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Urbanização e mercado de trabalho na Amazônia Brasileira

Article · July 1999

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Lia Machado
Federal University of Rio de Janeiro
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CADERNOS IPPUR
Ano XIII, N o 1
Jan- Jul 1999
Indexado na Library of Congress (E.U.A.)
e no Índice de Ciências Sociais do IUPERJ.

Cadernos IPPUR/UFRJ/Instituto de Pesquisa e Planeja-


mento Urbano e Regional da Universidade Federal
do Rio de Janeiro. – ano 1, n.1 (jan./abr. 1986) –
Rio de Janeiro : UFRJ/IPPUR, 1986 –

Irregular.
Continuação de: Cadernos PUR/UFRJ
ISSN 0103-1988

1. Planejamento urbano – Periódicos. 2. Planejamen-


to regional – Periódicos. I. Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
e Regional.

Apoio
Urbanização e Mercado de
Trabalho na Amazônia Brasileira

Lia Osorio Machado *

A urbanização do território, o mercado Em linhas gerais, a fronteira de po-


de trabalho e as relações entre ambos voamento na Amazônia brasileira segue
apresentam certas especificidades nas o padrão esboçado acima, porém apre-
fronteiras de povoamento. Duas delas são senta um aspecto que, do ponto de vista
bastante conhecidas: a forte mobilidade da ocupação, a diferencia de outras
da população e do trabalho no interior grandes fronteiras de povoamento. Esse
do território, até certo ponto associada aspecto é o papel dominante da urbani-
ao fluxo e refluxo de migrantes, é respon- zação no sistema de povoamento regio-
sável pelo aparecimento de novas cida- nal, ou seja, a urbanização define o que
des e frentes de trabalho em curto espaço é, para todos os efeitos, o “modo de
de tempo; a facilidade de implantação produção” do espaço regional. Não se
de novas formas de organização das ati- trata, portanto, de um elemento com o
vidades produtivas pela ausência de mesmo peso de outro qualquer na con-
formas espaciais pretéritas e o caráter figuração do espaço regional, preen-
freqüentemente experimental dessas chendo a simples função de apoio ao
atividades provocam alterações bruscas povoamento. É o elemento organizador
na distribuição da população e do traba- do sistema de povoamento, aquele que
lho, sem paralelo nas áreas de povoa- define sua estrutura, seu conteúdo e sua
mento consolidado. evolução atual. É também o modo de

* Colaboraram para as ilustrações Murilo Cardoso (geoprocessamento), os mestrandos Tarcio


Cordeiro Ramos e Leticia Parente Ribeiro e os bolsistas de iniciação científica Rosane Tetéu,
Lucimar Araruna e Gilberto Polastrelli, aos quais a autora agradece.

Cadernos IPPUR, Rio de Janeiro, Ano XIII, No 1, 1999, p. 109-138


110 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

vida concreto e referencial da maioria dade de distinguir a categoria do “ur-


da população: entre 1960 e 1996, a bano” no passado e no presente de sua
proporção da população que vivia em história territorial. Tem sido uma fonte
vilas e cidades passou de 28% para 61% constante de confusão e erro o emprego
do total da população residente, e não do termo “urbanização” para designar
é absurdo afirmar que a população rural o conjunto de aglomerações surgidas na
está incluída no referencial de vida urba- região na época colonial, ou considerar
na através da mobilidade do trabalho e tais aglomerações como “cidades” (a
da expansão no ambiente rural dos mais recente tentativa, Araújo, 1998),
meios de telecomunicação. ou ainda pensar a urbanização e as cida-
des como resultantes de uma evolução
A urbanização do território não só linear e cumulativa (da aldeia indígena
enquadra a Amazônia firmemente neste à metrópole). Não só um modelo desse
final de século e a diferencia das outras tipo está distante da realidade, de modo
fronteiras de povoamento do século XX, geral, como é mais estranho ainda às
como também aponta para a necessi- realidades históricas amazônicas.

A fronteira da borracha

Durante séculos, mesmo na época pré- prazo funcionais ao domínio do territó-


colombiana, a disposição geográfica do rio, quase nada tiveram a ver com a gê-
povoamento na região amazônica obe- nese do urbano na região. De fato,
deceu ao traçado da rede fluvial, por desde a época colonial, sucessivos relató-
onde se fazia a circulação. No início do rios de governo indicavam que a auto-
século XVII, quando os ibéricos insta- suficiência das propriedades agrícolas, a
laram-se no vale com o objetivo de con- dificuldade de comunicação, a baixa dis-
trolar o território formado pela grande ponibilidade de mão-de-obra e a inexis-
bacia hidrográfica, escolheram os sítios tência de complementaridade produtiva
com maior densidade de população in- entre os subespaços amazônicos eram
dígena, quase todos localizados na ex- poderosos obstáculos ao crescimento
tensa planície de inundação (várzea) que das cidades (Machado, 1989).
caracteriza grande parte do vale do rio
Amazonas e de seus principais afluentes. É à economia da borracha que se
deve atribuir o impulso inicial ao desen-
Se as missões religiosas e as peque- volvimento da urbanização na região, a
nas fortificações e vilas, concebidas pelos partir da segunda metade do século
portugueses e construídas com a mão- XIX.
de-obra indígena, revelaram-se a longo
Lia Osorio Machado 111

A proto-urbanização dos proto-urbanização da região. Cabe aqui


vales amazônicos a breve descrição desse processo.

O aparecimento de novas aglome-


Para explorar o “ouro branco”, epíteto rações e o desenvolvimento, mesmo que
popular com que se designava o lucra- precário, da forma urbana se devem à
tivo leite extraído da árvore da borracha espacialmente extensiva cadeia comer-
(hevea brasiliensis), fluxos migratórios cial de exportação da borracha in natura
procedentes do Nordeste e Sudeste do e à importação de bens de consumo. A
país e mesmo do exterior dirigiram-se estrutura comercial se refletia na estrutu-
para a Amazônia, dispersando-se em ra da rede, em que a posição hierárquica
meio à floresta equatorial e criando uma de cada aglomeração era função de sua
rede de povoados, vilas e pequenas ci- posição na cadeia de comercialização.
dades conectadas pelas vias fluviais.
As interações entre vilarejos, vilas e
Na maior parte das aglomerações, o cidades eram inteiramente dependentes
equipamento urbano e portuário era da cadeia de exportação/importação,
precário, e o título de cidade, um eufe- que mobilizava os excedentes de valor
mismo: a área urbanizada se limitava a produzidos pela economia da borracha.
duas ou três ruas paralelas ao rio, mar- Essa cadeia funcionava com base na
geada por modestas casas, raramente de compra e venda a crédito das mercado-
alvenaria, localizadas nas partes mais ele- rias (aviamento), sistema usado tanto
vadas da planície sazonalmente inundada pelo pequeno como pelo alto comércio,
pela enchente dos rios. A falta de equipa- que, na prática, substituía a circulação
mento, mesmo nas maiores aglomera- de dinheiro pelo fluxo de mercadorias,
ções, não estimulava o desenvolvimento e era esse fluxo de crédito-em-mercado-
do modo de vida urbano, enquanto o rias que articulava entre si as aglome-
ritmo de vida nas aglomerações menores rações. Se, de um lado, esse sistema
era lento e intermitente, acompanhando facilitava a expansão da atividade co-
a sazonalidade da coleta da borracha e mercial, pois bastava ter crédito para o
o movimento de entrada e saída de em- comerciante se estabelecer, por outro,
barcações no porto. dificultava a captação do excedente em
cada lugar, o que, por sua vez, inibia a
Essas características, somadas à difi- diversificação das atividades produtivas
culdade de comunicação e à quase-au- e o processo de diferenciação funcional
sência de diferenciação funcional entre das aglomerações.
as aglomerações, são indicativos de que
não existiam as condições para o desen- Por se tratar de atividade coletora,
volvimento da rede urbana. Contudo, a extração do látex não envolvia a divi-
o povoamento associado à exploração são de trabalho nem o emprego de téc-
da borracha nos vales amazônicos im- nicas especializadas. Os coletores eram
pulsionou o que se pode denominar de trabalhadores autônomos, isto é, não
112 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

