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“Joãos”: João das Neves e

seu arquivo
José Francisco Guelfi Campos
Marta Eloísa Melgaço Neves
Verona Campos Segantini

Resumo >

O artigo pretende discutir, partindo do ponto de


vista da arquivística, os desafios da abordagem do ar-
quivo de João das Neves, sob guarda da Biblioteca Uni-
versitária da Universidade Federal de Minas Gerais,
sondando as circunstâncias que orientaram o processo
de acumulação documental, para então vislumbrar seu
potencial para a compreensão da trajetória do artista.

Palavras-chave:
Arquivos pessoais. Grupo Opinião. Teatro.
“Joãos”: João das Neves e seu arquivo

José Francisco Guelfi Campos1


Marta Eloísa Melgaço Neves2
Verona Campos Segantini3

Nascido no Rio de Janeiro, em 31 de de-


1
Professor da Escola de Ci-
ência da Informação da Uni- zembro de 1934, João Pereira das Neves Filho
versidade Federal de Minas
Gerais. Doutor em História
traçou uma trajetória profissional de relevo,
Social pela Universidade de atestada pelos diversos prêmios que recebeu ao
São Paulo. E-mail: jfgcam-
pos@eci.ufmg.br. longo da carreira, entre os quais mais de um
2
Professora da Escola de Ci- Molière, que sem dúvidas o credencia não ape-
ência da Informação da Uni-
versidade Federal de Minas nas como um “grande nome” do teatro brasilei-
Gerais. Mestre em Ciência
da Informação pela Uni-
ro, mas também como um “artista completo”.
versidade Federal de Minas Polivalente, desempenhou diversas funções no
Gerais. E-mail: nevesmarta@
hotmail.com. campo das artes cênicas: atuou, dirigiu e pro-
3
Professora da Escola de duziu peças e shows, criou cenários, agrupou
Belas Artes da Universida-
de Federal de Minas Gerais. pessoas e articulou movimentos que se espraia-
Doutora em Educação pela
Universidade Federal de Mi-
ram para além dos palcos. Da Fundação Brasi-
nas Gerais. E-mail: verona-
segantini@yahoo.com.br.
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leira de Teatro, onde iniciou a for- da ao acervo da Divisão de Obras


mação de ator e diretor em meados Raras e Coleções Especiais da Bi-
da década de 1950, aos projetos blioteca Universitária da UFMG.
que desenvolveu a partir dos anos Desde então, o arquivo, de
1990, quando fixou residência no inegável relevância para pesquisas
estado de Minas Gerais, esteve li- a respeito da biografia do “homem
gado ao Centro Popular de Cultura de teatro”, da história do teatro
da União Nacional dos Estudantes, brasileiro e de questões próprias
dirigiu o Grupo Opinião, passou dos mais variados campos do co-
temporada na Alemanha (experi- nhecimento, vem servindo também
mentando o teatro radiofônico), como objeto de experiências didá-
deslocou-se para o Acre, onde arti- ticas conduzidas por professores da
culou a formação do Grupo Poron- Escola de Ciência da Informação e
ga, engajou-se em questões ligadas da Escola de Belas Artes da UFMG
ao meio-ambiente e intensificou no âmbito de disciplinas optativas
seu interesse pelas comunidades que visam a incrementar a forma-
indígenas e pelas manifestações ção dos alunos do curso de gra-
da cultura popular (ENCICLO- duação em Arquivologia e promo-
PÉDIA..., 2019; BATISTA, 2014). ver amplo acesso aos documentos.
Falecido em 24 de agosto de Neste artigo, procuramos ex-
2018, nos últimos tempos João das plorar – sem a pretensão de esgotá-
Neves dividiu seu tempo entre a -lo – o potencial do arquivo de João
direção teatral, projetos de edição das Neves, com base em resultados
de livros e a seleção de itens de seu parciais obtidos nas experiências
acervo, vislumbrando a possibilida- em andamento. Para tanto, discuti-
de de doá-lo a uma instituição de mos a natureza e a constituição dos
custódia do patrimônio documen- chamados arquivos pessoais, bem
tal. Com recursos obtidos junto ao como o lugar instável que ocupam
Programa Rumos Itaú Cultural, no bojo da teoria arquivística, apre-
seus documentos receberam tra- sentamos panoramicamente o acer-
tamento inicial, foram higieniza- vo, no que tange aos seus aspectos
dos, acondicionados e digitaliza- formais, para então sondar, à luz dos
dos. Em 2017, uma parcela de seu documentos que o compõem, os de-
arquivo foi adquirida por meio de safios que se impõem na abordagem
doação pela Universidade Fede- do arquivo de um homem que impri-
ral de Minas Gerais e incorpora- miu, de forma sui generis, sua mar-

