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A PRODUÇÃO DO

COMUM NAS
OCUPAÇÕES DAS
ESCOLAS
CARIOCAS
Fernanda Barbosa Carreiro Tavares

Orientador: Francisco Teixeira Portugal


COMO CHEGUEI A ESSA PESQUISA?

Percepção e experiências com Pesquisa no campo da Psicologia

reacionarismo e falta de da Libertação (Martín-Baró), de

propositividade nos grandes experiências coletivas e de

movimentos sociais da esquerda movimentos sociais

Busca por movimentos políticos Encontro constante com o termo

contemporâneos criativos e "comum" sem que esse fosse

propositivos no Brasil explicado.


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

METODO Pesquisa em bases de dados (Pepsic, Scielo, Google Acadêmico)

usando diferentes combinações dos termos "ocupação",

LOGIA "escola", "Rio de Janeiro" e "psicologia".

ESCOLHA DE REFERENCIAIS

Recorte teórico da pesquisa sobre o comum a partir da leitura

de Jullien, Dardot & Laval, e Guattari & Rolnik.

PÁGINAS DO FACEBOOK

Objeto de análise: O primeiro mês de postagem de duas páginas

do Facebook de ocupações diferentes - Ocupa Amaro e Cairu

Resiste.
O COMUM - Atividade, participação
- François Julien: filósofo

e sinólogo
- Construído a partir

desse fazer, nunca a


- Diálogo entre as
priori
culturas: do universal ao

multiculturalismo
- Do latim cum-munus,

pode-se pensar em uma


- Universal, uniforme,
rede de co-obrigação
comum

- Conceito político
"Apenas tal comunicabilidade no inteligível,

não que julguemos dada, mas em processo,

manterá o comum aberto. É nesse poder-ser,

a ser desenvolvido, e não dado como

condição prévia, que está o comum."

(JULLIEN, 2009, P. 173)


O COMUM - Dardot e Laval
- Comum como

potencial revolucionário
- Comum: ensaio sobre a

revolução no século XXI


- Substantivo, não

adjetivo: princípio político


- Pesquisa e análise

histórica sobre o uso e os


- Co-atividade
significados do termo na

sociedade ocidental.
- Através da atividade

humana, não imposto,


- Movimento dos comuns
nem pressuposto.
contra os "novos

cercamentos" do

neoliberalismo
COMUM E SUBJETIVIDADE

- Guattari e Rolnik: Micropolíticas - Cartografias do desejo

- Subjetivação a partir de uniformização de referências no

capitalismo

- Visões específicas de trabalho, produtividade,

racionalidade, informação etc.

- Não só na base da coerção: produção do desejo.

- Existe alternativa?
Tentativa de análise do processo de ocupação das

E AS escolas cariocas de 2016 sob a ótica do comum:

ESCOLAS - Seria possível identificar processos condizentes com a

OCUPADAS lógica do comum?

? - Se sim, de que maneira e através de quais práticas?

- Quais foram as consequências?

- No que as ocupações se diferenciaram dos processos de

educação hegemônicos?
AS OCUPAÇÕES DAS
ESCOLAS DO RJ DE 2016

Histórico Características
- Reivindicações específicas de cada escola e
- Ocupação chilena em 2006; ocupação
por maior participação no funcionamento da
paulista em 2015
rede estadual de educação

- Rio de Janeiro e os "mega eventos"


- Decisões tomadas em assembleias

- Greve da rede estadual de educação com


- Divisão de tarefas em comissões
grande participação dos alunos (Fernandes,

2017)
- Atividades diversas o dia todo, todos os dias

- Primeira escola ocupada: 21/03


- Dependentes de doações
RELAÇÕES DAS OCUPAÇÕES COM
AGENTES DO ESPAÇO EXTRA ESCOLAR

- Utilização da escola como espaço público


Participações importantes

- Circulavam nas ocupações atividades e

pessoas diferentes das que lá estão nos


COMUNIDADE ESCOLAR

processos escolares hegemônicos

ENTIDADES DA ARTE E
- Aulas, provas, trabalhos, recreio vs. DA CULTURA

atividades diferentes a cada dia

AGENTES SOCIAIS SEM


- Antes só circulavam na escola pessoas com VINCULO ANTERIOR
vínculo institucinal, cada um com funções

muito específicas e separadas.


COMUNIDADE ESCOLAR

- Grupo de pessoas para o qual uma escola tem algum tipo de importância ou influência (alunos,

ex-alunos, famílias, professores, funcionários, moradores da região

•Famílias dos estudantes auxiliavam com limpeza, cozinha, e gravando vídeos em apoio à

ocupação.

