multiprofissional Pois ser eternamente adolescente nada é mais demodé
Com uns ralos fios de cabelo sobre a testa que não para de crescer
composta por fisioterapeuta, fonoaudiólogo,
Não sei por que essa gente vira a cara pro presente e esquece de aprender
psicólogo, assistente social, técnico de enfer-
Que felizmente ou infelizmente sempre o tempo vai correr
magem, enfermeiro e médico.
Diferente do CCI, a Equipe de Gestão
de Alta não está prevista nos Cuidados Pro-
longados, cuja normativa sugere que a alta
seja administrada pelo Núcleo de Acesso e Ouça a Música
goo.gl/Z550Or
Qualidade, tanto para a unidade de Cuidados
Prolongados quanto para outra retaguarda
clínica, principalmente nos hospitais gerais,
explica Ana Paula.
“Unidades pequenas podem ser efetiva-
mente personalizadas. Esta é uma oportuni-
dade de utilizar essas unidades espalhadas
em todo Brasil com número reduzido de lei-
tos e uma baixa complexidade na assistên-
cia”, completa.
23
A crise contemporânea
dos modelos de
atenção à saúde
O predomínio das condições crônicas e a necessidade de modernização dos
sistemas de saúde, no Brasil e no mundo, são temas do 3º seminário CONASS
Debate, com participação de convidados internacionais e autoridades brasileiras.
.
Programação – 13 de maio de 2014
9h – Abertura
– Wilson Duarte Alecrim – presidente do CONASS
– Antônio Carlos Nardi – presidente do Conasems
– Maria do Socorro de Souza – presidente do Conselho Nacional de Saúde
– Arthur Chioro – ministro de Estado da Saúde
– Joaquim Molina – representante da Opas/OMS
10h30 – Conferência de Abertura
– Rafael Bengoa – assessor do programa Obamacare, foi diretor de Gestão
de Condições Crônicas e diretor de Políticas do Sistema de Saúde da Organização
Mundial da Saúde (OMS), e ex-ministro da Saúde do país Vasco
11h30 – Contextualização do tema
– Eugênio Vilaça Mendes – gerente técnico do projeto CONASS Debate
12h – Almoço
13h30 – Exposições
– Luiz Facchini, professor do Departamento de Medicina Social e dos
Programas de Pós-Graduação em Epidemiologia e em Enfermagem da
Universidade Federal de Pelotas, pós-doutorado em Saúde Internacional, e
ex-presidente da Abrasco
– Claunara Schilling Mendonça, professora de Medicina de Família no
Departamento de Medicina Social da Universidade do Rio Grande do Sul, Medica de
Família e Comunidade do Grupo Hospitalar Conceição, e ex-diretora de Atenção
Básica do Ministério da Saúde
– Luiz Fernando Rolim Sampaio, chefe do Escritório de Serviços de Saúde
da Unimed Belo Horizonte, foi diretor de Atenção Básica do Ministério da Saúde,
consultor do Departamento de Medicina de Família e Comunidade da Universidade
de Toronto, e assessor técnico do CONASS
– Frederico Guanais – PhD, especialista Líder em Saúde da Divisão de
Proteção Social e Saúde do Banco Interamericano de Desenvolvimento
Coordenação
– Renilson Rehem – gerente do projeto CONASS Debate
15h30 – Debate com a plateia, internautas e expositores
Mediação
– Renato Farias – Canal Saúde / Fiocruz
17h – Encerramento

Os internautas poderão participar dos debates enviando perguntas e


comentários. Acesse o site oficial do evento para mais informações!

Assista ao vivo e participe on-line dos debates em


www.conass.org.br/conassdebate
saúde em foco

A crise contemporânea
dos modelos de
atenção à saúde
Como o Brasil e o mundo podem se preparar para enfrentar
os problemas que assolam os seus modelos de Atenção

tatiana rosa

Ouvir o texto
A evolução acelerada que o mundo contemporâneo vive nos coloca
diante de rápidas e constantes transformações. Acompanhá-las, mais
do que questão de sobrevivência, é também uma maneira de inserção so-
goo.gl/WL2Hm7
cial. Adaptar-se às novas realidades impostas por esse desenvolvimento
dinâmico faz-se necessário em uma sociedade que exige cada vez mais que
estejamos inseridos em seu contexto.
26
consensus | primeiro trimestre 2014

Essas transformações implicam direta- Sistema de Saúde da Organização Mundial da


mente no modo de viver de uma sociedade na Saúde (OMS), e ex-ministro da Saúde do país
mesma medida em que atingem também as Vasco, Rafael Bengoa, cita alguns desafios
políticas públicas voltadas a essa população. importantes a serem enfrentados pe-
É o que acontece hoje com os sistemas de los sistemas de saúde no Brasil e
saúde do Brasil e do mundo que não consegui- no mundo.
ram acompanhar a velocidade das transições Segundo ele, são necessá-
epidemiológicas, demográficas, nutricionais rias políticas ativas para trans-
e tecnológicas, gerando o descompasso entre formar os sistemas que hoje
as condições de saúde das populações e a ca- não são adaptados para enfren-
pacidade de enfrentamento dessas situações tar o desafio da transição demo-
pelos sistemas de saúde. gráfica e das doenças crônicas. “Esta
Pensando nisso e em busca de soluções adaptação não ocorrerá sem políticas
que resolvam ou ao menos amenizem o pro- ativas para complementar o modelo atual,
blema, o Conselho Nacional de Secretários de voltado às condições agudas, com um modelo
Saúde promove o seminário CONASS Debate – orientado, voltado às condições crônicas”.
A crise contemporânea dos sistemas de saúde. Em contrapartida, Bengoa alerta que o
(Confira a programação na página anterior.) modelo assistencial vigente – reativo e foca-
“As transições demográficas, tecnológi- do nas condições agudas – é economicamen-
cas, epidemiológicas e nutricionais, viven- te insustentável e incompatível com o tempo
ciadas por países da Europa, Estados Unidos, de continuidade dos cuidados de que preci-
Canadá e Brasil, não podem ser cessadas. Por sam os doentes crônicos.
isso, é necessário promover mudanças rápi- Para ele, não é possível controlar as mu-
das no modelo de atenção para que ele seja co- danças demográficas, mas, sim, a resposta ao
erente com a conjuntura da saúde predomi- desafio que elas trazem. “A principal reforma
nante no país”, explica o coordenador técnico é passarmos de um sistema reativo e passivo
do projeto CONASS Debate, Eugênio Vilaça. que espera os pacientes, para um sistema pro-
Com a experiência de quem hoje assessora ativo que intervém antecipadamente sempre
o programa Obamacare, o ex-diretor de Gestão que possível. Assim, vamos aprender a geren-
de Condições Crônicas e diretor de Políticas do ciar melhor os pacientes complexos, com múl-
Foto: Divulgação 27
saúde em foco