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ca na cultura e nas artes brasileiras. na medida em que tais documentos se des-


tinavam a permanecer na custódia des-
se órgão ou funcionário. (MULLER; FEI-
Arquivos pessoais TH; FRUIN, 1973, p. 13, grifos nossos)

A história dos arquivos se [conjuntos de] documentos que fizeram parte


de uma transação oficial e que foram preser-
confunde com o advento da escri- vados para referência oficial. (...) tanto os que
ta: em tabletes de argila, os sumé- foram especialmente produzidos em função
de uma transação oficial quanto aqueles nela
rios registravam a movimentação incluídos. (...) o conceito de arquivo deve ser
de pessoas, o pagamento de tribu- estendido às coleções formadas por organiza-
ções ou pessoas privadas, no gozo de suas ca-
tos, a entrada e saída de rebanhos e pacidades oficiais ou corporativas. (JENKIN-
SON, 1937, p. 4-5, tradução e grifos nossos)
mercadorias, com o claro propósito
de controlar a gestão de seus negó- Contudo, a noção de que os
cios frente a falibilidade da memó- subprodutos das atividades cotidia-
ria (BARRAZA LESCANO, 1996, nas, das malhas de relacionamento
p. 11-16). No dizer de Joël Candau social e familiar, e dos diferentes
(2012, p. 108), a escrita possibili- papéis sociais desempenhados pe-
tou o estoque de informações “cujo los indivíduos ao longo da vida po-
caráter fixo pode fornecer refe- dem ser considerados “documentos
renciais coletivos de maneira bem de arquivo” constitui reivindicação
mais eficaz que a transmissão oral”. relativamente recente no campo da
A condição instrumental (e oficial) Arquivologia, ainda que os chama-
dos documentos, ligada ao impera- dos arquivos pessoais venham des-
tivo da necessidade de fazer cons- pertando, desde há muito, o interes-
tar, controlar e administrar, esteve, se de historiadores e estudiosos das
desde o nascedouro, imbricada no mais diversas áreas do saber, como
conceito de arquivo4, definido nos sinalizaram Phillipe Artières e Do-
primeiros manuais da área5 como minique Kalifa (2002). Com efeito,
(...) conjunto de documentos escritos, de-
as desconfianças em torno da con-
senhos e material impresso, recebidos ou dição “arquivística” dos conjuntos
produzidos por determinado órgão admi-
nistrativo ou por um de seus funcionários, de documentos acumulados por
4
Como notou Aleida Assmann (2011, p. 367), a raiz etimológica do termo “arquivo” – do grego, arché – admite diferentes
significados, entre os quais “início”, “origem”, “autoridade”, “repartição pública”, “escritório público”, dos quais Jacques Der-
rida (2001, p. 11) derivou a suposta ambiguidade dos arquivos, contida na ligação entre “começo” e “comando”, o princípio
da natureza ou da história em concorrência com o princípio da lei.
5
Convém chamar a atenção para a relevância do Manual de arranjo e descrição de arquivos, popularmente conhecido
como “manual dos holandeses”, de Muller, Feith e Fruin, e do manual de Hilary Jenkinson, originalmente publicados em
1898 e 1922, como marcos da estruturação da Arquivologia como campo de conhecimento. Em que pese às críticas atual-
mente propaladas a estas obras e seus autores (LANE; HILL, 2011), havendo quem (ingenuamente) denuncie seu caráter
“positivista”, vale frisar que nelas se encontram conceitos e definições que, para além de terem fundamentado o desenvol-
vimento do pensamento arquivístico, renovam sua pertinência na atualidade.

