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ÁLGEBRA

TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS - GÊNESIS

FUN

JOÃO CARLOS MOREIRA


COLEÇÃO ESCOLA DE ÁLGEBRA
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ÁLGEBRA
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS - GÊNESIS

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ÁLGEBRA
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS - GÊNESIS

COLEÇÃO ESCOLA DE ÁLGEBRA

JOÃO CARLOS MOREIRA


Professor do Instituto de Ciências Exatas e Naturais - ICENP
Universidade Federal de Uberlândia

EDITORA LIVRARIA ESCOLA DE MATEMÁTICA

COLEÇÃO ESCOLA DE ÁLGEBRA


Copyright © 2019 by João Carlos Moreira

CAPA: João Carlos Moreira

EDITOR: João Carlos Moreira

DIAGRAMAÇÃO: João Carlos Moreira

DISTRIBUIÇÃO: Editora Livraria Escola de Matemática

COLEÇÃO ESCOLA DE ÁLGEBRA

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá


ser reproduzida sejam quais forem os meios empregados sem a
permissão expressa da Editora. Aos infratores aplicam-se as
sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107 da Lei no 9.610,
de 19 de fevereiro de 1988.

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

EDITORA LIVRARIA ESCOLA DE MATEMÁTICA

COLEÇÃO ESCOLA DE ÁLGEBRA


Para todos os meus alunos, com carinho.
João Carlos Moreira

COLEÇÃO ESCOLA DE ÁLGEBRA


Prefácio

Este livro é fruto de um projeto intitulado Escola de Álgebra, criado


em 2017, com o intuito de colaborar na melhoria do ensino e do
aprendizado de Álgebra e suas aplicações.

A metodologia de ensino é baseada na teoria de sistemas matemáticos


e no desenvolvimento de algoritmos.

Esse material é inédito e propõe uma nova abordagem no ensino de


matemática no Brasil.

Agradeço a Deus pela missão educacional confiada a mim.

Ituiutaba, inverno de 2020.

João Carlos Moreira

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Símbolos
Símbolo Lê-se Exemplo Lê-se

∈ pertence 2∈A O número dois pertence


ao conjunto A.
∀ para todo (∀ a)(a ∈ ℕ) Para todo a, a pertencente
a ℕ.
∃ existe (∃ x)(x ∈ A) Existe x, x pertencente ao
conjunto A.
∃! existe um único (∃! x ∗ )(x ∗ ∈ ℕ) Existe um único sucessor
de x pertencente ao
conjunto dos números
naturais.
∧ e x∧ y xey
∨ ou (inclusivo) x ∨y x ou y
∨ ou (exclusivo) x ∨y x ou y
¬ não ¬(2 ∈ A) 2 não pertence ao
conjunto A
→ implica 𝑃→𝑄 P implica Q
↔ se, e somente se 𝑃↔𝑄 P se, e somente se, Q

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ÁLGEBRA
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS - GÊNESIS

ORGANIZAÇÃO DA APRENDIZAGEM

Sumário
1 Abordagem histórica 01
2 Abordagem algébrica 07
2.1 Conceitos primitivos e derivados 07
2.2 Axiomas 07
2.3 Conjuntos 08
2.4 Relações 09
2.5 Operações 09
2.6 Sistemas matemáticos 09
2.6.1 Sistemas algébricos 11
2.6.2 Sistemas axiomáticos 15
3 Abordagem lógica 22
4 Referências bibliográficas 35

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 1

1 ABORDAGEM HISTÓRICA
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS | GÊNESIS

Euclides de Alexandria (c. 325 a.C. - 265 a.C.) foi um


matemático grego. É considerado o maior matemático da
antiguidade. Dentre suas contribuições, destacamos o tratado
Os Elementos. É na teoria da geometria euclidiana que
encontramos o primeiro exemplo de sistema matemático.

1 A origem primitiva da matemática está muito ligada as


origens das teorias da aritmética e da geometria, ocupando um
destaque especial os conceitos de número, grandeza e forma.

2 De acordo com Euclides, unidade é aquilo segundo a qual


cada uma das coisas existentes é dita uma e número é a
quantidade composta de unidades.

3 A habilidade do homem primitivo de contar, era apenas


intuitiva, assim como a de outros animais. Ainda hoje, existem
espécies para as quais um, dois e muitos, constituem as suas
únicas grandezas numéricas.

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4 Existem várias evidências arqueológicas que mostram o uso


de números pelo homem. Os ossos de Lebombo (c. 35.000 a.C.)
e de Ishango (c. 20.000 a.C.) são as mais antigas. Além dessas,
temos inscrições em paus, ossos e tabletes de argila,
encontrados em diferentes regiões. Os símbolos numéricos
podem ter sido o início da escrita no mundo.

5 Durante muito tempo, o ser humano usou números apenas


para contar coisas da natureza, daí a expressão "números
naturais" e pedras como instrumento de contagem, daí a
origem da palavra cálculo (do latim calcŭlu, que significa
pedra pequena).

6 Com o desenvolvimento das civilizações, surgiu a linguagem


escrita, que possibilitou a criação de sistemas numéricos e
algoritmos muito eficientes, não só para contar, mas também
para medir grandezas que surgiram em vários problemas do
cotidiano. Os egípcios (c. 4000 a.C.), podem ter inventado a
primeira régua da história, o cúbito. Os Harappans (c. 2000
a.C.), civilização do Vale do Rio Indo, desenvolveram o
primeiro sistema decimal uniforme de pesos e medidas.

7 Foram adotados diferentes símbolos para representar os


elementos básicos dos seus sistemas numéricos. Por exemplo,
os símbolos X e 10, foram utilizados pelos romanos e árabes,
respectivamente, para representar o número natural dez.

8 O sistema hindu-arábico surgiu na Índia (c. 400 a.C.) e foi


modificado no século VII pela introdução do zero. Passou a ser
utilizado na Europa somente no século XIII, sendo hoje o
sistema numérico mais utilizado no mundo.

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9 Esse sistema, permitiu uma representação única e universal


dos números, sendo considerado por muitos, uma das maiores
descobertas da matemática.

10 Podemos destacar duas vantagens desse sistema, a


unicidade da representação de seus números e uma aritmética
bastante simples semelhante à de um ábaco no papel.

11 Até então, poucos tinham a habilidade com a aritmética.


Essa habilidade se tornou uma profissão, a dos contadores,
que existe desde a civilização suméria, uma elite que era muito
bem paga. Ao longo do tempo, a aritmética foi realizada com
cones de argila, pedras, bastões entalhados, nós de cordas,
regiões do corpo humano, tábuas de calcular, ábacos, dentre
outras formas. Podemos afirmar que, o sistema hindu-arábico
democratizou a aritmética.

12 Com a crise dos fundamentos da matemática, surge no


século XIX uma nova abordagem para os números naturais, o
formalismo. Permitindo a construção formal de conjuntos
numéricos importantes, tais como os dos inteiros, racionais,
reais e complexos.

13 O desenvolvimento de sistemas numéricos, foram a


"semente", para a criação de novas teorias e subáreas que
compõem a matemática atual.

