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MECÂNICA DOS SOLOS SATURADOS

E NÃO SATURADOS
UNIDADE III
TENSÕES ATUANTES NO SOLO
Elaboração
Daniela Toro Rojas

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE III
TENSÕES ATUANTES NO SOLO........................................................................................................................................................ 5

CAPÍTULO 1
TENSÕES E DEFORMAÇÕES DEVIDAS A CARREGAMENTOS VERTICAIS................................................................. 6

CAPÍTULO 2
ADENSAMENTO........................................................................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 3
ESTADO DE TENSÕES................................................................................................................................................................ 26

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................33
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TENSÕES ATUANTES
NO SOLO
UNIDADE III

As forças aplicadas no solo são transmitidas de grão a grão e suportadas também pela
água nos vazios. Essa transmissão pode ser muito complexa e depende do tipo do mineral
constituinte. Se são consideradas partículas de grãos maiores em que as três dimensões
ortogonais são praticamente iguais, a transmissão é feita diretamente de mineral a
mineral e, no caso das argilas, pode ocorrer através da água adsorvida, porém, nos dois
casos essa transmissão se faz nos contatos que são áreas muito pequenas em relação
à área total. Como a quantidade de grãos pode ser extremamente grande, a ação das
forças é substituída pelo conceito de tensões.

Nesta unidade são abordadas tensão e deformabilidade na mecânica dos solos.

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Capítulo 1
TENSÕES E DEFORMAÇÕES DEVIDAS A
CARREGAMENTOS VERTICAIS

1.1. Peso próprio do solo


Nos solos existem as tensões devidas às cargas aplicadas e ao peso próprio sendo este
último muito importante e impossível de desconsiderar. Quando a superfície do terreno
é horizontal a tensão atuante é a normal, pois as componentes tangenciais se cancelam.
Assim, a tensão pode ser calculada:
 v   n Zn

Sendo:

σv � = Tensão vertical

γ n = Peso específico do solo

Zn = Profundidade

Quando o solo tem mais de uma camada, a tensão vertical resultará da somatória do
efeito delas:

Figura 25. Tensões em várias camadas.

Fonte: Pinto (2006).

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1.2. Tensões efetivas


Na Figura 26 vemos que o ponto A está acima do nível de água e o ponto B embaixo dele.
A água está sob uma pressão que depende da sua profundidade e pode ser calculada
com a expressão:
u   zB  z w   w

Sendo:

u� � = Poropressão

γ w = Peso específico da água

Figura 26. Tensões abaixo do lençol freático.

Fonte: Pinto (2006).

Assim, entende-se que a pressão normal total num plano será a soma de duas parcelas:

» Tensão efetiva ( σ' ): é a tensão transmitida pelos contatos entre os grãos.

» Poropressão ( u ): é a pressão da água.

As tensões efetivas são muito importantes na mecânica de solos e na engenharia geotécnica.


Um dos trabalhos mais importantes de Terzaghi (1925) foi estabelecer seus princípios,
que até hoje são estudados e aplicados:

1. Para solos saturados, a tensão efetiva é:


    u

2. Os efeitos resultantes de variações de tensões nos solos são devidos a variações


de tensões efetivas.

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Para entender esses princípios, apresentam-se duas situações:

» Suponha-se que um solo se encontra totalmente preenchido por água, ou seja,


está saturado. Se a tensão total e a pressão da água aumentam por igual, os grãos
do solo serão comprimidos devido ao efeito da pressão da água na sua periferia.
Quando o contato entre as partículas é muito pequeno, as forças transmitidas não
podem se alterar e, portanto, a tensão efetiva também não.

» Agora pensemos que a tensão total aumenta e a pressão da água não. Nesse caso,
as forças transmitidas entre as partículas, sim, podem ser alteradas e, portanto, a
tensão efetiva também.

Pode-se observar também que a deformabilidade nos solos corresponde às variações


de forma ou de volume, resultantes do deslocamento relativo entre as partículas. Neste
caso, a compressão das partículas é desprezível perante as deformações decorrentes
desses deslocamentos e se considera, portanto, que, em geral, as deformações são devidas
unicamente às variações das tensões efetivas.

