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CAPÍTULO

1
Conceitos e Nomenclatura
Silvia Gonzalez Monteiro

pedeiros. Por exemplo, artrópodes (ácaros e insetos)


CONCEITOS EM PARASITOlOGIA
como bernes, carrapatos, pulgas.

Parasito
Tem origem grega, significa ser que se alimenta de
Infecção
outro ser (hospedeiro). É a invasão de um hospedeiro por organismos (virus,
Individuo que necessita de outro ser para ler baclérias, protozoários, helmintos). Termo utilizado
abrigo, alimento, para reproduzir e perpetuar a es­ para endoparasitos (pode ocorrer infecção sem
pécie. A relação parasito-hospedeiro é muito impor­ haver manifestação de doença).
tante, por exemplo:

• Acantocéfalos e cestódeos: tém uma depen­ Infestação


dência de 100% do hospedeiro, pois necessitam
deles para sua nutrição. É o estado ou condição de ser infestado, restrito à
• Nematoides: têm uma dependência menor, presença de parasitos externos. Termo utilizado para
ectoparasitos.
pois possuem tubo digestivo e obtêm seu 02
no próprio hábitat.

° parasito é sempre beneficiado e o hospedeiro TIPOS DE PARASITOS


prejudicado.

Quanto à sua Relação


com o Hospedeiro
Endoparasitos
Vivem dentro do hospedeiro. São aqueles que têm
Obrigatório
contato profundo com tecidos e órgãos dos hospe­ Organismos incapazes de ter vida livre.
deiros. Por exemplo, helmintos e protozoários. Aquele que precisa de um hospedeiro para so­
breviver. Por exemplo, Taxap/asma.

Ectoparasitos Facultativo
Vivem na superfIcIe ou em cavidades do hospedeiro. Aqueles seres que podem ou não viver parasitando,
São aqueles que têm contato com a pele dos hos- ou seja, têm fase de vida livre. Por exemplo, as
2 - Conceitos e Nomenclatura

moscas da família Calliphoridae (as moscas são Paratênico OU de Transporte


atraidas pelo exsudato das lesões, botam ovos,
eclodem as larvas que se alimentam do tecido ne­ É o ser vivo que serve de refúgio temporário para
crosado). Normalmente essas larvas são encontra­ o parasito e atua como hospedeiro de transporte.

das em cadáveres. É aquele que alberga o parasito. Entra no ciclo por


acidente. Por exemplo, os ratos no ciclo de Taxa­
cara cal/is ingerem ovos no ambiente e albergam
Acidental
as larvas do verme nos seus tecidos. Se o rato for
Acidentalmente entra em contato com o hospedeiro, ingerido por um cão (hospedeiro definitivo do T.
porém não evolui nele. Aquele que vai a outro lugar cal/is), este adquire o parasito que se desenvolve
que não o ideal e fica por acaso. Por exemplo, larva no seu interior.
migrallS cutânea no homem causada pela forma Não são essenciais para a continuação do ciclo,
larval de AI/cylastoma cal/iflllm (parasito do cão). mas facilitam a transmissão do parasito para seus
Parasitam um hospedeiro diferente do seu habitual. hospedeiros. H

Reservatório
Quanto à Permanência
Seres responsáveis pela sobrevivência do parasito.
no Hospedeiro d
O parasito dificilmente causa doença nesse hospe­
o
deiro. Por exemplo, a capivara é um reservatório
Temporário e
do T. eval/si.
Uma ou mais formas evolutivas do parasito procu­
ram o hospedeiro somente para se alimentar. Por
Vetor
exemplo, pulgas e mosquitos.
Termo usado para artrópodes.
Podem ser:
Permanente
Todas as suas fases de vida alimentam-se e se repro­ • Vetores mecânicos: meros transportadores. Não
duzem no hospedeiro. Dependem do hospedeiro há desenvolvimento do parasito. Por exemplo,
para sobreviver. Por exemplo, sarnas. o ácaro Macrocheles usa um besouro para se
transportar.

Periódico • Vetores biológicos: são como um HI, pois vai


haver um desenvolvimento do parasito. Porexem­
Apenas em uma fase de sua vida alimenta-se no pIo, a mosca do beme ovipõe na mosca de está­
hospedeiro. Por exemplo, carrapato, beme, miíase. bulo e passa de ovo à larva.