14 Por outro lado, o desejo do humano de observar as formas


que compõem a natureza e as relações existentes entre elas, foi
um grande estímulo para o desenvolvimento da geometria.

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15 A teoria da geometria euclidiana, encontrada no tratado "Os


Elementos", elevou a matemática ao patamar de ciência e não
só a ciência da observação, mas a ciência da abstração ou
matemática abstrata.

16 A geometria euclidiana foi considerada universal e


incontestável durante muitos anos, uma bíblia da matemática.

17 Em paralelo e de forma independente da matemática, a


lógica também ganha status de ciência com Aristóteles (384
a.C. - 322 a.C.), a chamada lógica clássica, que usava a
linguagem comum e suas regras gramaticais usuais.

18 No século XVII, G.W. Leibniz (1646-1716) introduz o uso da


álgebra simbólica formal na lógica, dando início a criação da
chamada lógica matemática, com o objetivo de possibilitar o
uso dela em todos os campos do conhecimento.

19 No século XIX, dentre vários matemáticos, destacamos


George Boole (1815-1864) que estabelece em 1854 as
chamadas leis do pensamento, unificando as duas leis de
Aristóteles (lei da não-contradição e a lei do terceiro excluído)
e os dois princípios de Leibniz (o princípio de razão suficiente
e o princípio da identidade dos indiscerníveis). Dessa forma,
Boole constrói as bases da lógica matemática, iniciada por
Leibniz.

20 A lógica matemática se tornou tão importante, que o filósofo


Bertrand Russel (1872-1970) considerou a mesma como o início
da matemática pura.

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21 Destacamos duas correntes importantes da filosofia da


matemática, o intuicionismo e o formalismo.

22 O intuicionismo, fundado por Luitzen Egbertus Jan


Brouwer (1881-1966), vincula a existência de um objeto
matemático qualquer a possibilidade de sua gênese pela
intuição humana, é a ciência das construções mentais
intuitivamente convincentes.

23 Os objetos de pesquisa em matemática intuicionista são,


inicialmente, objetos matemáticos com a possibilidade de sua
construção, como por exemplo, os números naturais ou
racionais e conjuntos finitos de objetos construtivos.

24 Na construção da matemática intuicionista, uma proposição


será considerada verdadeira somente se for possível prová-la,
sendo que esta prova deve estar relacionada com alguma
construção mental intuitivamente convincente. Assim, uma
afirmação do tipo (∃𝑥)(𝑥 + 1 = 0) apenas pode ser provada
pela construção de um objeto matemático 𝑥 para o qual a
proposição (𝑥 + 1 = 0) possa ser provada.

25 O formalismo, teve início na geometria euclidiana e depois


ganhou força com a crise dos fundamentos da matemática.
Teve como objetivo inicial, formalizar os métodos já
desenvolvidos na matemática puramente intuitiva, utilizando-
se de axiomas e procedimentos lógicos. Destacamos David
Hilbert (1862-1943) e Paul Isaac Bernays (1888-1977), ambos
contribuíram para o desenvolvimento da análise matemática
formal.

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26 No século XX, destacamos a metamatemática introduzida


por David Hilbert (1862-1943) em 1922, que basicamente era
uma “teoria da prova” e fez parte do seu programa para
estabelecer a consistência da aritmética. Ela foi transformada
por Alfred Tarski (1901-1983) ao introduzir métodos
semânticos, dando origem a teoria dos modelos.

27 Os sistemas formais, em particular as linguagens científicas


formais, tiveram um estudo mais aprofundado através dos
métodos semânticos que Tarski introduziu.

28 As obras de Nicolas Bourbaki (Nicolas Bourbaki é o


pseudônimo de um grupo de matemáticos, principalmente
franceses que nasceu em 1935), Alfred Tarski (1901-1983) e
seus discípulos impulsionaram o desenvolvimento da teoria
das estruturas matemáticas e da teoria dos modelos.

29 Atualmente a teoria dos modelos é uma das teorias da lógica


matemática mais desenvolvidas e estuda uma classe de
estruturas matemáticas, que serve de modelo para quase toda
a matemática.

30 Um sistema matemático é uma classe de estruturas


matemáticas, inspirada na teoria dos modelos, que servirá de
modelo para o desenvolvimento de todas as teorias
desenvolvidas nas coleções da Escola de Matemática. Todas as
teorias serão desenvolvidas, dentro do possível, abordando
ambas as correntes do intuicionismo e do formalismo.

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2 ABORDAGEM ALGÉBRICA
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS | GÊNESIS

Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845-1918) foi


um matemático russo. Dentre suas contribuições,
destacamos a construção da teoria clássica dos conjuntos e o
estudo da representação de funções reais por séries
trigonométricas.

2.1 Conceitos primitivos e derivados

A palavra conceito, tem origem na palavra conceptum do latim,


que significa coisa concebida da mente; através da intuição ou
de um pensamento abstrato.

Definição 1. Conceito primitivo é aquele que em geral não se


define e surge no início das teorias. Conceito derivado é aquele
que deriva de outros conceitos.

2.2 Axiomas

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Definição 2. Uma proposição é uma sentença ou oração


declarativa em uma determinada linguagem, não importando
como tenha sido feita a construção sintática dessa sentença e
sim o seu real significado (semântica) e a possibilidade de
atribuirmos um único valor lógico (verdadeiro ou falso) para
ela.

Definição 3. Um axioma é uma proposição supostamente


verdadeira e aceita sem demonstração. A palavra axioma
deriva de αξίωμα, que no grego significa válido e é sinônimo de
princípio ou pressuposto primitivo. Um axioma pode definir
algum conceito primitivo ou alguma propriedade que
caracteriza esse conceito.

2.3 Conjuntos

Definição 4. Um conjunto, de acordo com Cantor (1845-1918),


é qualquer coleção de objetos de um todo, definidos e
separados através de nossa intuição ou nosso pensamento, não
importando a natureza nem a ordem desses objetos no
conjunto. Esses objetos são chamados de elementos do
conjunto.

Escólio. O nascimento da teoria dos conjuntos, pode ser


considerado 7 de dezembro de 1873, a data da carta de Cantor
a Dedekind, informando-o da sua descoberta de que o infinito
dos reais era diferente dos naturais. No início do
desenvolvimento da teoria dos conjuntos (1873-1897), Cantor
utilizou apenas a intuição e não foi explicitado nenhum
axioma. Na teoria dos sistemas matemáticos, um conjunto será
chamado de sistema.

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2.4 Relações

Definição 5. O produto cartesiano de dois conjuntos é o


conjunto dos pares ordenados dos elementos desses conjuntos.
Um par ordenado de dois conjuntos, pode ser entendido, como
um conjunto que contém um certo elemento de um dos dois
conjuntos e um conjunto que contém esse elemento e outro
elemento do outro conjunto. Podemos estender a definição
para uma família de conjuntos.

Definição 6. Uma relação 𝜔 -ária sobre 𝐸, onde 𝜔 é um


número cardinal, é qualquer subconjunto do produto
cartesiano 𝐸 𝜔 .