A Figura 27 é um exemplo da variação da tensão total, da tensão efetiva e da poropressão


de um solo submerso em um tanque.

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Figura 27. Variação das tensões.

Fonte: Das (2011).

1.3. Carregamentos verticais


Quando diferentes carregamentos são aplicados numa superfície, a tensão no solo aumenta
apresentando acréscimos numa certa profundidade e nas laterais da área carregada. A
Figura 28 mostra a distribuição desses acréscimos de tensão em planos horizontais e ao
longo de uma linha vertical que passa pelo eixo de simetria da área carregada.

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Figura 28. Distribuição de tensões com a profundidade a) plano horizontal b) plano vertical.

Fonte: Pinto (2006).

Os pontos com acréscimo de tensão do mesmo valor podem se juntar, formando linhas
conhecidas como bulbos de tensões (Figura 29), que representam um percentual da
tensão aplicada na superfície.

Figura 29. Bulbo de tensões.

Fonte: Pinto (2006).

Para estimar as tensões atuantes no interior do solo pelo efeito de carregamentos na


superfície e no interior do terreno é utilizada a teoria da elasticidade que, embora sua
aplicação seja questionável porque o solo apresenta um comportamento não elástico, é
justificada quando ocorrem somente acréscimos de tensão. Além disso, até certo nível
de tensão existe uma proporcionalidade com as deformações, de forma que se considera
um módulo de elasticidade constante e representativo para o solo.

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Dependendo da configuração do carregamento (cargas concentradas num ponto, cargas


concentradas numa linha, superposição de cargas, carregamentos distribuídos, etc.),
várias soluções foram propostas usando a teoria de elasticidade (para um solo elástico,
homogêneo e isotrópico). Como as soluções podem ser muito complexas, são geralmente
representadas em tabelas e ábacos para facilitar seu uso e entendimento. Algumas delas
são explicadas a seguir.

1.3.1. Solução de Boussinesq

Para uma carga pontual aplicada num semiespaço infinito de superfície horizontal,
Boussinesq determinou as tensões, deformações e deslocamentos numa massa de solo.
Sua equação para o acréscimo de tensão considerando a Figura 30 é:

Figura 30. Tensões num ponto.


3𝑧𝑧 3
𝜎𝜎𝑣𝑣 = 5 𝑄𝑄
2𝜋𝜋(𝑟𝑟 2 + 𝑧𝑧 2 )2
ou
3
𝑄𝑄 2
𝜎𝜎𝑣𝑣 = 2 5
𝜋𝜋𝑧𝑧
𝑟𝑟 2 2
(1 + (𝑧𝑧) )

Fonte: Pinto, 2006.

Sendo a tensão inversamente proporcional ao quadrado da profundidade do ponto


analisado (Figura 31). No caso de r = 0 (onde a carga é aplicada) a tensão será:

Figura 31. Tensões num ponto.



0,48
𝜎𝜎𝑣𝑣 = 2 𝑄𝑄
𝑧𝑧

Para:

Fonte: Pinto, 2006.

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1.3.2. Solução de Newmark

Para determinar as tensões provocadas por um carregamento uniformemente distribuído


aplicado num semiespaço infinito de superfície horizontal, Newmark estendeu a equação
de Boussinesq para situações em que as relações entre os lados de um retângulo e a
profundidade fossem as mesmas, como ilustrado na Figura 32, onde m = a / z e n = b / z.

Figura 32. Parâmetros de Newmark.

Fonte: Pinto, 2006.

Sua equação para o acréscimo de tensão é dada pela expressão:

0      
 2mn m2  n2  1 0,5  m2  n2  2
 
2mn m2  n2  1 
0,5 

v   arctg 2
4  m2  n2  1  m2n2 (m2  n2  1)
  m  n2  1  m2n2 
 
 

Por sua complexidade, a solução de Newmark é apresentada em ábacos e tabelas, como


mostrado na Figura 33.

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Figura 33. Ábaco da solução de Newmark.

Fonte: Pinto, 2006.

A solução de Newmark também pode ser utilizada para calcular o acréscimo de tensão
num ponto fora e dentro da área retangular. Para isso, é necessário dividir a área carregada
em retângulos com uma das arestas na posição do ponto analisado. Os efeitos de cada
retângulo resultante são considerados separadamente.