tiplas co-morbidades. O que é caro não são os leiros têm hoje relações de interdependência.
doentes crônicos, mas sim o modelo de aten- “A saúde suplementar ultrapassa os limites
ção fragmentado que oferecemos”, conclui. do que poderíamos categorizar como suple-
Já o ex-diretor do Departamento de Aten- mentar. Ela complementa a cobertura públi-
ção Básica do Ministério da Saúde (DAB/MS), ca e, por falta de limites dos dois subsetores,
Luís Fernando Rolim, hoje chefe do escritó- há efetivamente muitos casos de duplicação
rio de serviços de Saúde da Unimed de serviços e de assistência”.
de Belo Horizonte, afirma que Em contrapartida, a professora de medi-
já existem movimentos de es- cina de família e comunidade do Grupo Hos-
tímulo da Agência Nacional pitalar Conceição e ex-diretora do DAB/MS,
de Saúde Suplementar (ANS) Claunara Schilling Mendonça, acredita que
para que as operadoras de pla- existe uma crise de valor moral e ético que
nos implementem novas for- significa o quanto as sociedades estão dispos-
mas de atenção à saúde, tendo tas a financiar sistemas públicos e universais
em vista que as mudanças no qua- e também uma crise de modelo de atenção,
dro epidemiológico trazem a exigência que inclui quais são os ser-
de um novo modelo de atenção à saúde. viços ofertados e a for-
Entretanto, observa: “no caso brasileiro, ma como são acessa-
não podemos desconsiderar que por trás des- dos pela população.
se cenário existe uma crise maior, a meu ver, Schilling cita a
no plano político-ideológico a qual teremos situação dos países
de enfrentar, pois a sociedade vai nos exi- europeus que com a
gir uma resposta. Essa crise passa por temas crise financeira estão
muito delicados como: os limites no direito revisando algumas ofer-
à saúde em relação ao acesso a serviços e tec- tas desnecessárias e custosas à população.
nologias da indústria médico-hospitalar e o Ela explica que no Brasil são gastos 9% do
redesenho do mix público-privado no sistema Produto Interno Bruto (PIB) em saúde, mas
de saúde brasileiro”. 55% desse valor são distribuídos para 40%
Sobre o papel do setor privado como su- da população brasileira com planos priva-
plementar, Rolim esclarece que essa é uma dos e os demais (60% da população) têm de
discussão antiga e complexa. “Suplementar ter suas necessidades em saúde atendidas
é algo que vai além de um todo já existente. por 4,07% do PIB. “A crise dos sistemas no
Nesse entendimento, poderíamos retirar esse mundo é que depois de um certo valor de
suplemento e o sistema permaneceria está- gastos per capita em saúde, a melhora dos
vel, como acontece no sistema de saúde cana- indicadores se dá na forma como os recur-
dense no qual a opção de comprar planos é sos se distribuem, e aí entra a distribuição
oferecida para serviços específicos”, diz. nos modelos de atenção”, esclarece.
Rolim esclarece, no entanto, que o sub- Nesse sentido, a médica observa que o
sistema público e o subsistema privado brasi- modelo de atenção precisa atender às mudan-

28
www.conass.org.br

ças na sociedade. “Os sistemas de saúde que tia do escopo das ações e dos serviços a serem
são orientados às necessidades da população ofertados nas Unidades Básicas de Saúde.
têm melhores resultados. A população viven- Para ela, se os serviços criam barreiras
do mais, e com menos utilização dos espaços de acesso ou não conseguem dar as respostas
da ‘rua’ (pela questão da insegurança), faz que aos problemas que levam as pessoas a procu-
a rede de serviços (de saúde e dos outros se- rarem os serviços de saúde, abre-se uma bre-
tores da determinação social da saúde) deva cha para que a população busque respostas
se preparar para apoiar as pessoas a lidar com inadequadas às suas doenças em serviços de
condições crônicas”. pronto-atendimentos ou especializados, sem
Categórica, afirma ainda que só será pos- longitudinalidade, sem estabelecer relação de
sível um modelo de atenção que responda às confiança com os profissionais do cuidado,
necessidades das pessoas quando os proble- submetendo-se a intervenções e tratamentos
mas prevalentes (80 a 90%) forem atendidos mais invasivos e que podem causar mais da-
e acompanhados na Atenção Primária à Saú- nos que benefícios.
de e o restante, com tempo correto e quali- “Dentro do ideário do que é ser ‘cuida-
dade na atenção especializada. Segundo ela, do’, isso atende ao senso comum de acesso ao
sempre que um problema de saúde prevalen- médico, aos exames e ao tratamento medica- Acesse o site
goo.gl/SRsTLA
te, agudo ou a agudização de um problema mentoso. Esse é o modelo que está em falên-
crônico é respondido na rede por serviços es- cia no mundo”, conclui.
pecializados focais, os recursos são gastos ina- Conheça melhor o CONASS Debate e
propriadamente e não dão a resposta adequa- acesse todo o material no site do projeto.
da. Além disso, ocupam o espaço dos serviços
especializados com questões que não são de
sua competência e dificultam o acesso aos
que realmente precisam estar nesses serviços.
No período em que esteve à frente do
DAB/MS, Claunara Schilling defendeu que o
Programa Saúde da Família – modelo brasilei-
ro de APS – fosse o serviço de referência para
todo brasileiro. “Esses serviços, de base terri-
torial, com população definida, integrariam a
rede de serviços assistenciais de saúde e tam-
bém se relacionariam com a rede interseto-
Luiz Facchini, professor da Universidade Federal de Pelotas e ex-
rial (escola, cultura, assistência social, justiça, presidente da Abrasco (E) e Frederico Guanais – PhD, especialista
saúde urbana e ambiente, desenvolvimento Líder em Saúde da Divisão de Proteção Social e Saúde do Banco
agrário etc.)” Interamericano de Desenvolvimento, também participarão, como
expositores, do seminário, juntamente com os entrevistados desta
No entanto, ela explica que faltaram na- matéria. Confira a programação no evento nas páginas 24 e 25.
quele momento, e ainda faltam até hoje, profis-
sionais com competência adequada e a garan-

Fotos: Divulgação e arquivo pessoal 29


Publicações Digitais do CONASS
Pensando em sua comodidade, o CONASS adaptou suas publicações que agora podem ser
lidas gratuitamente na palma da sua mão e onde estiver!
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CONASS Debate
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goo.gl/7Hgro1

O livro traz subsídios e evidência de que as Redes de Atenção são o melhor arranjo para superar os
desafios de gestores no processo de implantação de redes no SUS e integrar os sistemas de saúde.
Trata-se de obra fundamental e relevante para os temas Redes de Atenção e APS, com conteúdo coeso,
baseado na melhor evidência disponível nessa área de conhecimento.