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pessoas derivam de suas peculiari- de compreendê-los como impérios


dades, de seus contornos fluidos e da subjetividade, vale lembrar que
não raro indefinidos. Se é bem ver- os arquivos não surgem por capri-
dade que os indivíduos acumulam cho ou vaidade, pelo contrário, sua
documentos porque estes materia- formação atende a um movimento
lizam fatos, servindo-lhes de prova, necessário, progressivo, natural e
e são, via de regra, dispositivos ne- orgânico (BELLOTTO, 2002, p.
cessários para viabilizar atividades 21), embora não necessariamente
rotineiras e mediar a relação entre linear e isento de influências cir-
as pessoas, as instituições e o Esta- cunstanciais. Tampouco os docu-
do, também é certo que boa parte mentos são produzidos na expec-
daquilo que se encontra em um ar- tativa de que, num futuro remoto,
quivo pessoal não deriva de fatos ju- sirvam aos interesses dos pesqui-
ridicamente relevantes: registram sadores especializados. No dizer de
ações corriqueiras, pensamentos, Blanca Rodríguez Bravo (2002, p.
posicionamentos políticos, dão cor- 143, tradução nossa), “o documen-
po aos laços afetivos, familiares e to de arquivo nasce para dar vida
sociais (CAMPOS, 2014, p. 43-45). à razão de sua origem”, e a sua ra-
Os arquivos pessoais, de fato, zão de ser é justamente materiali-
podem inebriar aqueles que deles zar fatos, eventos e incidentes, no
se aproximam. Fascinam, enredam, sentido de viabilizar ações e de ser-
enfeitiçam, como alertou Angela vir-lhes de prova ou testemunho.
de Castro Gomes (1998). Iludem, No entanto, não é incomum,
fazendo acreditar que constituem dentre as diversas metáforas e re-
canais diretos de acesso à memória presentações aplicadas aos arquivos
dos indivíduos (ESCOBEDO, 2006) de pessoas, encontrar quem prefira
ou que são capazes de oferecer uma enxergá-los como “narrativas de si”
imagem cuidadosamente arquite- (McKEMMISH, 2013), “albergues
tada de quem os acumulou (HEY- de uma memória dotada de singu-
MANN, 2012). Mas reconhecê-los laridade” (ESCOBEDO, 2006) ou
como arquivos, no sentido estrito “repositórios de conhecimento re-
do termo, implica revisitar algu- alocado” (ASSMANN, 2011). Mar-
mas lições da teoria arquivística garet Hedstrom (2016) e Ulpiano
que nunca saem de moda, a despei- Toledo Bezerra de Meneses (1999)
to do surgimento de discursos su- trataram de explorar, de forma par-
postamente mais sedutores. Antes ticularmente sugestiva, as intrinca-