estavam subordinados a contrato for- natureza dessa organização não era


mal empregatício, e o valor do trabalho favorável à multiplicação das redes de
era medido pela quantidade de látex comunicações, tampouco à ampliação
extraído. A remuneração deveria ser das trocas, tanto no interior da aglo-
monetária, mas, na prática, os trabalha- meração como entre elas. Portanto, é a
dores não viam nem a cor do dinheiro. própria razão da rede, ou seja, sua cons-
Entretanto, a simples possibilidade de tituição em função da exploração da
remuneração em dinheiro constituía borracha, que restringe o pleno desen-
uma novidade na época quando o tra- volvimento do urbano e da urbanização
balho escravo ou semi-servil ainda do- do território.
minava em grande parte do Brasil, o que
é consistente com a conexão entre a A forma da rede proto-urbana esta-
economia da borracha e a expansão da va relacionada à área de ocorrência da
grande indústria nos países centrais. borracha. Embora houvesse espécies
produtoras de látex em terra firme (áreas
Por força da sazonalidade da extra- não inundadas), as mais produtivas eram
ção da borracha, os coletores permane- as árvores da hevea, localizadas nas flo-
ciam seis meses inativos, portanto, sem restas de várzea (planície de inundação).
remuneração. Essa restrição os tornava É a associação entre essa restrição eco-
dependentes do crédito disponibilizado lógica e o domínio da circulação fluvial
pelo comerciante local, em geral o pró- que explica a forma dendrítica 1 da rede
prio proprietário da unidade produtora proto-urbana. A rede englobava aglome-
(seringal), para a compra de alimentos rações situadas em pontos de transbordo
e de bens de consumo básico, o que, dos carregamentos, ou nos portos que
por certo, tinha a vantagem de reduzir serviam às grandes unidades produtoras,
o capital-dinheiro necessário para a im- ou na confluência de rios que drenavam
plantação e sustento da atividade serin- a produção das sub-bacias.
galista. A outra vantagem, é claro, era a
espiral de endividamento, que mantinha
os coletores presos à unidade produ- A estrutura urbana primaz
tora, evitando até certo ponto a mobi-
lidade do trabalho no território e, em A forma de distribuição da população
conseqüência, a competição entre os se- entre as cidades apresentava uma forte
ringais por força de trabalho. A relação diferença entre a maior cidade e o con-
mercantil simples, não monetarizada, de junto de cidades menores. Grosso
troca de trabalho por mercadoria, assim modo, a estrutura urbana de cidade-
como a progressão da dívida dos traba- primaz acompanha o modelo clássico
lhadores tornaram-se o suporte da geoe- dos sistemas de intercâmbio de tipo re-
conomia da borracha. Por outro lado, a distributivo (Morris, 1978).

1
O termo dendrítico designa a forma ramificada de uma rede, semelhante a uma árvore. No
texto, o termo é usado para descrever a forma tomada pela rede proto-urbana ao acompa-
nhar a forma dendrítica da rede fluvial.
Lia Osorio Machado 113

A cidade de Belém, no baixo rio gunda maior cidade da região e em


Amazonas, foi a maior beneficiária da capital do Estado do Amazonas. O cres-
estrutura comercial implantada para a cimento de Manaus deve ser atribuído
exportação da borracha para os centros à interiorização das frentes exploradoras
industriais da Europa e dos Estados de borracha que ali se bifurcavam em
Unidos. Como porto de entrada do vale direção norte (vale do rio Negro) e su-
do Amazonas, Belém concentrava a doeste (afluentes da margem direita do
maior parte dos negócios de exporta- alto rio Amazonas, onde mais tarde sur-
ção, ao mesmo tempo que centralizava giu o território federal do Acre).
a distribuição dos bens de consumo
importados do exterior e destinados às Como cidade, Manaus exercia fun-
áreas monoprodutoras de borracha da ções comerciais semelhantes às de
bacia amazônica. Bancos, firmas de na- Belém, sem contudo chegar a ameaçar-
vegação fluvial, ateliês, escritórios e pe- lhe a primazia, uma vez que as principais
quenas fábricas criaram, pela primeira firmas comerciais, nacionais e estrangei-
vez, um mercado de trabalho urbano. ras sediadas em Belém instalaram filiais
A cidade, antiga capital do Estado do em Manaus. Descrita como uma peque-
Pará, foi o principal pólo atrator urba- na aldeia de 8.500 habitantes em 1852,
no dos fluxos imigratórios, nacionais e sessenta anos depois sua população
estrangeiros. havia crescido para 50.000 habitantes
(1914). No entanto, o “urbanismo” de
Entre 1856 e 1907, a população da Manaus estava restrito aos setores de co-
cidade cresceu de 20.000 para 192.000 mércio e de residência dos moradores
habitantes, o que representava 25% da mais abonados.
população do Estado do Pará e mais de
dez vezes o tamanho populacional de O fosso social que separava os habi-
Cametá, a segunda cidade na hierarquia. tantes de pequenas e grandes aglome-
Sua posição de cidade-primaz pode tam- rações se refletia na paisagem urbana.
bém ser avaliada pelo grau de centrali- Cada aglomeração se dividia entre o
zação dos recursos financeiros disponíveis “centro”, que abrigava as casas comer-
para investimento urbano. Em 1891, o ciais, o porto e as melhores residências,
montante de recursos em Belém era 21 e o resto, onde vivia em casas de madeira
vezes maior que a soma de recursos das e palha a maior parte da população.
três cidades seguintes na hierarquia ur-
bana (Cametá, Santarém e Óbidos); em Em pleno apogeu das exportações
1907, era 33 vezes maior que o de Ca- de borracha (1891-1912), a área cen-
metá e 65 vezes maior que o de Santa- tral de Belém era servida por uma rede
rém (Le Cointe, 1922). de bondes elétricos, tinha água canali-
zada, iluminação elétrica nas ruas arbo-
Localizada a mais de 2.000 km da rizadas e margeadas por residências
costa atlântica, no alto vale do rio Ama- luxuosas, enquanto nos bairros perifé-
zonas, Manaus transformou-se na se- ricos a população vivia em condições
114 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

miseráveis, em casas precárias erguidas A partir da crise econômica regional,


em áreas pantanosas, sujeita a diversas a dinâmica da rede urbana move-se em
endemias (Le Cointe, 1922). sentido inverso. Enquanto a monopro-
dução da borracha determinou que cada
aglomeração, pequena ou grande, depen-
Se de fato a economia da borracha desse de recursos e de bens produzidos
disponibilizou os recursos para investi- em outras regiões do país e do mundo, a
mento em infra-estrutura urbana, per- estagnação econômica dos vales amazô-
mitindo, mesmo que de forma pontual, nicos estimulou a exploração dos recursos
o aparecimento da forma-cidade, a es- locais e a redução no ritmo de trocas entre
trutura sócio-político-institucional que as aglomerações. Esse processo de auto-
emergiu com ela excluiu a maior parte organização, adaptado à situação de
da população de seus benefícios, tanto estagnação da economia regional, pode
diretos (melhor remuneração e diversi- explicar a relativa estabilidade da estrutura
ficação da oferta de emprego) como de povoamento nas décadas seguintes.
indiretos (equipamentos de uso coleti-
vo). Tal tipo de projeto social é respon-
sável pela geração de uma urbanização Ao mesmo tempo que a economia
incompleta, visão de Milton Santos, de das áreas de floresta equatorial entrava
que aqui nos apropriamos, sobre o pro- em declínio, no domínio das savanas,
cesso de urbanização em países perifé- ao sul da grande floresta ombrófila, sur-
ricos (Santos, 1973; 1979; 1993). giam frentes de povoamento de curta
duração que deixavam em seu rastro
outras pequenas aglomerações proto-
Em face do “espaço dividido” e urbanas. No sul do Estado do Mato
pouco diversificado, não é surpreenden- Grosso (bacia do alto rio Paraguai), a
te que a queda brusca das exportações frente vinculada à criação de gado bo-
de borracha, depois de 1912, tenha vino e à fabricação de couros para o
provocado a desordem na incipiente mercado externo e interno foi respon-
rede urbana e em todo o processo de sável pelo aparecimento de pequenas
povoamento regional. No entanto, o vilas, sem contudo ter conseguido im-
desmonte da estrutura comercial de pulsionar o crescimento da Cidade de
exportação atingiu a rede de forma di- Cuiabá, antigo centro minerador do
ferenciada. O refluxo migratório tanto século XVIII e que havia se tornado ca-
deixou em seu rastro cidades-fantasmas pital do estado. Outro agrupamento de
e cidades estagnadas, como foi respon- pequenas vilas surgiu no atual Estado
sável pelo surgimento de novas aglome- do Tocantins, ligado à exploração mi-
rações, em conseqüência do êxodo rural neral. A leste da floresta, no Maranhão,
ocorrido nas áreas onde estavam locali- ainda outra frente vinculada à cultura
zadas as maiores unidades produtoras do arroz deu origem a pequenas aglo-
de borracha (sudoeste amazônico). merações proto-urbanas (Figura 1).
Lia Osorio Machado 115