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Capítulo 2
ADENSAMENTO

O aumento da tensão por carregamentos verticais na superfície comprime as camadas


do solo devido a deformações das partículas, deslocamentos entre elas ou pela expulsão
da água e do ar dos vazios.

Esses recalques podem ocorrer rapidamente após a construção ou se desenvolver


lentamente depois da aplicação das cargas, podendo-se identificar três grandes categorias
no processo:

» Recalque elástico ou imediato: é causado pela deformação elástica do solo sem


alterações no teor de umidade. Para calcular os recalques imediatos são utilizadas
equações provenientes da teoria da elasticidade.

» Recalque por adensamento primário: é o resultado da alteração volumétrica


em solos coesivos saturados por causa da saída de água dos vazios do solo.

» Recalque por adensamento secundário: é resultado do ajuste plástico do


tecido do solo. Depende do tempo e ocorre sob tensão efetiva constante.

Neste capítulo serão apresentadas noções gerais sobre a deformação dos solos e sobre
a teoria de adensamento.

2.1. Deformações por carregamentos verticais


As deformações dos solos devidas a carregamentos verticais dependem da sua constituição
e do seu estado. Por exemplo, em areias ou argilas não saturadas são observados recalques
rápidos, enquanto em argilas saturados os recalques são mais lentos devido à saída da
água dos vazios.

Para entender este comportamento são executados ensaios laboratoriais através dos
quais são obtidos os parâmetros necessários para fazer uma análise do solo, como o
ensaio de compressão axial e o ensaio de compressão edométrica.

2.1.1. Ensaio de compressão axial

No ensaio de compressão axial ou de compressão não confinada, é aplicada uma carga


axial a um corpo de prova cilíndrico, gerando um encurtamento do corpo e um aumento
da sua seção transversal.

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Como apresentado na Figura 33, as tensões e as deformações são registradas num gráfico
onde é possível observar que a relação entre essas duas variáveis não é constante nem
elástica.

Porém, como explicado no capítulo anterior, é assumido um comportamento elástico e


linear para o solo, permitindo, assim, definir um módulo de elasticidade e um coeficiente
de Poisson, segundo as seguintes expressões e o exemplo da Figura 34.

Figura 34. Ensaio de compressão axial.

Fonte: Pinto, 2006.

» Deformação axial e radial


h
l 
h

» Deformação radial
r
r 
r

» Módulo de elasticidade

E
l

» Coeficiente de Poisson
r

l

Esse módulo de elasticidade depende do nível de tensões a que o solo está confinado e
por isso sua determinação pode ser muito difícil. Em alguns casos, o módulo é expresso
em função do nível de tensão e, em problemas mais simples, é assumido como um valor

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constante e representativo. Na Tabela 9 são apresentados ordem de grandeza e valores


para o módulo de elasticidade em argilas e areias.

Tabela 9. Módulos de elasticidade.

E típico para areias drenada – tensão


E típico para argilas confinante de 100 kPa – (Mpa)
Consistência
saturadas não Compacidade (Areias)
(Argilas)
drenadas (Mpa) Fofa Compacta

Muito mole < 2,5 Areias de grãos angulares e


15 35
Mole 2,5 a 5 frágeis

Média 5 a 10 Areias de grãos arredondados


55 100
Rija 10 a 20 e duros

Muito rija 20 a 40 Areia basal de São Paulo, pouco


10 27
Dura > 40 argilosa e bem graduada

Fonte: Adaptado de Pinto (2006).

2.1.2. Ensaio de compressão edométrica

No ensaio de compressão edométrica o solo é comprimido verticalmente e confinado nas


laterais para impedir as deformações horizontais. O ensaio representa um solo sendo
comprimido pelo peso de novas camadas depositadas acima dele, quando, por exemplo,
é construído um aterro em grandes áreas. Em geral, é representativo de situações em
que o carregamento provoca só deformações de compressão.

Neste ensaio um corpo de prova é colocado num anel rígido ajustado numa célula de
compressão edométrica com duas pedras porosas acima e abaixo da amostra para
permitir a saída da água. Os anéis utilizados têm diâmetros de 5 a 12cm, três vezes sua
altura para diminuir o efeito do atrito lateral (Figura 35).