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das relações que podem ser traça- Como sublinhou Ana Maria
das entre documentos, arquivos e Camargo (2015), em ensaio dos
memória; contudo, convém evocar mais provocativos, os arquivos não
a conclusão a que chegou a arqui- são dotados de vida própria, nem
vista canadense Laura Millar: os da força necessária para promover
arquivos, bem como os documentos determinada versão dos fatos. Ma-
que os compõem, não armazenam téria inerte, os arquivos não falam
a memória de seus criadores, mas por si sós. A garantia de sua capa-
funcionam como gatilhos que acio- cidade especular, atributo congê-
nam processos de rememoração nito que os caracteriza e os distin-
(MILLAR, 2006), isto é, oferecem gue das coleções,6 avalizando seu
acesso à matéria-prima da memó- uso em situações e para finalidades
ria, garantindo a possibilidade de muito distintas daquelas que presi-
construí-la e moldá-la segundo as diram sua acumulação, repousa jus-
circunstâncias do presente (MEN- tamente na manutenção do elo en-
NE-HARITZ, 2001, p. 59-61). tre os documentos e as atividades
Antes de dar vazão às di- de que se originaram (CAMARGO,
versas possibilidades de interpre- 2009a, p. 36). Nisto reside a especi-
tação que podem ser extraídas a ficidade dos arquivos – sua condi-
partir da leitura dos documen- ção probatória – e também da dis-
tos, convém ter sempre em men- ciplina que se dedica a estudá-los,
te o fato de que o arquivo não a Arquivologia, definida por Ange-
constitui um fim em si mesmo: lika Menne-Haritz (1998) como “a
ciência dos contextos e relações”.
Se os arquivos não fossem meios, não lo-
grariam possuir a capacidade de refletir as
diferentes atividades de que participam. Su- Caminhos e descaminhos: a
por que todo arquivo, porque pessoal, tem
uma dimensão autobiográfica, eivada de formação do arquivo
distorções e conscientemente produzida, Se os arquivos não falam por
é ignorar a condição probatória que ema-
na das atividades ménagères. O contrário si sós e também não são capazes de
é verdadeiro: se o arquivo pessoal fosse ati-
vidade finalística, empenhada na constru- oferecer uma via direta de acesso à
ção de determinada imagem, deixaria de memória de seus titulares, é certo
ser arquivo. (CAMARGO, 2009a, p. 36)
que oferecem a possibilidade de ob-
6
Eivados de organicidade, “os arquivos refletem a estrutura, funções e atividades da entidade acumuladora em suas rela-
ções internas e externas” (CAMARGO; BELLOTTO, 2012, p. 65). Já as coleções se definem pelo agrupamento artificial
de documentos de origens diversas, geralmente sob a égide da afinidade temática. Não atendem, portanto, aos princípios
norteadores da teoria e da prática arquivísticas (proveniência, organicidade, unicidade, indivisibilidade e cumulatividade).
Sobre os princípios arquivísticos e a caracterização dos conjuntos documentais, recomenda-se ver Heredia Herrera (2015)
e Bellotto (2002).

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ter respostas às perguntas que lhes processo de formalização da doação


são formuladas. Segundo Menne- do acervo, pudemos ouvir o próprio
-Haritz (2001, p. 61, tradução nos- João das Neves falar a respeito do
sa), “os arquivos não devem ser processo de formação de seu ar-
lidos, eles devem ser compreendi- quivo, em entrevista ainda inédita,
dos”. Esta compreensão, que passa concedida pelo artista em sua re-
necessariamente pelo entendimen- sidência, na cidade de Lagoa San-
to da relação entre os documen- ta (MG), em 25 de junho de 2018.7
tos e seus contextos originários, Há pouco falamos a respeito
pode muitas vezes ser construída do movimento progressivo que, se-
também no patamar das informa- gundo a teoria arquivística, carac-
ções não verbais, na relação das teriza a acumulação de documentos
partes (séries documentais) com o e a formação dos arquivos, seja no
todo (arquivo), na disposição ori- âmbito das instituições, seja no es-
ginal ou “primitiva” dos documen- copo do cotidiano da vida privada.
tos (MENNE-HARITZ, 1992). Embora seja genuíno supor que
Tão importante quanto co- João das Neves tivesse consciência
nhecer as razões primeiras que da importância de sua obra e da rele-
determinam a produção dos do- vância de seu papel social, suas pala-
cumentos é buscar compreender vras reforçam a noção de que a acu-
as motivações, circunstâncias e os mulação documental atende a um
sentidos da acumulação documen- fluxo natural e orgânico. Além dis-
tal, bem como identificar as even- so, sinalizam a fronteira tênue entre
tuais transferências de propriedade o individual e o coletivo, manifesta-
e custódia, as intervenções técni- da a todo momento em seu acervo:
cas realizadas ao longo do tempo,
[...] eu não sou um arquivista sistemático [...]
as dispersões e as ocorrências que Quando nós formamos o Grupo Opinião, a
podem ter resultado em perda ou gente tinha um sentimento de guardar as coi-
sas porque era normal que nós guardássemos
mutilação de parcelas do arquivo. os recortes de jornais, as peças que nos envia-
Para além das sondagens e vam, não sei que lá, uma coisa mais ou me-
nos… cotidiano normal, sem nenhuma siste-
hipóteses levantadas ao longo de matização, nada disso. (NEVES, 2018)
três semestres de trabalho com
os documentos e com as listagens Com efeito, uma das primei-
preliminares que acompanharam o ras dúvidas surgidas no trabalho
com o arquivo teve justamente a
7
Parte do encontro foi registrado pela TV UFMG (ver referências). A íntegra da entrevista, totalizando 75 minutos, vem
sendo transcrita e, por ora, permanece inédita.