O Cuidado das Condições Crônicas na Atenção Primária à Saúde: Baixe em


O Imperativo da Consolidação da Estratégia de Saúde da Família goo.gl/BsVeYz
Eugênio Vilaça Mendes
A publicação oferece informações sobre o manejo da condição crônica na Atenção Primária à Saúde. Nas
palavras do próprio autor: "O livro é uma contribuição para qualificar o debate sobre o futuro da atenção
primária no Brasil".

Seminário Internacional – Atenção Primária à Saúde: Baixe em


Acesso Universal e Proteção Social goo.gl/MlJuLl
CONASS Documenta n. 27
Ao se realizar este seminário internacional, o CONASS buscou ampliar o escopo da discussão da APS,
inserindo-a na discussão de temas mais abrangentes que compõem o debate sobre o desenvolvimento
de políticas intersetoriais de caráter universal, com foco especialmente na integralidade, na equidade e
na participação da sociedade.

Baixe em
Coleção para Entender a Gestão do SUS 2011 goo.gl/xvLEVm
Composta por 12 livros que esmiuçam a complexidade do SUS: Sistema Único de Saúde; O financiamento da
Saúde; Atenção Primária e Promoção e Saúde; Vigilância em Saúde (Parte I e II); Assistência Farmacêutica no
SUS; A Gestão Administrativa e Financeira do SUS; Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde; Regula-
ção em Saúde; Ciência e Tecnologia em Saúde; Saúde Suplementar; e Legislação Estruturante do SUS.

Instruções para baixar

1 2 3 4
Clique em Clique na opção Escolha a opção *Caso seu tablet ou smartphone da
“+ detalhes”. Boa Leitura! Apple não estiver instalado o iBooks,
“ebook”. “abrir em * ”.
você poderá instalá-lo gratuitamente
pela AppStore.

*Nos sistemas Android, sugerimos o


aplicativo Moon+ Reader, disponível
gratuitamente na Google Play.

www.conass.org.br/biblioteca
relações internacionais

Cobertura e sistemas
universais de saúde são
tema de intercâmbio
internacional de
experiências no Brasil
Adriane Cruz

B rasília foi sede de dois eventos internacionais importantes no mês de


fevereiro, que reuniram gestores e acadêmicos brasileiros, canadenses,
franceses, portugueses e espanhóis. Em ambos os eventos, os especialistas
apresentaram suas experiências e debateram alternativas para tratar de
um tema relevante e atual: a cobertura e o acesso universal dos sistemas
de saúde em todo o mundo.
A discussão a respeito dos desafios que os sistemas universais de saúde
enfrentam está em pauta nesses países, por isso a Conferência Luso-Fran-
cófona da Saúde (Colufras) e o Observatório Ibero-Americano de Políti-
cas e Sistemas de Saúde (OIAPSS), dos quais o CONASS é integrante, vêm
promovendo o intercâmbio de experiências entre Brasil, Canadá/Quebéc,
Portugal, França e Espanha, conforme explica o assessor de Relações In-
ternacionais do CONASS, Fernando Cupertino.
Ouvir o texto
goo.gl/htXOcQ
Conferência Luso-Francófona Observatório Ibero-americano de
da Saúde Políticas e Sistemas de Saúde
www.colufras.info/pt www.oiapss.org/
es Internacionais

32
consensus | primeiro trimestre 2014

Fórum internacional reúne, na sede da Opas em


Brasília, especialistas para tratar dos sistemas
universais de saúde.

“O fato de trocar ideias e discutir experi-


ências com países que passaram e que passam
pelos mesmos desafios enriquece o nosso po-
der de combater as desigualdades e nos forta-
lece no sentido de buscar o funcionamento
pleno de um sistema que seja universal, gra-
tuito e integral – que não se destine a cuidar
apenas de quem está doente, mas que tenha
a preocupação em preservar a saúde das pes-
soas e de promover o bem-estar. E que seja
também, de fato, equânime, ou seja, capaz de Os especialistas participaram ainda de
dar mais atenção a quem mais necessita”, de- uma reunião na sede do CONASS a fim de
fende Cupertino. sistematizar as experiências e as próximas
Ele ressalta que o Estado precisa exercer ações do grupo e gravaram suas participações
cada vez mais o seu papel regulador, sobretu- para um vídeo-documentário produzido pe-
do no Brasil, onde há grande interface entre las três instituições e com apoio e parceria da
o setores público e privado. Destaca ainda Rádio Web Saúde da Universidade de Brasília
que o financiamento público é condição in-
(UnB). Outro desdobramento é a participação
dispensável para que os sistemas universais
do CONASS no I Encontro Partilhar Saúde:
funcionem. “Principalmente para o Sistema
Único de Saúde (SUS), que sofre com o para- Rede Lusófona de Cuidados de Saúde Primá-
doxo de não ser suficientemente financiado, rios, em Lisboa, nos dias 8 e 9 de abril e, ainda,
indo na contramão da sua condição de ser um no 6º Congresso Nacional das Unidades de
sistema público e universal para 200 milhões Saúde Familiar, a realizar-se na cidade do Por-
de brasileiros”, argumenta. to, de 8 a 10 de maio.
O presidente do CONASS, Wilson Duar-
te Alecrim, destacou a importância da parce-
ria e do intercâmbio entre os países como me- Programação
O “I Fórum Internacional sobre Cobertura goo.gl/I40wzH
canismo fundamental de contribuição entre e Sistemas Universais em Saúde” ocorreu
eles, tendo em vista que a experiência e a pro- nos dias 1º e 2 de fevereiro, na sede da
dução de conhecimento de cada um podem Organização Pan-Americana da Saúde
ser alinhadas no intuito de procurar soluções (Opas/OMS), em Brasília.
para problemas em comum.
“Como fruto destes encontros, o Obser-
vatório irá produzir um relatório a respeito Programação
dessas discussões que, acredito, irá subsidiar O Seminário Internacional “A proteção e goo.gl/rnMebS
muito o trabalho do CONASS, do Conasems desenvolvimento dos sistemas universais
e do Ministério da Saúde na busca por me- de saúde” ocorreu no dia 2 de fevereiro,
lhores soluções para os problemas que angus- no Centro de Convenções Ulysses
Guimarães, também em Brasília.
tiam os três entes federados do SUS no que
concerne à universalidade”, completou.
FOTO: Tania Mello/SGEP 33
institucional

Revista Consensus interativa


A revista Consensus está com novidades que tornaram a experiência
de leitura mais ampla e imersiva: a tecnologia de QR Code, um código
de barras em 2D (duas dimensões) que permite ao usuário obter
informações de forma rápida e prática

A utilização de QR Codes é simples e fácil. Para fazer a leitura dos códigos é preciso
ter um smartphone ou tablet equipado com câmera e um aplicativo (app) leitor de QR
Code. Praticamente todos os modelos recentes de smartphones disponíveis no mercado
possuem um app pré-instalado. Caso o seu smatphone ou tablet não tenha, acessar a
loja de aplicativos pelo próprio celular (Google Play, Apple App Store, BlackBerry App
World etc.) e fazer o download do aplicativo leitor/scanner de código QR.
Abra o aplicativo leitor de QR Code, aponte a câmera do seu dispositivo móvel
para o código que deseja acessar e, por meio da digitalização, todas as informações
contidas no QR Code, como, por exemplo vídeos, fotos, áudios e websites irão abrir
em seu dispositivo.
Agora que você já sabe como utilizar, usufrua todos os benefícios do QR Code apro-
veite o conteúdo interativo da revista Consensus!