Figura 1 - Aglomerações urbanas na Amazônia Brasileira (1945)

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A fronteira urbana
Ao visitar a Amazônia Ocidental no final Embora permanecesse o comando
da década de 1950, o geógrafo Michel exercido pela rede fluvial sobre a interco-
Rochefort ficou impressionado com a es- nexão das aglomerações, o transporte
tagnação da economia local e a posição por esse meio de circulação havia sido
de primazia de Manaus. A cidade abri- complementado pelo transporte aéreo.
gava 88.600 habitantes, corresponden- De fato, muito antes das estradas, foram
tes a 54% da população urbana total os aviões os primeiros a efetuar a inte-
dos atuais estados do Amazonas, Acre, gração da Amazônia ao Centro-Sul do
Roraima e Rondônia. Nessa vasta área país, além de desempenharem impor-
predominavam as aglomerações com tante papel no controle militar do territó-
menos de 10.000 habitantes, a maioria rio depois da Segunda Grande Guerra.
delas centros elementares, cuja zona de
influência não excedia os limites dos mu- Na hierarquia urbana, abaixo de
nicípios respectivos (Rochefort, 1959). Manaus encontravam-se as capitais das
116 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

unidades federativas do Acre (1903), no Federal ao regime militar autoritário


Guaporé (atual Rondônia) e Rio Branco instituído em 1964. Contudo, suas pre-
(atual Roraima); os dois últimos territórios missas de modernização são devedoras
foram criados em 1943, no contexto da das teorias e modelos de desenvolvimen-
política de colonização do oeste brasileiro to econômico elaborados pela CEPAL
elaborada pelo governo de Getúlio Var- (Comissão Econômica para a América
gas. Rochefort assinalou o caráter artificial Latina/ONU), que já haviam sido ado-
dessas capitais, que não resultavam de tados pelo governo de Juscelino Kubit-
uma organização urbana espontânea, schek no Plano de Desenvolvimento
funcionais à necessidade de relações Nacional (1955-1960). O plano foi res-
intra-regionais, e sim de uma organização ponsável pela construção de Brasília e
voluntária do Governo Federal destinada de um feixe de estradas pioneiras que
a remediar a estagnação da economia conectasse por via terrestre a nova ca-
regional através da implantação de uma pital com todas as regiões do país. Uma
estrutura urbana que precedesse ao de- dessas estradas, a mais conhecida, é a
senvolvimento econômico. rodovia Belém-Brasília (1960). Cortan-
do extensas áreas de floresta e de sava-
Depois de 1966, essa estratégia, de na, a estrada de 2.000 km rompeu o
secundária, passou a dominante no que secular isolamento da Amazônia em re-
se refere à ação governamental. lação à Região Sudeste-Sul, centro eco-
nômico-político do país. Quando foi
lançada a Operação Amazônia (1966),
Um esforço malvisto: a seguida pelo Plano de Integração Nacio-
colonização nos trópicos nal - PIN (1970), as frentes migratórias
e os grandes fazendeiros já vinham ocu-
A intervenção estatal no povoamento pando em ritmo frenético as terras ao
com a conseqüente valorização das terras longo da estrada pioneira havia mais de
amazônicas foi decisiva no período 1966/ dez anos (Becker, 1982).
85. Dois elementos dessa intervenção
merecem ser destacados. O primeiro foi A implantação de redes técnicas mo-
a subordinação dos projetos de coloni- dernas, conforme citado, constituiu o
zação regional ao projeto mais amplo de segundo elemento essencial da inter-
modernização institucional e econômica venção governamental. As obras realiza-
(Silva, 1967; Cardoso, Mueller, 1977). das pelo PIN foram bem mais ambiciosas
O segundo foi o uso de redes técnicas do que o plano do governo Kubitschek,
modernas, com o objetivo de estimular com custos evidentemente superiores. In-
e viabilizar a mobilização de capitais e de vestimentos públicos foram dirigidos à
migrantes para as novas frentes de po- construção de 12.000 km de estradas pio-
voamento (Machado, 1987). neiras, em cinco anos, e à de 5.110 km
de redes de comunicação por microon-
Com freqüência, a literatura sobre das, em três. Em áreas selecionadas
esse período atribui as ações do Gover- foram implantadas redes de distribuição
Lia Osorio Machado 117

de energia elétrica associadas à constru- primeiro se refere à tendência de consi-


ção de usinas hidrelétricas de grande e derar a ocupação da Amazônia ilegíti-
médio porte. Finalmente, a rede de aero- ma porque inspirada por argumentos
fotogrametria para levantamento dos do tipo “destino manifesto” e por deva-
recursos naturais (Projeto RADAM-1971) neios sobre o “Brasil-grande potência”,
realizou a cobertura de cerca de 5 mi- freqüentes no pensamento geopolítico
lhões de quilômetros quadrados da Ama- militar. O desejo de garantir a sobera-
zônia (Kohlhepp, 1987). nia sobre quase 2/3 do território do país
não só é compreensível, como a deci-
As obras foram, sem dúvida, im- são do modo como fazê-lo, seja correta
pressionantes e sem paralelo na história ou errada, é prerrogativa de qualquer
da ocupação de terras na faixa intertro- Estado nacional. O outro reparo diz res-
pical, representando investimentos da peito ao fato de o povoamento efetivo
ordem de 10 bilhões de dólares (1970), da região desacreditar as teorias elabo-
a maior parte financiada pelo governo radas no século XIX, e recentemente
federal com recursos próprios (de que revividas, que atribuem a pobreza dos
30% provinham dos fundos de incenti- países subdesenvolvidos às condições
vo fiscal) e com empréstimos de bancos climáticas, particularmente quando se
internacionais (Mahar, 1989). trata de regiões equatoriais-tropicais
(Landes, 1998). Somente quem não
Igualmente impressionante foi a sofre os efeitos políticos dessas teorias
quantidade de críticas lançadas a todos pode considerá-las inócuas.
esses planos de desenvolvimento regio-
nal, desde sua implementação até hoje. Os investimentos federais foram res-
A série de erros cometidos, os custos ponsáveis pela alteração da disposição
ecológicos e sociais elevados, o desper- espacial do povoamento nas décadas
dício de energia humana são algumas seguintes (Figura 2). O atrator 2 primor-
das críticas justas à intervenção do go- dial deixou de ser a rede fluvial e passou
verno brasileiro. Este, por conseguinte, a ser as estradas pioneiras, tanto para
assumiu um comportamento defensivo, os fluxos migratórios dirigidos como
principalmente nos debates de âmbito para as correntes migratórias espontâ-
internacional. neas. À medida que os grandes eixos
de estradas pioneiras eram construídos
Apesar da propriedade da maioria na terra firme, ou seja, nas áreas não
das críticas aos planos e seus efeitos, o inundadas, as frentes de povoamento
tratamento dispensado a eles pela ex- invadiam a selva e novas aglomerações
tensa bibliografia “amazônica”, nacional apareciam, muitas delas já sob a forma
e estrangeira, merece alguns reparos. O de cidade.