São essenciais para a sobrevivência do parasito.


Quanto ao Tipo de Hospedeiro Se o vetor for eliminado, o parasito é erradicado.
Por exemplo, malária. O Plasmodillm é dissemina­
Definitivo (HD) do pelos mosquitos que são os vetores biológicos,
se os mosquitos fossem extintos, não existiria mais
É aquele onde o parasito é encontrado na sua forma
a doença.
adulta, é onde ele alcança sua maturidade sexual.
Em protozoários, ele se encontra na fase sexuada.

Quanto ao Número
Intermediário (H I)
de Hospedeiros
É aquele onde se encontra a forma imatura do para­
sito. Em protozoários, ele se encontra na fase assexua­
Monoxeno ou Direto
da. O parasito não consegue alcançar sua maturidade
sexual nesse hospedeiro. Por exemplo, AI/opheles (HI Infesta ou infecta diretamente seu HD, sem neces­
do Plasmodillm). sitar de HI. Por exemplo, Haemol/c/llIs. e
Conceitos e Nomenclatura - 3

Heteroxeno ou Indireto Ação de Transmissão


Quando existem dois ou mais hospedeiros. Por exemplo. Hospedeiros transmitem agentes patogênicos. Por
ciclo de Fasciola (uma parte do ciclo o parasito passa exemplo. carrapato transmitindo Babesia.
no interior de um moluscoeaoutraem um vertebrado).

Quanto ao Período de Parasitismo


Quanto à Especificidade
dos Parasitos Período Pré-patente (PPP)
Vai do momento da infecção até a maturidade se­
Estenoxenos (Esteno = Estreito) xual. quando inicia a eliminação de ovos. cistos.
oocistos ou larvas. Corresponde ao período de ín­
Quando são muito específicos. só aceitam aquele cubação da doença no animal.
hospedeiro. Por exemplo. Plasmodilllll.

Período Patente (PP)


Eurixenos (Eury = Amplo)
Vai da fase adulta até o fim da vida dos parasitos ou
Quando são pouco específicos. tendo uma varieda­
fim da infecção. Em protozoários. é a fase de repro­
de de hospedeiros. Por exemplo. ToxoplaslIla gOl/dii dução sexuada. É o período em que os parasitos são
ou Fascíola hepatica que podem parasitar várias facilmente diagnosticados através dos seus ovos.
espécies animais. cistos. oocistos ou larvas. Geralmente coincide com
o período de sintomas da doença no anímal. Ter­
mina quando as fases citadas anteriormente não
Oligoxeno (O/igo = Pequeno)
são mais encontradas nos exames.
Os hospedeiros têm que ter parentesco. normal­
mente estando na mesma familia. A especificidade
é limitada. Por exemplo. Ecl,il/ococClIs gral/ll/oslIs
pode ser encontrado no cão e lobo. ambos mamí­
ClASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS
feros agrupados na família Canidae.
Necessidade
Surgiu a partir da necessidade de distribuir os seres
Quanto à Ação do Parasito em grupos unidos. segundo as suas afinidades.

sobre o Hospedeiro Pode ser artificial ou natural.

Ação Mecânica
Classificação Artificial
o Obstrução: como o de Toxocara. este parasito
forma bolos de vermes no intestino e o obstrui. Não é mais utilizada. era intuitiva. apoiada em
o Compressão: como a do Coel/llms cerebralis. características de certos órgãos estudados e esco­
que confonne vai crescendo vai comprimindo lhidos aleatoriamente pelo pesquisador. Levava em
o cérebro. causando perturbações neurológicas consideração principalmente a morfologia externa
e funcionais. do ser. Os critérios para classificação eram diversos.
alguns pesquisadores classificavam os animais de
acordo com o seu modo de locomoção. outros con­
Ação Espoliadora
forme o ambiente em que ele vivia. Por exemplo.
Sequestram nutrientes e fiuidos do hospedeiro tor­ as moscas e urubus eram classificados como animais
nando-o abatido. apático. magro e alvo fácil de outras
aéreos. já que ambos voam.
doenças. Por exemplo. Haemol/chlls.

