Você está na página 1de 31

Estudos Sociais e

Ambientais

A Urbanização
Brasileira:
a lógica da desordem

Profa. Dra. Simone Polli


A rápida urbanização no período
1960-2000.
Transformações da população brasileira

100
% da população

80
pop urb
60
pop rural
40

20

0
1960 2000
A urbanização brasileira
A rápida urbanização,
impulsionada pela
industrialização, provocou um
grande processo migratório e
inchaço das cidades. No
entanto, essa urbanização foi
marcada pela industrialização
com baixos salários, o que
contribuiu para a formação http://avozdavitoria.blogspot.com/2009/01/crise-
das regiões periféricas, pode-colocar-o-brasil-no-caminho.html

distantes e precárias nas


grandes metrópoles.
A crise econômica dos anos 1980.
Nos anos 1980 e 1990, o desemprego (decorrente do processo de
automação ou da destruição de um parque industrial outrora protegido por
barreiras alfandegárias) e a agenda do ajuste estrutural (que limitou o
gasto público, reduzindo as possibilidades de distribuição de benefícios)
transformaram a geografia urbana das cidades. As grandes áreas da
produção fordista foram sendo substituídas por uma economia de fluxos, tipo
flexível que desterritorializou grandes áreas, deixando áreas urbanizadas vazias,
muitas vezes contaminadas. Por outro lado, o território popular se densificou,
sobre uma base urbanística frágil.

http://www.encontra
mooca.com.br/mooc
a/
Modelo das cidades brasileiras:
O modelo de exclusão territorial que define a cidade
brasileira é muito mais do que a expressão das diferenças
sociais e de renda, funcionando como uma espécie de
engrenagem da máquina de crescimento que, ao produzir
cidades, reproduz desigualdades.

Mais do que evocar progresso ou


desenvolvimento, as cidades brasileiras
reproduzem as injustiças e
desigualdades da sociedade.
http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/conteudo/
metro/metro_20.htm

http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/mapas/113
.jpg
Urbanização com desigualdade
urbanística
“No início do século
XXI, o processo de
urbanização já
começa a perder
velocidade, mas a
desigualdade e a
pobreza são um fato
nas cidades”.

http://www.joildo.net/imagem/006-contraste-paraisopolis-
morumbi/
“Em cada município caracterizado pelo crescimento e pela
dinâmica urbana, as qualidades urbanísticas se
acumulam em setores restritos, locais de moradia,
negócios e consumo de uma minoria da população
moradora. Essas áreas, ditas “de mercado”, são reguladas
por um vasto sistema de normas, leis e contratos, que tem
quase sempre como condição de entrada a propriedade
escriturada e registrada.

Para as maiorias, sobram as terras que a legislação


urbanística ou ambiental vetou para a construção ou não
disponibilizou para o mercado formal, ou os espaços
precários das periferias e as viagens cotidianas “à cidade””
(Raquel Rolnik, Le Monde Diplomatique Brasil).
Favela Real Parque e edifícios residenciais do bairro Morumbi em São Paulo (2005).
Fonte: Tuca Viera, Folha Imagens. Almanaque Brasil Socioambiental 2008, p. 69.
Disponível em:
http://www.socioambiental.org/inst/pub/detalhe_down_html?codigo=10297.
Em geral a cidade divide-se entre:

1. Uma porção rica, provida de infraestrutura e

de equipamentos públicos.

2. Região ilegal, pobre, precária com poucos/

desprovida de investimentos públicos.


http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov
http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/c
.br/conteudo/metro/metro_20.htm
onteudo/uso_do_solo/uso_25.htm
Conjunto habitacional em Cidade
Tiradentes (SP), 2002. Foto: Sérgio
Condomínios Fechados no Morumbi. Andrade. Folha Imagem. Fonte:
Urbanismo com qualidade ambiental. Almanaque Brasil Socioambiental 2008, p.
http://primeproperty.catenaecastro.com.br/im 396. Disponível em:
oveis/condominio-heliponto http://www.socioambiental.org/inst/pub/detalh
e_down_html?codigo=10297.
A reprodução da desigualdade
À medida que moram e transitam nos locais desqualificados,
violentos e com poucos empregos na cidade, os mais pobres
acabam tendo pouco acesso às oportunidades de trabalho, cultura
e lazer que a cidade oferece. Por outro lado, aqueles que
conseguem viver “do lado de dentro” (em geral os mais ricos) têm
muito mais facilidade de acesso às oportunidades, inclusive
aquelas decorrentes de investimentos públicos, pois bibliotecas,
museus, universidades públicas situam-se nas porções mais
consolidadas da cidade, que são quase sempre povoadas pelos
mais ricos. Ao delimitar as fronteiras que separam os
regulares/formais dos irregulares/informais, o modelo de exclusão
territorial que define a cidade brasileira é muito mais do que a
expressão das diferenças sociais e de renda, funcionando como
uma espécie de engrenagem da “máquina de crescimento que, ao
produzir cidades, reproduz desigualdades”.
Modelo de exclusão territorial das cidades