2
Podemos definir o atrator como a estrutura para a qual convergem as trajetórias dos compo-
nentes de um sistema espacial.
118 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

Figura 2 - Urbanização da Amazônia Brasileira (1967-1990)

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IDADE802. PRJ 22/06/98


Lia Osorio Machado 119

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IDADE902.PRJ 22/06/98

Fonte : IBGE. Org.: Lia Machado

A maior parte das antigas aglome- pouco a intervenção direta do Estado na


rações, situadas nas margens das vias criação de cidades pode ser considerada
fluviais, foi marginalizada pelas ondas como novidade na história das frentes
migratórias, com exceção das cortadas pioneiras modernas. O que a experiência
pelos novos eixos de circulação terres- amazônica talvez tenha de singular é a
tre. Por outro lado, as cidades de maior gênese quase instantânea, em um grande
nível hierárquico na antiga rede, ou seja, território, de um sistema urbano que é,
as capitais estaduais, foram revigoradas simultaneamente, a condição e o produ-
pelo influxo migratório. to do sistema de povoamento da região.

Urbanização e povoamento estão


O “sistema de povoamento
povoamento”” associados no conceito de “sistema de
povoamento”, que compreende um
Desde o início do atual processo de po- conjunto de nódulos (vilarejos, vilas e ci-
voamento, a aglomeração urbana serviu dades), as redes de comunicação que os
de base logística de operações para a interligam e o equipamento e a informa-
ocupação do território, evento comum ção que possibilitam essa conexão em um
no processo pioneiro de ocupação. Tam- dado território (Pumain, 1995). Ao rela-
120 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

cionar esse conceito ao de “grandes sis- que resulta de comportamentos hu-


temas técnicos”, usado para designar manos adaptativos, inovadores ou con-
tentativas deliberadas de controlar o pro- servadores do sistema, sem que esses
cesso de criação de elos de comunicação, comportamentos possam ser atribuídos
Denise Pumain toca num dos aspectos a propósitos deliberados (Allen, 1984;
fundamentais das ordenações territoriais Allen, Sanglier, 1981). Por conseguinte,
que é o da intencionalidade de determi- a ordem “espontânea” é a propriedade
nadas ações. Embora a autora não esteja primordial do sistema urbano, ao inte-
se referindo a áreas de povoamento grar também as organizações que ope-
“pioneiro”, achamos que a ocupação re- ram com intencionalidade (instituições
cente da região amazônica se aproxima públicas, corporações, firmas etc.).
bastante de sua concepção de sistemas
de povoamento como grande sistema Nessa linha de pensamento, por-
técnico-territorial. As redes engendradas tanto, o “sistema” urbano é o produto
pelos sistemas técnico-territoriais permi- de dois tipos de ordem: a organização
tem a multiplicação das interações entre intencional, impulsionada pela ação
os habitantes dos vários nódulos, sejam governamental, das empresas e das
elas de tipo monetário (comércio), hu- instituições, e a ordem espontânea (auto-
mano (migração) ou informacional. organizativa), produzida pelo mercado
(de terras, de trabalho, de bens, de servi-
No entanto, a ordenação do sistema ços etc.), pela ação das estruturas sociais
de povoamento (de base urbana), qual- coletivas e pelos indivíduos.
quer que seja o padrão técnico sub-
jacente, não é produto somente da Diversos autores têm tentado explicar
intencionalidade. F. von Hayek, por o processo de urbanização na Amazônia
exemplo, distingue dois tipos de ordem: a partir das teorias urbanas clássicas
a ordem construída com intencionalida- (Corrêa, 1987) ou da teoria de circula-
de e a ordem “espontânea”, que resulta ção do excedente social (Becker, 1982;
das ações humanas mas não do desenho 1990); nenhuma delas, porém, consegue
humano e que pode ser exemplificada conciliar os aspectos aparentemente
pelas ações coordenadas do mercado. contraditórios da urbanização regional.
Parece-nos que abordar o sistema de po-
Fazemos uso dessa distinção neste voamento como sistema complexo evo-
trabalho, porém de uma outra perspecti- lutivo permite que uma só teoria dê
va. A ordem intencional (determinação) conta desses aspectos.
e a ordem espontânea (indeterminação)
seriam propriedades objetivas de uma
família de sistemas conhecidos como A ordem intencional ...
sistemas complexos evolutivos.
De acordo com as diretrizes do governo
O “espontâneo” na evolução dos sis- federal, a implantação de redes infra-
temas urbanos se refere à ordem espacial estruturais tinha o duplo propósito de
Lia Osorio Machado 121

direcionar, seletivamente, o fluxo migra- cresceu de 311.622 para 633.392 habi-


tório, e de integrar a região ao resto do tantes no período 1970/80.
país. O uso dos recursos locais através
da política de pólos de desenvolvimento O efeito imediato dessas políticas foi
(agrícola, minerador, madeireiro) tam- a ampliação extensiva da rede urbana
bém foi concebido com o duplo pro- e o reforço à sua diferenciação hierár-
pósito de fixação do povoamento/ quica, com a permanência, contudo, da
diferenciação do espaço regional e de primazia das capitais, permanência que
estímulo à produção de mercadorias para mostra o papel fundamental das insti-
o mercado nacional e internacional. Por tuições governamentais de reguladoras
seu turno, a política de incentivo à ur- na distribuição tanto de recursos para o
banização, diretamente induzida pelo investimento urbano quanto de infra-
Estado ou sob sua tutela, partia da con- estrutura. Com isso, os limites políticos
cepção da cidade como elo de comu- dos estados que formam a Amazônia
nicação e elemento da infra-estrutura “oficial” interferem na estrutura urbana
(SUDAM, 1976a;1976b). e na delimitação dos subsistemas urba-
nos: em cada estado, a rede urbana
Os projetos de colonização governa- apresenta a tendência de se organizar
mental, como os implantados no eixo em função da capital.
da Transamazônica (Pará) e da BR-364
(Rondônia), e uma série de projetos de Em síntese, a política governamen-
colonização privada, com subsídio esta- tal ampliou o espaço de circulação de
tais, principalmente no norte do Estado informação, de mercadorias e de traba-
de Mato Grosso, associaram a criação lho, estimulando a gênese do sistema
de nódulos urbanos à distribuição e/ou urbano. Entretanto, a direção e a inten-
venda de terras (Coy, 1989;1992). Mui- sidade desses fluxos, embora sensíveis
tas das novas cidades foram construídas à ação governamental, apresentam uma
de forma planejada, com financiamento dinâmica própria.
e apoio técnico governamentais (Valen-
ça, 1991; Oliveira, 1992).
... e a ordem “espontânea”
Cidades antigas cortadas pela Transa-
mazônica, como Marabá e Altamira, re- Se é certo que o comportamento do mer-
ceberam recursos para equipamento e cado (de terras, de trabalho, de serviços)
para expansão do tecido urbano. A pode explicar a ordem “espontânea” do
mesma política beneficiou as capitais es- sistema de povoamento, a evolução
taduais. Dentre as capitais, Manaus foi desse mercado não pode se realizar inde-
beneficiada, já em 1967, pelo estatuto pendentemente das estruturas sociais que
de território especial para livre comércio governam o país, em particular das nor-
(Zona Franca), no intuito deliberado de mas que regulam a propriedade e o tra-
transformá-la na metrópole do médio balho (Santos, 1996). A concentração da
vale amazônico. A população urbana propriedade da terra, por exemplo, é
122 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

uma característica da estrutura fundiária o emprego de mão-de-obra assalariada.