Como funciona um QR Code

Abra o aplicativo e Aguarde o aplicativo O aplicativo irá Pronto! Você poderá


aponte a câmera para escanear o QR Code processar o código acessar uma página na
o QR Code Web, álbum de fotos,
vídeos ou áudios

34
de 28 a 31 de outubro de 2014

A experiência em Saúde Pública do seu estado ou município é um sucesso? Então registre como
vem sendo desenvolvida, descreva seus principais resultados e venha apresentá-la na 14ª EXPOEPI.
Até 08 de junho de 2014 você poderá enviar sua experiência bem-sucedida, na área da vigilância,
prevenção e controle de doenças ou agravos em Saúde Pública, pela internet. Seu município, ou
estado, concorrerá a prêmios de até R$ 50 mil.
Também serão premiados os autores de trabalhos nas categorias de especialização, mestrado e
doutorado, com prêmios de até R$ 6 mil, R$ 9 mil e 12 mil, respectivamente, e serão premiadas
experiências exitosas desenvolvidas pelos movimentos sociais, com prêmios de até R$ 5 mil.
Neste ano, todos os finalistas serão premiados!
Confira o edital da 14ª EXPOEPI na página da Secretaria de Vigilância em Saúde: www.saude.gov.br/svs

Confira as áreas para inscrição das experiências, trabalhos técnico-científicos


e intervenções sociais que concorrerão na 14ª EXPOEPI

PRÊMIOS PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE Área 9: Malária e outras doenças transmissíveis de


(PESSOA JURÍDICA) importância para a Região Amazônica
Área 10: Doenças imunopreveníveis
Área 1: Vigilância em saúde ambiental e em saúde
do trabalhador Área 11: Tuberculose
Área 2: Integração da vigilância em saúde com os Área 12: Prêmio Carlos Chagas – Investigações de
serviços de saúde da atenção básica, rede hospitalar surtos conduzidas pelas esferas estadual e municipal
e laboratórios de Saúde Pública do SUS
Área 3: DST/HIV/aids e hepatites virais
PRÊMIOS PARA OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Área 4: Dengue
(PESSOA FÍSICA)
Área 5: Melhoria da qualidade da informação em saúde
Área 13: Produção técnico-científica (Especialização,
Área 6: Promoção da saúde e as doenças crônicas
Mestrado ou Doutorado) por parte de profissional do
não transmissíveis – Implementação de ações de
SUS que contribuiu para o aprimoramento das ações
promoção da saúde e vigilância dos fatores de risco e
de vigilância em saúde
proteção, prevenção e controle das doenças crônicas
não transmissíveis
PRÊMIOS PARA OS MOVIMENTOS SOCIAIS
Área 7: Promoção da saúde e os agravos de interesse
de Saúde Pública
(PESSOA JURÍDICA)
Área 8: Hanseníase, leishmanioses e outras doenças Área 14: Ações desenvolvidas por movimento social
transmissíveis relacionadas à pobreza, com ênfase que contribuíram para o aprimoramento da vigilância
na esquistossomose, geo-helmintíases, tracoma, em saúde
filariose, oncocercose ou doença de Chagas

de 28 a 31 de outubro de 2014
Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Brasília/DF
institucional

Pesquisa avalia o
desempenho das
Upas 24 horas
Adriane Cruz

E studo promovido pelo CONASS e pelo


Ministério da Saúde, sob a coordenação do
Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayro-
de 2012, sendo o trabalho de campo finalizado
em 2013, após a realização das entrevistas. A
análise consolidada desses resultados foi apre-
sa Galvão (Cealag) e o apoio da Organização sentada pelo coordenador-geral da pesquisa,
Pan-Americana da Saúde (Opas), avaliou a Nelson Ibañez, na primeira assembleia do CO-
implantação e o desempenho das Unidades NASS de 2014, realizada no dia 19 de fevereiro.
de Pronto Atendimento 24 horas (UPA) em O presidente do CONASS, Wilson Ale-
todo o país. Ao todo, foram realizadas 483 en- crim, destacou que o estudo nasceu da dis-
trevistas com gestores estaduais e municipais cussão entre o CONASS e a SAS (Secretaria de
de saúde e profissionais das áreas de planeja- Atenção à Saúde, do Ministério da Saúde), a
mento e de coordenação de serviços pré-hos- respeito da necessidade de se conhecer o papel
pitalares e hospitalares. e o espaço das UPA 24 horas dentro do SUS.
Participaram da amostra Minas Gerais, “A SAS aportou os recursos necessários para
Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Pau- a realização da pesquisa e o CONASS será o
lo e Sergipe, eleitos pelo fato de concentrarem
responsável pela sua publicação”, completou.
o maior número de Upas em funcionamen-
O secretário da SAS, Helvécio Maga-
to quando o projeto foi concebido. O Mato
lhães, participou da apresentação da pesqui-
Grosso do Sul também participou da pesqui-
sa aos secretários e ressaltou que se trata de
sa, tendo como critério de inclusão o fato de
uma “feliz coincidência de institucionali-
que o estado prevê a inserção das UPA em
dades”, a fim de buscar o melhor entendi-
sua Rede de Atenção às Urgências e Emergên-
mento da realidade dessas unidades para
cias (RUE), cuja constituição e governança
embasar e qualificar a tomada de decisões.
são destaques da pesquisa. O estudo buscou
identificar também os fatores que favorecem Para Helvécio, o diagnóstico vem reafir-
e que dificultam o processo de implantação, mar a importância da RUE. “Fizemos, paula-
o desempenho e a resolubilidade das UPA. tinamente ao estudo, a discussão dos planos
Os resultados da pesquisa foram apre- regionais, em rodadas das quais todos os Co-
sentados às secretarias de saúde e o relató- sems e todas as SES participaram, desenhan-
rio final, entregue aos secretários. Foram do as redes e identificando os vazios assisten-
focados o contexto estadual de implantação ciais com intuito de alocar as UPA”, explicou.
das UPA 24 horas e sua inserção na RUE no Outros aspectos ressaltados pela pesqui-
Ouvir o texto estado, assim como os entraves e os facili- sa estão relacionados à governança da rede
goo.gl/T9ZR9j
tadores do seu desempenho nas Unidades e à gestão regional e suas várias possibilida-
da Federação que participaram do estudo. des de operação; a questão da fixação e do
Concebido em meados de 2011, o estudo vínculo dos profissionais – seu custo e rigi-
concretizou-se a partir do segundo semestre dez burocrática; além do financiamento.
36
consensus | primeiro trimestre 2014