Os carregamentos são feitos por etapas e para cada uma delas é registrada a deformação
em diferentes tempos até elas cessarem. Dependendo do solo, o intervalo de tempo
pode ser de poucos minutos para areias, dezenas de minutos para siltes e horas para as
argilas. Quando as mudanças não são mais perceptíveis, as cargas são aumentadas e o
processo se repete.

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Figura 35. Ensaio edométrico.

Fonte: Adaptado de http://www.geotecnia.ufba.br/?vai=Extens%E3o/Ensaios%20de%20Laborat%F3rio/Adensamento.

A altura da amostra e o índice de vazios (calculado a partir da redução dessa altura) pode
se representar em função das tensões verticais atuantes (em escala logarítmica), como
ilustrado na Figura 35, que apresenta um resultado típico de um ensaio edométrico.

Com este ensaio são determinados os seguintes parâmetros:

» Coeficiente de compressibilidade:
de
av  
d v

» Coeficiente de variação volumétrica:


d v
mv 
d v

» Módulo de compressão edométrica:


d v
D
d v

Sendo:

ε v � = Deformação volumétrica
de
d v  
1  e0 

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2.1.3. Recalques

Os recalques produtos de carregamentos na superfície de um terreno podem ser calculados


de duas formas:

» Recalques calculados com a teoria de elasticidade:


0B
 I
E

1  2 

Sendo:

σ0 � = Carga uniformemente distribuída na superfície.

E = Módulo de elasticidade.

υ = Coeficiente de Poisson.

B = Largura ou diâmetro da área carregada.

I = Coeficiente que considera a forma da superfície carregada.

Os problemas com esta teoria é que o solo não é elástico, nem linear nem homogêneo
e, portanto, não considera as variações dos módulos e dos tipos do solo com a
profundidade.

» Recalques calculados pela compressibilidade edométrica: neste caso, o cálculo e


função da variação do índice de vazios. Da Figura 36 pode-se deduzir:

Figura 36. Recalques por compressibilidade edométrica.

Fonte: Pinto (2006).

Alturas antes e depois do carregamento:


H1  H0 1  e1  H2  H0 1  e2 
e

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Deformação:
  e1  e2 

H1 1  e1 

Recalque:
H1 H
  e1  e2  ou   av 1 ou   mvH1
1  e1  1  e1 
2.1.4. Adensamento

Adensamento é um processo de deformação nas argilas gerado pela saída de água dos
seus vazios, especialmente lento devido à baixa permeabilidade destes solos. Para esse
caso, quando analisado no laboratório, o ensaio edométrico é conhecido como ensaio
de adensamento.

A Figura 37 mostra a curva e  log' obtida a partir do ensaio. Nela é possível observar
que a partir de uma tensão σ 'a , o índice de vazios varia linearmente com o logaritmo
da tensão em uma reta conhecida como trecho virgem. O índice de compressão indica
a inclinação desta reta e é definido por:
e2  e1
cc 
'
log 2
'1

Figura 37. Curva e  log' .

Fonte: Elaborado pela autora (2006).

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A curva de recuperação também possui uma inclinação expressada pelos índices de


descompressão cd e recompressão cr:
e2  e1
c d/ r 
'
log 2
'1

Esses índices podem ser utilizados para calcular os recalques, porém, é necessário
entender antes o conceito de tensão de pré-adensamento utilizado para se referir à
história e evolução do material, no sentido da tensão efetiva máxima para o qual o solo
já foi solicitado. Nesse sentido, as argilas podem se encontrar:

» Normalmente adensada: quando a tensão efetiva atual é a tensão máxima a


que o solo foi submetido no passado; ou

» Sobreadensada: quando a tensão efetiva atual é inferior àquela que o solo


experimentou no passado.