brasileira. Que essa característica se repro- Esse tipo de organização do trabalho
duza em áreas com “abundância de contribui para a urbanização, na medida
terras”, como é o caso da Amazônia, indi- em que os trabalhadores (e suas famí-
ca o domínio de formas monopolistas na lias) vivem nas aglomerações e não nas
apropriação de terras livres em todo o fazendas. A figura do empreiteiro de
território nacional. Com efeito, a forma mão-de-obra, o “gato”, era usual no co-
peculiar assumida pelo desenvolvimento tidiano das pequenas cidades e vilas
capitalista no Brasil transformou a pro- localizadas nas áreas com maior con-
priedade em título financeiro e, nessa con- centração de grandes fazendas, caso,
dição, é utilizada pelo capital em geral e por exemplo, do sudeste do Pará.
não só pelo capital aplicado na agricultura
(Silva, 1984). Terceiro, a relação de dependência
das aglomerações em relação ao rural
A concentração da propriedade da nem sempre era de natureza a estimular
terra e a trajetória incerta dos investi- o desenvolvimento de uma “economia”
mentos agrários explicam, em grande urbana e a criação de empregos alter-
medida, a relação que se estabeleceu nativos. É difícil a formação de um mer-
entre urbanização, mercado de terras e cado mínimo estável que justifique a
mercado de trabalho a partir da déca- oferta de bens e serviços urbanos quando
da de 1960. Alguns aspectos dessa re- a densidade da população rural é baixa
lação podem ser destacados. ou flutuante. Mudanças na densidade da
população rural estavam vinculadas a al-
Primeiro, a alocação de massas de terações na estrutura fundiária, ao ritmo
trabalhadores em espaços progressi- de desmatamento, à ocupação de novas
vamente privatizados só pode ser realiza- e antigas áreas por posseiros e a trans-
da em espaços “abertos” à socialização, formações na atividade produtiva.
ou seja, nos espaços urbanos. Não é sur-
preendente, portanto, que povoados, Nas áreas de colonização ou naque-
vilas e cidades amazônicas tenham surgi- las onde existia uma certa concentra-
do ou crescido em função de imigrantes ção de pequenos produtores rurais, por
“sem-terra”, que passaram a engrossar, exemplo no extremo norte do Estado
querendo ou não, o contingente de mão- do Tocantins, a necessidade de comple-
de-obra em disponibilidade. mentar a renda familiar ou de acumu-
lar recursos para a exploração agrícola
Segundo, muitos grandes proprietá- estimulou a entrada, eventual ou siste-
rios, seja para legitimar sua apropriação, mática, dos produtores no mercado de
seja para aproveitar a disponibilidade de trabalho rural, levando muitos deles a
empréstimos baratos para “tocar” as fa- residir em vilas e povoados onde o aces-
zendas ou valorizá-las para a revenda, so aos circuitos de comércio de mão-
realizaram grandes desmatamentos com de-obra é evidentemente maior.
Lia Osorio Machado 123

Em resumo, a ampliação do espaço tura urbana e nas políticas sociais são


de circulação de mão-de-obra contri- importantes. Na medida em que os pe-
buiu para a ordenação espontânea do quenos aglomerados não são contem-
sistema de povoamento, porém as res- plados com recursos porque não estão
trições impostas ao desenvolvimento do institucionalizados como cidade, um
mercado de terras pela estrutura fun- contingente da população local/regional
diária e as características do mercado de permanece em situação de precarieda-
trabalho acentuaram a flutuação popu- de quanto ao acesso a serviços mínimos.
lacional dos núcleos urbanos e das aglo- Por outro lado, a instabilidade da massa
merações rurais, impedindo em muitos populacional de cada povoado, mesmo
casos a consolidação do urbano. que transformado em sede municipal,
não favorece o investimento em infra-
As implicações desse processo nas estrutura urbana.
políticas de investimento em infra-estru-

Tendências atuais da urbanização e do mercado de


trabalho

A retração dos investimentos do governo as curvas de crescimento da população


federal na Amazônia, acentuada após total, da população urbana e do número
1984 3, ocasionou, como seria de espe- de municípios criados, no período 1960-
rar, mudanças significativas no sistema 1996. Enquanto a da população total
de povoamento regional. Grande parte se mantém ascendente até 1991 e se
dos projetos de expansão de infra-estru- estabiliza em seguida, a da população
tura, principalmente a construção de urbana não só cresce a uma taxa muito
novas estradas, foi desativada, e a estru- maior até aquele ano como continua a
tura de apoio financeiro aos projetos de subir, embora mais lentamente, mesmo
colonização, público e privado, foi sendo depois que a população total se estabi-
aos poucos desarticulada. Contudo, seria liza em função da redução dos fluxos
errôneo atribuir as mudanças que estão migratórios para a região amazônica. As
ocorrendo no sistema de povoamento crises econômicas sucessivas pelas quais
somente à retração do governo federal. passou o país desde meados da década
de 1970 não tiveram, portanto, efeito
Nesse sentido, a Figura 3a e a Figura imediato na migração, que só diminuiu
3b são reveladoras. A Figura 3a compara a partir do início da década de 1990.

3
A retração foi gradual porque resultou da acumulação de sucessivas mudanças e crises: a crise
fiscal do Estado (1973/1979); a crise da dívida externa e a drástica redução dos empréstimos
internacionais (1983); o fim do regime de governo militar (1984); a nova Constituição federal
(1988); o fim dos incentivos fiscais ao capital privado aplicado na Amazônia (1991). Ver M.
Baer, 1993.
124 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

Em princípio, o crescimento da po- desde meados da década de 1980, a des-


pulação urbana poderia ser atribuído à peito da constituição de novos municí-
criação de municípios, ou seja, ao apare- pios, a extensão da rede urbana com o
cimento de novas cidades, pois a legisla- aparecimento de novas cidades é menos
ção brasileira define a sede de município significativa que o crescimento do tama-
como cidade. Contudo, a trajetória da nho populacional das cidades existentes.
curva de municipalização acompanha a Essa hipótese é consistente com as mu-
evolução da população total e não a da danças observadas na estrutura da rede
urbanização. A hipótese seria, então, que urbana (Figura 3b).

Figura 3
(a) Amazônia Brasileira: população e criação de municípios (1960-1996)
1960 = 100
800
Constituição1988

600

400
Plano de Integração Nacional

200

0
1960 1970 1980 1991 1996
Pop. Total Pop. Urbana Municípios (unidade jurídico-administrativa)
Fonte: IBGE Org.: Lia Osorio Machado

(b) Amazônia Brasileira: repartição da população urbana (1960-1996)

100%

75%

50%

25%

0%
1960 1970 1980 1991 1996
Tamanho das cidades (em 1000 hab.)

Fonte: IBGE >500 100-500 50-100 25-50 <25 Org.: Lia O.Machado
Lia Osorio Machado 125

Processos distintos no alto 650 cidades existentes em 1996, 87%


e na base da hierarquia tinham menos de 25.000 habitantes e
urbana 71%, menos de 10.000 habitantes. Em
outras palavras, embora a proporção da
A evolução da distribuição da população população urbana total vivendo em
urbana por classe de tamanho das cida- pequenas cidades tenha decrescido, a
des mostra que, de modo geral, a he- maior parte das aglomerações, tanto as
terogeneidade da estrutura hierárquica antigas como as que surgiram após
aumentou. Por outro lado, o apareci- 1960, permanecem na base da hierar-
mento de novas classes de tamanho no quia.
alto da hierarquia indica a tendência geral
de concentração da população urbana A análise da distribuição da popula-
nas maiores aglomerações (Figura 3b). ção por classe de tamanho das cidades
permite avançar algumas conclusões:
De fato, embora tenha ocorrido
uma modificação radical na hierarquia a) o sistema de povoamento não está
das cidades amazônicas na década de consolidado, por isso a expressão
1960, o evento mais significativo foi o fronteira urbana, se aceitarmos o cri-
crescimento das principais metrópoles tério proposto pelas Nações Unidas
regionais, Belém e Manaus, correspon- de que o limiar de 50.000 habitan-
dente ao aparecimento da classe de ta- tes define as cidades com maior pro-
manho de cidades superior a 500.000 babilidade de permanência;
habitantes. Nas décadas seguintes, essa
tendência foi reforçada pelo crescimen- b) mais importante, o fenômeno urba-
to de duas outras capitais, Cuiabá e São no não resulta de um processo con-
Luís. tínuo de agregação do povoamento,
pois são diferentes os processos que
A modificação que ocorreu na base atuam sobre as formações urbanas
da hierarquia é, no entanto, a mais su- situadas no alto e na base da hierar-
gestiva do ponto de vista do sistema de quia;
povoamento. Em 1960, quase 80% da
população urbana amazônica vivia em c) no período 1960/96, a estrutura do
pequenas aglomerações (de menos de sistema urbano foi gradativamente
25.000 habitantes). Daí em diante, a alterada, com o aparecimento de
proporção continuou a decrescer, até níveis intermédios na hierarquia, in-
chegar a 37%, em 1996. Nesse mesmo dicando a modificação do lugar rela-
período, grande parte das aglomerações tivo de diversas cidades no sistema;
rurais foi transformada em “cidade”, essa alteração, contudo, não foi sufi-
graças aos movimentos de autonomia ciente para alterar o caráter de pri-
municipal. Nesses trinta e seis anos, o mazia das maiores cidades, em geral
número total de aglomerações urbanas as capitais estaduais que comandam
aumentou de 177 para 650; porém, das os subsistemas.
126 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