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ver com a representatividade do de não perder aquilo ali, não perder aquela
história e preservar tudo o que estava ali, in-
conjunto documental em relação dependente da importância do documento,
à trajetória do indivíduo. Em que da significação ou não [...] se aquilo se dissol-
vesse, aquilo ia o quê? No máximo nós íamos
medida seria o arquivo capaz de jogar fora metade das coisas, a outra metade
ia para cada um de nós, se espalhar, e se per-
refletir a vida de João das Neves, deria aquilo. (NEVES, 2018)
tendo em vista o extenso volume
de documentos que, num primeiro Já em 2004, o interesse sobre
momento, pareciam mais retratar o acervo do Grupo Opinião ganhou
as atividades do Grupo Opinião e as páginas dos jornais, em matéria
de outros grupos teatrais que parti- publicada em O Globo por ocasião
cipou? Aos poucos, a questão foi se do aniversário de 70 anos de João
desdobrando em outras: faz sentido das Neves e de sua mudança para a
pretender dissociar as trajetórias cidade de Lagoa Santa (MG), onde
de João das Neves e dos grupos por se estabeleceu após residir por cer-
ele fundados e dirigidos? Afinal, o ca de dez anos em Belo Horizonte.
que seria o arquivo de João e o ar- Na reportagem, o conjunto de foto-
quivo do Opinião? Seria possível grafias, recortes de jornal, cartazes
(ou até mesmo desejável) delimitar e gravações de espetáculos e sho-
onde um acaba e o outro começa? ws recebeu o status de “tesouro”
Embora fizesse questão de guardado na residência do artista,
ressaltar o sentido verdadeiramen- “material precioso para um livro”
te coletivo do Grupo Opinião, no (OLIVEIRA, 2004).
que tange à criação artística e tam- Os documentos atualmente
bém no que diz respeito às atribui- sob custódia da Biblioteca Univer-
ções de cunho administrativo, João sitária da UFMG não representam,
reconhece que, mesmo sem talento contudo, a totalidade do arquivo de
inato de gestor, teve de assumir a João das Neves. Com o falecimen-
posição de administrador dos negó- to do titular, a aquisição de outras
cios do grupo, sobretudo depois das parcelas de seu arquivo agora de-
cisões ocasionadas por desentendi- pende de tratativas e negociações
mentos entre seus integrantes. Ao com os familiares. Mesmo que ou-
assumir as dívidas do Grupo, le- tros documentos sejam incorpora-
vou de “brinde” também o arquivo: dos ao fundo, por meio de doação,
não se poderá falar em um arqui-
[...] eu tomei a decisão de não acabar com o vo “completo”: a totalidade dos ar-
Grupo [...] eu vou assumir as dívidas do Gru-
po e quero ficar com o acervo, tudo que está quivos é sempre inatingível, haja
aqui vai ser meu. [...] eu sentia a necessidade
vista que passam, inevitavelmente,