2.5 Operações

Definição 7. Uma operação 𝜔-ária sobre 𝐸 é uma função do


produto cartesiano 𝐸 𝜔 sobre o conjunto 𝐸.

2.6 Sistemas Matemáticos

Definição 8. Estrutura matemática, é um objeto matemático


que unifica conceitos da matemática e é utilizado como ponto
de partida para o desenvolvimento de uma teoria. Nessa
teoria, esses conceitos podem ser considerados como
primitivos.

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Escólio. Euclides partiu de alguns axiomas e conceitos e criou


a teoria da Geometria Euclidiana.

Definição 9. Um sistema matemático, denotado por 𝑺 =


(𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨), é uma classe de estruturas matemáticas composta
de um conjunto não vazio 𝐸, uma família 𝑹 = (𝑟𝑗 ) de
𝑗∈𝐽
relações 𝜔𝑗 -ária sobre 𝐸 , uma família 𝑶 = (𝑜𝑘 )𝑘∈𝐾 de
operações (𝜔𝑘 ) -ária sobre 𝐸 e uma família 𝑨 = (𝐴𝒍 )𝒍∈𝑳 de
axiomas.

Escólio. O conjunto 𝐸 de um sistema matemático 𝑺 =


(𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨) é chamado de sistema (conjunto universo ou
conjunto fundamental) e os seus objetos de elementos de 𝑺. Os
objetos 𝐸, 𝑹, 𝑶 e 𝑨 são chamados de pressupostos primitivos
de 𝑺. O par ({𝜔𝑗 : 𝑗 ∈ 𝐽}, {𝜔𝑘 : 𝑘 ∈ 𝐾}) e 𝛼 = card(𝑬), são
chamados de tipo e ordem de 𝑺, respectivamente.

Escólio. A medida em que novos conceitos forem definidos em


𝑺 = (𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨), quando possível e necessário, eles podem
passar a ser consideradas como conceitos primitivos de 𝑺.

Exemplo 1. 𝑺 = (ℕ, {+,∙ }, {=, <}, Axiomas de Peano) é um sistema


matemático do tipo ({2}, {2}) e ordem ℵ0 .

Exemplo 2. 𝑺 = (ℝ, {+, −,∙}, {=, <}, Axiomas de Peano), é um sistema


matemático do tipo ({3}, {2}), ordem card(ℝ) = 2ℵ0 .

Definição 10. Um sistema matemático 𝑺 = (𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨) é


classificado como abstrato quando os elementos de 𝑺 são
objetos indefinidos. Caso contrário, quando os elementos do

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sistema matemático 𝑺 são definidos, ele é classificado como


concreto.

Escólio. Em geral, os sistemas concretos são casos especiais de


um sistema abstrato. Existem alguns sistemas concretos cujos
elementos do sistema matemático 𝑺 = (𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨) são defini-
dos a partir das propriedades contidas em 𝑨.

2.6.1 Sistemas Algébricos

Abu Ja'far Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi (c. 780-850) foi


um matemático persa. Dentre suas contribuições destacamos o
livro “Kitab al-Jabr wa-l-Muqabala”, que comumente é
chamado de al-Jabr, origem da palavra álgebra.

Definição 11. Um sistema matemático 𝑺 = (𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨), onde


𝑨 = ∅, é chamado de sistema algébrico ou estrutura algébrica.
Notação. 𝑺 = (𝐸, 𝑹, 𝑶)

Escólio. Os sistemas algébricos tiveram uma grande


repercussão na década de 1950 e a sua teoria se desenvolveu
na interface da álgebra e a lógica matemática.

Exemplo 3. O sistema algébrico 𝑺 = (ℕ, {+,∙}, {=, >}) é conhecido


como sistema numérico dos naturais.

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Definição 12. Um sistema algébrico 𝑺 = (𝐸, 𝑹, ∅, ∅), é


chamado de sistema relacional e será denotado por 𝑺 = (𝐸, 𝑹).

Exemplo 4. O sistema algébrico 𝑺 = (ℤ, {=, >}) é um sistema


relacional.

Escólio. Um sistema algébrico 𝑺 = (𝐸, ∅, ∅, ∅), pode ser visto


como o próprio conjunto E.

Definição 13. Um sistema algébrico 𝑺 = (𝐸, ∅, 𝑶, ∅) , é


chamado de álgebra universal ou simplesmente álgebra e será
denotado por 𝑺 = (E, 𝐎).

Exemplo 5. O sistema algébrico 𝑺 = (ℝ, {+,∙}) é uma álgebra.

Definição 14. Uma álgebra 𝑺 = (E, {φ}), onde φ é operação


binária sobre E é chamada de magma.

Exemplo 6. A álgebra 𝑺 = (ℕ, {+}) é um magma.

Definição 15. Um magma 𝑺 = (E, {φ}) é chamado de


semigrupo se φ é associativa.

Exemplo 7. O magma 𝑺 = (ℕ, {∙}) é um semigrupo.

Definição 16. Um semigrupo 𝑺 = (E, {φ}) é chamado de


monoide se existe elemento neutro e φ ∈ E para φ.

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Exemplo 8. A álgebra 𝑺 = (ℕ, {∙}) é um monoide, mas 𝑺 = (ℕ, {+})
não é um monoide.

Definição 17. Um monoide 𝑺 = (E, {φ}) é chamado de grupo


se existe elemento simétrico em E, para φ. Se além disso, φ for
comutativa diremos que o grupo é Abeliano ou comutativo.

Exemplo 9. A álgebra 𝑺 = (ℤ, {+}) é um grupo comutativo, mas 𝑺 =


(ℤ, {∙}) não é um grupo.

Definição 18. Dado um grupo 𝑺 = (E, {φ}), diremos que


(A, {φ}) será um subgrupo de 𝐄 se A ⊂ E e 𝑺 = (A, {φ}) for um
grupo.

Exemplo 10. A álgebra 𝑺 = (ℤ, {+}) é um subgrupo do grupo


comutativo (ℚ, {+}).

Definição 19. Dado um grupo 𝑺 = (E, {φ}) e os subconjuntos


𝐴 e 𝐵 de E, existe um único conjunto chamado de produto de
𝐴 e 𝐵 com relação à operação φ, denotado por 𝐴𝐵 e definido
por
∅, se A = ∅ ou B = ∅
AB = { .
{φ(x, y): x ∈ A e y ∈ B}, se A ≠ ∅ ou B ≠ ∅

Exemplo 11. Dados o grupo 𝑺 = (ℝ, {+}) e os subconjuntos 𝐴 =


{1,2} e 𝐵 = {−1,3}, temos que

AB = {x + y: x ∈ A e y ∈ B} = {0,1,4,5}.

Exemplo 12. Dados o grupo 𝑺 = (ℝ∗ , {∙}) e os subconjuntos 𝐴 =


{1,2} e 𝐵 = {−1,3}, temos que
AB = {x ∙ y: x ∈ A e y ∈ B} = {−2, −1,3,6}.