“Regiões urbanas” em que modesto, de substituição de impor-


gestação tações (frigorífico, usina de laticínios, fá-
brica de móveis, compensados etc.).
Outra situação é a das áreas agrícolas
A evolução recente da urbanização de- especializadas em produtos de exporta-
monstra a gênese de adensamentos ou ção, entre as quais sobressai a da agroin-
“condensações” urbanas (Figura 4). Tra- dústria da soja (Coy, 1991; Bernardes,
ta-se do adensamento do número de 1996). Outra ainda é a do entorno das
cidades em determinadas regiões do sis- áreas metropolitanas (Belém, São Luís,
tema de povoamento. Para o estudo dos Manaus).
processos de urbanização a presença
desses adensamentos é tão importante
quanto o aumento do tamanho e nú- As redes sociais que emergem da
mero de cidades ou as mudanças na concentração de grupos de imigrantes
estrutura hierárquica. Indicam o apare- com a mesma identidade cultural é outro
cimento de economias externas locais, fator a ser considerado na constituição
ou seja, a possibilidade de geração de de “regiões urbanas”. As duas principais
vantagens advindas da concentração de correntes migratórias para a Amazônia,
produtores. Tal concentração, por seu no período pós-1960, se originaram nos
turno, reforça o adensamento, por estados do Nordeste e do Sul do Brasil.
exemplo atraindo mais fluxos de inves- Os hábitos, a alimentação, a composição
timento e/ou imigratórios (princípio de étnica, a filiação religiosa, as conexões
retornos crescentes ou de equilíbrio políticas, o grau de escolaridade e de
múltiplo) (Arthur, 1990). expectativas de qualidade de vida, a fa-
miliaridade com o modo de vida urba-
no formam um conjunto de fatores que
A emergência dessas “regiões” na distinguem ambas as correntes. Além
Amazônia (centro-sul de Rondônia, sul das diferenças culturais, o conhecimento
e centro-norte de Mato Grosso, região dos mecanismos de acesso ao crédito e
do Bico do Papagaio, centro-sul do To- ao apoio técnico (maior entre os imi-
cantins, centro-norte do Maranhão, cer- grantes do Centro-Sul do país) resulta
canias de Belém e de Manaus) depende em assimetrias de informação (Powell,
evidentemente da presença de conexão 1991), com forte impacto sobre o de-
viária, porém a situação geográfica que senvolvimento das regiões urbanas.
lhe deu origem pode ser diferenciada.
Uma delas é o adensamento da popula-
ção rural em áreas de estrutura fundiária No interior dessas regiões, a hierar-
diversificada, onde as atividades agrope- quia urbana reproduz, à maneira dos
cuárias (milho, arroz, café, carne bovina, fractais, a estrutura do sistema de po-
leite) e/ou as atividades extrativas (ma- voamento amazônico, com diferenças
deira, ouro, ferro, castanha-do-pará, marcantes entre a maior cidade e as
borracha) geraram processo, mesmo outras aglomerações.
Figura 4 - Amazônia Brasileira: urbanização (1996)

Lia Osorio Machado


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BOA VISTA

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RORAIMA !

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AMAPA !
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TOCANTINS
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Estradas principais

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Km
Rio Amazonas

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0 100 200 ! Cidades
> 500

127
Org. Lia Osorio Machado. Source: IBGE. BENKO.PRJ
128 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

A importância do emprego claramente de tipo urbano (construção


público no mercado formal civil, comércio, instituições financeiras,
de trabalho hotelaria, administração pública), os
dados oferecem um panorama do grau
de diversidade funcional das cidades
O programa RAIS do Ministério do Tra- além do número de pessoas empregadas
balho contabiliza anualmente para cada por setor. Para a região amazônica, o
município brasileiro o número de empre- peso relativo do setor público como prin-
gados com carteira assinada segundo o cipal empregador no mercado formal de
setor/função da economia local. Como trabalho é significativo nos dois extremos
a maior parte dos setores identificados é da hierarquia urbana (Tabela 1).

Tabel a 1 - Mercado formal de trabalho: o peso do emprego público por


tamanho urbano - 1996
Tamanho Mato
Acre Amapá Amazonas Pará Rondônia Roraima
urbano Grosso
(em 1.000 hab.)
* ** * ** * ** * ** * ** * ** * **
< 25 19 15 13 7 55 46 84 23 106 53 30 25 7 3
25 – 50 1 1 0 0 5 4 7 0 12 3 7 0 0 0
50 – 100 0 0 1 0 0 0 1 1 6 2 2 0 0 0
100 – 500 1 1 1 1 0 0 3 1 3 0 1 1 1 1
> 500 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 0 0
* Número de cidades
** Número de cidades onde o setor público é o maior empregador
Fonte : Ministério do Trabalho, RAIS (1996)

Essa condição é encontrada em 55% duas vezes mais do que a soma dos em-
dos municípios com cidades de menos pregados formais no comércio e na in-
de 25.000 habitantes. As diferenças entre dústria. Até o início da década de 1990,
os estados não são significativas, exceto Manaus se afastava desse padrão, em que
no caso do Estado de Mato Grosso, em o setor industrial empregava mais do que
que o menor número de municípios o setor público. A instabilidade provoca-
nessa situação pode ser tomado como da pela sucessão de reformas econômicas
um indicador do dinamismo da econo- e pelas mudanças técnicas voltadas para
mia regional. Os municípios com cidades a redução da mão-de-obra empregada
de mais de 100.000 habitantes incluem na indústria reverteu o quadro. A recente
evidentemente as capitais dos estados. desvalorização da moeda talvez incentive
Apesar da importância relativa da função um novo ciclo de instalação de unidades
industrial e comercial nas capitais, o setor industriais na zona franca e, com ele, o
público permanece como o maior em- aumento do emprego industrial.
pregador. Em Belém, esse setor emprega
Lia Osorio Machado 129

O predomínio do trabalho tas. Fatores como o maior controle sobre


informal nas menores a aplicação da legislação de trabalho, a
ci dades mais intensa competição por mão-de-
obra qualificada e o peso do emprego
Ao contrário das suposições correntes público nas maiores cidades podem ex-
que postulam uma maior proporção de plicar o fato.
empregados no mercado de trabalho
informal nas maiores cidades, os dados Por outro lado, pequenas cidades
da Tabela 2 apontam para a proporção como Oriximiná e Parauapebas (Pará)
relativamente menor do emprego infor- se diferenciam do padrão dominante,
mal nas maiores cidades e para a maior apresentando uma proporção relativa-
probabilidade de a população econo- mente maior de empregados no setor
micamente ativa estar empregada no formal. Como em ambas as localidades
mercado informal quanto menor for a estão situadas grandes empresas mine-
cidade. De fato, uma das principais ca- radoras, é razoável supor que a neces-
racterísticas do “capitalismo fundo de sidade de reter mão-de-obra qualificada
quintal”, tanto em áreas urbanas como tenha um papel importante na explica-
rurais, é a fuga de obrigações trabalhis- ção dessa discrepância.