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pelo crivo de seus titulares, que não e exposição),8 parecem ter deter-
raro avaliam os documentos ainda minado a decisão de doar os docu-
em vida, excluindo periodicamente mentos para uma instituição capaz
aquilo que não mais lhes convém, de acolhê-los, tratá-los e promo-
seja porque os documentos perde- ver o acesso irrestrito ao arquivo.
ram a funcionalidade original ou o
Então chegou um ponto que eu disse não, não
potencial de reutilização, seja por dá pra guardar tudo. O que que eu vou fazer
outras razões às vezes insondáveis. agora? Eu vou jogar fora? Quer dizer, eu vou
doar para uma instituição [...] ver o que é re-
Outras intervenções, no sentido de levante nisso, o que não é relevante, afinal de
seleção dos documentos também contas é tanto papel que não é relevante [...]
me assustou o grande interesse da UFMG em
podem ser realizadas pela família e torno do arquivo. Eu não tenho ainda noção
da dimensão que esse arquivo possa ter quan-
até mesmo pela instituição de cus- do vocês começam a falar dele [...] Quinze
tódia, de modo a atender aos inte- pessoas na minha casa por causa desse arqui-
vo? Meu Deus do céu, deve haver algum equí-
resses que qualificam sua linha te- voco aí! (NEVES, 2018)
mática ou esfera de especialização.
O arquivo de João das Neves esteve O arquivo de João das Neves e
também sujeito a situações fortui- os vários “Joãos”: sondagens e
tas que resultaram em perdas irre- desafios
paráveis: Vasto e multifacetado, o arqui-
vo de João das Neves – ou, melhor, a
[...] esse arquivo, eu perdi parte dele. [...] parcela dele que atualmente se en-
numa dessas tempestades das águas de mar-
ço no Rio de Janeiro [...] meu telhado tinha contra na Biblioteca Universitária
muitas telhas quebradas [...] a laje se encheu da UFMG – é composto de docu-
de água, né, a água não costuma ficar para-
da, procura sempre um lugar por onde sair, mentos que registram suas ativida-
e achou, né? E achou em cima de onde? [...]
Da minha biblioteca. Eu tive perdas também des profissionais no campo das artes
da minha biblioteca, perdi mesmo, e parte do cênicas no período que se estende
arquivo que tava ali também foi embora. (NE-
VES, 2018) da década de 1960 aos anos 1990.
Destacam-se, no conjunto,
O aumento progressivo do documentos de gênero textual (isto
volume do conjunto documental, é, aqueles que utilizam a palavra es-
mais a escassez de espaço para man- crita na comunicação de seu conte-
tê-lo em casa e também certa no- údo), produzidos em suporte papel,
ção acerca de sua utilidade pública embora note-se também, em me-
(vale recordar que parte do acervo nor volume, documentos de gênero
já havia sido objeto de digitalização
8
Parte do acervo foi exposta na Ocupação João das Neves, que ficou em cartaz de 27 de setembro a 8 de novembro de 2015
na sede do Instituto Itaú Cultural, em São Paulo (SP).

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iconográfico, sonoro e audiovisual Museologia, alunos da Escola de


em suportes magnéticos e ópticos, Ciência da Informação e técnicos
além de troféus, medalhas e outros da Biblioteca Universitária, tem
distintivos que representam os prê- como uma de suas perspectivas do-
mios e honrarias recebidos ao longo tar o arquivo de instrumento des-
da carreira. Na primeira remessa, critivo elaborado em consonância
o artista doou à universidade cer- com a teoria arquivística, capaz de
ca de 8 mil itens documentais,9 os informar aos usuários as relações
quais se encontram higienizados e contextuais entre as séries docu-
acondicionados em caixas e outros mentais e, consequentemente, o
invólucros adequados ao formato e potencial informativo acerca das
à natureza dos diferentes suportes. funções, atividades e dos eventos
Atualmente, o arquivo vem que presidiram a sua acumulação.
passando por conferência, toman- Em que pese ao conhecimen-
do-se por base a listagem prelimi- to ainda incipiente acerca do con-
nar preparada por uma equipe co- junto documental e da ordenação
ordenada pelo titular a pedido da a que foi submetido quando de sua
Procuradoria Jurídica da UFMG preparação para a aquisição, o tra-
como parte das exigências para a balho direto com os documentos ao
conclusão do processo de doação. longo dos últimos três semestres
Embora não se destine a descre- letivos (iniciativa a ser continua-
ver os documentos em todos os da em 2019 e nos anos seguintes,
seus aspectos formais e contextu- tanto no âmbito de disciplinas op-
ais, esta listagem vem sendo utili- tativas quanto no escopo de pro-
zada como instrumento norteador jetos de pesquisa e de extensão)
do acesso ao arquivo, dividido ini- permite vislumbrar, mesmo que de
cialmente em três séries documen- forma embrionária, o potencial do
tais. No entanto, cumpre ressaltar arquivo para a compreensão da tra-
que não se trata de instrumento de jetória de João das Neves, de seus
pesquisa definitivo. O trabalho de modos de pensar e agir, bem como
revisão, que vem envolvendo dois para pesquisas em outros campos
professores do curso de Arquivo- do saber, não necessariamente cen-
logia, uma professora do curso de tradas na biografia do teatrólogo.