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Definição 20. Uma álgebra 𝑺 = (E, {φ, ψ}) é chamada de


sistema numérico se:

i) φ e ψ são operações binárias associativas;


ii) φ e ψ são operações binárias comutativas; e
iii) uma das operações é distributiva com relação à
outra.

Escólio. Neste caso, um elemento desse sistema x ∈ E é


chamado de número.

Exemplo 13. A álgebra 𝑺 = (ℕ, {+,∙}) é um sistema numérico,


chamado de sistema numérico dos naturais.

Exemplo 14. A álgebra 𝑺 = (ℤ, {+,∙}) é um sistema numérico,


chamado de sistema numérico dos inteiros.

Exemplo 15. A álgebra 𝑺 = (ℚ, {+,∙}) é um sistema numérico,


chamado de sistema numérico dos racionais.

Exemplo 16. A álgebra 𝑺 = (ℝ, {+,∙}) é um sistema numérico,


chamado de sistema numérico dos reais.

Exemplo 17. A álgebra 𝑺 = (ℂ, {+,∙}) é um sistema numérico,


chamado de sistema numérico dos complexos.

Definição 21. Uma álgebra 𝑺 = (E, {φ, ψ}) é chamada de anel


se:

i) (E, φ) é um grupo Abeliano;


ii) (E, ψ) é um semigrupo; e
iii) ψ é distributiva com relação à φ.

Se além disso, ψ for comutativa, (E, {φ, ψ}) é dito um anel


comutativo.

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Exemplo 18. A álgebra 𝑺 = (ℤ, {+,∙}) é um anel comutativo.

Definição 22. Um anel 𝑺 = (E, {φ, ψ}) é um anel com unidade


se existe elemento neutro e ψ ∈ E, com relação à ψ. Neste caso,
tal elemento neutro é chamado unidade do anel.

Exemplo 19. O anel 𝑺 = (ℚ, {+,∙}) é um anel comutativo com


unidade.

Definição 23. Um anel comutativo com unidade 𝑺 =


(E, {φ, ψ}) é chamado de anel de integridade ou domínio se
vale a lei do anulamento do produto; isto é:

(∀ x)(∀y) ((ψ(x, y) = e φ ) → ( x = e φ ) ∨ (y = e φ )).

Exemplo 20. O anel 𝑺 = (ℝ, {+,∙}) é um anel de integridade.

Definição 24. Um anel comutativo com unidade 𝑺 = (E, {φ, ψ})


é chamado de corpo se todo elemento não nulo do anel admite
elemento inverso; isto é:

(∀ x)(∃ y) ((x ≠ e φ ) ∧ (ψ(x, y) = e ψ = ψ(y, x))).

Notação. y é chamado de elemento inverso de x em E e é


denotado por x −1 .

Exemplo 21. O anel 𝑺 = (ℝ, {+,∙}) é um corpo.

2.6.2 Sistemas Axiomáticos

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Ernst Friedrich Ferdnand Zermelo (1871-1953) foi um


matemático alemão. Dentre suas contribuições, destacamos
suas contribuições no desenvolvimento da teoria axiomática
dos conjunto com seu sitema de sete axiomas.

Definição 25. Um sistema matemático 𝑺 = (𝐸, ∅, ∅, 𝑨),


composta de um conjunto não vazio e um conjunto de axiomas,
é chamado de sistema axiomático.

Escólio. O uso de axiomas teve sua origem nas obras dos


antigos matemáticos gregos, ganhando destaque no século III
a.C., com a coleção “Elementos” de Euclides. Essa coleção,
continha teorias que foram desenvolvidas a partir dos
seguintes axiomas:

Axioma I. Podemos traçar uma reta ligando dois pontos quaisquer.

Axioma II. Podemos prolongar uma reta limitada, continuamente,


sobre uma reta.

Axioma III. Podemos descrever um círculo a partir de quaisquer


centro e raio dados.
Axioma IV. Todos os ângulos retos são iguais (congruentes).

Axioma V. Se uma reta, interceptar outras duas retas e formar


ângulos internos e do mesmo lado, cuja soma seja menor que dois
ângulos retos, então estas duas retas, se continuadas do lado onde
estão os ângulos internos, irão se encontrar em algum ponto.

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Escólio. Muitos matemáticos, acreditaram ser possível provar


o Axioma V. Das tentativas de se prová-lo, surgiram algumas
equivalências:

1 Dada uma reta e um ponto fora desta reta, podemos


traçar uma única reta paralela à reta dada.

2 A soma dos ângulos internos de um triângulo, é


sempre igual a dois ângulos retos.

3 Dados três pontos não colineares, existe uma


circunferência passando por eles.

4 Em todo triângulo retângulo, a soma dos quadrados


dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa.

5 Todo ângulo, inscrito em um semicírculo, é sempre


reto.

6 Por duas retas paralelas quaisquer, é sempre possível


traçar uma reta perpendicular em comum.

Algumas geometrias não-euclidianas, por exemplo, as


geometrias projetiva, elíptica e a hiperbólica, surgiram da
negação do Axioma V.

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Escólio. A teoria clássica dos conjuntos, foi desenvolvida,


tendo como pressupostos fundamentais, os seguintes axiomas:

• Axioma da extensão. Dois conjuntos são iguais, se e


somente se, possuem os mesmos elementos.

• Axioma da separação. Toda propriedade determina


um conjunto.

• Axioma da escolha. Dada uma coleção de conjuntos


não vazios, dois a dois disjuntos, existe um conjunto
que contém exatamente um elemento de cada conjunto
da coleção dada.

Exemplo 22. A estrutura matemática 𝑺 = (E, A), onde A =


{Axioma da extensão, Axioma esquema da compreensão} define a
estrutura matemática que deu origem a teoria clássica dos
conjuntos.

Definição 26. Um paradoxo (antinomia ou aporium) consiste


na obtenção, através da derivação formal de um sistema
formal, da fórmula (𝑃 ∧ ¬𝑃) (lê-se: 𝑃 e não 𝑃) ou da fórmula
(𝑃 ⟷ ¬𝑃) (lê-se: 𝑃 se e somente se, não 𝑃 ), onde 𝑃 é uma
proposição verdadeira.

Escólio. Da definição clássica de conjunto surgiram alguns


paradoxos, dentre os quais destacamos:

• Paradoxo de Cantor (1895). Se existe um conjunto 𝑥


que é o conjunto de todos os conjuntos então existe o
conjunto das partes de 𝑥, denotado por 𝒫(𝑥), tal que
|𝒫(𝑥)| > |𝑥|. Daí 𝑥 não seria o conjunto de todos os
conjuntos.

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• Paradoxo de Burali-Forti (1897). O conjunto bem


ordenado 𝑥 de todos os ordinais têm um ordinal maior
que todos elementos de 𝑥.

• Paradoxo de Russel (1902). Se existe um conjunto 𝑥


que é o conjunto de todos os conjuntos e que não
contém ele mesmo como elemento (isto é, 𝑥 = {𝑦: 𝑦 ∉
𝑦}), então 𝑥 ∈ 𝑥 ⟷ 𝑥 ∉ 𝑥.