Reforma no Sistema
de Saúde Americano
OBAMACARE
organiz aç ão: pa r c e r i a :

12
mai
V E N H A pA rt i c i pA r
d E s t E E N co N t r o.
2 014 VAG A s L I M I TA DA s!

i N f o r m Açõ E s E i N s c r i çõ E s :
w w w. h O s p I TA L s I R I O L I B A n E s . O R G . B R / E n s I n O

David Uip
Secretário estadual
de Saúde de São paulo

Gonzalo Vecina Neto


Superintendente corporativo
Rafael Bengoa do Hospital Sírio-Libanês
assessor do programa obamacare

37
institucional

Comissão Geral da Câmara


dos Deputados debate
financiamento da Saúde
A comissão marca a retomada do Movimento Saúde + 10
Tatiana Rosa

Na semana em que se comemorou o Dia lização popular em prol da saúde pública. “Não
Ouvir o texto
Mundial da Saúde, a Câmara dos Deputados é todo dia que chega a essa Casa um projeto de
goo.gl/px6xVx realizou, no dia 8/4, uma Comissão Geral para iniciativa popular com mais de 2 milhões de as-
debater o Projeto de Lei de Iniciativa Popular sinaturas. A nossa luta agora é pela votação do
que prevê a destinação de 10% da Receita Cor- PLP n. 321/2013, na forma como ele foi apresen-
rente Bruta da União para a saúde. A comissão tado e não apensado a outro projeto”, afirmou.
foi proposta pelo presidente da Casa, deputa- Para Alecrim, a Comissão Geral represen-
do federal Henrique Alves (PMDB/RN), para ta a retomada do Movimento Popular em De-
atender ao pleito de diversas organizações que fesa da Saúde Pública – Saúde + 10. Ele advertiu
O presidente
compõem o Movimento Saúde+10. que agora é preciso ter capacidade operacional
e o secretário Henrique Alves declarou que a comissão e política de mobilização para que o projeto
executivo do vai viabilizar alternativas para que a proposta tramite o mais rápido possível.
CONASS, Wilson
Duarte Alecrim e seja votada mais rapidamente. O secretário observou ainda a importân-
Jurandi Frutuoso Wilson Duarte Alecrim, secretário de Es- cia de que seja votado o requerimento do de-
respectivamente,
representaram tado da Saúde do Amazonas e presidente do putado federal João Ananias (PCdoB/CE) que
o Conselho CONASS, ressaltou que o aumento de recursos requer que a tramitação do PLP n. 321/2013
durante a
comissão
para o SUS é fundamental para a sobrevivência ocorra da maneira como ele foi apresentado
do sistema e observou a grandiosidade da mobi- na Câmara e não apensado a outro projeto.
“Esse projeto tem início a partir de uma ini-
ciativa popular que coletou mais de 2 milhões
de assinaturas no país inteiro. As pessoas não
assinaram para que ele fosse apensado a ou-
tro projeto”, declarou.
Em breve entrevista à revista Consen-
sus ao fim da Comissão, o deputado fede-
ral e presidente da Frente Parlamentar da
Saúde Darcísio Perondi (pelo PMDB/RS)
afirmou que o Governo Federal não quer
priorizar a saúde. “A posição é cada vez
mais dura na área econômica do governo,
que prioriza subsídios para o setor elétrico
e para grandes empresas nacionais e inter-
nacionais”.
38 Fotos: CONASS
consensus | primeiro trimestre 2014

Eleita a diretoria
do CONASS para a
gestão 2014/2015

Assista o discurso
goo.gl/ReiPbd

Reunidos no dia 26 de março, na 2ª Assembleia


Wilson Duarte Alecrim lembrou aos parlamentares
do CONASS de 2014, os secretários estaduais de saú-
a grandiosidade do projeto que coletou mais de 2 de decidiram, por unanimidade, reconduzir a atual
milhões de assinaturas
diretoria do Conselho.
“Nenhum presidente do CONASS é capaz de re-
Para Perondi, a intenção do governo é aca- alizar uma boa condução sem a participação de to-
bar com o PLP n. 321/2013. “Basta ver a proposta dos os secretários e da Secretaria Executiva do CO-
da PEC n. 22-A. Lá eles ‘dinamitaram’ o Movi- NASS. Se esse é o desejo dos meus colegas, agradeço
mento Saúde + 10 com uma proposta anêmi- as manifestações de respeito, confiança e carinho e
ca e vergonhosa de 15% da Receita Corrente aceito, honrado, continuar presidindo o CONASS”,
Líquida da União em cinco anos. Isso foi, para disse Wilson Alecrim.
mim, a interpretação concreta de que o Gover- O secretário executivo, Jurandi Frutuoso, perma-
no Federal não quer priorizar o SUS”, disse. necerá no cargo, a convite da diretoria do CONASS.
Segundo o parlamentar, só a indignação Presidente
de todos os brasileiros pode levar à votação do Wilson Alecrim (AM)
Saúde + 10, viabilizando assim mais recursos Vice-Presidentes e Adjuntos
Região Centro Oeste: Halim Antonio Girade (GO);
federais à saúde. “Talvez tenhamos de fazer Região Nordeste: Jorge Villas Boas (AL); Região Norte:
passeatas de 1 milhão de pessoas como foi o Vanda Maria Paiva (TO); Região Sudeste: Marcos Esner
Movimento Diretas Já ou como ocorreu na Musafir (RJ); Região Sul: Michele Caputo Neto (PR)
derrubada do golpe militar quando 2 milhões Comisão Fiscal
de pessoas foram às ruas”, concluiu. Titulares: Waldson Dias de Souza (PB); Ernani Maia (PI);
Hélio Franco de Macedo Júnior (PA); Suplentes: Suely
Ronald Ferreira, coordenador geral do de Souza Melo da Costa (AC); Antônio Carlos dos Santos
Movimento Saúde + 10, mostrou-se satisfeito Figueira (PE); Jorge Araújo Lafetá Neto (MT)
com a retomada do debate em torno do Proje- Representantes do CONASS
to de Lei de Iniciativa Popular. “Esta Comissão na Hemobrás: Antônio Carlos dos Santos Figueira (PE);
atendeu plenamente às nossas expectativas. na ANS:René José Moreira dos Santos (PR);
Nós, atores do Saúde + 10, estamos chamando na Anvisa: Sandra Maria Sales Fagundes
(Titular, RS), Viviane Rocha de Luiz
para nós mesmos o protagonismo e ocupando (Suplente, assessora técnica do CONASS)
os espaços que a democracia nos permite”.

