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v4n9 Erradicacao H Pylori
v4n9 Erradicacao H Pylori
de medicamentos:
09
temas selecionados
Resumo
A identificação de Helicobacter pylori como agente
causal ou associado a úlcera péptica, dispepsia
funcional e câncer gástrico deu novo rumo ao
tratamento e prevenção dessas condições. A
terapia de erradicação é eficaz quando usada em
esquema tríplice que combina dois antibacterianos
e um inibidor da bomba de prótons, embora haja
variações bacteriológicas e geográficas. Esquemas
alternativos são necessários diante de resistência
microbiana ou refratariedade ao tratamento. Em
saúde pública, o uso de terapia de erradicação gera
aumento de custo que é suportável. Entretanto a terapia pode associar-se a esofagite de refluxo,
o que deve ser pesado na adoção de políticas de saúde destinadas à população em geral.
Introdução
*Lenita Wannmacher é médica e professora de Farmacologia Clínica, aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade de Passo Fundo, RS. Atua
como consultora do Núcleo de Assistência Farmacêutica da ENSP/FIOCRUZ para a questão de seleção e uso racional de medicamentos. É membro do Comitê de Especialistas
em Seleção e Uso de Medicamentos Essenciais da OMS, Genebra, para o período 2005-2009. É autora de quatro livros de Farmacologia Clínica.
Outro ensaio clínico randomizado e controlado Além da questão do custo da terapia, há também
por placebo11 avaliou o impacto da erradicação de preocupação com os malefícios da erradicação. O
H. pylori em sintomas e qualidade de vida de 1558 efeito protetor do H. pylori em refluxo gastresofágico
pacientes com dispepsia e teste positivo para a bac- tem sido largamente cogitado. As medidas de erradi-
téria, dos quais 99% foram seguidos por dois anos. cação na população em geral previnem a ocorrência
O grupo intervenção recebeu ranitidina-citrato de de dispepsia não-ulcerosa, úlcera péptica e câncer
bismuto mais claritromicina por 14 dias. No grupo da gástrico, mas aumentam a prevalência de DRGE.
erradicação, 35% menos participantes consultaram
Estudo brasileiro16 avaliou o risco de refluxo em 157
por dispepsia em dois anos comparativamente ao
pacientes dispépticos em tratamento para infecção
grupo placebo (55/787 vs. 78/771; OR: 0,65; IC95%:
por H. pylori. Os pacientes foram randomizados para
0,46 – 0,94; P = 0,021; NNT = 30) e 29% menos
receber lanzoprazol, amoxicilina e claritromicina ou
participantes tiveram sintomas regularmente (OR=
lanzoprazol e mais dois placebos (grupo controle). A
0,71; IC95%: 0,56 – 0,90; P = 0,05). Não ocorreu
erradicação ocorreu em 90% no grupo da antibioti-
diferença de qualidade de vida entre os dois grupos.
coterapia e 1% no grupo controle. Após três meses
Os benefícios devem ser cotejados com os custos de seguimento, esofagite foi diagnosticada em 3,7%
da erradicação. do grupo intervenção e 4% no grupo controle (P >
Estudo brasileiro12 realizado em 91 pacientes com 0,2). Aos 12 meses, as diferenças entre os grupos
dispepsia não-ulcerosa e positividade para Helicobac- continuaram não significativas (P > 0,2) em relação
ter pylori mostrou apenas tendência na melhora de à esofagite de refluxo. Logo, esofagite de refluxo não
sintomas com a erradicação (P = 0,164) em compa- se associou à erradicação de H. pylori.
ração ao controle durante um ano de seguimento. Em outro estudo17 realizado em pacientes com do-
Revisão Cochrane13 de 21 ensaios clínicos rando- ença renal em estágio final à espera de transplante,
mizados e em paralelo evidenciou redução de risco a erradicação com esquema tríplice (omeprazol,
relativo de 10% no grupo da erradicação (IC95%: claritromicina e amoxicilina por 7 dias) não acar-
6%-14%) em comparação a placebo. O NNT para retou diferenças significativas em relação a gastrite
curar um caso de dispepsia foi 14 (IC95%: 10-25). erosiva hemorrágica em comparação a pacientes
Um modelo econômico sugeriu que esse modesto não-tratados ou nos que eram H. pylori negativos.
benefício ainda seja custo-efetivo, mas mais pesquisa Ao contrário, a terapia foi protetora contra o
se faz necessária. aparecimento de úlceras gástricas e duodenais em
comparação a pacientes não-tratados (1 vs. 5; P =
O papel da infecção por H. pylori na carcinogênese 0,05). Assim, a erradicação pode ser útil a pacientes
gástrica também deve ser considerado no impac- imunodeprimidos após transplante renal.
Conclusões
• A terapia de erradicação de H. pylori é eficaz em suprimir ou melhorar as condições associadas à
infecção por essa bactéria (úlcera péptica, dispepsia funcional e, possivelmente, câncer gástrico).
• Terapia quádrupla e outros esquemas alternativos são usados quando há refratariedade ou resis-
tência microbiana ao esquema de primeira linha.
• Terapia de manutenção com inibidores da bomba de prótons não é necessária após a erradicação
do H. pylori.
• Como adjuvantes da antibioticoterapia, inibidores da bomba de prótons têm sido preferidos atu-
almente, mas não se evidenciam diferenças significativas entre os vários representantes.
© Organização Pan-Americana da Saúde/ Uso Racional de Medicamentos: Temas Selecionados é Coordenação da publicação / Revisão de Texto:
Organização Mundial da Saúde - Brasil, 2007. uma publicação da Unidade Técnica de Medicamentos Orenzio Soler (OPAS/OMS). Texto e pesquisa: Lenita
Todos os direitos reservados. e Tecnologias da Organização Pan-Americana da Saúde/ Wannmacher (UPF-RS/Membro Efetivo do Comitê
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