Escólio. O paradoxo de Russel decorre do axioma esquema da


compreensão
(∃𝑦)(∀𝑥)(x ∈ y ↔ φ(x)),

tomando φ(x) = 𝑥 ∉ 𝑥 e x = y. Assim, teremos que

(∃𝑦)(y ∈ y ↔ 𝑦 ∉ 𝑦 ).

Esses paradoxos deram origem ao que foi chamado de “crise


dos fundamentos da matemática” do século XX. A busca por
soluções para esses problemas deu origem a várias teorias
axiomáticas dos conjuntos, dentre as quais destacamos:

• Sistema Zermelo-Fraenkel (ZF)


• Sistema Neumann-Godel-Bernays (NGB)
• Sistema Kelley-Morse (KM).

O surgimento de sistemas axiomáticos e o estudo da


natureza do infinito constituíram uma das maiores conquistas
intelectuais do século XX. Em todo sistema axiomático de
conjuntos, teremos duas questões fundamentais:

1. Dados dois conjuntos 𝑥 e 𝑦, dizer quando 𝑥 = 𝑦?

2. Classificar os conjuntos em tipos, com a finalidade de


viabilizar a criação de novos conjuntos.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 20

Escólio. O primeiro sistema axiomático apresentado e com a


finalidade de evitar os paradoxos da teoria intuitiva dos
conjuntos, foi devido a Ersnt Zermelo (1871-1953), em 1908 ele
publica um artigo intitulado “Pesquisas sobre os fundamentos
da teoria de conjuntos” e ficou conhecido como sistema Z (ou
ZC). Os axiomas desse sistema são:

Axioma da Extensão

Dois conjuntos são iguais se possuem os mesmos elementos.

(∀𝑥)(∀𝑦)((𝑥 = 𝑦) ⇔ (∀𝑧)(z ∈ x ↔ z ∈ y)).

Axioma do Par Não Ordenado

Existe um conjunto que contêm dois elementos.

(∃𝑦)(∀𝑥) (𝑥 ∈ 𝑦 ↔ ((𝑥 = 𝑎) ∨ (𝑥 = 𝑏)))

Escólio. Esse conjunto é denotado por {a, b} e é chamado de


par não ordenado. Pelo Axioma da extensão temos que {a, a} =
{a}.

Axioma esquema da separação

Se um conjunto qualquer existe e conseguimos descrever


alguns elementos desse conjunto através de uma propriedade,
então existe um subconjunto deste conjunto que contêm esses
elementos.

(∀𝑧)(∃𝑦)(∀𝑥)((x ∈ y) ↔ (x ∈ z) ∧ (φ(x))).

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 21

Escólio. Esse axioma garante a existência de subconjuntos de


um conjunto 𝕌, em particular os conjuntos

∅ = {x: x ≠ x} e 𝕌 = {x: x = x}

cujas existências são garantidas por

(∃𝑦)(∀𝑥)(x ∈ y ↔ ((x ∈ 𝕌) ∧ (x ≠ x)) e (∃𝑦)(∀𝑥)(x ∈ y ↔ (x ∈ 𝕌) ∧ (x = x)),

respectivamente.

Axioma da reunião

Para toda família (𝑧𝜆 )𝜆∈𝐼 de conjuntos, existirá um conjunto


que contém entre seus elementos os elementos que pertence a
pelo menos um conjunto dessa família.

(∃y)(∀x) (x ∈ y ↔ (∃𝜆)((𝜆 ∈ I) ∧ (x ∈ 𝑧𝜆 )))

Escólio. Segue do axioma de par ordenado

(x, y) = (z, w) ⟷ x = z e y = w,

chamada de propriedade característica dos pares ordenados.

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3 ABORDAGEM LÓGICA
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS | GÊNESIS

David Hilbert (1862-1943) foi um matemático alemão. Dentre


suas contribuições, destacamos o programa de formalização
da matemática.

1 Historicamente, a matemática pode ser dividida em retórica,


sincopada e simbólica.

2 Na matemática retórica, praticada por exemplo pelas


civilizações babilônicas e egípcias, a linguagem natural era
utilizada para enunciar e resolver problemas do cotidiano e a
verdade dos resultados era comprovada pela experiência.

3 Aos poucos, alguns símbolos foram introduzidos.


Diophantus (c. 200-284), matemático grego, em seu livro
Arithmetica, utilizou a palavra aritmos, como um número
desconhecido (incógnita) e alguns símbolos para representar
quantidades e operações, contribuindo com a transição entre a
matemática retórica e a sincopada.

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4 No fim do século XVI, o matemático francês François Viète


(1540-1603), introduz letras do alfabeto para representar os
coeficientes (consoantes) e as variáveis (vogais) em equações
polinomiais e logo depois, G. W. Leibnitz (1646-1716) e G.
Boole (1815-1864), introduziram uma linguagem simbólica
formal na matemática.

5 As notações simbólicas literais, bem como a teoria dos


conjuntos e a lógica, foram de fundamental importância para o
surgimento das linguagens formais e a sua utilização no
desenvolvimento das teorias da matemática.

Definição 27. Um sistema formal ou lógico para um sistema


matemático 𝑺 = (𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨), consiste em um sistema de
pensamento abstrato bem definido em 𝑺, composto de uma
linguagem, denotada por 𝐿(𝑺), bem como o seu estudo
sintático e semântico.

Escólio. A especificação de uma linguagem 𝐿(𝑺) em um


sistema matemático 𝑺, ocorre quando determinamos sua
assinatura; isto é, um conjunto ∑(𝑺) de símbolos.

Definição 28. Uma sequência de símbolos da assinatura,


denotado por 𝑎1 𝑎2 ⋯ 𝑎𝑛 , é chamada de expressão da
linguagem 𝐿(𝑺). Para a formação das expressões da 𝐿(𝑺), são
necessários um conjunto de regras de sintaxe. Do ponto de
vista semântico, uma expressão poderá ser uma variável, um
termo ou uma fórmula. O número 𝑛 de ocorrências de
símbolos na expressão 𝑎1 𝑎2 ⋯ 𝑎𝑛 é chamado de comprimento
da expressão e denotado por |𝑎1 𝑎2 ⋯ 𝑎𝑛 |. Por convenção, uma
expressão sem símbolos terá comprimento zero.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 24

Escólio. As regras de sintaxe de um sistema lógico,


possibilitam a correta obtenção das expressões da linguagem.
O real significado das expressões da linguagem 𝐿(𝑺) , a
semântica, vai depender do sistema matemático 𝑺 =
(𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨) a ser estudado. Portanto, podemos ter expressões
formais com a mesma sintaxe, mas semântica diferente.

Definição 29. Se ∑(𝑺) e ∑ ´(𝑺) são assinaturas das linguagens


𝐿(𝑺) e 𝐿´(𝑺) e ∑(𝑺) ⊂ ∑ ´(𝑺), dizemos que 𝐿(𝑺) é uma restrição
de 𝐿´(𝑺) ou que 𝐿´(𝑺) é uma extensão de 𝐿(𝑺).