9
Convém frisar que a extensão exata do arquivo, no que diz respeito ao número de unidades documentais, tende a se
alterar, dado que o processo de conferência tem revelado a existência de itens que não foram identificados na listagem
preliminar ou que estavam identificados coletivamente, carecendo de desmembramento.

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A série 1, composta por foto- ves e dos grupos em que atuou.10


grafias, contém, para além de re- Na série 3 estão representa-
portagens fotográficas de ensaios e das as atividades de gestão, no que
encenações de diferentes espetácu- tange à administração de pessoas,
los, retratos de sua estada na Ale- recursos financeiros e espaços te-
manha, entre 1978 e 1979, período atrais, por meio de documentos
em que lá estudou e trabalhou com como contratos de trabalho, reci-
bolsa oferecida pela Westdeuts- bos, orçamentos, alvarás de fun-
cher Rundfunk. Destacam-se os cionamento e certificados emitidos
registros fotográficos de produ- pelo serviço de censura. Nesta mes-
ções teatrais do Grupo Opinião, ma série se encontram documentos
do Poronga e de outros projetos relativos à organização de seminá-
em diferentes cidades. Sobressaem rios (uma constante na trajetória
também imagens que registram de João das Neves), documentos li-
sua atuação em Rio Branco (Acre, gados à criação artística, como pe-
1986 a 1992), bem como o seu tra- ças de teatro, notas e comentários
balho junto aos Grupos de Conga- redigidos ao longo da preparação
do e à Festa do Rosário em Oliveira e do ensaio de espetáculos, além de
(Minas Gerais, a partir de 1992). apontamentos e reflexões de cará-
A série 2 é composta por re- ter teórico e especulativo a respeito
cortes de jornal reunidos, em sua da fundamentação de sua prática e
maioria, por agências de clipping, de suas concepções de dramaturgia.
testemunhando, por meio de anún- Como em todo arquivo, la-
cios e resenhas, o acompanhamen- cunas e silêncios permeiam o con-
to da divulgação dos espetáculos junto documental. Neste sentido,
e as críticas veiculadas na impren- convém notar a ausência de docu-
sa periódica. A expressividade do mentos ligados à prolífica produção
conjunto documental pode ser bibliográfica do titular, bem como
explicada tanto pela importância o reduzido volume de correspon-
dos jornais diários na articulação dência presente na remessa doada
dos diferentes aspectos da vida à UFMG, o que pode se explicar,
social (político, econômico e cul- entre outras hipóteses, pela suposi-
tural) quanto pela intensa capaci- ção de que João das Neves ainda os
dade de trabalho de João das Ne- utilizasse como subsídios para os

Segundo João das Neves relatou em entrevista, o Grupo Opinião chegava a realizar até nove apresentações por semana
10

(NEVES, 2018).

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projetos que vinha desenvolvendo. como ator, autor, diretor e gestor


Para além da força probatória - são capazes de revelar o repertó-
em relação às atividades que motiva- rio que mobilizou para conformar
ram sua produção e acumulação, os seu pensamento e fundamentar a
documentos podem ser empregados sua dramaturgia, além de apontar
na construção e compreensão de di- como sua produção artística é in-
ferentes facetas de João das Neves, terdependente da prática política.
aspectos ou momentos de sua pro- São estes alguns aspectos de
dução artística e de sua complexa João das Neves que podem ser vis-
trajetória, em que pese à ausência lumbrados a partir do contato com
de registros acerca de sua intimi- os documentos que acumulou. No
dade e de suas relações familiares. entanto, os arquivos não são capa-
O entrelaçamento dos per- zes de corresponder de forma dire-
cursos do teatrólogo e do Grupo ta aos interesses e questionamen-
Opinião dá a tônica das percep- tos de quem deles se aproxima, de
ções que vêm sendo tecidas a res- modo que tantos outros ângulos
peito da constituição do arquivo. poderão vir à tona segundo dife-
Ainda que não estejam destacados, rentes perspectivas de observação.
mas dispersos entre as três sé- Se a redação dos documentos,
ries documentais, é interessante na esfera das ações administrativas
notar que os registros relaciona- oficiais, obedece aos ditames do di-
dos à atividade do Opinião justi- reito, do notariado ou das rotinas
ficam a urgência manifestada por burocráticas que imprimem deter-
João das Neves em preservá-los. minadas marcas características do
Vale sublinhar que os deslo- contexto de produção, permitindo
camentos marcam sua trajetória, o reconhecer, mesmo em documen-
que se traduz na formação do ar- tos isolados, “o ato que lhes deu ori-
quivo. Embora a seleção e a guarda gem, o agente responsável por tal
dos documentos tenham sido im- ato e o procedimento então conven-
pulsionadas pelo desejo de preser- cionado para cumpri-lo” (CAMAR-
var o arquivo do Grupo Opinião, é GO, 2009b, p. 428), no que tange
certo que o conjunto documental aos documentos geralmente encon-
foi sendo acrescido a partir da con- trados nos arquivos de pessoas nem
tinuidade das experiências profis- sempre é assim: autoria, título que
sionais. Os documentos - subpro- remeta ao conteúdo do documento,
dutos das atividades que exerceu data, local, entre outros elementos,