http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/olhar/ p. 19.
http://atlasambiental.prefeitura.sp.
gov.br/conteudo/meio_fisico/meio_
01.htm
Bairro Vista Alegre, próximo à Serra da Cantareira, Zona Norte da cidade de São Paulo, 2001. Fonte:
Lalo de Almeida. Almanaque Brasil Socioambiental 2008, p. 380.Disponível em:
http://www.socioambiental.org/inst/pub/detalhe_down_html?codigo=10297.
O mercado imobiliário reafirma essa
divisão:
Pobres para um lado e ricos para outro. E os
espaços de contato entre os diferentes grupos tem
sido cada vez mais mediados por aparatos de
vigilância e segurança.

http://www.uff.br/arqviol/imgs/SP_ALTO_B http://www.uff.br/arqviol/imgs/SP_ALTO_BV_
V_Rua_Cassiano_Ricardo_20%20(6).jpg Rua_Cassiano_Ricardo_20%20(5).jpg
O papel dos investimentos públicos
Nas áreas
ricas, os
investimentos
acabam
valorizando
ainda mais o
patrimônio
daqueles que
já detêm o
capital
imobiliário.
Foto 1: peetssa http://girame.wordpress.com/ Abril 16, 2008 by gira.
Nas partes pobres, quando o investimento chega – em geral, muitos anos
após a chegada da população – a valorização acaba expulsando os
moradores para mais longe ainda.

Fotos: www.terra.com.br
Os moradores de Real
Parque protestam contra
a remoção

Manifestação Real Parque. Fotos


divulgadas no Fórum Centro Vivo

Fotos: Filipe Araújo/AE


Conjunto popular começa a ser
erguido em área valorizada de SP.
Fonte:Folha de São Paulo,
08/02/2011. Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/saopa
ulo/871033-conjunto-popular-
comeca-a-ser-erguido-em-area-
valorizada-de-sp.shtml.

Operação Urbana Água


Espraiada

A desproporção entre o
NÚMERO de unidades
previstas nesse conjunto,
240 e o número de pessoas
expulsas das favelas na área
(em torno de 50 mil), por si só,
comprova que apesar do bela
solução arquitetônica o projeto
não pode ser considerado
uma “boa prática”, devido a
exclusão de grande maioria
da população para as áreas
de mananciais (Fix, Mariana.
Parceiros da Exclusão,2001)
A ocupação predatória
Uma vez expulsa dos locais valorizados pela infraestrutura,a
população de baixa renda tem como única alternativa
reiniciar o processo: ocupar locais ainda mais distantes e
desprovidos de investimentos – e por isso mesmo baratos – e
retornar à humilhante negociação pela chegada da infra-
estrutura e dos equipamentos públicos, enquanto constrói
aos poucos suas casas. Esse é um dos fatores que acabam
por estender a cidade indefinidamente: sob esse modelo, ela
nunca cresce para dentro, aproveitando locais que podem ser
adensados, pois é impossível para a maior parte das pessoas
o pagamento pelo acesso às terras que já dispõem de toda a
infra-estrutura instalada.
Disputas pela
apropriação do
território nas favelas
próximas à Marginal
Pinheiros

Mapa 1: Tiarajú Pablo


D´Andrea e João Alexandre
Peschanski, Jornal Brasil de
Fato, junho 2006
Papel dos investimentos do Estado em determinadas
regiões da cidade