Definição 30. A cardinalidade de uma linguagem 𝐿(𝑺) é


definida por card(𝐿) = 𝑚𝑎𝑥{card(∑(𝑺)), ℵ0 }.

Definição 31. Um sistema lógico de primeira ordem para 𝑺 =


(𝐸, 𝑹, 𝑶, 𝑨) é um sistema lógico, composto de uma linguagem
de primeira ordem, denotada por 𝐿1 (𝑺) e regras de sintaxe.

Escólio. O sistema lógico de primeira ordem permitirá


desenvolver praticamente todas as teorias de sistemas
matemáticos.

Assinatura de 𝐿1 (𝑺)
1. Símbolos constantes: (𝑐𝑖 )𝑖∈𝐼 família de símbolos 𝑐𝑖 que
representam cada elemento de 𝐸.
2. Relações: ∈ (símbolo da relação unária chamada de
incidência ou pertinência), = (símbolo da relação binária
chamada de igualdade), (𝑟𝑗 )𝑗∈𝐽 família de símbolos 𝑟𝑗 para as
relações 𝑛𝑗 -ária de 𝑹.
3. Operações: (𝑜𝑘 )𝑘∈𝐾 família de símbolos 𝑜𝑘 para as operações
𝑛𝑘 -ária de 𝑶.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 25

Escólio. Esses três primeiros itens, determinam o que


chamamos de assinatura da linguagem 𝐿1 (𝑺).

Outros símbolos de 𝐿1 (𝑺)


4. Variáveis: são expressas por letras minúsculas dos
alfabetos grego {𝛼, 𝛽, . . . , 𝜔} e latino {𝑎, 𝑏, . . . , 𝑧 }, com
ou sem índices e representam, de forma abstrata, um
elemento do sistema 𝐸.
5. Quantificadores lógicos: são expressos por ∀
(universal), ∃ e ∃! (existenciais) e quantifica os objetos.
6. Operadores lógicos: são expressos por∧ (conjunção), ∨
(disjunção inclusiva), ∨ (disjunção exclusiva), ¬
(negação), → (condicional) e ↔ (bi condicional).
7. Operador descrição 𝚤, que significa “um objeto tal que
...”.
8. Parênteses: ( ), funciona como uma pontuação na
separação entre termos e fórmulas.
9. O símbolo ⇔: que pode significar que “o lado
esquerdo é uma notação para o lado direito” ou, em
alguns casos, o operador bi condicional.

Definição 32. Um termo de 𝐿1 (𝑺) é uma expressão usada para


denotar os objetos de 𝑺 . Os termos elementares de uma
linguagem são suas constantes (𝑐𝑖 )𝑖∈𝐼 , que denotam os
elementos do sistema 𝐸.

Escólio. Uma regra de sintaxe importante do sistema lógico de


primeira ordem é que 𝑜𝑘 𝑥1 … 𝑥𝑛 é um termo e se 𝑡1 , … , 𝑡𝑛 são
termos então 𝑜𝑘 𝑡1 … 𝑡𝑛 também será um termo, onde (𝑜𝑘 )𝑘∈𝐾 é
família de símbolos 𝑜𝑘 de operações 𝑛𝑘 -ária de 𝐿1 (𝑺).

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 26
Exemplo 23. As expressões 1, 2 + 𝑥1 e 2 + 3 − 5 são termos de uma
linguagem.

Convenções. Algumas convenções de notações serão


adotadas:
i) 𝑜𝑘 (𝑥1 , … , 𝑥𝑛 ) ⇔ 𝑜𝑘 𝑥1 … 𝑥𝑛
ii) 𝑟𝑗 (𝑥1 , … , 𝑥𝑛 ) ⇔ 𝑟𝑗 𝑥1 … 𝑥𝑛
iii) 𝑥 = 𝑦 ⇔ = 𝑥𝑦

Definição 33. Uma fórmula atômica da 𝐿1 (𝑺) é uma expressão


do tipo 𝑟𝑖 𝑡1 … 𝑡𝑛 , denotada por 𝑟𝑖 (𝑡1 , … , 𝑡𝑛 ), onde 𝑟𝑖 é uma
relação (incluindo as relações ∈ e =) e 𝑡1 , … , 𝑡𝑛 são termos da
linguagem. O agrupamento de duas ou mais fórmulas
atômicas, obtidas através dos operadores lógicos e regras de
sintaxe, determinam as fórmulas moleculares.

Definição 34. As variáveis de uma fórmula, podem ser


dependentes (que seguem algum quantificador) ou
independentes (que não seguem nenhum quantificador). As
variáveis independentes são também chamadas de parâmetros
ou variáveis livres.

Definição 35. Uma fórmula sem parâmetros, 𝐹(𝑥1 , … , 𝑥𝑛 ) é


também chamada de fórmula fechada ou proposição.

Escólio. Os axiomas de 𝑺 devem ser fórmulas fechadas da


𝐿1 (𝑺).

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 27

Algumas representações de fórmulas

• (∀𝑥)(𝑃(𝑥))
• (∃𝑥)(𝑃(𝑥))
• (∃! 𝑥)(𝑃(𝑥))
• (∀𝑥)(∃𝑦)(𝑃(𝑥, 𝑦))
• (∀𝑥)(𝑃(𝑥, 𝑦))
• (∀𝑥)(𝑃(𝑥) ∧ 𝑄(𝑥))
• (∃𝑥)(𝑃(𝑥) ∨ 𝑄(𝑥))
• (∃! 𝑥)(𝑃(𝑥) ∧ 𝑄(𝑥))
• (∀𝑥)(∀𝑦)(𝑃(𝑥, 𝑦) ∧ 𝑄(𝑥, 𝑦))
• (∀𝑥)(∃! 𝑦)(𝑃(𝑥, 𝑦) ∨ 𝑄(𝑥, 𝑦))

Exemplo 24. A expressão “Qualquer que seja um objeto, ele é igual


a ele mesmo”, pode ser expressa em linguagem formal pela fórmula
(∀x)(x = x). O comprimento dessa expressão é 9.

Exemplo 25. Se x e y são termos, então as expressões, ¬(𝑥 = 𝑦) e


¬(𝑥 ∈ 𝑦), são exemplos de fórmulas atômicas. Neste caso,

(𝑥 ≠ 𝑦) ⇔ ¬(𝑥 = 𝑦)
(𝑥 ∉ 𝑦) ⇔ ¬(𝑥 ∈ 𝑦).

Exemplo 26. A expressão (∀𝑧)(z = 1) é uma fórmula atômica de


uma linguagem formal.

Exemplo 27. A expressão (∀𝑧)((z = 1) ∨ (z = 2)) é uma fórmula


molecular de uma linguagem formal.

Definição 36. Uma regra de derivação (ou de inferência) é a


condição necessária para que uma fórmula, chamada de
conclusão (tese), possa ser derivada (ou inferida) através de
um sistema lógico, de certas outras fórmulas, chamadas de
premissas (ou hipóteses).