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podem simplesmente estar ausentes. senclever, Arnolt Bronnen e Hans


O que, por um lado, pode Johst e à luz da sociologia de Fritz
mesmo dificultar a identificação Sternberg, confluindo para a sínte-
das circunstâncias de produção do se de uma determinada concepção
documento, por outro, não chega a de dramaturgia. Não se conhecem
obscurecer seu contexto de acumu- o título, nem o autor, tampouco
lação. Estamos diante de um dile- a data em que o texto foi escrito.
ma que, por mais difícil que seja sua Também não estão dadas as con-
solução (do ponto de vista da ar- dições ou circunstâncias sob as
quivística), não impede ao usuário quais o documento foi produzido,
lançar mão destes documentos (ou lido, apropriado. O estilo de escrita,
fragmentos de documentos) como formal, muito próximo do acadê-
fontes para a pesquisa. O arquivo mico, oferece pistas que se desdo-
de João das Neves não escapa a esta bram em hipóteses sobre a origem
realidade. Nele, como em qualquer do documento: teria sido prepara-
outro arquivo pessoal, também es- do para uma palestra? Seria tradu-
tão presentes documentos eivados ção de um ensaio ou de um artigo?
de aspectos fragmentários. De toda Apontamentos de leitura, reflexões
forma, neles se reconhecem as mar- esparsas de um João estudioso?
cas de sua proveniência, isto é, as De uma forma ou de outra, o
razões pelas quais foram acumu- que se sabe, com segurança, é que foi
lados, o que possibilita atribuir- acumulado por João das Neves, na
-lhes significados em potencial e esteira de suas atividades rotineiras,
até mesmo sondar o lugar que ocu- na forja de seu ofício. A leitura do
pam no bojo das atividades rotinei- conteúdo do documento em função
ras do indivíduo que os preservou. do conhecimento da trajetória do
Caso exemplar é o de um item homem que o acumulou sinaliza, de
incompleto11 que compõe a série 3. maneira particularmente sugestiva,
Em 14 páginas datilografadas (fal- as opções com que João das Neves
ta a primeira), articula-se uma dis- fundamentou sua arte. A condição
cussão acerca da relevância da obra instrumental deste documento se
de Bertold Brecht, a partir da con- ilumina: a partir daí, vão se desdo-
traposição a trabalhos de escritores brando as possibilidades de encon-
expressionistas como Walter Ha- trar, no labirinto de seu arquivo,

11
Universidade Federal de Minas Gerais, Biblioteca Universitária, Divisão de Obras Raras e Coleções Especiais, Arquivo
de João das Neves, série 3, caixa 19/23, pasta 44.

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não apenas um, mas vários “Joãos”.

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Abstract

This paper discusses, from the perspective of Archival Science, the challenges of the ap-
proach to João das Neves’ archives, under custody of the Federal University of Minas
Gerais, prospecting the circumstances of the recordkeeping and finally shedding light
over its informational potential for understanding the artist’s journey.

Keywords

Personal archives. Grupo Opinião. Theater.

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