Tabel a 2 - População ocupada, mercado de trabalho e tamanho urbano em


cidades selecionadas da Amazônia - 1996
Pop. Pop. urbana empregada
1 Pop.
Município / Cidade População ocupada / urbana Mercado Mercado
total Pop. total Total formal2 informal3
total
(*100) (%) (%)
Manaus 1.157.357 29 1.150.193 338.956 65 35
Belém 1.144.312 37 851.705 298.739 87 13
Cuiabá 433.355 37 426.903 156.312 75 25
Porto Velho 294.334 36 238.421 87.573 89 11
Boa Vista 165.518 34 150.442 42.369 49 51
Marabá 150.095 26 123.378 32.782 18 82
Araguaina 105.019 36 98.546 31.958 20 80
Ji-Paraná 95.356 37 80.783 28.805 32 68
Cáceres 73.596 35 59.505 18.622 25 75
Altamira 78.782 32 54.235 17.188 14 86
Sinop 54.306 32 46.489 15.285 49 51
Parauapebas 74.702 23 45.649 8.452 79 21
Itacoatiara 64.937 25 43.346 10.901 39 61
Pontes e Lacerda 40.768 33 26.869 8.951 11 89
Oriximiná 41.999 31 23.540 5.639 51 49
Eirunepe 25.776 15 15.420 2.312 26 74
S. Félix do Araguaia 10.862 44 6.057 2.048 17 83
(1) Estimativa da população ativa ocupada sobre dados de 1991, IBGE.
(2) Fonte: Ministério do Trabalho, RAIS, 1996.
(3) Estimativa do mercado de trabalho informal sobre dados de 1991, IBGE.
130 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

Novos municípios (1980/91) os novos municípios soma-


e a contra-tendência da vam uma população urbana maior do
“rural i za ção” que a rural, ou seja, a maior parte da
população municipal estava concentra-
Na primeira metade da década de 1980, da na cidade-sede, nos municípios cria-
ainda no governo militar, e especifica- dos mais recentemente a população rural
mente na região amazônica, novos mu- é quase o dobro da população urbana.
nicípios foram criados para atender à A comparação entre os municípios cria-
demanda reprimida da década anterior, dos na década de 1980 e os criados na
quando o sistema de povoamento havia primeira metade da década de 1990
produzido numerosas aglomerações ur- mostra o decréscimo da proporção de
banas que não eram consideradas ci- novos municípios com predomínio da
dades por não serem sedes municipais. população urbana: no Pará, a propor-
Depois que a Constituição Federal de ção caiu de 33% para 17%; no Estado
1988 retirou do governo federal e devol- de Tocantins, de 67% para 35%; e no
veu aos estados locais a prerrogativa de Estado de Mato Grosso, de 46% para
conceder autonomia municipal, o au- 23%.
mento do número de municípios foi ex-
plosivo: 138 no período 1980/1991 e Embora não caiba aqui a análise da
151 entre 1991 e 1996. Ainda assim, se estrutura agrária amazônica, podemos
for observada a dimensão continental da avançar a hipótese de que essa tendên-
Amazônia Legal, onde existem municípios cia recente de “ruralização” pode estar
do tamanho de muitos estados nacionais relacionada a fatores diversos. Um deles
(Itaituba no Pará tem 165.578 km2 e é a possibilidade de que esteja ocorren-
densidade demográfica menor do que 1 do em determinadas regiões um novo
habitante/km2), o aumento do número “ciclo” de expansão do regime de parce-
de municípios permanece irrisório. ria (em que as famílias dos parceiros
residem na propriedade rural durante
Uma parcela considerável dos novos o período contratado, que pode variar
municípios está situada nas incipientes de 1 a 3 anos na mesma propriedade).
“regiões urbanas”, ou seja, nas áreas que Outro fator, que pode estar ou não as-
apresentam a maior densidade de po- sociado ao anterior, é a formação de
voamento. Contudo, a comparação novas propriedades rurais (por compra
entre os dados relativos aos municípios ou assentamento) ou a reconversão pro-
criados no período 1980/91 e no perío- dutiva de fazendas já implantadas.
do 1991/1996 mostra que o aumento
do número de municípios na década de A tendência recente de “ruralização”
1990 está associado a um processo mais não representa, a nosso ver, uma nega-
de “ruralização” do que de urbanização ção da tese da dominância da urbani-
da população, no sentido mais restrito zação no sistema de povoamento. Como
de aumento da população residente nexo e referencial do sistema de povoa-
urbana. Enquanto no primeiro período mento, a urbanização permanece domi-
Lia Osorio Machado 131

nante, a despeito da mudança na locali- e os fluxos são mais intensos entre as


zação da população. Quer dizer, a urba- grandes cidades e entre elas e o sul do
nização apresenta um desenvolvimento país do que entre cada cidade e seu
intensivo nas cidades e extensivo no ter- entorno (ver Machado, 1995). Dados
ritório. A população localizada na área sobre o tráfego telefônico mostram que
rural não está dissociada do sistema de a maior parte das chamadas interurba-
povoamento de base urbana, seja do nas é para fora da região, seguida pelas
ponto de vista político (articulação ins- chamadas locais; as ligações interna-
titucional), econômico (articulação com cionais são inexpressivas (Embratel,
mercado e serviços de apoio técnico) e 1996) 4.
cultural (expectativas referenciadas ao
modo de vida urbano). A rede urbana, no entanto, é um
caso particular da forma de organização
em rede. Desde firmas, entidades re-
Formas de organização ligiosas, movimentos dos “sem-terra”,
em rede: circuitos legais e organizações não-governamentais, imi-
ilegais grantes, até contrabandistas e traficantes
de droga, cada vez mais grupos adotam
São os pressupostos de troca, de comu- a forma de organização em rede na re-
nicação e de interdependência entre as gião amazônica, por mais distintas que
aglomerações que fundamentam os sejam as motivações.
conceitos de sistema de povoamento e
de rede urbana. Na região amazônica Um dos principais efeitos da forma
esses pressupostos merecem alguma de organização em rede é restringir a
qualificação. expansão de processos espaciais centrí-
petos, ou seja, os processos que favore-
Se considerarmos o conjunto regio- cem a centralidade de determinados
nal, desde os centros elementares até núcleos e a disposição hierárquica do
as cidades-primazes, a conectividade conjunto de núcleos. Estruturas heterár-
viária entre as aglomerações urbanas é quicas emergem quando interações en-
muito baixa, exceto nas “regiões urba- tre aglomerações independentes, cada
nas” identificadas. A rede de estradas é uma com finalidade distinta, geram uma
ainda incipiente e muitas das que existem forma de organização em que uma ci-
não operam na estação de pluviosidade dade não está subordinada a outra aci-
mais forte (verão). Mesmo no caso das ma dela. A rede de telecomunicação tem
redes de telecomunicações, a conexão sido um dos principais agentes de de-