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 28

Escólio. Na derivação de fórmulas moleculares devemos


obedecer às seguintes regras de derivação:

1. Se 𝑥 e 𝑦 são variáveis, então (𝑥 ∈ 𝑦) e (𝑥 = 𝑦) são


fórmulas.
2. Se 𝑃 e 𝑄 são fórmulas e x é uma variável, então (𝑃 ↔
𝑄) , (𝑃 → 𝑄) , (𝑃 ∧ 𝑄) , (𝑃 ∨ 𝑄) , (𝑃 ∨ 𝑄) , (¬𝑃) ,
(∀𝑥)(𝑃(𝑥)) e (∃𝑥)(𝑃(𝑥)) são fórmulas, (𝚤𝑥)(𝑃(𝑥)) e a
variável 𝑥 são termos (objetos).

Exemplo 28. 𝒫(𝑦) ⇔ (𝚤𝑥)(∀𝑧)(z ∈ x ↔ z ∈ y), é um termo que


representa o conjunto das partes de um conjunto.

Exemplo 29. ∅ ⇔ (𝚤𝑦)(∀𝑥)(x ∉ y), é um termo que representa o


conjunto vazio.

Exemplo 30. {𝑥: 𝑃(𝑥)} ⇔ (𝚤𝑦)(∀𝑥)(x ∈ y ↔ 𝑃(𝑥)), é um termo que


representa o conjunto de objetos x que satisfaz a fórmula 𝑃(𝑥).

Exemplo 31. {𝑧: (z = x) ∨ (z = y)} ⇔ {𝑥, 𝑦}, é o termo que representa


um par não ordenado.

Definição 37. A negação é um operador unário, que a cada


fórmula 𝑃 associa a fórmula (¬𝑃), lê-se: (não 𝑃) e terá um
valor lógico verdadeiro (V ou 0) ou falso (F ou 1) que
dependerá dos valores lógicos de 𝑃 e 𝑄.
Notação. (¬𝑃) ou (~𝑃) ou (𝑃̅) ou (−𝑃) ou (𝑃′).

𝑷 ¬𝑷
V F
F V
Fig.6 Tabela verdade da negação

Exemplo 32. A fórmula ¬(1 ∈ ℕ) é falsa.

Exemplo 33. A fórmula ¬(1 < 0) é verdadeira.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 29

Definição 38. A conjunção é um operador binário, que a cada


par ordenado de fórmulas (𝑃, 𝑄) associa a fórmula (𝑃 ∧ 𝑄), lê-
se 𝑃 e 𝑄 e terá um valor lógico verdadeiro (V ou 0) ou falso (F
ou 1) que dependerá dos valores lógicos de 𝑃 e 𝑄.
Notação. (𝑃 ∧ 𝑄) ou (𝑃&𝑄) ou (𝑃&&𝑄) ou (𝑃 ∩ 𝑄) ou (𝑃 ∙ 𝑄)
ou (𝑃𝑄).

𝑷 𝑸 𝑷∧𝑸
V V V
V F F
F V F
F F F
Fig.1 Tabela verdade da conjunção

Exemplo 34. A fórmula (1 ∈ ℕ) ∧ (1 > 0) é verdadeira.

Exemplo 35. A fórmula (1 ∈ ℕ) ∧ (1 < 0) é falsa.

Exemplo 36. A fórmula (1 ∉ ℕ) ∧ (1 > 0) é falsa.

Exemplo 37. A fórmula (1 ∉ ℕ) ∧ (1 < 0) é falsa.

Definição 39. A disjunção inclusiva é um operador binário,


que a cada par ordenado de fórmulas (𝑃, 𝑄) associa a fórmula
(𝑃 ∨ 𝑄), lê-se 𝑃 ou 𝑄 (podendo ser ambas) e terá um valor
lógico verdadeiro (V ou 0) ou falso (F ou 1) que dependerá dos
valores lógicos de 𝑃 e 𝑄.
Notação. (𝑃 ∨ 𝑄) ou (𝑃‖𝑄) ou (𝑃 ∪ 𝑄).

𝑷 𝑸 𝑷∨𝑸
V V V
V F V
F V V
F F F
Fig.2 Tabela verdade da disjunção inclusiva

Exemplo 38. A fórmula (1 ∈ ℕ) ∨ (1 > 0) é verdadeira.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 30
Exemplo 39. A fórmula (1 ∈ ℕ) ∨ (1 < 0) é verdadeira.

Exemplo 40. A fórmula (1 ∉ ℕ) ∨ (1 > 0) é verdadeira.

Exemplo 41. A fórmula (1 ∉ ℕ) ∨ (1 < 0) é falsa.

Definição 40. A disjunção exclusiva é um operador binário,


que a cada par ordenado de fórmulas (𝑃, 𝑄) associa a fórmula
(𝑃 ∨ 𝑄), lê-se ou 𝑃 ou 𝑄 (não podendo ser ambas) e terá um
valor lógico verdadeiro (V ou 0) ou falso (F ou 1) que
dependerá dos valores lógicos de 𝑃 e 𝑄.
Notação. (𝑃 ∨ 𝑄).

𝑷 𝑸 𝑷∨𝑸
V V F
V F V
F V V
F F F
Fig.3 Tabela verdade da disjunção exclusiva

Exemplo 42. A fórmula (1 ∈ ℕ) ∨ (1 > 0) é falsa.

Exemplo 43. A fórmula (1 ∈ ℕ) ∨ (1 < 0) é verdadeira.

Exemplo 44. A fórmula (1 ∉ ℕ) ∨ (1 > 0) é verdadeira.

Exemplo 45. A fórmula (1 ∉ ℕ) ∨ (1 < 0) é falsa.

Definição 41. O condicional é um operador binário, que a cada


par ordenado de fórmulas (𝑃, 𝑄) associa a fórmula (𝑃 → 𝑄 ⇔
¬(𝑃 ∧ ¬𝑄)), lê-se: Se 𝑃 então 𝑄 ou 𝑃 implica 𝑄 ou 𝑃 somente
se 𝑄 e terá um valor lógico verdadeiro (V ou 0) ou falso (F ou
1) que dependerá dos valores lógicos de 𝑃 e 𝑄. As fórmulas 𝑃
e 𝑄 são chamadas de premissa (hipótese) e consequência
(tese) da fórmula (𝑃 → 𝑄), respectivamente.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 31

Podemos também dizer que 𝑃 é suficiente para 𝑄 ou 𝑄 é


necessário para 𝑃.
Notação. (𝑃 → 𝑄) ou (𝑃 ⇒ 𝑄) ou (𝑃 ⊃ 𝑄)

𝑷 𝑸 𝑷→𝑸
V V V
V F F
F V V
F F V
Fig.4 Tabela verdade do condicional
Exemplo 46. A fórmula (1 ∈ ℕ) → (1 > 0) é verdadeira.

Exemplo 47. A fórmula (1 ∈ ℕ) → (1 < 0) é falsa.

Exemplo 48. A fórmula (1 ∉ ℕ) → (1 > 0) é verdadeira.

Exemplo 49. A fórmula (1 ∉ ℕ) → (1 < 0) é verdadeira.