•Professores e funcionários se propunham a realizar aulões e oficinas junto dos alunos.

•Ex-alunos e moradores da região levavam doações, além de também participarem de algumas

atividades ou se juntarem aos alunos em manifestações públicas.


diário de campo

"O primeiro post do dia 11 é um vídeo com o "O post seguinte traz fotos da exibição do

depoimento da avó de uma das alunas documentário "é tudo mentira", sobre a mídia

participantes da ocupação, mostrando o seu hegemônica durante as manifestações de 2013. O

apoio ao movimento e falando da filme foi exibido não dentro da escola, mas sim na

responsabilidade dos alunos lá dentro, além do praça do Largo do Machado, com a presença de

estado precário da escola." diversas pessoas da região."

"Em seguida, a página posta

fotos das atividades e de ex-

alunos que compareceram ao

evento, todos segurando

cartazes com mensagens de

apoio à ocupação."
AGENTES SOCIAIS SEM VINCULO ANTERIOR

- Pessoas e grupos sem vínculo afetivo, institucional ou geográfico com as escolas que se

sentiram atraídas pela novidade que as ocupações representavam no campo dos movimentos

sociais.

- Importante contribuição para a diversidade de atividades e aprendizados coletivos ocorridos

nas ocupações.

- Abertura de novos espaços de enfrentamento com o governo do estado e a SEEDUC.

- Profissionais de diversas áreas, coletivos, organizações políticas, sindicatos.


diário de campo

"O dia 28 começa com fotos da visita de um "O post seguinte é um vídeo do Coletivo

desembargador e de um juíz à ocupação, Carranca produzido no Viradão Cultural. O

que conversaram com os alunos sobre a vídeo mostra as diversas apresentações

situação da escola e sobre a ocupação e ocorridas, e termina com o questionamento

deram várias dicas e orientações, além de "o Estado proporcionaria um ambiente como

responderem perguntas." esse?"

""No dia 14 a página posta um convite para o

evento que ocorrerá no mesmo dia na escola,

a Conversa Pública Ocupa Clínica do

Testemunho, com diversas rodas de conversa

sobre o tema da reparação psicológica de

vítimas de violência do Estado.""


ENTIDADES DA ARTE E DA CULTURA

- Estudantes organizavam nas ocupações grandes eventos culturais com o propósito de

arrecadar doações, atrair a atenção da sociedade e promover o espaço da escola enquanto um

espaço cultural e de encontro.

- Participação voluntária de artistas, inclusive de pessoas e grupos muito relevantes no cenário

artístico.

- Demonstrações de apoio públicas.

- Grupos de artistas independentes: participação no cotidiano da ocupação (oficinas de rap,

dança, teatro, cinedebates, etc.)


Importância da participação desses diferentes agentes sociais para

E O a relevância que as ocupações tiveram enquanto movimento

político

COMUM?
Pistas sobre o comum

- Comum é sempre construído pela prática.

- Não é possível reunir um grupo ao redor de algo que deveria ser

comum a eles se o grupo em si não o faz.

- Depende de uma atividade construída em conjunto.

- Agentes sociais dos mais diversos fazem o mesmo movimento de

participar da construção das ocupações --> comum.

- Como entender esse movimento?


ADESÃO ATIVA

Ocupações: movimento contrahegemônico

Não havia força coercitiva incentivava a Conceito de adesão ativa: escolha ativa de

participação nesse movimento. Por vezes construção de uma prática, atividade ou

observa-se o contrário. rede de relações diferente daquelas

impostas em determinada sociedade

Construção de algo contra-hegemônico:

COMUM necessidade de um comprometimento a

criar e sustentar a diferença. Ação,

atividade, envolvimento.
- Jullien: comum também como a própria disposição à comunicação, entendimento e

construção de um território comum.

- Não se trata de um conceito dado, de conteúdo fechado, mas em expansão e

construção.

- Se estabelece mediante a continuidade de uma abertura e da recusa de uma definição

absoluta

Potências da Participaram das ocupações


ocupação: deixar os agentes que ativamente
aberto o processo de
estavam interessados em
construção das
atividades e de que contribuir para aquele
maneiras aquele movimento, seja qual fosse
espaço seria ocupado. a contribuição.
Para onde caminhamos?

Efeitos da escola hegemônica individualizante sendo desfeitos pela mudança nos

dispositivos de subjetivação e ação feitos pela ocupação.

- Tomada de controle ativa sobre o cotidiano da escola

- Teor das atividades escolhidas

- Processo de conhecer, se apropriar e ressignificar todos os espaços (físicos, afetivos) da

escola
OBRIGADA!

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