39
opinião

COMO PREPARAR O SISTEMA


DE SAÚDE BRASILEIRO
PARA ENFRENTAR O
ENVELHECIMENTO, TENDO
EM VISTA A MUDANÇA DO
PERFIL DEMOGRÁFICO
Edgar Nunes de Moraes*

* Graduado em Medicina e professor universitário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas


Gerais (UFMG). É também coordenador do Núcleo de Geriatria e Gerontologia da UFMG, coordenador do Centro
de Referência do Idoso do Hospital das Clínicas (HC-UFMG), e coordenador do Programa de Residência Médica
em Geriatria do HC-UFMG. Atualmente, dedica-se às seguintes áreas de pesquisa: Modelos de Atenção à Saúde
do Idoso, Binômio Depressão e Demência no Idoso, Idoso institucionalizado e Osteoporose, quedas, fratura de
fêmur e fragilidade. Membro do Comitê Assessor do Ministério da Saúde na área de Saúde do Idoso.

O envelhecimento rápido da popula- lidade populacional, ainda está mais com-


ção brasileira, aliado ao aumento da es- prometido com as condições agudas de
perança de vida em idades avançadas e ao saúde; contudo, mais recentemente, tem
aumento da longevidade dos idosos, impli- despertado para o enfrentamento das con-
cou não apenas o aumento do peso relati- dições crônicas. A Rede de Atenção à Saúde
vo da população idosa em relação às outras das Pessoas com Doenças Crônicas é impor-
faixas etárias, mas também o aumento do tante iniciativa do Ministério da Saúde e
número absoluto dos indivíduos de 60 demais gestores estaduais e municipais no
anos e mais, em período de tempo bastan- reconhecimento da importância da abor-
te curto se comparado aos países desenvol- dagem adequada das condições crônicas,
vidos. Isso traz profundas consequências à com atenção a aspectos específicos, como:
estruturação das redes de atenção à saúde, alimentação saudável, atividade física, re-
Contribuíram na com maior carga de doenças crônicas e in- dução do consumo de álcool e suspensão
revisão deste ar-
tigo: Flávia Lanna capacidades funcionais. O sistema de saú- do tabagismo, em conjunto com interven-
de Moraes, Carla de brasileiro, tendo em vista seu modelo ções direcionadas à hipertensão arterial
Jorge Machado e
Juliana Alves do hospitalocêntrico que vigorou até há pou- e ao diabetes mellitus, que são altamente
Carmo. cas décadas e o despreparo para a nova rea- prevalentes e associados à elevada mor-
40
consensus | primeiro trimestre 2014

bimortalidade. A prevalência de doenças tonomia é decorrente das principais inca-


crônicas em idosos é elevada, atingindo a pacidades associadas ao envelhecimento,
maior parte deles. Envelhecer sem nenhu- conhecidas como as “Grandes Síndromes
ma doença crônica é mais exceção que re- Geriátricas” ou “Gigantes da Geriatria”:
gra. Nessa perspectiva, os idosos brasilei- incapacidade cognitiva (demências), ins-
ros estariam contemplados com essa nova tabilidade postural (quedas, dificuldade
modelagem do sistema de saúde. Todavia, para andar sozinho), incontinência esfinc-
a pessoa idosa não pode ser encarada como teriana (perda não intencional de urina ou
um somatório de doenças crônico-degene- fezes), imobilidade (idoso acamado) e inca-
rativas, intercaladas por condições agudas. pacidade comunicativa (surdez, cegueira,
Assim, se saúde ainda fosse a ausência de por exemplo). A presença destas condições
doenças, não teríamos qualquer idoso sau- crônicas de saúde aumenta a complexidade
dável. A maioria dos idosos tem doenças do manejo clínico e o risco de iatrogenia.
ou disfunções orgânicas que, felizmente, Esta pode ser definida como o conjunto
na maioria das vezes, não estão associadas de intervenções inadequadas realizadas
à limitação das atividades ou à restrição da por profissionais da saúde, por desconhe-
participação social. Assim, mesmo apre- cimento das particularidades do processo
sentando doenças, o idoso pode continuar de envelhecimento, sendo capaz de preju-
desempenhando as suas atividades e os pa- dicar a saúde do idoso, causando declínio
péis sociais. Dessa forma, a saúde pode ser funcional e aumento da mortalidade. Essas
definida como uma medida da capacidade incapacidades estão associadas a maior de-
de realização de aspirações e da satisfa- manda de cuidados de longa duração, usu-
ção das necessidades e não simplesmente almente realizados pela família, que, na
como a ausência de doenças. Temos, então, maioria das vezes, não se encontra prepara-
um novo indicador de saúde, a capacidade da para essa nova função, quando, então, se
funcional. O foco da saúde está estritamen- apresenta a insuficiência familiar. Percebe-
te relacionado à funcionalidade global do -se, dessa forma, que a presença de declínio
indivíduo, definida como a capacidade de funcional, capaz de restringir a autonomia
gerir a própria vida e de cuidar de si mes- e a independência do indivíduo, não pode
mo. A pessoa é considerada saudável quan- ser atribuída ao envelhecimento normal,
do é capaz de realizar as tarefas do cotidia- mas sim à presença de incapacidade fun-
no, de forma independente e autônoma, cional, resultante das Grandes Síndromes
mesmo na presença de doenças. Geriátricas, de forma isolada ou associada
Assim, a funcionalidade global é a (poli-incapacidades). Este declínio funcio-
base do conceito de saúde do idoso. O de- nal não deve ser considerado “normal da
clínio funcional é a perda da autonomia idade”, pois representa o principal deter-
e/ou da independência, pois restringe a minante de desfechos negativos, como o
participação social do indivíduo. Por sua desenvolvimento de outras incapacidades
vez, a independência e a autonomia estão e piora funcional, institucionalização, hos-
intimamente relacionadas ao funciona- pitalização e morte. Usualmente, as causas
mento integrado e harmonioso de siste- são múltiplas e multifatoriais, frequente-
mas funcionais como a cognição, o humor/ mente associadas à presença de doenças
comportamento, a mobilidade e a comuni- crônico-degenerativas, polifarmácia, sar-
cação. A perda da independência e/ou au- copenia e alto risco de iatrogenia.
41
opinião