Ao longo do tempo, conforme os imóveis vão


sendo vendidos pelos ocupantes originais e
comprados por outros grupos sociais. O mais
perverso é que essa valorização decorre,
muitas vezes, de anos de lutas e
reivindicações da população, que sofre
durante anos para obter cada centavo de
investimento público, em uma relação que
freqüentemente envolve clientelismo e troca
de votos com os grupos políticos.
A dimensão ambiental
As especificidades das áreas de interesse ambiental – beiras de córregos,
dunas, mangues, restingas, serras, áreas de mananciais, escarpas –
levam o poder público a declará-las como de uso restrito, provocando em
muitos casos uma grande desvalorização imobiliária, pois os preços
decorrem da possibilidade de edificação e uso dos terrenos. Uma vez
desvalorizados para o mercado formal, os territórios de interesse ambiental
acabam transformando-se em reserva de terras para os usos de baixa renda,
sobre as bases mais predatórias.

Ocupação desordenada na Bacia


Hidrográfica da Billings, área de
manancial da cidade de São
Paulo, 2004.Fonte: Monica
Monteiro Schroeder/ISA.
Almanaque Brasil Socioambiental
2008, p. 390.Disponível em:
http://www.socioambiental.org/in
st/pub/detalhe_down_html?codig
o=10297.
A “lógica da desordem”
“Desigualdade, segregação, periferização, degradação
ambiental geram efeitos nefastos para as cidades
como um todo – ainda que sejam os pobres os mais
afetados. Ao concentrar todas as oportunidades de
emprego, gera-se a necessidade de transportar
multidões, o que nas grandes cidades tem significado o
caos no transporte de todos. Quando a ocupação das
áreas frágeis do ponto de vista ambiental provoca as
enchentes ou a erosão, esses processos atingem a
cidade como um todo”.
A lógica da desordem: padrão insustentável
do ponto de vista ambiental e econômico.
1) A concentração das
oportunidades em um
fragmento da cidade e a
ocupação extensiva de
periferias cada vez mais
distantes impõem um
padrão de circulação e
mobilidade dependente
do transporte sobre
pneus e, portanto, de
alto consumo
energético e potencial
http://zabasim.blogspot.com/2011/03/o-governo-e-
poluidor. prefeitura-de-sao-paulo.htm
A lógica da desordem: padrão insustentável
do ponto de vista ambiental e econômico.
2) A ocupação das áreas
frágeis ou estratégicas
do ponto de vista
ambiental – como
mananciais de água,
complexos dunares ou
mangues – é decorrente
de um padrão extensivo
de crescimento por
abertura de novas
fronteiras e expulsão
permanente da
população mais pobre
http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/con
das áreas ocupadas pelo teudo/metro/metro_22.htm
mercado.
Deficiências do planejamento urbano
O planejamento urbano no
País nunca conseguiu dar
conta de resolver o problema
das cidades como um todo:
leis, planos e intervenções
quase sempre deixaram de
fora os mais pobres ou, pior
ainda, acabaram os
expulsando para as piores
partes das cidades.

http://atlasambiental.prefeitura.sp.gov.br/conteudo/
meio_fisico/meio_11.htm
Novos instrumentos de planejamento

-Aprovação do Estatuto da Cidade, em 2001, que


regulamenta os artigos 182 e 183 da CF;
-Criação do Ministério das Cidades;
-Criação do Conselho Nacional das Cidades,
2003;
-Nova geração de planos diretores em acordo com
as normas do Estatuto da Cidade;
- Definição do Direto à Cidade para todos os
habitantes;
Referências Bibliográficas:

CYMBALISTA, Renato. Urbanização. In: RICARDO, Beto.


CAMPANILLI, Maura (orgs). Almanaque Brasil Socioambiental
2008. São Paulo, 2007, Instituto Socioambiental, p. 380-390.
Disponível para download.
http://books.google.com/books?id=ggD3In5t_FIC&lpg=PA1&dq=alm
anaque%20brasil&pg=PA2#v=thumbnail&q&f=false.
http://www.socioambiental.org/inst/pub/detalhe_down_html?codigo=
10297

ROLNIK, Raquel. A lógica da Desordem. In: Le Monde


Diplomatique Brasil. Cidades à Beira do Colapso. São Paulo,
Agosto, Edição 13,2008. Disponível em:
http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=220
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Silvia Cristina Galana

Obrigada e bons
estudos!

www.cruzeirodosulvirtual.com.br

Campus Liberdade
R. Galvão Bueno, 868
01506-000
São Paulo SP Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000

Você também pode gostar