A relação entre a tensão de pré-adensamento e a tensão efetiva atual é chamada de razão


de sobreadensamento ou OCR por suas siglas em inglês. Considera-se que:
'
» Argilas normalmente adensadas: OCR  a  1
 '0
 'a
» Argilas sobreadensadas: OCR  1
 '0
Embora importante, a determinação da tensão de pré-adensamento pode ser pouco
precisa. Existem métodos empíricos como o proposto por Casagrande (Figura 38) e
o método proposto por Pacheco Silva (Figura 39) que permitem estimar seu valor ou
ordem de grandeza.

Assim, os recalques podem ser calculados utilizando os índices apresentados e o conceito


de tensão de pré-adensamento:
H  a f 
  c r log  c clog 
1  e1  i a 

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Figura 38. Determinação da tensão de pré-adensamento proposto por Casagrande.

Fonte: Adaptado de Pinto (2006).

Pelo ponto de maior curvatura se traçam uma horizontal, uma tangente à curva e a
bissetriz do ângulo formado pelas duas retas. A interseção da bissetriz com a horizontal
que prolonga a reta virgem é considerada o ponto da tensão de pré-adensamento.

Figura 39. Determinação da tensão de pré-adensamento proposto por Pacheco Silva.

Fonte: Adaptado de Pinto (2006).

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A reta virgem é prolongada até o horizontal correspondente ao índice de vazios inicial.


Do ponto de interseção entre as duas retas é traçada uma reta vertical até a curva de
adensamento. Em seguida é traçada uma horizontal até a prolongação da reta virgem.
A tensão correspondente a essa interseção será a tensão de pré-adensamento.

2.2. Teoria de adensamento


Na Figura 40 é aplicado um acréscimo de tensão a um solo com uma camada de argila
em meio de duas de areia.

Figura 40. Carregamento vertical numa camada de solo.

Fonte: Adaptado de Das (2011).

Considerando essa situação e a Figura 41 é possível observar como no instante t = 0 o


aumento da tensão é igual ao aumento da poropressão porque, uma vez carregado o
solo, as tensões são recebidas pela água e, portanto, o aumento da tensão efetiva é nulo.

Já num tempo 0  t   a tensão efetiva aumenta ao diminuir a poropressão. Finalmente


para um tempo t  , toda a poropressão é dissipada e a tensão passa a ser recebida
totalmente pelos grãos, sendo    ' .

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Figura 41. Variação da tensão total, efetiva e a poropressão.

Fonte: Adaptado de Das (2011).

Esta transferência de pressão neutra para os sólidos do solo define a teoria de adensamento
unidimensional desenvolvida por Terzagui baseada nas seguintes hipóteses:

» O solo está saturado.

» A compressão é unidimensional.

» O fluxo de água é unidimensional.

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» O solo é homogêneo, linear e elástico.

» As partículas sólidas e a água são incompressíveis para os níveis de tensões utilizados.

» O solo pode ser analisado com volumes representativos (elementos infinitesimais).

» A permeabilidade é constante.

» A lei de Darcy é válida.

» O índice de vazios varia linearmente com o aumento da tensão efetiva durante o


adensamento.

Embora sejam muitas considerações, algumas delas não se afastam totalmente da


realidade.

A dedução da teoria e da equação de adensamento considera cada uma das hipóteses


expostas. Aqui apenas é apresentado o resultado dessa dedução.

A teoria permite deduzir a equação diferencial do adensamento que indica a variação


da pressão ao longo da profundidade, através do tempo:
 2u u
cv 
z 2 t

Sendo:

c v = Coeficiente de adensamento. Associa três características do solo: a porosidade,


a permeabilidade e a compressibilidade:
k 1  e 
cv 
av  w

Na integração dessa equação nos limites z = 0 e z = hd (sendo hd a maior distância de


percolação da água), a variável tempo sempre está associada ao coeficiente de adensamento
e a essa distância de percolação por meio da expressão:
cvt
T=
H2d

Sendo:

T� = Fator tempo, que correlaciona as características e as condições de drenagem


do solo.

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Tensões Atuantes no Solo | UNIDADE III

O resultado da integração para um adensamento unidimensional e nos limites apresentados


é:

2 Mz  M2T
Uz  1    sen e
m 0 M  Hd 

Sendo:

M  2m  1
2

Uz = Grau de adensamento

A solução do grau de adensamento é geralmente apresentada num gráfico com curvas


chamadas isócronas, que correspondem a diversos valores de fator tempo (Figura 42).