Atualmente, todos os sistemas de saú- determinantes da saúde do idoso, sem


de estão extremamente preocupados com desprezar a importância das doenças ou
essa maior vulnerabilidade do idoso a des- das alterações físicas, como a sarcopenia.
fechos adversos, como institucionaliza- Nele, o termo FRAGILIDADE é utilizado
ção, dependência ou morte. O termo FRA- para representar as seguintes situações: a)
GILIDADE é cada vez mais utilizado para presença de condições crônicas preditoras
representar essa maior vulnerabilidade do de declínio funcional, institucionalização
idoso. O desafio atual é a operacionaliza- e/ou óbito; e b) dependência funcional es-
ção desse conceito de fragilidade, a fim de tabelecida. Dessa forma, os idosos podem
permitir o seu reconhecimento e estabe- ser classificados em: Idoso Robusto: é o
lecer intervenções capazes de maximizar idoso capaz de gerenciar sua vida de forma
a independência e a autonomia do indi- independente e autônoma e não apresenta
víduo e impedir ou retardar o surgimento incapacidade funcional ou condição crô-
de desfechos adversos. É crescente a ideia nica de saúde associada a maior vulnera-
de que a fragilidade é multidimensional e bilidade. Idoso em Risco de Fragilização:
que sua operacionalização deve considerar é o idoso capaz de gerenciar sua vida de
componentes sociodemográficos, clínicos, forma independente e autônoma, todavia
funcionais, afetivos, cognitivos e físicos. que encontra-se em um estado dinâmico
Assim, o conceito de fragilidade pode ser entre senescência e senilidade, resultan-
definido como a redução da reserva home- do na presença de limitações funcionais
ostática e/ou da capacidade de adaptação (declínio funcional iminente), mas sem
às agressões biopsicossociais e, conse- dependência funcional. Apresenta uma ou
quentemente, maior vulnerabilidade ao mais condições crônicas de saúde predito-
declínio funcional. Apresenta, portanto, ras de desfechos adversos, como: a) evidên-
um componente clínico-funcional e outro cias de sarcopenia: presença de alterações
sociofamiliar, resgatando a importância da massa e da função muscular (força e
dos aspectos biopsicossociais da saúde. desempenho muscular); b) Presença de co-
O componente clínico-funcional tem morbidades múltiplas representadas por
o declínio funcional como a principal ma- polipatologia (presença simultânea de cin-
nifestação de vulnerabilidade e é o foco co ou mais condições crônicas de saúde,
da intervenção geriátrica e gerontológica, acometendo sistemas fisiológicos diferen-
independentemente da idade do paciente. tes) ou polifarmácia (uso regular e conco-
Pode ser estabelecido ou iminente. Declí- mitante de cinco ou mais medicamentos
nio funcional estabelecido é a presença de por dia para condições crônicas diferen-
incapacidade funcional ou de dependên- tes) ou história de internações recentes
cia propriamente dita. Declínio funcional (6 meses) e/ou pós-alta hospitalar. Idoso
iminente é a presença de condições crô- Frágil: é o idoso com declínio funcional
nicas preditoras de dependência funcio- estabelecido e incapaz de gerenciar sua
nal, como idade avançada, comorbidades vida, em virtude da presença de incapaci-
múltiplas (polipatologia, polifarmácia e dades únicas ou múltiplas.
sarcopenia). O modelo de classificação O envelhecimento do indivíduo está
clínico-funcional proposto é baseado em intimamente associado ao processo de fra-
uma visão de saúde pública, fortemente gilização, mas há uma relação de causa e
ancorado na multidimensionalidade dos efeito direta, pois não segue um padrão
42
www.conass.org.br

Figura 1 – Classificação Analógica de Fragilidade Clínico-Funcional dos Idosos

1
2
3
4
VITALIDADE 5 FRAGILIDADE
6
7
8
9
10

Declínio Funcional
Independência Declínio Funcional Estabelecido
Iminente
Dependência em AVD
Dependência em AVD Básica
Avançada/Instrumental
Dependência Dependência Semi Dependência Dependência
Parcial Completa Dependência Incompleta Completa

IDOSO EM RISCO DE
IDOSO ROBUSTO
FRAGILIZAÇÃO IDOSO FRÁGILF
IDOSO FRÁGIL DE ALTA COMPLEXIDADE AC
IDOSO FRÁGIL EM FASE FINAL DE VIDA FFV

AUMENTO DE VULNERABILIDADE

homogêneo de evolução, justificando a bidades, como registrado na Classificação


heterogeneidade presente em indivíduos Internacional das Doenças. Ela propõe am-
idosos da mesma idade cronológica. Para pliar a importância da funcionalidade, no
expressar de forma mais clara os vários contexto do envelhecimento, sabendo-se
subtipos de idosos, sugerimos a adoção que, sendo idosa, a pessoa vive, provavel-
de uma estratificação clínico-funcional mente, com uma ou mais patologias.
mais detalhada, com base na funcionalida- O componente sociofamiliar da fragili-
de do indivíduo (Figura 1). Assim, os ido- dade resgata a importância de outros deter-
sos robustos podem ser subdivididos em minantes da saúde, como: sexo, raça/cor, es-
três estratos (1, 2 e 3), os idosos em risco colaridade, estado civil, arranjos familiares,
de fragilização em dois estratos (4 e 5) e os viuvez recente, idoso cuidador, participa-
frágeis em cinco estratos (6, 7, 8, 9 e 10). ção e apoio social, acesso a serviços e situ-
O termo fragilidade inclui o idoso em ação laboral. A avaliação da saúde do idoso
risco de fragilização e o idoso frágil pro- deve, portanto, utilizar informações sobre
priamente dito. Esta proposta de classifica- os aspectos clínico-funcionais e sociofami-
ção clínico-funcional do idoso não nega a liares, resgatando o conceito de saúde como
importância do diagnóstico correto e bem sendo “o estado de mais completo bem-es-
feito das doenças, dentro da complemen- tar biopsicossocial, e não, simplesmente, a
tariedade proposta pela Classificação In- ausência de doenças” (Organização Mun-
ternacional de Funcionalidade e das mor- dial da Saúde, 1947).
43
opinião

Como vimos, a saúde do idoso frágil é ria e terciária, de forma integrada. A gestão
caracterizada pela presença de múltiplas da clínica é o processo de gestão da saúde
condições clínicas, poli-incapacidades, do indivíduo, englobando o cuidado inte-
polifarmácia, propedêutica complemen- gral (microgestão da clínica) e o cuidado
tar extensa e vários especialistas envolvi- integrado (macrogestão da clínica).
dos no cuidado. A resposta do sistema de O principal objetivo das intervenções
saúde é, usualmente, fragmentada, tanto propostas depende diretamente do estrato
no que se refere à integralidade quanto à clínico-funcional mostrado na figura aci-
continuidade do cuidado, o que não está de ma. Nos idosos classificados como robus-
acordo com os princípios do Sistema Úni- tos (estrato 1, 2 e 3), o objetivo é a manu-
co de Saúde e necessita ser objeto de inter- tenção da independência e da autonomia.
venção. Utilizamos o termo microgestão Representam a maior parte dos idosos (50
da clínica para descrever a integralidade a 60%). As intervenções promocionais,
do cuidado, cujo objetivo é a definição das preventivas e curativas são as mais im-
demandas biopsicossociais do paciente e portantes. Já entre os idosos em risco de
todas as intervenções preventivas, curati- fragilização, que representam de 10 a 20%
vas, paliativas e reabilitadoras propostas dos idosos, todo cuidado deve ser tomado
para manter ou recuperar a saúde. Por sua para identificar as condições preditoras de
vez, a macrogestão da clínica é o processo desfechos adversos e intervir rapidamen-
de coordenação e continuidade do cuidado te, para que o idoso não apresente declínio
prestado pela atenção primária, secundá- funcional e torne-se dependente. Esta po-