Ação Inflamatória/Irritante Classificação Natural


Ocorre pela penetração ativa de larvas na pele. Por É científica. leva em consideração os dados filogené­
exemplo. StfOllgyloides papi/loslIs. ticos. fisiológicos. anatõmicos. ontogênicos. bio-
4 - Conceitos e Nomenclatura

geográficos e de morfologia externa. procurando cies que possuem muitas características morfoló­
evidenciar as diferenças e as relações de parentes­ gicas e funcionais semelhantes e ancestrais comuns
co entre os seres vivos. Atualmente. as classificações muito próximos. Consiste em somente uma palavra
são naturais, pois procuram agrupar os seres vivos. que deve ser escrita grifada ou em itálico ou em ne­
de acordo com o maior número possível de seme­ grito. diferente do restante do texto. Por exemplo. Fe/is.
lhanças, tentando estabelecer relações de parentesco
evolutivo entre os mesmos.
O atual sistema de classificação dos organismos
Grupos Superiores ao Gênero
considera a espécie como a unidade de classificação • Família: termina sempre em idae. Conjunto de
e pode ser definida como sendo "um grupo de or­ gêneros que mantêm entre si muitas afinidades
ganismos que se acasalam na natureza e cujos e algumas caracteristicas comuns. No caso da
descendentes são férteis". existência de familias com caracteres seme­
lhantes e comuns aos de outras familias. a
reunião destas constitui uma ordem. "

Divisões • Ordem: conjunto de famílias. As diversas ordens
x
.
.:..
podem reunir-se formando uma classe. 
Espécie • Classe: conjunto de ordens.
• Ramo ou Filo: conjunto de classes.
É a reunião de indivíduos que possuem caracterís­
ticas semelhantes e que ao se reproduzirem trans­
É composto por cinco Reinos, foi proposto em
mitem à sua descendência esses mesmos caracteres,
1969 pelo biólogo norte-americano R. H. Wittaker
dando origem assim a novos indivíduos igualmente
e é utílizado até hoje:
semelhantes. É composta de duas palavras. sendo a
primeira escrita com a primeira letra em maiúscula
• Reino Animalia: todos os animais desde as
e a segunda palavra escríta toda em minúscula.
esponjas até os mamíferos.
Ambas devem estar grifadas ou em negrito ou em
• Heino Plantae: desde algas pluricelulares até
itálico. diferentes do restante do texto. Por exemplo.
angiospermas.
Felis catlls - gato.
• Reino Fungi: todos os fungos.
• Reino Protista: algas unicelulares e protozoários.
Variedade ou Raça • Reino Manera: bactérias e cianobactérias.

É influenciada por fatores do meio ambiente. como


clima e alimentação. É uma variação. que se perpe­ Termos Intermediários
tua através das gerações. de um ou mais grupos
Em alguns casos. há a necessidade de agrupamen­
dentro de uma mesma espécie. Este grupo ou gru­
tos intermediários para a classificação. Os termos
pos recebem o nome de variedade ou raça.
mais frequentes são:
Pode desaparecer ao modificar o meio em que
vivem.
• Filo - subfilo.
Por exemplo. focinhos longos ou curtos. em
• Classe - subclasse.
determinadas raças de cães.
• Ordem - subordem
• Superfamília - familia - subfamília.
Subespécie • Gênero - subgênero.

Formas intermediárias entre espécie e variedade. • Espécie - subespécie - variedade.

Grupo de indivíduos que apresenta dentro da espé­


cie alguma característica particular que se transmi­
te por herança. Por exemplo, Fe/is CatllS domesticlIs.
REGRAS INTERNACIONAIS DE
Gênero NOMENClATURA ZOOLÓGICA
A reunião de espécies chama-se gênero. O gênero É a nomenclatura utílizada para impedir confusões
consiste no agrupamento de um conjunto de espé- na descrição científica dos seres. é universal.
Conceitos e Nomenclatura - 5