Figura 42. Relação grau de adensamento, profundidade e fator tempo.

Fonte: Pinto, 2006.

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Capítulo 3
ESTADO DE TENSÕES

3.1. Tensões principais


As tensões principais num solo são apresentadas na Figura 43. Em capítulos anteriores
foram explicadas as tensões verticais aplicadas em planos horizontais.

Neste caso, também é importante explicar as tensões normais nos planos verticais que
dependem da constituição do solo e da história da tensão a que foi submetida no passado.

A tensão vertical efetiva e a horizontal efetiva relacionam-se pelo coeficiente de empuxo


em repouso K0:

» 0, 4 < K 0 < 0, 5 para areias

» 0, 5 < K 0 < 0, 7 para argilas

Figura 43. Tensões num solo.

Fonte: Pinto, 2006.

Em solos sedimentares, duas fórmulas empíricas foram desenvolvidas para calcular o


valor de K0:
K 0  1  sen'

Sendo ϕ' o ângulo de atrito interno efetivo do solo. E para argilas sobreadensadas:
K 0  1  sen '  OCR 
sen '

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Tensões Atuantes no Solo | UNIDADE III

Para solos com diferente origem, a determinação do K0 é muito difícil porque as tensões
horizontais dependem das tensões internas originais da rocha ou de seu processo de
evolução.

3.2. Tensões num plano


A Figura 44 é uma representação simplificada de uma placa inserida no solo. As forças
que transmitem os grãos à placa são descompostas em normais e tangenciais. Como
a quantidade de grãos pode ser extremamente grande, a ação das forças é substituída
pelo conceito de tensões:

Figura 44. Forças nos grãos.

Fonte: Pinto, 2006.

» Tensão normal ( σ ): somatória das componentes normais ao plano dividida pela


área total abrangida pelas partículas em que os contatos ocorrem. Considerada
positiva quando é de compressão.

» Tensão cisalhante ( τ ): somatória das componentes tangenciais dividida pela


área. Considerada positiva quando atua no sentido anti-horário.

Estas duas tensões variam conforme os planos considerados, três deles ortogonais
entre si com tensão normal ao próprio plano sem componentes de cisalhamento. Estes
planos recebem o nome de planos principais, assim como as tensões atuantes neles são
chamadas de tensões principais. A maior delas, σ1 é a tensão principal maior, σ2 é a
tensão principal intermediária, e σ3 é a tensão principal menor.

27
UNIDADE III | Tensões Atuantes no Solo

Algumas vezes 2  3 e, em outras, como no estado hidrostático de tensões 1  2  3 .


Na mecânica de solos estas tensões são particularmente importantes em problemas de
resistência do solo, pois esta depende das tensões de cisalhamento que são resultado
da diferença entre as tensões principais.

Figura 45. Determinação de tensões a partir das tensões principais.

Fonte: Adaptado de Pinto (2006).

Da Figura 45 obtém-se as expressões para a tensão normal e a tensão cisalhante:


1  3 1  3 1  3
  cos  2   sen  2 
2 2 2

Estas equações definem o círculo de Mohr (Figura 46), facilmente desenhado quando são
conhecidas as tensões principais ou a tensão normal e de cisalhamento. Com o círculo
de Mohr, a determinação de tensões em qualquer plano é mais fácil.

Na Figura 46, o ângulo α é formado por um plano principal maior e um plano cujas
componentes de tensão são determinadas pela interseção da reta que passa pelo centro
do círculo e forma o ângulo 2α .

Do círculo também é possível deduzir que a máxima tensão de cisalhamento ocorre em


planos que formam 45° com os planos horizontais; a máxima tensão de cisalhamento
é (1  3 ) / 2 ; as tensões de cisalhamento em planos ortogonais são numericamente

28
Tensões Atuantes no Solo | UNIDADE III

iguais, mas possuem sinal oposto; nos planos que formam o mesmo ângulo com o plano
principal maior, de sentido contrário, as tensões normais e as tensões de cisalhamento
são iguais, mas com sentido oposto.

Figura 46. Círculo de Mohr.

Fonte: Adaptado de Pinto (2006).