Figura 2 – Modelo de Atenção à Saúde do Idoso

SISTEMA DE SAÚDE

CONDIÇÕES CRÔNICAS
DE SAÚDE

Fragilidade

CONDIÇÕES
AGUDAS DE Capacidade Funcional
SAÚDE
Doenças Crônicas
Não Transmissíveis

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www.conass.org.br

pulação é alvo de atenção por todos os sis-


temas de saúde dos países desenvolvidos, Leitura Sugerida
por representar uma potencial ameaça MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde.
futura, que deve ser reconhecida e abor- 2. ed. Brasília: Organização Pan-Americana
dada precocemente. Por sua vez, nos ido- da Saúde, 2011.
sos frágeis, que representam cerca de 20 a
30% dos idosos, as intervenções têm como
Baixe o livro
objetivo principal a recuperação da auto- goo.gl/7Hgro1
nomia e independência. Nesta população,
as intervenções mais eficazes para o ganho
funcional são, por ordem de prioridade:
• redução da iatrogenia e suspensão
de “drogas fúteis”; MORAES, E. N. Atenção à saúde do idoso:
• definição de metas terapêuticas aspectos conceituais. Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde, 2012.
individualizadas e priorização dos
cuidados, com envolvimento inte-
gral do paciente e de sua família; Baixe o livro
goo.gl/aW3SnV
• intervenções terapêuticas nas con-
dições de saúde subdiagnosticadas
e/ou subtratadas;
• reabilitação;
• prevenção secundária; MORAES, E. N.; LANNA, F. M. Avaliação
• prevenção primária. multidimensional do idoso. Folium, 2014
Dessa forma, o atendimento adequa- (disponível na versão impressa e eletrônica
do das condições agudas de saúde e das – aplicativo para iPad).
doenças crônicas não transmissíveis não
é suficiente para essa nova população Conheça o livro
ainda desconhecida, os idosos frágeis. O goo.gl/FkmpA0
aumento da esperança de vida em idades
mais avançadas e o aumento da longevi-
dade dos idosos são grandes conquistas
da humanidade, que deve ser sempre ce-
CAMARGOS, M. C. S.; MACHADO, C. J. O
lebrada. Entretanto, ele está intimamente idoso frágil: uma proposta de abordagem na
associado à fragilidade. Assim, o sistema saúde. Revista Kairós Gerontologia, v. 16,
de saúde precisa estar preparado para atu- n. 5, páginas 345-350, 2013.
ar precocemente nos determinantes e nas
consequências da fragilidade. A melhoria
Baixe o artigo
da qualidade de vida do idoso frágil, cujo goo.gl/6ZjcRT
aumento em número e percentual se dá a
velocidades cada vez mais rápidas no país,
representa o principal desafio do sistema
de saúde brasileiro (Figura 2).
45
curtas

Política Nacional de Vigilância em Saú-


Judicialização da Saúde – O secretário de de (PNVS) – A construção desta política foi um
Estado da Saúde do Pará, Hélio Franco, represen- dos temas debatidos durante o encontro entre
tando o presidente do CONASS, Wilson Duarte profissionais de Epidemiologia, Vigilância Sa-
Alecrim, e o presidente do Conasems, Antonio nitária, Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde
Carlos Nardi, entregaram ao ministro da Saúde, do Trabalhador. A reunião foi promovida pelas
Arthur Chioro, documento de ambas as entidades Câmaras Técnicas de Epidemiologia e Vigilân-
acerca do Ressarcimento pela União às Secretarias cia Sanitária do CONASS, da qual mais de 100
de Saúde dos Estados, DF e Municípios dos valores profissionais das Secretarias Estaduais de Saúde
financeiros dispendidos para o cumprimento das participaram. Outro ponto de pauta debatido
decisões judiciais. Chioro ressaltou a importân- pelo grupo foi a respeito da Política Nacional de
cia do tema e comprometeu-se a trazer o assunto Segurança do Paciente.
como pauta principal para a reunião da Comissão
Intergestores Tripartite, em abril. “Precisamos
pensar juntos sobre quais estratégias utilizaremos Pesquisas sobre os Hospitais com até 50
para enfrentar esse problema da judicialização, leitos – Com o objetivo de diagnosticar as con-
por isso faço questão de acompanhar esse assunto dições dos hospitais com até 50 leitos, o Minis-
do início ao fim”, afirmou Chioro. tério da Saúde, em consenso com CONASS e
Conasems, encomendou uma pesquisa censitá-
ria dos hospitais com até 50 leitos, que prestam
ou não serviços ao SUS, e uma pesquisa de opi-
Planificação da Atenção Primária à Saúde nião dos gestores municipais e estaduais sobre
– Entre os dias 1o e 2 de abril, cerca de 130 profissio- esses estabelecimentos. A pesquisa censitária
nais de saúde do município de Tauá/CE, inscritos no teve início em fevereiro e contemplará todos os
Curso de Especialização em Planificação da Atenção estados e o DF. Serão avaliadas a estrutura física,
Primária, participaram do II Módulo do curso com a administração e a gestão, o papel na rede assis-
a temática “Metodologia da Pesquisa”. O módulo é tencial, os recursos humanos e o financiamen-
ministrado pela professora Fátima Antero, doutora to. Já a pesquisa de opinião dos gestores ouviu a
pela Universidade Federal do Ceará (UFC), docente maioria absoluta dos estados e 104 municípios,
da Universidade Regional do Cariri (Urca), e tem contemplando todos os estados brasileiros.
como objetivo de fornecer instrumentos para que os Nela, foram avaliados o papel desses hospitais,
alunos possam construir um projeto de intervenção, a importância e os desafios para sua manuten-
no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), a par- ção, a qualificação e a sustentabilidade. Os ges-
tir de metodologias ativas. Os profissionais envolvi- tores também deram sugestões de destinação
dos neste módulo irão replicar os conhecimentos destes estabelecimentos nas Redes de Atenção à
adquiridos aos alunos do Curso de Aperfeiçoamento Saúde. A partir dos resultados, serão elaboradas
na Atenção Primária à Saúde. propostas de atuação do MS para a construção
de políticas específicas para este segmento.

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