No Hrasil, existeln várias denominações para o


Parênteses
cachorro. Ele pode ser chamado de cão, cusco, vira­
lata, etc. Isso também acontece em outros países, o O nome de um subgênero é escrito dentro de parên­
que gera confusão ao querer descrever determinado teses, entre o nome genérico e o nome específico.
animal. Por esse motivo, visando facilitar a comu­ Por exemplo, Heterakis (Heterakis) galliIUlI'lllIl, Da­
nicação entre as pessoas foi criado o sistema de l11alillia (/louico/a) bOl'is.
nomes científicos para designar as espécies de seres.
O sistema de nomenclatura de espécie é binomial,
isto é, composto por dois nomes escritos em latim, Outras Considerações
ou latinizados:
A nomenclatura deve ser em latiTn ou latinizada:

• O primeiro nome refere-se ao gênero e deve ter • Um nome específico dedicado a urna mulher
a inicíalcom letra maiúscula, por exemplo, ClIllis. deve ternlinar em -ae e se for para homem em
• O segundo nome é o epíteto específico e deve -i. Por exemplo, clll'feri - rll/lwe.
ser escrito com inicial nlinúscula, por exemplo, • O nome de uma suhfamília é formado acres­
familiaris. centando-se -infle. Por exemplo, Culicinae.
• Os dois juntos formam o nome da espécie, por • O nome de família é formado acrcscentando­
-se -idae. Por exemplo, Eimeriidac.
exemplo ClIllisfamiliaris, que éo cão doméstico.
• O nome de uma superfamília deve ter a ternli­
nação -oidea. Por exemplo. Strongyloidea.
Os nomes científicos devem ter grafia diferenciada
• Tribo deve terminar enl -fni. Por excluplo. Ano­
no texto. Se este for manuscrito, deve-se passar um
phelini.
único traço ernbaixo do nome. Se for ilnpresso pode­
se, por exemplo, deixar a letra em itálico ou negrito. LEITURA RECOMENDADA
A.\10RL\1, D. S. Elemelltos Básicos de Sistemática FiJogenética.
2. ed. Ribeirão Preto: lIolos. 1997.2761'.
A10RI1, D. S. Fundamentos de Sistemática FiJoge1lética. Ri.
Uma só Palavra (Uninominal) beirão Preto: Holos. 2002. 3t4p.
BtJZZI, Z. ].; 1IYA7..AKI. H. O. flltom%gia didática. Curitba:
O nome de um grupo superior à espécie sempre pos­ Editora tJFPH. 1993.2621'.
sui apenas uma palavra. Por exemplo, Necator(gênero), FOnTES, E. Parasitolagia Veterinária. 4. ed. São Paulo: Ícone
Editora, 600 p. 2004.
Ancylostomidae (familia), Strongyloidea (superfamilia),
IIENNIG, W. Pllylogenetic S)'stemalics. Urbana. Universil)' or
Nematoda (classe). llIinais Press, 1966. 263p.
IIICDtA IH .. C. P; ROBERTS, I.. S.; IARSOi\, A. Prillcípias
llltegrados de Zoologia. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan.
2004.872 p.
Duas Palavras (Binominal) PAPAVERO, r\. FUlldamemos Práticos de TaxollomiaZoológica:
coleções. bibliografia, nomenclatura. 2. l'd. São Paulo:
O nome de espécie é composto por duas palavras. Por EDtJNESP. 1994. 286(l.
HUPPEHT, L L; rox, H. 5.: BAH:-lES, H. D. Zoologia dos III/'er.
exemplo. Neca/or americallllS, AIlLy/ostoma canilllim.
tebrados. 7. ed. São Paolo: Hoca, 2005. 11681'.
SClIIEL. 0.; VASCO:-lCELLOS. L A. S.: AI.BAi\O. L. I.. 1. et aI.
Ciências para professores de ensino fundamcntal- módu­

Três Palavras (Trinominal) lo: seres \;\'Os. CDCC - USP. 2000. 72 (l. [cited 2008 maio
051. Avaliable fTOm: http://educaLsc.usp.br/ciencias/
sere5_\;\.051 apostila_seres_\;\,05- .pdf.
O nome de subespécie é composto por três palavras. SIIPSOr\. C.c. Princípios de TaxoflomiaAllimal.l.i5boa: Foun­
Por exemplo, Hymello/epis Ilalla fraterna. dation C. Gulbenkian. 1989.2541'.

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