3.3. Resistência
A resistência ao cisalhamento do solo é entendida como a máxima tensão de cisalhamento
que o solo suporta sem atingir a ruptura, ou continuando com o conceito de planos, é a
tensão de cisalhamento do solo no plano em que a ruptura ocorre.

3.3.1. Resistência por atrito

Na Figura 47 é apresentado um corpo sobre uma superfície plana onde N representa


a força vertical transmitida pelo corpo, e T a força necessária para o corpo se deslizar
que deve ser superior ao produto da força vertical e o coeficiente de atrito entre o plano
e o corpo.

Figura 47. Atrito entre dois corpos.

F N
𝜑𝜑

Fonte: Elaborado pela autora.

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UNIDADE III | Tensões Atuantes no Solo

A relação entre as variáveis pode se escrever assim:


T  Ntan

Com ϕ sendo o ângulo de atrito formado pela resultante das duas forças. Nos solos,
o fenômeno envolve uma grande quantidade de grãos que podem se deslizar entre
si, acomodando-se nos vazios e, portanto, sua resistência ao cisalhamento depende
principalmente deste atrito.

Nas areias, as forças transmitidas entre os grãos são grandes o suficiente para expulsar
a água dos seus vazios e, portanto, os contatos ocorrem entre as partículas sólidas.
Porém, a transmissão das forças nas argilas é muito pequena devido ao tamanho de seus
grãos e a água adsorvida neles e, portanto, as forças de contato não são suficientes para
remover a água do material. Nas argilas, então, a resistência depende da velocidade de
carregamento a que são submetidas.

3.3.2. Resistência por coesão

A atração química entre as partículas do solo provoca uma coesão real independente
da tensão normal, parecida com uma cola aplicada entre dois corpos. Alguns solos
apresentam parcelas de coesão muito baixas se comparadas à resistência devida ao
atrito. Em outros casos, o valor da coesão pode ser muito representativo.

Fisicamente, o fenômeno deve ser diferenciado em duas situações:

» Coesão real: é uma parcela da resistência ao cisalhamento em solos úmidos e


não saturados devido à tensão entre os grãos resultante da pressão capilar da água.

» Coesão aparente: é consequência de um fenômeno de atrito em que a tensão


normal que a determina é resultado da pressão capilar. Desaparece quando o solo
é saturado.

3.4. Critérios de ruptura


Os critérios de ruptura são formulações que indicam as condições em que um material
atinge a ruptura. Pelo fato de haver diferentes critérios, é necessário selecionar aquele
que melhor reflete o comportamento do material. Na mecânica dos solos o critério
de ruptura de Mohr-Coulomb é bem conhecido e muito empregado para avaliar o
comportamento destes materiais.

30
Tensões Atuantes no Solo | UNIDADE III

Em 1900, Mohr apresentou a teoria de que um material rompe por causa da combinação
da tensão cisalhante e da tensão normal e não de uma isoladamente. A tensão de
cisalhamento num plano de ruptura é função da tensão normal:
f  f   

Coulomb, em 1776, estabeleceu que o solo rompe porque a resistência pelo atrito entre
as partículas e a coesão é excedida pela tensão de cisalhamento aplicada na superfície
de ruptura. Isto pode ser expresso pela equação:
f  c  n tan

Sendo:

τf � = Resistência ao cisalhamento

c = Coesão

σn � = Tensão normal no plano de ruptura

φ� = Ângulo de atrito interno

Esta equação é o critério de ruptura de Mohr-Coulomb que, em termos da tensão efetiva,


é dada pela expressão:
f  c ' n tan '

Onde c' e φ' são parâmetros efetivos.

Graficamente, o critério também é representado na Figura 48, onde a linha fgh é a


envoltória de ruptura definida pela equação anterior; a linha radial ab define o plano
principal maior, e a linha radial ad define o plano de ruptura, que, por sua vez, forma
um ângulo θ com o plano principal maior que pode ser calculado com a expressão:
'
  45 
2

31
UNIDADE III | Tensões Atuantes no Solo

Figura 48. Critério de ruptura de Mohr-Coulomb.

Fonte: Adaptado de Das (2011).

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REFERÊNCIAS

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