Definição 42. O bi condicional é um operador binário, que a


cada par ordenado de fórmulas (𝑃, 𝑄) associa a fórmula
(𝑃 ↔ 𝑄), lê-se: (P se e somente se, Q), que significa (𝑃 → 𝑄) ∧
(𝑄 → 𝑃), lê-se: (P implica Q) e (Q implica P) e terá um valor
lógico verdadeiro (V ou 0) ou falso (F ou 1) que dependerá dos
valores lógicos de 𝑃 e 𝑄.
Notação. (𝑃 ↔ 𝑄) ou (𝑃 ⇔ 𝑄).

𝑷 𝑸 𝑷→𝑸 𝑸→𝑷 𝑷↔𝑸


V V V V V
V F F V F
F V V F F
F F V V V
Fig.5 Tabela verdade do bi condicional

Exemplo 50. A fórmula (1 ∈ ℕ) ↔ (1 > 0) é verdadeira.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 32
Exemplo 51. A fórmula (1 ∈ ℕ) ↔ (1 < 0) é falsa.

Exemplo 52. A fórmula (1 ∉ ℕ) ↔ (1 > 0) é falsa.

Exemplo 53. A fórmula (1 ∉ ℕ) ↔ (1 < 0) é verdadeira.

Definição 43. Uma derivação formal em um sistema


matemático 𝑺, denotada por ⊢𝑭 , consiste de um agrupamento
de uma sequência finita de proposições verdadeiras, denotada
por 𝑃1 → 𝑃2 → ⋯ → 𝑃𝑛 , onde cada proposição 𝑃𝑖 , 2 ≤ 𝑖 ≤ 𝑛, da
derivação formal é obtida pelo passo 𝑃𝑖−1 → 𝑃𝑖 , utilizando os
objetos do sistema matemático 𝑺 e as regras de derivação de
um sistema lógico.

Definição 44. Um teorema em uma estrutura matemática 𝑺,


consiste na proposição obtida no último passo de uma
derivação formal ⊢𝑭 , utilizando os axiomas de uma estrutura
matemática 𝑺 e regras de derivação de um sistema formal.

Definição 45. Uma conjectura em uma estrutura matemática


𝑺, é uma proposição com algum grau de confiança de que ela
seja verdadeira.

Escólio. Quando um teorema é obtido em uma estrutura


matemática 𝑺, o mesmo poderá ser considerado como axioma
de 𝑺 para obtenção de novos teoremas.

Definição 46. Um corolário de uma estrutura 𝑆, consiste em


uma proposição verdadeira obtida de uma derivação formal
⊢𝑭 , utilizando um teorema de 𝑆.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 33

Definição 47. Um lema de uma estrutura 𝑆, consiste em uma


proposição verdadeira obtida de uma derivação formal ⊢𝑭 ,
utilizando resultados já demonstrados de 𝑆 e que será
utilizado para obter um teorema ou corolário.

Escólio. O estudo de axiomas, teoremas, corolários, escólios e


lemas em uma estrutura matemática 𝑺, através de um sistema
formal, vistos como proposições é chamado de estudo
sintático em 𝑺; o estudo do significado dessas proposições é
chamado de estudo semântico em 𝑺. Durante o estudo
sintático , não podemos obter um teorema, decorrente da
contradição de algum axioma de 𝑺, isto é, a derivação formal
deve ser consistente. Nenhum axioma de 𝑺 poderá ser obtido
como resultado de derivações formais usando os demais
axiomas de 𝑺; isto é, a derivação deve ser indecidível. Um
axioma de 𝑺 não pode contradizer os demais axiomas de 𝑺, isto
é, a derivação deve ser não contraditória.

Definição 48. Um predicado é uma função 𝑃, onde seus valo-


res 𝑃(𝑥1 , 𝑥2 , … , 𝑥𝑛 ), são sentenças sobre 𝑛-uplas. Se 𝑛 = 1, o
predicado é chamado de propriedade; se 𝑛 > 1, o predicado é
chamado de relação. Proposições, podem ser consideradas
como um predicado, quando 𝑛 = 0.

Definição 49. Uma lei ou tautologia de uma estrutura


matemática 𝑆, é uma fórmula que se torna válida, sob qualquer
interpretação lógica das variáveis dos predicados que nela
aparecem.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 34
Exemplo 54. A fórmula
−𝑏 + √𝑏2 − 4𝑎𝑐 −𝑏 − √𝑏2 − 4𝑎𝑐
((∀𝑎)(∀𝑏)(∀𝑐)) (( 𝑎 ≠ 0) ∧ (𝑏2 − 4𝑎𝑐 ≥ 0) ∧ ((P(a, b, c) = ) ∨ (P(a, b, c) = ))),
2𝑎 2𝑎

é uma lei do sistema matemático dos reais que determina as


soluções reais para a equação polinomial 𝑎𝑥 2 + 𝑏𝑥 + 𝑐 = 0.

Escólio. A arte de se obter leis a partir de uma estrutura


matemática 𝑆 e algumas informações (premissas ou hipóteses),
remonta o silogismo da lógica clássica que teve sua origem
com Aristóteles.

Definição 50. Os cálculos realizados através de uma derivação


formal usada para a obtenção de leis a partir de uma estrutura
matemática 𝑆 com predicados é chamado de cálculo de
predicados.

Definição 51. A reunião de conceitos primitivos e derivados,


leis, conjecturas, teoremas, corolários, lemas, paradoxos
(lógico e semântico) e demais possíveis resultados decorrentes
dos objetos de uma estrutura matemática 𝑺, obtidos através de
um sistema formal, é chamada de teoria formal de 𝑺 e neste
caso 𝑺 é chamado de modelo matemático para essa teoria.

O que é matemática?

Matemática é uma ciência, que a partir de estruturas


matemáticas, desenvolve e aplica teorias intuitivas e formais
na resolução de problemas do mundo real ou imaginário.

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UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 35

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS | GÊNESIS

[1] DESKINS, W. E. Abstract Algebra. New York: Dover


Publicaitions, 1995.

[2] DOMINGUES, H. H. Fundamentos de aritmética. São Paulo:


Atual, 1991.

[3] LANG, S. Algebra. 3rd ed. USA: Springer, 2002.

[4] VIANNA, J. J. Elementos de Arithmetica. 15 ed. Rio de


Janeiro: Francisco Alves, 1914.

[5] WOODBURRY, G. Elementary Algebra. USA: Addison


Wesley, 2009.

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ÁLGEBRA
UMA NOVA ABORDAGEM NO ENSINO DA MATEMÁTICA 5

TEORIA DOS SISTEMAS MATEMÁTICOS - GÊNESIS

FUN

Natural de Garça, estado de São Paulo, bacharel em


matemática pela Unesp - SP, especialista em matemática
pelo IMPA-RJ, mestre em matemática aplicada pela UFRJ-
RJ e doutor em matemática pela UFSCar-SP. Atualmente é
professor associado na UFU-MG, campus de Ituiutaba. Sua
área de pesquisa é Análise Aplicada. Fundou em 2013 a
primeira Escola de Cálculo do país com sede na
Universidade Federal de Uberlândia.

JOÃO CARLOS MOREIRA


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