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FICHAMENTO

Referência: PAULINO, Graça. Formação de leitores: a questão dos cânones literários. In:
GAMA-KHALIL, Marisa Martins; ANDRADE, Paulo Fonseca (Org.). As literaturas infantil
e juvenil ... ainda uma vez. 1.ed. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2021, p. 15-29.

- Questionamento dos cânones literários pelos Estudos Culturais (1970) – alternativa


ao modelo epistemológico hegemônico que procurou valorizar as minorias (negros, mulheres,
miseráveis, homossexuais, loucos).
- Perspectiva multiculturalista - deixa de “focalizar a produção e a recepção modelares
de Homero, Dante ou Joyce, construídas pela tradição [...] para pesquisar as leituras da Bíblia,
de livrinhos de bolso, de panfletos revolucionários e de publicações alternativas”. (PAULINO,
2021, p.15).
- Em defesa do cânone, alguns pesquisadores, como Italo Calvino (1990), Harold
Bloom (1995), Heloísa Buarque de Hollanda (1990), Todorov e Genette, retomam as
qualidades canônicas dos textos literários.
- Textos modelares destacam-se nas modalidades de construção (trabalho de
linguagem e modo de contar) e de significação (narrativa social e relevante que pode ampliar
os mundos vividos e imaginados pelo leitor). Tais modalidades estão imbricadas no texto
narrativo.
- Na narrativa popular oral, dado seu caráter coletivo, os cânones de significação se
sobrepõem aos de construção; em que os aspectos formais ficam em segundo plano. Já nas
literaturas eruditas de vanguarda, os cânones de significação são dominados pelos cânones de
construção, dado ao eixo linguístico-formal do texto.
- Não é possível definir os cânones apenas pelas instâncias de produção.
- Bloom (1995) aponta que o cânone, originalmente, estava atrelado à escolha de livros
nas instituições de ensino. Tendo em vista isso, é preciso pensar criticamente na formação dos
professores, que até os anos 70, pautava-se no cânone da literatura brasileira. Considerando
que os clássicos eram lidos na educação básica e, nos cursos de Letras, havia um
aprofundamento por meio da historiografia literária.
- Na década de 80, houve a dominância de novos cânones multiculturalistas de
significação, e em consequência, a negação dos cânones estéticos. Assim, documentos
culturais tornavam-se textos literários, pois os critérios de qualidade, de construção e de
significação foram ignorados.
- No final do século XX, gradativamente, a teoria literária e a historiografia eram
trocadas pela Literatura Comparada, de modo que “os Estudos Culturais tomassem o lugar do
trabalho textual e intertextual que levava em conta efeitos da qualidade estética” (PAULINO,
p.19). Houve a internacionalização das manifestações culturais, todavia foram ignoradas
questões específicas da produção e recepção dos textos literários. Enquanto isso, as esquerdas
das universidades brasileiras voltam-se para as produções literárias latinas e africanas e
negavam os posicionamentos de cunho político-social da nova historiografia, ignorando o
estabelecimento de conexões com base nas diferenças.
- Em 1983, Lígia Chiappini critica o autoritarismo de professores que enxergam a
literatura como letra morta e a ritualização das aulas ao trabalhar com os textos literários como
saberes instituídos e inquestionáveis. A professora preocupa-se com a renovação e
democratização do ensino de literatura no Brasil e questiona a restritiva e autoritária
escolarização dos cânones literários, sem, contudo, repudiar a legitimidade das obras
canônicas.
- É preciso tomar cuidado com as produções paradidáticas e pedagogizantes em
relação aos cânones escolares, formados por romance de enigma e romance-ternura, com
histórias comoventes, excluindo as histórias satíricas ou de denúncia social; valorizando a
linearidade da narrativa e o desfecho feliz. Desse modo, a leitura de literatura na escola
distancia-se da preferência dos alunos e, por isso, é ignorada.
- “Os modos escolares de ler literatura distanciam-se de comportamentos próprios da
leitura literária, assumindo objetivos práticos, que passam da morfologia à ortografia sem
qualquer mal-estar”. (PAULINO, p. 23).
- Formar um leitor literário implica em ensiná-lo a escolher suas leituras e usar
estratégias de leituras para cada texto: “como democratizar gostos e habilidades tão refinadas”.
(PAULINO, p.23).
- O crítico português Diogo (1994), aponta que a democratização do acesso de crianças e
jovens às obras literárias, geralmente, são esvaziadas de boa literatura e de formação estética.
- “Eis a grande questão no ensino de literatura: os cânones literários possivelmente
ficaram distantes do gosto (consumista?) dos jovens estudantes”. (PAULINO, p.26). E,
também, estão distantes do gosto dos professores, que geralmente não são leitores literários.
- Textos de boa qualidade para leitores jovens são raros. Assim, deve haver um
desenvolvimento do repertório literário, em que os leitores possam se distanciar das propostas
de consumo da literatura apenas como mercadoria.
- “O letramento literário, como outros tipos de letramento, continua sendo uma
apropriação pessoal de práticas sociais de leitura/escrita, que não se reduzem à escola, embora
passem por ela”. (PAULINO, p. 27).
- “Na escola ou fora dela, a experiência estética, na qual se inclui a leitura
literária, compondo o letramento, esse processo ininterrupto e sempre imperfeito de
formação da
identidade, está sendo mais valorizada neste novo século, como modo de humanizar as
relações enrijecidas pela absolutização das mercadorias”. (PAULINO, p. 27).

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