4
Pode-se prever que no futuro próximo a adoção de novas tecnologias de comunicação alterará
o quadro no sentido “um indivíduo=um nódulo de rede”. Por exemplo, o número de telefones
celulares por habitante em alguns dos estados menos conectados ao resto da região por
rodovia, como o Amapá e Roraima, é de 2,05 (maior que no Rio de Janeiro) e 1,64 (maior que
em Santa Catarina), respectivamente (Embratel, 1996).
132 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

senvolvimento de estruturas urbanas e a monetarização da economia regio-


híbridas, hierárquicas e heterárquicas, nal (Figura 5a). No entanto, o período
ao permitir que vilas e cidades perten- de maior crescimento foi a primeira
centes aos níveis inferiores da hierarquia metade da década de 1980 (de 634 em
urbana possam conectar-se com qual- 1981 para 1277 agências em 1985) –
quer outro lugar, desde que este parti- em pleno apogeu da crise financeira
cipe da rede. brasileira e da retração das ações dire-
tas do governo federal na região –, pro-
No Brasil, o setor bancário talvez vavelmente porque a rede bancária foi
seja o melhor exemplo da associação usada pelas redes de lavagem de dinhei-
entre a forma de organização em rede ro ligadas à evasão fiscal, ao contraban-
adotado por firmas e empresas e o sis- do e ao tráfico internacional de drogas
tema de telecomunicações (Dias, 1995). (Machado, 1998).
Na Amazônia, o crescimento do núme-
ro de agências bancárias foi significati-
vo: de 98 para 1281 agências, entre A Figura 5b mostra a disposição da
1961 e 1996. Inicialmente induzida pela rede de serviço de comunicação por
ação do Estado (federal e local), respon- satélite utilizada pela rede bancária, seus
sável pela implantação de agências pio- maiores clientes, para a transferência
neiras, a ampliação da rede bancária eletrônica de dinheiro entre as cidades
mostra uma crescente participação dos amazônicas e o sul do país, nesse caso a
bancos privados: de 33% para 58% metrópole de São Paulo. Embora apro-
entre 1961 e 1996, a maioria com sede veitando-se da rede instalada de cida-
em São Paulo (Souto, 1998). des, a conexão entre organizações que
operam via rede tende a ser indepen-
Em princípio, a expansão do núme- dente da vida social local, com estraté-
ro de agências não é surpreendente, gias próprias, sem compromisso maior
uma vez que ocorreram a urbanização com a estrutura hierárquica urbana.
Figura 5a

Lia Osorio Machado


Agências Bancárias
! Normandia Oiapoque!
Amazônia Legal - 1997 !

!
BOA VISTA!

!
Caracarai
S. Joao da Baliza
!
!
MACAPA
S. Gabriel da Cachoeira
!
! BELEM

!
Barcelos ! !! !
! !
! !!
!
! !
! SAO LUIS
!!
! !
!
! !! !!

!
! ! ! ! ! !
! ! ! ! !
! !
!

!
! ! ! !
! MANAUS ! !
!
Paragominas ! ! !
!! Santarem Alatamira !
! !
!!
Tefe ! ! ! ! Itacoatiara
!
!! !
!
!! !
! ! !
! !!! !! ! !
Coari ! ! ! ! ! ! !
!
Tabatinga ! Itaituba !!
Codo
!
! ! ! ! ! !
Imperatriz !!! ! !
! !
!
!!
!
!
!
! !
!
Maraba ! !

!
!!
! ! !
Manicore !
! ! ! ! !
! Parauapebas ! ! !
!
Eirunepe ! !
!

!
! !
Araguaina
! !
!
! !
!
S. Felix do Xingu ! !

!!
Labrea Humaita ! ! !!
!
Cr. do Sul ! ! ! ! Balsas
!!
!
! ! !
! !Feijo
PORTO VELHO !
!
!

!
! !
! !!
! !
!
Santana do Araguaia !

!
!
RIO BRANCO Ariquemes ! ! PALMAS
! Alta Floresta !
!
! !
! ! !
!
!
!
Guajara-Mirim ! Ji-Parana !
!
!
! ! !
! ! ! Cacoal
!!
! !Brasileia ! ! !
! ! Gurupi ! !
!
!! ! Sinop S. Felix do Araguaia
!
! ! ! !
! !
!
!!
! !!
!
!
!
! !
Nº de Agências ! Vilhena !
! ! !
! !
!
! !
! !
!! !
! !
! ! !
!
! 1-3 ! 4-7 ! 8-12
!
!
!! CUIABA !
!
!

!!
!! !! !
!
!
! !!
! !
!

!
!
!
! ! !

!
! !
! !
! !Barra do Garcas

!
! !
!
!
13-24 60-95 Rondonopolis km
!
!
0 100 200

133
!

Organizado por Lia Osorio Machado - Departamento de Geografia - UFRJ - banan 97 Fonte: Base de Dados do Banco Central do Brasil, 1997
Figura 5b

134
Redes Logísticas na Amazônia
Telecomunicações 1994
E
Rede de Serviços DATASAT BI Boa Vista
!

S.Grabiel da Cachoeira Macapá


! !
! Belém
Cachoeira do Arari !
! !! !

Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira


! !
!!
!! !
‚ São Luis
Parintins
Manaus !
! Santarém Pinheiro! !
Itacoatiara ! ! Maués
Altamira !
! ! ! Tucuruí Sta. Inês !!
Codajás S. Inês
Tefé Coari ! Itaituba ! !
Tabatinga ! Borba Dom Eliseu
! ! ! !
! ! ! !
! !
Imperatriz
!
Parauapebas ! ! !Grajaú
Carajás !!
Eirunepé Estreito
!
S. Félix do Xingu ! !
!
! !
!
! !
!
! !
Redenção !
Cruzeiro do Sul Porto Velho !
!
! !
Santana do Araguaia
Paranaíta !
!
Rio Branco !
! Ariquemes ! Aripuanã ! !
! ! ! !
!
!! Colider ! Marcelandia !
Guajará-mirim!
Castanheira
Cacoal ! ! Claudia ! S.F. Araguaia
!! ! !
! ! ! !
! !
Vilhena !
!
Cerejeiras !
! ! !
!!

Tangará da Serra ! ! !
! ! ! ! !
Pontes e Lacerda ! !
! ! !
!! !
!
!
! !!
! !
!
! !
!
! !!
! !
Poconé !

Fonte: Base de Dados do Banco Central do Brasil, 1995. Impresso em 13/04/1999; AMLOGSPO. 0
KM
100 200
São Paulo !

Organizado por Lia Osório Machado - Departamento de Geografia - UFRJ.
Lia Osorio Machado 135

Conclusões

1. O termo “Amazônia” é uma herança a urbanização, a evolução dos subsis-


do século XIX, quando a valorização temas urbanos regionais é igualmente
da borracha pelo mercado interna- dependente do destino particular de
cional levou à representação da área cada cidade.
de ocorrência da floresta pluvial como
região natural, unitária e homogênea. 4. Sem os planos diretivos, os subsídios
Embora já se soubesse naquela época e as ações diretas do governo federal,
da grande heterogeneidade da flores- não haveria a “fronteira amazônica”
ta, essa noção prevaleceu graças ao como é conhecida hoje. Por outro
direcionamento exclusivo do olhar lado, não se pode atribuir à ação do
dos especuladores para a extração da Estado-governo o processo efetivo de
borracha. Hoje essa representação povoamento. Este é o produto de uma
não corresponde mais às condições ordem espontânea, resultante das co-
concretas de ocupação. nexões entre as atividades 5 do sistema
de povoamento e a ação das institui-
2. A urbanização mostra o grau de com- ções governamentais.
plexidade dos processos que atuam
sobre a evolução do sistema de po- 5. Se de um lado as interações internas
voamento regional. Não há uma única ao sistema de povoamento tendem a
rede urbana, mas múltiplas redes ur- reforçar a estrutura hierárquica urba-
banas locais, provavelmente induzidas na, inclusive com a permanência de
pela segmentação do mercado de uma estrutura urbana primaz, de
trabalho regional em bacias de mão- outro, são limitadas pela dificuldade
de-obra, que acompanham a polari- de comunicação ainda prevalecentes
zação das atividades produtivas em na região. Contudo, a comunicação
certos subespaços regionais. com o restante do país e com o exte-
rior é relativamente mais fácil devido
3. A teoria dos sistemas evolutivos com- em grande parte ao poder das grandes
plexos permite explicar a diversidade empresas, públicas e privadas, que co-
de padrões evolutivos de urbanização mandam as redes conectivas desde
identificados na Amazônia brasileira, fora da região. A seleção dos lugares
na medida em que interpreta essa di- que integram essas redes é guiada
versidade como o produto de adap- muito mais pelas estratégias dessas or-
tações particulares ao “ambiente”. ganizações do que pela racionalidade
Embora existam determinações eco- da rede urbana implantada.
nômico-políticas gerais atuando sobre

5
O termo “atividades” é definido aqui como movimentos de contração ou de expansão dos
mercados, de comunicação/interação entre elementos do sistema, que levam à sua degrada-
ção ou ao aparecimento de processos de auto-organização.
136 Urbanização e Mercado de Trabalho na Amazônia Brasileira

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